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sexta-feira, 13 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14358: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (23): precisam-se imagens de motorizadas de 50 cc , made in Portugal (Alma, Pachancho, Vilar Cucciolo, Famel, Macal, Sachs e Casal), ou nas ex-colónias (como a Fabimotor e a Ulisses, ambas angolanas)... Para edição de livro dos CTT.


Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) >Guiné > O furriel miliciano João Rebola na motorizada Honda, 50 cc, que comprou em Bissau, por seis contos (um pouxco mais do que o vencimento mensal de um furriel no CTIG). O João Rebola acompanhava, à viola, o nosso fadista Armando Pires. Tornaram-se grandes amigos e tudo começou por causa desta motorizada...(*)

Foto (e legenda): © Armando Pires (2014) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem, de 10 do corrente,  de Maria Manuel Sousa

Bom dia Luís Graça

Estou a trabalhar num livro, desta vez sobre motorizadas portuguesas de 50 cc, e encontrei esta foto no seu blog. Achei muito interessante porque mostra um soldado e é tirada na Guiné, ex-colónia nossa à época… Acha que seria possível ceder esta imagem, com maior resolução, para a nossa publicação, com a devida autorização do dono e /ou do soldado representado na foto?

Agradecendo desde já a sua colaboração, apresento os meus cumprimentos,

Maria Manuel Alves Sousa
CTT Correios de Portugal
Filatelia/Conceito e Design
Philatelic Unit/Design Dept.
Av. D. João II - Lt. 01.12.03, 1.º
1999-001 LISBOA
Telef.: +351 210470578

2. Em mensagem de ontem, a Maria Manuel Alves Sousa, a meu pedido,  explicitou melhor o que pretendia:

O livro chamar-se-á Motorizadas Portuguesas de 50 cc. A edição é dos CTT.

O fabrico destas motorizadas em Portugal (Alma, Pachancho, Vilar Cucciolo, Famel, Macal, Sachs e Casal, e outras marcas fabricadas nas ex-colónias, como a Fabimotor e a Ulisses, ambas angolanas) começa no início dos anos 1950, e vai até cerca de finais de 1990.

Maria Manuel Sousa



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do nosso saudoso Vitor Condeço  (1943-2010) > Catió - Quartel > Foto nº 21: "Na arrecadação antiga de material de guerra, o 1º Cabo Camarinha e o Fur Mil Victor Condeço [sentado]. A motorizada que se vê não era material de guerra, foi comprada avariada ao electricista da central civil,  sr.Jerónimo,  por 250 pesos, foi reparada e ainda serviu para dar umas voltas". (**)

Foto (e legenda): © Vítor Condeço (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCAÇ 18 (1970/72) > O 1º cabo Ieró Embaló, prémio Governador da Guiné em 1972, com a sua motorizada. (***)

Foto (e legenda): © Rui Alexandrino Ferreira (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > Destacamento de Fuzileiros Especiais, DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74) > O Ten Fuzileiro Especial, Zeca Macedo, com a sua bela moto, no cais da vila de Cacheu... (****)

Foto: © Zeca Macedo (2013). Todos os direitos reservados.


3. Depois de a pôr em contacto com o João Rebola e o Armando Pires, mandei a seguinte informação à Maria Manuel Alves Sousa:

Mas havia mais motorizadas na Guiné no tempo da guerra colonial... Use a funcionalidade "Pesquisar neste blogue" (coluna do lado esquerdo) e escreva "motorizada"... Podem é ser "japonesas"... O régulo de Badora, em Bambadinca, no meu tempo (1969/71) tinha uma, de 50 cc, oferecida pelo Spínola ou pelo Schulz (, não posso precisar; era um homem poderoso, foi fuzilado depois da independência)... Temos mais imagens)... É procurar... Boa pesquisa... 

De qualquer modo, vamos dar uma ajuda, pedindo à malta do blogue para colaborar. Haverá, por certo, fotos de motorizadas portuguesas da época, nos nossos álbuns fotográficos. Tudo o que é português merece o nosso carinho, ternura, cuidado... E para mais tratando-se de gente como nós, ex-.combatentes da Guiné que somos uma espécie em vias de extinção... (*****)



4. Mensagem de ontem enviada pela Maria Manuel ao João Rebola (que , entretanto, tem novo endereço de email):

Não consigo perceber a marca da motorizada. Será uma Honda? É que se for, não dá porque não é de fabrico nacional….

É tão complicado arranjar imagens assim da época. Esta era mesmo uma maravilha duma foto! Se se lembrar de alguém que tenha tido uma motorizada de fabrico nacional, e que possa ter fotografias…

Espero não estar a perturbar demasiado com o meu pedido.

Com os meus cumprimentos,

Maria Manuel

____________________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


(...) A modos que a conversa terminava ali, posto que fomos almoçar à D. Maria, mulher do Sr. Maximiano, dois cabo-verdianos que recebiam uma subvenção da companhia para nos dar de comer.

Saímos de casa, e, quando íamos a atravessar a rua, quase fui abalroado por um gajo em grande velocidade numa motorizada que fez duas “chicuelinas” para me evitar, seguindo em frente sem dizer água vai nem água vem.

– Que é isto, ó Filipe?

Com um largo sorriso na cara, responde-me ele, “é pá, é o maluco do Rebola, furriel da 2444”.

Apresentado assim pelo Filipe, a espantação passou-me e pensei para com os meus botões:
– Queres ver que já estou com a minha gente? (...)



27 de março de  2014 > Guiné 63/74 - P12905: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (13): O fadista regressa ao palco


(...) Pois deu-se o caso que num certo fim de tarde, indo eu de 7 [ Quartos de sargentos da CCS e bar] para 12 [Armazém de armamentos, enfermaria da CCS e Oficinas auto]  passei em 10 10 [ Bar de sargentos da CCAÇ 2444, depois da CCAÇ 13]  ouvi uma viola a tocar.

Poupando-lhes a maçada de revisitarem a legenda, quero eu dizer que tendo saído do meu quarto para ir à enfermaria ver como marchavam as coisas, passei à porta do bar de sargentos da 2444 de cujo interior saiam uns acordes de viola, que por acaso até me soarem bem ao ouvido.
– Pode-se entrar, camaradas?

Entrei, apresentámo-nos, sai um Johnnie Walker com duas pedras de gelo a selar o momento, e dei comigo a pensar que o gajo da viola era o mesmo que, no dia da minha chegada, me ia “atropelando” com a mota.
– Ouve lá, pá, tu não és o João Rebola?

Claro que era ele, sim senhor, contei-lhe que tinha sido o Filipe a dizer-me quem ele era, que isso se passara logo no dia da minha chegada, quando, à saída dos quartos de sargentos da CCS, ele, João Rebola, que vinha de mota, desenhara uma perfeita “chicuelina” para evitar atropelar-me (P12023).

Gargalhada geral, venha de lá esse abraço, “agora tenho de ir lá acima à enfermaria ver como estão as coisas, mas hei de vir aqui mais vezes que talvez ainda façamos umas fadistices".

Lá na enfermaria estava tudo bem, o que nem era de estranhar dada a qualidade do pessoal da minha equipa, saí para ir jantar “à D. Maria” e tropecei, de novo, no João Rebola.
– Queres boleia, pá?

Primeiro: a D. Maria e o marido, o senhor Maximiano, um velho casal de cabo-verdianos, tinham um restaurante que era subvencionado pelo exército para funcionar como messe de sargentos. Segundo: o Rebola vinha a sair do quarto de sargentos da 2444, que era ali quase paredes meias com a minha enfermaria, e indo jantar à messe, tal como eu ia, convidou-me a fazer “a viagem” na sua motorizada.
– Tens medo de andar nisto, pá?
– Só não sei andar, mas medo de andar não tenho.
– Ó pá, mas se quiseres aprender eu ensino-te já. Isto é o mesmo que andar de bicicleta.

E foi assim que o João Rebola, antes de ser meu viola privativo, se transformou no meu instrutor de motorizada.(...)


(**) Vd. poste de 9 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6563: Banco do Afecto contra a Solidão (11): Vamos telefonar ao Victor Condeço (que vive no Entroncamento)



(*****) ÚLtimo poste da série > 11 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14349: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (22): Procura-se letra e/ou registo sonoro de "Djiu di Galinha" [Ilha das Galinhas], canção de José Carlos Schwarz, imortalizada por ele e por Miriam Makeba, a 'Mama Africa' (Helena Pinto Janeiro, investigadora, FCSH / Universidade NOVA de Lisboa)

domingo, 5 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13695: Estórias avulsas (80): Hojé, há pássaros! (João Rebola)

1. Mensagem do nosso camarada João Rebola (ex-Fur Mil da CCAÇ 2444, , Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70), com data de 26 de Setembro de 2014:

Olá, Carlos, boa noite
Envio-te este artigo para publicação, se assim o entenderes.
Conforme digo no início, a estória é verdadeira. No entanto, juntei-lhe uma pitada de fotos, confirmando o que se afirma para a tornar mais agradável de se ler e para aqueles que estiveram em Bissorã, possam também recordar alguma coisinha.

Aceita um abraço do
João Rebola


Hoje, há pássaros!

Esta é uma estória passada na vila de Bissorã, no já longínquo ano de 1969. Não se torna difícil para mim recordar alguns pormenores que aconteceram há mais de quatro décadas, isto porque, aí permaneci a maior parte da comissão, aí passei os melhores momentos, embora também houvesse outros menos bons, aí fiz amizades que ainda hoje perduram.

Em 2011 voltei lá e encontrei o simpático casal de comerciantes libaneses, Soad e Alfredo Kallil, onde, no seu estabelecimento, adquiri vários artigos, entre os quais, se bem me lembro, um rádio com gira-discos para ouvir as músicas e os discos em voga,”in illo tempore”. Depois de lhes mostrar fotos antigas, reconheceram-me, rejubilando de alegria.

Bissorã - 1969 - Aqui está a minha suite. À esquerda, o rádio gira-discos.

Bissorã – 2011 - Manuel Sá e João Rebola com Alfredo Kallil e Soad

Bissorã – 1970 - Soad com um dos filhos de Zé Manjaco, ao colo

Bissorã – 1969 - Com Alfredo Kallil, em dia de “ronco“

Bom, voltemos à estória. Junto ao bar dos sargentos da CCAÇ 2444, havia (e há) uma grande mangueira, onde em determinada época do ano, ao cair da tarde, afluía enorme quantidade de pássaros para passarem a noite.

Bissorã - 2011 - O bar e a mangueira ainda lá estão!

Então, pus-me a pensar como é que havia de fazer para, de vez em quando, termos uma boa ceia. Quando vim de férias, em junho de 69, levei desmontada a minha Diane 850, espingarda de pressão de ar, mas verifiquei que, de pouco ou nada servia: matava um, fugiam dezenas. Não podia ser, tinha de haver outra maneira. E ela surgiu. Havia em Bissorã um pelotão de polícia administrativa que não dependia do exército, mas sim do Administrador, Sr. Gramaxo. Como responsável pela polícia, encontrava-se o cabo Pedro.

Bissorã - 1969 - Visita do Administrador ao refeitório dos soldados

Alguém me disse que ele (Pedro) tinha uma espingarda calibre 12. Como sabia onde era a sua tabanca, lá o encontrei, pedindo-lhe que ma emprestasse, ao que ele acedeu, depois de lhe dizer o porquê do meu pedido. Com cartuchos no bolso e arma na mão, entrei no bar e aguardei que a passarada chegasse. Não demorou muito tempo a sua vinda. Dois pretinhos, tidos como “funcionários” encarregavam-se da limpeza do bar, dos quartos, faziam as camas, etc, e que nos dias em que a arma funcionava, com a colaboração de outros e de nós próprios, ajudavam a apanhar os pássaros caídos, a depenar e a assá-los. Assim, por volta da meia-noite, começava a ceia. E que ceias! Numa dessas noites, encontrava-me de serviço no abrigo/posto de Missirá, um pouco distante do quartel e vim ao bar, no meu transporte, para petiscar com quem lá se encontrava.

Bissorã – 1969 - Esta era a minha Honda 50, comprada em Bissau

O alf. António Marcão manisfestou-se negativavamente à minha chegada, deu-me cabo do juízo, mas depois de alguma discussão, acabei por ficar e acompanhá-los nesse saboroso petisco, ou não fosse eu que tivesse matado a passarada. A foto que se segue reporta essa situação, mostrando a sua indiferença.

Bissorã - 1969 - Na célebre ceia, fur. João Rebola, os alf. Vinagre (já falecido), Marcão e Carreiro (meio escondido); de costas os fur. Firmino, Cardoso e Orlando Silva.

Bissorã – 1969 - Ao fundo o alf. Beirão, fur. Firmino, alf. Carreiro e fur.Rebola, brindando

Como se sói dizer “não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe”, daí, que estas ceias não terem ultrapassado mais de dois meses. E por quê? Porque até setembro de 1969, a responsabilidade do sector de Bissorã era da CCAÇ 2444, única companhia aí sediada, mas a partir daquele mês, a sede do Batalhão 2861, procedente de Bula, transferiu-se para esta localidade. E como se tal não chegasse, dias depois, surgiu o TCor Polidoro Monteiro, oficial extremamente exigente, de poucas falas e de grande respeitabilidade. Perante este quadro, não arrisquei mais tiros. Havia também outra razão, pois o comando ficava relativamente perto do bar e qualquer detonação seria facilmente ouvida.

Assim, só me restou ir entregar a arma ao cabo Pedro, deixar a passarada em paz e utilizar a pressão de ar nas rolas, quando, distraidamente, se entretinham a comer mancarra, junto à estrada de Bissorã/Mansoa.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 18 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13624: Estórias avulsas (79): A melhor coisa que me poderia acontecer, uma viagem sem pressa que até parecia que estava no país das maravilhas (José Maria Claro)

quinta-feira, 27 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12905: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (13): O fadista regressa ao palco - I

1. Mensagem do nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70), com data de 26 do corrente:

Meu Caro Luís Graça,  Camarada.

Acontece que faço anos. Um número redondo. Muito redondo. Faço 69 anos de idade.
Decidi presentear-me a mim próprio com mais um episódio da série "Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista". Um episódio, também ele, com um número fetiche. O número 13.

Noutro anexo, envio uma fotografia aérea de Bissorã, para o caso de achares que, no texto original, a deves redimensionar.
 




2. Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (13):  O fadista regressa ao palco

[, foto à esquerda. o jovem aprendiz de enfermeiro, 1968, Hospital Militar Principal, Lisboa]

Tirando uns mal entendidos com a rapaziada do Morés, os dias corriam pachorrentos em Bissorã.

Desde logo porque o Rodrigues, quando à chegada lhe fui oferecer os meus préstimos, ficou-me muito agradecido mas respondeu que “a malta cá se arranja”. A malta era a CCAÇ 2444, mais conhecida pelos “Coriscos”, companhia da qual o Rodrigues, Felizardo Rodrigues, era furriel miliciano enfermeiro. O felizardo neste caso era eu, melhor dito, até, era a minha equipa, porque com uma companhia operacional a prescindir do nosso apoio, passámo-nos a ocupar, a tempo inteiro, das micoses, paludismos e gonorreias entre os nossos, e da saúde de toda a população em geral, coisa que caía muito bem dentro dos relatórios da “psico-social”.

O Dr. Oliveira, deixemos lá o alferes de lado que ele era médico, não era militar, começava as manhãs na nossa enfermaria e, depois do almoço, preenchia as tardes com umas consultas na enfermaria civil.
– Ó Pires, temos um problema, pá.

Temos, era um eufemismo por ele muito usado,  sempre que pretendia dizer que EU tinha um problema. Contou-me que com um elevado sentido de oportunidade, e aqui que o senhor das almas me perdoe, o senhor enfermeiro civil morrera pouco antes da nossa chegada.

Num ápice, quem passou a ter um problema,  foi o Maltez, meu soldado maqueiro, a quem eu mandei avançar ao reconhecimento. O Maltez era uma espécie de “pau para toda a obra”, de quem e de cujos méritos falarei em tempo mais oportuno.

A enfermaria civil era uma casa térrea mas arejada, com gabinete médico, área de internamento para 12 camas, e uma dependência onde funcionava a enfermaria do Rodrigues. Comecei logo por embirrar com esta separação. Isto é, enfermaria dos operacionais para um lado, a da CCS para o outro. E no caminho que vinha fazendo pelo meio da vila,  dei comigo a embirrar com tudo o resto.

Já o escrevi, em Bissorã não existia quartel. O quartel é, por definição, pelo menos na minha definição, um espaço delimitado em cujo interior se concentram homens, instalações e serviços. Bissorã era assim como que uma espécie de “cidade” abandonada pelos civis, cujas casas foram, convenientemente, ocupadas pelos militares.

E no meu fraco entender, isto em nada facilitava o tal “espirito de corpo” muito propagandeado nas directivas militares. Para me fazer entender, socorro-me de uma fotografia aérea de Bissorã, de autoria do Cap Carlos Oliveira, e que devidamente autorizado retirei do “website” leoesnegros.com.sapo.pt/



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Foto nº 1 > Vista aérea



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Foto nº 1 A > Vista aérea (parcial)


Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Foto nº 1 B > Vista aérea (parcial)

Foto: Cortesia da página do © Carlos Fortunato > CCAÇ 13, Leões Negros  > Guiné - Bissorã  [Edição: LG e AP]

Legendas [Armando Pires]:

1 – Caserna da CCAÇ 2444, depois da CCAÇ 13
2 – Sede da Administração de Bissorã
3 – Enfermaria civil
4 – Messe de oficiais
5 – Secretaria da CCS, Transmissões e espaldões de morteiros
6 – Casernas e refeitório da CCS
7 – Quartos de sargentos da CCS e bar
8 – Secretaria do comando do batalhão no r/c e quartos dos oficiais no 1º andar
 9 – Clube social e cinema de Bissorã
10 – Bar de sargentos da CCAÇ 2444, depois da CCAÇ 13
11 – Quartos de sargentos da CACÇ 2444, depois da CCAÇ 13
12 – Armazém de armamentos, enfermaria da CCS e Oficinas auto
13 – Messe de sargentos
14 – Campo de futebol.

Pois deu-se o caso que num certo fim de tarde, indo eu de 7 para 12 passei em 10 e ouvi uma viola a tocar.

Poupando-lhes a maçada de revisitarem a legenda, quero eu dizer que tendo saído do meu quarto para ir à enfermaria ver como marchavam as coisas, passei à porta do bar de sargentos da 2444 de cujo interior saiam uns acordes de viola, que por acaso até me soarem bem ao ouvido.
– Pode-se entrar, camaradas?

Entrei, apresentámo-nos, sai um Johnnie Walker com duas pedras de gelo a selar o momento, e dei comigo a pensar que o gajo da viola era o mesmo que, no dia da minha chegada, me ia “atropelando” com a mota.
– Ouve lá, pá, tu não és o João Rebola?

Claro que era ele, sim senhor, contei-lhe que tinha sido o Filipe a dizer-me quem ele era, que isso se passara logo no dia da minha chegada, quando, à saída dos quartos de sargentos da CCS, ele, João Rebola, que vinha de mota, desenhara uma perfeita “chicuelina” para evitar atropelar-me (P12023).

Gargalhada geral, venha de lá esse abraço, “agora tenho de ir lá acima à enfermaria ver como estão as coisas, mas hei de vir aqui mais vezes que talvez ainda façamos umas fadistices".

Lá na enfermaria estava tudo bem, o que nem era de estranhar dada a qualidade do pessoal da minha equipa, saí para ir jantar “à D. Maria” e tropecei, de novo, no João Rebola.
– Queres boleia, pá?

Primeiro: a D. Maria e o marido, o senhor Maximiano, um velho casal de cabo-verdianos, tinham um restaurante que era subvencionado pelo exército para funcionar como messe de sargentos. Segundo: o Rebola vinha a sair do quarto de sargentos da 2444, que era ali quase paredes meias com a minha enfermaria, e indo jantar à messe, tal como eu ia, convidou-me a fazer “a viagem” na sua motorizada.
– Tens medo de andar nisto, pá?
– Só não sei andar, mas medo de andar não tenho.
– Ó pá, mas se quiseres aprender eu ensino-te já. Isto é o mesmo que andar de bicicleta.

E foi assim que o João Rebola, antes de ser meu viola privativo, se transformou no meu instrutor de motorizada.




Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) >Guiné >  O furriel miliciano João Rebola na “nossa” motorizada.

Numa vertiginosa sucessão de factos ocorridos após “a decapitação” do comando do batalhão, o major Candeias, que foi direitinho a Bissau, foi substituído nas operações pelo, entretanto promovido a major, capitão Alcino, que era o comandante da CCS, chegando para ocupar o seu lugar o senhor capitão Luís Andrade Barros.

Foi este senhor capitão que me chamou e que manteve comigo uma cordial conversa a versar mais ou menos estes termos.
– Ó furriel Pires, o nosso comandante pretende estreitar os laços de amizade e de cooperação entre as nossas tropas e a comunidade civil de Bissorã, e propôs-me que realizássemos no nosso bar de sargentos, que tem espaço e excelente condições, uns serões sociais, animados com musica e jogos de mesa, eu pensei em fazermos umas sessões de bingo aos sábados à noite, e o nosso comandante até me disse constar entre os nossos oficiais que o senhor canta muito bem o fado…
"Olha para onde vens tu, ó Barros!", pensei eu, ao mesmo tempo que atalhei aquela espécie de música para encantar meninos, fazendo-lhe uma declaração definitiva.
– Pois é, meu capitão, mas fará o favor de dizer ao nosso comandante que comigo não há fados à capela.

O senhor capitão pôs um ar surpreendido, juro que até pensei que ele me ia dizer que os fados eram no bar, não eram na igreja do capelão Baptista, mas dois ou três segundos depois ficou-se por um pedido de esclarecimento, assim como “o que é que o nosso furriel quer dizer com isso?”.
– Meu capitão, quero dizer que., sem acompanhamento, sem guitarra nem viola, eu não canto.

O recado foi levado ao senhor comandante, a conversa decorreu em plena messe de oficiais, e quem encurtou razões à conversa foi o alferes miliciano Marcão, comandante do 2º grupo de combate da 2444, cujo anunciou que tinha no seu grupo um furriel que tocava muito bem viola.

O furriel de que o Marcão falava era, como me parece ser fácil de ver, o João Rebola.

Aqui também acho que é hora de encurtar parágrafos à história e dizer que as sessões de Bingo foram por diante, que o João Rebola trouxe consigo outro exímio violista, o soldado de transmissões Vilas Boas, e que depois de várias horas de necessários ensaios lá fizemos a nossa apresentação pública.

Todos os sábados à noite, o bar de sargentos da CCS enchia de tropa e civis para as sessões de bingo, e, modéstia à parte, rebentava pelas costuras quando chegava a hora do fado.



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Sentimento e casa à cunha, em mais uma noite de fados. Eu, acompanhado pelo João Rebola, à esquerda, e pelo Vilas Boas, à direita.



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Noite de bingo no bar de sargentos da CCS. Eu canto os números, o furriel Orlando Bonito (já falecido) ordena as bolas saídas, o capitão Andrade Barros supervisiona o sorteio.







Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Três aspectos do bar de sargentos da CCS


Fotos (e legendas): © Armando Pires (2014). Todos os direitos reservados

E tudo foi assim até que chegou o mês de Junho de 1970. A Bissorã chegaram os rapazes da CCAÇ 13, formada originalmente por quadros e especialistas metropolitanos da CCAÇ 2591, a quem em Bolama se juntou pessoal guineense, predominantemente de etnia balanta. Chegaram para integrar o dispositivo e manobra do BCAÇ 2861, o meu batalhão, rendendo a CCAÇ 2444 que foi terminar o seu tempo de comissão em Binar. E,  com ela, lá foram o João Rebola e o Vilas Boas.

Quer isto dizer que “calaram-se as guitarras, calou-se o fadista, e acabou-se o fado”.

Só não acabou a história.

Vão ver mais tarde como o fadista se transformou no locutor do “Programa das Forças Desarmadas”.
______________

Nota do editor:

Postes anteriores da série:

19 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12742: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (12): Chegou Polidoro, "O Terrível"

(...) Queiramos ou não, a primeira imagem, a primeira impressão que causamos, acompanha-nos vida fora, cola-se-nos à pele como lapa. Podemos melhorá-la, ou piorá-la, “vê lá tu, pá, quem diria que aquele gajo se transformava no que é hoje”, mas a primeira impressão fica para sempre. À primeira, eu vi o Polidoro assim. Emproado, como um pavão. Escreva-se, por ser verdade, ele fez tudo menos querer causar uma primeira boa impressão. (...) 

23 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12333: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (11): A decapitação do Comando

(...) Aquelas primeiras horas em Bissorã não foram fáceis. Desde logo, como já escrevi, o não me sentir dentro de um quartel. Era assim a modos como que um exército que tivesse ocupado uma cidade e “vamos lá instalar-nos”. Não quero com isto dizer que fossem más aquelas acomodações. Antes pelo contrário. Mas num quartel está ali tudo próximo, estamos ali todos juntos, tipo ó militar chegue aqui, e em Bissorã não, era mais ó furriel dê um salto à enfermaria e lá ia eu, no jeep, rua acima. E depois, o que também me fez confusão, abrigos "cá tem". (...)

10 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12023: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (10): Alô Bissorã, cheguei!!!

(...) Portanto, o DO aterrou em Bissorã eram nove da manhã. Nem fanfarra nem guarda de honra à minha espera. Apenas um Unimog para me levar a mim, mais ao correio e outras mercadorias que o avião transportara. Sem esquecer, evidentemente, o Machado, o meu cabo enfermeiro, que viera receber-me, dar-me as boas vindas, e levar-me ao comando onde era devida a minha apresentação ao comandante da companhia. (...)

30 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11994: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (9): Um reencontro para agasalhar a idade


(...) Mais um reencontro para agasalhar a idade. Estava eu posto em sossego e chama-me o João Rebola para perguntar:
- Ó Pires, sabes quem está aqui?

A pergunta foi feita através desse prodígio da comunicação chamado Skype. Sabem os que sabem, quem não sabe fica a saber que é um software que podemos instalar no computador, e que nos permite falar com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, e, o melhor de tudo, estar a vê-la do outro lado. (...) 



(...) Tal como prometera, envio um conjunto de 12 (doze) fotografias de Bula. Tenho dúvidas quanto à forma de as editar. Por essa razão permito-me enviar duas versões. Como podes ver, a que tem o titulo de Bula 2 ocupa menos espaço no blog, mas algumas das fotos perdem em qualidade. Deixo ao teu critério, ou ao critério do "Editor de Dia", escolher qual das duas versões publicar. Do mesmo modo, também fica ao vosso critério decidir em que série as inscrever. Se na série "furriel enfermeiro, 
ribatejano e fadista", se em "Álbum fotográfico..." do que for. (...) 



(...) A oito de agosto, deixei Bula com um nó na garganta e sem saber que não mais lá voltava. Tinha férias marcadas para Portugal e pedi ao comandante que me permitisse ir uns dias mais cedo para Bissau, de forma a poder visitar o Daniel no Hospital Militar. (...)


(...) Raios te partam, Manel Jaquim, que as tuas Cartas de Amor e Guerra incendeiam-me a memória na razão directa do respeito que me provocam. Começo pelo fim, em que sou mais breve, para dizer de quanta admiração sinto por essa cumplicidade entre ti e a Dionilde, tua mulher, nascida no tempo do amor e dos segredos, trazida pela vida fora, chegando hoje à comum aceitação da partilha dessas palavras escritas, tão intensas de paixão e raiva, que só os amantes sabem dizer.  (...) 

3 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11048: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (5): O dia em que a minha mala voou

(...) A coluna estava pronta para se pôr em marcha. À frente o rebenta minas, logo atrás uma das Panhard’s do EREC 2454, depois um Unimog com munições para o Óbus 14 e as restantes viaturas.  Eram seis camionetas civis que, vindas de Bissau, tinham sido cambadas, uma a uma, através do Rio Mansoa para João Landim e daí escoltadas até Bula, onde foi organizado o comboio militar que iria levar os reabastecimentos ao aquartelamento de Binar.  (...)

(...) Eu tinha dois doutores. Era para ter três, mas perdi um mesmo à saída da escada de portaló. Era um oftalmologista em quem alguém descobriu, logo ali, insuspeitadas capacidades para ver fundo na raiz dos dentes, razão porque ficou em Bissau para uma especialização de três meses em medicina dentária, findos os quais percorreu todos os quadrantes dessa Guiné, em socorro de algum militar carente dos seus serviços. (...) 

7 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10629: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (3): Enquanto não chegar a evacuação, ao meu lado ninguém morre! ... Promessa cumprida! (Parte II)

(...) Já era noite fechada em Bula quando o Teixeira, meu soldado maqueiro, veio ao bar dizer-me:
– Furriel, está uma mulher à porta de armas a pedir para tratarmos o filho.
– Já lá vou.
– Mas, ó furriel, olhe que o miúdo se não está morto, parece.
– Leva-a para a enfermaria que eu é só acabar o café. (...)


5 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10622: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (2): Enquanto não chegar a evacuação, ao meu lado ninguém morre! ... Promessa cumprida! (Parte I)

(...) - Então doutor, o puto safa-se?

Não me respondeu. Limitou-se a olhar-me assim como quem diz “vamos ver”, e a dizer-me com um sorriso benevolente:
- Vá lá dormir que você está com cara de quem precisa de descansar. (...) 


(...) Bula, 15 de Abril de 1969, depois das oito da noite.

Ofegantes, os noventa cavalos da velha GMC galgaram a cancela do aquartelamento e estacaram às dez rodas em frente ao bar. Ao lado do condutor ergueu-se o Caeiro e gritou-me:
– Salta práqui, ó pira, que esta noite vai haver espectáculo no Esquadrão. (...)

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12473: O que é que a malta lia, nas horas vagas (21): Valentim Oliveira: a Plateia, livros e a correspondência; João Rebola: corridas de burros, futebol, fados, bailes com lindas "bajudas", andar de mota, saborear uns franguitos, etc.

1. Mensagem do nosso camarada Valentim Oliveira (ex-Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490, ComoGuidaje e Farim, 1963/65), com data de 17 de Dezembro de 2013:

Caro Amigo Luís.
Voltando aos anos vinte, e recordando os quase 50 anos que já lá vão, ainda tenho presente na memória as leituras que devorava quando o tempo me permitia.
Lia livros meus e de amigos, mas a que mais gosto me dava era a Revista Plateia que a minha Bajuda hoje esposa me enviava.
Envio em anexos duas fotos as quais mostram a minha razão de ser.

Aproveito esta mensagem para desejar a todos os amigos da tertúlia um Natal feliz e um Ano novo com muita alegria.

Um abraço das terras de Viriato.
Valentim Oliveira




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2. Mensagem do nosso camarada João Rebola (ex-Fur Mil da CCAÇ 2444, , Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2013:

Boa noite, Carlos
Na verdade, nos primeiros meses, em Có e Cacheu, principalmente, não era fácil arranjar tempo e vontade para grandes leituras (excepto os famosos aerogramas), pois a desgastante actividade operacional - CAOP1- e suas consequências, não permitia envolvimento em situações "culturais".
Porém, quando tomámos conta do sector de Bissorã, onde permanecemos cerca de 14 meses, aí sim já se arranjou tempo para muita coisa: corridas de burros, futebol, fados, bailes com lindas "bajudas", andar de mota, que comprei em Bissau por 6 contos, saborear os frangos do Lavinas, etc, etc.
Foi o melhor tempo que passei na Guiné.
Tudo isto "fazia" esquecer os maus momentos passados.
Seguem algumas fotos ilustrativas.

Bom Natal e Feliz Ano Novo
João Rebola

Acelerando a minha Onda 

Montando um dos burros de Sitafá Camará

No restaurante do Manuel Lavinas 

Fado na messe de sargentos. A cantar o fado, o nosso camarada Armando Pires 

As minhas bajudas 

Frente-a-frente com Armando Pires 

Equipa da CCAÇ 2444

No Bingo de Bissorã
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12472: O que é que a malta lia, nas horas vagas (20): Desde a revista "Plateia" até ao romance "Os Lobos", de Hans Helmut Kirst, leituras que depois eram discutidas em grupo (Manuel Amaro, ex-fur mil enf, CCAÇ 2615 / BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969 a 1971)

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11994: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (9): Um reencontro para agasalhar a idade

1. Em mensagem de hoje, 30 de Agosto de 2013, o nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70) conta-nos como reencontrou o seu camarada Vilas Boas que o acompanhava, mais o João Rebola, nas suas "actuações" em Bissorã.

Camarada e Amigo Vinhal.
Sei que o Luís Graça está de férias. Mas não sei, quando ele está de férias, como se faz chegar material para o nosso blog. É que tenho um história breve de um feliz reencontro, que gostava fosse, caso fosse também essa a vossa concordância, publicada.
[...]
Um grande abraço do
Armando Pires


Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires)

9 - Um reencontro para agasalhar a idade

Mais um reencontro para agasalhar a idade. Estava eu posto em sossego e chama-me o João Rebola para perguntar:
- Ó Pires, sabes quem está aqui?

A pergunta foi feita através desse prodígio da comunicação chamado Skype. Sabem os que sabem, quem não sabe fica a saber que é um software que podemos instalar no computador, e que nos permite falar com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, e, o melhor de tudo, estar a vê-la do outro lado.

Pois o Rebola, nosso camarada tabanqueiro, chamou por mim no Skype e fez-me a tal pergunta. Disse-lhe que não fazia ideia, ele chamou para o seu lado um rapaz da nossa idade, cabelos grisalhos e farto bigode, e fez nova pergunta:
- Sabes quem é este gajo?

Eu pressenti que era alguém da tropa, da nossa tropa, que estivera connosco na Guiné, mas não conseguiu chegar lá.

- É pá, peço muita desculpa mas não sei quem é?

- Ó Pires, é o Vilas Boa, pá!

O Vilas Boas, imaginem, um rapaz de transmissões que pertenceu à CCAÇ 2444, a companhia do Rebola, que já estava em Bissorã quando a minha companhia lá chegou, que tocava lindamente viola, que fazia parelha com o Rebola, acompanhando-me a cantar o fado, nas noites de sábado em que o bar de sargentos da minha companhia se enchia de militares e civis a jogarem o bingo e. a ouviram cantar o fado, acompanhado à viola pelo João mais o Vilas Boas.

A fotografia desses momentos já por aqui passou, já foi, até, publicada no nosso blog mas eu recupero-a hoje aqui, para vocês verem o antes e o depois. Mas sobretudo, e esta é a finalidade da comunicação que aqui vos faço, para assinalar o meu reencontro com o Vilas Boas, quarenta e três (43!!!) anos depois de nos termos separados.

Claro que o reencontro deu-se por imagem, através do Skype, como já disse, mas não deixou de ser um reencontro. Porque nos vimos e ouvimos. Só faltou um abraço, um abraço físico, que ficou para um não tarda nada.

E eu, esse momento em que nos estávamos a ver e a falar no computador, também o registei.
Fica aqui esse momento. E, como disse, o outro, o do passado.
Para que me possam acompanhar na alegria sentida do antes e do depois.

Ontem, em Bissorã. À esquerda o João Rebola, à direita o Vilas Boas, ao meio, com sentimento, eu a cantar.

Hoje, nós a falarmos no Skype. À esquerda o Vilas Boas, á direita o João Rebola, eu, escondido no canto inferior direito.
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11974: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (8): Ainda Bula, 1969: Fotos do meu álbum

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11800: Estórias avulsas (64): A bananeira armadilhada e o frango desvitaminado (João Rebola)

1. Mensagem do nosso camarada João Rebola (ex-Fur Mil da CCAÇ 2444, CacheuBissorã e Binar, 1968/70), com data de 28 de Fevereiro de 2013:

Olá, amigo Carlos
Seguem duas "estorinhas" passadas em Bissorã.
No fundo, de entre muitas, foram situações vivenciadas em terras da Guiné, onde um pouco da nossa juventude foi severamente delapidada.

Um abraço
JRebola


A bananeira armadilhada e o frango desvitaminado

Estávamos em princípio de Abril de 1969. Os quartos dos furriéis da CÇac 2444, ficavam um pouco mais acima do tasco do “ Labinas”. Eu tive a sorte de conseguir um pequeno espaço, onde já se encontrava uma cama, uma mesinha de cabeceira e uma estante em madeira, ao fundo do quarto, pregada à parede. Mais, era impensável. E aqui assentei armas e bagagem, durante 14 meses.

Na “suite”, nada faltava: havia luz, rádio gira-discos, whisky, a foto da amada

Antes de iniciar estas pequenas “estórias”, pergunto-vos se ainda se lembram do” Labinas”?! Dele falarei um pouco mais à frente.

Então vamos lá às “estórias”.

Em frente dos quartos, encontrava-se um quintal com algumas árvores, arbustos e uma atrevida bananeira, que suspendia, para o vulgo apreciar, um grande cacho de bananas. Pelo mesmo, vagueava um belo frango. Dava gosto olhá-los. Mas era necessário tê-los debaixo de olho, não fosse o diabo tecê-las… Ora como o local era muito movimentado, devido à presença dos vários furriéis, que ali dormiam, não era fácil, durante o dia, serem surripiados. O leitor amigo, pergunta-me: - E de noite? Bom, responderei que a noite era boa conselheira, já que ninguém ousava entrar no quintal, sabendo que estava sujeito a arrepender-se!

Mas era eu que mostrava mais interesse pelos mesmos.

Ora, um dia, o pobre galináceo, talvez por só comer arroz ou por qualquer outro motivo, não conseguia levantar-se. Estava sem forças. E se lhe desse, as vitaminas que tomávamos na messe? Se bem pensei, bem o fiz! E deu resultado, pois ao fim de algum tempo, sem grande dificuldade, já se erguia, percorrendo-o e depenicando ali e acolá.

Acontece que tinha férias marcadas e pensei numa maneira de tentar que o cacho lá permanecesse até ao meu regresso: armadilhá-lo! Depois de dar conhecimento aos meus colegas do que me propunha fazer, assim procedi e com efeitos muito práticos. Passei vários fios pelas ditas – só para assustar - e dependurei uma granada de bazooka e algumas de mão – sem detonador, claro - e pronto, já está!

Que melhor guarda de honra poderia ter aquele cacho de bananas?!

Entretanto, nada aconteceu durante a minha ausência, em relação às bananas, mas algo tinha desaparecido do quintal: o frango, que me fora oferecido e que preso por uma pata o explorava, alimentando-se de arroz, dado pelos meus colegas e daquilo que as suas unhas iam descobrindo nos buracos que abriam.


Ah! Vamos ao “Labinas”.

Manuel Lavinas Soares, de seu nome, era um destemido soldado, condecorado com a Cruz de Guerra, pertencente a uma companhia sediada em Bissorã, em meados dos anos 60, terminando aqui a sua comissão. Talvez “ferido” pelas setas do Cupido, regressou para junto da companheira e filhos até a guerra terminar.

Paralelamente, ao ramo da restauração, tinha outro negócio, ou seja, dedicava-se também à compra de mancarra e caju, principalmente, dando, em troca, depois de pesados, o produto base da alimentação da população: arroz.

A pesagem (vi algumas) era feita num anexo contíguo ao tasco, afastada de qualquer olhar! Em Bissorã, no meu tempo, a messe dos sargentos funcionava numa casa particular, a do sr. Maximiano, marido da D. Maria, ambos cabo-verdianos. Era da responsabilidade desta última a confecção das refeições.

Ora, muitas das vezes, a comida não nos agradava e como tal, íamos ao “restaurante” do “Labinas”, que nos servia, entre outras coisas, frango assado com bastante “gindungo” e batatas fritas. Bebidas também não faltavam.

Foto de 1970 – petiscando (2º. à esquerda) com elementos do meu pelotão, no tasco do Labinas

Voltemos à “estória”.

Desaparecido o galináceo, que acabou por sucumbir, possivelmente, às mãos de (des)conhecidos para seu repasto - restaram as bananas. Bom, fosse quem fosse, o segredo ainda perdura!

O cacho das bananas foi cortado e dependurado no meu quarto, aí amadureceram e foram desaparecendo consoante a minha vontade.

E assim, vinguei o desaparecimento do meu frango.

Fotos de 2011 

O que resta da messe dos sargentos

Posando à porta onde era o tasco do Labinas

E acabaram assim estas simpáticas “estórias” que foram recordadas, passo a passo, quando me desloquei à Guiné-Bissau, com um grupo de ex-combatentes, numa viagem de saudade, em 2011. Ao fim de 41 anos, o sonho de um dia regressar àquelas terras, tornou-se realidade.

Espero ainda poder voltar, e se for o caso, direi: “Até ao meu regresso”
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11296: Estórias avulsas (63): O menino que não sabia ler (António Eduardo Ferreira)