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quarta-feira, 3 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4457: Memória dos lugares (27): Álbum fotográfico do Xime, CCAÇ 526, 1963/65 (Libério Lopes)





1. Em mensagem de 2 de Junho de 2009, Libério Lopes, ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65 (*), enviava-nos 9 fotos para o álbum fotográfico do Xime.





Em mensagem de 2 de Junho de 2009, Libério Lopes (*), ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65, enviava-nos 9 fotos para o álbum fotográfico do Xime.

Caro Luis Graça,

Junto envio algumas fotos tiradas no Xime em 1963 ou 1964. Servirão para enriquecer o álbum sobre o Xime.

A maioria da população do Xime era simpática connosco, e de vez em quando juntávamo-nos para umas danças africanas, nas quais eu gostava de participar.

Além disso os putos conheciam-me porque ainda os juntei para lhe dar umas aulas. Foi uma tentativa que não resultou, devido a não me ter sido concedido o tempo necessário para isso.

No Xime estava só um pelotão e éramos poucos para a missão militar que tínhamos em mãos. Foi pena porque a minha profissão era professor e, certamente, teria feito um trabalho mais útil. ´

Desses momentos de lazer anexo, abaixo, nove fotos. Um abraço do Libério Lopes,
(ex-2ºSarg Mil)

2. Comentário do nosso amigo, guineense da diáspora, Eng José Carlos Mussá Biai, natural do Xime, nascido no início da década de 1960:

Caro Luís

Fico sempre com muita emoção quando vejo fotos, sejam elas de paisagens ou gentes da minha terra-natal. Por isso deste vez não foi excepção.

Quanto as pessoas que estão nas fotografias, apenas a foto 9 é que tem duas caras que me são familiares. Trata-se de um primo e um tio.

Mas de qualquer maneira por alguns bons minutos voltei a Xime.

Um abraço e muita saúde,

José C. Mussá Biai


Foto 1 - Grupo de mulheres do Xime, comigo ao lado.

Foto 2 – Batuque, comigo no meio.




Foto 3 – Batuque, sempre comigo no meio.


Foto 4 - Eu e a minha lavadeira, e salvo erro o seu filho.

Foto 5 – Elementos da população.



Foto 6 - Eu com um bebé que simpatizava muito comigo.




Foto 7 - Nesta estou com um chapéu colonial.

Foto 8 – Nesta estou com um chapéu colonial.



Foto 9 - O homem do chapéu colonial era nosso guia e morava junto ao quartel. O mais alto, acho que era o chefe da tabanca. Ia connosco para o mato e, devido á sua altura salvou-me de morrer afogado numa bolanha perto do Xime, num dia para esquecer.


Fotos: © Libério Lopes (2009). Direitos reservados
______________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série:



quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3869: CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65), História da Unidade (Libério Lopes)



1. Em mensagem de 6 de Fevereiro de 2009, Libério Lopes(*), ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65, enviava-nos a História da sua Unidade.






COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 526

HISTÓRIA DA UNIDADE

MOBILIZAÇÃO E EMBARQUE PARA O C. T. I. G.


Reuniu-se pela primeira vez, no Regimento de Infantaria n.º 7 o pessoal desta Companhia, no dia 8 de Abril de 1963, sob o comando do Sr. Capitão AGOSTINHO DA COSTA ALCOBIA. Sendo constituída por homens vindos de quase todos os recantos do País, na maioria pertencem à Beira Litoral e Douro Litoral.

A 12 de Abril de 1963, entrou o pessoal no gozo de licença regulamentar, tendo o comando da Companhia passado, a 23 de Abril, para o Sr. Capitão LUÍS FRANCISCO SOARES DE ALBERGARIA CARREIRO DA CÂMARA.

A 2 de Maio de 1963, a bordo do paquete «INDIA», embarcou juntamente com o Comando dos Batalhões de Caçadores n.º 506, 507, 599, e 600.

Desembarcou em BISSAU a 8 de Maio de 1963.


Navio India

Foto retirada do site Navios Mercantes Portugueses, com a devida vénia



ESTADIA EM BISSAU

Até 30 de Junho de 1963, a Companhia ficou aquartelada em BRÁ. Ainda neste período, a 29/5/63, partiu um pelotão para CATIÓ, tendo tomado parte em operações que aí se realizavam. Regressou a 28/6/63.


ENTRADA EM SECTOR

A 1/7/63, partiu a Companhia para o sector Leste ficando a depender do Batalhão de BAFATÁ.

Foi-lhe atribuído um sub-sector com a área aproximada de 1.500km2 constituída pelos Regulados de BADORA, XIME, COSSÉ, CABOMBA e CORUBAL (parte Norte).

O Comando da Companhia ficou instalado em BAMBADINCA, tendo sido destacado um pelotão para XIME, nesse mesmo dia 1 de Julho.

A 15JUL63, outro pelotão da Companhia seguiu para o XITOLE em reforço das tropas ali aquarteladas, donde regressou a 5AGO63.

Em 26AGO63, assumiu o Comando da Companhia o Sr. Capitão HELDER JOSÉ FRANÇOIS SARMENTO em substituição do Sr. Capitão CARREIRO DA CÂMARA.

Aquartelamento do Xime

Foto: © Libério Lopes (2009). Direitos reservados
Edição de CV



ACTIVIDADE OPERACIONAL

No sub-sector, tomou parte nas seguintes operações de conjunto:

«8JUL63 e 12JUL63 na margem direita do Rio CORUBAL»; «INGLÊS - JAN64»; «MARTE - FEV64»; «BALA - MAR64»; «VAI À TOCA - NOV64»; «BRINCO - DEZ6» e «FAROL - JAN65».

Fora do sub-sector, actuou:

«OPERAÇÃO VERDE - NOV63»; «ESTRADA DO XITOLE - AGOSTO -OUTUBRO - NOV63»; «MATO MADEIRA-CHICRI - JAN64»; «PATON - AGO64».

No sector à sua responsabilidade, o IN que já actuara a Oeste e Sul de XIME até ao Rio CORUBAL, levando para os matos uma parte da população e fazendo fugir a restante, tentou expandir a sua acção para LESTE para o que atacou tabancas e quartéis, roubou culturas, emboscou as NT e procurou tornar intransitáveis as estradas.

A Companhia, por uma permanente actividade operacional à base de pequenas acções de combate, emboscadas, constantes patrulhamentos de estradas e caminhos e protecção às populações, permanecendo nas tabancas e locais de trabalho, conseguiu manter em completa normalidade a zona a LESTE de XIME e levar os bandos de terroristas a refugiarem-se nos matos.

Durante os 21 meses de permanência no sub-sector, a Companhia teve 108 acções de fogo em contactos com o IN. Em resultado dessas acções, o IN sofreu 48 baixas confirmadas pelas NT, havendo contudo um número muitíssimo superior de mortos e feridos referido por prisioneiros. Foram apreendidas 5 espingardas, 5 pistolas-metralhadoras, 1 pistola, grande número de granadas de mão de diversos modelos e vários milhares de cartuchos.

Na tentativa de cortar os itinerários, o IN utilizou 15 engenhos A/C e 3 minas A/P. Um fornilho A/C destruiu um Jeep e os restantes 14 engenhos A/C foram detectados e levantados. As 3 minas A/P funcionaram, causando dois feridos: um às NT e outro à população,

A Companhia só teve duas baixas por acidente e nove feridos em combate, um dos quais evacuado para a Metrópole.


AÇÇÃO PSICOLÓGICA

a) Sobre as NT

Sem necessidade de qualquer doutrinação e quase que instintivamente, todo o pessoal soube compenetrar-se da honrosa missão que estava cumprindo, não se poupando a quaisquer sacrifícios, antes pelo contrário, mantendo um elevado moral tanto mais contagiante quanto mais difíceis eram as situações. Revelou a Companhia uma nítida compreensão da acção do Comando, nunca criando o mais pequeno problema que dificultasse o árduo trabalho que havia a executar.

b) Sobre as populações

Ao entrar em sub-sector, reinava entre as populações um clima de excitação, nervosismo e temor agravado com as recentes flagelações do IN sobre elas.

Em face de tal estado de coisas, foi de primordial importância incutir-lhes confiança, mostrar-lhes que à custa da protecção das NT poderiam enfrentar o IN. Esse trabalho foi coroado de êxito ao fim de alguns meses e, já cheias de confiança, são armadas a seu pedido, passando a acompanhar-nos em operações e defendendo elas mesmas as suas casas, terras, culturas e haveres. Os seus anseios e aspirações realizaram-se ao serem-lhes distribuídas 900 espingardas para auto-defesa.

Plenamente crentes da eficácia da nossa protecção, criam em si mesmas um espírito tal de auto-confiança que as leva a efectuarem um movimento de regresso às antigas tabancas pela reocupação efectiva das terras que lhes pertenciam. E assim é que foram reocupadas com a nossa colaboração 7 tabancas abandonadas há cerca de dois anos.

c) Sobre o IN

Devido à permanente actividade operacional, o IN, ao princípio, audacioso e agressivo reduziu a sua acção, acabando por abandonar zonas que já julgava sob o seu controle.

O resultado desse trabalho exaustivo pode bem traduzir-se nas palavras do Comandante de Batalhão, ao referir-se, em ordem de serviço, ao espírito ofensivo, decisão e desembaraço da Companhia dizendo: «..... que a levou a avançar sem temer o perigo, com tal entusiasmo e tal combatividade que até lhe ficou a fama de que o próprio IN a olhava com admiração e temor».


ACÇÃO SOCIAL

Teve particular relevo a assistência sanitária às populações que diariamente eram atendidas no Posto de Socorros da Companhia e nas visitas às tabancas.

Além de importâncias em dinheiro, roupas e alimentação, forneceu-se transporte para escoamento de produtos agrícolas em zonas que ofereciam menor segurança pela proximidade com o IN.


DISCIPLINA

a) Recompensas

Neste capitulo há a referir:

- Menções especiais do Ex.º Comandante Militar pela actuação da Companhia - 3

- Louvores conferidos pelo Ex.º Comandante Militar - 27

- Louvores de Comando de Batalhão - 31

- Louvores de Comando de Companhia - 4

b) Punições

Houve 22 punições de detenção e 5 de prisão.

Quartel em Bissau, 2 de Abril de 1965
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3863: Tabanca Grande (114): Libério Candeias Lopes, ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3863: Tabanca Grande (114): Libério Candeias Lopes, ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65)


1. Mensagem de Libério Candeias Lopes, ex-2.º Sargento da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65, com data de 6 de Fevereiro de 2009:

Caro amigo

Junto, em anexo, um pequeno contributo para a historia da guerra da Guiné.
Se o mesmo tiver alguma utilidade queiram publicá-lo no respectivo blog.

Um abraço
Libério

2. Carta para Luís Graça

Libério Candeias Lopes
Ex-2.º Sarg Mil Inf
Guiné: Bambadinca e Xime
1963/65


Caro Luís Graça

Sou um assíduo leitor do teu blog e tenho acompanhado com grande interesse as inúmeras histórias descritas por quem as viveu e sentiu intensamente. São elas que estão a contribuir para que se escreva a verdadeira história da guerra da Guiné.

Cumpri o serviço militar obrigatório durante 48 longos meses. Quando estava para passar à disponibilidade, fui agraciado com um prémio: um cruzeiro (com tudo incluído) até à Guiné...

É normal que estes 4 anos acabassem por ser vividos intensamente, embora sem quaisquer contrapartidas no aspecto pessoal e profissional. É também natural que, embora tente esquecer os dois anos de Guiné, o não consiga fazer.

E, por isso mesmo, sempre que posso lá estou eu ligado ao teu blog.

Certamente que não irei contribuir ou acrescentar muito mais ao que tenho lido. Mas gostaria de deixar alguma coisa sobre os locais e a companhia a que pertenci.

Há nomes que nunca esqueci ao longo destes 4 anos:

Amedalai, Samba Silate, Ponta Varela, Ponta do Inglês, Taibatá, Chicamiel, Xitole, Saltinho, Fá Mandinga, e, principalmente, Bambadinca e Xime.

Fiz parte do primeiro pelotão a instalar-se no Xime, no dia 1 de Julho de 1963. O resto da Companhia 526 ficou instalado em Bambadinca.

Vivi intensamente 9 meses no Xime.

Dias felizes e outros menos felizes, nem uns, nem outros foram esquecidos. Houve tempo para tudo.

Do Pelotão, de cerca de 30 homens, faziam parte o Alf Mil Correia Pinto (já falecido); os Furriéis Milicianos Tibério (falecido), Virgílio e eu próprio.

Para terminar, segue uma historieta passada comigo no Xime, e em separado, o resumo da história da Companhia 526, que por mero acaso fui guardando ao longo destes anos.

Aquartelamento do Xime

Ponte de Saltinho

Fur Mil Virgílio e Tibério, Alf Mil Correia Pinto e Fur Mil Libério

3. Um libanês no Xime

Além da casa onde nos instalámos no Xime, havia uma outra em frente, onde habitava um italiano. Indivíduo afável, que fazia, como ninguém, um frango à cafreal, e que tinha a profissão de alfaiate.

Em determinada altura arranjei uma cadeira onde poderia descansar e dormir alguma sesta, já que, durante a noite, pouco dormia. Faltava-me, porém, o tecido para a referida cadeira de encosto. Tiradas as medidas pelo alfaiate, vou à moradia mais acima, onde o libanês Amin tinha o seu comércio. Dei-lhe as medidas, escolhi o pano e entreguei-o novamente ao alfaiate, para o coser.

No dia seguinte vou colocar o pano na cadeira e, em vez de ficar abaulado, para nele me deitar, ficou esticadinho, resultando daí a sua ineficácia. Chamei o alfaiate para lhe mostrar a sua obra e fiz-lhe ver que se tinha enganado nas medidas. Jurou que não e que as medidas estavam correctas, pelo que deveria ir ao Amin ver o que tinha acontecido. Lá regressei novamente ao comerciante e pedi-lhe para rectificar as medidas do tecido que tinha comprado, tendo-lhe eu explicado o que sucedera com a cadeira. Pela reacção dele, vi logo que ali havia marosca, e que ele nem atava nem desatava. Perante a minha reacção, um pouco menos amigável, começou a titubear e acabou por me pedir desculpa, porque se tinha enganado no metro. Convidei-o a contar toda a história, e não é que o indivíduo tinha um metro para o branco e outro para o preto?! O do branco estava correcto, mas o outro tinha menos cerca de 20 cm.

Ao olhar em frente, vejo duas balanças decimais no meio do estabelecimento. Resolvi ir pesar-me em ambas. E eu, que pesava na realidade cerca de 75 quilos, pesei, numa, perto de 100 quilos e, na outra, sessenta e pouco! Cheguei à conclusão lógica de que uma era para vender e a outra para comprar os produtos locais.

Aí, a minha consciência é alertada e pensei: - Mas, afinal, o que andamos nós aqui a fazer? Os habitantes desta terra terão assim boas razões para se revoltarem...

Resumindo: Disse ao Amin que, se à noite ainda estivesse no Xime, eu iria ter com ele. Não foi preciso. Pegou na sua velha camioneta, carregou-a com o que pôde, e desapareceu de vez daquela tabanca.

Foi mais uma casa livre dentro do arame farpado...

À esquerda a nossa vivenda. À direira o comércio do libanês Amin

3. Comentário de CV

Caro Libério, cabe-me receber-te na nossa Tabanca Grande. Bem-vindo. És um dos pouco mais velhos do nossa Tertúlia e um dos ex-combatentes do início da guerra na Guiné, logo com direito a uma saudação especial.

Pelo modo como entraste, prometes ser um elemento activo, com muitas histórias para contares a nós, periquitos da década de setenta.

Instala-te, puxa da caneta e continua a escrever as tuas memórias que muito contribuirão para a memória futura da guerra colonial, da Guiné particularmente.

Em nome da Tertúlia, deixo-te um abraço fraterno.
CV
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3857: Tabanca Grande (113): José Manuel Moreira Cancela, ex-Soldado AM da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)