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segunda-feira, 23 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16127: (De)Caras (41): A Canquelifá da CCAÇ 3545 (1972-1974) e os acontecimentos de janeiro de 1974: a morte do "ranger" fur mil op esp Luís Filipe Pinto Soares (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)


1. Mensagem, com data de 19 do corrente, do nosso colaborador, amigo, camarada e grã-tabanqueiro, Jorge Araújo, (que, na "vida real", é docente universitário, para quem não sabe, tendo na "outra vida" sido fur mil at inf op esp/ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74):

Caro camarada Luís Graça e demais editores:

Conforme promessa, que te dei conta em comentário escrito hoje no blogue, anexo uma nova narrativa histórica sobre os terríveis acontecimentos de janeiro de 1974 em Canquelifá (*), que guardarei para sempre na minha memória.

Aproveitei para juntar, no mesmo texto, três variáveis da guerra: os factos, os relatórios oficiais (Perintreps) e a comunicação social, com relevância para a morte de mais um camarada meu/nosso. (**)

Um abraço.

Jorge Araújo.

domingo, 10 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15956: Dando a mão à palmatória (29): Corrigindo o nome do comandante do BCAÇ 4612/74, ten cor Américo (e não António) da Costa Varino, um dos nossos oficiais superiores presentes na cerimónia de entrega do quartel de Mansoa ao PAIGC, em 9 de setembro de 1974



Guiné > Mansoa > 9 de setembro de 1974 > Cerimónia da transição da soberania nacional, aquando da entrega do aquartelamento de Mansoa ao PAIGC, e troca de cumprimentos entre o Comandante do BCAÇ 4612/74, ten cor  Américo da Costa Varino e os comandantes do PAIGC presentes na cerimónia.

Guiné > Região do Óio > Mansoa >  9 de setembro de 1974 > Da esquerda para a direita: (i) comandante do BCAÇ 4612/74, ten cor Américo da Costa Varino;  (ii)  comissário político do PAIGC; (iii) 2º  comandante do batalhão, major Ramos de Campos;  e  (iv) o representante do CEME/CTIG, o major Fonseca Cabrinha.

Fotos do álbum do nosso coeditor Eduardo José Magalhães Ribeiro,  ex-fur mil op esp/ ranger,  CCS do BCAÇ 4612/74, Cumeré, Mansoa e Brá, 1974.

Fotos (e legendas): © Eduardo José Magalhães Ribeiro (2009). Todos os direitos reservados.


  1. Mensagem do nosso leitor Pedro Oliveira Varino:

Data: 15 de março de 2016 às 00:22

Assunto: Correcção de nome


Exmos. Srs.

Após leitura do vosso blogue  que retrata parte da nossa História, infelizmente pouco divulgada, agradecia a correcção do nome do meu avô,  comandante Américo da Costa Varino, que procedeu à cerimónia de transição de soberania da Guiné no ano de 1974.

No vosso blogue, nomeadamente no poste P9335, de 26 de fevereiro de 2012,  encontra-se erradamente como "António C. Varino".

Muito agradecido e com os melhores cumprimentos,

Pedro Varino
(a pedido do coronel inf ref Américo da Costa Varino) [ex-comandante do BCAÇ 4612/74, Mansoa, 1974]

2. Mensagem emitida pelo nosso editor, na volta do correiro:

Pedro, obrigado, um alfabravo (abraço), de camarada para camarada, do editor Luís Graça para o seu avô... Já corrigimos a "gralha", de que pedimos desculpa, com conhecimento ao autor do poste (*), o Luís Vaz Gonçalves. E não só nesse, como também nos postes P7404 e P7388 (**), do nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro... Américoo da Costa Varino era na altura tenente coronel, comandante do BCAÇ 4612/74. Não é um erro de palmatória, mas é um erro factual, de que pedimos desculpa. No nosso blogue, prezamos a verdade e o rigor.

Diga ao seu avô que este espaço também é dele, é de todos os camaradas, ex-combatentes, que passaram pelo TO da Guiné, entre 1961 e 1974. 

Saudações. Luís Graça.

3. Comentário do nosso amigo e grã-tabanqueiro Luís Gonçalves Vaz, autor do poste P

Caro Pedro Varino:

Antes demais, peço-lhe para apresentar as minhas desculpas ao senhor seu avô, sr coronel Américo da Costa Varino pelo erro no meu artigo. 

Gostava também de lhe agradecer o seu pedido de correção, que já foi realizado pelos Editores do Blog. Assim o artigo "Retirada Final, os últimos militares portugueses a abandonar o TO da Guiné" (*), ficou mais fiel à nossa história relativa a este capítulo da transição da soberania nacional na Guiné, para o PAIGC. 

Aproveito para lhe enviar os meus melhores cumprimentos para o sr. coronel Américo da Costa Varino, que com certeza conheceu bem o meu falecido pai, coronel CEM Henrique Gonçalves Vaz.

Cumprimentos, Luís Gonçalves Vaz

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terça-feira, 29 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15911: (Ex)citações (306): A propósito da última troca de prisioneiros, em Aldeia Formosa, no dia 14 de setembro de 1974....Prisioneiros, não, "retidos pelo IN"...

Guiné > Bissau > HM 241 > 14 de setembro de 1974 >
Os últimos prisioneiros portugueses. 
Foto de Duarte Dias Fortunato
I. Os sete camaradas nossos que foram trocados por 35 militantes ou simpatisantes do PAIGC, presos pelas NT, não eram, segundo as autoridades militares portugueses da época, "prisioneiros de guerra"...  

Essa figura jurídica não existia... Não podia haver "prisioneiros de guerra" pela simples razão de que, para o regime de Salazar (e de Caetano),  Portugal não estava em guerra contra nenhum país estrangeiro. Tinha uma "guerra de subversão", nas suas províncias ultramarinas, apoiada por algumas potências estrangeiras, mas limitava-se a responder, para manter a paz e a ordem, contra os que, internamente, alimentavam essa guerra (*)...

Nessa medida, a Convenção de Genebra não se aplicava (ou não tinha que se aplicar, do ponto de vista legal) no TO da Guiné (e noutros teatros de operações, Angola e Moçambique)... Militar português capturado pelos nossos inimigos internos era classificado como "retido pelo IN"... Elemento subversivo ("terrorista")  capturado pelas NT devia ser tratado como um vulgar "preso de delito comum" (e entregue depois à PIDE/DGS, para obtenção de informações relevantes pata a "segurança interna")... Era, grosso modo, essa a  "doutrina vigente"...


II. Eis o que se escreve, sobre o tema Prisioneiros, no portal Guerra Colonial (1961-1974), desenvolvido pela A25A - Associação 25 de Abril... (Reproduzimos um excerto com a devida vénia):

(...) O facto de o regime português não reconhecer que se travava uma guerra nas suas colónias e de não atribuir o estatuto de beligerantes aos movimentos de libertação impedia que os militares portugueses tivessem a qualidade de prisioneiros de guerra, quando eram capturados.  Este assunto foi tratado, em 1967, em nota circular do Estado-Maior do Exército com o título: «Militares portugueses na posse do IN e elementos terroristas capturados», a qual estabelecia a seguinte doutrina:

"1. Tem vindo a verificar-se que os diversos partidos emancipalistas desenvolvem as mais variadas manobras no sentido de passarem a ser considerados como "beligerantes", oficializando assim a luta que se trava no Ultramar.

2. Um dos processos mais frequentemente usados tem sido o de solicitar para os terroristas capturados pelas nossas tropas as regalias que a Convenção de Genebra concede aos "prisioneiros de guerra". Por outro lado, e com o mesmo objetivo, esses partidos começaram a usar para com os militares portugueses em seu poder a designação de "prisioneiros de guerra", ao mesmo tempo que os seus órgãos de propaganda afirmam que lhes serão concedidas as garantias da mesma Convenção, como contrapartida.
Indivíduo suspeito, preso dpelas
NT.  Barro, 1968.
Foto de A. Marques Lopes (2005)

3. A fim de neutralizar esta manobra do inimigo, S. Ex.ª o ministro da Defesa Nacional, por despacho de 28 de junho de 1967, determinou que passassem apenas a ser usadas as designações que se seguem quer para elementos terroristas, quer para militares nacionais:

a. Terroristas caídos em poder das nossas tropas:

1) Ação - captura
2) Situação - sob prisão
3) Designação - preso

b. Militares portugueses em poder de elementos terroristas:

1) Ação - retenção
2) Situação - situação de retido
3) Designação individual - «retido pelo inimigo».

Assinava o general Sá Viana Rebelo, vice-chefe do Estado-Maior do Exército.  Curiosamente, esta circular era complementada com normas relativas ao «Procedimento a tomar no caso de ser retido», onde se afirmava no ponto d):  «Quando interrogado, o militar português apenas deve fornecer os dados a que é obrigado pela Convenção de Genebra: nome completo, posto, número e data do nascimento».

Capa da revista do Expresso, 29/11/1997

E acrescenta o  portal Guerra Colonial (1961-1974):

 (...) Embora seja pouco conhecido o número de militares portugueses prisioneiros, é possível adiantar os seguintes números e locais de prisão:

Na Guiné-Conacri, até 1970:  oficiais 1 (alferes); sargentos 2 (um sargento-piloto da Força Aérea e um furriel miliciano do Exército) ; cabos 4; soldados 15. Total 22.

Estes militares estiveram presos nos quartéis de Alfa Yaya e de Kindia, devendo-se-Ihes acrescentar um outro que foi colocado em Argel. Um soldado prisioneiro morreu em Conacri, tendo a sua morte sido comunicada diretamente à família por Carlos Correia, membro do Bureau Político do PAIGC, juntamente com uma fotografia do funeral. Ao todo, entre os que as Forças Armadas Portuguesas consideraram desertores e retidos, foram capturados e estiveram presos na Guiné cerca de 45 militares portugueses, dos quais três eram oficiais. (...)




Pormenor de um documento redigido pelo punho do próprio Amílcar Cabral, com a lista dos prisioneiros (sic) que se encontravam, nos últimos meses de 1971 na prisão do PAIGC em Conacri, conhecida por "Montanha". Na altura eram seis , dos quais dois pportugueses, ambos "prisioneiros de guerra" (sic): o António Teixeira (entrado em 21/1/71) e o Duarte Dias Fortunato (24/2/71)... O Fortunato (capturado em Piche, em 22/2/1971) tem a palavra "desertor" riscada; o Amílcar Cabral escreveu por cima "prisioneiro" (a azul) e acrescentou (a lapiseira preta) "de guerra"... O mesmo se passa com o Teixeira: primeiro era simples "prisioneiro" e depois passou a ser "prisioneiro de guerra"... O Amílcar Cabral utilizava habilmente uns e outros, os prisioneiros de guerra e os desertores, para fins de propaganda diferentes e interlocutores diferentes: Igreja Católia / Vaticano, Cruz Vermelha Internacional, "países amigos", etc... 

Fonte: Cortesia da Casa Comum / Arquivo Amílcar Cabral



III. O nosso amigo e grã-tabanqueiro Luís Vaz Gonçalves acompanhou o seu falecido pai, coronel do CEM Henrique Gonçalves Vaz na sua última comissão em África, no TO da Guiné, onde foi o último Chefe do Estado-Maior do CTIG (do QG),  sobre o Comando do General Bettencourt Rodrigues.  Já aqui nos descreveu como, quando e onde foi feita a troca dos últimos  'prisioneiros', antes da transferência da soberania (**):


(...) Depois do 25 de Abril, sobre o comando do então brigadeiro Fabião, e em articulação com outros oficiais do Estado –Maior, implementaram os dispositivos de retração para acantonarem e retirarem deste Teatro de Operações os milhares de militares portugueses presentes nesta Província, tendo só abandonado a Guiné, no último voo com tropas Portuguesas, no dia 14 de outubro de 1974 na companhia do brigadeiro Fabião. Como tal, e ao realizar a biografia do meu falecido pai, coronel de cavalaria e do Estado/Maior, li muitos documentos classificados, do seu arquivo pessoal, e poderei acrescentar algumas informações sobre a troca dos últimos prisioneiros de guerra, com o PAIGC.

Mantivemos 35 prisioneiros (guerrilheiros do PAIGC) na ilha das Galinhas até à véspera do reconhecimento da Independência da República da Guiné-Bissau por parte do Governo Português. Pelo lado do PAIGC, mantinham 7 prisioneiros (4 soldados e 3 primeiros cabos, do nosso Exército), um dos quais era o soldado António Baptista, que tinha sido dado como morto em 17 de Abril de 1972, numa emboscada em Madina-Buco, onde as nossas tropas sofreram 1 desaparecido e 10 mortos, 6 dos quais queimados na explosão da viatura em que seguiam.

A troca destes sete prisioneiros na posse do PAIGC (retidos no Boé) por 35 guerrilheiros do PAIGC (retidos pelas nossas tropas na ilha das Galinhas) , foi feita segundo o estipulado pelo Acordo de Argel, e foi marcada para o dia 9 de setembro, em Aldeia Formosa, no entanto o PAIGC não compareceu nessa data como estava combinado, só no dia 14 de setembro a troca se realizou. Estiveram presentes nesse ato pelas nossas tropas, o major de inf Tito Capela (Chefe da 2ª Rep do QG), o major de art Aragão, o capitão-tenente Patrício, o capitão de inf Manarte e o furriel miliciano Elias (da 2ª Rep/QG/CTIG).  Por parte do PAIGC, estiveram presentes os seguintes elementos; Manuel dos Santos (Subsecretário Informação/Turismo da GB), Carmen Pereira (Membro do Conselho de Estado/GB) e Iafai Camará (Comandante do Aquartelamento de Aldeia Formosa).


Imediatamente após a troca, foi feita a identificação (os soldados: António Teixeira, Jacinto Gomes, António da Silva Batista, Manuel Ferreira Vidal;  e os primeiros cabos: Duarte Dias Fortunato, Virgílio da Silva Vilar e Manuel Fernando Magalhães Vieira Coelho), tendo os prisioneiros e a comitiva regressado de avião a Bissau. Ficaram instalados no Hospital Militar de Bissau, e no dia seguinte, dia 15 de Setembro de 1974, seguiram por via área para Lisboa." (...).

Portanto, essa troca de prisioneiros não foi feita em Bafatá, como parece sugerir o depoimento de Duarte Dias Fortunato ("Desaparecido em combate", revista da GNR, "Pela lei e pela grei", abril de 2000),  mas sim em Aldeia Formosa, tendo depois os 7 portugueses sido levados de avião até Bissau, onde foram observados no HM 241, antes de embarcarem no dia seguinte para a metrópole.

Andamos a tentar localizá-los.  Um deles, pelo menos, já faleceu, ainda recentemente, o nosso grã-tabanqueiro António da Silva Batista (1950-2016) [, foto à esquerda]

__________________

Notas do editor:

(*)  Últino poste da série > 22 dce março de 2016 > Guiné 63/74 - P15888: (Ex)citações (305): A nossa Força Aérea viveu alguns dias de grande confusão com o aparecimento dos mísseis Strela (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493)

(**) Vd. poste de 11 de dezembro de 2011 >  Guiné 63/74 - P9180: Troca dos últimos prisioneiros: 35 guerrilheiros do PAIGC e 7 militares portugueses (Parte II) (Luís Gonçalves Vaz)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15731: Documentos (29): Ata da reunião do CEMGFA, Costa Gomes, com os comandos do CTIG, Bissau, 8/6/1973 (José Matos, historiador independente)





Cópia de documento de 4 páginas, do Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), de 15/6/1973, com o relato de uma reunião com os comandos militares do CTIG em 8 de junho de 1973.   Francisco da Costa Gomes (1914-2001) foi CEMGFA de 5/9/1972 a 13/3/1974.   Visitou o CTIG,  de 6 a 9 de junho de 1973.



1. Mensagem, com data de ontem, do José Matos, 

[ O nosso grã-tabanqueiro José [Augusto] Matos, formado em astronomia em 2006 na Inglaterra ( University of Central Lancashire, Preston, UK ), é especialista em aviação e exploração espacial desde 1992, e faz parte da Fisua - Associação de Física da Universidade de Aveiro.

Tem-se dedicado, como investigador independente, à história militar, e em particular à história da guerra na Guiné (1961/74).]

Olá, Luís

Mando-te um documento [, de 4 pp.]  interessante sobre a reunião que Costa Gomes teve na Guiné, quando foi lá em Junho de 1973, de 6 a 9.

Ab, Zé

2. Comentário do editor:

Obrigado,  Zé. Os antigos combatentes da Guiné, e não apenas os investigadores, têm direito a conhecer estes "documentos para a história"...

 O documento que reproduzimos, com data de 15/6/1973, ontem "muito secreto, hoje "desclassificado", à guarda do Arquivo de Defea Nacional, para consulta dos estudiosos e historiadores,  fala por si, mas tu tens aqui no blogue vários postes teus  que ajudam o nosso leitor  a compreendê-lo melhor, a partir da sua  contextualização histórica, geoestratégica, política e militar.

Julgo que pode este documento pode (e deve) ser visto como complemento à série Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 no Quartel-general do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, aqui publicada há menos de 4 anos (*), da autoria do Luís Gonçalves Vaz [, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74, e que tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo]. (*)

Na realidade, em 8/6/1973, o que o CEMGFA fez, foi um "briefing" com os todos os comandos militares do CTIG. Recorde-se,  citando o poste P9639, do Luís Gonçalves Vaz (*), que três semanas antes,  “em 15 de Maio de 1973, pelas 10h30, no Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, teve lugar, sob a presidência e mediante convocação do General Comandante-Chefe, General António de Spínola, uma reunião de Comandos na qual participaram os comandantes-adjuntos",  respectivamente:

(i) Comodoro António Horta Galvão de Almeida Brandão, Comandante da Defesa Marítima da Guiné;

(ii) Brigadeiro Alberto da Silva Banazol, Comandante Territorial Independente da Guiné;

(iii) Brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques, Comandante-Adjunto Operacional;

(iv) e Coronel Gualdino Moura Pinto, Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné.

____________

Nota do editor: 

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15095: (Ex)citações (291): Os célebres MiG russos que o PAIGG nunca teve mas que foram uma ameaça percebida no final da guerra... (José Matos / Luís Gonçalves Vaz / Manuel Lomba)

1. Comentário de José Matos ao poste P15090 (*):

[José Matos, membro recente da nossa Tabanca Grande; investigador independente, especialista em história militar]


Olá Luís e restantes amigos

Agradeço os vossos comentários, que acrescentam sempre novos dados à discussão.

Começando pelo Augusto Silva Santos,  tem toda a razão no comentário que faz, de facto circularam informações entre a tropa quanto à possibilidade de um ataque aéreo a Bissalanca. Falava-se mesmo na possibilidade de esse ataque acontecer em janeiro de 1974. Como se viu, esses receios eram exagerados. O que descobri é que nem os cubanos, nem os guineanos, estavam interessados em atacar Bissalanca ou qualquer outro ponto na Guiné.

O comentário do Henrique Cerqueira também é interessante, pois as autoridades portuguesas pensavam mesmo que os guineanos tinham MiG 19 e até 21, quando na verdade não tinham nada disso, apenas o MiG 17. Também há alguma razão no comentário sobre a aselhice dos guineanos no uso dos MiG, basta dizer que praticamente só voavam com os cubanos e habitualmente a asa, tendo tudo o que dizia respeito à manutenção dos aviões numa lástima. Se não fossem os cubanos, os MiG nem levantavam.

O grau de operacionalidade dos MiG sempre foi baixo e só melhorou com os cubanos.

Quanto aos pilotos do PAIGC que o Luís refere, de facto estavam a ser treinados na URSS para pilotar MiG, mas com a independência voltaram à Guiné, sem aviões. Provavelmente a ideia, no tempo da guerra, seria usarem os MiG guineanos enquadrados pelos pilotos cubanos, no mesmo tipo de missões que os cubanos já faziam, ou seja, patrulha e vigilância da fronteira. Não estou a ver que os guineanos os deixassem usar os MiG para um ataque a posições na Guiné. Outra hipótese eram os russos forneceram dois ou três MiG para o PAIGC usar, mas não estou a ver isso a acontecer.

O relato do Marinho também é muito interessante, pois está de acordo com os avistamentos e mesmo detecções que a malta fazia na altura. O problema é que não sabemos se eram ou não helicópteros ao serviço do PAIGC, pelo menos não há informação nenhuma segura sobre isso. Quanto a incursão de um jacto também nada se sabe sobre a sua origem. Seria guineano? É possível, mas não me parece que tivesse intenções ofensivas.

Ab, José Matos

2. Comentário de Luís Gonçalves Vaz 
ao poste P15090 (*):

[Membro da nossa Tabanca Grande, filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74), e que tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo]


Caros Amigos:

Lembro-me muito bem que em finais do ano de 1973, eu próprio (com 13 anos) e um irmão mais velho com 15 anos,  construimos um "abrigo antiaéreo" em pleno quintal da casa onde vivíamos,  na Base Militar de Santa Luzia, com abastecimentos e tudo ....... 

Enfim era sem dúvida um entretimento de jovens adolescentes, mas fruto também do "clima psicológico" da altura e dos tais "boatos" sobre um eventual ataque aéreo a Bissau que se esperava a qualquer altura.

Em plenas férias escolares do Natal de 1973, os "boatos de um ataque aéreo" intensificaram-se ao ponto da minha mãe, que na altura era professora na Escola Comercial em Bissau, ter entrado em casa com uma colega professora, toda preocupada que se esperava o "dito ataque" a qualquer momento! 

Eu não altura não me preocupei muito, pois como já referi, tinha um abrigo antiaéreo (por mim construido e pelo meu mano mais velho) e nesse mesmo dia resolvi melhorá-lo. 

De facto nós sabíamos que se realmente houvesse "o dito ataque aéreo", as instalações do QG de Santa Luzia seriam logo dos primeiros alvos a atingir, para conseguirem comprometer todo o tipo de logística das diversas operações militares em curso na altura ...

Lembro-me muito bem que nesse Natal de 1973, o meu falecido Pai (CEM/CTIG) saiu cedo de casa (logo a seguir à ceia de Natal que foi realizada muito cedo) para se deslocar para o QG onde passou toda a noite a desempenhar as suas funções, já que nessa noite os militares estiveram de Pprevenção... Seria fruto desses "boatos" ou de "informações mais credíveis" dos Serviços de Inteligência Militar ? Não sei,  só me lembro destes factos!

Grande Abraço
Luís Gonçalves Vaz


Guiné > Arquipélago dos Bijagós > lha de Buibaque > "A esposa do coronel Henrique Gonçalves Vaz, os três filhos mais novos e o capitão Pombo, na pista de Bubaque na Páscoa de 1974... Fotografia de Henrique G. Vaz. [O Luís é o da esquerda].

Foto (e legenda): © Luís Gonçalves Vaz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



3.  Comentário de Manuel Luís Lomba (*) [ex-fur mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66; autor do livro "Guerra da Guiné: a batalha de Cufar Nalu". Faria, Barcelos, Terras de Faria, Lda: 2012, 314 pp. [Capa, imagem à direita, em baixo]

Reitero as minhas saudações ao "mestre" José Matos, ora valioso activo corpóreo e incorpóreo da tertúlia Tabanca Grande.

Em 1981, com o B 707 Combi (passageiros e carga) da carreira TAP a percorrer a pista de Bissalanca, eu fixar-me nas metralhadoras enferrujadas jazidas nas valas ao longo dela e acabei a contemplar 4 MiG  negros na placa, qual palco de um Dakota, mais quatro ou cinco T 6 e DO, cobertos de pó e muito degradados, mas em que sobressaía a cruz de Cristo, tendo por pano de fundo um grande letreiro "Presas capturadas ao Inimigo".

Então "os meus olhos ficaram mar"...

Ao voltar ao aeroporto, no âmbito do exercício profissional, perguntei ao meu dedicado anfitrião, alto quadro do partido e do governo, esforçado em convocar o sentido de humor:
- Foram aqueles MiG que caçaram aqueles aviões tugas?
- Não, eles é que deixaram. Na guerra russos não deram aviões. Vieram depois da independência.(Para a generalidade dos guineenses, a independência era contada a partir da entrega das chaves de Bissau ao PAIGC, em 10 de Setembro de 1974 e não a independência do Boé, em Setembro de 1973).

Quanto à veracidade do corpo de pilotos guineenses, o testemunho do comandante Pombo constituirá suficiente meio de prova.

Com perguntas directas, em regra obtinha-se respostas líquidas ora de ardor revolucionário ora evasivas; mas a revelação pelos nossos interlocutores do seu verdadeiro conhecimento dos factos não resistia à "bebida gelado" franqueda - o verde branco Gatão ou Aveleda.

Relativamente à ameaça dos MiG  na guerra da Guiné, fiquei com a ideia e adquiri relativa certeza de que Sekou Touré não os aceitava "graciosamente" no seu território e a Rússia exigia parqueá-los em base nos dois terços do território libertado pelo PAIGC - Cufar ou Nova Lamego! - enquanto o ocupante, Portugal,  não desamparasse a sua loja, em  Bissau... Dialéctica interessante.

Como nossa inimiga, a Rússia não permitia que cooperante seu pusesse o pé por terra, mar ou ar na Guiné Portuguesa, sub-empreitava tal empresa aos seus dominados na Europa de Leste e a Cuba. 

Quanto aos nossos aliados, suecos, noruegueses, holandeses, filandeses, americanos - temos dito.
A Operação Mar Verde legou à História a coragem e valentia dos portugueses ao serviço da sua pátria e e a graduação da ousadia das suas elites investidas no mando. Se quem mandou fazer aquilo ousasse arriscar a cobertura de uma esquadrilha de F86 ou coisa parecida, poderia ter sido outra a História da catastrófica descolonização. (**)

Um abraço a todos os comentaristas.
Manuel Luís Lomba

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15086: Sondagem: "No meu tempo já se falava da existência de aviões inimigos sob os céus da Guiné"... Primeiro comentário: "Quando estive no Depósito de Adidos, em Brá, na secção de justiça, em finais de novembro de 1973, lembro-me de chegarmos a receber informação para estarmos preparados para a eventualidade de um ataque aéreo"... (Augusto Silva Santos, ex-fur mil, CCAÇ 3306 / BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15067: Parabéns a você (956): Luís Gonçalves Vaz, Amigo Grã-Tabanqueiro


O Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande, tem mais de meia centena de referências no nosso blogue.  Recorde-se que: (i) é professor do 2º e 3º ciclos do ensino básico, em Vila Verde; (ii) reside em Braga; (iii) é um ativo ambientalista; (iv) é filho do falecido  Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74); e tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974.
____________

Nota do editor

Último poste da série > 1 de setembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15061: Parabéns a você (955): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1419 (Guiné, 1965/67)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14134: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (93): Três Antónios, três pequenas histórias... Em honra do Cessna dos TAGP e do Comandante Pombo (António J. Pereira da Costa, António Santos, António Graça de Abreu)




Guiné > s/l > s/d > Imagem do Cessna, vermelho, pilotado pelo Comandante Pombo, dos Transportes Aéreos Civis da Guiné, em que o nosso camarada Álvaro Basto fez várias viagens enre o Xitole e Bissau, nos anos da sua comissão (1972/74).


Foto: © Álvaro Basto (2007). Todos os direitos reservados.

 1. Três pequenas histórias, contadas por Antónios, em honra do teco.teco, branco e vermelho dos TAGP - Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa e do comandante Pombo (*).



(i) António José Pereira da Costa

Aqui vai uma história do Cmdt Pombo.

Creio que em Fevereiro de 1973, o (na altura) Cap. Art Otelo Saraiva de Carvalho apareceu em Mansabá com uma jornalista sueca. A coluna do Batalhão trouxera-os até Mansabá onde almoçaram e eu teria de os ir entregar ao Batalhão de Farim, onde tomariam o avião dos TAGP.

A jornalista era uma velhinha magrinha e calçada com umas sabrinas de pano e que estava interessadíssima em ver hospitais e igrejas. Não tínhamos hospital, mas a nossa enfermaria era bastante boa. A igreja era sempre improvisada quando necessário.

Apesar de tudo, as coisas correram bem e eu creio que a senhora estava satisfeita. Organizámos a coluna e recorri a um jeep emprestado pelo administrador de Mansabá dado o estado físico da senhora, mas que... não tinha travões. Talvez porque estivéssemos atrasados, um pouco antes do K3 num troço recto e de bom piso da estrada, o Cmdt Pombo surgiu à vertical da coluna e no mesmo sentido. "Fez-se à pista" e aterrou à frente da primeira viatura. Deu a volta ao avião,  recolheu os dois VIP e, sem desligar o motor, descolou de novo em direcção a Bissau.


(ii) António Santos:


Eu também tive uma experiencia aérea civil, que pelo que entendo só pode ter acontecido com o Cmdt Pombo.

Estávamos em Ago73 e,  tendo férias marcadas para Lisboa com a data de embarque na TAP a aproximar-se,  dia 22, não havendo TPT [, transporte por terra,]  para Bissau por esses dias, a solução foi adquirir bilhete pelos TAGP.

Se não falho,  a coisa custou quase metade do pré cá do rapaz,400,  e talvez 3 ou 4 notas de 100 pesos.  Enfim, o seu valor não consigo precisar mas, anda lá perto.

Ora nesse dia (época das chuvas), a coisa estava feia, chuvia e abanava como a malta sabe como era, o CESNA abanava e não era pouco, Depois de passar o Xime,  o Cmdt meteu o avião por cima do Rio Geba porque a coisa junto às palmeiras também não dava. Mais um pouco e o CESNA passava a ser submarino. A coisa próximo de Bissau estava muito melhor e foi ver o transporte picar direito ao azul do céu.

E pouco depois estávamos em Bissau,  com os pés no chão e já a pensar em Lisboa.


(iii) António Graça de Abreu



Voei uma vez no CESNAna com o comandante Pombo. Aqui vai a descrição da viagem de Bissau para Catió, com escala em Empada, no meu Diário da Guiné,em Março de 1974.

"Vim na avioneta civil, o Cessna dos TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) e só havia cinco lugares, todos ocupados.

Ainda não tinha experimentado voar nestes aviões pequeninos, mais bonitos e confortáveis do que as DOs. De manhã, no Depósito de Adidos onde se trata das viagens dentro da Guiné, ouvi falar num avião civil fretado pelo exército para transportar oficiais com destino a Empada e Catió. Agarrei-me logo. De Catió a Cufar podia fazer os dez quilómetros por estrada.

Saímos de Bissau, voámos sobre Tite e a região do Quínara, atravessámos o rio Grande de Buba direitinhos a Empada, um aquartelamento importante já no sul da Guiné. Descemos em Empada, onde saíram dois alferes e entrou o meu coronel (o páraquedista, João José Curado Leitão) que estava na povoação numa espécie de visita de inspecção.

Fiquei admirado com a forma como voam os aviões civis. Já havia constatado que não tomam aquelas precauções todas contra os mísseis terra-ar do PAIGC, ou seja voar a mais de dois mil metros ou a “rapar”, logo acima do solo, ou subir e descer em parafuso sobre as pistas de aviação. Foi a vez de experimentar pelos céus do sul da Guiné um voo quase normal, embora estivéssemos perfeitamente ao alcance dos mísseis IN, tanto mais que sobrevoámos à descarada zonas onde os guerrilheiros se movimentam à vontade.

Deve ser verdade, eles não atacam aviões civis e a avioneta, vermelha e branca é facilmente identificável cá de baixo. Se nos tivessem mandado abaixo seria um grande “ronco”, éramos quatro alferes e, de Empada para Catió, ainda um coronel, o meu chefe. Estas avionetas civis continuam a voar quase como nos bons velhos tempos e como o Cessna vinha relativamente baixo, distinguiam-se nitidamente os trilhos utilizados pela população e pelos guerrilheiros nas áreas que controlam. Semi-escondidas nas florestas, adivinhavam-se umas tantas aldeias."

2. Alguns comentários aqui deixados no nosso blogue sobre o comandante Pombo [vd. também o blogue dos Especialistas da Baase Aérea 12 Bissau):

(i) "O Comandante Pombo foi durante os primeiros 5 ou 6 anos da Independência da Guiné, piloto e um dos responsáveis da TAGB, transportes aéreos da Guiné.Bissau" (Septuagenário, 6/1/2008).

(ii)  "Estive na Guiné em 1960/63 e o Zé Pombo foi o amigo dos bons e maus momentos, fomos mantendo contacto até 1963, intermitente e mais certo, até 1968. Ainda hoje o considero um grande amigo, mas gostaria que um dia, antes que seja demasiado tarde, me permita dizer quanto apreciei a sua amizade, o seu companheirismo. É bem fácil, no Skype ou no Facebook! Ana Bela (30/11/2013).

(iii) Sim, há notícias dele, da parte de uma filha e de um filho, no blogue dos Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74... Nome completo: José Luis Pombo Rodrigues, ten pilav reformado (...,) "Ele foi viver para o Brasil (Maricá) perto do Rio,em agosto de 2010. Estou a ver se vou lá ter com ele brevemente pois morro de saudades. Tinha sido operado no hospital da Força aérea ao fémur e fez fisioterapia e voltou a andar. Já está reformado. Esteve muitos anos no antigo Zaire em Kinshasa a trabalhar como piloto da companhia Sicotra Aviation(Avião de carga).Conhece o grande amigo dele, o general Avelar de Sousa? Estive com ele há umas semanas num almoço de confraternização da polícia. Vá dando notícias. Vou seguindo o blogue que me parece excelente!" (...) (Luís Graça, 25/2/2014)

(v) "Quero também aqui homenagear o Pilot.Pombo que foi mais de uma vez fazer evacuações a Gadamael..pilotava um pequeno Cessna..julgo eu..que tinha instrumentos de navegação nocturna e que era logicamente pago pelo serviços que fazia, mas isso não lhe retira mérito" (C. Martins, 29/4/2012),

(vi) "Era muito apreciado pelo governo de Luís Cabral. Fazia viagens num avião dos TAGB, para Dakar e Caboverde. O avião do TAGB e o comandante Pombo ainda sobreviveram a Luís Cabral (1980) e trabalhou com o governo de Nino Vieira algum tempo. (...) "Em Bissau havia um mono-motor que fazia viajens para Bubaque mas era tão velho e a manutenção era tão duvidosa, que se dizia que só com o Pombo é que aquilo funcionava. E de facto, mais tarde aquele teco-teco pregou um grande susto a uns turistas que aterraram numa bolanha de arroz, foi só o susto e parece-me que o fim do aparelho." (Antº Rosinha, 7/5/2014).

(vii) "Também gostaria de saber notícias do Sr. Comandante José Luis Pombo, pois tive o privilégio de o conhecer e de viajar com ele. Fiz duas viagens entre Bissau e Bubaque, no Arquipélago dos Bijagós, na altura da Páscoa de 1974. Lembro-me que entre Bubaque e Bissau, tivemos de viajar "rente ao mar" por razões de "segurança de voo" , e deixou-me pilotar (era uma avioneta dos TAGP com dois comandos), apenas não aterrei no Aeroporto! seria bonito .... Lembro-me também que a torre de controlo mandou-nos aterrar primeiro, para um Boeing da TAP levantar, que por acaso levava a equipa do Porto, que tinha ido jogar a Bissau na altura da Páscoa do ano de 1974. Tenho uma fotografia com ele, tirada pelo meu pai, junto ao avião, na linda pista de conchas de Bubaque. A forma como ele se fazia à pista, era única e identificava-o logo. Mando de aqui um grande abraço e cumprimentos para este ilustre comandante aviador, conhecido na altura, como "Capitão Pombo". (Luís Gonçalves Vaz, 7/5/2014).

(viii) "Folgo muito em saber que o Comandante Pombo ainda se encontra entre nós... Um dia foi fazer uma evacuação a Gadamael..já ao anoitecer..a FAP estava impedida por ordem do COM.CHEFE..só pediu que iluminássemos a pista..o que se fez com umas "rodilhas" impregnadas de petróleo em garrafas... Comandante Pombo, um "herói mítico" da Guiné, toda a gente falava dele com admiração".
(C.Martins, 9/5/2014)

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Notas do editor:

(*) 8  de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14129: O nosso livro de visitas (181): Parabéns, comandante Pombo, ex-piloto dos TAGP e dos TAGB (Maria João Pombo Rodrigues)

(**)  Último poste da série >  31 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14101: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (91): O Alfarrabista Eduardo Martinho, amigo de Mário Beja Santos, foi Furriel Miliciano do Pel Rec da CCS do BART 2861, logo camarada do nosso tertuliano Furriel Enfermeiro, Ribatejano e Fadista Armando Pires

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13462: Efemérides (169): A primeira guerra total 1914-18, Revista do Expresso 12-07-2014: tiive o privilégio de ser um dos entrevistados, e de falar do meu tio avô, ten-cor Manuel Carmona Gonçalves, que esteve em África (Luís Gonçalves Vaz)

1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro Luís Vaz:
Data: 12 de Julho de 2014 às 16:05

Assunto: A primeira guerra total 1914-18 > Revista do Expresso 12-07-2014

Olá,  Luís:

Nesta Revista do Expresso (12/07/2014), e na página 54, inicia-se o artigo ´"África", da autoria do jornalista/escritor Ricardo Marques, onde fala sobre a "Frente menos conhecida", a de África, através dos relatos dos familiares de ex-combatentes. 

Eu tive o privilégio de ser um dos entrevistados, onde falei do meu tio avô (Tenente-coronel Manuel Carmona Gonçalves). A espada que empunho na fotografia era do Tio Manuel Carmona Gonçalves.

Boas leituras. Abraço

Luís Gonçalves Vaz
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Nota do editor:

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13132: Notas de leitura (590): Bubaque foi uma colónia alemã... antes da I Guerra Mundial (Luís Vaz)

1. Trocas de mensagens com o Luís Vaz, a propósito do poste P13117 (*):

(i) Luís Vaz. 9/5/2014

Caros Camarigos Eduardo e Luís:

Luis Vaz, aos 13 anos,
em Bubaque.
Páscoa de 1974
Já respondi ao Antº Rosinha, a história da Fábrica Alemã na ilha de Bubaque. Mas tenho um texto muito interessante sobre a Ilha, de Luigi Scantamburlo que viveu 3 anos na Ilha de Bubaque, pois foi enviado pela sua congregação (Pontificio Istituto Missioni Estere de Milano) à Guiné-Bissau. No ano de 1975 começou a viver junto com o povo das ilhas dos Bijagós, onde preparou o presente estudo etnográfico. Em 1981 publicou a gramática e dicionário da língua crioula da Guiné-Bissau (editora EMI - Bolonha, Itália). Presentemente está a preparar um estudo sobre a língua e a religião dos Bijagós.

O texto segue em anexo [Etnologia dos bijagós da Ilha de Bubaque]. Se calhar dá para muitos artigos no nosso Blog, pensem nisso, e depois digam-me alguma coisa.

Abraço


 (ii) Luís Graça, 10/5/2014

Luís: Obrigado por esta preciosidade, que desconhecia. Não podemos reproduzir o documento tal como está, por causa dos direitos de autor. De preferência, o blogue publica inéditos... Mas se quiseres fazer uma nota de leitura, ou um síntese, tudo bem. O meu filho, músico e médico, esteve um fim de semana em Bubaque, em dezembro de 2009. Mas eu nunca tive oportunidade de conhecer os Bijagós. Como não houve lá guerra, é uma região mal conhecida dos ex-combatentes... Queres fazer um ou dois postes ? Afinal passaste lá ferias...Um abraço. Luís


 (iii) Luís Vaz, 10/5/2014

Olá,  António:

Ainda bem que apreciaste! Pelos vistos ali os verdadeiros colonizadores foram os Alemães. Podes fazer tu nota de leitura, pois eu como professor estou numa altura de muito trabalho. Pensa nisso. Abraço,  Luís Vaz. (**)


2. Reprodução de um excerto do livro de Luigi Scantamburlo, trad. de Maria Fernanda, "Etnologia dos Bijagós da Ilha de Bubaque", Lisboa : Institutro  de Investigação Científica Tropical ; Bissau : Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 1991, 109 pp. Disponível, em texto integral, aqui:



BIOGRAFIA

Luigi SCANTAMBURLO nasceu em 1944. Fez os seus estudos de História das Religiões na University of Detroit (M. A., 1976) e de Antropologia na Wayne State University, Detroit. U. S. A. (M. A., 1978). Depois de ter trabalhado como jornalista na revista italiana Mondo e Missione (Milão) durante três anos, foi enviado pela sua congregação (Pontificio Istituto Missioni Estere de Milano) à Guiné-Bissau. No ano de 1975 começou a viver junto com o povo das ilhas dos Bijagós, onde preparou o presente estudo etnográfico. Em 1981 publicou a gramática e dicionário da língua crioula da Guiné-Bissau (editora EMI - Bolonha, Itália). Presentemente está a preparar um estudo sobre a língua e a religião dos Bijagós.

Este texto é a Thesis de Master of Arts em Antropologia na Universidade Wayne State, de Detroit (Michigan, U. S. A.), no ano de 1978. A tradução do inglês foi feita pela Doutora Maria Fernanda Dâmaso.


ÍNDICE

Prefácio
Agradecimentos
Introdução
História e origem
A situação geográfica e económica
As relações do parentesco tradicional e o sistema político
A cosmologia dos Bijagós
Conclusão
Bibliografia
Mapas e Figuras
Mapa 1 – A República da Guiné-Bissau
Mapa 2 – As Ilhas de Bubaque e de Rubane
Figura 1 – A tabanca de Ancadona
Figura 2 – Tipos de casas dos Bijagós
Figura 3 – Terminologia dos graus de parentesco em Bubaque
Fotografias

A SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E A ECONOMIA (pp. 16/17)

A ilha de Bubaque, com uma área de 48 km2, dezoito dos quais são pântanos alagados pelo oceano durante a maré alta, está situada no canto sudeste do arquipélago (vê mapa 2). É a ilha mais afectada pela presença dos europeus, escolhida pelos colonizadores alemães antes da I Guerra Mundial e pelo Governo Português depois de 1920, como o centro principal das suas actividades no arquipélago. Os alemães construíram aqui uma fábrica para a extracção do óleo de palma (Elaeis guineensis); um porto para navios de pequena e média tonelagem na parte setentrional e uma quinta experimental em Etimbato.

Durante a ocupação colonial, que terminou em Agosto de 1974, Bubaque era o centro dos serviços administrativos de todo o arquipélago, com um administrador português residente e outros funcionários. Em 1952, a igreja católica, através de presença permanente de um missionário, e a missão protestante, começaram a sua acção na ilha. A construção de um pequeno hotel para turistas aumentou a presença dos europeus. A enorme praia de Bruce, situada na parte meridional, constitui uma atracção especial para os turistas e está ligada ao centro administrativo de Bubaque por uma estrada asfaltada desde 1976.

As comunicações com Bissau são possíveis através de pequenos aviões e barco. Todos os sábados à tarde chega um navio com capacidade para 200 passageiros e regressa a Bissau no dia seguinte. Mais hotéis e um grande aeroporto estão agora a ser construídos para desenvolver a capacidade turística da ilha.

O clima é do tipo subtropical, com chuvas abundantes, cuja precipitação média anual é de 1500 a 2000 mm, durante a estação das chuvas, de meados de Maio até meados de Novembro. A temperatura média é cerca de 33°C durante a estação seca e de 25°C durante a estação das chuvas, e a sua variação diária é muito ampla. À noite, sobretudo entre Dezembro e Fevereiro, a temperatura desce para 10°C ou mesmo 8°C e as pessoas têm de abrigar-se nas suas cabanas para se aquecerem.

A maior parte da ilha é coberta de palmeiras de óleo, cuja cultura foi desenvolvida pelos colonizadores alemães no princípio do século. A outra vegetação, do tipo floresta, inclui uma variedade de plantas da Região subtropical. As árvores de grande porte mais importantes, muitas vezes centros sagrados para as cerimónias religiosas, são os chamados poilões (Eriodendrum anfractuosum) e os embondeiros (Andansonia digitata). Nos arredores das tabancas, as árvores de fruto mais comuns são as mangueiras, os cajueiros, as laranjeiras, os limoeiros e as papaeiras. A caça, que se encontra nas outras ilhas (gazela, cabra-do-mato, hipopótamo, crocodilo), desapareceu da ilha de Bubaque. No entanto os macacos e os tecelões (Proceus cucullatus), tão perigosos para a agricultura, são ainda bastante numerosos.

Em Novembro de 1976, e ilha contava com 2172 habitantes (1054 dos quais eram homens e 1118 mulheres), cerca de 757, metade dos quais não bijagós, habitavam no centro de Bubaque e 1415 viviam nas doze tabancas da ilha (...)

Nalgumas tabancas, como Agumpa, Bruce e Etimbato, há uma ou duas famílias de outros grupos étnicos (Mandingas, Beafadas, Papéis) casados geralmente com mulheres bijagós. Bijante possui a ilha de Rubane (com uma área de 18 km2, cinco dos quais cobertos pela maré alta) e Ancadona possui as pequenas ilhas de Ametite e Anágaru, na parte oriental de Rubane. No sudoeste desta ilha existe um acampamento permanente para pescadores, ocupado habitualmente pelos Nhominca, um grupo étnico do Senegal.

A estatura media dos Bijagós é de 1,70 m para os homens e 1,60 m para as mulheres. Como a maioria dos povos do grupo atlântico-ocidental, a cor da sua pele é castanha, com algumas tonalidades de castanho muito escuro. Têm poucos pêlos no corpo e os rapazes usam o cabelo comprido, geralmente enrolado e entrançado da mesma forma que as mu1heres. Devido à presença dos serviços administrativos e das escolas construídas nos últimos trinta anos, Bubaque possui a mais alta percentagem de escolarizados do arquipélago.

Anninu, um bijagó de Canhabaque, foi, segundo a tradição, o fundador de Bruce, a primeira tabanca da ilha. A segunda foi Bijante, num dia em que o irmão mais novo do chefe de Bruce, encontrando-se no alto mar para caçar e pescar, descobriu a ilha de Rubane, abundante em caça, frutos e peixe. No intuito de ficar mais perto de1a, construiu uma nove aldeia. Ainda hoje existe um relacionamento especial entre estas duas tabancas.

Os Bijagós concordam em que duas ou três gerações atrás as ilhas eram mais povoadas. Buchumbar, perto de Ancadona, desapareceu há uma geração, e em muitas tabancas existem ainda vestígios evidentes de cabanas arruinadas, que nunca mais foram reconstruídas.

A importância de uma tabanca reside na sua autonomia para realizar as cerimónias de iniciação. Algumas delas não têm local para as realizar e mantêm por isso um relacionamento estreito com uma tabanca das proximidades. Assim, encontramos os seguintes grupos de tabancas, sendo as grafadas em itálico aquelas que possuem local para as cerimónias de iniciação: Bruce, Bijana-Ambanha, Bíjante-Enem-Ancadona, Agumpa-Ancabas, Ancamona-Charo-Anhimango. Etimbato ainda não é considerada uma tabanca, mas sim um lugar para trabalhos periódicos, preparado pelos colonizadores alemães para o cultivo das palmeiras de óleo. Alguns bijagós estão a tentar que lhe seja concedido esse estatuto. (...)
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Notas do editor:

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13117: Memória dos lugares (265): Bubaque... e o comandante Pombo, dos TAGP, na Páscoa de 1974 (Luís Gonçalves Vaz)



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > lha de Buibaque > "A esposa do coronel Henrique Gonçalves Vaz, os três filhos mais novos e o capitão Pombo, na Pista de Bubaque na Páscoa de 1974... Fotografia de Henrique G. Vaz.

Foto (e legenda): © Luís Gonçalves Vaz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

1. Mensagem do passado dia 7, do nosso amigo Luís Vaz... O texto que a seguir se publica inclui excertos de um conversa que tive com ele, no chat, a propósito do comandante Pombo, dos TAGP:


Data: 7 de Maio de 2014 às 22:24

Assunto: Fotografia com o capitão Pombo


Boa noite: Também gostaria de saber notícias do Sr. Comandante José Luis Pombo (*), pois tive o privilégio de o conhecer e de viajar com ele. Fiz duas viagens entre Bissau e Bubaque, no Arquipélago dos Bijagós, na altura da Páscoa de 1974. (**)

Lembro-me que entre Bubaque e Bissau, tivemos de viajar "rente ao mar" por razões de "segurança de voo" , e deixou-me pilotar (era uma avioneta dos TAGP com dois comandos), apenas não aterrei no Aeroporto, seria bonito! ....

Lembro-me também que a torre de controlo mandou-nos aterrar primeiro, para um Boeing da TAP levantar, que por acaso levava a equipa do Porto que tinha ido jogar a Bissau na altura da Páscoa do ano de 1974.

Tenho uma fotografia com ele, tirada pelo meu pai, junto ao avião, na linda pista de conchas de Bubaque. A forma como ele se fazia à pista, era única e identificava-o logo. Mando de aqui um grande abraço e cumprimentos para este ilustre comandante aviador, conhecido na altura, como "Capitão Pombo". (...)

Ai vai a Fotografia... A legenda é: "A esposa do coronel Henrique Gonçalves Vaz, os três filhos mais novos e o capitão Pombo, na Pista de Bubaque na Páscoa de 1974"... Fotografia de Henrique G. Vaz.

Eu sou o " moreno magrinho do lado esquerdo", ao lado da minha mãe, de óculos escuros. Depois o mano mais velho, a seguir o mais novo e por fim o piloto... O de caracois é o António, tinha 15 anos, e o mais novo o Paulo, tinha 11 anos...

Adorei, estive lá uma semana!, pois a viagem tinha sido adiada, devido á Bomba no QG que feriu o meu Pai... Lembro-me que iríamos a 23 de Fevereiro para Bubaque, passar uns dias, e no fim do dia de 22 de Fevereiro PUM...Passado 20 minutos, o meu pai liga a dizer que tinham posto uma bomba junto ao gabinete dele! Passado uma hora chega a casa, "a rir-se", sem lentes nos óculos, com salpicos de sangue junto aos ouvidos e sangue no camufelado...e disse "ainda não é desta que conseguiram"... 

A  minha mãe abraçou-se a ele a chorar... Nunca me esquecerei destes momentos dramáticos... Claro a "Viagem a Bubaque ficou adiada evidentemente, ficou para a altura da Páscoa naquele ano de 1974.

Nos TAGP, o CEM/CTIG só viajava com este aviador, pois era "seguro",  "muito competente" e "topo de gama"...

Nem imaginas a nossa viagem à Ponta do Biombo, no regresso à noite, passamos no meio do mato, por uma "massa de gente", que eu pensei que ia morrer! ... Mas esta estória irá dar um Artigo, mais lá para a frente, ok?