Mostrar mensagens com a etiqueta CCP 122. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta CCP 122. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8426: (Ex)citações (140): Vejo que os jovens estão atentos, pelo menos são mais jovens do que eu (António Dâmaso)

1. Mensagem de António Dâmaso, Sargento-Mor da FAP na situação de Reforma Extraordinária, com data de 13 de Junho de 2011:

Para todos os camaradas mais uma vez uma saudação especial.
Espero contribuir para esclarecer as dúvidas pertinentes ao poste em referência. Agradeço aos intervenientes a participação.
Peço ao CV que mais uma vez tenha a gentileza de postar
Um Ab


Operação Nestor

Referência ao P8405*

Vejo que os jovens estão atentos, pelo menos são mais jovens do que eu.

Quando escrevo que participei nesta ou aquela Operação, faço-o com dados dos relatórios resumidos de Operações e com o meu registo de alterações que diz que estive ou marchei em determinada data e me apresentei em Y data.

Quando escrevo, embora seja na primeira pessoa e por norma oculto nomes, não fui só eu que participei mas todos os outros elementos, por vezes muito mais activos do que eu, não me refiro só aos Páras mas aos camaradas de todas as Armas envolvidas.

Começo por responder ao Camarada José Câmara. O que escrevi no Poste em referência, as datas estão correctas, a CCP 121 foi substituída pela CCP 122 no fim de Junho de 1969.

Em 1971 eu não estive lá mas consultei o Livro da História do BCP 12 e posso adiantar que a CCP 121 participou nas:

- Operação «Papagaio A» em 27ABR71 na zona de Salancaur:
- Operação «Vespa A» a 10MAI71 na Zona de Choquemone a 2GCOMB;
- Operação «Relva Cortada» em 13MAI71 na zona de Quinara, juntamente a CCP 122 a 4GCOMB;
- Operação «Tordo Vermelho» 30MAI a 3JUN71, zona do Xime, a 4GCOMB com DFE 12; CCAÇ 12/ BART 2917; CART 2715/BART2917;
- Operação «Pinto Vermelho A» de 09 a 12JUN71, zona de Pelundo, Mansoa, Tite, CCP 121 e 123 a 4GCOMB;
- Operação «Sardão Dourado» de 27 a 29JUN71, zona de Quinara, CCP 121 e CCP 123 a 4GCOMB, CART 2771, 2772, 2773, 1.ª CCMDS Africanos, 27.ª CCMDS, DFE 12, DFE 21, CCAV 2765;
- Operação «Lince Azul» 02JUL a 17AGO71, zona de Teixeira Pinto, Pelundo, Bula, CCP 121 a 4GCOMB.

Quanto ao camarada S/Nogueira, tenho uma ideia dele em Bafatá, Galomaro e Dulombi e lembro-me de termos ido dar uma instrução prática de Morteiro 60 numa encosta depois da ponte de Bafatá, parabéns está sempre interventivo e não lhe ficava mal tirar um pouco da camuflagem.

Para o amigo Carlos Cordeiro e outros historiadores, confesso que cometi um lapso que foi não consultar um amigo Ucraniano e não ter fotografado a outra inscrição que está no lado do garfo que segue junta.


Já agora, preservem e divulguem as vossas memórias porque quando nos formos, os políticos encarregam-se de nos apagar de vez do mapa.

Saudações Aeronáuticas
Um Ab
Dâmaso
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8405: Memórias de Mansabá (14): Recordações de António Dâmaso, Sargento-Mor Pára-quedista - Operação Nestor

Vd. último poste da série de 25 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8321: (Ex)citações (139): Comentário ao Post 8318 - Notas de Leitura - Porque Perdemos a Guerra, de Manuel Pereira Crespo (José Manuel M. Dinis)

sábado, 11 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8405: Memórias de Mansabá (25): Recordações de António Dâmaso, Sargento-Mor Pára-quedista - Operação Nestor

1. Mensagem de António Dâmaso, Sargento-Mor da FAP na situação de Reforma Extraordinária, com data de 9 de Junho de 2011:

Ao Editor e Co-editores os meus cumprimentos.
Mando à atenção de Carlos Vinhal mais uma recordação de Mansabá.
Um Ab
Dâmaso


RECORDAÇÕES DE MANSABÁ (3)

OPERAÇÃO “NESTOR”

Zona de, Choquemone, onde desenrolou a Operação “Nestor”em 20JUH69

Com base nas informações obtidas a um dos prisioneiros capturados uma semana antes na Operação ”Orfeu”, foi planeada a operação “Nestor”. O prisioneiro dizia existir um acampamento na mata entre Insumeté e Infaíde, mais uma vez a CCP 122 a 3 GComb foi helicolocada em 20 de Junho de 1969, cerca das 08,40. A primeira vaga de 40 homens, sendo a segunda vaga de mais 40 colocada cerca de 25 minutos mais tarde, um pouco mais a sul da mesma bolanha.

Formação de Hélis partindo para uma operação (Foto de A Martins álbum de memórias do BCP 12)

Mais uma vez fui na segunda vaga. Quando se deu a reunião da Companhia estava o prisioneiro a levar um “tratamento”, para ver se espevitava uma vez que se mostrava desorientado, a meu ver não era caso para menos porque que tinha sido levado e trazido de helicóptero, fartamo-nos de andar às voltas com os “turras” sempre a chatear-nos, lá andava o Heli-canhão a tentar mantê-los à distância, atravessámos a mata entre as duas bolanhas, encontrámos um acampamento abandonado, onde foram encontradas munições, granadas, medicamentos e grande quantidade de artigos diversos.

Travessia de uma bolanha (Foto de Albano Martins Álbum de memórias do BCP 12)

Por volta das 16 horas a sul da bolanha de Infaíde foram encontradas pequenas barracas individuais no tarrafo numa pequena ilhota, estas continham grandes quantidades de armamento e equipamento.

Para alcançar a citada ilhota tivemos de atravessar braços do rio Bipo, com água pelo peito, aquilo era uma zona de muita água, à parte a água havia ainda umas espinheiras muito afiadas que nos rasgavam tudo que lá tocava.

Páras em terreno difícil (Foto de Albano Martins Álbum de memórias do BCP 12)

Foi aqui que apanhei os meus primeiros “despojos de guerra” que foram: 1 cantil, um cinturão com fivela de chapa com a foice e martelo em relevo, um boné de pala do tipo chinês, e um estojo de faca garfo e colher, a faca perdi-a em Nampula, restam a colher e garfo com abre-latas e saca-rolhas porque nunca lhes dei uso, os restantes objectos já não existem desgastaram-se pelo uso, era um estojo bastante adiantado para a época, devia pertencer a algum comandante.

Foto do Estojo com colher e gafo

Foto do pormenor da marca, País do Leste?

Os guerrilheiros continuaram a flagelar-nos, era sol-posto quando a Operação foi dada por concluída, regressamos a Bissalanca com o material capturado.

Uma recuperação Héli (Foto Álbum de memórias do BCP 12)

Durante a operação foram abatidos dois guerrilheiros e capturados outros dois sendo um o chefe do grupo de Iracunda. Em vez de mencionar aqui todo o material capturado, resolvi expor a foto do mesmo.

Material capturado pela CCP 122 na Operação “Nestor” em 20/JUN/69 (Foto H BCP 12)

E foi mais uma operação em que participei sem dar um tiro.

No mesmo dia o Alf. Pára-quedista Armindo Calado, pertencente à CCP 121 que estava em Teixeira Pinto, foi morto em combate na região do Bachile.

Sentimos sempre a morte dos camaradas de armas, mas uns mais que outros conforme seja a nossa proximidade. Com o Alf. Calado tinha criado laços de amizade por ter convivido de perto com ele durante os dias e algumas noites, que durou Instrução de Combate 2/68, com início em 17JUN68 até 07SET68, pois tinha sido monitor no pelotão dele. Depois eles foram mobilizados e eu ainda fiquei a dar a Escola de Recrutas 3/68 que teve inicio em 16SET68.

A 28JUN69 fui com a CCP 122 para Teixeira Pinto via auto e no dia 08JUl69, fui de Teixeira Pinto para Bafatá integrando a CCP 123 (1), tendo passado por Bafatá, Galomaro e Dulombi.

(1) Tratou-se de uma Companhia a 3 GCOMB que estava mobilizada para Angola, mas foi enviada para a Guiné em reforço durante 3 meses passando a denominar-se CCP 123, no final as praças foram integradas nas CCP 121 e CCP 122 e os graduados seguiram o seu destino para Angola.

Saudações Aeronáuticas
Dâmaso
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8171: Memórias de Mansabá (13): Recordações de António Dâmaso, Sargento-Mor Pára-quedista - O baptismo de fogo na Guiné

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8171: Memórias de Mansabá (24): Recordações de António Dâmaso, Sargento-Mor Pára-quedista - O baptismo de fogo na Guiné

1. Mensagem de António Dâmaso, Sargento-Mor da FAP na situação de Reforma Extraordinária, com data de 23 de Abril de 2011:

Subordinado ao tema "Não deixes que sejam os outros a contar a tua história" aí vai mais um texto à vossa consideração.

Um abraço
Dâmaso


RECORDAÇÕES DE MANSABÁ (2)

O BATISMO DE FOGO NA GUINÉ

Depois de eu ir para a Companhia, às sextas-feiras faziam-se Operações relâmpago de heli-assalto na zona de Bula em Choquemone. Uma dessas operações calhou numa sexta-feira dia 13 de Junho que até era dia de Santo António, efeméride que no momento não me lembrei. Saímos de Mansabá  transportados em viaturas, passámos por Mansôa, seguimos pela estrada em direcção a Bissau e paramos numa Tabanca quase paralela a Encheia, local que conhecia por já ter transportado para lá Companhias de Páras. Era um local de eleição para lançar héli-assaltos na zona a partir dali.
Uma vez levei uma Companhia de manhã, e à tarde tive de ir buscá-la por falta de tecto (céu limpo) para actuar, outra vez fui mesmo pela picada junto ao rio Mansôa recolher uma Companhia, na margem do rio frente a Encheia, tendo de levar uma escolta de dois homens por viatura.

Zona de Jundum > Operação “Orfeu”

Fomos heli-transportados para o Objectivo que era a bolanha de Jundum-Choquemone

Ainda ia no ar já assistia ao bombardeamento de uma parelha de T6 e outra de FIAT G91.

Um avião T6 em voo na Guiné (Foto do Pára Albano Martins > Álbum de Memórias do BCP 12)

Uma parelha de aviões FIAT em voo. Na Guiné não voavam assim juntinhos

Uma largada Héli na Guiné, (Foto Mor S Rosa Álbum de Memórias do BCP 12)

Fui largado na ponta sul da bolanha, cujo efectivo era de 20 homens que correspondia a quatro Hélis, apesar de periquito naquelas andanças, era o mais antigo e como tal tive de assumir o comando. Recebi ordem do PCA, (Posto de Comando Aéreo) que andava lá em cima a comandar a Operação, para me dirigir para norte ao encontro do resto do pessoal da Companhia. Mandei o Cabo Oitenta com a sua MG para a frente, meti-me atrás dele e lá fomos, embora fosse um iniciado, sabia da competência daqueles homens que já tinham passado por Gandembel e por outros buracos idênticos e estavam endurecidos pela guerra. Sentia-me seguro e integrado.

Os que saltaram a norte entraram logo em acção e quando se deu a reunião já tinham alguns prisioneiros. Cheguei a tempo de ver sacar mais dois de dentro de uma vala cheia de água, onde se encontravam a respirar por uma cana de capim, um militar mais atento viu as bolinhas de ar à superfície e os guerrilheiros não escaparam.

Um DO em voo, um faz tudo (Foto Álbum de Memórias dos Pára-quedistas)

Já se encontravam alguns elementos a juntar o material apreendido, para depois carregar nos Hélis e eu recebi ordem para destruir as palhotas do acampamento. Andava por lá um casal de velhotes confusos com o aparato, a meu ver atendendo à idade, acho devia ter havido um pouco mais de condescendência na maneira de os tratar, fui educado a respeitar os mais idosos, os buracos causados pelas bombas largadas ainda fumegavam, preocupei-me primeiro em manter a segurança s só depois foi a destruição do acampamento pelo fogo.

Pára-quedistas na destruição de um Acampamento (Foto Álbum de Memórias do BCP 12)

O Comandante da CCP 121 a carregar armamento no Héli na Operação “Adónis” em 1969 (Foto H BCP 12)

Como a Operação foi resolvida num dia em poucas horas, fomos recuperados para João Landim, local onde eu já tinha ido muitas vezes levar e recolher Companhias de Páras e depois via auto para Bissalanca, ainda deu para fazer uma visita à família.

Héli em aproximação para recuperação (Foto Cabo Pára Lopes > Álbum de Memórias do BCP 12)

Recuperação Héli (Foto Cabo Lopes > Álbum de Memórias do BCP 12)

Dali em diante comecei a conhecer mais de perto alguns pilotos dos Hélis que até ali conhecia de vista e que nos transportaram, uma vez que ia sentado ao lado do piloto.

Alguns dos pilotos de Héli que me transportaram para as Operações e na recuperação (Foto cortesia do Alf  Mil Pilav Jorge Félix com a devida vénia)


Resultados da Operação “Orfeu”: 
 - 17 guerrilheiros abatidos,
- 12 capturados,

Apreensão do seguinte material:
- 1 metralhadora pesada Guryunov,
- 1 morteiro 60, 1 LGF RPG 7,
- 1 espingarda automática Kalashnikov,
- 1 espingarda semi-automática Simonov,
- 1 carabina Mosin Nagant,
- 1 espingarda Mauser,
- 2 carabinas Zbrojovska,
- 1 pistola matralhadora Beretta,
- 1 pistola matralhadora Schmeisser,
- 2 pistolas-metralhadoras M-25,
- 1 pistola matralhadora Thompson,
- 6 pistolas-metralhadoras PPSH,
- 36 granadas diversas,
- 5 minas A/P,
- 32.100 munições para armas ligeiras
- material diverso, fardamento, medicamentos, etc.

A CCP 122 sofreu 4 feridos ligeiros, eu não dei um único tiro porque não tive ninguém na mira de fogo, mas deu para verificar que a margem direita do rio Mansôa era perigosa e que a linha entre a vida e a morte era muito ténue o que obrigava a matar para não morrer. O comportamento dos militares tornava-se quiçá mais desumano em tal situação.

Saudações Aeronáuticas
Dâmaso
____________

Vd. último poste da série de 30 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8016: Memórias de Mansabá (12): Recordações de António Dâmaso, Sargento-Mor Pára-quedista - A minha estadia em Mansabá

quarta-feira, 30 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8016: Memórias de Mansabá (23): Recordações de António Dâmaso, Sargento-Mor Pára-quedista - A minha estadia em Mansabá

1. Mensagem de António Dâmaso*, Sargento-Mor da FAP na situação de Reforma Extraordinária, com data de 30 de Março de 2011:

Resolvi embora com atraso dar os parabéns aos aniversariantes do Blogue, não desfazendo, uma atenção ao Carlos Vinhal, num pequeno texto alusivo a Mansabá que ele tanto adorou, mando duas peças de caça mas têm que as matar primeiro, eu não fui capaz.

Muitas felicidades e que para o próximo cá estejamos para mais umas trincas.

Um Abraço
Dâmaso


RECORDAÇÕES DE MANSABÁ (1)

A MINHA ESTADIA EM MANSABÁ


 Vista aérea de Mansabá
Foto de Carlos Vinhal

Em 1969 estava eu na minha segunda comissão na Guiné. Tinha-me oferecido por estar à bica para ser nomeado para Moçambique e estar convencido que a duração da comissão ainda era de 18 meses, mais uma vez fruto da minha outra Especialidade de Mecânico, devido ao desempenho na comissão anterior, tinha sido colocado no Pelotão de Manutenção Auto que pertencia à CMI, (Companhia de Material e Infra-estruturas).
Estava nesta situação havia cerca de um mês e meio, inopinadamente no 29 de Maio a uma sexta-feira fui ler a Ordem de Serviço antes de sair do Quartel como militar que se preze deve fazer, qual não foi o meu espanto, ao ler que eu sem ninguém me ter dito “água vai”, tinha sido transferido para a CCP 122.
Como simplório que sempre fui, não perguntei nada a ninguém do porquê desta transferência, uma vez que quando para lá fui estava a contar que podia ser colocado de início numa Companhia operacional.

Alguns elementos da CCP 122 onde eu aterrei, militares muito aguerridos

No sábado dia 30 de Maio de 1969 fui logo a caminho de Mansabá, não foi obra do acaso que fui colocado no Pelotão que passados estes anos todos não me lembro, até porque informalmente, só estive na CCP 122 pouco mais de um mês, fui “chutado para a (CCP 123) nesta altura a CCP 122 estava em Mansabá que pertencia ao COP 6 a fazer segurança a colunas auto entre Mansoa e Mansabá e vice-versa, fazia segurança à construção na Estrada que estava a ser construída entre Mansabá e Farim.
A CCP 122, quando fui para lá estava a ser comandada por um tenente, e vinha com uma série de êxitos de resultados das operações semanais que vinha realizando, fazendo muitas baixas, capturas de guerrilheiros e muito material de guerra.

Pessoal e Material capturados pela CCP 122 na operação “Titão” no Morés em 24 de Abril de 1969 (Foto H BCP 12)

A segurança às colunas requeria alguma atenção, pelo menos nos pontos mais críticos propícios a emboscadas, constava que faziam buracos no alcatrão, colocavam minas anticarro e tapavam com bosta de vaca para disfarçar.
O tempo de espera em Mansoa era ocupado com uns jogos de matraquilhos

Mesa de Matrecos

No trajecto fazia-me impressão como é que estava no meio do nada, um minúsculo acampamento em Cútia, quantos ataques terão sofrido?
Havia também um ponto crítico chamado de a Serração.
Em Mansabá dormia numa camarata cuja parede era arejada por buracos quadrados, os catres estavam equipados com uns colchões muito velhos e sujos.
Um belo dia num sábado em Bissau estava em casa depois de ter tomado banho, estava à mesa e apareceram-me uns bichinhos achatados a passear sobre os meus sobrolhos, fiquei mais que encavacado, foi uma “chatice”, só depois associei o caso aos colchões velhos.

A Caserna esburacada dos “chatos” em Mansabá (Foto H BCP 12)

Uma noite saímos do aquartelamento e fomos emboscar num ponto alto para o lado esquerdo da estrada em construção no sentido de Farim, quando o dia começou a clarear começou toda fauna a mexer, galinhas de mato e toda a passarada a esvoaçar de árvore em árvore, a fazer-se ouvir nos seus trinados próprios, até que oiço por cima da minha cabeça um som característico de uma perdiz, som que eu já conhecia desde criança, ao mesmo tempo que estava encantado com aquilo tudo, olho para cima e vejo uma perdiz bem grande pousada num galho da pequena árvore onde eu estava por baixo, quando a ave resolveu fazer as necessidades para cima de mim, aí veio ao cimo aquele sentido animalesco de predador e de lhe apontar a arma e manter o dedo no gatilho, mas como estava emboscado, tive de fazer um grande esforço para não puxar o gatilho, numa emboscada tem se manter o silêncio absoluto.
Foi uma experiência porque desconhecia que as perdizes pousavam sobre as árvores, no Alentejo nunca tinha visto.

Uma perdiz e uma galinha-do-mato


Largada de Pára-quedistas na Guiné (Foto Álbum de memórias do BCP 12)

Um dia que não me lembro a data resolveram ir de avião para Mansabá e saltar, existia lá uma boa zona de lançamento, eu como não fui com eles, também fui de avião DO 27 mas não saltei.

Uma DO 27 a levantar voo

Quando ia para aterrar vi uma grade acácia de flores vermelhas, que tomei como ponto de referência, sempre que voei na Guiné ia atento aquele tipo de acácia e até cheguei a enviar sementes para cá, que não chegaram ao destino.

Uma acácia rubra igual à que existia em Mansabá

Durante o mês de Junho a Companhia continuou com o ritmo operacional de uma operação por semana, Mansabá tinha uma coisa boa que era uma água levezinha como não bebi na Guiné em lado nenhum, cheguei a levar água para Bissau em garrafões de 10 litros, nunca mais esqueci Mansabá por ter sido a minha primeira experiência na Guiné da guerra a sério, mesmo nas duas operações em que tomei parte, apesar de não ter dado um único tiro, fizeram-se prisioneiros, apanhou-se muito material de guerra, queimaram-se cubatas e destruiu-se arroz, mas presenciei situações que me recuso a transcrever e que me marcaram, vi como a guerra transforma os seres humanos em “bichos” perdendo a vertente humana, a partir daí pela maneira como fui lançado para a situação, ia sempre que era nomeado, mas não se pode dizer que me sentisse muito feliz por lá andar.

A minha estadia em Mansabá não chegou a um mês, porque fui para lá no dia 30 de Maio e no dia 28 de Junho já estava a caminho de Teixeira Pinto, gostei de ter conhecido Mansabá comparada com outros buracos por onde andei era um oásis, passei lá pela estrada quatro anos depois, indo do K3 (Farim) para Bissalanca em 2 de Junho de 1973, regressando de Guidage da Operação “Mamute doido”, da estrada observei que tinha aumentado muito em casernas novas.

Um Abraço do
Dâmaso de Azeitão
____________

Notas de CV:

- O meu muito obrigado ao camarada António Dâmaso por este seu trabalho dedicado a Mansabá. Bela prenda.

(*) Vd .poste de 23 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7323: Agenda Cultural (90): Lançamento do livro A Última Missão, de José de Moura Calheiros, dia 29 de Novembro de 2010, no Aquartelamento da Academia Militar (António Dâmaso)

Vd. último poste da série de 22 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7984: Memórias de Mansabá (11): A construção da estrada Cutia-Mansabá e a defesa dos seus pontões (José Barros)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7150: Tabanca Grande (249): Carlos Fernandes, ex-1º Cabo Pára (CCP 122, 1971/74) e ex-elemento do Grupo Os Vingadores, do Alf Grad Marcelino da Mata


Guiné > Bula > 1973 > O grupo Os Vingadores, comandado pelo Alf Graduado Marcelino da Mata, no dia em que receberam as Boinas Vermelhas. Na foto, dois militares do BCP 12, o Cap Pára Valente dos Santos (conhecido por Capitão Asterix) e o 1º Cabo Pára Carlos Fernandes (na ponta esquerda). O grupo terá sido fuzilado pelo PAIGC, depois da independência, com excepção de um elemento gravemente ferido, evacuado para Lisboa,  bem como do Marcelino da Mata, que saiu oportunamente da Guiné. A informação é da autoria do Carlos Fernandes.




Guiné > S/l > O 1º Cabo Pára Carlos Fernandes, da CCP 122 / BCP 12 (Bissalanca, 1971/74) > Legenda do autor: "Eu e aminha MG 42"... 



Guiné > S/l > Brasão da CCP 122 / BCP 12... O Carlos Fernandes chegou à Guiné em Novembro de 1971 e saiu em  Agosto de 1974. O Carlos diz ter pena de não ter hoje 20 anos, para poder continuar nos páras, e servir a Pátria no Kosovo ou no Afeganistão.


Fotos : © Carlos Fernandes (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Carlos Fernandes, ex-1º Cabo pára-quedista, CCP 122 / BCP (Bissalanca, BA 12, 1971/74) que passa a partir de hoje a integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande. 

Com este poste completa-se a sua apresentação e fica registada a sua vontade expressa de se reunir a este grupo, virtual, de antigos combatentes da Guiné (1963/74), unidos por laços de camaradagem e pelo desejo de partilhar memórias desse tempo e desse lugar. Em meu nome, dos demais editores e dos restantes camaradas, desejo-lhe as boas vindas (*):


Data: 19 de Outubro de 2010 15:47
Assunto: Sobre a Ambulância


Boa tarde, amigo Luís Graça


Eu, Fernandes, antes de mais pretendo enviar as maiores saudações, para todos os camaradas de armas neste magnífico blog.

Pretendo e desejo dizer que não é o meu intuito falar mal de quem seja, ou chamar nomes a qualquer pessoa, se bem que por vezes temos essa vontade e também um desejo enorme de dizer algo, que nos vai na alma... Mas foi com total respeito que eu fiz a minha entrada, muito ao de leve, no teu blog e em companhia de bons amigos. Por sinal e não por acaso como dizem na gíria ser por acaso porque não existe,  mas sim caso ou casualidade, que já obti notícias de ex-colegas do mesmo pelotão e da mesma companhia da Guiné. Magnífico!...

Luis Graça,  o que de momento me leva a enviar estas palavras  é para falar a respeito da notícia sobre a Ambulância, que foi capturada entre Copá e a Fronteira. Eu estive nessa operação, eu e o Capitão Asterix (que não era o Ramos, mas sim o Valente dos Santos). 

Nessa altura,  ou seja entre fins de 1973 a Agosto de 74, quem fez parte do COE, foram o Major Veiga da Fonseca,  do Exército,  já falecido,  e o Capitão Pára Valente dos Santos de quem junto uma foto de grupo, onde estou eu e o Valente dos Santos [, vd. foto acima]. Foi tirada em Bula a quando da entrega das Boinas Vermelhas. Foi o nosso grupo o primeiro a usar tal cor de boina.


Hoje a Boina, que o Marcelino usa nesta foto , que também junto [, à esquerda], fui eu que lha ofereci, antes de ter vindo viver para a Madeira. Dei-lhe o crachá bem como os emblemas do grupo,  os Vingadores.

Pois nessa operação, que teve por nome Gato-Zangado, em Fevereiro de 74, saímos de Bajocunda,  andámos toda a noite... A operação consitia em armadilhar as linhas de água, com as "Bailarinas" e as "Viúvas Negras", pelo Alferes Tarro,  do Exército. Eu fiquei encarregue de lhe fazer a segurança,  a esse Alferes. 

Já tinhamos colocado algumas armadilhas na zonas de água e estavamos no nosso descanso, quando aparecem dois sujeitos da população do PAIGC, com uns baldes, para irem buscar água, dentro do território deles. Aí começa a caça ao inimigo. Houve uma troca de tiros e,  na perseguição, encontrámos caixotes de Armamento, granadas de RPG, bem como Armas. 



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Ambulância, de origem russa, capturada ao PAIGC em Copá, Fevereiro de 1974. 



Foi pedido apoio aéreo, na retirada do material, e foi numa das voltas do héli-canhão, que se deu com algo escuro, que de cima não deu para ver o que seria. Foi com base na informação do piloto do héli, que deparámos com uma viatura tipo Ambulância que se encontrava tapada, camuflada com árvores cortadas, com o sistema de ligação estragado. Foi o Marcelino que conseguiu colocá-la a trabalhar,  depois de pedir combustível a Bajocunda, que era o quartel mais perto. Depois a Ambulância foi levada até Massacunda, local onde estava uma coluna de mantimentos para Copá e Bajocunda.

No dia seguinte à captura da Ambulância, tivemos um forte contacto,  muito bem cedo. Era um forte grupo, isto dito pelo Marcelino,  para cima de 100 guerrilheiros do PAIGC e com elementos Cubanos a comandar. Neste contacto foram feitos vários feridos e creio que também houve mortos pelo nosso lado, do lado do pessoal do Exército da coluna, que era para seguir para Copá. Essa coluna  não foi levada para diante. O grupo de guerrilheiros tinha estado de noite a enviar fogo para Copá.

O Capitão Valente dos Santos pediu apoio aéreo dos Fiat e a Ambulância foi levada depois para Bajocunda e também com um grupo de Milícias a dar proteção à restante coluna.

Pois eu até levei um louvor nessa operação, bem como depois levei outro louvor, já na operação Bétula, em Março de 74 na zona de Jumbembem [ou Jemberém ?], perto de Cacine, que deu a origem a uma cruz de guerra de 4ª classe, proposta pelo Marcelino da Mata.

Nesta operação foi para dar apoio moral e também dizer ao IN que seria possível os travar nas intenções deles se bem que,  no quartel de Jumbembem, estaria não uma Companhia, mas sim um Batalhão,  perto de mil e tal homens, mas não tinha ordens de fazer fogo pela assinatura do Governador da Guiné. 



Ao Grupo do Marcelino da Mata coube dar apoio ao pessoal,  em conjunto com os Fuzileiros Negros de Cacine, creio que era o Destacamento 2 comandada por um Tenente branco Fuza. Eu aí conheci o Látas, bem como o Guiné, Fuzileiros Especiais, que foram guardas-costas de um Comandante dos Fuzas, que não me recorda agora o nome dele.


Esta operação de facto teve o nome de Bétula, feita no mês de Março e iniciou-se de noite, com a saída de Cacine antes da meia noite, em botes da Marinha. Andámos rio acima, rio abaixo, tudo por culpa do Oficial da Marinha, que não soube dar com a entrada no local, fomos colocados já de manhã cedo, era dia e ao iniciarmos a entrada no tarrafo, que era lama, levámos uma emboscada de todo o tamanho, pois que o IN teve a possibilidade de fazer valas de noite, à nossa espera.

Nesta operação foi morto um chefe de grupo do IN, que tinha uma Kalash Especial, com um tambor de 40 munições,  que só os chefes de grupo é que as usavam, como aconteceu em Moçambique com as Armlites,  a menina R10 de alça. Os números do grupo apontados pelo Marcelino eram da ordem dos 80 elementos. A minha posição era (e sempre foi) a 3ª . O 1º era um elemento do grupo com a Kalash,  em 2º o Marcelino [, foto ao lado], eu em 3º e o Capitão Valente dos Santos em 4ª posição. Eu fui guarda-costas do Valente dos Santos, era a minha função no grupo.


Tivemos metade do grupo ferido e foi nesta operação que o Marcelino foi ferido com uma bala nas costas e onde um elemento levou uma rajada nos joelhos, sendo mais tarde evacuado para Lisboa.

Quanto aos restantes elementos do grupo,  tirando o Chefe e mais este da rajada,  todos eles foram fuzilados pelo IN, depois da Independência da Guiné.






Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCP 122 / BCP 12 > 2 de Abril de 1972 > O 1º Cabo Pára-quedista Carlos Fernandes, apontador de MG 42, fotografado com um casal feito prisioneiro: em primeiro plano, a criança,  do sexo feminino, filha do casal, completamente nua, levada pela mão do Carlos... A foto foi tirada pelo enfermeiro  do pelotão, o Serra.



Quanto à operação da foto de início, que deu origem à minha entrada na Tabanca Grande (*) pretendo dizer que foi na zona da Aldeia Formosa, em que diziam que o Nino estaria por aqueles lado. Antes de sairmos para a dita operação ou para o mato, foi-nos comunicado pelo héli-canhão, que fazia reconhecimento das zonas. Fizemos um Héli-Assalto, que deu com as três figuras meios escondidas [, um homem, uma mulher e uma criança, do sexo feminino]. 

O Comandante Araújo e Sá estava na Aldeia [ Formosa] e foi pedido voluntários das armas pessadas, para irem buscar  o casal, mais a miúda nua (que estava com muito medo devido às munições do héli, que eram de ponta vermelha incendiárias).

Quanto ao fotógrafo,  foi o Enfermeiro do pelotão,  o Serra, camarada de quem perdi o rastro. Não sei nada dele, desde a minha saída da Guiné, já tentei saber o paradeiro dele mas até agora não o consegui encontrar.

Já agora digo que conheço o [Sargento] Mor Rebocho. Foi por ele que eu apanhei a minha 1ª porrada na tropa. Se eu fosse mulher não me perdia de amores por ele. Isto ao fim de 3 anos... E depois daí apanhei mais 3, que no total foram 4 porradas.  A 3ª tinha eu 8 dias de Guiné e foi em Teixeira Pinto.

Haveria mais coisas para contar, mas fica para uma outra altura e já agora me deixa dizer, eu não fui herói, mas sim fui um Combatente. Fui bem treinado no ano de 1968 e tenho pena,  na data presente de 2010, não ter 20 anos, para poder ir até ao Kosovo ou ao Afeganistão.


Envio um forte abraço muito amigo para ti,  Luis,  e para todos os Camaradas de armas,  sejam eles quais forem. Um bem haja a todos.

Carlos Fernandes

[ Revisão / fixação de texto: L.G.]
____________

Notas de L.G.:

(*) Último poste desta série > 20 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7147: Tabanca Grande (248): Augusto José Saraiva Vilaça, ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914 (Sangonhá e Cacoca, 1967/69)


(**) Vd. poste de 7 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7093: (De) Caras (4): Eu também estive lá (Carlos Fernandes, ex-1º Cabo Pára-Quedista, CCP 122/BCP 12, 1971/74)


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7093: (De) Caras (4): Eu também estive lá (Carlos Fernandes, ex-1º Cabo Pára-Quedista, CCP 122/BCP 12, 1971/74)



Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCP 122 / BCP 12 > 2 de Abril de 1972 > O 1º Cabo Pára-quedista Carlos Fernandes, apontador de MG 42, fotografado com um casal feito prisioneiro: em primeiro plano, a criança,  filha do casal, completamente nua, levada pela mão do Carlos; em segundo plano, a mulher, de peito desnudo e com um simples pano à cinta, entre dois páras, vendo-se ainda o ombro do homem, à direita... Um foto, de guerra,  que capta um momento de grande expressão dramática, e que tem um real valor documental.  Quem terá sido o fotógrafo ? Seguramente um camarada do Carlos, da CCP 122, que "também estava lá"...

Foto: © Carlos Fernandes (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do ex-1º Cabo pára-quedista, Carlos Fernandes, CCP 122 / BCP (Bissalanca, BA 12, 1971/74), remetida em 30 de Setembro último:

Assunto: Eu estive lá também

Luis Graça:

Eu,  Fernandes,  ex-Pára da 122, estive lá na Guiné entre Novembro de 71 a Agosto de 74 e estive no grupo do Marcelino da Mata entre Janeiro de 74 até eu vir embora,  muito depois do 25 de Abril.

A minha arma na Guiné foi a MG 42 sempre, desde o início da comissão até ao 25 de Abril, onde fui condecorado com a Cruz de Guerra 4ª classe pelo Marcelino. Só a recebi em 2006 em Chelas. Também recebi a Medalha das Campanhas da Guiné.

Mas antes estive em Moçambique,  em Nacala,  no BCP32, entre Março de 1970 a Janeiro de 71. Participei em várias operações,  a melhor foi a Nó Górdio, em que a minha Companhia,  a 1ª , apanhou para cima de 27 mil kilos de armamento junto ao Rio Rovuma.

Tomámos a Base Moçambique perto de Nangulolo, onde nessa altura morreu o tal Capitão das Chaimites e o pessoal que ia dentro dela, pois o Capitão, burro, colocou a Chaimite a abrir caminho, como arrebenta- minas. Eu ia nessa coluna.

Junto duas fotos do antigo,  com a MG ao ombro,  em Aldeia Formosa,  e outra tirada o ano passado.  Estou reformado. O meu posto foi 1º Cabo Pára-quedista. Vivo aqui na Ilha da Madeira por opção.

Meu contato é canico2009@hotmail.com

Irei dando noticias. Tenho fotos de alguns tempos e bons.

Um abraço amigo a todo o pessoal deste blog dos amigos da Guiné

Carlos Fernandes
TM 937743321

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Carlos, pelas tuas notícias e pelo abraço que mandas a todo o pessoal do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Tomei boa nota do teu interesse em continuar a dar-nos notícias tuas e mandar-nos fotos do teu álbum. Não foste, porém, explícito na manifestação do teu eventual interesse em fazer parte da nossa Tabanca Grande e subscrever as nossas regras de sã convívio e de boa ética. Presumo que sim, e nessa medida serás bem vindo, na tua qualidade de antigo combatente no TO da Guiné.

Sei que eras conhecido como o Fernandes da MG 42, e que terás pertencido ao 4º Gr Comb da CCP 122. Espero que encontres malta da tua subunidade, desse tempo.

Se bem leste e compreendeste as nossas regras, sabes que não fazemos juízos de valor sobre nenhum camarada, em termos de comportamento operacional. A missão fundamental do nosso blogue é criar condições, de liberdade intelectual e de conforto psicológico,  parar partilharmos uns com os outros, e com os demais  leitores que nos seguem de muitas partes do mundo (de Portugal, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Brasil, Estados Unidos, etc.), as histórias das nossas vidas no TO da Guiné, entre 1963 e 1974.

Não preciso, pois, de lembrar-te que não gostamos de chamar "burro" a ninguém, mesmo quando camaradas nossos tenham feito eventualmente asneiras fatais, no teatro de guerra, como terá sido o caso do tal capitão das Chaimites em Moçambique que tu não identificas (e ainda bem).

Sobre a foto com os prisioneiros, que publicamos acima, devo dizer-te que é forte e, para alguns dos nossos leitores, até poderá ser chocante, podendo ferir eventuais susceptibilidades e sensibilidades. Mas não vale a pena ignorar, escamotear ou branquear a realidade da guerra que nos tocou em sorte. Não quero que essa foto se vire contra ninguém: nem contra ti nem contra nós, os antigos combatentes portugueses, os pára-quedistas. Nem contra nós nem contra o PAIGC,  o inimigo de ontem... Também a minha CCAÇ 12 fez prisioneiros, mulheres, crianças e idosos, em estado andrajoso, miserável, as crianças nuas e subnutridas... Essa foto teve o condão de mexer comigo e com algumas das memórias mais dolorosas da guerra...

Se quiseres e puderes, conta-nos pormenores dessa operação realizada na região de Aldeia Formosa, em Abril de 1972, as circunstâncias em que foi apanhada a criança e os seus pais, o destino que foi dado aos prisioneiros, etc... Muitos dos nossos camaradas e amigos gostariam, muito provavelmente, de conhecer mais pormenores desses acontecimentos de que foste actor e testemunha. E, já agora, lembras-te de quem foi o autor da foto ?

Enfim, feita a tua apresentação sumária como ex-1º Cabo Pára, falta-te contar pelo menos uma história da tua/nossa guerra, como mandam as nossas regras. Sobre o teu BCP 12, já temos no nosso blogue mais de 60 referências. E sobre a tua CCP 122 há já uma dezena de postes com referências. Um Alfa Bravo (abraço) para ti em meu nome e dos demais co-editores do blogue. Luís Graça

_______________

Nota de L.G.:

Último poste desta série > 30 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7058: (De) Caras (3): A emboscada em Malandim e a descontrolada reacção do 1º Cabo Costa, na noite de 3 de Agosto de 1969:Branco assassino, mataste uma mulher (Beja Santos)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5802: Álbum fotográfico do Júlio Tavares, Sold Cond Auto, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Parte II) (Marisa Tavares / Victor Condeço)

1. Continuação da publicação da mensagem do Victor Condeço, ex-Fur Mil Mec Armamento,  CCS/BART 1913 (Catió, 1967/69), membro da nossa Tabanca Grande, residente em Entroncamento [ foto à esquerda]:

E agora os comentários às fotos que seleccionei  [do álbum fotográfico da Marisa Tavares, filha do nosso camarada Júlio Tavares, 1945-1986, mais conhecido como o Madragoa: era Sold Cond Auto Rodas, estando-lhe distribuída uma GMC, que ia habitualmente à frente, nas colunas logísticas; foi para o Canadá, em 1975, como emigrante, lá nasceu a sua filha Marisa, em 1978; faleceu em 1986, devido a doença prolongada]: 

- A foto do grupo com o estandarte [, à direita,], era o estandarte particular (ronco) do pessoal da secção de transportes Os Desastrados e que tinham por divisa "SOB O PERIGO RODANDO". 

- As fotos (8 ao todo,  já minhas conhecidas), dos prisioneiros do PAIGC, das armas, do helicóptero, do C47 Dakota e dos T6, foram tiradas em Catió, em 25 de Fevereiro de 1968,  por ocasião da Operação Ciclone II que o BCP12/CCP121 e CCP122 realizaram a Cafal/Cafine, tendo por base de operação a pista de Catió e terrenos adjacentes a sul da mesma pista.

Nota, esta operação é profusamente descrita e documentada no livro da colecção Batalhas de Portugal, Guiné 1968 e 1973 Soldados uma vez soldados sempre!, da autoria  do Coronel Pára  Ref Nuno Mira Vaz. 


  
  

  


- Nas fotos da GMC que já foram publicadas , considerando o à-vontade do pessoal, serão com certeza numa qualquer estrada próximo de Catió, Areia, Sua, Quintáfine, Ganjola, Priame, Quibil, Ilhéu de Infanda, o Mário Fitas que me perdoe, mas não me inclino para a estrada de Cufar, a não ser numa zona muito próximo de Priame, que o pessoal não era louco para se aventurar a maior distância.

 








- A GMC carregada de lenha [ acima, à esquerda] está  a fazer descarga na zona da cozinha, nas traseiras do refeitório geral. A viatura Matador [, foto acima, à direita, ] pertencia à companhia de Cufar, mas foi fotografada em Catió onde terá vindo inserida numa coluna.  

- A LDG 101 pode muito bem ter sido (e com toda a certeza foi) fotografada junto do cais de madeira do Porto Exterior de Catió, no rio Cagopere, único sítio onde era costume a abicagem destas lanchas quando se deslocavam a Catió. 

 (Continua)

Fotos: © Marisa Tavares (2010). Direitos reservados

______________________

Nota de L.G.: (*) Vd. postes anteriores:



1 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5742: Em busca de ... (115): Camaradas de meu pai, Júlio Marques Tavares, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Marisa Tavares)