Mostrar mensagens com a etiqueta Cumeré. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Cumeré. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 26 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14409: Memória dos lugares (287): A entrega do Cumeré ao PAIGC


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua magnífica série.

Fernando Rodrigues, furriel miliciano, com efémera passagem pela Guiné.
Um camarada que assistiu à entrega do Cumeré ao PAIGC.

Conhecemo-nos há décadas! Somos moços de uma geração onde a guerra no então Ultramar impunha restrições objetivas a uma juventude cujos olhares se fixavam numa imensurável procura de um futuro perpetuamente próspero. Porém, nem tudo era assim. O conflito de além-mar, em plena efervescência, suscitava razões óbvias que entrosavam num rol de preocupações e que se entrelaçavam com respostas invariavelmente inacabadas.

Fernando Augusto Rodrigues, ex-furriel miliciano, natural de Beja, após o 25 de Abril de 1974 deparou-se com a sua mobilização para a Guiné. Uma comissão inesperada, tendo em conta que a guerra nas antigas províncias ultramarinas já sinalizava o seu fim. Todavia, a sua hora chegou e o camarada lá partiu.

Estávamos em junho do 1974 e a sua rendição individual tinha como objetivo substituir um 1º sargento que se encontrava em Bafatá. A decisão do nosso sargento não terá sido pacífica, uma vez que o antigo camarada recusou sair, sendo que a decisão final sobre o Fernando foi uma estadia temporária num outro quartel.

Desta situação inesperada, eis o bom do meu amigo Fernando, nosso camarada de armas, a fazer parte do expediente normal do conhecido quartel do Cumeré. Um aquartelamento que normalmente recebia os piriquitos recém chegados a solo guineense. Um sítio, aliás, onde eram dadas à rapaziada as primeiras instruções básicas para o conflito real que se seguia num palanque indesejado.

Acontece que na fase de evacuação das nossas tropas, o Cumeré registou um maior afluxo de soldados que esperavam desalmadamente o seu embarque para o nosso País, agora livre, onde a família, em uníssono, aguardavam os seus ente queridos.

Sintetizando: o nosso antigo camarada furriel miliciano Fernando Rodrigues não foi um soldado de guerra, mas um militar que se confrontou com um regime de transição e de subsequentes entregas dos nossos antigos quartéis. Assim, teve o privilégio em assistir, “ao vivo e a cores”, não obstante o dia apresentar-se cinzento e chuvoso, à entrega do Cumeré ao PAIGC.

Cumeré, onde o pessoal da minha companhia aguardou pela hora do regresso à nossa Pátria Lusa. Recordo que foi justamente nesta derradeira estadia na Guiné que me deparei com o meu último “ataque” de paludismo. Sei que a febre não deu tréguas, os arrepios de frio muito menos, restando porém a certeza que a guerra no terreno tinha, finalmente, acabado.

A guerra, aquela com a qual então me deparei, era sim em “vale de lençóis”, sobrando a certeza que não fiz parte de um grupo de camaradas que, na altura, dizimavam líquidos fresquinhos para aconchegar mágoas passadas. Tanto mais que já cheirava a “Lisboa Menina e Moça” e a um “Cravo Vermelho”, símbolo da Revolução, esperar-nos-ia em solo firme.

Neste relato o nosso camarada lembra duas das suas viagens, já em tempo de paz, sendo uma delas a Nhacra, onde foi jogar futebol e comer leitão assado e uma outra que o levou a conhecer Mansoa e a sua ponte, um local apetecível para imagens fotogénicas, asseguravam os conhecedores da zona.

Por outro lado, o Fernando reconhece que embora o tempo fosse de paz, as histórias de guerra teimaram em persistir. Fala sobre um caso mortal de um furriel miliciano que se encontrava no QG, mas que “ao entrar de serviço e ao acender um cigarro, ter-se-á encostado a um arame e inesperadamente a arma que transportava disparou, sendo o seu fim trágico”. Outro camarada que fará parte de um infindável rol de falecidos e cujo fim foi uma comissão militar na guerra do ultramar.

Resquícios de uma peleja onde a facilidade do pessoal permitia descuidos que, humanamente, eram considerados impensáveis. Contudo, a verdade que todos nós conhecemos, diz-nos que houve camaradas que partiram para o além face às suas pretensas fragilidades em saber lidar com um conteúdo de uma guerrilha extremamente traiçoeira. O facilitismo permitia devaneios, depois lá vinha a desgraça. 

Faltou, talvez, uma preparação profícua a contingentes de soldados que partiam para os campos de batalha mal preparados, desconhecendo os conteúdos que a guerra impunham. Sei, e reconheço, que essa era a verdade amiudadamente constatada. Só o tempo do conflito permitia uma adaptação aos horrores a cada instante deparados. 

O nosso antigo camarada Fernando Rodrigues, acabou a sua curta comissão na Guiné a prestar serviço no QG (Quartel General), sendo o seu regresso a Lisboa no dia 3 de outubro de 1974.

Para trás ficou a certeza que foi um dos militares portugueses que se deparou com o içar da bandeira do PAIGC no Cumeré, precisamente no mastro que fora antes ocupado pela bandeira nacional portuguesa. 

Fotos do furriel miliciano Fernandes Rodrigues

Aspeto geral do quartel do Cumeré 
Atrás as tropas do PAIGC perfiladas para cerimónia 
O dia da entrega do Cumeré ao PAIGC e o içar da bandeira
No quarto 
Com o furriel Joaquim Fernandes de Vila de Condes
Como cenário de fundo o rio Geba 
Passeando numa rua em Bissau 
Um abraço camaradas, 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
___________
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13383: Tabanca Grande (441): Mário Jorge Figueiredo Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Binar, Pete, Bula, Ponta Consolação e Capunga, 1969/71)

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo Mário Jorge Figueiredo Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Binar, Pete, Bula, Ponta Consolação e Capunga, 1969/71), com data de 17 de Junho de 2014:

Olá camaradas.
Há já alguns anos que venho seguindo o vosso BLOG, mas só agora tive a ousadia e atrevimento de tentar entrar em contacto convosco, depois de o nosso camarada e amigo Victor Garcia, já referenciado na "tabanca grande" e tendo uma página pessoal da nossa companhia que é aCCAV 2639, ter insistido comigo para ser mais um ex-combatente a entrar na "TABANCA".

Eu apresento-me como o ex-1.º Cabo Radiotelegrafista NM 10121869, Mário Jorge Figueiredo Lourenço a viver na Damaia-Amadora, reformado de uma firma do sector automóvel onde trabalhei 43 anos.
Não sei se necessitam de mais algum elemento, se sim agradecia que me informassem.

Aproveito, embora muito em cima da hora, para comunicar que o nosso 35.º convívio se realiza em 21 de  junho de 2014 em Pedreiras-Porto de Mós.

Desde já, agradecendo a vossa iniciativa e vontade para que os ex-combatentes não sejam totalmente esquecidos (porque esquecidos e por vezes humilhados já são há muito tempo) digo totalmente porque quando alguém pensa em cortes nas reformas, lembram-se logo de nós.

Um grande abraço a todos os ex-combatentes de África, e Timor com os desejos de muita saúde e que sejam lembrados sempre.
Mário


2. No dia 4 de Julho foi enviada a seguinte resposta ao nosso camarada:

Caro camarada Mário Lourenço
Aceita desde já o meu pedido de desculpas por só agora estar a dar resposta à tua mensagem.
Motivos vários têm-me afastado um pouco das lides do Blogue pelo que ficaste um pouco para trás, embora não esquecido.

Claro que temos o maior prazer em te receber nesta Tabanca de ex-combatentes da Guiné (ou combatentes, como alguns gostam de dizer) que tem como finalidade registar depoimentos na primeira pessoa e publicar fotos, mesmo já amarelecidas pelo tempo, que serão o nosso melhor testemunho para quem, daqui a alguns anos, quiser recolher elementos sobre aquela guerra que roubou anos de juventude aos sobreviventes, trouxe a morte a milhares de inocentes e deixou estropiados muitos mais.

Para seres apresentado devidamente à tertúlia, envia-nos uma foto actual e outra do teu tempo de militar, se possível tipo passe, manda-nos também uma pequena história que servirá de apresentação e uma ou outra foto que a ilustre. Isto é flexível e voluntário pelo que estás à vontade para fazeres como souberes e puderes.
Lembra-nos a data de ida e regresso da Guiné e os locais por onde andaram.
Sabemos já o teu nome, posto e especialidade pelo que estás já meio apresentado.

Se tiveres alguma dúvida não hesites em contactar-me.
Recebe então um abraço do teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal


3. ... que deu origem a esta mensagem, de 8 de Julho,  do camarada Mário Lourenço:

Carlos Vinhal:
Vou tentar concluir o processo da melhor maneira possível, e também digitalmente o melhor que sei fazer.

Vou primeiro contar o meu testemunho, de algo que se passou durante os quase dois anos, em que fomos obrigados a estar numa guerra sem nos terem informado ou perguntado se queríamos, não vou contar os vários ataques sofridos nos destacamentos onde a nossa companhia estava aquartelada, mas sim um episódio da natureza pela qual nunca tinha passado.

Foi no dia 25 de Abril de 1970 em que de repente o céu se tornou escuro como breu e a cair uma chuvada por mim e maior parte dos meus camaradas,  nunca vista, com um vento não sei de quantos quilómetros por hora, só sei que os Unimogs foram amarrados aos "imbondeiros" para não serem levados, o telhado do casarão voou quando eu ia a fugir do posto de rádio (foto 5) era já o segundo porque o primeiro foi numa tenda de lona que mais parecia dos índios, e segundo me contaram vários camaradas meus, antes de bater no solo se partiu em dois ficando eu no meio. Por isso penso que a morte passou bem perto de mim.

Outro episódio da natureza em que me vi envolvido, foi, faltavam três dias para acabar a comissão, estávamos à espera de transporte para o embarque no Cumeré, um quartel que tinha várias camaratas em redor da parada, que era rodeado por uma cerca electrificada à volta com vários candeeiros, quando numa noite, estando eu e mais camaradas a jogar cartas no bar, caiu uma trovoada. Um raio caiu num candeeiro, fez um clarão e um estrondo que parecia em cima da caserna, comecei a correr para ver se tinha caído sobre ela, quando vou a meio da parada caiu outro raio à minha frente, fazendo um buraco no chão, ficando eu cheio de terra, mas sem me acontecer nada de grave.

Bem, penso que chega de relembrar tempos passados na Guiné, as localidades em que a CCAV 2639 esteve nesse país foram: Bula, Binar, Capunga, Pete, Ponta da Consolação e ainda um pelotão destacado em Bissum.
Fomos para a Guiné no dia 22 de Outubro de 1969 e regressámos a 2 de Outubro de 1971.

Moro na Damaia-Amadora e nasci em 7-1-1948

Por agora penso que estou identificado, despeço-me com um grande abraço de emoção e camaradagem
Mário 

Pete - Buraco das Transmissões

Pete - Posto de Rádio e Centro de Cripto

Pete - O Casarão depois do tornado

Pete - Alguns destroços deixados pelo tornado


4. Comentário do editor

Caro Mário
Muito bem-vindo à nossa, e agora também tua, Tabanca Grande. És o Grã-Tabanqueiro n.º 662.

Pelo que podemos depreender das tuas mensagens e fotos que anexaste, andaste por zonas altamente turísticas e com instalações equipadas com todos os requintes. Exemplo, o Buraco das Transmissões com um modelar Posto de Rádio e Centro de Cripto. O Casarão, que seria a construção mais importante lá do sítio, tinha um senão, ser pouco resistente à intempérie.
Na verdade foram tempos bem difíceis, que nós já ultrapassámos, uns melhor que outros, e aqui cabe uma palavra de carinho e conforto para os nossos camaradas estropiados e portadores de stresse pós-traumático.

Quanto aos bens materiais, caro Mário, discordo de ti quando dizes que eles só se lembram de nós para nos reduzir as reformas. É precisamente o contrário, e ainda bem, porque o estatuto de ex-combatentes não nos deve diferenciar nesta situação particular. Queremos sim é que os nossos camaradas doentes e estropiados em acção de guerra, sejam tratados com dignidade e a espenças do Estado. Nós, os aparentemente saudáveis, lá nos havemos de desenrascar. Queremos sim o respeito e a dignidade que nos é devida pelo que fizemos ao serviço da Nação.

Fiamos então na espectativa das tuas próximas mensagens com outros textos e fotos que contem situações e experiências vividas por Pete e arredores.

Recebe um abraço de boas-vindas, de que sou portador, em nome da tertúlia e dos editores deste Blogue que ficam disponíveis para qualquer dúvida ou esclarecimento que pretendas apresentar.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13325: Tabanca Grande (440): o 2º srgt Piça, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), nosso novo grã-tabanqueiro, o xico mais bacano que conhecemos na tropa (Tony Levezinho / Luís Graça)

sexta-feira, 21 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12879: Blogpoesia (383): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (XIV): "Pensa meu soldado cansado, pensa..." e "Mãe" (Mário Vasconcelos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Vasconcelos (ex-Alf Mil TRMS da CCS/BCAÇ 3872 - Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72 - Mansoa, e Cumeré, 1973/74), com data de 21 de Março de 2013:

Caros camaradas, editores e amigos
Um pouco em forma de resposta ao sugerido pelo Luís Graça, e por ser o dia 21 de Março, dedicado à poesia, vou nessa de publicar pequenos nadas, criados no meu tempo de militar pela Guiné. 
Sem pretensões de qualquer espécie, mas, e apenas, por uma questão de estar com todos, agora e sempre.

Ao mesmo tempo aproveito para, em forma de enquadramento, inserir uma ou outra foto relacionada com o tempo e o lugar por onde, então, me encontrava.

Assim sendo, regresso a Galomaro, ano de 1973, onde, numa altura de descontracção e reflexão, escrevi este texto, sentado, talvez na mesma tarimba que a foto seguinte reproduz. 
A cachimbada, o turbante Fula e a guitarra indígena serviram de adorno.



PENSA MEU SOLDADO CANSADO… PENSA…

Porque hás-de ser sempre o peão do xadrez?
Porque te esqueces donde vem teu soldo?
Será preciso repetir-te, vaidoso, de camuflado novo,
Que esse pano salamandra que te vestem,
Não é mais o verde acastanhado,
Mas sim o preto-volfrâmio do luto?
Queima as mortalhas do teu corpo,
E mata o frio que te vai na alma.
Carrega a tua arma, de flores,
E espreita afoito, sem medo,
O contente silêncio do tubo da arma.
Porventura tua mão tem menos dedos que a minha?
Ou do que a dele?
Não queimes a seara com as vozes dos outros.
Apanha antes a papoila vermelha,
E oferece-a à criança, que no musgo da vida,
Sentada chora.

Galomaro 1973... Guiné

************

No ano seguinte, 1974, em funções no COT 9, Mansoa, num grupo de trabalho, e, se assim o digo, é porque, efectivamente, vivia-se neste comando uma atmosfera de camaradagem muito efectiva, sem perda de hierarquia ou funções.


No centro, da esquerda para a direita, recordo, se a memória me não atraiçoa, de camisola branca, o Major de Infª Eurico César Moreno, Ten. Cor. Infª Pedro Henriques e Cap. Mil. Álvaro Contreiras?

Uma outra imagem, agora com camaradas que formavam um pequeno grupo de alinhadores nas patuscadas, onde, como todos nós e a seu modo, matávamos a sede de um regresso às nossas origens.

Sentado perto desta ponte, contemplando suas águas turvas, senti, então, as agruras de um pai distante, que me puseram numa folha estes versos, dedicados à minha mulher e mãe do meu primeiro filho.



MÃE

Mãe, que salivas o amor em suas mãos pousado 
Mãe, que levas nos olhos lágrimas de teu choroso filho 
Mãe, sorriso feliz de teu bebé sorrindo 
Mãe, que em leito fazes teus braços cansados 
Mãe, em cujos seios sua vida sustentas 
Mãe, de quem tuas mãos são os seus primeiros passos 
Mãe, para quem a noite é contínuo dia 
Mãe, que do dia fazes um contínuo alerta 
Maravilhosa mãe, que tal filho tem, e para quem um dia, minha mulher ficou.
____________

Nota do editor:

Último poste da série de 21 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12878: Blogpoesia (382): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (XIII): Impossível apagar o pensamento (Tony Borié)

domingo, 29 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12519: Tabanca Grande (417): Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974) (2): Informações complementares

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974), com data de 14 de Dezembro de 2013:

Caros camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal
Cordiais saudações,

Começo por enaltecer e louvar a vossa competente e generosa dedicação à vida deste Blogue Colectivo de mais de 630 homens e mulheres que têm a Guiné como traço de união e que se manifestam como uma (quase) Comunidade. – Tabanca Grande.

Foi uma boa e feliz inspiração a sua criação, mas só o muito trabalho, dedicação e amor à causa tem levado a bom termo os seus objectivos ao longo dos quase 10 anos. O mínimo que posso dizer ao Luís é muito obrigado e parabéns, que torno extensivos a todos os co-editores, camaradas e amigos que o têm engrandecido com as suas participações.

Começa a ser penoso para mim continuar a adiar o envio de mais informações, que melhor me descrevam como ex-combatente na Guerra Colonial da Guiné, partilhando um pouco da minha vida aí passada nos anos de 1973 e 1974 e também dando-vos conta da minha vida presente, isto é, dando-me a conhecer um pouco mais. A minha responsabilidade ética e o respeito que sinto pelos camaradas e amigos de tertúlia assim o exigem.

As circunstâncias da minha vida presente, ainda muito ocupado com o trabalho profissional com que me esforço para “sobreviver à crise” não me concede o tempo disponível de que necessitava para escrever as minhas memórias da Guiné. Por outro lado, a minha ainda recente descoberta do blogue e a admissão como Tabanqueiro, aliada à falta de hábitos, destreza e até alguma relutância atávica no uso desta via (internet), de relações virtuais nas redes sociais, tem-me condicionado e impedido de cumprir o que era expectável. Mesmo assim, apresento as minhas sinceras desculpas.

Tinha a intenção, manifestada no acto de admissão, de iniciar de imediato uma participação efectiva enviando para publicação textos e fotos da Guiné que testemunhassem a minha vida nesses 2 anos. Cheguei a elaborar mentalmente o tipo de posts que iria propor e que intitulei de (Re)flexões onde abordaria, em episódios, vários aspectos pela minha vida militar e pela Guiné. Reflexões críticas, politico-militares, com que partilharia a minha posição e entendimento sobre as instituições políticas e militares que nos empurraram para a guerra e para o seu desfecho desastroso de que ainda hoje sofremos as consequências, mas procurando reflectir e considerar outras posições não concordantes. Escreveria como vi e senti a vida militar, cá e lá, mas também a vida das populações e territórios da Guiné, do pouco que conheci. Os meus preconceitos originais para com a instituição militar, ou antes com o militarismo classista, pernicioso, balofo e estéril, mas também da minha evolução descobrindo que entre os militares e na instituição militar também há homens bons. Partilharia alguns dos meus sofrimentos e perigos vividos em ambiente hostil, mas também algumas aventuras, camaradagem, amizades, esperanças e alegrias; uma história de 2 anos de vida que não considero perdidos e onde também fui feliz.

A necessidade de “conhecer o terreno” onde iria caminhar levou-me a percorrer um pouco a vida de mais de 9 anos do blogue e de muitos milhares de posts. Nesta busca vim a encontrar relatos impressionantes de muito sofrimento e morte que a guerra gerou, apenas uma parcela mas que eu não conhecia na sua frieza e rudeza. Compreendi melhor os efeitos da guerra em tantos camaradas que hoje sofrem no seu espírito as suas consequências; do pouco que sabia da Guiné e dos seus casos, tomei contacto com alguns relatos de grande heroísmo, coragem e valor, grandes gestos e atitudes de abnegação, de camaradagem e amor. Isto para além do manancial de informações e de relações de amizade que emana do blogue que me tem cativado, tornando-me um permanente leitor, dentro do possível, ávido de mais informações e de conhecimentos. Isto para dizer que perante o que conheço agora do blogue o que iria escrever segundo o meu projecto inicial, se me afigura irrelevante e em alguns aspectos a evitar, podendo vir a melindrar algumas sensibilidades e a última coisa que quero é que o meu contributo e participação fosse causa de sofrimento para qualquer daqueles camaradas que participaram naquela guerra, porventura entraram em combate, mataram e viram morrer quaisquer que fossem as suas motivações, convicções e razões. Para seu sofrimento já bastou o que tiveram e têm; para todos, o meu respeito, compreensão e solidariedade no seu pesar.

A seu tempo e dentro das minhas possibilidades procurarei propor alguns posts que sinta como úteis para os objectivos do blogue, dando assim o meu contributo na tertúlia. Até lá, procurarei comentar alguns dos posts que mais me interpelam, dentro da escassez dos recursos de que disponho; algumas vezes já o tenho feito e mais teria feito se tivesse mais tempo livre ou se os posts permanecessem na página durante mais algum tempo.

Desde já darei alguma informação com que estou em falta desde o meu acto de admissão (peço desculpa ao Carlos Vinhal).

Estive na CCaç 3461, do BCaç 3863, de Janeiro a Dezembro de 1973. Depois de uma passagem pelo Cumeré, onde o Batalhão aguardou embarque para a metrópole, fiquei colocado no Depósito de Adidos, em Brá, onde fiquei a exercer as funções de Oficial de Justiça. Aí, vivi bons e maus momentos e conheci pessoas interessantes com alguns momentos de algum relevo, sendo bem-sucedido até ao meu regresso, em 9 de Outubro de 1974.

Tinha casado em 30 de Setembro de 1973 aquando das férias que vim passar à metrópole. Em Fevereiro de 1974 a minha esposa foi viver comigo em Bissau, onde apesar das circunstâncias, fomos muito felizes. Ela regressou em Julho, grávida da nossa filha Margarida.

Tenho quatro filhos, três raparigas e um rapaz, e quatro netas.

Tenho exercido a minha actividade profissional desde o regresso, no ramo da industria de moldes para plásticos, como técnico de desenho e projecto, desde 1981 por conta própria com um gabinete de Engenharia e Projecto ( CEPMOLDE LDA).

Sou natural de Maceira, concelho de Leiria, nascido a 30 de Julho de 1951.

Filiação: Joaquim Fernandes e Matilde Luísa (já falecidos).

Sou cristão católico e tenho para com a Guiné sentimentos de saudade e solidariedade, alimentando sonhos e projectos de desenvolvimento, e o desejo de um dia lá voltar. Tenho uma enorme pena pelo rumo que a Guiné tem tido no pós-independência, dos crimes perpetrados, da violência que tem grassado, da falta de entendimento político e de liderança.

E por hoje não me vou alongar mais. Agradeço toda a vossa atenção e dedicação à causa. Expresso os meus votos de um Feliz Natal e Bom Ano Novo, que gostaria de tornar extensivos a toda a equipa editorial e às vossas famílias.

Um abraço fraterno.
Joaquim Luís Fernandes

PS: Envio 2 fotos que documentam a minha vida em Teixeira Pinto.

1- Como operacional em patrulhamento de carácter ofensivo, em áreas de contacto eminente, nas matas da Península do Balanguerez até Ponta Costa, bem junto à Caboiana.

2- Visita de Acção Social e Psicológica em Caió, com o camarada tabanqueiro, Alf. Méd. Mário Bravo e outros camarada da CCaç 3461, Alf Mil Moreira que estava “atabancado” em Carenque e o Alf Mil Teixeira da CCS, aquando da visita às ilhas de Jeta ou Peciche.




2. Nota de CV:

Caro camarada  Joaquim Fernandes, em primeiro lugar quero pedir-te desculpa por ter retido a tua mensagem por aqui sem a resposta atempada. A determinada altura do mês de Dezembro a correspondência é de tal modo volumosa, que se não se está atento, alguma fica para trás, ou pior ainda, sem resposta.

Agradecemos as palavras que diriges ao editores e aos camaradas em geral, afinal todos somos operários nesta missão de registo de factos escritos e por imagem daquela guerra que não quisemos, mas que fizemos na convicção de que estávamos ao serviço de Portugal.

Muito obrigado pelo complemento à tua apresentação no Poste 11742(*). Ficamos a conhecer-te melhor.

Compreendemos a tua indisponibilidade para colaborares, no blogue, com as tuas memórias, tanto mais que ainda exerces actividade profissional, como empresário, logo com responsabilidades acrescidas.

Se e quando quiseres escrever algo, não precisas de fazer auto-censura. Escrevemos de acordo com a nossa formação cívica e moral, não tendo que escrever para agradar a este ou àquele. As reacções subsequentes até são saudáveis desde que dentro da cordialidade e do respeito mútuo. Cada um de nós teve a sua guerra e até viu a sua Guiné. Não tem de haver unanimidade.

Tenho aí na zona (Pataias) um amigo, o Ismael Santos, desenhador, também ligado à indústria dos moldes. Ainda há bem pouco tempo trabalhava. Foi meu camarada no RI 5 (Caldas da Rainha), EPA (Vendas Novas), GACA 2 (Torres Novas), BAG 2 (Funchal) e CART 2732 (Guiné). Curiosamente só nos separamos enquanto fui fazer o curso de Minas e Armadilhas a Tancos (EPE).

Termino desejando-te um bom 2014, tanto no plano pessoal como profissional.
Abraço
Carlos Vinhal
____________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 21 DE JUNHO DE 2013> Guiné 63/74 - P11742: Tabanca Grande (402): Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973/74), residente em Maceira / Leiria, tabanqueiro nº 621

Último poste da série de 28 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12516: Tabanca Grande (416): Armando Teixeira da Silva, ex-Soldado Atirador da CCAÇ 1498/BCAÇ 1876 (Có, Jolmete, Bula, Binar e Ponate, 1966/67), Grã-Tabanqueiro nº 636

sábado, 19 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12170: Estórias do Juvenal Amado (49): Afinal era bala real - Lembrando João Caramba

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 13 de Outubro de 2013:

Caros camaradas
Lembrar os nossos é um exercício que se faz naturalmente, pois desse tempo que passámos juntos fica a necessidade de deles falarmos.
Parece que estão mais próximos, atenua o nosso sentimento de perda e prestamos-lhe uma homenagem que não tem preço, não é institucionalizada pois não se institucionalizam os sentimentos.
Juvenal Amado



AFINAL ERA BALA REAL

O Passos contou-me esta ocorrência na última vez que estive com ele, quando lembrávamos o nosso camarada João Caramba, onde fica demonstrado o voluntarismo e a noção de entreajuda que norteava o nosso saudoso amigo.

O caso passou-se quando ainda estávamos no Cumeré em treino operacional, antes de seguirmos para o Leste.

O Passos nunca dizia não a uma jogatana de futebol e embora com um calor pouco convidativo à sua prática, era raro o dia em que não houvesse jogos entre pelotões, ora da CCS ora das companhias operacionais.

Nesse dia o Passos torceu um pé. Não dando muita importância a verdade que após o fim do jogo e com o arrefecimento, a dor no artelho bem como em todo o pé, que apresentava já algum aspecto inchado, tornou-se incomodativa levando-o a procurar ajuda na enfermaria.

Aí levou uma pomada, uma ligadura na zona afectada e a troco de uns analgésicos LM tomados a horas certas, o Passos esqueceu-se da dor.

Mas a malta não estava lá para jogatanas e mesmo nessa tarde o Pelotão de Reconhecimento foi chamado para instrução de guerrilha e contra guerrilha.
A simulação de um golpe de mão a um pelotão de uma das companhias operacionais era a ordem. Estavam connosco as seis companhias operacionais desembarcadas do Angra do Heroísmo, 3 continentais e 3 madeirenses.

O resultado do insucesso desta operação, era ficar prisioneiro do pelotão “atacado” toda a noite e no outro dia, ser exibido como troféu pelos que eram para ser caçados e passavam assim a caçadores.
Embora fosse a brincar, ninguém do Pel Rec queria deixar os seus créditos por mãos alheias e passar por essa vergonha.

Foram feitas equipas de dois calhando numa delas o Passos e o Caramba.
Tinham sido informados de que os atacados tinham bala simulada e não deveriam responder ao fogo.

Lá se foram aproximando da força “inimiga” com todo o cuidado, e estando conscientes de que acabariam por ser detectados,  tinham após isso, tudo fazer para não serem feitos prisioneiros.

E assim foi. Quando foram detectados, pernas para que te quero pelo mato fora. Atrás deles ouviam os disparos.

Mas o pé do Passos não o deixava correr muito, uma vez que cada vez lhe doía mais, com a agravante de ter batido com ele ao saltar do Unimog que os tinha levado ao local onde se iniciaria a operação.

Os perseguidores ganhavam terreno a olhos vistos e o Caramba teimava em não deixar o Passos para trás, dizendo: ou fugimos os dois ou somos os dois apanhados.

Nisto o Caramba manda o Passos atirar-se pra o chão pois detectou que alguém estava a usar bala real. No chão o Passos por instinto meteu bala na câmara com o Caramba a gritar para não responder ao fogo e logo de seguida levantar os braços gritando que se rendiam.

Os perseguidores aproximaram-se todos risonhos e eufóricos da vitória, não esperavam que o Caramba desse um salto em frente para desancar o responsável pelos tiros, que lhe tinham assobiado aos ouvidos.

- Ou me tiram este gajo da frente ou eu parto-lhe as trombas.

No meio de enorme burburinho e acusações, foram ver o carregador da G3 e ele tinha de facto balas reais. Foi um momento de consternação para todos com o Caramba a jurar pela pele do atirador.

Do que se passou a seguir, o Passos disse-me que não soube mais nada sobre o resultado da ocorrência, mas pensa que aquilo foi abafado tendo ficado em nada.

A falta de preparação com saíamos da recruta/especialidade e eramos enviados para a Guiné, era muita e houve muitas tragédias que se poderiam ter evitado.

A sorte era escapar.

Entretanto o Batalhão 3872 embarcou numa LDG e na Bóro direito ao Xime e o episódio foi-se diluindo nos verdadeiros perigos que se avizinhavam daí para a frente.

Um abraço para todos
Juvenal Amado

João Caramba a bordo do "Angra do Heroísmo" ao largo da ilha da Madeira

A malta do Pelotão de Reconhecimento em confraternização
____________

Nota do editor

Último poste da série de 12 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11382: Estórias do Juvenal Amado (48): Fizeram-me lembrar os "Doze Indomáveis Patifes"

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11373: Blogpoesia (332): Guiné... Voltarei lá um dia? (Magalhães Ribeiro)




Guiné-Bissau > Cumeré > Antigo quartel > Parada > 11/1/2012 > "Visita relâmpago, com uns amigos, da parte da manhã, ao quartel do Cumeré com passagem por Nhacra, onde fomos muito bem recebidos pelo senhor comandante que nos mostrou a unidade e que me autorizou a tirar algumas fotografias. O Cumeré é um local conhecido de muitos camaradas nossos, porque era ali que geralmente o senhor general Spínola dava as boas vindas às tropas que chegavam à Guiné e fazia as suas habituais exortações patrióticas! Da parte da tarde foram feitas as despedidas, arrumar a mala, descansar um pouco, porque o voo de regresso saiu de Bissau pelas 02h30 da madrugada, aterrando em Lisboa cerca das 06h30 do dia 12 de Janeiro". Foto (e legenda) do nosso camarada José Francisco Robalo Borrego, ten cor ref que pertenceu ao Grupo de Artilharia n.º 7 (BAC 7) de Bissau e ao 9.º Pel Art, Bajocunda (Guiné, 1970/72),

Foto (e legenda): © José Francisco Robalo Borrego (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

Cancioneiro de Mansoa: Guiné, do Cumeré a Brá (*)


por Eduardo Magalhães Ribeiro,
fur mil op esp, 
CCS/BCAÇ  4612/74
(Mansoa, 1974)


Cartoon: © Mário Miguéis da Silva (2010). 

Todos os direitos reservados







Os perigos eram muitos mas… lá os íamos dobrando…
O maior inimigo era o tempo... interminável...
Cada dia parecia-nos um longo ano bissexto…
Mas o pior, eram as saudades, algo inenarrável .



O avião aterra lentamente,
Lá fora vejo... uma tabanca?
Não!, aquilo, ali, era Bissau,
O aeroporto de Bissalanca!

Desci os degraus e olhei em volta,
Terra estranha de tom encarnado,
Paisagem monótona e agreste,
Céu cinzento, todo enevoado.

O ar quente e muito húmido
Estava sereno e agradável,
Era julho de setenta e quatro,
O ambiente turvo, insondável.

Embarcamos rumo ao Cumeré
Numa coluna de viaturas,
E, pelo caminho, tudo igual!
Diferentes, só as criaturas…

Pretos e pretas com o peito ao léu,
Trouxas à cabeça e filhos em redor;
Aqui, e além, malta fardada
Ao longe, o rufar de um tambor.

Encravado na ruidosa Berliet,
Observei curioso aquela terra
E imaginei os sacrifícios
Daqueles onze anos de guerra.

Os múltiplos cursos de água,
A vegetação densa e rasteira,
E a bolanha, negra e insalubre!
Qual deles a maior ratoeira?

Futa-fulas, balantas, mandingas…
Como diferenciar o inimigo?
Papéis, futas, manjacos, bijagós…
Serão os fulas, o maior perigo?


Mas se confusas eram as etnias,
Maior era a divisão com as religiões
E, assim, uns milhares de negros
Pareciam-me demasiados milhões.

Animistas, muçulmanos e cristãos,
Dos quais alguns eram senegaleses;
Pelo meio, muitos cabo-verdianos,
Além de sírios e libaneses!

Os abutres a esvoaçar por cima,
Os mosquitos na pele a picar, e…
Os répteis por ali à nossa volta,
Não aliviavam o mal-estar.

As temíveis doenças tropicais,
O paludismo tão debilitante,
As disenterias e as hepatites,
Qual delas a mais fulminante?

Enfim, surge um aglomerado
De pavilhões pré-fabricados,
Cumeré, dizia uma placa,
Havia mato por todos os lados.

Após alojado e alimentado,
Acerquei-me da cerca de arame
E, pelo que vi, constatei arrepiado:
Isto aqui era o nosso Vietname.

Dei umas voltas pelas tabancas
Naqueles dias de aclimatação,
Os velhinhos gozavam e diziam:
- Viv’à liberdade de circulação!

E, continuavam com as bocas:
- Ó periquitos, que por aí andais.
Aí fora, há umas semanas atrás,
O turra comia-vos, tal com’estais!


Aqueles velhinhos enrugados,
Tez enegrecida e voz de bagaço,
De idade, vinte e poucos anos,
Pareciam talhados de puro aço.

Um dia, novo destino: Mansoa!
Era a hora de rendermos o Batalhão.
Depois... entregar tudo ao PAIGC,
Foi a nossa derradeira missão!

Sacos às costas, novo local: Brá!
Pr’ó Batalhão de Engenharia,
Lá se passaram mais uns dias, e…
O regresso, breve,  acontecia.

Já a bordo do Uíge medito:

África atrai de modo anormal.
Aventura?... Novos horizontes?…
Julguei que, saudades, só de Portugal!


O povo, os seus costumes, a terra ?
A mística atracção africana?
Tanto se fala dela, ninguém a vê!
Descrevê-la? Talvez p’ra semana!

Caramba! Mas se era assim tão mau!

Para quê, falar tanto, naquela Guiné?
Porquê saudades?... Voltarei ali um dia?!
Doença, tara... ou que raio isto é?!


[Fixação de texto: L.G.: O autor, MR, escreve segundo a ortografia antiga]

_____________

Notas do editor:

(*) Capa dos Cadernos do Magalhães Ribeiro, o "ranger" mais conhecido da Guiné... O nosso querido "pira de Mansoa"... E nosso coeditor...

Pode ler-se: (i): Em Lamego... ser ranger; (ii) Em Tomar... participar no 25 de Abril; (iii) Em Mansoa, Guiné... arriar a última Bandeira.

Foto: © Magalhães Ribeiro (2005). Todos os direitos reservados.


Nestes cadernos, de 47 páginas, onde o Eduardo conta, em verso, as peripécias da sua atribulada vida militar. Foram já publicados na I Série do nosso Blogue, sob a série Cancioneiro de Mansoa, por analogia com o Cancioneiro do Niassa.  

Destes versos singelos, em jeito de romance popular, se pode dizer, em traços breves, que estão  imbuídos da ideologia ou da mística ranger, não são uma obra colectiva, são escritos por um dos últimos guerreiros do Império e, para mais, ao longo dos anos que se sucederam ao 25 de Abril de 1974 em que o autor também participou...  

Enfim, são versos ditados pela nostalgia do império perdido e pela afirmação do valor e do patriotismo do soldado português,  mas também exaltam os valores da camaradagem que cultivámos no TO da Guiné e que procuramos cultivar no nosso blogue. Daí também fazer sentido reeditar alguns destes versos, já esquecidos,  no contexto das comemorações do 9º aniversário do nosso blogue.  O Eduardo, de resto, merece. E é de lembrar que ele ainda está no ativo, na EDP, calcorreando as barragens deste país, de norte a sul...

(**) Último poste da série > 31 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11332: Blogpoesia (332): Santa Páscoa (Luís Graça)

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11142: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (59): "Está na mala", azimute: "peluda"

 


1. Em mensagem do dia 13 de Fevereiro de 2013, o nosso camarada Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72) enviou-nos mais este episódio para a sua série.




Viagem à volta das minhas memórias (59) 

“ESTÁ NA MALA”

Azimute: “PELUDA”

CUMERÉ, derradeiro estacionamento da FORÇA que aguardava regresso à Metrópole, depois de honroso e meritório desempenho que se deveu à generalidade dos seus Homens, a quem pertenci de parte inteira e com orgulho, muito orgulho.

Acabados os “trabalhos” que me prenderam por Bula e tendo a sonhada pré-peluda “ido pelo cano”, creio que na antevéspera de embarcarmos nos TAM rumo à PELUDA acabei por me reunir à minha CCAÇ 2791, que havia já tempo aguardava embarque no Cumeré.

Destas instalações não me recordo absolutamente nada, talvez pelas poucas horas que por lá estive, divididas ainda por uma ida a Bissau para umas poucas compritas de última hora.

Mal pareceria regressar a casa de mãos a abanar, já que nem a roupa civil ou militar traria. À excepção da camisa e calça número dois, respectiva boina e cinturão personalizado que traria vestido na viagem de regresso à metrópole e do famigerado pólo “Lacoste” azul-marinho (ex-pertença do Fur. Trms. Lourenço e que por birra mútua lhe andei a pagar durante a comissão inteira, até ao último dia) todos os meus pertences tinha já ficado por Bula, ofertados. Só o meu lenço vermelho, as minhas botas “mineiras” e o meu camuflado de mato - espécie de amuletos da sorte e da vida - ficaram já no Cumeré com o Sá, Fur. ”Pira” por quem senti amizade logo aos primeiros contactos e que achei merecedor do “legado”. (Posteriormente foi incorporado, creio não errar, na CCAÇ 13 onde teria passado por momentos complicados e viveu a transição. Ao fim de trinta anos de o procurar, reencontramo-nos e a partir daí, volta e meia, a par de mais uma dúzia de Companheiros juntamo-nos numas petiscadas, em convívio saboroso.)

Assim e no final da ida às compras, como o patacão se foi esgotando noutros bens “mais prementes e essenciais” … os “recuerdos“ ficaram pelas intenções e acabei por só comprar uma “Gillette” para a barba, já que teria de a desfazer à maneira no dia seguinte, para embarque que se efectuou pela tarde num Boeing dos TAM.

Da viagem ficou-me na lembrança o servirem vinho num canecão em alumínio e a chegada a Figo Maduro onde um personagem entrou de aspersor nas mãos, borrifando a cabine com uma bomba tipo “Sheltox”, como que a desinfestar-nos (bem sei, Vinhal, bem sei que não era a nós) enquanto na “montra elevada exterior” familiares e amigos expectantes e ávidos de reconhecimento aguardavam que colocássemos os pés em terra.

Depois foi o embarque nas viaturas rumo ao RAL 1,onde de entre outros procedimentos se acertaram contas (recordo que ainda recebi algum dinheiro) e se deu por findo o nosso contributo militar à Pátria, ficando desde esse momento e por mais uns bons anos obrigatoriamente disponíveis para novo “chamamento” em caso de necessidade. Íamos pois passar à chamada disponibilidade.

Consoante a Rapaziada entrava na “peluda”, a maioria desaparecia rápido da vista, não dando tempo a despedidas ou quaisquer trocas de informações. Salvo excepções, queríamos era ir ter com quem nos aguardava lá ou e em casa. Aquele passado recente era para começar a esquecer (?!). “Estava na mala”! Vida nova começava a despontar!

Pelo que me toca e lembro, aguardavam-me alguns familiares, para além da já minha noiva e futuro sogro (italiano) que, talvez por ter sido veterano da guerra da Abissínia, me deitou a mão à camisa nº 2 que vestia, estraçalhando-ma, fazendo com que a única peça de roupa que trazia na maleta, o “bendito” pólo azul “Lacoste”, viesse a recompletar a roupagem na ida à “Churrasqueira do Campo Grande” para uma jantarada de boas vindas.

(Foto LF) Quadro-recordação

Tinham-se passado vinte e quatro longos meses vividos em terras sob desígnio da Bandeira Nacional a que prestáramos um juramento que cumprimos da melhor maneira que soubemos e conseguimos, usando as nossas capacidades humanas físicas e psicológicas para ultrapassar o dia-a-dia nas suas incertezas, nos seus receios e medos, no cansaço, nas saudades…, apoiando-nos na Fé e na Esperança, na amizade e na camaradagem, na confiança e na disciplina.

Foram meses de vivências que rápida e extemporaneamente levou rapazes a transformarem-se em homens de juventude interrompida e futuro incerto, que se apoiavam entre si como verdadeiros Camaradas de armas no cumprimento do dever e na persecução do objectivo sobrevivência.

Também meses de ganhos em Amizades desinteressadas, melhor dizendo desinteresseiras, que prevalecem até aos dias de hoje e que parecem renovar-se a cada reencontro mais ou menos intervalado no tempo (que alguns imbecis apodam depreciativamente “… de saudosistas decrépitos…!?”), onde também se recordam e por vezes parece reviverem-se momentos de situações boas e más, que por um ou outro motivo ficaram retidos nas nossas memórias e que se complementam, eventualmente formando perspectivas mais abrangentes do que foi vivido em conjunto.

A força da vida levou-nos por caminhos diversos mas deixou-nos ligados por elos que de novo se unem, remoçando-se nestes reencontros que só pecaram a meu ver, por norma tardios, já que poderiam ter contribuído mais cedo para eventuais expurgos de “fantasmas” psicológicos inibidores de uma vida mais sã.

Luís Faria
____________

Nota do editor:

Vd. último poste da série de 13 DE NOVEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10662: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (58): Bula - Pré-peluda

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10886: Tabanca Grande (377): José Lino Padrão de Oliveira, ex-Fur Mil Amanuense da CCS/BCAÇ 4612/74 (Guiné, 1974)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano José Lino Padrão de Oliveira, ex-Fur Mil Amanuense da CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 1974, com data de 30 de Dezembro de 2012:

Boa tarde
Gostava de pertencer à tertúlia da Tabanca Grande.

Envio as minhas fotos, uma de 1973 e outra de 2012.

Sou o José Lino Padrão de Oliveira, ex-Furriel Miliciano Amanuense que esteve na Guiné de 12-07-1974 a 15-10-1974.

O nosso Batalhão era o 4612/74.
Fomos num dos Boeing 707-300 dos TAM (vendidos para a Força Aérea italiana em 1975) e regressámos no Uíge.

Na Guiné estive no Cumeré - Mansoa e Brá (Engenharia).
Fomos os últimos a sair da Guiné. Quando chegamos ao Uíge já lá estava o pessoal da Amura, Marinha e Força Aérea.

Envio hoje fotos do arrear da bandeira na Engenharia, o último suponho eu.
Em Mansoa também tirei fotos mas essa história fica para outro dia.

Nestas fotos da Engenharia, suponho que é o Magalhães Ribeiro que faz a última cerimónia.
Dali fomos directos para o navio e chegámos a Lisboa a 21-10-1974.

Um abraço
José Lino Oliveira


Guiné > Brá > Engenharia > Cerimónia do arrear da Bandeira Portuguesa


2. Comentário de CV:

Caro camarada José Lino,
Bem-vindo.

Muito obrigado por quereres fazer parte da família do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
És um dos últimos dos últimos, aqueles que tiveram a felicidade de fechar a porta da guerra e transferir a soberania da Guiné para aqueles que durante mais de 10 anos lutaram contra nós, contra o colonialismo português, como gostava de dizer Amílcar Cabral. O problema era que os Antónios, os Josés, os Silvas e os Costas que eram mobilizados para a guerra, não eram os colonialistas propriamente dito, mas os que morriam e ficavam estropiados nos campos de Batalha em nome de uma ideologia ultrapassada.

Se o vosso tempo de comissão foi curtíssimo, chegaram à Guiné, estava a guerra praticamente terminada, viveram mesmo assim tempos intensos, cheios de incerteza. Sabemos da desorganização política cá na metrópole e daquilo que vos chegaria aos ouvidos que muito contribuiria para o vosso desassosego. Vir o mais cedo possível seria o vosso anseio.

Espero(amos) que nos fales desses tempos, nos contes como os viveste e a impressão que tiveste da população de Bissau, que ao que se sabe, a determinada altura se tornou hostil para as Forças Armadas Portuguesas.

Recebe um abraço de boas-vindas da tertúlia em geral e dos editores em particular.
Cá te esperamos.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10880: Tabanca Grande (376): Manuel Salada, Sargento-Ajudante da Marinha, na Reserva, ex-Cabo Manobra da LDM 304 (Guiné, 1966/68)

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10654: O nosso livro de visitas (151): José Lino Oliveira, ex-fur mil, CCS/BCAÇ 4612/74 (Cumeré, Mansoa, Brá, 1974)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > 9 de setembro de 1974 > BCAÇ 4612/74 > Pessoal da CCS impecavelmente fardado e alinhado, na cerimónia de transferência de soberania das NT para o PAIGC. Uma foto histórica, do álbum do Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-fur mil op esp.

Foto: © Eduardo José Magalhães Ribeiro (2009). Todos os direitos reservados.

1. Do nosso leitor (e camarada de armas) José Lino Oliveira:
 

Data: 4 de Novembro de 2012 17:07
Assunto: Guiné 1974

Boa tarde,
Tive conhecimento deste blogue sobre a Guiné. Tenho alguma documentação sobre a nossa saída, nomeadamente fotos. Vou procurar para poder enviar. Terei de digitalizar tudo, inclusive "slides".

Estive em Cumeré, Mansoa e Brá, na CCS / BCAC 4612/74 como fur mil. Sou o José Lino Padrão de Oliveira. Estive lá novamente em 1988.  
Darei notícias em breve.

Um Abraço,
José Lino.

 

2. Comentário do nosso co-editor Carlos Vinhal:

Caro camarada José Lino Oliveira: 


À boa maneira do nosso Blogue, permite-me o tratamento (mútuo) por tu. Em nome do Editor Luís Graça estou a agradecer o teu contacto e a dizer-te que será uma honra ter-te como tertuliano do nosso Blogue, mais conhecido por Tabanca Grande.

Isto funciona assim: envias-nos uma foto do teu tempo de Guiné e outra actual (digitalizadas) em formato JPG, tipo passe de preferência, ou em alternativa outros formatos a partir dos quais os "nossos serviços técnicos" (eu) possam fazer as fotos da praxe para encimar os teus artigos a publicar.

Queremos saber de ti, o posto, especialidade, unidade, datas de ida e volta da Guiné, locais onde cumpriram a vossa comissão, etc. A ideia é fazer um poste de apresentação à tertúlia com estes elementos mais básicos ou outros que queiras acrescentar. A partir daí, poderás enviar as tuas memórias escritas ou em imagem para serem publicadas. 

No lado esquerdo da nossa páginas poderás encontrar as nossas regras e objectivos do Blogue, nada de transcendente, apenas normas de bom convívio, respeito pela diferença de opinião, etc.

Fico a aguardar o teu próximo contacto.
Até lá deixo-te um abraço em nome dos editores (Luís Graça, Eduardo Magalhães e Carlos Vinhal) e da tertúlia em geral.
 
Fico ao teu dispor para qualquer esclarecimento adicional.
O teu camarada
Carlos Vinhal

PS - Vejo agora que foste camarada do nosso co-editor Eduardo Magalhães, fur mil op esp na CCS/BCAÇ 4612/74.  Deves lembrar-te dele, não ? ... E ele de ti. Ele mora em Matosinhos.
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 26 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10575: O nosso livro de visitas (150): Agradecimento (Vanda Silva) 

sábado, 16 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10039: Tabanca Grande (344): José Alberto Leal Pinto, ex-1º Cabo Escriturário da CCS do BCAV 8320, Bula e Cumeré, 1971/74 (Luís Gonçalves Vaz)



1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos a apresentação oficial nesta Tabanca Grande do nosso Camarada José Alberto Leal Pinto (foto do lado esquerdo), que foi 1º Cabo Escriturário na CCS do BCAV 8320, Bula e Cumeré, 1971/74. 



Regresso à Metrópole do Batalhão de cavalaria 8320/72 



Como responsável por alguma da indignação de alguns antigos ex-combatentes pertencentes a este Batalhão, já que fui eu que “libertei” algumas notas do último CEM/CTIG, que relatam parte das reivindicações do Batalhão 8230, em vésperas do regresso à Metrópole, resolvi conhecer pessoalmente e entrevistar, aquele que mais se tem manifestado no blogue de Luís Graça & Camaradas da Guiné em defesa da honra do referido Batalhão, o ex-combatente José Alberto Miranda Leal Pinto, ex-cabo escriturário, que esteve nas fileiras do Exército Português, entre o ano de 1971 e 1974, passando na metrópole pelos Regimentos R.I.8, R.A.L. 4, R.L.2 e R.C. 3. Na Guiné Portuguesa esteve em Bula e no Cumeré. José Alberto Leal Pinto, meu conterrâneo, nasceu em Barcelos (Arcozelo) em 28 de Fevereiro de 1950. Atualmente mora na cidade de Barcelos, e é reformado de afinador de máquinas, casado e com quatro filhos, dois deles gémeos. 



Aquando da sua integração nas fileiras do Exército, numa altura em que eram necessários muitos soldados para podermos manter com sucesso os 3 teatros de operações, o 1º cabo José Pinto, já com um irmão a combater no TO de Angola, e único amparo de sua mãe, solicita então, o “Processo de Amparo”, que infelizmente lhe é indeferido. Não satisfeito com a decisão, solicita superiormente a “revisão da decisão”, e aguardou serenamente pelo desfecho, na Escola Militar de Eletromecânica (EMEL) em Passos de Arcos, onde se encontrava na altura. Entretanto e segundo me contou, um tio seu que conhecia o então CEM da Região Militar do Porto, escreveu-lhe uma “Carta”, dirigida ao na altura Chefe do Estado Maior da Região Militar do Porto (meu falecido pai), coronel de cavalaria e do CEM Henrique Gonçalves Vaz, para que intercedesse numa “eventual reapreciação do processo de amparo”, que por ironia do destino, viria a ser este o oficial do Estado Maior, como adiante veremos, que no TO da Guiné em Agosto de 1974, a negociar com o Batalhão 8320, do 1º cabo José Pinto, bem como coordenar, com o comandante do CTIG, a sua “Retirada” do Cumeré para regressarem finalmente à Metrópole. O nosso 1º cabo José Pinto, pensando que este oficial do CEM, e seu conterrâneo, já estaria no TO da Guiné (ainda não estava nessa altura…), decidiu “aceitar a decisão”, conformar-se com a mesma e seguir do campo militar de Stª Margarida com o seu Batalhão 8320, para o Comando Territorial da Guiné (CTIG), em 21 de Julho de 72, desembarcando na Guiné nesse mesmo dia, já que essa viagem foi de avião dos TAM. 




O 1º cabo José Alberto Pinto, junto de um obus do seu aquartelamento em Bula em 1973. 

O seu currículo no Exército, pautou-se por um comportamento exemplar ao ponto de ter recebido dois Públicos Louvores, como tal é merecedor de ser ouvido neste canal de comunicação, com todo o cuidado e atenção, já que o seu objetivo principal é “repor o Bom Nome do seu Batalhão”, já que considera ter havido “razões especiais”, para se perceber o comportamento naquele dia 22 de Agosto de 1974. Este ex-combatente, ainda na Metrópole frequentou a Escola de Recrutas e Instrução Completar, o que fez com êxito. Mais tarde virá a ser “Escolhido para a promoção a cabo” nos termos da circular nº1020/IPP 010.0/61 de 11/03/61. Como tal em 24 de Abril de 72 é promovido a 1º cabo nos termos do nº123 do RGIE. Fazendo parte da CCS (Companhia de Comando e Serviços) do Batalhão 8320, embarca em Lisboa, por via aérea, em 21 de Julho de 1972, com destino ao CTIG (Comando Territorial Independente da Guiné). Neste Teatro de Operações estará quase sempre sediado em Bula, onde durante mais de dois anos (2 anos e 35 dias), servirá o Exército Português, da melhor forma que soube, adotando sempre a máxima, “prefiro a disciplina à indisciplina”, ao ponto do seu Comandante, o Tenente-coronel Ferreira da Cunha (como comandante do Batalhão de cavalaria 8320), o ter Louvado neste TO (Teatro de Operações) duas vezes, a primeira em 11 de Abril de 74, pelo “… seu gesto, sentimentos e humanidade dignos de apreço…” (O.S. nº86 do Bat. Cav. 8320), e em 6 de Agosto de 1974 “…porque ao longo de quase 25 meses de Comissão no T.O. da Guiné, ir desempenhando as suas funções com muito zelo e aptidão. Escriturário da Secção de Reabastecimentos e Tesouraria, tem desempenhado idênticas funções junto do Exmo segundo comandante deste Batalhão. Na ausência do Furriel encarregado da secretaria anexa ao gabinete do Exmo 2º comandante, o primeiro cabo Pinto soube sempre manter, com eficiência notável os serviços de entrada de correspondência e arquivo da mesma, em acumulação com as tarefas que desempenhava. Espírito voluntarioso, sempre deu a sua total e desinteressada colaboração à organização das atividades desportivas e culturais havidas. …”(O.S. nº183 do Bat. Cav. 8320). Como condecoração, teve direito, como todos os ex-combatentes neste TO, à Medalha Comemorativa das Campanhas da Guiné, com a legenda “1972/74 (Ordem de Serviço nº138 do Batalhão de Cavalaria 8320). 

 O 1º cabo Pinto no Mato, preparado para mais uma missão. 

José Alberto Pinto com miúdos de um Tabanca local, na zona de Bula (1973). 

Após o Golpe Militar do 25 de Abril, e depois dos primeiros acordos com o PAIGC, iniciam-se por toda a Guiné, os primeiros contactos com o IN, e nesse sentido, o comandante militar de Bula, juntamente com o comandante de Có, reuniram em 16 de Junho de 74, com o Comando (comissário) Político de Biambe (PAIGC). Estes contactos continuam, e em 13 de Julho o Comandante de Bula reúne com o comando do “8 El PAIGC”. Segundo os “Relatórios” por mim consultados, excetuando os casos de Buruntuma e Jemberem, a retracção do dispositivo das Nossas Forças Militares decorreram normalmente, tendo as FARP (PAIGC) recebido o Aquartelamento de Bula, das nossas forças, em 8 de Setembro de 1974. O nosso 1º cabo José Pinto, segue então com o seu Batalhão de Cavalaria 8320/72, para o Centro de Instrução militar do Cumeré, local onde ficarão sediados, até o dia 25 de Agosto desse ano, dia em que embarca para regressar à Metrópole, com o seu Batalhão. Durante estes dois anos, mas corretamente, durante 26 meses, muitas histórias este ex-combatente terá para contar, e que brevemente o fará aqui neste nosso blogue. Passando agora à abordagem do “episódio em causa”, e segundo o nosso protagonista, “…o referido Batalhão [, BCAV 8320/72,] do qual eu fazia parte, não se pode dizer que era indisciplinado, pois não o era... Mas com 26 meses e companhias com apenas 13 e 14 meses a virem embora e nós a ficarmos por lá não se sabia a fazer o quê... foi essa a razão da indignação, não revolta. …”. Estas são algumas das suas explicações para justificar a “caminhada/revindicação” durante a noite de 22 de Agosto para 23 de Agosto. Em virtude do referido, a maioria dos militares do Batalhão de cavalaria 8320/72, indignados por não chegar a sua vez de regressar à Metrópole, vendo-se ultrapassados por outros contingentes com menos tempo no TO da Guiné, insurgem-se contra tal, e resolvem (a grande maioria do batalhão), dar conhecimento ao seu comandante, o Sr. Tenente-coronel de cavalaria, Ferreira da Cunha, um oficial que segundo o José Pinto, colhia respeito e admiração, das suas “reivindicações”. Na noite de 23 de Agosto, a esmagadora maioria dos militares do Batalhão pediu a presença do seu comandante e expôs-lhe a sua decisão, de “marcharem sobre Bissau” e exigirem que os Comandos do CTIG, os embarquem, de preferência de avião, para regressarem finalmente à Metrópole. Esse encontro não teria sido muito pacífico, mas não houve lugar a muitas explicações e discussões, pois a decisão já estava tomada! Eram momentos difíceis, em que a “liberdade conquistada” pelo golpe militar do 25 de Abril, bem como “a força dada a todos os militares, pelos comissários políticos do novo regime” a instalar-se no nosso país, os jovens oficiais do MFA, legitimavam que “reivindicações no seio das Forças Armadas Portuguesas” se afirmassem de uma forma “nunca dantes permitida”, sem que na altura fosse considerado “um verdadeiro ato de indisciplina”, no sentido de violar o RDM da instituição militar (Regulamento Disciplinar Militar). 

Imagem retirada do Google, onde se pode perceber a localização de Safim e o referido cruzamento para Bula, relativamente à distancia de Bissau, zona apontada por alguns ex-combatentes do Batalhão 8320/72, como aquela onde o Batalhão 8320/72 teria sido “barrado 

É claro que esta é uma opinião pessoal, mas que não descarta, que esta decisão de “um grande grupo de militares”, poderia eventualmente, perigar a segurança e integridade de muitos outros camaradas, já que estávamos em plena implementação do “Dispositivo de Retracção das nossas Forças”, com o IN por perto e a “cercar” e tomar conta da maioria dos aquartelamentos das nossas forças, como tal, alguns comandantes do PAIGC, não só eram “exigentes”, como revelavam agressividade e ameaças, impondo unilateralmente condicionalismos na circulação das nossas forças. Nesse sentido, o PAIGC poderia “aproveitar” a nossa retirada “apressada e sem cuidados de segurança” e tentar infligir uma ofensiva neste ou noutro local, o que felizmente não aconteceu com eventuais consequências graves para as nossas forças, que mantiveram sempre uma “testa de ferro”, seguindo princípios gerais táctico-militares de implementação de uma Retirada de um grande dispositivo militar, e foi no cumprimento estrito da aplicação desse princípio, retirar “de fora para dentro”, ou da frente de combate para a retaguarda, as forças que estavam no terreno em contacto com o IN, que assim se realizou na generalidade a nossa retirada, para que tudo corresse de feição e com segurança para as NF. Mas este “princípio táctico-militar”, da nossa “Retirada Final”, possibilitou que Companhias ou Batalhões mais antigos no TO da Guiné fossem ultrapassados, por outros menos antigos e mais “maçaricos”, mas tudo em prole de uma “Retirada Segura” e ordenada da nossa parte, esta é a minha análise destes incidentes, bem como parte da explicação para que alguns contingentes fossem “ultrapassados” relativamente à sua antiguidade. No entanto não quero de forma alguma, com estas minhas palavras criticar quem quer que seja, apenas relatar com o máximo de rigor este cruciais momentos, que foram sem dúvida momentos difíceis para todos os nossos compatriotas que se encontravam naquele que foi sem sombra de dúvida o PIOR TEATRO DE OPERAÇÕES, dos três Teatros que tínhamos na altura. 

Cruzamento em Safim, onde na noite do dia 22 de Agosto de 1974, o então Chefe do Estado Maior do QG unificado para o Comando Chefe e CTIG, coronel Gonçalves Vaz, interrompeu a marcha sobre Bissau e tentou “negociar” no sentido de evitar que o Batalhão 8320/72 chegasse a Bissau sem autorização superior e sem o seu comandante.  

Chefe do Estado Maior do QG unificado para o Comando Chefe e CTIG, coronel Gonçalves Vaz. 

Como já disse aqui no blogue, o editor Luís Graça, “… a cadeia hierárquica começou a fragilizar-se, a metrópole estava em polvorosa, ninguém queria ser o último a fechar a porta...”, e então é neste contexto que no final da 3ª refeição do dia 22 de Agosto de 1974, o Batalhão 8320, no Cumeré, pede a presença do seu comandante, o tenente-coronel Ferreira da Cunha, e lhe comunicam a decisão de “marchar sobre Bissau”, já que sentiam “… indignação, pelo facto de haver tropa muito mais nova do que nós e que vinham nos TAM, nos aviões militares, e nós por lá estávamos...! ...”. A esta tomada de posição por parte da grande maioria, o Comandante do Batalhão retorquiu sem rodeios: “… só por cima do meu cadáver!...”, e segundo o ex-1º cabo José Pinto, o Batalhão deixou mesmo o seu comandante ali a falar sozinho, e encetou a viagem para Bissau, mas desarmados e sem bagagens de qualquer espécie, conforme me relatou o ex-combatente Pinto, e se pode perceber pelas suas palavras “… nós é que fomos, pois ele não nos queria deixar sair, mas nós desobedecemos e deu-se até um episódio que podia resultar em tragédia, pois nós caminhávamos em fila indiana, uns de cada lado da estrada, e uma Mercedes do tipo das dimensões de uma Berliet, virou-se (numa curva antes de Safim) e por sorte, não apanhou ninguém, e fomos nós que a colocamos novamente na estrada a pulso….”. Será fácil perceber por este episódio, que o número de militares teria de ser mesmo muito grande… para poderem “endireitar” uma viatura pesada como a do relato. Entretanto pelo início da noite desse mesmo dia, comunicam do Cumeré para Bissau, à pessoa do então Chefe do Estado-Maior do QG unificado, o coronel de cavalaria e do CEM, Henrique Gonçalves Vaz (meu falecido pai), no sentido de o informarem do que se estava a passar. O coronel Henrique Gonçalves Vaz, para que fique registado, agiu de acordo com as suas funções na altura, (CEM do comando unificado), pois não competia aos “comissários políticos” do MFA, os jovens capitães a que devemos, sem dúvida, o Regime Democrático em que hoje vivemos, implementar com o “Máximo de segurança”, a nossa retirada, já que por despacho do Brigadeiro Fabião, era ele o responsável, entre muitas outras competências (ler Nota1), elaborar o “Plano de Entrega dos Aquartelamentos”, como tal tomou imediatamente providências, e deu ordens para que o Batalhão fosse interditado na localidade de Safim, para ter tempo de lá chegar e “convencer” os militares a regressarem ao Cumeré. Segundo me confirmou pessoalmente, o ex-1º cabo José Pinto, nessa zona, mais propriamente no cruzamento para Bula em Safim, surge um companhia armada e barra a progressão do Batalhão de cavalaria, ao ponto dos militares de Safim, preocupados com a integridade física do Batalhão “desarmado”, prometeram aliarem-se ao mesmo, se a “força armada” lhe fizesse mal… Pelo que me contou o José Pinto, não houve confrontos e passado pouco tempo chega de Bissau, um oficial do Estado Maior, sem grande comitiva (apenas com um condutor auto… ), o seu conterrâneo, coronel Henrique Gonçalves Vaz, que não identificou na altura, pois não o conhecia pessoalmente, e só se lembra que era um oficial superior e do Estado Maior de Bissau! Eu depois de ler todas as notas pessoais do último CEM/CTIG, posso aqui adiantar que esse oficial do Estado Maior, era o então Chefe do Estado Maior do QG unificado para o Comando Chefe e CTIG, que esteve até às 3 horas da madrugada a tentar resolver este “incidente da retirada das nossas forças”, e foi nesse sentido que mal chegou a Safim, saltou para cima de um jipe, conforme me contou José Leal Pinto, e iniciou um diálogo com os militares do referido Batalhão 8320, prometendo a todos que se voltassem imediatamente para o Cumeré, comprometia-se a resolver o assunto do seu regresso à Metrópole, o mais breve possível, e que teriam um regresso, quando possível, de avião dos TAM, o que na altura imediata não seria possível, só de barco! Os elementos do Batalhão retorquiram que: “…já que estamos mais perto de Bissau, o melhor é continuar na sentido de Bissau, pois o Cumeré estava mais distante!...”, a este comentário e vontade, o coronel Henrique Vaz respondeu, “… se esse é o problema, eu mando vir já de Bissau viaturas em número suficiente para vos transportar até ao Cumeré…!”. E segundo me contou pessoalmente, o ex-combatente José Pinto, o CEM/CTIG mandou mesmo, durante essa mesma madrugada, que dos “Adidos de Bissau” viessem viaturas que transportassem todos os militares novamente para o Cumeré, o que aconteceu. Na manhã do dia seguinte, quando o coronel Henrique Gonçalves Vaz comunicou ao Brigadeiro comandante do CTIG, toda a situação, bem como o pôs ao corrente da sua actuação, informando-o de que teve de fazer algumas concessões, no sentido de evitar que grande número de militares chegassem a Bissau, com todas as consequências nefastas que daí poderiam advir! Pelo que pude constatar nas notas pessoais do então CEM/CTIG, o mesmo brigadeiro comandante não só não concordou, como censurou o chefe do Estado Maior pela iniciativa tida…, daí o brigadeiro comandante do CTIG (Galvão de Figueiredo), teve de ceder às reivindicações dos militares e no dia seguinte, autorizar mesmo que o Batalhão 8320/72 embarcasse finalmente, não de avião, mas de barco, no navio Uíge, o que aconteceu no início da madrugada do dia 25 de Agosto, ao contrário do que previa o coronel Henrique Gonçalves Vaz, nas “suas negociações”, naquela noite atribulada de Agosto do longínquo ano de 1974. 



Encontro do Batalhão de cavalaria 8320/72 no ano de 1987, em Massamá/Queluz, que contou com a presença do seu antigo comandante, o Sr. Coronel de cavalaria Ferreira da Cunha, o segundo do meio, a contar da direita de fato e de cabelo todo branco. 


Como nota final deste relato que em minha opinião, se impunha relatar, poderemos presumir (apenas como reflexão, nada mais…), que se os militares deste Batalhão, tivessem conseguido “controlar um pouco” as suas exigências, teriam talvez regressado mesmo nos aviões dos TAM, aliás como muitos outros militares regressaram, tudo em voos “planeados atempadamente” pelo comando militar do CTIG, durante esta “Retirada Final”, onde o último Chefe do Estado Maior do QG unificado para o Comando Chefe e CTIG, o coronel do CEM, Henrique Gonçalves Vaz, teve muitas e “complexas” responsabilidades. Para que não fique dúvida nenhuma sobre a posição do então CEM, no sentido de “Honrar a palavra tida com o Batalhão 8320/72”, termino este artigo com duas das muitas notas pessoais do coronel Henrique Vaz, já aqui publicadas, a saber: 

Bissau, 22 de Agosto de 1974 

"... História do Batalhão de Cavalaria nº 8320 do Tenente-Coronel Ferreira da Cunha, que se pôs a andar do CUMERÉ, depois da 3ª refeição, em direcção a Bissau, a pé, sob chuva inclemente. Minha actuação ..." 

Bissau, 23 de Agosto de 1974: 

"Como na noite anterior me deitei muito após as 2h, talvez 3 da manhã, levantei-me um pouco depois das 7.30H. A minha "actuação" foi criticada pelo Brigadeiro Comandante nestes termos: "quem o mandou lá? Fazer concessões em meu nome?!" Lá lhe expliquei os motivos do meu procedimento. Em vez de me felicitar, eis o que deu! Durante o dia, as "resistências" do Batalhão indisciplinado vieram ao de cima ... (reticências do próprio) e não teve remédio (o Comandante Militar) senão [...] ceder!, fazendo embarcar o pessoal amanhã à tarde! Eu não desisti e chamei sempre à atenção para a gravidade da situação. ...". 

Coronel Henrique Gonçalves Vaz (Chefe do Estado-Maior do CTIG) 

Tropas portuguesas em viagem no Paquete Uíge (Foto retirada de: 

O 1º cabo José Pinto, finalmente no navio Uíje 

Resta-me agradecer aqui publicamente, ao nosso camarigo e ex-combatente, José Alberto Leal Pinto, a frontalidade das suas posições, o nobre sentido de defender a honra do seu Batalhão, bem como a sua amabilidade em se encontrar comigo, o interesse em me conhecer e contar é claro a sua versão, em quem confio plenamente. Dedico este meu artigo a todos os militares protagonistas destes últimos meses difíceis neste TO da Guiné, especialmente ao meu falecido pai e a todos aqueles que direta ou indiretamente estiveram envolvidos neste episódio, um dos muitos que existiram, durante a Retirada das NF, do TO da antiga Província Ultramarina da Guiné Portuguesa. 

Nota (1): Sobre os “Planos de Evacuação da Guiné” (Abril/Outubro de 1974) 

“… Noutro documento, sem data, que surge aparentemente anexo a este “Plano de Evacuação” são listadas um total de 77 unidades. O extenso documento inclui várias páginas com uma grelha onde estão listadas, da esquerda para a direita o nome da unidade, o trajecto (localidade onde está, percurso e destino, Bissau), e outros pormenores, como data de saída da localidade, chegada a Bissau, aquartelamento, partida para Lisboa, etc. etc. Este segundo documento tem, no final, o nome do Comandante Militar, Brigadeiro Galvão de Figueiredo, mas não está assinado por este. Está, sim, autenticado pelo Chefe de Estado-Maior, Henrique Manuel Gonçalves Vaz, Coronel do CEM. … “ 

Paulo Reis (Jornalista) in: 


Fotografia do encontro do José Alberto Pinto com Luís Vaz.



Luís Gonçalves Vaz

(Tabanqueiro 530)  

Fotos © José Alberto Pinto (2012). Direitos reservados.

___________ 

Notas de M.R.: 



Em meu nome, dos demais editores e Camaradas da Tabanca Grande apresento as boas-vindas a esta cada vez maior tertúlia virtual ao José Alberto Pinto, convidando-o a sentar-se à vontade debaixo deste frondoso e fresco poilão. 


Contamos contigo para refrescar as nossas memórias (boas e más) da Guiné. Um Alfa Bravo para ti e outro com agradecimento por este trabalho ao Luís Vaz. 

Vd. último poste desta série em: