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sexta-feira, 16 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18423: Notas de leitura (1049): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (26) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,

Permito-me destacar, em primeiro lugar, o notável contributo da Drª Lúcia Bayan, investigadora do povo Felupe, pelo documento que generosamente nos ofereceu, bem como as imagens que são da sua propriedade. Nunca ouvi qualquer referência a este monumento comemorativo do V Centenário do Descobrimento da Guiné, ainda mais em Chão Felupe. Não se pode deixar de ler o documento que a estudiosa elaborou, é um documento surpreendente. Bolama declina mas recebe de 30 para 31 de Maio de 1942 D. Duarte Nuno de Bragança que chegou num Clipper, seguirá depois para o Rio de Janeiro, irá casar-se com uma princesa brasileira.

Atenda-se, por último, aos pormenores do relatório sobre o mercado em tempo de guerra.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (26)

Beja Santos

A mudança da capital para Bissau e os acontecimentos relacionados com a II Guerra Mundial merecem acento tónico nos relatórios da agência de Bissau, em 1941. Falando da filial de Bolama, escreve o gerente de Bissau:

“À data que fazemos este relatório ainda Bolama não nos enviou cópia do seu relatório semestral, motivo porque nenhuma análise se lhe pode fazer. A praça de Bolama continua no seu natural declínio, e este irá acentuar-se, em Setembro futuro, logo que passem para Bissau as direções dos serviços que ainda ali estão e o próprio governo da colónia. Tirando um ou dois estabelecimentos comerciais que se equilibram, o resto do comércio não vale nada. Vegeta e prejudica, talvez, os que estão equilibrados.

Passados os serviços do Tesouro para Bissau, não há razão para que não se reorganize o serviço da filial da Bolama, de modo a que esta deixa de ser o pesadíssimo encargo que é, há tanto ano, isto se não se considerar melhor que feche totalmente.

Não podemos deixar de registar a falta de educação, de disciplina e de correcção que tem manifestado o encarregado, senhor Baptista, para com a gerência geral, da qual, nunca recebeu o menor agrado pessoal. Verifica-se um propósito firme de magoar e desrespeitar, rasando insolência no modo de escrever e até no modo propositado de fazer com que as suas incorrecções sejam conhecidas dos nossos subordinados. É de notar que o senhor Baptista, incorrecto em extremo, no procedimento e correspondência, é perfeitamente subserviente – sem necessidade nenhuma de o ser – quando está na nossa frente e isto atribuímos à duplicidade de carácter”.

E regista-se a situação da praça, nada lisonjeira:

“Como consequência da guerra, parte das casas estrangeiras têm afrouxado os seus negócios e estão impossibilitadas de despertar. Por esta última razão, têm reduzido as suas compras de produtos. A casa alemã Ringel, impossibilitada de trabalhar, visto não poder importar nem exportar, fechou os estabelecimentos que tinha na colónia. Como é excepção, as casas sírias têm desenvolvido uma actividade notável em que devem ter ganho imenso dinheiro. Movimentam-se com uma considerável actividade, quanto à aquisição de produtos da colónia e têm-nos vendido bem. Encheram-se de mercadorias estrangeiras, enquanto puderam e depois de mercadorias nacionais, compradas ainda a bons preços. A maior parte desta mercadoria tem sido passada para o território francês que é paga por todo o preço, não se importando as casas sírias de receber o pagamento em francos senegaleses pois deles carecem para o giro, ou de casas próprias que têm no Senegal ou para o encontro das suas compras com outras casas sírias estabelecidas em território francês.

Não se têm estas firmas importado com as sanções inglesas, visto que estão a trabalhar de um modo que não foi afectado pela vigilância. A única maneira desta vigilância os poder prejudicar seria proibindo-lhes as importações. Mas estas vêm de intermediários que só entregam as mercadorias depois de, em seu nome, as levantarem da Alfândega. Se não nos enganarmos, é de esperar que, para não saírem mercadorias para o território francês, os ingleses lancem mão de uma medida de violência extrema, tal seja a de tolher toda a importação de fazendas, mesmo das nacionais, para esta colónia. Os negócios referentes à mancarra têm mostrado certa actividade e os preços têm subido bastante, embora haja grande incerteza na exportação e colocação do produto. No final, é provável que venha a ser a Casa Gouveia a ficar com a quase totalidade da produção.

Quanto a negócios de borracha, têm-se registado uma actividade fora de vulgar. Negócio quase abandonado, ainda há dois anos activou-se de tal modo que, no fim do ano, existia na colónia um depósito aproximado a 600 toneladas deste produto cuja exportação tem sido dificultada pelo regime de contingentes imposto pelos ingleses. Os negócios de arroz seguem sem alteração sensível, a não ser quanto aos preços, elevados a demasiada altura pelo sócio da Sociedade Arrozeira da Guiné, Sr. Mário Lima, cujas intenções não se percebem, ao registar-se a concorrência deslealíssima e desinteligente que vem fazendo à Sociedade Comercial Ultramarina e de que resulta, principalmente, a alta que prejudica todos. 

 Os negócios de coconote e azeite de palma seguem com certa fraqueza de preços, o que resulta das dificuldades de exportação. Neste negócio, como no da mancarra, deve ficar em campo a Casa Gouveia. Criou-se um organismo especial para fiscalização de preços, mas estes têm sofrido aumento verdadeiramente criminosos, sem a menor sanção exemplar, por parte da autoridade administrativa, positivamente falha de autoridade moral para agir. Uma vergonha.

Deste modo, torna-se incomportável, relativamente aos ordenados, a vida de quem por aqui moureja e aqueles, dentro em pouco serão insuficientes se é que o não são já, na maioria dos casos”.

Recorde-se que nenhumas operações militares atingiram esta região da África Ocidental. Neste ano de 1941, a suceder Carvalho Viegas apresentou-se em Bolama o major de artilharia Ricardo Vaz Monteiro. Traz a incumbência, sem mais tergiversações, transferir a sede do governo para Bissau. A decadência de Bolama acentua-se. Em termos de orgânica militar, a Guiné tinha um chefe de Estado Maior, agora surge uma nova figura, a do comandante militar da Guiné. Como vimos atrás, o transporte aéreo veio acompanhado de uma enorme expectativa e, entretanto, chega a radiodifusão.

Em 1942, um acontecimento inédito ocorre em Bolama: D. Duarte Nuno de Bragança, a caminho do Brasil, onde se vai consorciar com uma princesa brasileira, é acolhido nas instalações do BNU, com muita afabilidade e discrição. O ministério das Colónias não podia envolver-se directamente. Deram-se horas confidenciais para que o gerente da agência de Bissau e sua mulher fossem receber D. Duarte Nuno na casa do BNU em Bolama. D. Duarte Nuno viajava com D. Filipa de Bragança, sua irmã, e uma comitiva composta pelos condes de Almada e de Castro e o Dr. João do Amaral. A missão discreta era de os receber, alojar e alimentar durante a sua estadia em Bolama, oferecendo-lhes inteiramente a casa, na qual não ficaria mais ninguém.

O Clipper chegou na manhã de 30 de Maio. Escreve o gerente para Lisboa em 9 de Junho:

“Fomos a bordo receber os ilustres hóspedes e conduzi-los à casa do banco, transmitindo ao Senhor Dom Duarte Nuno as instruções que tínhamos quanto ao seu alojamento e recepção.

Convidou então o gerente desta agência, sua esposa e filha a não mais os deixarmos, acompanhando-os nas refeições.

Para que nada faltasse, tivemos que nos instalar numa das dependências do rés-do-chão, deixando totalmente livre aos hóspedes o primeiro andar.

O governo da colónia forneceu louças, roupas, talheres e criados e a Pan-Am emprestou camas.
Os ilustres hóspedes almoçaram e jantaram no dia 30 e tomaram o pequeno-almoço no dia 31.
No dia 30 estava projectada uma caçada no continente, que foi substituída por um passeio a Fulacunda.

No dia 31 de manhã cedo, o Senhor Dom Duarte Nuno solicitou-nos que déssemos um passeio por Bolama, a pé a sós com ele, o que fizemos mostrando-lhe toda a cidade. Partiu no mesmo dia, pelas 10h30, com destino ao Brasil.

Estamos totalmente convencidos que cumprimos a missão de que fomos encarregados, tão bem quando era possível cumprir-se e de modo a ter em pleno cumprimento as ordens que vieram para a colónia e a ficarem satisfeitas as pessoas que hospedámos. De todos ouvimos palavras de agradecimento pelo modo como tinham sido recebidos.

Em 2 do corrente, dirigido pessoalmente ao gerente desta agência, chegou um telegrama do Senhor Dom Duarte Nuno, expedido do Rio de Janeiro, dizendo: ‘Muitos gratos generosa hospitalidade enviamos lembranças sua mulher e filha’ Duarte.

O governo da colónia, alheio oficialmente à recepção do Senhor Dom Duarte Nuno pôs já Sua Excelência o Ministro das Colónias com o detalhe desejado e telegraficamente, a par de tudo o que se passou e como tudo correu e que, na verdade foi o melhor que se podia arranjar.

Não telegrafamos a pedir instruções a V. Exa. sobre todo este assunto, porque pensámos que tudo que nos foi solicitado foi aí conhecido de V. Exa. por intermédio do ministério das colónias.

A despesa que fizemos foi de 732$00, que a filial adiantou sob a nossa responsabilidade pessoal, e que vamos receber do governo da colónia, ao qual já prestámos a respectiva conta”.

(Continua)


D. Duarte Nuno de Bragança e a sua mulher


“Foi aqui que o primeiro Felupe ergueu a sua casa da tradição” 

Estas são as palavras inscritas num marco implantado no chão Felupe para comemorar o V centenário da chegada dos portugueses à Guiné-Bissau.

Desde que, em 1446, Álvaro Fernandes desembarcou na praia de Varela e pela primeira vez contactou com os felupes, que estes são conhecidos pelo seu espírito guerreiro e aversão a qualquer tipo de poder externo. Nos primeiros séculos, eram temidos pelos seus ataques aos navios portugueses e pelas suas setas venenosas, aivadas nas palavras dos cronistas.

No século XVI, dizia Valentim Fernandes que os felupes tinham impedido a entrada dos portugueses na foz do rio Casamansa durante 25 anos. Uns séculos depois, em 1878, infligiram uma desastrosa derrota ao exército português, um episódio que ficou conhecido como “desastre de Bolol”. Na década seguinte, com as fronteiras delimitadas iniciam-se as campanhas de pacificação que se prolongam pelo século XX.

São várias as acções militares portuguesas efectuadas no chão felupe. René Pélissier, no 2.º volume da História da Guiné, portugueses e africanos na senegâmbia 1841-1936, descreve as várias campanhas, mostrando como foi difícil “pacificar” os felupes. O último grande confronto deveu-se ao desaparecimento do avião francês Potez-Salmson, em 30 de Junho de 1933. Este incidente, denominado Affaire Gaté, vai provocar, de 1933 a 1935, diversos e violentos confrontos entre portugueses e felupes.

Depois desta data, os felupes “sossegam”. Compreendendo que não serão capazes de impedir que outros, neste caso Portugal, dominem o seu chão, mudam de táctica adoptando “aquela resistência passiva mais difícil de vencer que a rebeldia”, como bem referiu Amadeu Nogueira (1947:716).

A mais brilhante acção dessa resistência passiva acontece quando a administração colonial decide comemorar o V centenário da chegada dos portugueses à Guiné-Bissau. Para isso, a administração colonial decide implantar um marco comemorativo no local onde, segundo o mito fundador dos felupes de Suzana, Emit-ai (Deus) deitou à terra um casal felupe, que construiu a primeira casa felupe e deu origem à primeira tabanca felupe, denominada Sabotul. Situada perto de Suzana, Sabotul terá sido destruída, provavelmente no século XIX, por Ambona, o herói felupe que fundou Suzana.

Conhecendo esta história, a administração colonial decidiu homenagear o mito felupe, quem sabe, provavelmente acreditando que a instalação do marco em Sabotul poderia ajudar a apaziguar a resistência felupe. Engano!

Mandou então arrebanhar um grupo de homens para desbravarem a floresta até ao local onde se teria situado Sabotul. Durante alguns dias os felupes abriram caminho pela mata até que um dia, cansados do trabalho e irredutíveis na sua resistência, disseram que já tinham chegado ao local e o marco foi aí instalado. Daquilo que se sabe as cerimónias decorreram pacificamente. No entanto, esta celebração foi mais uma derrota infligida pelos felupes, pois o marco não foi colocado em Sabotul, mas a alguns, muito poucos, quilómetros de distância, na estrada que liga Suzana ao porto de Buadje, onde os jovens suzanenses pescam deliciosas ostras.


Hoje, quase tapado pela floresta, o marco passa despercebido servindo apenas para provocar sorrisos nos felupes quando desperta a curiosidade de algum estrangeiro mais atento.

Lúcia Bayan
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Notas do editor

Poste anterior de 9 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18395: Notas de leitura (1047): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (25) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 12 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18406: Notas de leitura (1048): “A History of Postcolonial Lusophone Africa”, autor principal Patrick Chabal, com participações de David Birmingham, Joshua Forrest, Malyn Newitt, Gerhard Seibert e Elisa Silva Andrade, Hurst & Company; Londres, 2002 (2) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17907: Em busca de... (280): pai de Elisa Gomes, nascida em Geba, em 2/12/1968, filha da lavadeira Maria Assunção Sábado Teixeira, já falecida (em Bafatá, em 1990). O progenitor pode ser um militar da CART 1690 (Geba, 1967/69). A Elisa vive e trabalha em Albufeira (Fernando Chapouto, ex-fur mil op esp, CCAÇ 1426, Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, 1965/67)


1. Mensagem do nosso camarada Fernando Chapouto, originalmemnte com data de 2/12/2016. Por lapso, só agora é publlicada.

[O Fernando Chapouto foi Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426, Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, 1965 e 1967]

Assunto - Pedido de Ajuda para encontrar o pai de Elisa Gomes, um  militar português,

Peço aos meus amigos ex combatentes da Tabanca Grande, a encontrar o pai (ou o próprio que se pronuncie,)  de Elisa Gomes, nascida a 2 de dezembro de 1968, em Geba, Guiné – Bissau.

É filha de Maria Assunção Sábado Teixeira lavadeira do pessoal que morava por baixo ou ao lado da igreja.  A mãe faleceu em 1990 em Bafatá, onde se encontra sepultada.

Nesta altura a companhia que ali estava era a CART 1690 [, Geba, 1967/69] que rendeu a minha CCAÇ 1426 [Geba, 1965/67], por este motivo será fácil saber qual o pelotão aí destacado fins de fevereiro,  principio de março de 1968.

Como aqui junto a mim moram alguns africanos, especialmente da Guiné – Bissau,  alguns mesmo de Geba e com quem falo todas as semanas, um deles é primo da Elisa,  falou-me que a prima gostava muito de conhecer o pai, porque todo ser humano tem o direito de conhecer o pai, ela não apareceu por obra e graça do Espírito Santo.

Eu pergunto; de certeza que o referido militar quando regressou,  constituiu família e não abandonou os filhos.

Já falei várias vezes pelo telemóvel com ela, mora em Albufeira onde trabalha, as fotos que envio tirei-as do Facebook,  ao qual eu ainda não me adaptei muito bem.

Espero ter notícias e agradecia esta publicação.

Abraços

Fernando Chapouto

Fotos: Página do Facebook da Elisa Gomes (com a devida vénia...)


2. Comentários dos editores:

Fernando: Lapso nosso, acontece, e não é a primeira vez... Peço-te muita desculpa, a ti e à Elisa... Ainda vamos a tempo de publicar a tua mensagem, como vês... Diz-nos apenas se tens mais alguns elementos novos... A Elisa deve ter tido, através da mãe, mais dados sobre o pai: apelido, posto, especialidade e até, eventualmente, naturalidade... O pai (ou outra pessoa de família) poderá contactar a Elisa Gomes através da sua página do Facebook. Ou contactar os editores que estão obrigados, em casos como este, ao dever de sigilo.

Daqui a pouco menos de um mês, a Elisa vai fazer 49 anos...E que melhor poderia ela desejar ? Um sinal do seu pai ou da família do seu pai!... Oxalá ele esteja ainda vivo e de boa saúde!...

3. Comentário do nosso colaborador permanente José Martins:

Mais um caso acerca dos chamados "filhos do vento".

A boa prática, pelo menos na actualidade, era de que devia ter sido feito o reconhecimento de paternidade e o acompanhamento dos filhos gerados, mesmo que à distância. Tal não aconteceu neste e em muitos casos.

Mas entrando no que interessa: há que saber quem é que é o pai do neófito. Com base no nome, e nos meios militares, não é previsível o acesso ao seu processo individual porque só o mesmo o pode fazer ou, passados pelo menos 25 anos após a sua morte, por outro elemento.

Portanto,  só nos "meios civis" é possível obter os dados para a localização do visado. Quando só havia um operador telefónico e não havia telemóveis,  era possível através das informações da operadora obter alguns elementos. Agora isso é impraticável.

De qualquer forma, se puder ajudar, disponham.

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Nota do editor:


7 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17740: Em busca de... (279): Arq. Luís Vassalo Rosa, ex-Cap Mil, CMDT da CART 1661 (Henrique Matos e João Crisóstomo)

quarta-feira, 15 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17142: Convívios (784): XII Encontro do pessoal da CCaç 1426, 9 de Julho de 2017, em Odivelas (Fernando Chapouto)


1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos, a seguinte mensagem.

Camaradas, Junto envio o programa do nosso convívio dos 50 anos do regresso à Metrópole.

Permito-me representar os heróis de BANJARA na capital do OIO, onde apenas tínhamos por companhia todas as espécies de répteis, aves e macacos. 

XII ENCONTRO DA CCAÇ 1426 

06 DE MAIO DE 2017 – SÁBADO

Venho informar que o nosso encontro se realiza no CENTRO CULTURAL, Rua 25 de Abril, em ODIVELAS - FERREIRAS DO ALENTEJO, 7900-370.

Contamos com a vossa presença, para comemorar os 50 anos do nosso regresso à metrópole. Este convívio é histórico para todos nós, porque 50 anos não são 50 dias.

JUNTO ITINERÁRIO

GPS: 38.166155, - 8.148308

De Alcácer do Sal
Direcção ao Torrão pela Estrada N5, no Torrão virar à direita pela estrada N2 até Odivelas 

De Évora
Direcção a Viana do Alentejo – Alvito pela estrada N257até a Odivelas 57 Km, ou direcção Alcáçovas-Torrão pela estrada N 380 virar à esquerda pela N2 até Odivelas 62,2 Km

De Beja
IP8 até Ferreira do Alentejo virar à direita para a estrada N 2 até Odivelas

Do Sul
Direcção a Ferreira do Alentejo sentido estrada N 2 até Odivelas

Um forte abraço
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

sexta-feira, 10 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17124: Notas de leitura (935): Autóctones guineenses e portugueses: Contactos sempre difíceis, dos primórdios à independência (Mário Beja Santos)

Ângulo da Fortaleza de Amura
Imagem retirada, com a devida vénia, do blogue Marinha de Guerra Portuguesa


Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2015:

Queridos amigos,
A investigadora Maria Teresa Vásquez Rocha registou no seu trabalho alguns aspetos fundamentais que outros autores também confirmaram: a precariedade da ocupação do território, no fundo, e até às guerras da pacificação das primeiras décadas do século XX, a presença portuguesa circunscrevia-se a um conjunto de praças e presídios, eram inúmeros os conflitos com os régulos, a presença militar meramente simbólica, não se podia combater a concorrência que percorria livremente o que se chamava a Grande Senegâmbia; tropa mal remunerada e indisciplinada, mal equipada e insuscetível de poder sair das praças e presídios. Só no fim da primeira década do século XX é que o Governador Carlos Pereira mandou demolir as muralhas circundantes da fortaleza de Bissau, foram necessárias conversações morosas com os régulos de Bandim e Indim. Por último, a missionação não dispunha de recursos e o islamismo trazia para os autóctones aliciantes argumentos, era uma rutura menos drástica que o cristianismo pedia. É preciso atender a todos estes fatores para se perceber com a presença portuguesa que dava ao rei o título de Senhor da Guiné era uma quase quimera.

Um abraço do
Mário


Autóctones guineenses e portugueses: 
Contactos sempre difíceis, dos primórdios à independência

Beja Santos

A Revista Africana, que era editada pela Universidade Portucalense, no seu número de Setembro de 1997, publicava o artigo “Guiné: o gentio perante a presença portuguesa (II)”, por Maria Teresa Vásquez Rocha, trabalho que se inseria num projeto de investigação sobre o Islão na Guiné-Bissau, num arco temporal desde os primeiros contactos até à atualidade. A autora começa por dizer que a presença portuguesa deu sinais de crescimento a partir do século XVIII e ao longo do século XIX, expressando-se por relações comerciais, políticas e de caráter religioso. Este último aspeto prende-se com um dos maiores insucessos da missionação portuguesa que logo se viu confrontada com o proselitismo do Islão e a fortíssima e generalizada subsistência das crenças tradicionais africanas. Procurando descrever as Praças, e socorrendo-se de inúmera documentação que encontrou no Arquivo Histórico Ultramarino e que foi tratada em termos paleográficos, escreve claramente: “Uma vez que o apoio dado pela metrópole era reduzido ou nulo, as Praças e suas guarnições eram normalmente decadentes”.

Um dos aspetos singulares deste trabalho é exatamente a epistolografia que deixa bem claro quanto às queixas permanentes do abandono da Guiné. E muita dessa correspondência é endereçada ao governo em Cabo Verde, já que a Guiné apenas se autonomizou relativamente a Cabo Verde em 1879, até aí esteve dependente quase na totalidade de Cabo Verde em termos políticos, administrativos, militares e religiosos, como aliás António Carreira sintetizou admiravelmente: “As Ilhas eram o cérebro, o continente o corpo”.

Os estabelecimentos de Cacheu e Bissau tinham a caraterística particular de os titulares do poder local serem nomeados pelo rei, apesar de ficarem dependentes do governo de Cabo Verde.

O Capitão-Mor de Cacheu era provido nos cargos de Feitor e Juiz, subordinado ao Ouvidor de Santiago. Todo este excesso de acumulações se revelou prejudicial às praças, ao seu bom funcionamento. A documentação analisada permite avaliar casos repetidos de corrupção e grande negligência perante os interesses do Estado.

Para se avaliar como a Guiné era a parcela menor do governo de Cabo Verde, atenda-se ao significado da deliberação do Conselho de Estado, na sua reunião de 14 de Junho de 1653, determinado que os governadores de Cabo Verde visitassem pelo menos duas vezes o distrito da Guiné durante o seu triénio. Voltemos atrás à história das Praças. Em 1696 foi nomeado pela primeira vez um Capitão-Mor para a Praça de Bissau. As povoações de Geba, Farim e Ziguinchor tinham um comandante militar nomeado pelo governador de Cabo Verde. Era frequente enviar-se para estes presídios e praças soldados indisciplinados e punidos, antigos corrécios, que aproveitavam todos os pretextos para se insubordinarem, ou por falta do pagamento do pré, ou pelo fardamento estar desfeito e não ser substituído ou até mesmo por falta de armamento e munições.

No século XVIII, a soberania portuguesa é francamente precária e no século XIX a história da Guiné Portuguesa continua a mover-se à volta das povoações de Cacheu e Bissau, a soberania portuguesa fazia-se sentir apenas entre os rios de Casamansa e de Bolola.


Fortaleza de Cacheu
Imagem retirada, com a devida vénia, do blogue Alma de Viajante

Perante a penúria de meios e a mais completa desarticulação dos recursos, já desde o século XVII se ensaiavam formas de administração contemplando a criação de sociedades de caráter majestático. Em 1670, apareceu a primeira Companhia de Cacheu, com o exclusivo de navegação e comércio da Costa da Guiné. Resta dizer que tudo isto não passava de uma encenação, não havia meios de controlar as frequentes incursões dos concorrentes espanhóis, franceses e ingleses. Também nessa companhia majestática surgiram abusos e irregularidades, foi sol de pouca dura. A segunda Companhia de Cacheu, designada como Companhia de Cacheu e Cabo Verde, foi criada em 1690. À semelhança da primeira, gozava de uma série de benefícios e isenção de direitos. Mais abusos e irregularidades.

Em 1755, foi criada a Companhia do Grão-Pará e Maranhão, que passou a deter o monopólio do comércio das colónias de Cabo Verde e Guiné. Para além do recurso às companhias de caráter majestático, a colonização portuguesa foi levada a cabo por habitantes de Cabo Verde a quem foram concedidas facilidades no comércio a realizar na Guiné do Cabo Verde.

Observemos agora as Praças: viveram quase exclusivamente do comércio, o que quer dizer goma-arábica, cera, algodão, a par do ouro e dos escravos. Para a obtenção dos escravos, verifica-se uma enorme concorrência entre as potências europeias e aqui se pode perceber porque é que os régulos se sentiam muitas vezes lesados pelo facto dos portugueses venderem muitas vezes produtos de qualidade inferior por preços mais onerosos que a concorrência, e por isso batalhavam Para que aparecessem mais comerciantes, que houvesse maior liberdade de comércio, os religiosos também secundavam esta liberdade de comércio.

Estamos agora no fim do século XVIII, começa a questão de Bolama quando Philipe Beaver chega a Bolama à frente de bastantes famílias, vêm com o objetivo de se estabelecerem, Portugal não dispunha de capacidade militar para ripostar e os ingleses faziam contratos com os régulos de Canhambaque e Guínala. A presença religiosa, durante quase todo o século XVI, fora das fortalezas e feitorias, teve sempre caráter esporádico e provisório, havia as visitas dos frades de Santiago que regressavam depois às ilhas após alguns meses de pregação. Também os Jesuítas não foram bem-sucedidos. Os missionários viviam em extrema pobreza, não tinham meios para manter as igrejas. Ainda foram batizados alguns régulos, mas revelou-se trabalho inconsistente. Onde a missionação teve algum sucesso foi junto dos Grumetes, que eram empregados nos trabalhos auxiliares de porto e dos navios, a designação tornou-se extensiva a todos os naturais que, convertidos ao cristianismo, adaptassem normas e apelidos portugueses.

 O islamismo penetrou na Guiné trazido pelos Mandingas, a propagação da doutrina foi um processo lento mas duradouro, com algumas originalidades de aculturação. Mandingas, Fulas e Sossos foram as etnias mais islamizadas. O islamismo, quando comparado com o cristianismo, revelava-se menos exigente para o africano, o cristianismo obrigava a uma drástica rutura com princípio em crenças ancestrais, o islamismo foi sempre mais flexível. Isto para não deixar de referir a questão elementar da monogamia e da poligamia. No termo do seu trabalho, a autora descreve a importância das confrarias (a Qadiriya e a Tidjaniya eram as mais importantes). Os missionários supunham que a conversão do régulo se traduzia automaticamente na tradução do seu povo, não se apercebiam que os régulos eram nomeados pelos conselhos dos homens grandes e estes tinham uma maior influência que o régulo junto das populações.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17109: Notas de leitura (934): “O Adeus Ao Império, 40 anos de descolonização portuguesa”, organização de Fernando Rosas, Mário Machaqueiro e Pedro Aires Oliveira, Nova Veja, 2015 (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16162: Convívios (752): 11º Convívio da CCaç 1426, 9 de Julho, no Seixal (Fernando Chapouto)

1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos, a seguinte mensagem.

XIº CONVÍVIO - CCAÇ. 1426




Camaradas, 

A Companhia de Caç 1426 (1965/67), vai organizar o seu XI º. Convívio na localidade de Pinhal do General, "Quinta do Conde", FERNÃO FERRO, Seixal, organizado pelo ex-Soldado Condutor Manuel Pereira com a colaboração do ex-Fur. Mil. OpEsp - Fernando Chapouto -, no próximo dia 9 de Julho (Sábado).



Um forte abraço
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426

PS: Junto envio itinerário e ementa e novas fotos para vigorarem nos próximos pósteres. 
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Nota de MR:

Último poste da série em:

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15415: Os manuais escolares que nos forma(ta)ram (1): Geografia, Portugal e Colónias, 3ª e 4ª classes, de A. de Vasconcelos, c. 1940 - Parte I: "A superfície das colónias portuguesas é 23 vezes maior que a superfície de Portugal Continental" (p. 93)... Éramos então a maior potência colonial, a seguir à Inglaterra e à França...



VASCONCELOS. A[ugusto Pinto Duarte] de - Geografia Portugal e Colónias, 3ª e 4ª classes, nova edição. Porto: Editorial Domingos Barreira, [1940], 118 + 1 pp., ilustrado, 18 cm. 

[Cópia em formato ppt que nos chegou por intermédio do nosso grã-tabanqueiro Mário Beja Santos... Há também uma cópia disponibilizada na Net por Armando Oliveira  Professor, Escola Secundária de S. Pedro da Cova, em 25 de junho de 2015]


Este livro do professor do ensino oficial Augusto de Vasconcelos já ia na 5ª edição, em 1930 (ano em que terá falecido, no Porto, segundo o Arquivo Municipal do Porto). Temos dúvidas sobre a data desta "nova edição", mas só pode ser dos anos 40: Bissau torna-se a capital da Guiné em 1941... não sabemos como o manual foi sendo atualizado e editado, depois da morte do autor).

Também não sabemos se chegou a  tornar-se livro  único, de acordo com a orientação do todo poderoso ministro António Carmeiro Pacheco (1887-1957), nos anos 30, que definiu as grandes linhas da política de educação nacional sob o Estado Novo:  (i) transformação do Ministério da Instrução Pública (designação cara à I República) em Ministério da Educação Nacional; (ii) criação da Mocidade Portuguesa, Mocidade Feminina e Obra das Mães pela Educação Nacional; (iii) criação da  Junta Nacional da Educação, a par do Instituto para a Alta Cultura, a Academia Portuguesa da História e o Instituto Nacional de Educação Física; (iv) introdução do modelo do livro único; (v)  obrigatoriedade de afixação do crucifixo nas salas de aula; (vi)  casamento das professoras sujeito à autorização do Estado. (A Reforma Carneiro Pacheco ficou definida pela  pela Lei n.º 1941, de 11 de Abril de 1936, a Lei de Bases da Educação do Estado Novo).

Segundo Sérgio Claudino ("Os compêndios escolares de geografia no Estado Novo: mitos e realidades", Finisterra, XL, 79, 2005, pp. 195-208), a disciplina de geografia foi suprimida no ensino primário, nos anos 30, mas continuaram a produzir-se manuais... No ensino liceal, só "em meados dos anos 50, se inicia a aprovação de livros únicos de Geografia, de conceituados professores liceais"...

Segundo o citado autor, há uma primeira reforma da instrução primária, em 1927, sob a Ditadura Militar. Na 3ª classe, "os alunos abordam noções gerais de Geografia e aspectos físicos de Portugal". Na 4ª classe, dava-se a "orografia de Portugal e Colónias"... A reforma de 1929 vai acrescentar o estudo do Brasil, até então o principal destino da emigração portuguesa. É nesse ano que se abre "concurso para a aprovação governamental dos livros escolares que os professores poderão seleccionar" (p. 197)... Em 1937, abre-se concurso para o livro único, mas não aparecem textos de qualidade.  O autor onsagrado e reconhecido pelas autoridades eram  o Acácio Guimarães( Noções de Geografia da 3.ª e 4.ª classes. Lisboa: Livraria Popular de Francisco Franco, 1931).

O ensino da Geografia vai-se manter, na instrução primária, até aos anos 60, em "ilegalidade formal"... É nessa época que aparece a disciplina de Ciências Geográfico-Naturais nas quatro classes...

Portanto, é bem possível que alguns de nós ainda tenham conhecido este manual de Geografia de A. de Vasconcelos. Tenho ideia que o meu pai estudou por ele... 



Geografia, op. cit., p. 93: "A superfície das colónias portuguesas é de 23 vezes maior que a superfície de Portugal Continental", o que nos coloca(va) entre as três maiores potências coloniais do mundo...

Geografia..., op. cit, p. 82: o território era então dividido em 3 partes, espalhadas por 4 continentes; (i) Continental; (ii) Insular (ou "ilhas adjacentes"); e (iii)  Ultramarina ("colónias ou províncias ultramarinas").


Geografia..., op. cit, p. 83





Geografia... op cit, pp. 97, 99-100 > 

Sobre a província da Guiné ficamos a saber que na época [c.1940] tinha à volta de 600 mil habitantes. (Estamos em crer que este número está sobreestimado:  a população da Guinée era de 519 mil (1960), tendo descrescido para 487,5 mil (em 1970)... É hoje de 1 milhão e meio.

A capital já era, nessa altura,  Bissau. E outras "povoações importantes" eram Bolama, Cacheu, Farim, Geba (!), Buba e Cacine... Repare-se que Bafatá nem sequer consta da lista: a única povoação importante do leste (chão fula) é Geba, completamente decadente no final dos anos 60, ofuscada pela vizinha Bafatá!... O desenvolvimento de Bafatá (a "princesa do Geba") estará ligado à expansão da cultura da mancarra, a partir dos anos 40.

Ah!, e ainda segundo o manual,  "nos sertões há muitos animais ferozes": tigre (!) (sic), leão, pantera, onça, lobo e hiena... (Essa do tigre, um felino asiático, dá vontade de rir!)... De entre as produções agrícolas, destaca-se depois do arroz e do milho, a "jinguba" (mancarra, no nosso tempo)...

Geografia..., op. cit, p.  98

Já desde o liberalismo, em meados do sec. XIX,  e até à rectificação de fronteiras com os franceses (que levou à troca da região de Casamansa com a de Cacine ou de Quitafine, em 1886), a Guiné estava dividida em dois distritos:  (i) Bissau, que compreendia as praças de S. José de Bissau, com as dependências do presídio de Geba (*), da feitoria de Fá, das ilhas de Bolama e das Galinhas; e (ii) Cacheu, que compreendia Ziguinchor (hoje capital de Casamansa, no Senegal), Cacheu, Bolor e Farim.  Este mapa é revelador da fraca penetração portuguesa no interior do território até à I República...

É bom recordar que a Guiné só em 1879 é que se separa administrativamente de Cabo Verde. É nessa altura que Bolama passa a ser a capital. Só seis décadas depois, em 9 de dezembro de 1941, é Bissau se torna a moderna capital da colónia, conhecendo então um surto de desenvolvimento sob a ação enérgica e esclarecida do governador Sarmento Rodrigues.

Na época a Guiné Portuguesa fazia fronteira com a Guiné... Francesa.

(Edição das imagens  e notas: LG)
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Nota do editor:

(*) Sobre "presídio de Geba" nos finais do séc. XIX, vd. poste 21 de junho de 2005 > Guiné 63/74 - P71: Antologia (3): Sócio-antropologia da família e da mulher em Geba, nos finais do Séc. XIX (Marques Lopes)

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15388: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (3): O que é um homem precisava no mato, num miserável destacamento como o de Banjara, em 1967 ?



Foto nº 1 >  A "lavandaria" de Banjara... O detergente OMO eras um bem de primeira necessidade


 Foto nº 2 > Com acúcar, com afeto...



Foto nº 3 > Fósforos e cigarros: outros dois produtos de primeiríssima necessidade no mato...


Foto nº 4 >  Só havia 3 camas e 3 colchões (!)  para as praças do pelotão. o cmdt,  alferes Alfredo Reis, aqui
à entrada de um abrigo...



Foto nº 5 > Inventário das munições existentes no destacamento de Banjara, em 5 de junho de 1967... 7900 cartuchos de 7,9 m/m (para Mauser, usada pela milícia) e 4000 cartuchos de 7,62 m/m (para a G3)... Em caso de ataque, os defensores teriam mesmo que poupar as munições... As munições de G3, a divirdir, por 30 homens, davam para 6 carregadores (de 20)... O ataque a um destacamento como este, à noite, isolado, sem possibilidades de socorro, podia dura 1, 2, 3 horas...



Foto nº 6 > Requisção de material, com data de 9/VI/67:

fósforos, 
palha de aço, 
camisas para petromax de 150 velas, 
torcida e vidro (?) para o frigorífico, 
pregos (...), 
aerogramas, 
selos, 
12 esferográficas (uma vermelha e as outras azuis), 
bloco de cartas, 
OMO e sabão, 
uma garrafa de whisky,  
Sumol ou outros sumos, 
camas e colchões para as praças (só havia 3...), 
500 tijolos (...), 
cabeça para a máquina a petróleo (...),
3 jogos de talheres,  
12 pratos de alumínio, 
1 barril de vinho, 
latas de cerveja 
e 100 gramas de piri-piri... 

Nota final: "Agradecemos o envio dos artigos requisitados e os preços dos que têm de ser pagos por nós".



Guiné > Zona leste > Geba > CART 1690 (1967/69) >  Destacamento de Banjara c. 1967


Fotos: © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG] (*)



Dois antigos alferes da CART 1690: Alfredo Reis (à esquerda)
e Domingos Maçariço (à direita). 24 de julho de 2010:
recordando, 42 anos depois, o ataque ao destacamento de
Banjara. Foto: Alfredo Reis (2010)
1. As fotos (acima. numeradadas de 1 a 6) são do álbum do ex-alf mil Alfredo Reis que, tal como o A. Marques Lopes, pertenceu à CART 1690. juntamente com o António Moreira e o Domingos Maçarico, todos  eles membros da nossa Tabanca Grande.

O Alfredo Reis é veterinário, reformado, vivendo em Santarém.    A seleção, a legendagem e a organização temática do álbum (cerac de 170 fotos) são do A. Marques Lopes. (*)

 Além da sede (Geba), o Alfredo Reis esteve nos vários destacamentos da CART 1690, alguns dos quais, como Banjara e Cantacunda, eram os piores "buracos" do CTIG na época. 

Os destacamentos não tinham luz eléctrica e as condições de segurança eram precárias. Banjara (a noreste, mais próximo de Mansabá) e Cantacunda (a norte) eram os destacamentos mais distante: ficavam a 45 km e 50 km, respetivamente, da sede da companhia, que era em Geba...

Banjara não tinha população civil (apenas milícia em reforço...) e estava cercada por mata densa; era defendida nesta época por um pelotão, 30 efectivos (, podendo ser reforçado); a um quilómetro havia uma fonte onde, alternadamente, os NT e o PAIGC se iam fornecer de água. Às vezes, encontravam-se… Mas havia uma fuga concertada dos dois lados, sem tiroteio. (**)

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Notas do editor:

(*) Postes anteriores da série:

15 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15371: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (1): Eu e o meu pelotão em Cantacunda (Parte I)

19 de novembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15386: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (2): A visita, à sede da companhia, do Conjunto Académico João Paulo, em 24 de agosto de 1968



(...) «Banjara fica situada a cerca de 40 Km de Geba e a cerca de 20 Km de Mansabá, na estrada Bissau/Bafatá. Fica no coração da mata do Oio, e teve, antes da guerra colonial, uma unidade industrial de serração de madeiras. (...)

(...) Banjara gozava da fama, e do proveito, de ser o segundo pior destacamento da Guiné, a seguir a Beli, na zona de Madina do Boé. Não apenas pelos ataques mas, sobretudo, pelo perigo que representava, por estar muito isolado da Companhia, e por estar cercado por uma cintura de destacamentos IN, que vigiavam de fora do arame farpado e do alto das gigantescas árvores que o envolviam todos os movimentos da nossa tropa [tinha Sinchã Jobel do lado sul e Samba Culo do lado norte].

O destacamento era constituído por uma caserna, quatro abrigos subterrâneos e um posto de comando, que era uma casa abarracada, sem portas nem janelas, por onde os sardões e as cobras vagueavam livremente, sem nenhum obstáculo que lhes barrasse a passagem, a não ser a presença humana. Tinha ainda outros abrigos à superfície. A envolver este destacamento, que no essencial era uma clareira circular com cerca de mil metros de diâmetro, duas fiadas de arame farpado paralelas e em círculo. O capim era necessário cortá-lo de dois em dois meses, para evitar a aproximação camuflada do IN. As casas de banho, como é de calcular, eram a céu aberto.

A guarnição deste destacamento, comandado por um alferes, variava entre 60 a 80 homens, normalmente (houve alturas em que tinha só um pelotão), bem armados e disciplinados, capazes de aguentar debaixo de fogo uma boas dezenas de horas. O seu comando era rotativo (...).

(..:) O dia, em Banjara, iniciava-se naqueles anos (1967/1968), por volta das 18 horas. A essa hora o Comandante mandava distribuir a 3ª refeição, e as sentinelas avançadas ocupavam os seus postos. Toda a gente vestia então o seu camuflado, calçava as botas e recarregava as armas. Não é que de dia estivessem todos a dormir, mas durante a noite entrava-se em alerta máximo. Durante a noite era rigorosamente proibido acender luzes, fazer fogo e fumar à vista desarmada para não denunciar a presença e a localização de ninguém.


Tomada a 3ª refeição e colocadas as sentinelas, que eram sempre dobradas, iniciava-se toda uma série de rondas de posto a posto, podendo os soldados que estavam de folga, e só nos abrigos subterrâneos, jogar cartas, conviver e confraternizar, pôr a correspondência em dia, etc.  (...)

Durante a noite, de vez em quando, uma sentinela nossa dava um tiro, à aproximação do arame farpado de um macaco ou qualquer outro bicho (podia não ser...). Logo todos corriam para as armas pesadas e, normalmente, o IN respondia com dois tiros ao longe. Então a nossa sentinela, aquela ou outra, respondia passado algum tempo com três tiros. A seguir a resposta de novo do IN, então com 4 tiros. Era um jogo macabro, que nos mantinha constantementevivos e despertos.

O dia amanhecia, então, e, pelas 7 da manhã, iniciava-se a distribuição da 1ª refeição. As horas mortas do pessoal eram gastas, durante o dia, à caça, quando isso era possível e o capim estava seco e caído no chão, a jogar cartas, pôr a correspondência em dia e jogar futebol. O jogo de futebol era normalmente diário, mas sempre a horas diferentes, para não se cair na rotina, e sempre com os abrigos guarnecidos de atiradores.

Terminada a 1ª refeição iniciavam-se os trabalhos de rotina, para o que o efectivo estava dividido em 4 grupos, cada um deles composto por 15 ou 20 homens, comandados por um sargento.Um grupo estava de serviço à água e à lenha para as refeições. Os banhos eram tomados na bolanha a um quilómetro do arame farpado, e sempre com 10 ou 12 homens armados em vigia. Outro dos grupos era o piquete que realizava, normalmente, uma patrulha de reconhecimento nas imediações do aquartelamento. O terceiro grupo estava de prevenção rigorosa e o quarto estava de folga.

Este destacamento tinha apenas uma coluna de reabastecimento por mês, no máximo, mas chegava a estar mais de 2 meses sem alimentos frescos e sem correio. Não havia população civil, apenas militares.(..:)

(...) [Em Outubro de 1969, quando a CART1690 saíu de Geba, a CCAÇ2406, que estava
em Mansabá, colocou um pelotão em Banjara. No entanto, saíu de lá em Janeiro
de 1970, sendo o destacamento desactivado] (...)

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15386: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (2): A visita, à sede da companhia, do Conjunto Académico João Paulo, em 24 de agosto de 1968



Foto nº 1 > Ao centro, um dos elementos do conjunto João Paulo, fardado, com o posto de alferes, dando autógrafos... Seria  o viocalista,  Sérgio Borges ?


Foto nº 2 > O João Paulo Agrela, ao centro, o fundador do grupo, Está fardado, e era furriel (. Morreu em 23/4/2007)



Foto nº 3 > Foto do grupo com militares da CART 1690 

Foto nº 4 > João Paulo (ou Sérgio Borges ?) ao centro, e à sua dois alferes da CART 1690  (um deles, à civil, o Alfredo Reis) e o 1º sargento



Foto nº 5 > Não sabemos quem é levado em ombros. Presume-se que seja um dos elementos do grupo, talvez o vocalista Sérgio Borges (1943-2011) ou então um dos alfgeres da CART 1690. Só o Alfredo Reis poderá esclarecer... De qualquer modo, foi um dia diferente, foi um dia de festa em Geba, o 24 de agosto de 1968...


Guiné > Zona leste > Geba > CART 1690 > 24 de agosto de 1968 > O conjunto musical João Paulo em digressão pela Guiné... Tal como no caso de  outros artistas populares na época, como a Florbela Queiroz, a digressão à  Guiné do Conjunto Académico João Paulo
era uma  iniciativa do Movimento Nacional Feminino (MNF). Este  conjunto fez digressões também por Angola e Moçambique,  durante a guerra colonial, além de países estrangeiros como os EUA. (Por exemplo, um ano depois, estavam em Moçambique a atuar para o BART 2838, 1968/70).

Foram fundadores do grupo, madeirense, pioneiro da música "rock" em Portugal (a par de Os Sheiks, Os Conchas, Chinchilas, Duo Ouro Negro, Quarteto 1111 e Demónios Negros, entre outros) os seguintes elementos:   João Paulo Agrela (1942-2007) (teclas), Carlos Alberto Gomes (guitarra), Rui Brazão (guitarra ritmo), Ângelo Moura (baixo), José Gualberto (bateria, falecido em 2004) e Sérgio Borges (1943-2011) (vocalista).  Não sabemos se todos estes participaram nesta digressão à Guiné, em 1968 ou se estavam na altura a cumprir o serviço militar na Guiné... Três ou quatro elementos do grupo passaram pelo EPI (Mafra), onde fizeram a recruta, no turno de setembro de 1966... Como se vê, dois anos depois  ainda estavam na tropa... Do tempo de Mafra, ficou a canção (pouco conhecida) O Salto (disponível no You Tube).

Fotos: © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG] (*)



Fotograma do vídeo (2' 43''), disponível no You Tube, com a composição O Salto, de 1966, retrato algo cáustico da instrução que era dada na EPI, na famosa Máfrica, por onde passaram alguns dos elementos do Conjunto Académico João Paulo. A voz que se ouve, belíssima, era a do talentoso Sérgio Borges, já falecido. O vídeo utiliza, sem o citar, várias fotos do nosso blogue... Disponível aqui.





Comjunto Académico João Paulo > Os elementos do grupo fizeram, todos,  o serviço militar. Foto: Cortesia da página Sérgio Borges e o Conjunto Académio  João Paulo - Clube de Fâs


Não há indicação de data nem local... Mas a foto pode muito bem  ter sido tirada em 1968, em Bissau, junto ao palácio do governador geral. (Parece-nos descortinar ao fundo uma das paredes laterais do palácio)... Na foto veem-se os seis elementos do conjunto, de camuflado, prontos para partir para o mato (?), mais o alferes do QG que, muto provavelmente, fazia de relações públicas ou de elemento de contacto (?).


1. Foi assim que a agência Lusa deu a notícia da morte do João Paulo:

Morreu João Paulo Agrela, do Conjunto Académico João Paulo
Agência LUSA24 Abr, 2007, 18:33 

(Fonte: RTP, com a devida vénia)

O corpo do artista está em câmara ardente na igreja de Nossa Senhora de Fátima, da Cova da Piedade, e o funeral realiza-se quarta- feira, às 14:00, no cemitério do Feijó.


Capa de um LP com compilações do grupo. Foto:
Cortesia de Sérgio Borges e o Conjunto Académio
João Paulo - Clube de 
Fãs. O João Paulo é o primeiro da
da esquerda, de camisola vermelha,
O Conjunto Académico João Paulo, um dos mais populares grupos musicais portugueses dos anos 60, era constituído por João Paulo Agrela, Sérgio Borges (o vocalista), Carlos Alberto, Rui Moura e Gualberto, todos eles estudantes.

Antes da explosão do "rock" em Portugal, o Conjunto gravou versões de cantores de sucesso da altura como Adamo, Gilbert Bécaud e Charles Aznavour, mas são da sua autoria duas das canções que os tornaram mais conhecidos: "Hully Gully do Montanhês" e "Milena (a da Praia)".




O êxito do conjunto "impôs" a sua vinda da Madeira para Lisboa, onde o empresário Vasco Morgado o contratou para espectáculos no Teatro Monumental e a rádio emitia os seus trabalhos com regularidade.

A projecção do vocalista do grupo [, Sérgio Borges,], que iniciou uma carreira a solo, acabaria por determinar o fim da carreira do conjunto, que tinha tido uma participação no Festival RTP da Canção, em 1966, com «Nunca Direi Adeus».


A Valentim de Carvalho editou em 1993 alguns dos êxitos do grupo num CD intitulado "Os grandes  êxitos do Conjunto Académico João Paulo".  (**)


2. Sobre a história do Conjunto  Académico João Paulo, que era muito popular entre a nossa tropa, no nosso tempo,  ver ainda:



(ii) Sérgio Borges e o Conjunto Académico João Paulo - Clube de fãs

Um facto, desconhecido para muitos, é a revelação da Cecília Supico Pinto na sua biografia, escrita por Sílvia Espírito Santo ("Cecília Espírito Santo,o rosto do Movimento Nacional Feminino, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2008, pp. 144): foi ela que "conseguiu que os músicos do 'Conjunto João Paulo' cumprissem o serviço militar actuando no mato em digressões pelas 'províncias' ".

Ela sabia, de resto, da experiência norte-americana na II Guerra Mundial, da importância que tinham, sobre o moral das tropas em África,  as atividades de natureza lúdica, como os espetáculos musicais ao vivo, feitos por artistas em voga, vindos da metrópole.

Enfim, uma forma barata, para o MNF, de entreter a malta... Como é sabido, esta mulher podia tudo, tendo acesso direto e privilegiado a Salazar...


Dois antigos alferes da CART 1690: Alfredo Reis (à esquerda)
e Domingos Maçariço (à direita). 24 de julho de 2010:
recordando, 42 anos depois, o ataque ao destacamento de
 Banjara. Foto: Alfredo Reis (2010)
3. As fotos (acima. numeradadas de 1 a 4) são do álbum do ex-alf mil Alfredo Reis que, tal como o A. Marques Lopes, pertenceu à CART 1690. juntamente com o António Moreira e o Domingos Maçarico  (. Os quatro dão-nos a honra da sua presença à sombra do poilão da Tabanca Grande).

O Alfredo Reis é veterinário, reformado, vivendo em Santarém. Sabemos que não é muito fã da Net...

As fotos chegaram-nos por intermédio do A. Marques Lopes.  A seleção, a legendagem e a organização temática são dele, A. Marques Lopes. (*)

Nesta data, 24/8/1968, o A. Marques Lopes já não estava na CART 1690: depois de regressar da metróple, onde esteve em tratamento e convalescença de um ferimento em combate, foi colocado em Barro, na região do Cacheu, na CCAÇ 3.

Além da sede (Geba), o Alfredo Reis esteve nos destacamentos, alguns dos quais, como Banjara e Cantacunda, eram os piores "buracos" do CTIG na época. (LG)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 15 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15371: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (1): Eu e o meu pelotão em Cantacunda (Parte I)

(**)  "Os Grandes Êxitos do Conjunto Académico João Paulo", compilação, Vadeca / EMI 7-243-8-27483-2-8, 1993: Track listing:

1 Eu tão só (Et pourtant) | 2 Capri C'est Fini | 3 Ma Vie | 4 Se Mi Vuoi Lasciare

5 Hully Gully do Montanhês | 6 Se Piangi, Se Ridi | 7 Non Son Degno di Te

8 Milena, A da Praia | 9 Ciao | 10 Nunca Direi Adeus | 11 Stasera pago Io 12 | L'amour Est Bleu

13 Cosa Vuoi da Me | 14 Kilimandjaro | 15 Onde Vais Rio que Eu Canto | 16 Canção de madrugar

17 Corre Niña

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15150: Os jogos de cabra-cega: Sinchã Jobel (A. Marques Lopes) (Parte IV): Op Insistir (27/10/1967): com a 5ª CCmds e dois 2 grupos de combate de cassanhos, da CART 1690


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5




Foto nº 6

Guiné > Zona Leste > Setor L2 > Geba > CART 1690 (1967/69) > Destacamento de Banjara > 1968 > O destacamento não tinha população civil e era defendido por um pelotão da CART 1690. Distava 45 km de Geba, sede da companhia.

As fotos são do ex-Alf Mil Alfredo Reis que,  tal como o António Moreira, o Domingos Maçarico e o A. Marques Lopes, era da CART 1690. Os quatro  figuram na lista dos membros da nossa Tabanca Grande. O Alfredo Reis é veterinário, reformado, vivendo em Santarém. As fotos chegaram-nos por  intermédio do A. Marques Lopes.

Na foto nº 2,  ao centro, em segundo plano, está o nosso amigo e camarada Alberto Branquinho, hoje advogado e escritor, ex-alf mil op esp da CART 1689 / BART 1914,  que foi encontrar, em Banjara, o seu amigo e condiscípulo do liceu de Santarém, o alf mil Alfredo Reis, da CART 1690 / BART 1913. Aceitam-se legendas para as fotos...

Fotos: © Alfredo Reis / A. Marques Lopes (2007).  Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



Mais três textos de A. Marques Lopes, publicados no poste P40, em 3/6/2005: Sinchã Jobel IV, V e VI (*):

Continuação da publicação desta série, "Jogos de Cabra-Cega: Sincha Jobel", com a reedição de alguns postes do A. Marques Lopes, que tem por objeto central a descoberta e a tentativa de destruição, pelas NT, de Sinchã Jobel, uma base ("barraca") do PAIGC, em pleno coração da Guiné, na zona leste, no regulado de Mansomine, entre Mansambé e Geba. 

São os postes nº 35, 36, 39, 40, 45 e 763, originalmente inseridos na I Série, e como tal como pouco lidos e conhecidos... Fizemos a revisão de texto (e atualizámos o texto de acordo com a ortografia em vigor). (*)

Estes "jogos de cabra-cega" fazem parte da trama do romance que o A. Marques Lopes lançou, recentemente, em junho passado, sob a chancela da Chiado Editora (capa ao lado). O autor, João Gaspar Carrasqueira, é pseudónimo literário. Aiveca, a personagem central do romance, é o "alter ego" do A. Marques Lopes. A editora meteu o livro na sua coleção "Bios", classificando-a como "biografia" e não como "romance"... Na realidade, é uma autobiografia ficcionada, de 582 pp.

Lembram-se do jogo da cabra-cega, do nosso tempo de infância e de escola? "Tapam os olhos ao que é apontado para ser cabra-cega, Dão-lhe várias voltas para perder o sentido de orientação. Dão-lhe empurrões para o desorientar ainda mais e não saber para onde se virar" (, preâmbulo do livro). A vida (e a guerra) é um jogo de cabra-cega.

Por mais de uma vez, o A. Marques Lopes usa o termo "cassanho" que não vem nos dicionários de língua portuguesa. Era sinónimo de "tropa macaca", confirma-me ele. Alguém se lembra também de o usar no TO da Guiné ? Se sim, vamos nós grafá-lo.


Guiné > Zona leste > Carta de Bambadinca (1955) > 1/50 mil > Posição relativa de Sinchã Jobel, no regulado de Massomine.  Banjara e Mansambá ficavam, a noroeste, Geba e Bafatá a sudeste, Bambadinca  a sudoeste.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)



1. Foi a operação que se fez a seguir àquela em que entraram dois grupos de comandos, e que ficou em águas de bacalhau... Esta foi feita com cassanhos, só, e deu o que vão ler.

A operação foi comandada do PCV (Posto de Controlo Volante) pelo Comandante do Agrupamento. O Agostinho Francisco da Câmara (e não Camará), morto na operação, era açoriano e do meu grupo de combate; o Armindo Correia Paulino, aqui referido, também era do meu grupo de combate, o Bigodes, como lhe chamávamos, um minhoto que foi, mais tarde, aprisionado pelo PAIGC em Cantacunda e que acabou por morrer no cativeiro, em Conacri.

Um esclarecimento: os nomes das operações nesta zona começavam todos por "I" ou por "J".

"17. Op Imparável. 15 de 16 de Outubro de 1967:

"Situação particular:

"O IN tem-se revelado no regulado de Mansomine não só durante as operações, como em ataques a tabancas e aquartelamentos. Possui um acampamento na região de Sinchã Jobel que lhe serve de base às suas acções.

"Missão:

-Golpe de mão ao acampamento de Sinchã Jobel seguido de uma batida na região.

"Força executante:

Dest A - CCAV 1748.

Dest B - CCAÇ 1685 a 2 Gr Comb ref. c/ 1 PEL MIL/CMIL 3.

Dest C -CART 1690 a 2 Gr Comb ref. c/ 1 PEL MIL/CMIL 3.

"Desenrolar da acção:

Em 15, às 4h30, o Dest C saiu autotransportado de Geba, em direção a Sare Madina, progredindo apeadamente em direção a Sucuta que atingiu às 08h45. Instalou-se no orla junto à bolanha, tendo mantido essas posições até 16 de outubro, às 10h30.

"Durante a noite de 15 para 16 fomos flagelados com 4 tiros de morteiro e rajadas de armas ligeiras automáticas. Cerca das 03h00 foi avistado um helicóptero IN que sobrevoou o acampamento IN.

"Quando o Dest A iniciou a travessia da bolanha, a 16, às 9h00, o mesmo foi atacado por tiros de morteiro e rajadas de armas ligeiras automáticas, tendo o Dest B e C feito fogo de morteiro às minhas ordens, sobre o IN instalado na margem oposta. 

Este Dest não conseguiu atravessar a bolanha, o mesmo sucedendo ao Dest B embora, quando este último tentou a travessia, já tivesse apoio aéreo (ATAP). O PCV ordenou então ao Dest C para nomear uma secção e tentar a travessia da bolanha às 11h30. Esta secção atravessou a bolanha sob fogo IN e com apoio aéreo dos T-6 chegando ao outro lado da bolanha às 12h45.

"As 15h00 os Dest A e C tinham atravessado a bolanha e preparavam-se para progredir em direção ao acampamento IN. Antes de iniciarem a progressão teve de se rebentar uma armadilha A/P, constituída por uma granada do LGF. Os dois Dest A e C atingiram a clareira de Sinchã Jobel pelas l6h40, onde se estabeleceu que o Dest C, reforçado por um Gr Comb do Dest ,  iria fazer o ataque ao acampamento IN.

"Pelas 17h00, caiu-se numa emboscada montada pelo IN. Tentou-se anular a emboscada, que seria conseguido senão fosse a hora tardia, a incapacidade de duas armas pesadas (LGF e Mort 60) e algumas G-3 encravadas do Dest C. Outra razão talvez decisiva e que fez com que as NT não calassem a emboscada,  foi o facto de o Dest A não ter envolvido o IN devido ao fogo cerrado do morteiro 60 e 82 do IN.

"Além destas armas, o IN possuía armas automáticas individuais, 3 MP [metralhadoras pesadas] e alguns lança-roquetes ou LGF (Não sei precisar). Uma das MP foi calada pelo nosso LGF [bazuca]. Vários contras para nos surgiram durante a emboscada: O nosso bazuqueiro (passe o termo) Soldado Agostinho Câmara que estava a fazer um fogo certeiro, foi atingido mortalmente (note-se que este LGF era o único que estava a fazer fogo). 

Foi o soldado enfermeiro Alípio Parreira que se encontrava próximo e que estava a fazer fogo com a ML [, metralhadora ligeira] MG-42 (para a qual o referido soldado se oferecera como voluntário),  pegar no LGF e continuar a fazer fogo com ele. Nesta altura tive que pegar na MG-42 e fazer fogo com ela. Logo a seguir tive que me dirigir à retaguarda a fim de falar com o PCV que me chamava.

"Quando regressei à frente verifiquei que o já referido soldado enfermeiro recomeçara a fazer fogo com a ML MG-42 e que passado mais alguns momentos ficou impossibilitado de fazer fogo devido a uma avaria, ao mesmo tempo que o soldado enfermeiro e o municiador eram feridos por estilhaços. Mesmo assim este soldado enfermeiro veio para a retaguarda, onde agarrou no morteiro 60 e continuou a fazer fogo com o mesmo.

"Foi-me impossível continuar o ataque ao acampamento IN, em virtude de se terem esgotado as munições que levava, as armas pesadas não funcionarem, a noite já ter caído por completo e desconhecermos o terreno. Deve notar-se, contudo, que nesta altura já o IN dava sinais de fraqueza e, segundo alguns soldados nativos que se encontram juntamente comigo na frente, estarem a gritar que tinham que fugir.

"Para retirar, pedi auxilio ao Dest A que foi à frente, permitindo que o Dest C retirasse para fora da zona de morte, donde protegeu a retirada do Dest A. Já fora da zona de morte, verifiquei que não se tinham trazido os mortos, pelo que enviei novamente à zona de morte alguns soldados para os trazerem. Tal não foi possível, visto estarem armas automáticas do IN apontadas para o local onde se encontravam os corpos. 

"Ainda foram abatidos a tiro de G-3 dois elementos IN, um destes pretendia agarrar o soldado Armindo Correia Paulino, quando este estava a arrastar um dos nossos mortos para a retaguarda e que se salvou devido ao aviso oportuno do soldado Saliu Baldé e que permitiu ao primeiro soldado citado abater esse elemento IN, ao mesmo tempo que o soldado citado abatia um segundo elemento IN, que se encontrava armado e estava a proteger o outro elemento IN abatido.

"Seguidamente efetuou-se a retirada (e friso mais uma vez que esta teve de ser feita devido ao Dest C ter esgotado as munições e as armas avariadas), tendo o IN vindo em nossa perseguição até à bolanha onde os últimos elementos a atravessá-la (o Dest C) foram alvejados por rajadas de armas automáticas.

"Após a travessia da bolanha verifiquei que o Dest B já não se encontrava em Sucuta. Os Dest A e C atingiram Sare Madina pelas 02h00 de 17 [de outubro de 1967], onde aguardaram viaturas do Dest C que os transportaram para Geba, tendo uma viatura do Dest C seguido para Bafatá com os feridos mais graves.
O A. Marques Lopes no lançamento do seu livro,  em Lisboa, ADFA, 17
 de setembro de 2015.  Foto de LG.

"Resultados obtidos:

-Baixas sofridas pelo IN:  Mortos confirmados 8 e baixas prováveis numerosas.

-Foi destruída uma armadilha A/P e destruída ou danificada uma MP.

"Comentários:

"O plano de ação inicial não foi cumprido. Se tivesse sido, o acampamento IN teria sido destruído porque o Dest A conseguiu chegar a 50 metros do acampamento IN sem ser detetado.


"Nota:

"Em 27 de Agosto de 1967 foi recebida uma noticia C2 em que referia que o IN tinha sofrido 54 mortos e muitos feridos ainda não controlados.

"As NT tiveram tarefa bastante penosa no regresso devido a terem que transportar 12 feridos graves e 22 ligeiros por as evacuações não poderem ser feitas de helicóptero durante a noite.»


2. Poder-se-ia pensar que, agora, com a 5ª Companhia de Comandos é que vai ser!... Mas não foi. Este é o relatório da CART 1690, o dos comandos não o conheço e não sei o que disse. 

Fizeram a batida e não viram nada, com as coordenadas tão bem definidas... o que me parece é que não era ali exatamente. Além de que o IN não terá visto vantagem em confrontar-se com os comandos, também admito. Mas veja-se como a 5ª Companhia de Comandos se põe a andar, deixando para trás dois grupos de combate de cassanhos...

A operação foi comandada do PCV pelo Comandante do Agrupamento.


"18. Op Insistir. 27 de Outubro de 1967


"Situação particular:

"Desde abril de 1967 que o IN se tem revelado nos regulados de Mansomine e Joladu. Durante a Op Imparável foi finalmente localizado de forma segura o acampamento de Sinchã Jobel que se situa em: 1455 1210 E9-76 [são as coordenadas topográficas].

"Missão:

- Ataca e destrói o acampamento IN de Sinchã Jobel.

"Força executante:


Dest A - 5ª Companhia de Comandos

Dest B - CART l690 ( a 2 Gr Comb) + 1 PEL MIL 109/C MIL 3

"Desenrolar da ação:

"Em D pelas 05h00 o Dest B saiu autotransportado de Geba em direcção a Sare Madina, progredindo depois até em direção a Sucuta que atingiu às 08h15. Instalou-se na orla da bolanha não conseguindo qualquer comunicação através do rádio com Geba ou Bafatá para informar a nossa posição. Cerca das 09h45 foi feito fogo de morteiro de amas ligeiras afim de atrair a atenção do IN naquela direção.

"Após o bombardeamento da FA [Força Aérea] e por ordem do PCV, um grupo de combate iniciou a travessia da bolanha onde permaneceu até que o Dest A fez a batida ao objetivo regressando em direção ao Dest B.

"Gorando-se o encontro do Dest A com o Dest B, por ordem do PCV o Dest B retirou da bolanha vindo juntar-se ao Dest A que já regressava a Sare Madina.

"Em Sare Madina, o Dest B seguiu em viaturas para Geba onde chegou cerca das l6h30.»


3. Esta [operação] nunca entendi. Como continuo a não entender qual foi o "sucesso” da Op Insistir. Foi comandada do PCV.

«19. Op Instar. 28 de Outubro de 1967.

"Situação particular: a do planeamento operacional da Op Insistir.

"Missão: explorar o sucesso da Op Insistir; bater a região de Sinchã Jobel

"Força executante:

Dest A - CCAÇ 1790
Dest B - CART 1690 (a 2 Gr Comb ref. c/PEL MIL 109/C MIL 3

"Desenrolar da acção:

"Pelas 06h15 iniciou a progressão para Sucuta que atingiu cerca das 08h00. Após instalado o pessoal junto à bolanha, um Gr Comb por ordem do PCV cambou a bolanha instalando-se do outro lado, onde emboscado aguardou a chegada do Dest A. Na passagem da bolanha, após a junção dos 2 Dest. em Sucuta fez-se a progressão para Sare Madina onde o Dest B logo seguiu de viaturas para Geba aonde chegou cerca das 16h00.»
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5 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14700: Os jogos de cabra-cega: Sinchã Jobel (A. Marques Lopes) (Parte II): Depois de uma noite, perdido, na bolanha, de 24 para 25 de junho de 1967, "é tão bom estar vivo e saber onde estou e o que quero!... Bora, Braima, bora, rapaziada, toca a sair daqui"...