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sábado, 15 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10806: Memória dos lugares (201). Bambadinca e o seu fontenário de 1948 (José Carlos Lopes / Humberto Reis / Libério Lopes / Luís Graça)




Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > O fur mil amanuense, com a especialidade de contabilidade e pagadoria, José Carlos Lopes no cimo da famosa fonte de Bambadinca... Poucos fotógrafos deram contam  deste monumento... E, no entanto, milhares de homens em armas passaram ao seu lado... É uma construção dos anos 40 (conforme inscrição, visível na foto: 1948). Já aqui falámos desta fonte em poste anterior (*).

Foto: © José Carlos Lopes  (2012). Todos os direitos reservados


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambadinca > 1996: A fonte de Bambadinca. Quando o Humberto Reis voltou à Guiné, em viagem de negócios e de saudade, passou por Bambadinca e tirou esta chapa. A fonte ainda estava lá, e - o mais importante - funcionava!... E continua a lá estar, mais de 60 anos depois da sua construção: veja-se no Google Earth!...



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista (parcial) da tabanca de Bambadinca, com o Rio Geba ao fundo. Em primeiro plano, contígua ao arame farpado, a casa e o estabelecimento comercial do Rendeiro, um dos poucos colonos portugueses que conhecemos na Guiné, em 1969/71.




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > 1970 > Entrada principal, pelo lado leste (sentido Bafatá), do aquartelamento. O fontenário está sinalizado com um círculo a vermelho, ficava a uns 100 metros da casa e estabelecimento comercial do Rendeiro.






Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, tirada no sentido sul-norte. Em primeiro plano, a saída (lado leste) do aquartelamento, ligando à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá. Este troço que ladeada o "morro" de  Bambadinca, fazia a ligação com a estrada, em conmstrução, Bambadinca-Xime (que será posteriormente asfaltada, em 1971 ou 1972). Ao fundo, o Rio Geba Estreito. São visíveis as instalações do Pelotão de Intendência, junto ao importante porto fluvial de Bambadinca. O fontenário de aqui falamos, comnstruído em 1948, está sinalizado com um círculo a vermelho.

Fotos: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados



A fonte, de 1948, em foto de 1964... Enviada pelo nosso camarada Libério Lopes, que foi 2º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65).
Foto: © Libério Lopes (2012). Todos os direitos reservados,





Guiné > Zona leste > Carat de Bambadinca (1955) >  Escala 1/50 mil > Pormenor. Bambadinca ficava num cruzamento ligando a leste Bafatá (e Nova Lamego), a sul, Mansambo - Xitole - Saltinho, e a sudoeste, o Xime.

Infografia:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. (**)

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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Guiné 63/74 – P8986: Efemérides (77): Memorial aos combatentes em Penamacor (Libério Lopes)


1. Mensagem enviada pelo Libério Lopes, que foi 2º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65.



Caro Luís Graça,

Obrigado pelas palavras que escreveste a meu respeito no P8852, após o nosso casual mas feliz encontro, no qual tive o maior prazer em conhecer-te pessoalmente.

Como prometi e após ajuda externa, junto uma notícia referente à inauguração de um MEMORIAL na vila raiana de Penamacor, dedicado aos combatentes do concelho.


Memorial aos combatentes em Penamacor

Embora tardiamente, não quero deixar passar em claro a cerimónia realizada no passado dia 1 de Junho, na vila de Penamacor. Cerimónia simples, mas com um significado profundo.

Uma comissão. composta pelos senhores Dr. Domingos Torrão, Presidente da Câmara Municipal de Penamacor, Professor Libério Candeias Lopes e Major-General João Afonso Bento Soares, preparou e levou a cabo uma justa e merecida homenagem aos ex-combatentes da Guerra do Ultramar, oriundos do concelho de Penamacor, com destaque para os que lá morreram.

É verdade que já passaram muitos anos desde o nosso regresso e o esquecimento estava instalado. Contudo, após exposto este assunto à Câmara Municipal, a mesma aderiu prontamente à construção de um memorial alusivo, dando todo o apoio, financeiro e logístico, para a sua concretização.

O belo monumento, que hoje se encontra às portas da Vila, e honra todos os penamacorenses, é da autoria de Mestre Eugénio Macedo, que o construiu em puro granito da região. É formado, no essencial, por três lajes verticais, cada uma delas rasgada com um mapas vazios, a representar Angola, Moçambique e Guiné. No chão, defronte de cada laje, uma lápide metálica com os nomes dos militares que morreram naqueles territórios ultramarinos.

Eis os nomes:

Falecidos em Angola
Amílcar Augusto Jacinto Martins
António Cardoso Saraiva
António Fernando Ramos
António Manuel Borrego Carreto
João Caria Ramos
João Lourenço Matos
João Manteigas Martins
José Costa Martins
José Marques
Manuel Moiteiro Leitão

Falecidos em Moçambique
António Lopes Salvado
Daniel Pereira Dias
João José da Fonseca Nabais
Joaquim Moiteiro Ribeiro
José António Landeiro Ribeiro
José dos Anjos Silva
Manuel Campos Cardoso
Manuel Joaquim Coelho Proença

Falecidos na Guiné
António Mota Carlos
Augusto Figueira Caria
Domingos Ramos Rodrigues
Fernando Pereira Lopes Raposo
Joaquim António Cardoso Firme
José Maria da Silva
Júlio Antunes Sapo.


Fotos (e legendas): © Libério Candeias Lopes (2011). Todos os direitos reservados.

Inauguração do Monumento aos Combatentes – O prof Libério Candeias Lopes usando da palavra na qualidade de ex-combatente. À sua esquerda o Presidente da Câmara Municipal de Penamacor, dr. Domingos Torrão; à direita o Presidente da Liga dos Combatentes, general Chito Rodrigues

Inauguração do Monumento aos Combatentes – Pormenor da assistência
Inauguração do Monumento aos Combatentes – Descerramento das lápides com os nomes dos militares falecidos 
Inauguração do Monumento aos Combatentes – Grupo de ex-Combatentes da Guiné
___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8852 Recortes de imprensa (50): Medalha de mérito militar chega 43 anos depois... A história do 2º Srgt Mil Libério Candeias Lopes, de Penamacor (CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65)

 1. A prova de que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande, é ir encontrar um camarada de Penamacor, um raiano, no Jumbo de Alfragide, a fazer compras...

Estávamos os dois, lado a lado, na secção do leitinho meio gordo... Foi ele quem me reconheceu... Ou melhor, pusemo-nos a olhar um para o outro, feitos parvos... Demos um abraço e desatámos logo a falar do Xime, de Bambadinca, do blogue, de Penamacor, dos seus médicos, o Martins, o Ribeiro Sanches, e por aí fora... 

Quem haveria de ser ? Não o conhecia pessoalmente, só do blogue... Pois tratava-se do  Libério Lopes, Libério Candeias Lopes, professor do ensino básico reformado, 2º Srgt Mil,
CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65)...  

Faz parte da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2009.  Com 71 anos, está em grande forma... mas não escreve mais coisas, no nosso blogue,  porque não se considera um às em informática...  Numa pesquisa na Net, encontrámos mais alguns elementos informativos sobre este camarada, que tem uma rica história de vida... e a quem eu desejo muita saúde, longa vida, e boa escrita!

O Prof Libério Lopes fez parte, recentemente,  da comissão de homenagem aos Combatentes da Guerra do Ultramar do Concelho de Penamacor (, iniciativa sobre a qual ele, de resto, me prometeu escrever, à despedida). Também conhece pessoalmente o nosso camarada C. Martins.


Guiné > Zona leste > Sub-sector do Bambadinca  >  CCAÇ 526 (1963/65) > Aquartelamento do Xime, onde estava destacado o pelotão do Libério Lopes
.

 
Guiné > Zona leste > Sub-sector do Bambadinca  >  CCAÇ 526 (1963/65) > Aquartelamento do Xime, onde estava destacado o pelotão do Libério Lopes >  "À esquerda a nossa vivenda; á  direira o comércio do libanês Amin" (LCL)



Guiné > Zona leste > Sub-sector do Bambadinca  >  CCAÇ 526 (1963/65) > Aquartelamento do Xime, onde estava destacado o pelotão do Libério Lopes >  Da esquerda para a direita,  Fur Mil Virgílio e Tibério (falecido), Alf Mil Correia Pinto (falecido) e Fur Mil Libério.




  Guiné > Zona leste > Sub-sector do Bambadinca  >  CCAÇ 526 (1963/65) > Saltinho > O Fur Mil Libério Lopes na ponte do Saltinho

Fotos (e legendas): © Libério Candeias Lopes (2009). Todos os direitos reservados.

2. Resumo da actividade operacional da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65):

Recorde-se aqui os passos essenciais da vida do Libério Lopes, no TO da  Guiné, entre 19634 e 1965:

(i) Mobilizada pelo RI 7, a CCAÇ 526 embarcou, a 2 de Maio de 1963, a bordo do paquete «India», juntamente com o Comando dos BCAÇ n.º 506, 507, 599, e 600;

(ii) Comandante da subunidade: Cap Inf Luís Francisco Soares de Albergaria Carreiro da Câmara;
 
(iii) Até 30 de Junho de 1963, a Companhia ficou aquartelada em Brá; ainda neste período, de a 28/6/63, partiu um pelotão para Catió, tendo tomado parte em operações que aí se realizavam;

(iv) A 1/7/63, partiu a Companhia para a Zona Leste ficando a depender do Batalhão de Bafatá;.

(v) Foi-lhe atribuído um sub-sector com a área aproximada de 1.500km2  constituída pelos Regulados de Badora, Xime, Cossé, Cabomba e Corubal (parte Norte);

(vi) O Comando da Companhia ficou instalado em Bambadinca, tendo sido destacado um pelotão para Xime, nesse mesmo dia 1 de Julho;

(vii) A 15/7/63, outro pelotão da Companhia seguiu para o Xitole,  em reforço das tropas ali aquarteladas, donde regressou a 5/8/63;

(viii) Em 26/8/63, assumiu o Comando da Companhia o Capitão Hleder José Franbçois Sarmento;

(ix) No sub-sector, tomou parte nas seguintes operações de conjunto:

«8JUL63 e 12JUL63 na margem direita do Rio CORUBAL»;
«INGLÊS - JAN64»; 
«MARTE - FEV64»;
«BALA - MAR64»;
«VAI À TOCA - NOV64»; 
«BRINCO - DEZ6»;
e «FAROL - JAN65».

(x) Fora do sub-sector, actuou nas seguintes operações:

«OPERAÇÃO VERDE - NOV63»; 
«ESTRADA DO XITOLE - AGOSTO -OUTUBRO - NOV63»;
«MATO MADEIRA-CHICRI - JAN64»; 
«PATON - AGO64».

(xi) No sector à sua responsabilidade, o IN que já actuara a Oeste e Sul de Xime até ao Rio Corubal, levando para os matos uma parte da população e fazendo fugir a restante, tentou expandir a sua acção para Leste para o que atacou tabancas e quartéis, roubou culturas, emboscou as NT e procurou tornar intransitáveis as estradas;

(xii) A Companhia, por uma permanente actividade operacional à base de pequenas acções de combate, emboscadas, constantes patrulhamentos de estradas e caminhos e protecção às populações, permanecendo nas tabancas e locais de trabalho, conseguiu manter em completa normalidade a zona a Leste de Xime e levar a guerrilha a acantonar-se no mato;

(xiii) Durante os 21 meses de permanência no sub-sector, a Companhia teve 108 acções de fogo em contactos com o IN;

(xiv) Em resultado dessas acções, o IN sofreu 48 baixas confirmadas pelas NT, havendo contudo um número muitíssimo superior de mortos e feridos referido por prisioneiros;

(xv) Foram apreendidas 5 espingardas, 5 pistolas-metralhadoras, 1 pistola, grande número de granadas de mão de diversos modelos e vários milhares de cartuchos;

(xvi) Na tentativa de cortar os itinerários, o IN utilizou 15 engenhos A/C e 3 minas A/P. Um fornilho A/C destruiu um jipe  e os restantes 14 engenhos A/C foram detectados e levantados; as 3 minas A/P funcionaram, causando dois feridos: um às NT e outro à população;

(xvii) A Companhia só teve duas baixas por acidente e nove feridos em combate, um dos quais evacuado para a Metrópole. (Para saber mais, clicar aqui).


3. Reproduzido, com a devida vénia, do Jornal do Fundão, edição 'on line' de 29 de Abril de 2009 (Recorde-se que o prestigiado jornal  beirão, onde trabalha a nossa mui querida Ana Mendonça, foi fundado pelo António Palouro em 1946) (**)


Raia (JF Diário)

Medalha de Mérito chegou 43 anos depois  >  Libério Candeias Lopes [, foto a seguir, do nosso blogue,] teve uma surpresa há dias quando o informaram da atribuição de uma medalha de mérito
 
Após regressar da Guiné onde cumpriu serviço militar como sargento miliciano, Libério Candeias Lopes, [ , foto a seguir, crédito fotográfico do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné,] , volta à actividade na vida civil, professor do ensino primário. 

Decorria o ano 1965, tinha então vinte cinco anos. Desempenhou a profissão em diversas escolas do distrito de Castelo Branco, tendo sido posteriormente destacado na Educação de Adultos e Ensino Recorrente, exercendo nas freguesias de Salvador, Aranhas, Penamacor e Benquerença, entre outras do concelho. Foi delegado sindical, criou e dirigiu o Posto da Telescola de Aranhas, proporcionando, então, o acesso ao 2.º ano, aos jovens de Salvador e Aranhas.

As actividades sociopolíticas são no entanto os motivos justificativos do nosso trabalho. É que o professor Libério foi, à data, muito provavelmente, o presidente da Junta de Freguesia mais jovem do país. Tinha vinte e sete anos quando o presidente da Câmara, dr. António Moutinho,  lhe endereçou o convite. Recusado inicialmente, a persistência foi tanta que não lhe restou alternativa. Acabou por encabeçar a única lista concorrente e foi eleito presidente da Junta de Aranhas, sendo sucessivamente reeleito até 1975.

Cargo de difícil manutenção, pois as autarquias não dispunham de qualquer tipo de financiamento, como actualmente dispõem. As receitas provinham de alguns atestados, venda de sepulturas, e do que fosse conseguido junto do presidente da Câmara Municipal. A persistência do jovem presidente era de tal ordem que o presidente da Câmara ao vê-lo comentava: “lá vem o jovem pedinchão”.

Conseguidas algumas centenas de escudos, Libério Lopes pedia ao pároco da freguesia para anunciar uma reunião com o público na sede da Junta. O povo comparecia. Era informado das receitas conseguidas e indicava-lhes dois ou mais caminhos a precisar de arranjo. A população decidia qual o mais necessitado. Como o dinheiro era pouco, o professor “tocava” o coração do povo de modo a que cada família com propriedades servidas pela via a reparar, contribuísse com um dia de trabalho efectivo ou o seu valor monetário. E o caminho era reparado.

 Por este e outros motivos, aquando do 25 de Abril, as Forças Armadas na sua passagem por Penamacor sugeriram a substituição de todos os órgãos autárquicos eleitos antes da revolução, o que aconteceu em diversas localidades. Em Aranhas a população apareceu em massa defendendo a continuidade do professor Libério à frente da Junta de Freguesia. Só mais tarde, a lei o destituiria. Mas no decurso da sua vida mais activa, conquistou um palmarés invejável, no desempenho de várias actividades, tendo dificuldade em definir do que mais gostou de fazer ou que teve pena de não ter feito.
 
“O maior prazer foi a criação da Liga dos Amigos de Aranhas e mais tarde o Centro de Dia. Isto ajudou a resolver inúmeros problemas a nível cultural, recreativo, desportivo e social dos habitantes de Aranhas”, refere.

A construção da ponte sobre a ribeira da Baságueda, no sítio do Freixal, foi uma excelente conquista. O dr. Moutinho opunha-se, mas o jovem através de amizades e conhecimentos levou a sua àvante. Outra coroa de glória prende-se com a reactivação do Rancho Folclórico de Aranhas,  em 1971, tendo para além das deslocações, uma semana no Casino Estoril e outra no Hotel Balaia, no Algarve, conseguindo que o mesmo fosse admitido na Federação Portuguesa de Folclore em 1983. 

Inúmeros episódios dignos de nota fazem parte do seu historial, porém destacaremos os mais significativos. Numas eleições para o qual foi nomeado presidente da mesa de votos, – “após encerrar a mesa peço para contarmos os votos. Os meus colegas de mesa (todos com mais de 60 anos) dizem-me que era hábito descarregar alguns nomes. Eu opus-me. Um deles, polícia reformado, disse-me: o sr. professor é que manda, mas olhe que vai ter chatices. Não liguei. Contámos os votos, 126, e mandei os resultados para a Câmara Municipal. Mal adivinhava a noite que iria passar. Por volta da meia-noite o dr. Moutinho foi a minha casa pedir explicações porque não tinha descarregado os votos. Queria saber se o povo de Aranhas estava descontente e porquê. Passámos a noite a elaborar um relatório, a explicar o porquê de só aparecer aquele número de votantes. No dia seguinte o jornal 'O Século' noticiou que Aranhas teve a percentagem de votantes mais baixa do país. Na verdade no concelho de Penamacor e talvez do país, Aranhas foi o que apresentou a votação real”.

Na última manifestação “espontânea” dos portugueses a Marcelo Caetano, foram colocados autocarros gratuitos para a população se deslocar a Lisboa. Cabia aos presidentes de junta mobilizar o povo. O de Aranhas não fez caso do assunto. Da terra ninguém foi a Lisboa. Entretanto a Junta candidatou-se à atribuição de um televisor para a Delegação da Casa do Povo em Aranhas. Todas as localidades foram contempladas. Menos Aranhas. Quando inquiriu o presidente da Casa do Povo de Penamacor do porquê da sua exclusão, foi-lhe respondido que a delegação de Aranhas não a merecia, pois não mandaram ninguém a Lisboa.

Invulgar e digno de nota, foi a surpresa que Libério Lopes teve há alguns dias. Um amigo, militar no activo, em conversa sobre a guerra colonial informou-o que tinha lido por acaso, a atribuição da Medalha de Mérito Militar de 4.ª classe, com base num louvor, por ter participado em acções de combate, ao furriel miliciano Libério Candeias Lopes. Ora a data da condecoração é de 28 de Fevereiro de 1966. O condecorado soube disso, casualmente 43 anos depois.
Jolon

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Notas do editor:


(**) Do seu sítio institucional, na Net:

(...) "O Jornal do Fundão, fundado em 1946 por António Paulouro, é hoje um marco referencial no panorama da imprensa regional portuguesa. Com uma tiragem semanal de 14.000 exemplares e um universo de audiência que atinge os 53.000 leitores, foi distinguido com a Ordem do Infante D. Henrique e tem no seu historial outros galardões como o Prémio Gazeta, homenagens das Universidades de Salamanca e da Comunidade Portuguesa em França.

"O Jornal do Fundão faz parte da matriz de identificação da Beira Interior e é reconhecidamente um elemento da sua coesão social bem como do desenvolvimento económico e cultural da região.
 

"O Jornal do Fundão tendo vindo a reforçar a sua influência no eixo geográfico que vai desde a região da Guarda, Covilhã, Fundão e Castelo Branco. É líder destacado de audiência da Imprensa Regional no distrito de Castelo Branco e tem ainda expressiva audiência nacional." (...)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5512: O meu Natal no mato (25): Apanhados em flagrante, a pôr duas minas no 'sapatinho', na estrada Xime-Bambadinca (Libério Lopes, CCAÇ 526, 1963/65)



Guiné > Zona Leste > Xime > CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65) > No Xime, esteve destacado um grupo de combate.

Foto: © Libério Lopes (2008).  Direitos reservados



1. Mensagem do Libério Lopes(*), ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65, 


Caro Luís,


Junto envio um pequeno texto relacionado com a actual época festiva.

Dá-lhe o destino que entenderes.

Um abraço,
Libério.

2. Uma noite de consoada no Xime

por Libério Lopes

Passaram 45 anos mas o episódio mantém-se como se tivesse acontecido ontem.

Pensávamos nós, militares do Pelotão destacado no Xime, que iríamos passar uma noite de consoada tranquila, comendo as tradicionais batatas com bacalhau, sem couves, pois era coisa que nunca vimos nos dois anos de Guiné, tudo acompanhado com umas cervejinhas fresquinhas. De seguida viriam umas horitas de lerpa, mais duas horas de ronda e por fim um sono por vezes demasiado sobressaltado pelas picadelas dos mosquitos.

Porém, as coisas nem sempre correm como o previsto. O homem do rádio traz-nos uma mensagem para decifrar e que, depois de lida, nos tira de imediato a vontade de comer e o sono.

O Comandante de companhia ordenava que se efectuasse uma emboscada entre o Xime e a tabanca de Amedalai. E como na tropa uns mandam e os outros obedecem, nada mais havia do que cumprir essa missão.

Como havia apenas 3 secções, ao anoitecer foi deixada uma delas perto de um trilho que ligava com a tabanca de Samba Silate. Ali tomou posição, pensando o Furriel Miliciano que a comandava, que iriam ser umas horas de seca (como muitas outras vezes acontecera), já que entre o Xime e Bambadinca nunca tinha havido quaisquer sinais de IN a não ser a fuga da população da tabanca de Samba Silate (raça balanta) para o mato.(**)

Pensava ainda o comandante da secção no jantar que o esperava no Xime, quando começa a ouvir vozes a cerca de 200 m e um ruído que o leva a pensar ser a abertura de um buraco na estrada. Aguentou firme e em silêncio. Esperou alguns minutos que lhe pareceram horas. Eis, senão quando um grupo de homens se aproxima e mesmo em frente da secção emboscada, resolve abrir um buraco na estrada para ali ser colocada um mina anti-carro. Antes já tinham colocado outra.

Algumas rajadas de G3 quebraram o silêncio e acabaram de vez com a “brincadeira”. Do aquartelamento saiu de imediato outra secção em seu auxílio mas não muito preocupados pois não se tinham ouvido tiros de pistola-metralhadora, arma utilizada pelo IN. Em conjunto tem-se então noção de toda a realidade.

Ainda hoje pergunto: Que sinal teve o Comandante para mandar fazer uma emboscada nesta noite e naquela zona? Como foi possível esta coincidência da colocação da mina mesmo m frente dos nossos homens ali emboscados?

Se tudo isto não tivesse acontecido, o dia a seguir, dia de Natal, estaria na nossa memória por outros motivos. Duas minas esperavam-nos as consequências, todos nós sabemos quais seriam.

É claro que a consoada no Xime festejou-se depois da meia-noite, e de que maneira! Valeu a pena o sacrifício.

Recordo, também,  que as viagens entre o Xime e Bambadinca nunca mais foram como dantes.

Termino, desejando a todos os tertulianos, Boas Festas de Natal e um Bom Ano 2010.


Libério Candeias Lopes (**)
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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3869: CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65), História da Unidade (Libério Lopes)

10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3863: Tabanca Grande (114): Libério Candeias Lopes, ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65)

(i) Mobilizada pelo Regimento de Infantaria n.º 7;

(ii) Comandada pelo Cap Inf Agostinho da Costa Alcobia, substotuído, ainda na metrópole, pelo Cap Inf  Luís Francisco Soares de Albergaria  Carreiro da Câmara;

(iii)  Foi para a Guiné no paquete Índia, em Maio de 1963, juntamente com os BCAÇ 506, 507, 599, e 600;

(iv) Até 30 de Junho esteve aquartelada em Brá, Bissau, com um pelotão destacado em Catió;

(v) Em 1 de Junho de 1963, é colocada na zona leste, ficando a depender do Batalhão de Bafatá;

(vi) É lhe atribuído um sub-sector com a área aproximada de 1.500 km2, constituída pelos Regulados de Badora, Xime, Cossé, Cabomba e Corubal (parte Norte).

(vii) O Comando da Companhia ficou instalado em Bambadinca, tendo sido destacado um pelotão para Xime, nesse mesmo dia 1 de Julho.No sector à sua responsabilidade, o IN que já actuara a Oeste e Sul de XIME até ao Rio CORUBAL, levando para os matos uma parte da população e fazendo fugir a restante, tentou expandir a sua acção para LESTE para o que atacou tabancas e quartéis, roubou culturas, emboscou as NT e procurou tornar intransitáveis as estradas;

(viii) A 15 de Julho, outro pelotão da Companhia seguiu para o Xitole em reforço das tropas ali aquarteladas. Regresso A 5 de Agosto de 1963;

(ix) Em 26 de Agosto de 1963m conhece um terceiro comandante, o Cap Inf Hleder José François Sarmento;

(x) Participou em diversas ioerações, no seu sector e fora do seu sector ("No sector à sua responsabilidade, o IN que já actuara a Oeste e Sul de XIME até ao Rio CORUBAL, levando para os matos uma parte da população e fazendo fugir a restante, tentou expandir a sua acção para LESTE para o que atacou tabancas e quartéis, roubou culturas, emboscou as NT e procurou tornar intransitáveis as estradas");

(xi) Durante os 21 meses de permanência no sub-sector, a Companhia teve 108 acções de fogo em contactos com o IN; em resultado dessas acções, o IN sofreu 48 baixas confirmadas pelas NT, havendo contudo um número muitíssimo superior de mortos e feridos referido por prisioneiros; foram apreendidas 5 espingardas, 5 pistolas-metralhadoras, 1 pistola, grande número de granadas de mão de diversos modelos e vários milhares de cartuchos;

(xii) Na tentativa de cortar os itinerários, o IN utilizou 15 engenhos A/C e 3 minas A/P; um fornilho A/C destruiu um jipe e os restantes 14 engenhos A/C foram detectados e levantados; as 3 minas A/P funcionaram, causando dois feridos: um às NT e outro à população.

A Companhia só teve duas baixas por acidente e nove feridos em combate, um dos quais evacuado para a Metrópole.

(**) Vd. poste de 11 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2930: Bambadinca, 1963: Terror em Samba Silate e Poindom (Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84, 1961/63)


(***) Vd. último poste da série:   8 de Dezembro de 2009 >  Guiné 63/74 - P5428: O meu Natal no mato (24): Boas Festas e Prósporo Ano Novo... (José Nunes, BENG 447, 1968/70)




sexta-feira, 26 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4584: Controvérsias (26): Cabo Miliciano: Cabo, Sargento ou Soldado? (Libério Lopes)





1. Mensagem enviada pelo Libério Lopes, que foi 2º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65 (*), em 24 de Junho de 2009:






Cabo Miliciano: Cabo, Sargento ou Soldado?

Dizia o Manuel Maia há alguns dias, que o único país do Mundo onde existiu o posto de Cabo Miliciano foi em Portugal. E tem razão. Só em Portugal isso podia acontecer e foi devido à lucidez brilhante de um Ministro do Exército do Governo de Salazar que isto podia acontecer. Se não me engano foi o Santos Costa. Se não for ,e se alguém souber ao certo quem foi, é bom transmitir a todos os camaradas para lhe prestarmos as nossas homenagens…

Foi um indivíduo inteligente ao tomar esta atitude (poupou milhões ao Estado) só que criou inúmeros problemas.

Com o vencimento de um soldado, tinha um Cabo a fazer um serviço de Sargento. É claro que alguns comandantes usavam e abusavam do seu poder discriminatório para rebaixar os Cabos Milicianos.

Fui Cabo Miliciano no Batalhão de Caçadores 6, em Castelo Branco, desde Janeiro de 62 a Abril de 63. Dei salvo erro três recrutas e, por falta de aspirantes muitas vezes comandámos pelotões de 100 recrutas.

Neste quartel aconteceram, com o comandante de então, coisas interessantes. Ao Cabo Miliciano era proibido frequentar o bar dos soldados, porque faziam serviço de Sargento. Só que os sargentos do QP não nos deixavam entrar no seu Bar.

Houve, inclusivamente, um Cabo Miliciano de Sargento de Dia ao Batalhão que ao querer tomar café no Bar de Sargentos, durante a noite, foi posto na rua por um 1º Sargento. Isto serviu para que os Cabos Milicianos se juntassem e conseguissem uma pequena sala onde se reuniam e tinham uma máquina de café.

Como defesa da classe, deliberamos só responder quando nos tratassem por Cabo miliciano e não por cabo. Ainda estou a ver o Comandante a chamar o Silva… gritando: ó nosso cabo… ó nosso cabo e o Silva… não lhe respondia. O comandante aproxima-se dele e pergunta-lhe se não o tinha ouvido chamar. O Silva retorquiu-lhe: 0 meu comandante desculpe mas chamou nosso cabo e eu sou Cabo Miliciano. O Comandante engoliu e calou. Serviu de exemplo para todo o quartel.

Esse mesmo senhor quis aplicar-me como castigo, de me ver á civil na rua, uma carecada (”écada” no meu tempo).

Em Março de 1963 fomos promovidos a Furriéis Milicianos. Nunca nenhum de nós entrou alguma vez no Bar de Sargentos.

Termino dizendo que, embora todos estes condicionantes, sinto-me honrado por ter pertencido á classe dos Cabos Milicianos. Fomos explorados no Continente como mão-de-obra barata ao contrário dos Aspirantes Milicianos, que, ao fim da especialidade, tinham desde logo acesso á classe de oficiais.

No Ultramar foi o que toda a gente sabe: sempre na frente de combate enquanto a maioria dos profissionais estavam no ar condicionado. Mas isso é outro assunto...

Libério Lopes
2º Sarg Mil
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Nota de M.R.:

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quarta-feira, 3 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4457: Memória dos lugares (27): Álbum fotográfico do Xime, CCAÇ 526, 1963/65 (Libério Lopes)





1. Em mensagem de 2 de Junho de 2009, Libério Lopes, ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65 (*), enviava-nos 9 fotos para o álbum fotográfico do Xime.





Em mensagem de 2 de Junho de 2009, Libério Lopes (*), ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65, enviava-nos 9 fotos para o álbum fotográfico do Xime.

Caro Luis Graça,

Junto envio algumas fotos tiradas no Xime em 1963 ou 1964. Servirão para enriquecer o álbum sobre o Xime.

A maioria da população do Xime era simpática connosco, e de vez em quando juntávamo-nos para umas danças africanas, nas quais eu gostava de participar.

Além disso os putos conheciam-me porque ainda os juntei para lhe dar umas aulas. Foi uma tentativa que não resultou, devido a não me ter sido concedido o tempo necessário para isso.

No Xime estava só um pelotão e éramos poucos para a missão militar que tínhamos em mãos. Foi pena porque a minha profissão era professor e, certamente, teria feito um trabalho mais útil. ´

Desses momentos de lazer anexo, abaixo, nove fotos. Um abraço do Libério Lopes,
(ex-2ºSarg Mil)

2. Comentário do nosso amigo, guineense da diáspora, Eng José Carlos Mussá Biai, natural do Xime, nascido no início da década de 1960:

Caro Luís

Fico sempre com muita emoção quando vejo fotos, sejam elas de paisagens ou gentes da minha terra-natal. Por isso deste vez não foi excepção.

Quanto as pessoas que estão nas fotografias, apenas a foto 9 é que tem duas caras que me são familiares. Trata-se de um primo e um tio.

Mas de qualquer maneira por alguns bons minutos voltei a Xime.

Um abraço e muita saúde,

José C. Mussá Biai


Foto 1 - Grupo de mulheres do Xime, comigo ao lado.

Foto 2 – Batuque, comigo no meio.




Foto 3 – Batuque, sempre comigo no meio.


Foto 4 - Eu e a minha lavadeira, e salvo erro o seu filho.

Foto 5 – Elementos da população.



Foto 6 - Eu com um bebé que simpatizava muito comigo.




Foto 7 - Nesta estou com um chapéu colonial.

Foto 8 – Nesta estou com um chapéu colonial.



Foto 9 - O homem do chapéu colonial era nosso guia e morava junto ao quartel. O mais alto, acho que era o chefe da tabanca. Ia connosco para o mato e, devido á sua altura salvou-me de morrer afogado numa bolanha perto do Xime, num dia para esquecer.


Fotos: © Libério Lopes (2009). Direitos reservados
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Nota de M.R.:

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