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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13796: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (8): Respondo a algumas perguntas: (i) o poeta Pascoal D' Artagnan, que era filho de mãe balanta e pai italiano; e (ii) o 'making of' do livrinho (Parte I)




Elemento gráfico da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias "Poilão", Edição limitada a cerca de 700 exemplares, policopiados, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. A editada é de  dezembro de 1973, por iniciativa do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU, grupo esse cuja história remonta à I República: foi criado em 1924,

Com o 25 de abril de 1974, esta coleção não teve continuidade: estava prevista publicação de um 2º caderno («Batuque», com poemas do Albano de Matos; será editado mais tarde, em Oeiras, 1987, com o título "Batuque - Poemas Africanos", ) e de um 3º, dedicado ao Pascoal D'Artagnan.



A. RESPONDENDO À PERGUNTAS DO EDITOR

[ Albano Mendes de Matos, ten cor art ref, que esteve no GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74, como tenente, e foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo] [, foto à esquerda, Bissau, c. 1973].

Mensagem de 29 de setembro último:

Caro Luís: Enviei mensagem pela sapo.mail, mas não tenho indicação de que tivesse seguido. (...). Vão, também, em anexos: respostas ás perguntas, que pude dar (com os anos passados, há coisas que falham), um registo de como surge «POILÃO», já repetido, e «BATUQUE», o meu caderno de poesias que seria o nº 2. O nº 3 seria do Pascoal D'Artagnan.. Grande abraço.

Em primeiro lugar, vou responder a algumas perguntas relacionadas com  o «POILÃO». (*)

1 – O editor foi, por minha proposta, depois de o caderno estar já alinhavado, o Grupo Desportivo e Cultural do Banco Nacional Ultramarino, que ofereceu a capa.

Foi coordenador o Albano Mendes de Matos em conjugação com o Aguinaldo de Almeida.

2  – Nem todos os poemas eram inéditos. Foram pedidos, pelo menos, 3 poemas a cada autor. Foram solicitados pessoalmente por Albano Mendes de Matos, aos militares, e por Aguinaldo de Almeida, alguns com a presença de Albano Mendes de Matos, aos guineenses e caboverdianos.

3- O Valdemar Rocha entregou, também, os poemas de Jales de Oliveira. Conheci o guineense Baticã Ferreira, médico, na Sociedade da Língua Portuguesa, que lhe publicou uma colectânea de poesia, e incluí um poema seu em «POILÃO»

4 – Só me encontrei uma vez com Pascoal D’Artagnan, junto da sede do Grupo Desportivo e Cultural do BNU, na companhia de Aguinaldo de Almeida. Pareceu-me muito tímido. Falámos sobre a publicação de um caderno com poemas do Pascoal D’Artagnan.

5 – Segundo informação do Aguinaldo, o Pascoal D’Artagnan trabalhava nas oficinas navais da Marinha, nas proximidades do cais «Pindjiguiti» e da alfândega. Foi também o Aguinaldo que me informou de que o D’Artagnan era simpatizante do PAIGC, bem como alguns guineenses com os quais contactei. 

6  – Pascoal D’Artagnan era euro-africano, filho de pai italiano e de mãe Balanta. Nada sei das viagens do Pascoal [no interior da Guiné].  Pode afirmar-se que foi o único poeta da sua geração. Na antologia de poetas da Guiné, «Mantenhas para quem luta! – A nova poesia da Guiné-Bissau», publicada em 1977, não consta o Pascoal D’Artagnan.

7 – Não sei onde estudou Pascoal D’Artagnan.

8 – Jogos Florais da UDIB - 1972:  1º Prémio «Solidão», de Valdemar Rocha, pag. 26 de «POILÃO»; 3º Prémio «Mãos», de Pascoal D’Artagnan, pag 9 de «POILÃO». Desconhece-se a a composição e identificação do júri. (**)


B. O CADERNO DE POESIAS «POILÃO» (**)

por Albano Mendes de Matos


Colocado no GA 7 - CTIG, em Dezembro de 1972, em comissão militar, fui em diligência para a 4ª Repartição do QG-CTIG, a fim de organizar Companhias de Milícias, com guineenses voluntários, que tivessem feito o serviço militar, para defesa das aldeias. Como o chefe de contabilidade do Conselho Administrativo do QG-CTIG terminara a comissão sem ser substituído, fui indicado para o substituir, em Maio de 1973.

De vez em quando, especialmente nos dias festivos, o pessoal do CA (oficiais, sargentos e praças, reunia-se nas respectivas instalações para umas brincadeiras, como festivais da canção, arremedos de teatro, etc, com material da Secção Foto-Cine que estava ao lado.

Soube, pelo jornal «Voz da Guiné», que na Guiné havia pessoas a escreverem poesia, devido a Jogos Florais que a UDIB (União Desportiva Internacional de Bissau) organizara, nos finais de 1972.

Creio que na noite de Natal de 1973, propus fazermos uma sessão de poesia em que cada militar faria poesias para ler ou recitar ou ler poesias de poetas, porque lera no jornal «Voz da Guiné» um escrito em que o chefe da redacção, alferes miliciano, Agostinho de Azevedo, que, depois, foi director do 
«Correio da Manhã, falava de poesia.








Foi nesta altura que imaginei fazer os Cadernos de Poesia «POILÃO» apenas com colaboradores militares, com três ou mais poemas de cada colaborador, e respondi ao chefe de redacção do jornal «Voz da Guiné», com um escrito, só publicado em 02-02-1974.







O poema «Vida», de Joaquim Lopes, escrito para uma sessão no CA-QG-CTIG, incluído no artigo de «Voz da Guiné»:



VIDA


Vida,
Tu nasces nas raízes que consomes
Dás origem a crises e fomes,
Tu és um dom de que se fala,
Dás pobreza a muita alma,
Tu és a desgraça e a sorte
De muitos que te pedem a morte,
Tú és o princípio e o fim do mundo,
Quantos não pensam em ti a fundo.
Vida,
Tu és o tempo no espaço,
De muito viver de cansaço,
Tu és a perfeição dos imperfeitos,
Dominas a paz pelos direitos,
Tu és a força dos seres
Aos quais impões deveres,
Tu és tudo na existência,
Tens poder e resistência.
Vida,
Tu és o signo da verdade
De ricos a viver em felicidade,
Tu és uma paz de alma,
De comodistas a viver na calma,
Tu és a morte obscura
De egoista a pedir luxúria,
Tú és o despertar louco
De ricos a viver por pouco.

(Continua)

_________________

Notas do editor:

(*) Vd., poste de 27 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13657: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (3): "Mãos", "Balantão" e "Cachimbêro", três poemas do poeta maior desta antologia, natural de Farim, Pascoal d' Artagnan [Aurigema] (1938-1991), pp. 9/11

Comentário de LG:

(...) Talvez o Albano de Matos nos possa dar mais informações sobre o "making of" desta coltãnea de poesia, "Poilão"...

Por exemplo, quem foi, na realidade, o "editor literário", o coordenador ? Foi o Albano de Matos ou o Aguinaldo Ferreira ? Ou foram ambos ?

Como foram obtidos os originais ? Houve um contacto pessoal com os autores ? Todos os poemas eram inéditos ?

O Albano terá conhecido pessoalmente o Pascoal d'Artagnan, presumo, que trabalhava nas "oficinas navais", em Bissau... Pertenciam à Marinha ?

Ele já seria, em 1973, simpatizante ou mesmo militante do PAIGC ? Qual a sua origem étnica ? Balanta, manjaco, papel, mandinga ?

Sabemos apenas que nasceu em Farim.. Mas viajou pelo país: Catió, Safim, Ilha das Galinhas... O que é que ele faz na Ilha das Galinhas, em 1967 ?

Pelo que eu li dele, ainda muito pouco, parece-me um poeta com fôlego, e na linha da tradição oral africana... com influência talvez do angolano Viriato da Cruz...

Ele deveria ser um autodidata... não ? (...)



quinta-feira, 5 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13238: (Ex)citações (234 ): A angústia do artilheiro quando tinha de dar apoio às NT, nomeadamente quando estavam sob fogo IN... (Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72, há mais de 4 décadas no Brasil)


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > Agosto de 1972 > O temível obus 14 [140 mm] em ação... à noite.

Foto: © Vasco Santos (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Mensagem, de 25 do passado mês de maio,  do nosso camarada Vasco Pires [ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; membro da Tabanca Grande, a viver na diáspora, Brasil]

...AINDA A ARTILHARIA DA GUINÉ.

Caríssimos Carlos/Luís,
Éramos poucos e dispersos, e dispersos continuamos, talvez por isso a nossa história seja tão pouco conhecida, digamos mesmo, quase esquecida.

O Comando da Artilharia na Guiné ficava em Bissau, BAC 1, GAC 7, e finalmente GA 7 quando agregou a Artilharia Antiaérea, sob o comando de um Oficial Superior de Artilharia e os Pelotões espalhados no TO, adidos a Companhias ou Batalhões que, penso, chegaram a 27. A tropa era do contingente local, sendo três graduados da tropa continental, um Alferes e dois Furriéis, e, raramente, um Cabo Apontador.

Os Pelotões não podiam sair dos quartéis sem uma autorização expressa do Comando em Bissau, ou - no meu tempo - com uma ordem escrita do Comando Operacional local; os Artilheiros ficavam, segundo alguns, no "bem bom" do arame farpado.

A Artilharia tinha funções de defesa e ataque, incluindo apoio às NT em combate. Eu, com excepção, de dois "passeios" que fiz no começo e no fim da comissão, ao Bachile e a Ingoré, passei a maior parte do meu tempo de serviço na Guiné num quartel da fronteira Sul, Gadamael, também conhecido como Gadamael Porto.

Os quartéis da fronteira Sul  eram "ilhas" rodeadas de arame farpado, no meio de "terra de ninguém", e ao alcance da Artilharia IN além-fronteira. Falar das condições operacionais da fronteira Sul, tornar-se-ia repetitivo, pois já foi feito exaustivamente.

A vigilância constante era apanágio da atividade da Artilharia, durante o dia no apoio às NT, e durante a noite em alerta para uma pronta resposta às flagelações da artilharia IN. Digo pronta resposta, contudo precedida de uma rápida análise da situação, para evitar o fogo de contra-bateria, ou seja evitar que uma resposta precipitada facilitasse a regulação do tiro IN. Em alguns casos extremos - aqui-del-rei que eles querem entrar! - poucos, felizmente, o Artilheiro tinha de dar uma de Clint Eastwood dos Trópicos, e fazer tiro direto.

Contudo, como já disse anteriormente noutro comentário, o momento de maior tensão do Artilheiro era o apoio às NT, principalmente quando estavam debaixo de fogo IN, todos podem imaginar a precaridade do envio de dados naquelas condições operacionais física e emocionalmente.

Quantos militares, até civis, não sentiram alívio quando ouviam o "troar dos nossos Canhões"?

OBSERVAÇÃO: escrevo estas mal traçadas linhas, motivado por um alerta do Camarada Luís Graça sobre a falta de conhecimento da "cultura" da Artilharia; não faz parte, pois, da coletânea "A minha guerra é maior que a tua".

...e siga a Artilharia... (**)

forte abraço a todos
Vasco Pires
Ex-soldaddo de Artilharia (IOL)
____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

18 de maio 2014 > Guiné 63/74 - P13159: (Ex)citações (232): "Tristes artilheiros solitários" no meio dos infantes... (Vasco Pires, (ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

26 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13046: O segredo de... (18): O ato mais irresponsável nos meus dois anos de serviço como soldado de artilharia (Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

(**) Último poste da série 20 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13167: (Ex)citações (233): Venho manifestar o meu apoio ao camarada Veríssimo Ferreira pelo repto que faz ao camarada Manuel Vitorino (Manuel Luís Lomba)

domingo, 13 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12974: Memórias dos últimos soldados do império (1): “Bate estradas” histórico, escrito à minha filha em 1973, e uma redacção da minha neta, vinte anos depois (Albano Mendes de Matos)

1. O nosso Camarada Albano Mendes de Matos, TCor Art.ª Ref, que esteve no GA 7 e QG/CTIG (Bissau, 1972/74), enviou-nos a seguinte mensagem.


Camaradas,

Envio um texto sobre o aerograma, o célebre «bate-estradas», que uma neta escreveu, numa aula de Português, quando aluna no Colégio Maristas, na Parede, para uma possível publicação na «Tabanca».

Abraço.
Albano Mendes de Matos


AEROGRAMA OU "BATE ESTRADAS" > UM DOCUMENTO HISTÓRICO E UMA REDACÇÃO



Em Janeiro de 2003, no Colégio Marista da Parede, onde estudava uma minha neta, uma professora de Português, pediu aos alunos que, no dia dos avós, levassem um objecto histórico que tivesse pertencido ou feito por um avô ou avó.

A minha neta falou com a mãe e esta mostrou-lhe aerogramas que eu lhe tinha enviado da Guiné, onde estive em comissão de serviço de 1972 a 1974, e que guardava numa caixa. A minha neta levou alguns aerogramas para o Colégio Marista, que foram objectos de curiosidade.



Aerograma, o célebre «bate-estradas».

Imagem digitalizada: © Albano Mendes de Matos (2014). Todos os direitos reservados.


A professora disse, então, aos alunos que fizessem uma redacção sobre os objectos que tinham levado.

A minha neta fez a seguinte redacção:


«O AEROGRAMA

No baú das recordações, encontrei uma caixinha de cartão muito bonita. A caixinha foi carinhosamente forrada com um papel brilhante enfeitado com grinaldas de flores, anjinhos e corações. Abri-a, curiosa, e lá dentro um laço de seda azul apertava um montinho de cartas amarelas. Escolhi uma, mirei-a de frente e no verso.

Dentro de um rectângulo, no canto superior esquerdo, li: “O transporte deste aerograma é uma oferta da TAP aos soldados de Portugal.” Então, percebi que a cartinha amarela se chamava aerograma. Foi escrito pelo meu avô para a minha mãe. E fiquei a saber que o meu avô tinha sido um soldado de Portugal!

Investiguei um pouco e fiz montanhas de perguntas sobre os simpáticos aerogramas.

Descobri que através deles os “soldados de Portugal” comunicavam com os familiares e os amigos. Antigamente, não existiam telemóveis, nem Internet e poucas pessoas tinham telefone em casa. Por isso, quando se estava longe, escreviam-se muitas cartas, neste caso, aerogramas. O avô, nessa época, encontrava-se em comissão militar, na Guiné-Bissau. Esteve lá dois anos e, durante esse tempo, só veio à Metrópole (Portugal) quatro vezes. Assim, longe, enviava muitas cartas, aerogramas e postais.

Os aerogramas tinham uma alcunha, contou-me o avô. Eram os “bate-estradas” porque chegavam a todo o lado onde estivessem soldados. Imagino que naquela época, visto do céu, o nosso país devia ser amarelo, pois eram tantos os aerogramas que voavam de um lado para o outro e eram tantos os soldados que estavam na guerra!

Ser militar devia ser muito doloroso! A avó confessou-me que, sempre que recebia uma carta do avô, fixava a data e pensava:“Pelo menos neste dia estavas vivo e de saúde; hoje, já não sei se estás bem.”

Também fiquei a saber que quem inventou os aerogramas foi o Movimento Nacional Feminino. Era um movimento de senhoras que apoiavam os militares do Ultramar.

Entretanto, pedi autorização ao meu avô para ler publicamente algumas das suas palavras»:

"Bissau, 25 de Setembro de 1973

"Querida Rita

"Como vais de saúde? Bem disposta?

"Tens trabalhado muito? Olha que a escola está quase a chegar e este ano já é mais difícil. (...)

"Aqui, vai tudo na mesma, só mais cansado e aborrecido. Enganei-me no emprego. (...)

"Muitos beijos do teu pai

"E assina."

Passados dezanove anos: nasci.

Passados mais onze anos: estou aqui a contar esta história.»
Lúcia Maria Matos Carreira

2. Comentário de do editor MR:

Fica aqui o desafio ao nosso último grã-tabanqueiro, nº 652, para abrir o "baú" das suas recordações e continuar a partilhar, connosco histórias e memórias do seu/nosso tempo... Recorde-se que ele terá sido o último militar português a vaguear pelas ruas de Bissau, na noite de 13 para 14 de outubro de 1974, antes de apanhar o último avião para Lisboa. Eu, "pira de Mansoa", também estou nesta lista dos últimos soldados do império, tendo regressado em 15 de Outubro de 1974, na última viagem do T/T Uíge, com as últimas tropas portuguesas que estiveram no CTIG.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12920: Tabanca Grande (431): Albano Mendes de Matos, ten cor art ref, GA 7 e QG/CTIG (Bissau, 1972/74), grã-tabanqueiro nº 652

1. Mensagem de 13 do corrente, enviada pelo Albano Matos: 



Luís Graça

Tenho muito gosto em integrar a «Tabanca Grande». Logo que possível, vou enviar um apontamento sobre o Caderno de Poesias «POILÃO», que organizei e fiz, na Guiné, publicado de forma artesanal pelo Grupo Desportivo e Cultural do Banco Nacional Ultramarino.
 
Tenho contactos com Mário de Oliveira, do restaurante o «Ninho» e com o meu amigo Silvério Pires Dias, do PIFAS e da Emissora da Guiné.

Abraço.

Albano Mendes de Matos

2. Comentário de L.G.:

Aqui fica uma resenha biográfica, respigada da Net e completada com elementos informativos do nosso blogue, sobre o novo grã-tabanqueiro, que se vai sentar, à sombra do nosso poiulão, no lugar nº 652, ao lado do seu amigo e  camarada  Silvério Dias:

(i)  Nasceu em Castelo Novo, Fundão, em 1932,

(ii) É tenente-coronel do Exército na reforma, com várias comissões de serviço durante a Guerra Colonial: 

Angola (Grupo Art 157 / BArt 147, 1961/63); 

Angola (BArt 1469/ CArt 1469, 1965/68; 

Guiné (GA 7 e QG/CTIG - Secção de Milicias e Chefe de Contabilidade, 1972/74);

(iii) Na Guiné, a par das tarefas militares, organizou festivais de poesia e representações teatrais, bem como os «Cadernos de Poesias POILÃO», com autores guineenses e portugueses;

(iv) Já em Angola, havia publicado,  em 1973, o caderno de contos africanos «Jangadeiro», dos quais foram apreendidos 300 exemplares pela PIDE/DGS;

(v) É também licenciado em Antropologia Cultural e Social e mestre em Ciências Antropológicas;

(vi) Foi professor na Universidade Moderna;

(vii) Estreou-se no romance em 2008, com a obra «A Casa Grande» (Prémio Literário Aquilino Ribeiro).

Mandei ao Albano o convite para integrar a Tabanca Grande, convite que ele aceitou de bom grado. È também o nosso apreço pelos contributos que o Albano já deu para a preservação e divulgação da nossa(s) memória(s) da Guiné...

A partir de agora, passamos a tratar-nos por tu, de acordo com as nossas regras de convívio, e como de resto se impõe entre camaradas do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.  Sê bem vindo, Albano. E vê se mandas uma foto atual.

Um alfabravo. Luís Graça

__________________

Nota do editor:

quinta-feira, 13 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12833: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (83): Recebi notícias do último CMDT do Glorioso GA 7, Coronel de Artilharia Faia Correia (Vasco Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 4 de Março de 2014:


...e a nossa TABANCA É GRANDE ​

Caríssimos Carlos Vinhal /Luis Graça,
Cordiais saudações.

Em 06 de Agosto 2012, fiz um comentário no P10228 do Nobre Artilheiro Humberto Nunes, e em 23 de Junho 2013, o Exmo. Senhor Coronel de Artilharia Faia Correia, último Comandante do Glorioso GA 7 (GAC 7), replicou sobre o meu comentário, de que só agora tive notícia.

Anónimo disse...
Caro Humberto Nunes, Cordiais saudações,
Lendo o teu depoimento, lembrei o ano de 1970, quando cheguei a Gadamael. Lá encontrei uma companhia em fim de comissão, comandada por um experiente Oficial, o então Capitão de Artilharia Rodrigues Videira, que muito me ajudou nesses primeiros tempos.
Dizia ele, que o que salva o ser humano, é a memória seletiva, pois,com o tempo, vai-se se não eliminando, ao menos amenizando as experiências mais dolorosas,e as experiências positivas ficam relativamente mais fortes.Sábias palavras, digo eu.
forte abraço
Vasco Pires,
Ex-Comandante do 23º Pel. Art.

************

Caro Camarada Vasco Pires, Ex-Comandante do 23º Pel. Art.
Fui o último Comandante do GA7 e só muito recentemente é que tive acesso a esta nossa Tabanca Grande e através dela tenho vindo a contactar com camaradas que serviram comigo nessa prestigiada unidade de Artilharia, onde estive de agosto/73 até setembro/74. Não chegámos, portanto, a conhecermo-nos. Contudo, porque se refere às "sábias palavras do experiente Capitão Rodrigues Videira", posso dar-lhe notícias dele, por mantermos uma sólida amizade, desde 1961, quando fui instrutor de Artª na Academia Militar.
Ele voltou à Guiné como Comandante duma Bateria Anti-Aérea que tinha os Pelotões espalhados mas o comando da dita estava sediado no Grupo em Bissau.
Depois, desde o regresso da Guiné fomo-nos encontrando, em Leiria e, por último, na Academia Militar.
Para além de inteligente e culto (foi o 1º.do seu curso na Ac Mil), é transmontano e, como tal, de grande frontalidade. As palavras dele, colocadas aqui por si, demonstra o que afirmo. Mas olhe que ele, em Gadamael, era ainda um muito jovem Capitão.
Mantemos contactos frequentes, a nível familiar, e despedimo-nos sempre com pena que a tarde tenha chegado ao fim...
Um pormenor, como está reformado, dedica-se ao bridge e é muito requerido para encontros organizados por amigos! Como dizia um amigo meu de Cavalaria, quando dois artilheiros se encontram, o abraço toma a forma duma soquetada, que peço que aceite com a amizade do
Faia Correia, Cor Artª Reformado

************

Além da honra de receber comunicação do Comandante da minha Unidade, traz notícias do Ex-Capitão Rodrigues Videira, Cmdt da CART 2478, que recebeu este "periquito" em Gadamael em 1970, e cuja foto coloquei no meu P11148 "Alfero di canhão".

Um periquito em Gadamael... e a velhice da CART 2478

Já anteriormente falei do Capitão Videira:
"Cheguei a Gadamael Porto, lá por meados de 70 para assumir o comando do 23° Pelart, encontrei uma Companhia em fim de comissão, comandada pelo então Capitão de Artilharia Rodrigues Videira, que logo nos primeiros dias me falou da importância da disciplina em zona de guerra..."

Ele foi figura fundamental, apesar de poucos meses de contacto, nos meus dois anos de serviço na Guiné. Um Capitão em fim de comissão, recebeu o soldado "periquito" paternalmente, e durante esse tempo de convivência, foi desfiando pequenos (grandes) detalhes da arte de comandar.
Posso afirmar hoje, mais de quarenta anos depois, sem risco de exagero, que devo ao Capitão Videira, a "normalidade" com que decorreram os meus dois anos de serviço.

Forte abraço a todos
Vasco Pires
Ex-Comandante do 23.° Pel. Art.
Gadamael
____________

Nota do editor

Último poste da série de 16 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12727: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (81): António Medina, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, foi fur mil da CART 527 (Teixeira Pinto, 1963/65) e vive hoje nos EUA, onde descobriu o nosso blogue

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11423: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (16): Respostas (29/30) de Rui Felício (CCAÇ 2405, Galomaro e Dulombi, 1968/70) e José Francisco Borrego (GA 7, Bissau, e 9º Pel Art, Bajocunda, 1970/72)


Resposta nº 29 > Rui Felicio [ex- alf mil, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, Galomaro e Dulombi, 1968/70] [, foto à esquerda]

(1/2)  Por telefonema do Vitor David  (ainda era o Blogue-Fora-Nada).
(3)  Não. [O Rui consta da lista dos 111 tertulianos da 1ª série, e faz parte da rede atual da Tabanca Grande, desde 11 de fevereiro de 2006,  razão por que recebeu este questionário] (**) (***)
(4) No inicio, diariamente. Actualmente de tempos a tempos.
(5) Não tenho mandado.
(6)  Conheço [, a nossa página do Facebook].
(7) [Vou] mais vezes ao blogue
(8)  O que gosto mais são das histórias menos ligadas à guerra
(9) O que gosto menos são os relatos de combates e de actos de heroismo
(10) De facto, noto lentidão no acesso,  o que prejudica visitas mais frequentes.
(11) O blogue representa um repositório importante de factos testemunhados por quem neles interveio.
(12) Já. No de Montemor o Novvo (um dos primeiros) [, Aliás, o nosso I Encontro Nacional, em 14 de outubro de 2006, na Ameira]
(13) Não, [não tenciono ir ao VIII Encontro Nacioanl, em Monte Real, no dia 8 de junho].
(14) Tem e deve manter-se porque representa um contributo histórico insubstituivel.
(15) ...


Reposta nº 30 > José [Francisco Robalo] Borrego [, hoje ten cor ref., pertenceu ao Grupo de Artilharia n.º 7 de Bissau e ao 9.º Pel Art, Bajocunda, 1970/72]


[Foto à direirta: o nosso camarada o José Borrego, em Bissau, no ex-GA7, em janeiro de 2012] 

(1) Descobri o blogue em 20008.
(2) Através do camarada António Graça de Abreu.
(3) Sim, desde Outubro/Novembro de 2008. [Mais exatamente, desde 12 de novembro de 2008].
(4) Semanalmente.
(5) O último material que enviei foi aquando da minha visita à Guiné em janeiro de 2012.
(6) Confesso que não [, não conheço a página da Tabanca Grande no Facebook].
(7) Vou mais vezes ao blogue.
(8) O caudal de informação.
(9) Nada a referir.
(10) Não tenho sentido dificuldades [, no acesso do blogue]..
(11) Representou reviver o passado; ir ao encontro de mim próprio; grande fonte de informação.
(12) Sim, em 2012 [,VII Encontro Nacional].
(13)  Este ano não tenciono ir por motivos familiares.
(14) Sim, o blogue ainda tem muito fôlego, e o moral elevado, tanto mais que há milhares de camaradas que ainda não se manifestaram.
(15) Só tenho elogios a fazer ao blogue, principalmente, por ser o grande elo de ligação entre camaradas e amigos que foram companheiros de sofrimento e que, na 1ª pessoa, puderam relatar as suas boas e más experiências em terras da Guiné.


________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 18 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11420: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (15): Respostas 27 e 28, de Manuel Carvalho (ex-Fur Mil da CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70) e Albano Costa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidage, 1973/74)

(**) Vd. I Série, postes de:


(...) (ii) Temos depois outra mensagem de outro camarada da CCAÇ 2405, já aqui apresentado anteriormente, o Rui Felício, juntamente com o Victor David. Foi-me enviada ontem à noite:


(...) "Caro Luis Graça,
"Passei o dia de hoje em Coimbra almoçando com o Vitor David a quem me ligam laços profundos de amizade e camaradagem.

"Falámos do blogue cuja utilidade é inquestionável e que tanto mais se valorizará quanto os contributos para o esclarecimento das coisas que se passaram na Guiné se multipliquem.

"Foi um dia agradabilíssimo na companhia, à beira do Mondego, da mulher e da filha do Vitor David, ambas simpatiquíssimas, e do meu próprio filho que me acompanhou de Lisboa até Coimbra onde estuda.

"O Vitor David incentivou-me a enviar-te o texto que escrevi e que lhe dei a ler sobre o desastre do Corubal, pedindo-te que decidas sobre se o mesmo deve ou não ser divulgado no teu blogue.

"Espero vir a conhecer-te pessoalmente em breve... Pelos elogios do Vitor David a teu respeito, fiquei ansioso por esse momento se proporcionar.

"Um abraço, Rui Felício (ex- Alf Mil Inf CCAÇ 2405)"


11 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXIII: O IN emboscado a caminho de Dulombi (CCAÇ 2405, Galomaro, Julho de 1969)

(...) Pouco ou nada se tem aqui falado do subsector de Galomaro que, em 1968/70, era guarnecido pela CCAÇ 2405, a sacrificada companhia que viu morrer 17 dos seus melhores elementos na travessia do Rio Corubal, em 6 de Fevereiro de 1969, em Cheche, na retirada de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios).

A essa companhia pertenciam os nossos amigos e camaradas Victor David e Rui Felício. O primeiro já entrou para a nossa tertúlia. O segundo mandou-me há dias (9 de Fevereiro) a seguinte mensagem:

"Meu Caro Luis Graça,

"Por indicação do meu amigo de juventude e mais tarde camarada de armas na CCAÇ 2405, Victor David, tive conhecimento e acesso ao excelente blogue que criaste sobre a nossa passagem por terras da Guiné.

"Transmitirei aos meus conhecidos e amigos a existência do blogue e procurarei colaborar nele se tal for possivel, levando ao conhecimento de todos alguns episódios marcantes das nossas vidas, relativamente à nossa estadia na bela e martirizada terra da Guiné.

"Até breve e um abraço" (...)



Tertúlia > Amigos & Camaradas da Guiné

A. Marques Lopes, A. Mendes, Abel Maria Rodrigues, Afonso M.F. Sousa, Aires Ferreira, Albano Costa, Amaro Samúdio, Américo Marques, Ana Ferreira, Antero F. C. Santos, António Baia, António Duarte, António J. Serradas Pereira, António (ou Tony) Levezinho, António Rosinha, António Santos, António Santos Almeida, Armindo Batata, Artur Ramos, Belmiro Vaqueiro, Carlos Fortunato, Carlos Marques dos Santos, Carlos Schwarz (Pepito), Carlos Vinhal, Carvalhido da Ponte, David Guimarães, Eduardo Magalhães Ribeiro, Ernesto Ribeiro, Fernando Chapouto, Fernando Franco, Fernando Gomes de Carvalho, Hernani Acácio Figueiredo, Hugo Costa, Hugo Moura Ferreira, Humberto Reis, Idálio Reis, J. C. Mussá Biai, J. L. Mendes Gomes, J. L. Vacas de Carvalho, João Carvalho, João S. Parreira, João Santiago, João Tunes, João Varanda, Joaquim Fernandes, Joaquim Guimarães, Joaquim Mexia Alves, Jorge Cabral, Jorge Rijo, Jorge Rosmaninho, Jorge Santos, Jorge Tavares, José Barreto Pires, José Bastos, José Casimiro Caravalho, José Luís de Sousa, José Manuel Samouco, José Martins, José (ou Zé) Neto , José (ou Zé) Teixeira, Júlio Benavente, Leopoldo Amado, Luis Carvalhido, Luís Graça, Luís Moreira (V. Castelo), Luís Moreira (Lisboa), Manuel Carvalhido, Manuel Castro, Manuel Correia Bastos, Manuel Cruz, Manuel Domingues, Manuel G. Ferreira, Manuel Lema Santos, Manuel Mata, Manuel Melo, Manuel Oliveira Pereira, Manuel Rebocho, Manuela Gonçalves (Nela), Mário Armas de Sousa, Mário Beja Santos, Mário Cruz, Mário de Oliveira (Padre), Mário Dias (ou Mário Roseira Dias), Mário Migueis, Martins Julião, Maurício Nunes Vieira, Nuno Rubim, Orlando Figueiredo, Paula Salgado, Paulo Lage Raposo, Paulo & Conceição Salgado, Paulo Santiago, Pedro Lauret, Raul Albino, Renato Monteiro, Rogério Freire, Rui Esteves, Rui Felício, Sadibo Dabo, Sérgio Pereira, Sousa de Castro, Tino (ou Constantino) Neves, Tomás Oliveira, Torcato Mendonça, Victor David, Victor Tavares, Virgínio Briote, Vitor Junqueira, Xico Allen, Zélia Neno.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10535: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (2): Como fui parar a Gadamael, por acção do meu pai e reacção do 'Paizinho' ...

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires, que bebeu a água do Rio Cacine e que, depois da passagem à peluda, deixou a Pátria em 1972, passando a viver desde então nesse grande país lusófono chamado Brasil...

Ficamos a saber que ele conheceu o nosso blogue em circunstâncias infelizes: no "estaleiro", em recuperação das sequelas de um acidente automóvel. 

Daqui de Angola, e com alguns problemas de comunicação com a nossa Tabanca Grande Global, aqui vai um afetuoso abraço para ele, desejando-lhe completa recuperação, e para os demais amigos e camaradas da Guiné, incluindo o Rosinha que está ansioso que eu lhe mande umas fotos da rua e da casa onde ele morou em Luanda...  Infelizmente, regresso já na 5ª feira, sem tempo para sair da "ilha" de Luanda, onde estou "prisioneiro" das 9 às 18h... (LG):


A CAMINHO DE GADAMAEL... Ou como a acção de meu pai e a reação do "Paizinho" me levaram lá.)

Caros Luis Graça/ Carlos Vinhal,

Estas mal traçadas linhas são a minha modesta homenagem à vossa coragem e determinação, para trazer à luz do dia, e administrar, tantas emoções de uma geração, guardadas lá no fundo do subconsciente (Valha- nos "São" Lacan!!!), moderando magistralmente tantas visões de uma realidade multifacetada.

É também uma oportunidade para eu agradecer a todos que me ajudaram a chegar de volta ao Aeroporto da Portela. Não poderia deixar de agradecer também a Maria Helena, que me acompanhou nos anos "pós-Guerra", e criou meus filhos.

Saí de Portugal, ainda no mesmo ano de 72, em que voltei da Guiné, e por aí vou andando até esta data, sou um desses milhões da multissecular diáspora Lusitana, que deve ter começado lá pelo século XV, quando as caravelas jogavam em terra os "lançados", que tinham pegado nas ruas ou tirado das prisões, para na volta servirem de "linguas".

A Artilharia da Guiné era de rendição individual, para oficiais, sargentos e alguns especialistas, sendo soldados e cabos da guarnição local, inexistindo posteriormente essas reuniões que vão alimentando o espírito de corpo, das Companhias e Batalhões. Dificultado o contacto com os camaradas,esses três anos de serviço militar vão ficando no fundo do "baú de recordações".

Após um acidente de automóvel recente, que me obrigou à recuperação em casa , conheci o blog. Então, como a história é mais benevolente com quem a escreve, ousei rabiscar este meu, "A CAMINHO DE GADAMAEL".


Eu venho lá da Bairrada pofunda, que na década de 50 era mais conhecida como terra da batata, ao invés de terra do vinho, o vinho ainda se vendia a granel. Apesar de haver registro de vinhas na região no século XII, a região sofreu por muitos anos da determinaçao do Marquês de Pombal de as arrancar.

O meu pai vinha de um grupo familiar, que se poderia enquadrar no que Gramsci apelida de "intelectuais rurais"; a escola de Samel no fim do século XIX começo do XX, era na casa do meu avô, sendo ele professor, como o foram meu pai e meus tios.

Meu avô materno era filho de comerciante e, como seus irmãos,  emigrou para o Brasil, e ao contrário deles voltou a Portugal, no fim da primeira década do século XX, casou com uma professora, que era duma família profundamente ultramontana, originária da Madeira.

A minha infância e adolescência foi passada em escolas da região, seguida de uma passagem de cinco anos pela efervescente cena Coimbrã da segunda metade da década de 60.

Em 69, saí desse "borbulhar" de novas ideias e atitudes, para a disciplina EPI na "Máfrica" de tantos de nós. Logo começou a minha boa sorte, de ter camaradas, subordinados e superiores que me ajudaram nesta caminhada de três anos pelos quartéis de Portugal e África.

Nesta caminhada de soldado-cadete, apareceu o Raul, que era da Mealhada, professor, com família constituida, e lá rumávamos todo Domingo para Mafra. O Raul era um gordo bem humorado, que fazia todos os exercícios como qualquer atleta, mas comer do rancho já era pedir muito, logo tratou de desarranchar e alugar apartamento, e lá fui eu "no vácuo". E assim foi-se amortecendo o choque da irreverência da Academia Coimbrã, com a disciplina do quartel.

Onde quer que estejas Raul, o meu muito obrigado!

Depois de uma recruta sem grandes altos e baixos, anúncio das especialidades. IOL, mas que raios será isso? e fui ouvindo as mais disparatadas interpretações dessa sigla enigmática. Até que uma alma caridosa explicou que IOL era a sigla de Informação, Observação e Ligação, teoricamente o Oficial que faria a ligação da Artilharia Divisionária com o Comando. Na prática tal como o PCT, Posto de Comando e Tiro, um puxador de cordão de obus.

E lá fomos nós, eu e o Raul , para Vendas Novas, lembro que num Domingó à noite, parámos no caminho, para ver a descida do homem na Lua.

Na EPA, havia dois pelotões, um de PCT e outro de IOL, e se não me falha a memória com entre 30 e 40 alunos somados os dois. O "Jornal da Caserna" informou que quem ficasse nos primeiros lugares duma lista conjunta não iria para África, como era costume. Menos gente, tratamento um pouco melhor, lembro o Tenente Carita, que penso hoje é Coronel Reformado de Artilharia e Professor na Universidade da Madeira. E lá fomos todos, fazendo o nosso melhor, para ficar por lá mesmo (Portugal). Na EPA encontrei o Vinagre de Almeida que tinha sido aluno do meu pai.

Fim de curso e começo do estágio de um mês na própria EPA, já Aspirantes, pelo menos não seríamos praxeados como soldados-cadetes nos quartéis de destino.

Resultados conhecidos, quarto lugar no curso, RAP 3 , Figueira da Foz, comecei a antegozar umas prolongadas férias à beira mar. Chegado ao RAP 3, vários Alferes de cursos anteriores, estava confirmado, minha "Guerra" seria nas areias do Atlântico, mas, do Atlântico Norte. Figueira da Foz, fora de temporada, fácil de alugar apartamento, quando perguntado qual a previsão, falei com segurança: dois anos.

Aí começaram as notícias, Fulano foi para a Guiné, Cicrano para Angola, até aí tudo normal, os últimos colocados sempre eram mobilizados. E a fila continuou andando, até que chegou no décimo colocado, e acendeu a luz amarela, mas ainda tinha seis na frente. Quando o Aspirante Conceição quinto colocado foi chamado, acendeu a luz vermelha, provável dar Atlantico Sul!

Deu Guiné, e lá fomos nós, eu e o Vinagre de Almeida, de barco rumo a Bissau. GA 7, e logo o "Jornal da Caserna", informou em "Primeira Página": Cuidado, o "Homem" é louco, desafiou até o General. O Homem em questão era o famoso "Paizinho", controverso Oficial Superior de Artilharia, com relacionamento díficil com subordinados, bem como com superiores (o General Spínola, tinha-o punido com pena de prisão e tinham um relacionamento tumultuado). Abordava a todos com um "Oh meu filho...", daí a alcunha, era também conhecido como "o Homem da voz meiga", contudo não era nada meigo na hora da punição.

Na semana seguinte à minha chegada, recebi uma ordem através de um oficial, para me apresentar em tal data no Palácio do Governo, sem mais explicações. Nada sabia, e nada pude responder às perguntas, que deviam ter sido feitas por ordem do "Paizinho".

Apresentei-me, na data marcada (não era louco!), por acaso encontrei um conhecido de Coimbra que era Chefe de Gabinete, só disse que o General ia falar comigo. Acalmei, somente quando soube que o General e meu pai tinham amigos comuns, e que ele tinha-me chamado para me dar as boas vindas, e mais não disse. Sim Senhor, Meu General!

Ora o Homem não gostou nada, que o General, com tinha péssimas relações, tivesse chamado um Oficial do seu Comando, sem nada saber. Penso eu, como "prémio", escolheu o pior buraco disponível, que no momento era Gadamael Porto, e lá fui, trocando as "férias" da Figueira da Foz, por aquelas outras à beira do Rio Sapo.

De novo a sorte me acompanhou com relação aos superiores, a quem o comando do 23° Pelart estava subordinado: (Repetindo o que já disse anteriormente),

"Cheguei a Gadamael Porto, lá por meados de 70 para assumir o comando do 23° Pelart, encontrei uma Companhia em fim de comissão, comandada pelo experiente, então Capitão de Artilharia Rodrigues Videira, que me muito me ajudou nos primeiros tempos em zona de guerra. 

"Logo em seguida veio uma Companhia de Infantaria, comandada pelo saudoso Capitão de Infantaria Assunção Silva, morto em combate, generoso e intrépido oficial , que foi substituído pelo então capitão de Artilharia António Carlos Morais Silva, sobre o qual já falei neste blog, como um dos mais brilhantes Oficiais do Exército Português que conheci, nos meus três anos de serviço". 

O mesmo devo dizer dos Sargentos, dedicados e leais:

"O Furriel Miliciano de Artilharia, Lopes de Oliveira, foi professor dos soldados, e além de ser um esforçado cozinheiro, montou uma sofisticada logística, para garantir o abastecimento de carne e peixe com o pessoal da tabanca, e o Furriel Miliciano de Artilharia Krus coordenava com eficiência a atividade operacional do Pelotão".

Assim, pois, a conjugação da acção do meu pai, com a reação do "Paizinho", me levou até Gadamael Porto.

Cordiais saudações, VP

 _____________________


Nota do editor:

Último poste da série de 13 DE OUTUBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10525: Fantasmas do fundo do baú (Vasco Pires) (1): Uma história do artilheiro de Gadamael, à beira da peluda, no 'bem-bom' de São Domingos...

sábado, 13 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10525: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (1): Uma história do artilheiro de Gadamael, à beira da peluda, no 'bem-bom' de São Domingos...




Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > O alf mil art Vasco Pires, ex-alf Mil, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), nos últimos meses da sua comissão no 'resort' de São Domingos...

Foto:  © Vasco Pires (2012),. Todos os direitos reservados [Editada por L.G.]

1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro Vasco Pires,  tuga da diáspora, a viver no Brasil:

Caros Luis Graça e Carlos Esteves Vinhal,
Cordiais Saudações.
Estou em dívida com o blogue, pois ainda não enviei foto dos tempos da Guiné (*). 

Como eu disse em mensagem anterior, pedi a um parente para procurar essas fotos nos meus pertences que estão em São Paulo, contudo, teve que ausentar-se da cidade, e não pode ainda procurá-las. Me cedeu a foto, que vai anexa, que estava num álbum em seu poder.

Dita foto, acredito eu, é da fase final da minha comissão, três ou quatro meses que passei em São Domingos, na altura sede de um Batalhão de Infantaria (lamentavelmente não lembro o nome do oficial que dirige o jipe). 

Nós,  de rendição individual, por vezes tínhamos que esperar substituto, que normalmente tardava. Ao fim de mais de vinte meses de comissão, a maior parte deles passada em Gadamael, mandaram-me para São Domingos. 

A atividade operacional da artilharia em São Domingos era nula, assim quando cheguei, falei para os Furrieis, que a minha comissão tinha terminado (21 meses), mas faltava o substituto. Eram excelentes profissionais, tomaram conta do Pelotão e respeitaram a minha "aposentadoria" e,  como eu pedi, só me chamariam quando houvesse algum problema, o que nunca aconteceu. 

A minha atividade principal era jogar bridge, o Comandante do Batalhão, um Coronel à beira da reforma, era o mais entusiasta.

Chegados os 24 meses, pedi para o Tenente-Coronel,  2° Comandante, no exercício temporário do Comando do Batalhão de Infantaria, que me liberasse pois a minha hora de voltar já tardava, o que não aconteceu; dizia ele que só me liberaria com a chegada do meu substituto, sendo em vão os meus argumentos de que o Pelotão tinha dois excelentes Furrieis experimentados. 

O máximo que consegui foi autorização para ir a Bissau para ver se conseguia um substituto. Ao chegar ao GAC 7 (ou já seria GA 7?), fui-me apresentar ao Comandante, que acredito era o Coronel Cirne Correia Pacheco, que me recebeu cordialmente, e logo disse que ia mandar-me para casa, ao que eu retorqui:
- Infelizmente, não vai ser possível, porque o nosso Tenente-Coronel disse que é ele que manda, e não vai autorizar.

Vi que tinham sido "santas palavras", pois ele limitou-se a dizer 
- Ah é, ele disse que é ele quem manda ?!
- Sim,  senhor, meu Comandante - ousei dizer. 

Imediatamente ordenou a quem de direito provedenciar os meus papéis.

 Estava eu na sala de espera do Aeroporto de Bissau, quando vejo entrar o Comandante do GAC 7 [ou melhor, GA 7], dirigiu-se a mim e ao meu amigo, na altura Alferes Vinagre de Almeida, que também estava voltando, e depois de responder à nossa saudação, dirigiu-se a mim e disse em tom solene:
- Infelizmente o nosso Tenente-Coronel é quem manda e você tem que voltar!!!

Provavelmente viu que eu tinha mudado de cor, e logo emendou:
- Brincadeira, vim aqui para agradecer, e desejar boa sorte para vocês dois. 

Caro Carlos Vinhal, cá vai uma "estória" ou "causo", como falam aqui no Brasil, da nossa guerra, conforme você pediu na minha apresentação.

forte abraço, VP  [, foto atual à direita].


PS - Caros Amigos Luis Graça/Carlos Vinhal,

Ontem enviei um e-mail, e, procurando no fundo do "baú de recordações", sobre a fase final da minha comissão em São Domingos, disse que no começo de 72, era sede de um Batalhão de infantaria, ou seria um Batalhão de cavalaria?

Desculpem a minha falha mas, como disse anteriormente, saí de Portugal ainda em 72, e a Artilharia na Guiné era de rendição individual, e somente oficiais , sargentos e especialistas, pois praças e cabos eram da guarnição local. Então os contactos com os camaradas se perderam facilmente, e as memórias foram ficando mais diluídas.
forte abraço, VP


_______________

Nota do editor:

(*) 27 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10443: Tabanca Grande (362): Vasco Pires, ex-Alf Mil, CMDT do 23.º Pel Art.ª (Gadamael, 1970/72)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10516: In memoriam (130): Francisco Parreira (1948-2012), ex-1º cabo mec elect auto, Grupo de Artilharia nº 7, Bissau, 1970/72:o "pai Chico", um "herói anónimo" (Filomena Parreira)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 9


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8

Guiné > Bissau > GA 7 [Grupo de Artilharia nº 7] > o 1º cabo mec elect auto Francisco Parreira, em Bissau e arredores, entre 1970 e 1972... Asd fotos não trazem legenda... Mas não é dífícil reconhecer os sítios: a Amura (foto nº 1),  a praça do Impe´rio (foto nº 2), o porto de Bissau (foto nº 4), etc.

Fotos: © Filomena Maria de Sousa Parreira (2012). Todos os direitos reservados.



1. O nosso camarada Francisco Manuel de Almeida Parreira,  nº mec 190543769, 1º cabo mec elect auto, de rendição individual, integrou o Grupo de Artilharia nº 7, Bissau. 

Partiu para o CTIG em 18 de setembro de 1970 e regressou em 8 novembro de 1972.

A sua filha, Filomena Parreira, forneceu-nos mais os seguintes elementos sobre o "pai Chico":

"Caro amigo Luís: conforme combinado junto envio as fotos do meu pai, que esteve em Guiné em 1970/72.


"Ele nasceu em Alhos Vedros, em 10/08/48, e faleceu a 27/09/12, tinha 63 anos...Ele quando tinha 20 anos,  morava nos Olivais Sul, mas viveu sempre junto a Cabo Ruivo, no Bairro dos Olivais Sul, junto a Moscavide, em Lisboa. 

"Alerto para a questão da 1º foto, a que eu julguei tratar-se do meu pai, nao foi essa que referiu...era outra que estava no blogue (*). Obrigado mais uma vez pela atenção".


2. Comentários de dois camradas nossos ao poste P10510 (*):

(i) António Ribeiro, 10/10/2012:


Talvez o Ten-Cor [José Francisco] Borrego o tenha conhecido.
À época era Fur e fazia parte dos quadros do GA 7 (ex-BAC 1), sedeado em Bissau mas com cerca de 25 pelotões no mato.

 

(ii) Vasco Pires, 10/10/2012:

É isso mesmo, nós do GAC 7 (GA 7, BAC 1...), éramos de rendição individual,~por vezes logo após um curto período, íamos para os Pelotões, é provável que esse camarada tenha ficado em Bissau, pois era aí que ficavam os especialistas (macânicos, eletricistas, etc...).

3. Comentário de L.G.:

A melhor homenagem que podemos fazer ao "pai Chico" e ao "herói anónimo" - aliás, tão anónimo como todos nós! - é fixar justamente a sua memória no nosso blogue, publicando o apelo dorido da sua filha  (*) e agora estas fotos singelas, sem legenda,  do seu álbum fotográfico. O Francisco é mais um camarada da Guiné que nos deixa, precocemente aos 63 anos, e que muito provavelmenet morreu sem nunca mais ter encontrado a malta do seu tempo, os seus camaradas do GA 7, de 1970/72.

Passará a ser lembrado aqui na nossa Tabanca Grande. Entra diretamente para o talhão dos "que da lei da morte se foram libertando" (e com ele, são já 21)... Como grã-tabanqueiro, ficará com o nº 583.  É também uma pequena homenagem aos nobres sentimentos da Filomena Maria de Sousa Parreira, um belo exemplo de amor filial. 

Convidamos a nossa amiga a conhecer alguns dos sítios por onde poderá ter andado o "pai Chico", o mais provável é que ele nunca tenha saído de Bissau, onde se situava o BA 7, ou o BAC 1,  ou o GAC 7 (as designações variaram ao longo dos anos da guerra). E talvez o ten cor art ref José Borrego lhe possa, de facto, dar mais algum esclarecimento adicional ou alguma pista para que a Filomena encontre camaradas desse tempo.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10510: Em busca de... (206): Camaradas que tenham conhecido o meu pai, Francisco Parreira (1948-2012), ex-1º cabo mec elect auto, Grupo de Artilharia nº 7, Bissau, 1970/72 (Filomena Maria de Sousa Parreira)

Guiné > Bissau > 25 de >Março de 1972 > Cerimónia de despedida da CART 2716 (Xitole, 1970/72), unidade de quadrícula do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), na presença do Com-Chefe General Spínola.



Foto: © Jorge Silva (2010). Todos os direitos reservados (Com a devida vénia...)

1. Em 5 de Julho passado, a nossa leitora Filomena Parreira fez seguinte comentário ao poste P7857:(...) Caros amigos, sou filha do 3º elemento da fotografia, não fazem referência ao nome mas tenho a certeza que é meu pai... Francisco Parreira, diz-vos alguma coisa?

Meu pai faleceu há pouco e por coincidência procurei na Net pelo nome dele...pois só me lembro dele e apareceu esta foto. Ele esteve em Guiné e nesta altura.... podem por favor enviar mais informação ?!

obg e bem-hajam, Filomena Parreira (...) 


2. O nosso grã-tabanqueiro David Guimarães foi o primeiro a confirmar a não existência de nenhum militar com o nome de Francisco Parreira, em comentário ao mesmo poste:

(...) Amigo Luís e todos aqueles que nos vamos preocupando uns com os outros... Amigos: Eu, David Guimarães Furriel Miliciano, esclareço o seguinte: essa Companhia que em cima (na foto) desfila é a CART 2716 onde em memória não me lembro que tivesse algum elemento com o apelido Parreira.
 
Como a memória não dá para relembrar toda a companhia em nomes, então fui ao livro do Batalhão ver se haveria alguém de que eu me tivesse esquecido e que se chamasse Francisco Parreira. Lamento dizer que se deve tratar de um equívoco (...). Pedia à nossa amiga para efectivamente ver se não se tratará aí de algum sósia de seu pai - o que pode acontecer... 


Um abraço e muito lamento pelo falecimento do Pai da nossa amiga e do pouco que possa ter sido útil... mas uma certeza tenho... Há equívoco... Abraço, David Guimrães (...)


3. No dia seguinte houve uma troca de correspondente entre o David e a Filomena:


(i) Filomena Parreira:

(...) Caros camaradas, obrigada pela atenção. Pode até ser equivoco, mas eu vou jurar que é o meu pai... Então tentarei enviar-vos uma foto dele e informação mais detalhada sobre a prestação dele na guerra, em África, pois ele esteve na Guiné e por esses anos...70/72abraço e obrigado pela força. (...).

(ii) David Guimarães:


Minha amiga, pois estarei atento à fotografia que enviar, no entanto procure saber se seu falecido pai era da CART 2716 e esteve no Xitole. Sabe que nessa data estávamos na Guiné cerca de 35 mil  homens espalhados por tudo quanto é canto da Guiné, ora em Batalhões. em Companhias, em Pelotões e Companhias independentes, mais a Aviação e a Marinha... Qualquer um de nós poderia estar em algum lado...
Querendo, facultarei a página onde constam todos os nomes dos militares que vê aí nesse desfile e onde verificará não constar o nome de Francisco Parreira - falecido e que muito lamento (...).



4. Mais tarde, e procurando a ajudar a  nossa amiga (, dentro daquele princípio da nossa Tabanca Grande segundo o qual "filho/a de um camarada nosso, nosso/a filho/a é"), sugeri à Filomena que fosse consultar a caderneta militar do seu pai... A 26 de julho ela trouxe, até nós, os seguintes elementos e identificação


De: [Filomena] Maria de Sousa [Parreira]
Data: 26 de Julho de 2012 12:15

Assunto: Meu pai, o Parreira

Bom dia caro Luis, já tenho novidades quando à identificação do meu pai, encontrei a caderneta e do que dela consta vejamos:

(i) 
Nome completo: Francisco Manuel de Almeida Parreira;

(ii) Nº matricula: 190543769;

(iii) Função : 1º cabo, curso Mec Elect auto;

(iv) Pertenceu  ao Grupo de Artilharia nº 7 [ O Grupo de Artilharia de Campanha Nº 7 - Grupo de Artilharia Nº 7 ( GAC 7 - GA 7) teve Início em 1Jul70, e foi extinto em 14 de Outubro 1974 ]

(v) Esteve em (ou passou por) as  seguintes unidades; RAP 3 em 1969; EPSM em 1970; RI 2 em 1970; GAC 7 e CICA em 1970; RAL 1 em 1972...

(ii) Embarcou em Lisboa em 18 de setembro 70 com destino ao CTIG;

(ii) Desembarcou em Bissau, em 24 de setembro de 1970;

(iii) Regressou a 8 novembro de 1972:

(iv) Considerado serviço na GUINÉ - 100% desde 24-09-1970 até 6/11/72 ou seja 2 anos e 44 dias.

Posto isto, espero que me ajudem de alguma forma a compreender a vida do meu pai na guerra, por onde ele andou e o que fez…

Pois ele era um homem bastante sociável, mas com uma forma de estar, um temperamento um pouco reservado, calado, resistente e muito teimoso, inclusive até revoltado, vivia no mundo só dele; quanto ao estado de saúde, não aceitava outras opiniões..e bastava ter tido um pouco mais de cuidado que não se ia assim tão de repente.

Eu creio que deve-se também ao facto dos traumas que teve lá fora... Não se relacionava de forma equilibrada o suficiente para aceitar que os outros também tinham razão ...e se preocupavam consigo, principalmente a família. Havia sempre um sentido de forte, homem resistente.

Melhor que ninguém os camaradas podem me falar um pouco desses tempos, uma vez que do meu pai pouco sei... Ele não falava muito desse tempo, nada mesmo, aliás não gostava nada de falar da guerra. Algo me diz que muito há a dizer sobre o que vocês lá viveram e, de alguma forma, consequências e os porquês. Eu leio a história e sei do que se trata, mas quando nos toca aos nossos queremos outras respostas…

Sabe, a família também viveu os fragmentos da guerra.... Do que eu vi, ele tinha estilhaços nos braços pois esteve no meio de uma bomba...

Quanto as fotografias, não me esqueci, estou a tratar de digitalizar, em breve envio, porque muito me custa mexer nas coisas dele…

obrigado pelo vosso apoio e ajuda, bjs, 
Filomena Maria de Sousa Parreira

5. Mais recentemente, a 8 do corrente, a Filomena mandou-nos uma foto do pai [, vd. acima],

(...) Conforme combinado junto envio as fotos do meu pai, que esteve em Guiné em 1970/72.
Ele nasceu em 10/08/48 e faleceu a 27/09/12 [?], tinha 63 anos...

Peço desculpa por só entregar agora, mas isto não tem estao bom, eu tenho estado um pouco em baixo...O verão foi difícil. Faz-me muita falta o meu pai. Obrigado pela força e apoio e desejo que alguns colegas amigos se lembrem dele e me digam histórias e passagens sobre a vida na guerra. (...)
 
PS - Eis umas palavras que li e gostei e fazem-me refletir...é tudo o que sinto... "E chegará o dia em que o pai se cala de vez e aí passamos a compreender tudo aquilo que ele nos disse, tudo aquilo que ele nos quis ensinar. A lágrima rola com o avançar do tempo mas os dias não voltam para trás, nem nós voltámos para trás... talvez a memória, talvez a dor, de certeza a saudade." (desconhecido)

6. Comentário de L. G.: 

Obrigado, Filomena, faz-lhe bem falar do seu pai, num blogue de camaradas de armas. Você está a fazer o luto. Também perdi o meu,  em abril deste ano, já com quase 92. Também estou a fazer o luto. Um pai é sempre  uma perda irreparável. Resta-nos a saudade, a partilha, a memória. Vamos ver se aparece alguém do tempo do seu pai, algum camarada da matrópole ou do GAC 7 (Bissau, 1970/72). Um bj. Luis Graça

PS - Presumo que a data da morte do seu pai esteja errada... Se ele morreu com 63 anos, deve ter sido antes de 10 de agosto de 2012. Não será antes junho ou maio de 2012 ? O seu primeiro comentário é de 5 de julho de 2012. Mas isso, não é relevante. Por outro, diz-me que me  mandou "fotos" (no plural)... Em anexo, só vinha esta, que agora publicamos acima. Deve ter fotos do tempo da Guiné. São mais fáceis de reconhecer por parte dos camaradas do seu pai.
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Nota do editor: 

Último poste da série > 27 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10445: Em busca de... (205): Manuel Moreira de Castro encontrou o camarada Santos, do BENG 447, ao fim de 44 anos

domingo, 20 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9928: Tabanca Grande (340): Lázaro Ferreira, ex-fur mil art, GA 7 (Bissau, Gadamael e Ingoré, 1974), hoje advogado em Braga




Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > Convívio do pessoal.

Fotos: Lázaro Ferreira (2012). Todos os direitos reservados.



1. Mensagem do nosso camarada Lázaro Ferreira, com data de 16 do corrente
Luis,

Como te disse [, ao telefone], hoje tirei um pouco de tempo à minha monotonia,  de modo a permitir fazer em scanner algumas fotos que tinha no meu álbum.

Algumas fotografias são passadas em Bissau, a piscina que se vê é (ou era) junto à residência dos oficiais, onde se via o cinema. Outras são tiradas em Gadamael [, vd. as duas fotos acima]. 


O soldado que está com os copos é o Virgílio, tinha acabado de ter a notícia do nascimento de um filho (confidenciou-me ele em 74); há mais duas do Virgílio, uma junto ao Obus em 1973 que depois em 74 passei eu a ser responsável por ele, sob a minha direção e do tal alferes que falas [. C. Martins].

Há uma fotografia com o Virgílio e o Furriel Oliveira à entrada da messe dos sargentos em Gadamael; Conheci o Virgílio quando veio do Benfica ou Sporting para nos finais de 60 e princípios de 70 jogar futebol para o Riopele, clube onde joguei nos Juniores algum tempo, daí a nossa amizade. Mas nunca mais o vi.

Há outras fotografias que vão desde os meus 14 anos, tiradas na cidade de Braga, quando estava no Seminário Diocesano; e outras recordações fotográficas até hoje, perpassando pelos tempos da Universidade do Porto e de Coimbra, retratando o meu amor pelo desporto: fui sócio da Académica, jogador do Grupo Desportivo de Joane e, mais tarde, de 1993 a 2006,  durante 13 anos, membro do Conselho de Disciplina e de Justiça na Associação de Futebol de Braga.


Entretanto, tirei dois cursos de pós – graduação em direito de desporto profissional pela Universidade Lusíada do Porto e de Coimbra.

Outras fotos retratam a minha queima das fitas, embora aqui não envie, tenho outras com os meus pais na queima das fitas que foi um grande acontecimento para eles e uma alegria para mim.

Envio 2 fotos sobre a festa,  memorável, que meus pais me fizeram quando terminei o curso de direito, em Abril de 1986. Em em 1976 passei pela Universidade do Porto, onde completei o 1ª ano do curso de História.

No ano 2010 recebi a RTP 1 e a SIC no meu gabinete em Braga.  porque tinha acabado de ganhar um processo sobre o vírus da Sida/Hiv2, que contaminou e matou um  constituinte meu, o qual tinha recebido sangue de um bom dador guineense, mas  nem sequer ele sabia que estava infetado nem havia rastreio para o detetar.

Também fui eu que despoletei o célebre "caso Mateus”, em 2006, ao colocá-lo nos Tribunais Administrativos, caso que contribuiu para a mudança dos regulamentos de transferências desportivas que estupidamente impediam um atleta, em certos termos, de se profissionalizar ao meio ou no final da época.

Em 2010, requeri o Tribunal de Júri num Julgamento na Guarda na sequência de um homicídio qualificado perpetrado por um homem que tinha morto à facada sua mulher com 17 facadas, estando por aí enxertos de entrevistas nos jornais nacionais, da Guarda, da agência Lusa….. E assim vamos.

Li o que escreveste sobre mim no blogue que criaste, obrigado.

Até qualquer dia, um abraço.

Lázaro


2. Comentário de L.G.:

Falando há dias ao telefone com o nosso novo grã-tabanqueiro, apurei mais o seguinte:

(i) O Lázaro Ferreira foi  furriel mil art do  Pel Art 23 de Gadamael (que se terá fundido com o 15, segundo informação do seu último comandante, o alf mil art C. Martins):

(ii) Foi para a Guiné depois já do 16 de março de 74;

(iii) Passou pelo GA 7, em Bissau;

(iv) Esteve três meses em Gadamael, presume-que  de abril a junho;

(v) Em Gadamael, apanhou os primeiros contactos com a malta do PAIGC;

(vi) Diz-me que "era um tipo popular, bom jogador de pingue.pongue, esquerdino", mas não se lembra do alferes Martins" (pelo nome);

(vii) Em contrapartida, o alf mil art Martins deve lembrar-se bem  dele, porque uma vez - já com os obuses desativados - o nossa pira foi para fora do quartel, mais uns tantos, dar uns tiros ao alvo, no mato... O que causou, naturalmente, algum alvoroço no quartel...  Podia ter apanhado uma porrada...

(viii)  Falou-me de alguns nomes, como o cozinheiro Tin-tin e o  jogador de futebol do Riopele, o Virgílio...

(ix) Depois disso, foi para Ingoré, junto à fronteira norte, com o Senegal, onde fez a retração do aquartelamento;

(x) Voltou à metrópole em 8 de setembro de 1974;

(xii) Estudou e viveu em Coimbra (a partir de 1978, se bem percebi);


(xiv) Apesar de ter pouco tempo, prometeu-me contar mais algumas histórias da Guiné.

O Lázaro Ferreira acaba de me mandar algumas das fotos do seu álbum. Fica apresentado formalmente à Tabanca Grande. É o grã-tabanqueiro nº 559. 
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9909: Tabanca Grande (339): João Caramba, ex-1º cabo trms, Pel Rec, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74, alentejano de Beja, nosso grã-tabanqueiro nº 558