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sábado, 22 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12881: Blogpoesia (384): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (XV): Manuel Sampaio / Artur Conceição / Rui Vieira Coelho



[, representado no nosso blogue por Filomena Sampaio, viúva do nosso camarada Manuel Castro Sampaio, ex-1.º Cabo TRMS que pertenceu à CCS/BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73]



Poema de Manuel Castro Sampaio, enviado pela viúva, Filomena Sampaio, nossa grã-rabanqueira


************



[ex-Sold Trms Inf e Cond Auto, CART 730, Bissorã, Farim e Jumbembém(1965/67]


Não tenho o mínimo jeito ...mas uma quadra sempre se arranja...
Um abraço, Artur Conceição


Viva o dia da Poesia
e o dia da Primavera,
Haja Paz,  haja alegria,
Aqui e em toda a Terra.


************



[ex-Alf Mil Médico Rui Vieira Coelho,  BCAÇ 3872 e 4518, Galomaro, 1973/74]

Caro Luís
Conforme a tua sugestão,  aqui vão uns versos feitos no sentido de identificar o lugar de reunião dos camaradas da Guiné na região do Porto,  Gondomar, mais propriamente a Tabanca dos Melros.


A todos vós, "Guinéus", .
Nessa terra d'adopção, 
Juntar Pátria,  Amor e Deus,
Unir sonho e coração.

Alguns foram vã glória, 
Outros persistem viver
Unidos pela memória, 
P'rá amizade de rever. 

Rever gentes e lugares, 
Melros de tantas tabancas
Atravessaram os mares,
Com ondas pretas e brancas,

No fundo de todos nós,
Com muita amizade e sorte
P'ra nunca ficarmos sós
Nem nunca perder o Norte.

Um grande alfabravo do Rui Vieira Coelho
______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 21 de março de 2014 >  Guiné 63/74 - P12879: Blogpoesia (383): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (XIV): Pensa meu soldado cansado, pensa... (Mário Vasconcelos)

sexta-feira, 21 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12879: Blogpoesia (383): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (XIV): "Pensa meu soldado cansado, pensa..." e "Mãe" (Mário Vasconcelos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Vasconcelos (ex-Alf Mil TRMS da CCS/BCAÇ 3872 - Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72 - Mansoa, e Cumeré, 1973/74), com data de 21 de Março de 2013:

Caros camaradas, editores e amigos
Um pouco em forma de resposta ao sugerido pelo Luís Graça, e por ser o dia 21 de Março, dedicado à poesia, vou nessa de publicar pequenos nadas, criados no meu tempo de militar pela Guiné. 
Sem pretensões de qualquer espécie, mas, e apenas, por uma questão de estar com todos, agora e sempre.

Ao mesmo tempo aproveito para, em forma de enquadramento, inserir uma ou outra foto relacionada com o tempo e o lugar por onde, então, me encontrava.

Assim sendo, regresso a Galomaro, ano de 1973, onde, numa altura de descontracção e reflexão, escrevi este texto, sentado, talvez na mesma tarimba que a foto seguinte reproduz. 
A cachimbada, o turbante Fula e a guitarra indígena serviram de adorno.



PENSA MEU SOLDADO CANSADO… PENSA…

Porque hás-de ser sempre o peão do xadrez?
Porque te esqueces donde vem teu soldo?
Será preciso repetir-te, vaidoso, de camuflado novo,
Que esse pano salamandra que te vestem,
Não é mais o verde acastanhado,
Mas sim o preto-volfrâmio do luto?
Queima as mortalhas do teu corpo,
E mata o frio que te vai na alma.
Carrega a tua arma, de flores,
E espreita afoito, sem medo,
O contente silêncio do tubo da arma.
Porventura tua mão tem menos dedos que a minha?
Ou do que a dele?
Não queimes a seara com as vozes dos outros.
Apanha antes a papoila vermelha,
E oferece-a à criança, que no musgo da vida,
Sentada chora.

Galomaro 1973... Guiné

************

No ano seguinte, 1974, em funções no COT 9, Mansoa, num grupo de trabalho, e, se assim o digo, é porque, efectivamente, vivia-se neste comando uma atmosfera de camaradagem muito efectiva, sem perda de hierarquia ou funções.


No centro, da esquerda para a direita, recordo, se a memória me não atraiçoa, de camisola branca, o Major de Infª Eurico César Moreno, Ten. Cor. Infª Pedro Henriques e Cap. Mil. Álvaro Contreiras?

Uma outra imagem, agora com camaradas que formavam um pequeno grupo de alinhadores nas patuscadas, onde, como todos nós e a seu modo, matávamos a sede de um regresso às nossas origens.

Sentado perto desta ponte, contemplando suas águas turvas, senti, então, as agruras de um pai distante, que me puseram numa folha estes versos, dedicados à minha mulher e mãe do meu primeiro filho.



MÃE

Mãe, que salivas o amor em suas mãos pousado 
Mãe, que levas nos olhos lágrimas de teu choroso filho 
Mãe, sorriso feliz de teu bebé sorrindo 
Mãe, que em leito fazes teus braços cansados 
Mãe, em cujos seios sua vida sustentas 
Mãe, de quem tuas mãos são os seus primeiros passos 
Mãe, para quem a noite é contínuo dia 
Mãe, que do dia fazes um contínuo alerta 
Maravilhosa mãe, que tal filho tem, e para quem um dia, minha mulher ficou.
____________

Nota do editor:

Último poste da série de 21 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12878: Blogpoesia (382): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (XIII): Impossível apagar o pensamento (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P12878: Blogpoesia (382): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (XIII): Impossível apagar o pensamento (Tony Borié)





1. Em mensagem de hoje, 20 de Março de 2014, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Op Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos a sua colaboração para o Dia Mundial da Poesia que hoje se comemora.







O tal velho, que todos diziam que era bom e honrado,
Vociferava na rádio e na televisão,
Que por sinal também era do nosso Estado,
Vamos para lá, agora e já, nesta ocasião!
Matar ou morrer, tal como de outras vezes,
Lá no Oriente, na Oceânia ou até na África, talvez como e quando,
Talvez como gregos, mouros, fenícios ou cartagineses,
Num navio de carga, sem aquela vela, que tinha uma cruz, sempre desfraldando!

Saindo do Tejo, a nossa vista por lá se desterra,
Os pilares duma ponte, com o nome do velho, que com a nossa aldeia por cá ficavam,
A família, esposas ou namoradas, lá atrás da serra,
O pensamento, os nossos olhos se alongavam!
Ficava a alma, não só coração na amada terra,
Beijos, xicorações, que as mágoas lá nos deixavam,
Fugimos ao porão, com o nosso corpo a soluçar,
Ao outro dia nada mais vimos, do que céu e mar!

Vimos as Canárias, que afinal eram umas ilhas,
Passámos Cabo Verde, com aquelas rochas, muito perigosas,
Já não era em quilómetros, mas sim em milhas,
Que contavam a distância naquelas ondas bastante tenebrosas!
Peixes voadores, sim que os havia no reino do Congo,
Que os Portugueses também converteram à fé de Cristo,
A Guiné era próxima, assim como o rio, que era longo,
Por este mar de lama, pensava baixinho, já não sei se existo!

Contar as vivências, que foram até, bastante perigosas,
Explicar coisas, que pessoas novas, talvez não entendem,
Guerra, tiros, sangue, bombardeamentos, cenas tenebrosas,
Companheiros mortos, fúria, raiva, que os fogos acendem!
Fome, álcool, cigarros, amor e sexo negro, arroz da bolanha, não causes mais dano,
Gritos, catra-pum-pum-pum, o som da metralha,
Quero viver, quero de novo atravessar aquele oceano, 
Quero regressar, quero estar vivo, mesmo que perca toda esta batalha!

Dois anos depois, mais velho e sofrido, da escura treva,
Milhares de cigarros, litros de álcool, naquele espaço que já foi passado,
A pele escura do Equador, cheio de razão, que alguém se atreva,
Quero viver, quero estar vivo, não catra-pum-pum-pum, vê lá tem cuidado!
Só água de lama, arame farpado, aquartelamentos, sofre companheiro,
Estás na Guiné, não no Algarve, Valença ou Caminha,
Aqui há bolanhas, terra vermelha, não monte ou outeiro,
Dois anos depois, mais velho e sofrido, já não ia, pois agora vinha!

Ah, ah, ah... deixa-me sorrir, pois já lá vão mais de cinquenta anos,
Ainda estou vivo, vou tendo dores, mas não é frequente,
Considero um milagre, andarmos por cá, sendo veteranos,
De uma guerra, que justa ou injusta, deu sofrimento e matou muita gente!
Porra, já vou longe de mais, estou a abusar da vossa paciência,
Mas podem crer, que foi um prazer, falar com vocês nesta lembrança,
Todos vocês, andaram por lá, têm no corpo, toda esta vivência,
Sorriam, e lembrem sempre aquela palavra, que é a “esperança”!


Tony Borie, Março de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de Guiné 63/74 - P12876: Blogpoesia (381): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (XII): Nunca se está completamente vestido sem um sorriso (Fernando Gouveia)

Guiné 63/74 - P12876: Blogpoesia (381): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (XII): Nunca se está completamente vestido sem um sorriso (Fernando Gouveia)




Poema de Fernando Gouveia (2014)


1. Mensagem do Fernando Gouveia, associando-se à nossa iniciativa de celebrar o Dia Mundial da Poesia, uma maratona que já vai longa...


Luís:

Esperando que ainda vá a tempo de ser hoje publicada, neste Dia Mundial da Poesia, junto envio um poema construído sobre uma frase de uma canção de Little Orphan num musical da Broadway.

Como o poema tem laivos de Poesia Concreta vai como imagem e assim deve ser publicado.

Um abraço.

Fernando Gouveia 



Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande > 20 de Junho de 2009 > Os então novos membros da nossa Tabanca Grande, Regina e Fernando Gouveia, um adorável casal, transmontano, do Porto, que fez uma comissão na Guiné (Bafatá, 1968/70). O Fernando foi Alf Mil Pel Rec Inf, Comando de Agrupamento 2957, Bafatá (1968/70) na altura em que era comandado pelo Cor Hélio Felgas, já falecido.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados.

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Nota do editor:

Úlrtimo poste da série > 21 de março de 2014 >  Guiné 63/74 - P12875: Blogpoesia (380): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (XI): Alberto Branquinho / Jorge Cabral / José Manuel Lopes (Josema)

Guiné 63/74 - P12875: Blogpoesia (380): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (XI): Alberto Branquinho / Jorge Cabral / José Manuel Lopes (Josema)

1. Alberto  Branquinho 


[ advogado, escritor, ex-alf mil op esp, CART 1689, , Catió, Cabedu,Gandembel e Canquelifá, 1967/69]


Luis: Correspondendo ao teu apelo, aqui vai um,  recentemente publicado no meu livro "QUASOUTONO?!".


BLOGUEMOS

Eu blogo
tu blog@s 
ele blog@
toda a gente 
mesmo os que não têm cão 
podem ter um blogue 
falando de coisas várias
ou do seu próprio umbigo

O blogue não ocupa espaço
não ladra
não comenão caga
(por vezes fede)

Vivam os blogues!
(sans blague...)


In: Branquinho, A. - QUASOUTONO?!, Lisboa, Edições Vírgula, 2004, 82 pp.



[ jurista, advogado de barra, docente universitário reformado, ex-alf mil at art, cmdt Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, setor L1, Bambadinca, 1969/71]


Aí vai um poema escrito na Guiné. 

Abração,  J.Cabral



Modji Daaba


Modji Daaba no meu Lençol
Fecha o seu Corpo,
Como Flor,
Que teme o Sol.

Com medo e Dó,
Não dá. Empresta.
E desta noite,
Nada me resta.

Estou Só!

Fá, Nov.1969.
Jorge Cabral


[, vitivinicultor, duriense, ex-fur mil, CART 6250/72, Mampatá, 1972/74,  mais conhecido na região de Tombali pelo seu pseudónimo literário Josema...e por escrever um poema todos os dias; queimou mais de 2/3 da sua produção poética do tempo de guerra; este, que reproduzimos a seguir, foi um dos que escapou à fúria do poeta...]



Tenho saudades

tenho saudades
do amor que não se compra
daquele que se sente
o tal
que vem de dentro
e
que não acaba
com um orgasmo
não quero mais
ser
aquele que se vai
assim que se vem
não quero mais
ficar vazio
não quero mais
ficar sem eco
não quero mais
perder o elo
que me liga
a ela
seja ela quem for
não quero mais fazer amor
sem ter de oferecer uma flor.


josema
Bissau/1974

___________


Nota do editor:


Último poste da série > 21 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12873: Blogpoesia (379): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (X): "Canção", de Domingos Gonçalves (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546) e "Soneto de guerra", de Cândido Morais (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

Guiné 63/74 - P12873: Blogpoesia (379): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (X): "Canção", de Domingos Gonçalves (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546) e "Soneto de guerra", de Cândido Morais (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova LamegoFá Mandinga e Binta, 1966/68):

Prezado Dr. Luís Graça:
Naqueles tempos a inspiração já escasseava. Ainda era, no entanto, suficiente para gravar no papel algumas quadras toscas.
Envio algumas.
Um abraço.


Canção

Quem repara na doçura do meu verso?
Eu não canto, senão para alegrar
A alma de quem sofrer e amar,
E em funda tristeza andar imerso.

Como a água que desliza num ribeiro,
Nas pedras a bater, leve e serena,
Seja minha canção assim amena,
E o meu verso, assim, fagueiro.

Alguém recordará a voz amada
A murmurar, baixinho, aos seu ouvidos,
Talvez exangue, triste e desolada,
Sonhos distantes, quase já perdidos.

Quem não sofreu a dor, o desengano?
Quem não viu a tristeza, nos seus dias?
Quem não teve ilusões fugidias,
E não sondou, do amor, o fundo arcano?

Viúva desolada, entristecida,
É filha da verdade a minha voz,
Alento para quem sofrer na vida
Alguma dor, demasiado atroz.

Prenúncio final, de uma vitória,
Do triunfo final, da irmã virtude,
Espalhe-se o meu canto na amplitude,
Alcance o homem bom, a maior glória.

Domingos Gonçalves
Mafra, Maio/1965

************

1. Mensagem do nosso camarada Cândido Morais (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71):

Caro amigo
Um dia, para um livrito que produzi, incluí este soneto de guerra que nos retrata alguma coisa e que tenho todo o gosto em mandar-te, após ler o teu apelo:


Soneto de Guerra

O tempo parou e a folhagem densa
suspendeu também todo o movimento,
irmanando-se aos homens no momento
da angústia maior e mais intensa.

E todos os sons foram proibidos,
calando-se as aves sem detença,
porque pulsavam pela selva imensa
os medos doutros medos reprimidos.

Demorou o momento do trovão,
alvorada que ergueu, enfurecidos,
os rostos esmagados contra o chão.

Nos gestos maquinais, embrutecidos
o homem surgiu besta e a razão
cedeu ao mundo louco dos sentidos.

Cândido Morais
____________

Nota do editor

Último poste da série de 21 de Março de 2014 > Guiné 63/74 - P12871: Blogpoesia (378): O Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2014, na nossa Tabanca Grande (IX): La crise, c'est fini, vive la poésie! (Luís Graça / Joana Graça)

Guiné 63/74 - P12871: Blogpoesia (378): O Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2014, na nossa Tabanca Grande (IX): La crise, c'est fini, vive la poésie! (Luís Graça / Joana Graça)


Joana Graça (2014) - Técnica mista, 30 x 40 cm.  S/ título (1)


Joana Graça (2014) - Técnica mista, 40 x 30 cm. S/ título (2).

Cortesia de © Joana Graça (2014). Todos os direitos reservados



la crise, c'est fini, vive la poésie!

[a crise acabou, viva a poesia!]

no verão,
entre cigarras e grilos,
éramos arquitetos esquilos,
desenhávamos à mão,
dedo a dedo,
frágeis barreiras de areia
contra a maré cheia
do medo.

em agosto,
ainda não se adivinhava setembro,
às portas do império,
as pousadas estavam repletas
e éramos deliciosa e inconscientemente felizes.

em damasco caíam bombas
e em lampedusa davam à costa
cadáveres subsarianos.


nas autoestradas do norte havia abatises,
o verão já era outono,
vindima, mosto,
passeávamos agora
com as nossas bicicletas,
à volta do círculo polar ártico,
furando o buraco do ozono.


definitivamente cancelámos
o nosso cruzeiro pelo adriático.

na rentrée,
rejubilámos,
os novos príncipes deste mundo
anunciavam a boa nova
pela têvê:
vem aí a retoma!


luís graça

Guiné 63/74 - P12870: Agenda cultural (305): O camarada "pifaniano" Silvério Dias, ex-1º srgt, locutor do PFA - Programa das Forças Armadas, e "poeta todos os dias", convida os poetas da Tabanca Grande para a sessão de hoje, "Há Poesia no CASO", ou seja, no Centro Acção Social de Oeiras, às 17h00

1. Duas mensagens do Silvério Dias, o ex-1º srgt, locutor do PIFAS,  que nos chegaram ontem, através do correio do Garcez Costa (que também Tony Sacavém):


(i) Saudações a todos os bons "tabanqueiros" na pessoa do "homem grande", Luís Graça, ao qual se deve o extraordinário "movimento da Tabanca Grande".

Desde já e lamentavelmente, muito em cima da hora, dou conta que amanhã, pelas 17H00, no Auditório Princesa Benedita, será levado a efeito, um evento de Poesia, aberto a todos os que queiram "dizer" o poeta da sua eleição.

Sem preciosismos, perfeitamente amadores, poetas da casa e seus convidados têm portas abertas para o convívio.

Quem não me conhece, terá o ensejo de aliar o tão "badalado Pifas" a um dos intervenientes que o celebrizou como Programa da Rádio na Guiné. Lá estarei, como mentor da Tertúlia, "Há Poesia no CASO".

A sigla traduz o Centro de Acção Social de Oeiras (IASFA) e situa-se junto à Escola Secundária Sebastião e Silva, em Oeiras, claro.

Para mais completa informação, sou o tal que se intitula, Poeta Todos os Dias. Se poetas, juntem-se a nós!

Abraço de camarada, Silvério Dias


(ii) O nosso furriel teve uma ideia brilhante e eu tentei corresponder em absoluto.Fiz aquele belo relato de circunstância e quando vou enviar, o mesmo é rejeitado por erro de endereço. Estou vendo mal mas não completamente ceguinho, e não descortinei o erro.

Assim, com toda a desenvoltura, "atirei" o texto ao Tony que por sua vez, com toda a sua capacidade, o remeterá ao Luís Graça. É possível?  Em boa verdade,  a tua ideia faz sentido, e antigos camaradas da Guiné serão muito bem-vindos ao COSFA.. Oxalá consigamos reunir uns quantos.

Lá te espero. E concordo que vás bem munido porque naquela Casa, dada a idade dos utentes, por vezes as presenças são escassas.

Guiné 63/74 - P12868: Blogpoesia (376): O Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2014, na nossa Tabanca Grande (VII): Mário Tito e as saudades da pátria...

Mário Serra de Oliveira (ou Mário Tito)

[ex-1.º Cabo Escriturário, BA 12, Bissalanca, 1967/68; vive nos EUA; é autor de Palavras de um Defunto... Antes de o Ser (Lisboa: Chiado Editora, 2012, 542 pp, preço de capa 16€] (*)


Camarada Luis:

Aqui vai o meu contributo, sendo que, sábado dia 22, figuro com 2 poemas, um deles, o do anexo ("Aventureio nato"), no lancamento de um livro conjunto, no casino do Estoril Salão Prata e Preto ou Preto e Prata, pelas 16 horas. A edição é da Chiado Editora. Todos são bem vindos. Eu estarei ausente. Abraço a todos. (**)



AVENTUREIRO NATO

por Mário Tito


Dormindo sonhei que sonhava
Sonhos… de um amor profundo
Sobre a minha pátria amada,
Quando dormia, noutras partes do mundo.

Eram sonhos de saudade e nostalgia,
Difíceis de descrever em palavras,
Sonhando de noite e de dia,
Recordando as primeiras passadas.

Saudade das ruas e caminhos
E de ribeiros e riachos...
Saudade de poder ir aos ninhos,
Entre outros desacatos.

Saudade das moças da minha aldeia,
Algumas delas, lindas cachopas…
Saudade de ir às cerejas…
De preferência, que não fossem nossas.

Eram saudades infinitas, talvez,
O tema dos sonhos que eu tinha,
Acordando mais que uma vez,
Pela distância da Pátria linda.

Sonhava com o tempo de criança,
De pé descalço e maltrapilho,
Traquinices, como lembrança,
Aventureiro nato... de Portugal é filho!







______________

Notas do editor:

(*) O que diz a Chiado Editora sobre o Mário Tito:

(i) cresceu no Alcaide até cerca de 14 anos, ocasião em que foi para Lisboa a trabalhar como “marçano” numa mercearia;

(ii) posteriormente, enveredou pela indústria hoteleira, trabalhando em Lisboa, Algarve e Viana do Castelo;

(iii) ingressou no exército e, após recruta, foi transferido para a Força Aérea;

(iv) dali, foi mobilizado para África, Guiné, tendo cumprido a sua comissão em Bissau na Messe de Oficiais da FAP;

(v) assistiu ao 25 de Abril, período de transição para a independência;

(vi) antes de regressar definitivamente ao fim de 14 anos e meio,  trabalhou na Embaixada dos EUA em Bissau;

(vii) dali, embarcou num navio sismográfico, como cozinheiro chefe rumo a Inglaterra, Holanda, Escócia (Mar do Norte);


(viii) acabou de chegar aos Estados Unidos juntamente com sua esposa, ao serviço da embaixada de Portugal em Washington;

(ix) mais tarde, trabalhou cerca de 20 anos na Embaixada da Alemanha, também em Washington.

(**) Últimmo poste da série > 21 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12867: Blogpoesia (375): O Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2014, na nossa Tabanca Grande (VI): Manuel Moreira (Bissorã e Xime, 1965/69) / Jaime Machado (Bambadinca, 1968/70)

Guiné 63/74 - P12866: Blogpoesia (374): O Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2014, na nossa Tabanca Grande (V): Carlos Alberto Cruz (Catió e Cachil, 194/66) / Joaquim Mexia Alves (Xitole, Mato Cão, Mansoa, 1971/73)

1. Repto lançado ontem pelo nosso editor L.G.:

Amigos e camaradas, filhos, netos, bisnetos e por aí fora de Camões e dos nossos maiores bardos (e bardas)... Amanhã é dia mundial da poesia... E a gente não celebra ? Não há para aí uma cantiga de amigo, escondida no baú ? Ou uma cantiga de escárnio e maldizer ? Um soneto ? Uma simples quadra ?

Poetas da guerra, da paz, do amor, acordai!... Vamos lá mostarr esses talentos... Desculpem se o lembrete vem muito em cima da hora... Um alfabravo fraterno. Luís Graça



2. Carlos Alberto Cruz

[ex-Fur Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió e Cachil, 1964/66]

Meu caro Luis,Já que fui desafiado, atrevo-me a enviar-te algumas quadras que abrem o meu Álbum fotográfico e que rezam assim:

Tendes aqui retratado
Tudo o que foi bom momento.
Dos maus nada foi focado,
São presa do esquecimento.

Horas boas foram breves,
Mereceram ser ilustradas,
Tornaram muito mais leves
As más, longas e pesadas!

A juventude abnegada
Que era a desta geração,
P´las vitórias se afirmou.

Venceu, por margem folgada,
Toda a má disposição
Que nunca, nunca vingou!


Espero ter correspondido às expectativas neste dia em que estive presente no convívio da Magnífica Tabanca da LInha.

O Grã tabanqueiro n º 638, Cruz
CCAÇ 617, Catió, Cufar e Ilha de Como (1964/66)



Joaquim Mexia Alves, Monte Real, 1/9/2013,
homenagem aos antigos combatentes
da vila de Monte Real
Foto: Tabanca do Centro

3. Joaquim Mexia Alves

[ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73]

"Prontos", toma lá Luís, com um abraço
Joaquim


DIA DA POESIA


Tenho uma rima em cada dedo
ou melhor,
em cada mão!

Quando escrevo tenho medo
de não passar ao papel,
o que me vai no coração!

Mas escrevo sem "parança"
quer de noite,
quer de dia,
na tristeza e na dor,
na alegria e no amor,
sempre cheio de esperança,
por isso escrevo estes versos
para o Dia da Poesia.


Monte Real, 20 de Março de 2014
__________________

Nota do editor:

Último poste da série > 21 de março de  2014 > Guiné 63/74 - P12865: Blogpoesia (373): O Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2014, na nossa Tabanca Grande (IV):Revolta (José Brás)

Guiné 63/74 - P12865: Blogpoesia (373): O Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2014, na nossa Tabanca Grande (IV): Revolta (José Brás)

José Brás [, ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosae Mejo, 1966/68; escritor]

No Portugal que temos 
só me apetece esta, caro Luís.
Abraço. José Brás

Revolta

Por dentro de mim circulam revoltas
circula um vento agreste
feito de revoltas
que me fecham tantas vezes o sorriso
a vontade de ouvir
e de dizer
que fui
que sou
só porque digo que serei o que nem sei…

Chegam-me ainda
o seco som dos tiros
cheiros de enxofre
e de carne morta
tantos sons de nomes que perdi
porque de mim se perderam
na viscosidade quente das matas…

Chegam sons de pragas
e de choros
a visão de olhos vazios
no apelo da desistência
o bafo quente
húmido e podre do tarrafo
as febres da malária e da cólera…

A trovoada tropical
racha-me por dentro
queima-me tronco e folhas
de onde haviam de brotar risos

José Brás

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Nota do editor:

Último poste da série >  21 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12863: Blogpoesia (372): O Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2014, na nossa Tabanca Grande (III): Dois poemas do último livro, "Entre margens", Lua de Marfim Editora, 2013 (Regina Gouveia)

Guiné 63/74 - P12863: Blogpoesia (372): O Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2014, na nossa Tabanca Grande (III): Dois poemas do último livro, "Entre margens", Lua de Marfim Editora, 2013 (Regina Gouveia)

1. Regina Gouveia

Caro Luís Graça

Aí vão dois do meu novo livro “Entre margens",   editado em 2013. Um, implicitamente, tem a ver com a guerra colonial , o outro não

Ab, Regina Gouveia

Cais

por Regina Gouveia

Na janela, a cortina rendada.
Através dela, navios que demandam o cais,
outros que partem.
Lenços brancos acenam da amurada
outros respondem acenando de terra.
Entre uns e outros, oceano e guerra.
Navego no navio da memória
delida pelo tempo, esse cavalo alado.
Na janela, cada dia mais puída a cortina rendada.
Através dela já não vislumbro
o inexistente cais, outrora imaginado.



Regina Gouveia, Bafatá, c. 1969/70.
Foto: Fernando Gouveia


(…) Com raiva, o poeta inicia a escrita como um rio desflorando o chão (…) Mia Couto


As rugas, no rosto, cavaram-nas lágrimas
a escorrer dos olhos que de amor choraram.
Os leitos dos rios, cavaram-nos águas,
violando os solos por onde passaram.
O poeta, um dia, juntou águas, dores,
lágrimas, amores
e fez poesia.

Fonte: Gouveia, R. - Entre Margens. Póvoa de Santa Iria: Lua de Marfim Editora, 2013.

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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12862: Blogpoesia (371): O Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2014, na nossa Tabanca Grande (II)...Três poemas do 'Zorba' Mário Gaspar (CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

Guiné 63/74 - P12862: Blogpoesia (371): O Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2014, na nossa Tabanca Grande (II)...Três poemas do 'Zorba' Mário Gaspar (CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

Mário Gaspar  [ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/68]

Camaradas e Amigos da Tabanca Grande Luís e Carlos

Poesia ou poésia?...

Escritas duas oesias  em Gadamael Porto, tal e qual como saíram da caneta para o aerograma.
Não fiz emendas! Estão todas virgens. Uma delas, "Gadamael Porto ", foi elaborada cá, julgo que numa Terapia de Grupo.

Vão em anexo.

Um abraço
Mário Vitorino Gaspar, 
ex-Furriel Miliciano Mário Vitorino Gaspar
CART 1659 - ZORBA
 1967&68


(i) Gadamael Porto

por Mário Vitorino Gaspar

Gadamael Porto, nome de guerra,
no sul da longe Guiné, onde morrer,
enjaulado no porco cu desta terra,
sinto-me amargurar e escurecer.
E com o sangue jovem a ferver,
o mundo quase que me encerra.

Não sei bem o que querer!
Difícil vislumbrar o que vem:
– E não é com certeza um bem!
Nem de descanso uma singela hora!
Meu inútil sorriso, derradeiro?
Serei de mim. decerto, prisioneiro.

Simplesmente um homem que chora.
Corro e caio..., verifico estar perdido,
num oco de nada, imenso e indefinido.
Na mata e bolanha entre o capim, olhei,
Avistei uma multidão de nada, nem lei.
E em busca do amor, sempre à procura,
vislumbro a vastidão da noite escura.

Parvoíce ganhar da vida um segundo,
depois do último, lá bem no fundo!
E do primeiro me afastara, e perdera,
pelo tudo que acreditava, e não fizera.
Perdidos sonhos de quem sempre amou,
levados pela guerra que tudo me negou.

Quedo, me vejo quebrado a estagnar,
bem longe da vida, da paz e do amar.
Quanto espelha a minha mísera figura?
Jaz uma imagem de solidão e amargura,
Ergo-me, escarro e vomito a distância,
completamente destituído daquela ânsia.

E, quem me dera saber o meu nome!?
Matar da vida a sede e a fome,
do jovEm com a minha idade.
Eu que pretendia a eternidade,
que segurei os cornos do boi,
mísero, reles estátua de morto herói.

Quem sabe se do mundo? Cobarde… 



(ii) Zorba - Quão Vazia esta Vida que me Agonia

Por  Mário Vitorino Gaspar

Quão vazia esta vida que me agonia,
quão grande o meu sofrimento,
quase que nem uma folha mexia,
no fundo do meu pensamento.
É porque há algo errado em mim
que não consigo entender:
preso acorrentado, como num fortim,
morro decerto, padeço até ao fim.

Deturpem quem viver assim,
matem-no mas sem sofrimento,
porque faço por esquecer em mim
o meu próprio nascimento.

Para alguns a vida brilha como água,
límpida, inocente, cor esbranquiçada.
Sinto, sou mortal, enorme mágoa
da vida, que vivo, tão deturpada.

Posso perguntar, porque nascer?
Perguntar, porque vagabundear?
Seria preferível na lama morrer,
por tanto ter que suportar.
Mas virá das nuvens um abutre,
sequioso, de garras com carne morta,
ele decerto que também padece e nutre,
enorme sofrimento e o suporta.

Gadamael Porto (Guiné-Bissau), 
21 de Junho de 1967

(iii) Zorba - Zé do Mato


por Mário Vitorino Gaspar


Tendo um dia vindo para a Guiné,
com o seu multicolor fato,
todos diziam: - É o Zé!
que chegou agora ao mato.

Foi de Gadamael para Ganturé,
com as características pernas de pato.
Figura típica a do Zé:
- Olha, é o Zé do Mato.

Soldado corajoso, afamado:
Dó, ré, mi, eram notas,
mas acordeonista falhado,
este das pernas tortas.

Vai para o içar da bandeira,
não se pode pôr em sentido.
Será da bebedeira?
Ou talvez por estar bebido?

Pode ser das pernas tortas,
que o sentido não pode fazer,
com certeza, e tu te importas,
por ele tanto beber?

Gadamael, sem data

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