Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça, com o objetivo de ajudar os antigos combatentes a reconstituir o puzzle da memória da guerra da Guiné (1961/74). Iniciado em 23 Abr 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência desta guerra. Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, e gostamos de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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sábado, 24 de janeiro de 2009
Guiné 63/74 - P3786: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (2): Gô, Didi, Tati, Nai, Joi.../ Um, Dois, Três, Quatro, Cinco...
Continuação da publicação do Dicionário Fula/Português, organizado pelo nosso camarada Luís Borrega, ex-Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922 (Piche, 1970/72) (*).
Como ele já nos explicou, esta singela recolha de vocábulos em dialecto fula (e respectiva tradução em português) resultou de longas e pacientes conversas com o seu amigo Cherno Al Hadj Mamangari, que vivia em Cambor, a nordeste de Piche.
O título Al Hadj é dado ao crente que já foi a Meca (**).
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste anterior desta série > 24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3785: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (1): Nafinda, nháluda, naquirda... Bom dia, boa tarde, boa noite...
(**) 7 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - L: Mancarra, a semente do diabo... (Luís Graça)
(...) Excertos do diário de um tuga. L.G. > 8 de Março de 1970 > Sansancuta.
É interessante notar que na mitologia fula a mancarra (amendoím) esteja associada ao Diabo em pessoa (Iblissa). O cherno Umaru que dirige uma pequena escola nesta tabanca e que se prepara , como bom muçulmano devoto (tijanianké), para fazer no próximo ano a sua peregrinação a Meca (Iado Hadjo, em fula) e assim juntar ao seu nome o título venerando de al-hadj, contou-me , por intermédio do Suleimane (o meu braço direito, guarda-costa, intérprete, cozinheiro, secretário – é um dos nossos poucos soldados que sabe ler e escrever português, daí ser soldado arvorado e em breve 1º cabo), contou- me ele a seguinte estória:
- Um dia Iblissa (o Diabo) quis desafiar a autoridade divina de Mohamadu (o Profeta Maomé). Tinha chovido muito e o Profeta dissera que então nasceriam todas as sementes que fossem lançadas à terra. O Diabo, em vez de uma semente de milho ou de arroz, deitou leite numa cova que ele próprio tinha feito no chão. Mohamadu, intrigado e inquieto com a provocação de Iblissa, foi falar com Alá, que lhe mandou guardar uma semente. E ao fim desse tempo, não é que do leite nasceu mesmo a mancarra ?
Recordo que Amílcar Cabral, na Estação Agronómica de Fá-Mandinga, fez estudos sobre vários tipos de semente de amendoím. E já então ele denunciava o perigo que representava, para o desenvolvimento da agricultura na Guiné, a monocultura desta oleaginosa, um típico produto do imposto pelo colonialismo aos guinéus.(...)
Guiné 63/74 - P3785: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (1): Nafinda, nháluda, naquirda... Bom dia, boa tarde, boa noite...
1. Mensagem do Luís Borrega, ex-Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922 (Piche, 1970/72) (*), com data de 17 do corrente:
Bom dia camarada e amigo Luis Graça, ainda não cumpri a segunda parte da [minha obrigação, decorrente da] inscrição na TABANCA GRANDE (que é o envio de uma história), porque me encontro doente.
Safei-me na Guiné do paludismo, mas não me safei agora da gripe.
Em relação ao Dicionário Fula/Português, como só agora comprei um PC portátil especialmente para me ligar à Tabanca, ainda ando na informática tipo galo pica no chão. Agradeço que sejam vocês a tratar de pôr o dicionário operacional no Blogue.
Também tenho histórias com os macacos cães (Babuínos), que oportunamente contarei!
Alfa Bravo
Luis Borrega
2. Comentário de L.G.:
O dicionário Fula / Português (sob a forma de uma dezena de listas de vocábulos e expressões em dialecto fula e o corresponente significado em língua portuguesa) é um trabalho de recolha feito pelo Luís Borrega. Chegou-nos todavia por mão do nosso camarada e amigo Mário Beja Santos.
Escrevi ao Mário, com conhecimento ao Luís, o seguinte:
"Posso fazer a partição e a edição da imagem, de modo a torná-la legível. Ou tentar arranjar um voluntário (entre a malta da nossa Tabanca Grande) para transcrever para word e (re)organizar o texto (por ex., ordem alfabética, fula/português e português/fula)... Recebi cinco documentos digitalizados em formato.jpg. Obrigado, aos dois".
Ao Luís Borrega mandei a seguinte mensagem:
"Sê bem vindo ao ... admirável mundo novo [da Internet] ! Mais vale um PC portátil do que... uma G3. Vamos avançar com o teu dicionário. Abraço. LG"
Como nos explica no 1º documento que se reproduz em cima, o Luís Borrega passou longas horas a conversar com o prestigiado Cherno Al Hadj Mamangari, de Cambor, um chefe religioso muçulmano com real influência em toda a região do Gabú e até além fronteiras. Morreu em 2005.
Não é (nem pretende ser) um trabalho científico, mas o nosso camarada revela aqui grande sensibilidade cultural, além de muita paciência e perseverança, qualidades essenciais em qualquer investigador.
A recolha do Luís Borrega é digna do nosso apreço e honra as nossas duas culturas, a portuguesa e a guineense. Aqui ficam as primeiras listas de vocábulos correntes, em fula, e da sua correspondência em português.
Jarama!...
(Continua)
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Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 4 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3699: Tabanca Grande (108): Luís Borrega, ex-Fur Mil Cav da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72
(...) "Ex Furriel Miliciano de Cavalaria com o curso de minas e armadilhas, mobilizado para a Guiné pelo Regimento de Cavalaria 3 de Estremoz, integrando a Companhia de Cavalaria 2749 / Batalhão de Cavalaria 2922, colocado no sector L4, no leste da Guiné em Piche.
"A minha companhia tinha os destacamentos CAMBOR, Ponte de RIO CAIUM e mais tarde reocupámos o destacamento de BENTEM. A nossa área de operações era Piche, Canquelifá e Buruntuma" (...).
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