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terça-feira, 20 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16506: (De)Caras (46): Médicos cubanos 'versus' comandante Mamadu Indjai (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494, Xime-Mansambo, 1972/74)


"Diário de Lisboa!", 22 de janeiro de 1973 (Cortesia de Casa Comum / Fundação Mário
Soares: Citação:(1973), "Diário de Lisboa", nº 17989, Ano 52, Segunda, 22 de Janeiro de 1973, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_5387 (2016-9-20)




Foto acima: O nosso grã-tabanqueiro Jorge Araújo: 

(i) nasceu em 1950, em Lisboa; 
(ii) foi fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); 
(iii) fez o doutoramento pela Universidade de León (Espanha), em 2009, em Ciências da Actividade Física e do Desporto, com a tese: «A prática Desportiva em Idade Escolar em Portugal – análise das influências nos itinerários entre a Escola e a Comunidade em Jovens até aos 11 anos»; 
(iv) é professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; 
(v) para além de lecionar diversas Unidades Curriculares, coordena o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto.


Mensagem do Jorge Araújo com data de 14 do corrente:


Caro Luís,

Espero que esteja tudo bem contigo. Contrariando as minhas últimas notícias, hoje não iniciarei as narrativas referentes à entrevista do terceiro médico cubano, mas sim um outro texto que tem a sua génese no anterior e do teu "manuscrito" sobre o Mamadu Indjai... o terrivel.

Vê se tem algum interesse.... se acrescenta mais alguma coisa... ou se, pelo contrário, é uma açorda sem sabor.

Bom trabalho. Um abraço, Jorge Araújo.

1. – INTRODUÇÃO

Supostamente, a presente narrativa deveria dar início à publicação da entrevista ao médico Virgílio Camacho Duverger (1934-2003), a terceira no alinhamento das que foram dadas pelos clínicos que estiveram na Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau], e que fazem parte do livro escrito em castelhano pelo jornalista e investigador Hedelberto López Blanch, uma coletânea de memórias e experiências divulgadas pelos seus diferentes entrevistados, a que deu o título de «Histórias Secretas de Médicos Cubanos» [La Habana: Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, 2005, 248 pp.] ou “on line” em formato pdf, em versão de pré-publicação.

De facto, assim não aconteceu. Creio que foi por uma boa causa, uma vez que neste intervalo decidi investir um pouco mais na busca de elementos fiáveis que nos ajudem a desvendar o enigma relacionado com os «ferimentos de Mamadu Indjai [N’Djai]», nome do Cmdt referido na resposta dada pelo médico Amado Alfonso Delgado, à questão ‘xxii’: “como é avisado para deixar a Guiné-Bissau?” [P16441] (*), e que está na génese de alguns comentários adicionais, em particular no «P16444: Manuscrito(s) (Luís Graça): Por aqui passou Mamadu Indjai, o terrível».(**)

Para contextualização do tema, recordo então essa passagem:

[xxii] = Como é avisado para deixar a Guiné-Bissau?

O médico Alfonso Delgado refere que “foi de forma casuística. [Em agosto de 1969], depois de sair de um cerco que nos fizeram as tropas helitransportadas [paraquedistas do BCP 12] fomos para um lugar perto do acampamento” [talvez a “Op. Nada Consta”].

Nesta operação, corolário da acção de um grupo de páras do BCP 12, é capturado um roqueteiro IN com o seu RPG-2, e que, após um curto interrogatório que lhe foi feito então, diz apenas chamar-se Malan Mané, pertencer a um bigrupo reforçado (oitenta elementos), comandado por Mamadu Indjai e disperso em pequenos grupos pela mata (P23 + P2683).

Alfonso Delgado acrescenta [neste novo acampamento] “o ajudante que andava comigo e ao que me diziam, Arrebato piorou. Começou a manifestar um obsessivo delírio de perseguição. Dizia que os próprios guerrilheiros o queriam matar, e uma noite foi desarmado pois já estava bastante débil, e fugiu para a mata. Deu-se o alarme entre toda a população e ao fim de seis dias [final de agosto?] foi encontrado completamente depauperado, com os olhos inchados, cheio de furúnculos e pesando à volta de quarenta quilos. Falei com o chefe do acampamento, de nome Mamadu Indjai, e acordamos a sua saída da Frente, para a qual me indicou dois guerrilheiros. Isto foi em [início] setembro de 1969, quase no fim da missão”.

Cruzadas duas informações supra, concluiu-se que, de facto, em Agosto de 1969, o Cmdt da Frente da Mata do Fiofioli era Mamadu Indjai [algumas vezes referido como Mamadu N’Djai no Arquivo Amilcar Cabral].

Da investigação realizada a partir da única fonte consultada – o vasto espólio do «Blogue da Tabanca Grande» – encontrei divergências factuais, logo históricas [ou talvez não] de que seguidamente dou conta:

Ex.1: “Op. Nada Consta”, em 18 de agosto, (…) um grupo cairia numa emboscada que forças da CART 2339 tinham montado no itinerário Mansambo-Xitole, próximo da ponte sobre o Rio Bissari, e em resultado da qual ficaria gravemente ferido Mamadu Indjai (soube-se mais tarde) [P6948].

Ex.2: Soube-se mais tarde que Mamadu Indjai (…) foi ferido com gravidade em trocas de tiros com as forças de Mansambo e evacuado [?] [P23].

Ex.3: (…) Mamadu Indjai, gravemente ferido pelas NT (e mais concretamente pela CART 2339) na “Op. Anda Cá” (em 15 de agosto de 1969) [P9011].

Perante este dilema/trilema…, qual das situações podemos validar? Quem foi o informante privilegiado? Foi um ou vários? Será que foi (mesmo) ferido? Ou foi ferido duas vezes no espaço de três dias? Em caso afirmativo, foi socorrido no local [enfermaria do mato] pelo médico Alfonso Delgado e depois evacuado para Boké para ser intervencionado face à gravidade do seu estado de saúde?

Neste caso, a saída da frente por parte do médico Alfonso Delgado visava cumprir dois objectivos: por um lado acompanhar o estado clínico de Mamadu Indjai [o normal seriam seis dias de viagem a pé], por outro enquadrar o regresso do seu companheiro cubano Arrebato?

Mas em relação a esta última interrogação, apenas sabemos que chegado o dia da saída da mata do Fiofioli na companhia de Arrebato, “meti a sua arma e a minha ao ombro, calcei-lhe os sapatos e agarrei-o pelo cinto. Era uma pluma. Assim caminhei vários dias, numa distância aproximada entre Havana e Matanzas [noventa quilómetros], com muitos portugueses por perto e por caminhos inóspitos. Quando parávamos para descansar, ficava debaixo das minhas pernas e sempre agarrado pelo cinto, pois queria fugir. Assim, com este tremendo trabalho e sofrendo de uma entorse que me doía sobremaneira, o pude retirar da Frente. Quando chegámos ao acampamento da fronteira [segunda semana de setembro?], deixei o Arrebato e dizem-me que dentro de quinze dias chegava um barco para nos levar, pois tinha terminado a missão.

Sobre esta questão, Luís Graça refere no seu comentário a este fragmento: “estranha-se que o médico cubano Amado Alfonso Delgado tenha omitido o importante revés que foi para o PAIGC a baixa do comandante Mamadu Indjai, gravemente ferido pelas NT no decurso da Op Nada Consta, em agosto de 1969” [P16441] (*).

Todas estas hipóteses suscitaram o meu interesse e por isso segui em frente.

2. – O QUE DIZEM AS FONTES CONSULTADAS

«P16444: Manuscrito(s) (Luís Graça): Por aqui passou Mamadu Indjai, o terrível» -

“Depois do ferimento grave de Mamadu Indjai, "operado de urgência na zona 7", o Amílcar Cabral não sabia quem o deveria substituir... O Bobo Keita ofereceu-se, em Boké, para substituir o Mamadu Indjai "por 15 dias", por sugestão de Amílcar Cabral... Acabou por lá ficar nove meses, ou seja, até ao fim do 1.º semestre de 1970...

A "zona 7 (...) ficava nas regiões de Xime, Bambadinca e Xitole", diz o Boto Keita, nas suas memórias "De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita", de Norberto Tavares de Carvalho, edição de autor, 2011, 303 pp.)... "Era um triângulo onde se encontrava uma cambança que permitia passar para o Norte através do rio Geba, via Enxalé"... "Era um lugar difícil" (p. 134)...

«P9011: Memória dos lugares: O cais do Xime e a solidão do Rio Geba… (Torcato Mendonça)» - ~

[…] “Isso mesmo reconheceu o comandante Bobo Keita, nas duas memórias, quando Amílcar Cabral (1924-1973) propôs o seu nome, para substituir o comandante da Zona 7, Mamadu Indjai, gravemente ferido pelas NT (e mais concretamente pela CART 2339) na Op Anda Cá (em 15 de Agosto de 1969). […]

«P9137: Notas de leitura: De campo em Campo, de Norberto Tavares de Carvalho (Mário Beja Santos)»:

[…] “Bobo Keita é um guerrilheiro da Frente Norte, anda por Binta e Guidage, a base era Sambuia.Em junho de 1968 é ferido e evacuado para Moscovo e depois regressa [quando?] à frente Norte [esta evacuação ocorre dois anos após a chegada do primeiro grupo de médicos cubanos à Guiné, do qual fez parte o doutor Domingo Diaz Delgado]. No ano seguinte (1969), frequentou seminários em Conacri e depois foi para a [ex] Jugoslávia.

No regresso [agosto de 1969?], ofereceu-se para ficar nas regiões do Xime, Bambadinca e Xitole, aqui passou nove meses [até maio de 1970?], vinha substituir provisoriamente Mamadu Indjai.

Reorganizou a quadrícula: “a primeira medida que tomei no Leste foi acabar com a base central onde se concentrava toda a guerrilha e que daí procedia a longas marchas para ir atacar os quartéis. Além disso, na base central concentravam-se as milícias e havia uma certa confusão. Existia também o risco de que qualquer ataque do inimigo pudesse causar muitas baixas na base, devido a tamanha promiscuidade. Formei três destacamentos [?] e um comando móvel. Com a nova organização, a população estava mais segura. Criei um depósito dos Armazéns do Povo. Com isto consegui criar uma nova vida nessa região”.

Para Beja Santos, trata-se de “um relato com muitos altos e baixos. (…) Há notoriamente silêncios, beliscadelas e sentimentos feridos. Não se lhe pode assacar a responsabilidade de exibir fontes escritas, ao que parece o manancial da documentação estava em poder de [Amílcar] Cabral e do secretariado político. Mas estes comandantes recebiam documentação, nunca a invocam e muito menos a exibem. O que nos leva permanentemente a questionar como é que se vão cozer todas estas peças constituídas por depoimentos que mais ninguém valida”.


3. – MEMORANDO “COM DECISÃO SECRETA” SOBRE A COLABORAÇÃO DOS INTERNACIONALISTAS CUBANOS

Aproveitando a deixa do camarada Beja Santos [documentos não conhecidos], e acreditando ser do interesse público e histórico, como complemento aos diferentes fragmentos aqui publicados sobre as vivências e experiências relatadas por cada um dos médicos cubanos que estiveram em missão na Guiné-Bissau, entre 1966 e 1969, aqui vos deixo um memorando assinado por Amílcar Cabral (1924-1973), enquanto secretário-geral do PAIGC, em 8 de dezembro de 1967, ou seja, ano e meio depois da chegada do primeiro grupo à Guiné-Conacri.

O documento que seguidamente se reproduz, constituído por duas páginas, foi retirado da Net, da Casa Comum – Fundação Mário Soares, com devida vénia, com o título: “Decisão sobre a colaboração dos internacionalistas cubanos na luta de libertação da Guiné”.





(1967), "Decisão sobre a colaboração dos internacionalistas cubanos na luta de libertação da Guiné", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40211 (2016-9-14)


4. – O ENIGMA DOS FERIMENTOS DE MAMADU INDJAI

Eis-nos chegados, finalmente, ao enigma dos ferimentos de Mamadu Indjai [N’Djai], a questão de partida que deu origem ao presente trabalho.

É certo que em Agosto de 1969 ele estava na Frente Leste, justamente na Mata do Fiofioli, envolvido em acções de combate com os militares portugueses.

Também é certo que, mais ou menos três anos e meio depois, em janeiro de 1973, mais concretamente no dia 19, Amílcar Cabral (1924-1973) dera instruções ao responsável pela sua segurança, que era curiosamente Mamadu Indjai, para que tomasse as devidas precauções, uma vez que havia sido avisado pelos Serviços de Segurança da Embaixada da [ex] Checoslováquia, em Conacri, de que teriam sido detectados indícios de conspiração dentro do PAIGC [P11001].

Neste mesmo poste, elaborado por Beja Santos no seu espaço «Notas de leitura: Fernando Baginha e o assassinato de Amílcar Cabral» pode ler-se:

 “Cabral avisou o então responsável pela sua segurança para que tomasse precauções. Ele era Mamadu N’Djai [Indjai], herói nacional, comandante da Frente Norte, três vezes ferido em combate e, de [naquele] momento, em Conacri, precisamente em convalescença do seu último ferimento”.

Sabe-se, agora, que Mamadu Indjai foi ferido três vezes ao longo da sua actividade de guerrilha. Não se sabe, porém, quando, como e onde terão acontecido as duas últimas. [Ele é já comandante em 1963 e, em 1965, estava na Frente Norte; o seu nome é citado meia dúzia de documentos do Arquivo Almílcar Cabral].

Entretanto, sabe-se, também, que Mamadu Indjai esteve em Conacri, entre 11 e 13 de Maio de 1970, marcando presença nas reuniões do Conselho de Guerra, na companhia de outros dirigentes do PAIGC, conforme se reproduz baixo, bem como a sua fonte.





Excerto da ata, de 25 páginas

Instituição: Fundação Mário Soares

Pasta: 07073.129.004

Título: Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry

Assunto: Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra, de 11 a 13 de Maio de 1970, manuscrita por Vasco Cabral.

Membros Presentes: Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, João Bernardo Vieira (Nino), Osvaldo Vieira, Francisco Mendes, Pedro Pires, Paulo Correia, Mamadu N'Djai [Indjai], Osvaldo Silva, Suleimane N'Djai

Secretário: Vasco Cabral

Data: Segunda, 11 de Maio de 1970 - Quarta, 13 de Maio de 1970

Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios 1960-1970.

Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral

Tipo Documental: ACTAS

Citação:
(1970-1970), "Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_34125 (2016-9-20)

Finalmente, Mamadu Indjai [N’Djai] viria a ser executado, sem qualquer julgamento, por implicação na morte de Amílcar Cabral, o mesmo sucedendo a cerca de uma centena de outros elementos [P11001].

Em jeito de conclusão cronológica, ficámos a saber que Mamadu Indjai:

(i) em agosto de 1969 estava na Mata do Fiofioli;

(ii) em 11/13 de maio de 1970 [nove meses depois], participou na reunião do Conselho de Guerra, em Conacri, período coincidente com a saída de Bobo Keita da Frente do Fiofioli, pelo que é de considerar que não tenha voltado a esse local.

(iii) em 19/20 de janeiro de 1973 [dois anos e oito meses depois] estava em Conacri, onde era responsável pela segurança de Amílcar Cabral, sendo executado alguns dias depois.

(iv) foi ferido em combate por três vezes: quando, como e onde, continuam a ser enigmas, que aguardam o competente desenvolvimento, bem como a dimensão de cada episódio.

Obrigado pela atenção.

Um forte abraço de amizade com votos de muita saúde.

Jorge Araújo.
14SET2016.

______________

Notas do editor:

(*) Vd. último poste da série > 2 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16441: Notas de leitura (874): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte IX: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (V): Finalmente o regresso a casa, depois do pesadelo do Fiofioli, na margem direita do Rio Corubal... Este homem, hoje professor universitário (?), tem histórias para contar aos netos...

(**) Último poste da série > 15 de setembro de 2016 >Guiné 63/74 - P16493: (De)Caras (44): Conversa com Jerónimo de Sousa, Soldado Condutor Auto da Companhia Polícia Militar 2537 (Bissau, 1969/71) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 15 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9905: Blogpoesia (187): Descansa em paz, Iero Jaló... Poema de Luís Graça, com dedicatória ao Zé Carlos Suleimane Baldé, nosso novo grã-tabanqueiro



Guiné > Zona Leste > Contuboel > Junho de 1969 > CCAÇ 2590/ CCAÇ 12 > O 2º Grupo de Combate da CCAÇ 2590 (futura CCCAÇ 12), ainda em período de instrução da especialidade.

O 2º Gr Comb era comandado pelo Alferes Miliciano Carlão (co-optado do Curso de Oficiais Milicianos=, se bem me lembro...) que aparece na fotografia, na primeira fila, ajoelhado, olhando no sentido oposto ao do fotógrafo (rectângulo a amarelo). Vive hoje em Fão, Esposende. É casado com a Helena, a única "mulher branca" da CCaç 12 que viveu connosco em Bambadinca. O Carlão é transmontano, não sei se de Mirandela ou Miranda do Douro...

Atrás dele o soldado Arménio, hoje conhecido taxista no Portp (era cabo, antes de embarcar mas foi despromovido, por ter apanhado uma porrada de não sei quem). Um reguila do Porto...

De pé, na terceira fila, os furriéis milicianos António (Tony) Levezinho e Humberto Reis . Na segunda fila, meio agachados, os 1ºs cabos Branco e Alves (de alcunha o Alfredo)

Um grupo de combate da CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12) era constituído por 30 homens. Havia 4 Gr Comb. Cada grupo de combate, comandado por um alferes, tinha três secções (1 furriel e 1 cabo e oito soldados, estes africanos).

Casa secção era especializada. Havia a secção dos lança-granadas, com o respectivo apontador e municiador (1 LGFog 8.9, 1 LGFog 3.7). Havia a secção do Morteiro 60 (apontador e municiador ). E havia ainda a secção da Metralhadora Ligeira HK 21 (apontador e municiador). Cada combatente estava equipado com a espingarda automática G-3 e granadas defensivas. Em geral havia ainda dois apontadores de dilagrama (neste caso, 1ª e 3ª secção). O Iero Jaló, que não consigo identificar na imagem, pertencia à 3ª secção, comandada pelo Tony Levezinho.

Foto: © António Levezinho (2005). Todo os direitos reservados

1. Poema que dedico ao Zé Carlos Suleimane Baldé [, aqui na foto comigo, ao centro, e com o Umaru, em Finete, 1969], o primeiro e o último  preto da Guiné, da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, que irá figurar na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande... 



Publicado originalmente na I Série do nosso blogue, no  poste de 10 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLII: A galeria dos meus heróis (2): Iero Jau









Descansa em paz, Iero Jaló


A guerra.
Essa coisa tão primordial que é a guerra.
Que estaria inscrita no teu ADN,
segundo dizem os sociobiólogos.
A guerra é a continuação da evolução
por outros meios,
dirão os entomólogos,
especialistas em insetos sociais,
para quem a morte de um
ou de um milhão
de formigas ou de seres humanos,
é-lhes totalmente indiferente.
Desde que triunfe o ADN,
um projeto de ADN
musculado.

Para mim, a guerra é
a aprendizagem da morte.
Aos vinte e dois anos.
É a inocência que se perde
para sempre
ao ver morrer pela primeira vez
um homem, a teu lado.
É o impossível luto.
É a descoberta do mal absoluto.

Fight or flight.
Não precisei de fugir nem de lutar.
Recusei o egoísmo genético.
Recusei a lógica absurda
de matar ou morrer.
Recusei o cinismo.
Recusei a fria e calculista resignação
com que se juntam e amortalham
os cadáveres seguintes.
E se contam nas paredes da caserna
os dias que faltam para a peluda.

Trinta e tal anos depois,
venho dizer-te
as palavras que ninguém te disse
no teu grotesco enterro:
- Descansa em paz, Iero Jaló,
meu herói,

meu camarada,
soldado atirador
do 2º grupo de combate,

3ª secção.
nº 82117869,
da CCAÇ 2590
que virá mais tarde a chamar-se
CCAÇ 12,
companhia de tropa-macaca,
A minha companhia,
os meus camaradas,
o meu bando de primatas sociais,
territoriais, 

predadores.
Fazíamos parte da nova força africana
de Herr Spínola, o prussiano,
como eu lhe chamava,
ao nosso Comandante-Chefe.
Não, não ligues,
são outros contos, 

outras histórias,
outros ajustes de contas
com as nossas doridas memórias.

Dscansa em paz,
Iero Jaló,
debaixo do poilão secular
na tua tabanca,
no chão fula,
belíssimo poilão de uma triste tabanca fula,
cercada de arame farpado,
trincheiras,
valas de abrigo.
e cavalos de frisa.
Julgo que eras do regulado de Badora.
Ou seria Cossé,
lá para os lados de Galomaro ?

Desculpa-me ter esquecido
o nome da tua tabanca.
E a cara dos teus filhos
e o rosto das tuas mulheres,
agora órfãos e viúvas,
sozinhos neste mundo.
Os teus campos estão tristes e inférteis,
já não dão o milho painço nem o fundo,
nem a mancarra,
a semente do diabo,
nem a noz de cola.
Os homens partiram para guerra,
voltam agora numa caixão de pinho.
Restam os macabros jagudis,
poisados no alto da tua morança,
cheirando a morte,
pressagiando a desgraça

Sete de Setembro de 1969.
Região do Xime.
Operação Pato Rufia.
Morreste em linha,
aprumado como o teu poilão.
No assalto a um aquartelamento temporário do IN,
uma baraca, como eles diziam,
próximo da Ponta do Inglês.

IN ? Que estranho termo ou expressão…
Uso-o por força do hábito,
por comodidade,
por lassidão,
por economia de análise.

Curioso, nunca soube a tua idade.
Não tinhas bilhete de identidade
de cidadão português.
Eras um bravo futa-fula

e eu levei-te a enterrar na tua aldeia,
mais os teus camaradas,
que foram dizer-te o último adeus.
Com honras militares, 
tiros de salva,
hino nacional,
e a bandeira verde-rubra dos tugas
por cima do teu caixão.
De pinho,
do verde pinho de Portugal.
Nem isto te deixaram fazer
à maneira dos teus.
Só faltou o corneteiro
para o toque a finados.

Portugal ? 
Ainda te lembras,
os senhores que vieram do norte
e do lado do mar ?
Não, já não tens que saber de geografia.
Nem de história. 
Nem de geopolítica.
Nem de guerra fria.
No sítio onde moras, 

debaixo do teu poilão,
já não tens que saber de nada.
Mas eu, mesmo ao fim destes anos todos,
eu deveria saber o nome da tua aldeia,
no chão fula.
O teu nome, esse não esqueci,
Iéro Jaló.
Esqueci foi o lugar onde nasceste,
talvez Sinchã,
ou Madina, 
ou Sare qualquer coisa...
Que importa agora ?
Serás mais um dos milhares de soldados desconhecidos daquela guerra.

O que interessa é que chorei por ti,
confesso que chorei por ti,
que morreste a meu lado,
e que levavas um prisioneiro,
teu irmão,
pela mão.
Chorei por ti,
e não tenho vergonha de o dizer,
mesmo se um homem não chora,
muito menos um tuga ou umn fula.
Chorei por ti,
que nem sequer eras meu irmão.
Nem grande nem pequeno.
Nem tinhas a mesma cor de pele.
Nem a mesma religião.
Nem a mesma língua.
Nem a mesma pátria.
Nem o mesmo continente.
Não comias carne de porco
Nem bebias água de Lisboa.
Eras apenas um guinéu,
Um nharro,
soldado-atirador
de 2ª classe.
Ganhavas 600 pesos de pré.
Um saco de arroz por mês
para alimentar a tua família.
Mas, para mim, eras apenas um homem,
da espécie Homo Sapiens Sapiens.
A única que chegou até aos nossos dias.
A única que conheço.
Foste o primeiro homem que eu vi morrer a meu lado.
Nunca mais chorei por ninguém,
chorei por ti, Iero Jaló.
Chorei de raiva.
Chorei de imensa raiva.

Nascemos meninos,
mas fizeram-nos soldados.
Azar o meu e o teu,
por termos nascido
no sítio errado,
no tempo errado.
Imagino-te djubi,
à volta da fogueira,
na morança do marabu ou do cherno
da tua tabanca,
decorando o Corão.
Uma das cenas mais lindas
que eu trouxe da tua terra,
e que eu guardo no fundo da  minha memória,
são os djubis à volta da fogueira,
soletrando tabuínhas em árabe,
ou pseudo árabe, não interessa.
Lembro-me de quereres aprender
as letras dos tugas
para poderes ser soldado arvorado
e um dia chegares a cabo,
e quem sabe sargento,
e quem sabe oficial,
e quem sabe general.

E de repente, o capim.
O capim alto.
O sangue.
O capim pisado e empapado de sangue.
Pobre Iero,
morto por um dilagrama dos nossos.
Alguém branqueou a tua morte.
Alguém salvou a honra da companhia.
Um dilagrama rebentou no ar,
na tua cara.
Acidente de serviço
no auge da batalha,
quando avançavas em linha,
no assalto ao acampamento
do IN, do turra,
Levando pela corda
o teu turra, o teu guia, o teu prisioneiro,
ainda mais djubi do que tu.
Malan Mané, mandinga,
tão crente como tu,
tão observador dos preceitos corânicos
como tu, 
meu querido nharro
Iero Jaló.

E agora, meu camarada,
morto e enterrado,
que foste poupado
à humilhação da derrota
e não viste o teu país
sentar-se de pleno direito
à mesa do mundo,

dos senhores do mundo...
Nem tiveste que fugir para o Senegal...
Que farias tu com esta independência
contra a qual lutaste
sem querer,
sem saber,
sem poder ?

Onde estarão hoje os teus filhos, 
e as tuas mulheres ?
E os teus netos ?
E os homens grandes da tua tabanca de Badora ?
E os líderes do teu povo
que te obrigaram a combater ao lado dos tugas ?
Herr Spínola, o homem grande de Bissau,
esse já morreu há uns anos atrás.
Não lês os jornais,
não chegaste a aprender o alfabeto latino
e a juntar as letrinhas 
e ler,
com a torre de Belém ao fundo:
- Esta é a minha pátria amada…
Pois é, o homem grande de Bissau morreu,
não de morte matada, como a tua,
mas de acordo com a lei natural das coisas.
Quanto ao teu régulo,
foi miseravelmente fuzilado
na parada de Bambadinca,
o poderoso régulo de Badora,
tenente de milícias,
que havia trocado o cavalo branco
da gesta heróica do Futa Djalon,
por uma prosaica motorizada japonesa
de 50 centímetros cúbicos,
oferta do Homem Grande Bissau...
Era dono de centenas cabeças de gado
e de uma harém de cinquenta mulheres,
uma em cada aldeia de Badora…
Dizia-se que o puto Umaru
era filho dele,
o Umaru e mais djubis da CCAÇ 12.

Hoje os heróis do passado sucumbem
sob o peso das cruzes de guerra.
Ou pedem esmola nas ruas de Bissau,
tal como os teus filhos e netos.
Ou morrem de desespero e inanição
às portas do templo da deusa Europa,
em Ceuta e em Melilla,
em Lisboa ou em Paris.
Que voltas o mundo deu, meu soldado,
desde esse dia já distante
em que a tecnologia da guerra
ou a lotaria do ADN
te ceifou a vida.
Porquê tu, meu herói,
três meses depois de jurares bandeira
e te comprometeres, por tua honra,
a defenderes uma pátria 
que te disseram ser a  tua,
até à última gota do teu sangue ?

E do Malan Mané não tenho notícias,
se é isso que queres saber,
mas duvido que ele tenha sobrevivido
aos graves ferimentos do dilagrama dos tugas.
E agora deixa-me dizer-te, amigo,
à laia de despedida:
não sei se um dia
ainda terei coragem de voltar
à tua terra, 
ao teu chão.
Mas se porventura o fizer,
gostaria de perguntar pela tua aldeia,
e de procurar-te
e de ter tempo para conversar contigo,
só tu e eu,
debaixo do teu poilão.
Descansa em paz, Iero Jaló.

Luís Graça,

[revisto nesta data]


2. Originalmente este poema foi escrito tendo por tema a morte do sold at inf nº 82117869, Iero Jaló, de etnia futa-fula, do 2º Gr Comb, 3ª secção, da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, ocorrida em 8 de setembro de 1969, no decurso da operação Pato Rufia, na região do Xime... Este meu camarada morreu ao meu lado, no meu próprio batismo de fogo.

Mais tarde emendei o nome, e substitui-o pelo nome do Iero Jau, apontador de dilagrama, do 3º Gr Comb, 1º secção, nº mecanográfico,82109569, este sim, fula. Na realidade fui induzido em erro pela história da unidade (a CCAÇ 12), escrita por mim próprio: no relato da Op Pato Rufia, vem o nome do Iero Jau... Mas quem morreu de facto foi o Jaló, futa-fula: aliás, é o Iero Jaló, nº mecanográfico 82117869, que vem no fim na lista dos mortos da companhia... Foi a nossa primeira vítima mortal. E aliás é este nome que consta da lista oficiosa dos nossos mortos no Ultramar.

Corrigi, nesta data, o título e o corpo do poema... Espero que, no Olimpo dos guerreiros, o Iero Jaló me perdoe. O mesmo peço ao Iero Jau, que muito provavelmente já não estará entre nós. Estima-se que mais de 80% dos soldados do recrutamento local que tiraram a recruta e a especialidade em Contuboel, em 1969, e vieram depois integrar a CCAÇ 2590 (futura CCAÇ12), já tenham morrido.
______________

Nota do editor:

Último poste da série > 15 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9749: Blogpoesia (186): Registo (Felismina Costa)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6984: (Ex)citações (97): Tinha 22 anos e ainda sonhava... quando levei o prisioneiro Malan Mané a jantar comigo no café do Sr. Regala, em Galomaro (Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Heli AL III, BA 12, Bissalanca, 1968/70)

1. Mensagem, com data de 12 do corrente,  de Jorge Félix [, foto à esquerda, retirada com a devida vénia da sua conta no Facebook]

Assunto - Malan Mané, P6953 (*)

Caro Luís:

Na linha profilática que o teu/nosso Blogue tem prestado aos ex-combatentes da Guiné, e porque sou visado no P6953 e comentários associados a ele, gostaria de destacar o seguinte:

As frases,  "há gente que nunca mais faz dezassete anos"  e "pode acontecer que tenhas visto tudo isso em outra circunstância ou pode acontecer que haja outro Malan Mané", não têm sentido algum, mas eu entendo-as.

Aceita, Salvador Nogueira, que, não sendo importante, fui eu que transportei o Malan da Zops para Galomaro. (Um privilégio que não era para todos.. como se pode ler no cabeçalho do mesmo poste).

Acredita, Salvador, que estamos a falar do mesmo. Acredita que o que escreveu o "poeta",  foi dito por Malan, num jantar que o Comandante dos Páras permitiu que tivesse no "café do Sr Regala", no dia em que vocês o apanharam. Outras coisas foram faladas entre mim e Malan, que nunca irias acreditar. Pouco se falou de guerra. (**)

Claro que a autorização para Malan Mané ir jantar comigo e a conversa que daí decorreu não pode estar no relatório a que te referes, no PS da tua última nota  (PS - podes consultar o relatório da op e podes falar com o Sarg Sofio que toda a gente conhece em Constância - servia-te de passeio e matavas saudades da área,  uma vez que não já há nem BA3, nem RCP, nem gente que te conheça, nem nada) .

Como deves concordar (?!), não dá para perder tempo com a tua sugestão.

Não me "zanguei" com as tuas "tiradas". Já estou velho mas conservo o "romantismo" que transportava naqueles tempos. Posto isto, dou por terminado o diferendo que as histórias do Malam Mané criaram, e por tal não voltarei a responder por mais simpático ou violento que venhas a ser.

Caro Luís , se não fui explícito, não publiques. Vou pôr o meu nome, não para ser mais conhecido, mas para o associar ao texto.

Abraço
Jorge Félix
_______________


Notas de L.G.:


(*) Vd.poste de 8 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6953: Estórias avulsas (94): A captura do incaracterístico guerrilheiro Malan Mané, no decurso da Op Nada Consta (Salvador Nogueira)

(...) [ Comentário de Jorge Félix, 9 Set 2010]

"Para publicar havia de ser a minha narrativa da captura do Malan Mané - mais circunstanciada!, lembras-te do croquis que te enviei? - mas só se alguém aparecesse de novo a divagar sobre o assunto de longe e a sonhar alto. Houve até um poeta que descrevia o piloto a soprar a mata com o rotor do héli e a gritar para avisar a tropa - azar, era eu... e li. E agora?- de que havia uns gajos emboscados... Há gente que nunca mais faz dezassete anos" (...)

Li e não percebi!!! (Ou melhor, parece que sei o que querem...!)

Sou o Félix, o ex-piloto que também viu o Malan Mané com o RPG2 que não quis disparar.

O mesmo que "poeticamente" aterrou o héli junto do Malan.

O mesmo que viu o Malan ser apanhado à mão.

O Félix que transportou o Malan para Galomaro.

O mesmo, Félix, que levou o Malan à casa do Sr Regala a jantar, como prenda de não ter disparado.

O mesmo que escutou Malan explicar, no mesmo "restaurante", que não disparou pois teve medo de ser visto porque o "rotor soprava a mata".

Na altura teria 22 anos, e ainda sonhava.


Hoje, passados estes anos, todos ter que ler o que li, ou não entendi nada, o que será possivel, resultado dos 63 que já carrego, ou..., meus caros Amigos, ía apagar tudo pois estava a passar para o terreno em que ía ser indelicado. Vou ficar por aqui.

Vai ficar o que está escrito, talvez o autor do poste, que não sei quem é, possa ler . Quero lhe dizer que felizmente estou tratado de todas as feridas da guerra (penso que sim). De outra maneira, ao ler o que escreveu, "tudo é mentira sobre a captura de Malam excepto o que eu sei", poderia pôr em causa as minhas capacidades mentais.

Isto de escrever umas merdas, e terminar com uma tirada inteligente, tem muito que se lhe diga.

Caro companheiro de luta, já todos fizemos os 17 há muitos anos. Acredito que muitos queriam continuar naquele tempo, pois naquele tempo continuam a viver, com a sua verdade una e imortal.


Sem mais, abraço a todos.

Jorge Félix

ex-alf piloto aviador

Guiné 68/69/70


(...) [ Resposta de SNogueira, 10 Set 2010]

Caro Félix, pode acontecer que tenhas visto tudo isso em outra circunstância ou pode acontecer que haja outro Malan Mané.

Asseguro-te que a captura, vista do chão e a curta distância, foi feita como descrevi - o guerrilheiro levantou-se com as mãos no ar e nunca mais tocou na arma; não me lembro da sua evacuação mas fica seguro de que lhe confiscámos o RPG2.

Também não imagino o que ele possa ter dito a quem o interpelou depois de evacuado mas fica seguro de que a informação que deu no local foi escassa e em pouco alterou o nosso planeamento - era um homem muito simples e nós, a minha tropa, não éramos propensos a grandes divagações...

SNogueira

(...) [Novo comentário de SNogueira, 10 Set 2010]

(PS - podes consultar o relatório da op e podes falar com o Sarg Sofio que toda a gente conhece em Constância - servia-te de passeio e matavas saudades da área uma vez que não já há nem BA3, nem RCP, nem gente que te conheça, nem nada... Lamento este desencontro de memórias e de opiniões)

(**) Vd. postes de:

7 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai... (Luís Graça)

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2683: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (9): O Jorge Félix e o Prisioneiro

(...) Depois de vários anos sem notícias do Jorge Félix, tive a felicidade de o reencontrar há dias através de e-mail que ele me enviou. Soube do meu endereço, por meio do teu blogue que tem lido...

Relembrou-me uma história curiosa que se passou em Galomaro numa operação militar em que ele esteve envolvido e da qual resultou um prisioneiro do PAIGC que pernoitou na sede da CCAÇ 2405. (...)

O JORGE FELIX E O PRISIONEIRO (Ou a psicossocial no seu melhor... )
por Rui Felício


(...) (i) PREÂMBULO


(...) O episódio que vou contar poderia ter resultado em catástrofe, como mais adiante se compreenderá, mas o que permanece na memória, é de facto a situação picaresca que, passado o perigo, a seguir se desenvolveu.

Antes do relato dos factos, é importante dar a conhecer a personalidade do Jorge Félix. Sem ela, esta história não teria o sal e a pimenta que a maneira de ser dele lhe conferem.

(ii) A PERSONALIDADE DO JORGE FÉLIX

O Jorge Félix, a quem ainda hoje me ligam laços de grande amizade, foi piloto de helicópteros da Força Aérea em Bissau nos anos de 1968 a 1970.

Para além do seu elevado profissionalismo, capacidade técnica e conhecimento do território, que o tornaram, na opinião generalizada, como um dos melhores, senão o melhor piloto de helicópteros que terão passado pela guerra da Guiné, reunia e ainda reúne, invulgares qualidades difíceis de encontrar todas concentradas numa mesma pessoa.

Aquelas que mais apreciei foram e ainda são, apesar dos anos passados, um apurado sentido de humor, uma jovial e permanente boa disposição que alastrava a quantos o rodeavam, um permanente lenço de seda colorido em volta do pescoço que era a sua imagem de marca e uma aptidão especial para rapidamente aprender a dominar as técnicas das mais variadas especialidades.

Refiro-me ao domínio da fotografia e da imagem, da música e, sobretudo, dos corações femininos! Dizem que destroçou vários na sua passagem por Bissau, Bafatá, Galomaro e sei lá quantas mais terras da Guiné...

(iii) A OPERAÇÃO MILITAR

Mas vamos à história de cuja parte final fui testemunha. A parte inicial foi-me descrita pelo próprio Jorge Felix e confirmada pelos paraquedistas intervenientes.

Num certo dia de Agosto de 1969, o Jorge Félix transportou no seu helicóptero um grupo de pára-quedistas que iam fazer um assalto, a uma base do PAIGC, identificada pelos serviços de informações militares da Guiné, como estando localizada no [subsector de Mansambo, Sector L1, Zona Leste].

Ao procurar local para a aterragem perto do objectivo, em plena mata, o Jorge Felix foi descendo o helicóptero e, a uns 5 metros do chão, a deslocação de ar, provocada pelo movimento das pás do aparelho, afastou uma série de ramos de arbustos deixando a descoberto um guerrilheiro do PAIGC que ali se havia emboscado.

O homem estava armado com um [ RPG2,], e a granada colocada, apontando para o helicóptero, o que naturalmente deixou em pânico o piloto e os tripulantes. Na verdade, se o gatilho tivesse sido premido, era o destruição do helicóptero e de algumas vidas, senão todas, daqueles que o tripulavam.

O Jorge Félix que foi quem primeiro avistou o guerrilheiro, gritou aos pára-quedistas que de imediato saltaram do Heli e aprisionaram o homem sem necessidade de dispararem um único tiro, desarmando-o acto contínuo.

Pelos vistos, o susto e a surpresa dele foram tão grandes, ao avistar inesperadamente o helicóptero sobre a sua cabeça, que lhe devem ter paralisado os movimentos e o raciocínio... para sorte dos militares que enchiam o aparelho...

(iv) O REGRESSO A GALOMARO

Mas vamos à história de cuja parte final fui testemunha. (...) [Para saber o resto, clicar aqui]

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6953: Estórias avulsas (41): A captura do incaracterístico guerrilheiro Malan Mané, no decurso da Op Nada Consta (Salvador Nogueira)



A Guiné "by air"... Um privilégio que não era para todos... O custo/hora de um helicóptero era equivalente ao vencimento (mensal) de dois alferes milicianos, cerca de 15 contos, no princípio de 1969... Foto do ex-Fur Mil Ap Inf Arlindo Teixeira Roda (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) que deve ter apanhado uma boleia até Bissau...

Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


A. O nosso leitor SNog [Salvador Nogueiera,], no seu "auto-exílio" na província, é avesso a publicidade, e raramente me autoriza a publicar as mensagens que trocamos há já uns bons tempos (*). 

Em 30 de Julho de 2009, veio à baila a Op Nada Consta, em que ele participou como oficial pára-quedista do BCP 12, quando passou pelo TO da Guiné, em 1969. Mandou-me então a narrativa da captura do "incaracterístico" roqueteiro Malan Mané, que haveria mais tarde de ser ferido ao meu lado, na Op Pato Rufia, em 7 de Setembro de 1969... Nessa altura o SNog não me autorizou a sua divulgação, por razões que só ele conhece, e que entende não explicitar (nem eu sequer lhas perguntei).

Mais recentemente (7 de Julho de 2010) o SNog terá mudado de ideias, ao escrever-me o seguinte, depois de me dar o nega a um pedido de publicação de uma outra mensagem dele (com referência ao seu CV militar):

"Para publicar havia de ser a minha narrativa da captura do Malan Mané - mais circunstanciada!, lembras-te do croquis que te enviei? - mas só se alguém aparecesse de novo a divagar sobre o assunto de longe e a sonhar alto. Houve até um poeta que descrevia o piloto a soprar a mata com o rotor do héli e a gritar para avisar a tropa - azar, era eu... e li. E agora?- de que havia uns gajos emboscados... Há gente que nunca mais faz dezassete anos" (...).

Meu caro SNog (só nos conhecemos por mail...) está na altura de desencantar a tua narrativa, agora que alguém quis ressuscitar o pobre do Malan Mané (o Torcato Mendonça jura que o viu vivo, em Bissau, uns meses depois de ter quase morrido lá para os lados do Poindon, na região do Xime)... Entende isto como um pequeno contributo teu para alimentar a nosso projecto (partilhado) de reconstituição das memórias da guerra de África. Como dizem os economistas da nossa praça, não há almoços... nem blogues grátis. De resto, estavas-me a dever essa história (*)... Ela aqui vai, com um Alfa Bravo do Luís.


B. Estórias avulsas (***) > A captura do incaracterístico Malan Mané,

narrativa de SNog


1 - A história da captura do incaracterístico, até falarem tanto dele, Malan Mané... tratou-se de um guerrilheiro esfarrapado que escolheu, em vez de fazer o disparo, levantar-se com as mãos no ar da posição em que se encontrava, atrás de um RPG2 com o cão armado e que à voz ‘anda cá, pá!’ se aproximou apavorado. Era também um de três ou quatro (?), dos quais o terceiro terá fugido.

O do RPG2, este de quem se fala, ocupava a posição mais internada na mata, no extremo da linha de emboscados; do seguinte só encontrámos a cama de capim e o da extremidade mais próxima da orla, atrás de uma Degtyarev RPD, foi abatido.

Do terceiro elemento, nesta ordem, estranhamente não me lembro – não foi capturado nem abatido; terá também fugido ou ‘sonhei-o’ pois fui inspeccionar a instalação deles e creio ter visto 4 camas... adiante! Será todavia o único detalhe com algum significado que tenho consciência de olvidar. O capturado foi ainda interrogado imediatamente, no local, retardando o avanço.

No desencadear da acção, a minha equipa foi a primeira a ser colocada e avançou, a dar espaço no trilho, após a segunda colocação, a da equipa do Sarg Sofio; terá sido aproximadamente à aterragem do terceiro helicóptero que se deu o episódio que descrevo.

Se considerarmos os cerca de cinco metros entre cada homem instalado e sabendo que o Sofio se aproximou de mim para coordenação, estariamos então a uns 25 ou 30 metros da orla, segundo o esquema seguinte que,




por si só, corrige várias divagações que por aí se têm lido acerca do incidente (**).

2. (A propósito de Mamadu Indjai). O chefe de bi-grupo Sanpunhe –assim identificado pelo Malan Mané - apareceu juntamente com outro guerrilheiro perante mim no decorrer da operação, numa ocasião em que mandei parar e fui investigar um palpite dentro do mato, à nossa direita; uns vinte ou trinta metros fora do trilho apareceram dois elementos que vinham ao mesmo e que deram connosco – o Sanpunhe foi abatido cara-a-cara por disparos que fiz e/ou pelo disparo do RPG7 do homem que me acompanhava; o segundo guerrilheiro pisgou-se... (***)

Resultados: herdei uma pulseira que ainda tenho e uma Kalashnikov com que fiz toda a operação da Guiné. Compreenda-se... era difícil resistir ao ronco, apesar de então já ter estado em Angola e em Moçambique.


Texto e infogravura: Salvador Nogueira (2009). Todos os direitos reservados


[ Fixação / revisão de texto / título: L.G.]
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 14 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5464: O Nosso Livro de Visitas (74): O blogue não deve ser a Praça da Figueira (Salvador Nogueira, BCP 12, BA 12, Bissalanca, 1969)

(**) Vd. poste de 7 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai... (Luís Graça)

(***) Recorde-se que a Op Nada Consta foi uma operação conjunta do COP 7 (Bafatá), da CART 2339 (Mansambo, Subsector do Sector L1), da CCAÇ 12 e do Pel Caç Nat 53 (subunidades de intervenção ao serviço do Comando do BCAÇ 2852, 1968/70, sediado em Bambadinca).

No sítio do BCP 12 (comandado do pelo Ten Cor PQ Fausto Pereira Marques, de 4 de Junho de 1968 a 5 de Dezembro de 1969), pode ler-se o seguinte sobre a sua actividade operacional no TO da Guiné:


(...) A actividade operacional do BCP 12 ao longo da sua permanência na Guiné foi intensa, conduzindo a resultados reveladores da sua aptidão para combate.

Nos primeiros anos os Pára-quedistas foram empregues fundamentalmente em operações independentes no âmbito da Força Aérea, a qual tinha meios próprios de reconhecimento, ataque ao solo e transporte das suas forças Pára-quedistas.

Os grupos de combate eram normalmente empregues em operações que exigiam grande mobilidade e rapidez de actuação. Quando um grupo de guerrilheiros era detectado ou actuava contra aquartelamentos das unidades do Exército, as forças Pára-quedistas eram colocadas no terreno, através de helicópteros, ou noutros casos, dada a geografia própria da Guiné, através de lanchas da Armada. As forças Pára-quedistas eram usadas por períodos de tempo limitado mas de grande empenhamento.

Para além de operações independentes no âmbito da FAP, os Páras participaram também em operações conjuntas com forças do Exército ou da Armada. Destas destaca-se a operação PARAFUZO, efectuada na ilha de Caiar em Março de 1967, com forças dos Destacamentos de Fuzileiros Especiais nº 4 e 7. Da acção resultou a captura de 20 elementos inimigos.

A partir de meados de 1968 e com o General António Spínola como novo Comandante-Chefe na Guiné, o modo de emprego dos Pára-quedistas foi alterado.

As Companhias [121, 122 e 123] do BCP passaram a integrar os então criados Comandos Operacionais (COP) com outras forças militares, sob o comando de um oficial superior. Muitas vezes oficiais Pára-quedistas desempenharam essas funções. As forças eram então empenhadas, durante largos períodos, conjuntamente com as Unidades de quadrícula do Exército. As companhias do BCP 12 foram assim muitas vezes atribuídas de reforço às unidades instaladas junto às fronteiras com o Senegal e a Guiné-Conakry.


Foram inúmeras as operações desencadeadas neste período: a operação JUPITER, com 4 períodos no corredor de Guileje, no âmbito do COP 2, a operação TITÃO com o COP 6, a operação AQUILES I, com o CAOP 1, a operação TALIÃO, com o COP 7, entre tantas outras, com bons resultados.

Merece particular destaque a operação JOVE, realizada em Novembro de 1969 com forças das CCP 121 e 122. No dia 18 de Novembro a CCP 122 capturou o Capitão Pedro Rodriguez Peralta, do Exército Cubano, comprovando a ingerência de forças militares estrangeiras na guerra na Guiné.

Apesar das CCP continuarem a ser atribuídas aos COP que se iam activando consoante as necessidades, o Comando do BCP esforçou-se por continuar a levar a cabo algumas operações independentes, actuando como força de intervenção em exploração de informações obtidas e seria neste tipo de operações que se obtiveram alguns dos melhores resultados do Batalhão.

Apesar dos esforços a situação na Guiné continua a degradar-se. A pressão que os guerrilheiros vinham exercendo sobre os aquartelamentos no Sul do território começou a dar resultados. 

Em Maio de 1973 os guerrilheiros desencadeiam fortes ataques a Guileje obrigando mesmo ao abandono do aquartelamento dos militares do Exército. Nas proximidades, Gadamael Porto fica em posição delicada com flagelações frequentes de armas pesadas. 

A 2 de Junho as CCP 122 e CCP 123 são enviadas para Gadamael, seguindo-se no dia 13 a CCP 121. O próprio comandante do BCP 12, Tenente-Coronel Araújo e Sá tinha assumido o comando das forças que com a guarnição do Exército constituiram o COP 5. A posição de Gadamael Porto é organizada defensivamente com abrigos, trincheiras e espaldões, simultaneamente são desencadeadas acções ofensivas sobre os guerrilheiros. A resistência e a determinação das Tropas Pára-quedistas acabaram por surtir efeito e o ímpeto inimigo foi quebrado - Gadamael Porto não caiu. 

A 7 de Julho as CCP 121 e 122 regressam a Bissau e a 17 é a vez da CCP 123, a operação DINOSSAURO PRETO tinha terminado. (...).

(Destaque a vermelho, do editor, L.G.)

Um dos álbuns fotográficos de pessoal do BCP 12 pode ver visualizado aqui.

(****) Último poste desta série > 4 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 – P6933: Estórias avulsas (93): Uma história da minha guerra (António Barbosa)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai nas matas do Rio Biesse... (Luís Graça)



Guiné > Zona leste >Sector L1 > CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) > Um coluna logística ao Xitole... O pessoal fazendo uma paragem na Ponte dos Fulas, destacamento do Xitole.


Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010) & Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Continuação da série A Minha CCAÇ 12, por Luís Graça (,foto à esquerda, ex-Fur Mil Ap Arm Pes Inf] (*).

Resumo (1):  A CCAÇ 12, composta por quadros e especialistas metropolitanos,  chegados à Guiné em finais de Maio de 1969 (CCAÇ 2590), e por soldados africanos, praticamente todos oriundos do chão fula que tinham feito a sua instrução básica e de especialidade em Contuboel, é dada como operacional, a partir de 18 de Julho de 1969, sendo colocada em Bambadinca (Sector L1), como unidade de intervenção, ficando pronta a actuar às ordens de qualquer um dos sectores da Zona Leste da Guiné (em especial dos Sectores L1, L3 e L5).

Durante a sua primeira comissão (1969/71), actou sobretudo no Sector L1 (Bambadinca, correspondente ao triângulo Bambadinca-Xime-Xitole, mas incluindo também, a norte do Rio Geba, os regulados do Enxalé e do Cuor onde começava o famoso corredor do Morès...). A CCAÇ 12 foi uma das primeiras unidades da nova força africana, criada por Spínola.

No subsector de Galamaro (Sector L3) a CCAÇ 12 tem o seu baptismo de fogo e os seus primeiros feridos graves, a 24 de Julho de 1969, em Madina Xaquili. Nos meses seguintes, em plena época da chuva, irá ter uma intensa actividade operacional. Em Setembro, no decurso da Op Pato Rufia (assalto a uma acampamento avançado do IN na zona da Ponta do Inglês), a CCAÇ 12 irá sofrer o seu primeiro morto.

No texto a seguir relata-se a actividade operacional relativa ao mês de Agosto de 1969, donde se destaca a Op Nada Consta, com forças da CART 2339 (subunidade de quadrícula de Mansambo, pertencente ao BCAÇ 2852, 1968/70), o Pel Caç Nat 53  e tropas pára-quedistas do BCP 12 (ao serviço do COP 7, Bafatá), no decurso da qual é feito um prisioneiro, Malan Mané,  e ferido gravemente o comandante Mamadu Indjai, entre outras baixas. (**)



Agosto de 1969: Op Nada Consta, operação conjunta da CCAÇ 12 com forças pára-quedistas do BCP 12 (Galomaro), o Pel Caç Nat 53 (Bambadinca) e a CART 2339 (Mansambo)

Candamã, tabanca fula em autodefesa do regulado do Corubal, é atacada durante mais de duas horas até ao amanhecer do 30 de Julho. Esse brutal ataque (o PAIGC utilizou  um bigrupo e armamento pesado) surgiu na sequência do recrudescimento da actividade IN no tradicional triângulo Xime-Bambadinca-Xitole, após a Op Lança Afiada.

Nesta operação que se realizou, de 8 a 18 de Março último, a nível de agrupamento, estiveram empenhados 1.300 homens (incluindo milícias e carregadores civis), tendo as NT penetrado em santuários do IN, como a mata do Fiofioli

Embora desarticulado o seu dispositivo na área compreendida entre a linha geral Xime-Mansambo-Xitole e a margem direita do Rio Corubal, o IN não deixaria, no entanto, de desencadear um ou dois meses depois uma série de acções de guerrilha que culminariam com um ataque, em força,  ao aquartelamento de Bambadinca, na noite de 28 de Maio de 1969.

Só no subsector de Mansambo, o IN tinha até então montado 2 emboscadas (1 com mina comandada) às NT, flagelado 5 vezes o aquartelamento de Mansambo e atacado em força o destacamento de milícias de Moricanhe (retirado a seguir). 

Desta vez (isto é, com o ataque a Candamã, a 30 de Julho),  tudo indicava que o IN se tinha instalado no regulado do Corubal, dispondo para o efeito duma cadeia de acampamentos temporários (barracas) que lhe dava ligação às suas bases mais recuadas, junto ao Rio Corubal (Galo Corubal, Mina/Fiofioli, Mangai, Ponta Luís Dias... vd. cartas do Xime, Xitole e Fulacunda).



O triângulo Bambadinca-Xime-Xitole. Pormenor do mapa do Sector L1. 

Infogravura: © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados



A missão da CCAÇ 12 era, portanto, detectar o IN. Assim, a 2 de Agosto, 3 Gr Comb (1º, 3º  e 4º) voltam a Candamã para um patrulhamento ofensivo na região de Camará. Estava-se então no auge das chuvas, o que tornava muito difícil a detecção de vestígios humanos no mato. Descobriu-se, no entanto, o trilho que o IN utilizara na retirada do ataque à tabanca de Candamã, dias antes,  e que ia dar a região de Galo Corubal / Biro (Op Guita I).


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada de Bambadinca-Mansambo. Eu e o Dalot, o Diniz G. Dalot, talvez o melhor condutor de GMC do mundo ou pelo menos o melhor que eu alguma vez conheci... Berliet e GMC nas mãos dele, carregadas de sacos de arroz, não ficavam atoladas na famosa estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole, a menos que rebentassem debaixo de uma mina. Eu dizia que era preciso ser maluco para conduzir uma GMC. Ele ofendia-se: era o mais profissional dos nossos condutores auto... Reguila, setubalense, de apelido francês, apanhou logo no princípio da comissão, em Julho de 1969, cinco dias de detenção. (LG)

Foto: © Luís Graça (2005) / Blogue Lúís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



A 4 de Agosto, efectua-se a Op Belo Dia em que participa o 2º Cr Comb com forças da CART 2339, de Mansambo (Destacamento A),  para abertura do itinerário Mansambo-Xitole, interdito deste Novembro de 1968, altura em que uma coluna logística do BCAÇ 2852 sofrera 2 emboscadas (a primeira com mina comandada) no regresso a Bambadinca, a cerca de 2 km da Ponte dos Fulas,  tendo prosseguido com apoio aéreo. 

Na Op Belo Dia, não foram encontradas minas nem abatizes mas o IN emboscou 1 Gr Comb do Dest B (Xitole) na Ponte dos Fulas quando estava a reabastecer-se de água.

Entretanto, de 5 a 17 de Agosto, o 4º Gr Comb foi reforçar o Sector L2, sendo destacada 1 secção para Saré Gana e 2 para Sare Banda (subsector de Geba). Dias antes o IN fizera um ataque malogrado à tabanca em autodefesa de Sinchã Sutù.

A 6 de Agosto, 2 Gr Comb levam a efeito uma batida conjugada com emboscada na região de Candamã, não tendo encontrado quaisquer vestígios (Op Gungadim). Porém a 11, numa nova batida efectuada pelo 3º Gr Comb e e Pel Rec Inf da CCS/BCAÇ 2852 detectaram-se sinais muitos recentes do IN. De regresso a Candamã, as NT foram flageladas à distância com morteiro 60 e LGFog (, Lança-granadas-foguetes), da direcção de Camará (Op Gancho).

A 12, a CCAÇ 12 realiza a Op Gancho II. E a 15, a Op Gancho III, juntamente com forças da CART 2339, para uma batida à zona de Áfia / Camará. Às cinco da manhã, aquela tabanca em autodefesa (reforçada com 1 secção de um pelotão de Mansambo) tinha sido atacada pelo mesmo grupo IN que fora a Candamã, sofrendo a população 3 mortos e 9 feridos.

Vestígios deixados pelo IN (peugadas no capim e terra remexida pelo prato-base do morteiro 82) durante um alto ou mais provavelmente no ponto de reunião, levariam entretanto as NT à localização dum acampamento, situado na mata a sul do Rio Biesse onde foram surpreendidas pelo ruído do pilão, tendo avistado alguns elementos armados na orla da bolanha. Os efectivos das NT não eram, porém, suficientes para o golpe de mão imediato e, de resto, a sua missão era apenas de reconhecimento, pelo que retiraram o mais cautelosamente possível.

Três dias depois, a 18 de Agosto, e com base no reconhecimento que se efectou à área, forças pára-quedistas fariam um heli-assalto ao acampamento em referência, numa operação conjunta do Sector L1 e COP 7 (Bafatá). As forças do COP 7 eram constituídas pela CCP 123, a 2 Gr Com, e a CCP 122,  a 1 Gr Com, aquarteladas em Galomaro. (Op Nada Consta)


Op Nada Consta: Desenrolar da acção


Enquanto as forças do Sector L1 ficavam emboscadas nas proximidades da bolanha do Rio Biesse (a leste, a CCAÇ 12 com 3 Gr Comb dispostos em semicírculo; a norte, o Pel Caç Nat 53; a oeste, forças da CART 2339, a 2 Gr Comb; e ainda  1Gr Comb da CART 2339, na estrada Mansambo-Xitole,  junto à ponte do Rio Bissari, XIME 7A5-85 ), veio a primeira vaga de pára-quedistas que foram colocados na ponta oeste da bolanha, penetrando imediatamente na espessa mata que se estende para sul.

Cinco minutos depois, é capturado um elemento IN armado de RPG-2. Sucederam-se mais duas vagas de helicópteros, transportando outros tantos Gr Comb dos páras e a mata passou a ser percorrida de norte para sul.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Interrogatório a um prisioneiro, o guerrilheiro Malan Mané. Quem preside ao interrogatório é o Alf Mil Torcato Mendonça. A foto é do Alf Mil Cardoso, e chegou-nos à mão através do ex-Fur Mil Carlos Marques dos Santos, de Coimbra. "Pela disposição dos presentes é fácil imaginar a brutalidade do interrogatório. O militar das patilhas sou eu, na escrita" (TM).

Foto: © Carlos Marques dos Santos (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


0 prisioneiro, Malan Mané, de seu nome, de etnia mamdinga, entretanto, não dera nenhuma informação que permitisse levar à localização de qualquer arrecadação de material ou acampamento importante. Confessou apenas que no local se encontravam cerca de 80 homens (dois bigrupos), sob o comando de Mamadu Indjai, dispersos em pequenos grupos pela mata, e com quem os páras estabeleceriam depois contacto, fazendo 2 mortos e capturando 3 armas automáticas (***).

0 mau tempo não permitiu o bombardeamento prévio da zona na direcção N-S, pelo que o IN conseguiu fugir da zona do heli-assalto, não obstante o fogo do helicanhão [, o Lobo Mau]. Na retirada, porém, um grupo cairía numa emboscada afastada que forças da CART 2339 tinham montado no itinerário Mansambo-Xitole, próximo da ponte sobre o Rio Bissari, e em resultado da qual ficaria gravemente Mamadu Indjai (soube-se mais tarde). Houve ainda dois mortos confirmados do lado do IN.

Devido às condições atmosféricas (péssimas, segundo os relatórios), a Op Nada Consta só começaria às 9.30h, com o heliasssalto. Sempre sob mau tempo, os páras regressam a Galomaro às 16.30h do mesmo dia.

Entretanto, o  IN retirava na direcção de Biro onde os páras foram no dia seguinte, na exploração imediata das informações dadas pelo prisioneiro, Malan Mané, capturando mais material.

O material apreendido pelos páras incluiu: 

- 1 Metr Lig Degtyarev; 
- 1 LGFog RPG-2; 
- 1 Esp Aut Kalashnikov (distribuída a um elemento IN, de nome Baio); 
- 1 Pist Metr PPSH; 
- 3 cunhetes com munições; 
- 7 granadas de RPG-2;
-  9 granadas de Mort 60; 
- diversos bormais, marmitas, fardamento e botas novas; documentos de interesse, incluindo relatórios onde se refere a ocorrência de 2 mortos e 6 feridos, por parte do IN, no ataque a Candamã, a 30 de Julho de 1969.

Pela CART 2339, foram levantadas duas minas A/C.

Entretanto, a 30 de Agosto, o 1º, o 3º e 4º Cr Comb da CCAÇ 12, num patrulhamento ofensivo à região do Rio Biesse, Demba Ioba, Sambel Bare, Sinchã Mamadi e estrada de Mansambo, percorreriam 6 acampamentos IN recém-abandonados, ao longo dum trilho principal que conduzia à região de Biro, atravessando o itinerário Mansambo-Xitole.

No primeiro acampamento, encontrou-se o cadáver dum chefe IN identificado pelo prisioneiro que servia de guia, e que teria morrido em consequência de ferimentos recebidos em combate, durante a Op Nada Consta. Em escassos dias, as formigas carnívoras e os abutres tinham-no reduzido a um esqueleto desconjuntado.

Vestia uma espécie de dolmen impermeável que ainda estava em bom estado, assim como as botas... Num outro acampamento a seguir, foram encontradas um maço de cartas escritas em árabe (ou caracteres arabizados) e uma planta do aquartelamento de Mansambo, com as posições da artilharia, localização dos abrigos-casernas, espaldões, etc.

Em virtude do guia se ter perdido, os 3 Gr Comb da CCAÇ 12 só atingiram a estrada de Mansambo no dia seguinte de manhã, tendo regressado juntamente com o 2º Gr Comb da CCAÇ 12 e forças da CART 2339 que haviam ficado emboscados no trilho de Biro, paralelamente à estrada. Até Mansambo, verificaram-se numerosos casos de esgotamento físico entre os Gr Comb da CCAÇ 12 que efectuaram a Op Gancho IV.


Fontes consultadas:


História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971. Cap. II. 8-11.

Guiné 68/70: História do Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. Bambadinca: BCAÇ 2852. 1970. Cap. II. 102.

Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, I e II Séries

Diário de um Tuga (notas pessoais de L.G.)
__________

Notas de L.G.

(*) Vd. postes anteriores desta série:

29 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6490: A minha CCAÇ 12 (3): A única história da unidade, no Arquivo Histórico-Militar, é a que cobre o período de Maio de 1969 (ainda como CCAÇ 2590) até Março de 1971... e foi escrita por mim, dactilografada e policopiada a stencil (Luís Graça)

25 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6642: A minha CCAÇ 12 (4): Contuboel, Maio/Junho de 1969... ou Capri, c'est fini (Luís Graça)

7 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6686: A minha CCAÇ 12 (5): Baptismo de fogo em farda nº 3, em Madina Xaquili, e os primeiros feridos graves: Sori Jau, Braima Bá, Uri Baldé... (Julho de 1969) (Luís Graça)


(**) Repare-se na desproporção de meios: as forças do IN são estimadas em 60/80 elementos; as NT mobilizaram para esta operação 10 grupos de combate, ou sejam, cerca de 250/300 homens: 3 Gr Comb do BCP 12 (CCP 122 e 123); 3 Gr Comb da CCAÇ 12; o Pel Caç Nat 53; e, por fim, mais 3 Gr Comb da CART 2339.


Vd. também outros postes sobre a Op Nada Consta e o prisioneiro Malan Mané:

6 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXV: A Op Nada Consta vista pelo lado da CART 2339 (Mansambo)

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2683: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (9): O Jorge Félix e o Prisioneiro

1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1011: A galeria dos meus heróis (4): o infortunado 'turra' Malan Mané

25 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P906: CART 2339 e Malan Mané, duas estórias para duas fotos (Torcato Mendonça)

(...) Só um apontamento sobre o Malan.

Em Agosto de 1969, o meu Grupo de Combate reforçado com Milícias, estava no COP 7, ou melhor, a trabalhar para a Companhia do Cap Mil Jerónimo, em Galomaro [CCAÇ 2405]. Como as Tabancas, em autodefesa, de Candamã e Afiá voltaram a ser atacadas, fomos chamados com urgência a Bambadinca. Houve uma reunião com o Comandante do Agrupamento – Coronel ou Brigadeiro Hélio Felgas -, o Tenente Coronel Pimentel Bastos, Comandante do BCAÇ 2852 e outros oficiais cujo nome já não recordo.

Recebemos a missão. Partir de imediato para Candamã / Afiá com mais um Grupo da minha Companhia. Recolhemos mais informações, com o Comandante da CART 2339, Capitão do Quadro Permanente Laranjeira Henriques, e, em coluna auto, deslocámo-nos para lá.

Na passagem por Afiá consegui convencer o Lhavo, caçador e guia em várias operações, para nos voltar a orientar. Mostrou-se relutante. Tinha as suas razões e, se bem me lembro, estavam correctas.

No dia seguinte lá partimos com o Lhavo e encontrámos a pista do IN. Seguimo-la, em progressão balanta. Vimos um local de pernoita, calculámos quantos seriam e, no fim do dia, descobrimos o possível local do acampamento. Som de pilão e outros indícios. Além disso, o local era óptimo para um acampamento.

Dois dias depois, salvo erro, forças das CCAÇ 2590 [CCAÇ 12], CART 2339 e o Pel Caç Nat 53 montaram emboscadas em possíveis locais de fuga do IN. Paraquedistas do Cop 7 assaltaram e destruíram o acampamento. Capturaram o Malan Mané. Na fuga o IN, junto á estrada Mansambo/Xitole, caiu numa emboscada da CART 2339. Sofreram baixas e foi ferido com gravidade o Comandante do PAIGC, Mamadu Indjai

A nossa tropa regressou a quartéis e eu voltei a Mansambo. Uns dias depois entregaram-nos o Malan Mané. Íamos fazer uma operação – Pato Rufia – na zona do Xime e o Malan era o guia . Ele já tinha sido interrogado, creio que em Bambadinca. Não sei como decorreu mas imagino. Pelo breve relatório que nos entregaram disse pouco.

Em Mansambo o Malan foi para um dos dois abrigos do meu Grupo. Estes abrigos tinham uma sala que servia como refeitório, local de convívio, escrita e leitura e outros fins. Ficava na parte do abrigo virada para a parada, rodeada por duas fiadas de bidões com terra e tecto de zinco e colmo.

Entrei nessa zona e o Malan levantou-se, olhando para mim com um olhar inquieto, no mínimo. Fiquei, eu e os outros militares surpreendidos com aquela reacção. Como ele não falava mandinga e o meu crioulo era fraco, mandei chamar o Lali.É o guineense que se vê a sorrir na foto. Quando sentimos que o Malan estava mais calmo, conversámos com ele durante o tempo necessário para obter muitas informações. Foram passadas, as mais importante, a muitas folhas de papel.

O Malan sabia quem eu e outros camaradas éramos porque vinham, ele e outros militares do PAIGC, espiar-nos aquando da construção de Mansambo; tinha estado na fatídica emboscada da fonte, cerca de um ano antes. Viram-me passar mas não abriram fogo pois o objectivo era a fonte. Nesse dia fui com o meu Grupo á Moricanhe onde estava o Pelotão de Milícias 145. Disse-nos que o Cmdt do PAIGC para aquela zona era o Mamadu Indjai, recentemente reforçado e tendo 120/150 combatentes, com armas pesadas etc, etc. Não sabia o que entretanto sucedera ao seu ex-comandante.

Parece um relato de um santo. Claro que não o éramos. Aplicávamos a dureza julgada necessária, a disciplina, estávamos certos que o suor poupava sangue. Além disso sobre a Convenção de Genebra… só de nome… um conjunto de Leis, será?... Genebra, a cidade Suiça e a detestável bebida!... Mantínhamos era a nossa dignidade e o respeito por quem contra nós lutava. E não só.

Voltando ao Malan Mané. No dia seguinte fomos para o Xime. Correu mal a operação. O Malan enganou-se demasiadas vezes e, além de não atingirmos o objectivo, viemos de mãos a abanar.

Essa operação foi repetida, segundo me parece e o Malan foi ferido…Encontrei-o, em Novembro de 1969 no Hospital Militar em Bissau. (...).

(***) Publicaremos, numa próxima oportunidade a versão de um oficial pára-quedista que participou nesta operação e na captura do Malan Mané. É um precioso testemunho em directo (enviada em 30 de Julho de 2009) do nosso leitor SNogueira que, por razões que desconhecemos mas que respeitamos, não quer integrar a nossa Tabanca Grande. Tal não o impede de, amiúde, ter um papel activo no nosso blogue, visualisando e comentando os postes que publicamos. Na qualidade de combatente na Guiné, é nosso camarada.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3030: In Memoriam (6): General Hélio Felgas (Torcato Mendonça)

Mensagem do Torcato Mendonça, de 25 de Junho



Luís Graça e Editores,

Ontem quando li a notícia fiquei triste. Aos poucos – costuma dizer-se: da lei da Morte ou da Vida se vão libertando... Prefiro dizer: faleceram.

Neste caso, faleceu o General Hélio Felgas e já tinham falecido o Marechal Spínola, o Coronel Pimental Bastos, o Payne (médico BCaç 2852). Pessoas com as quais convivi, mais ou menos, na minha passagem pela Guiné.

Todos eles me mereceram e continuam a merecer o meu respeito. Nunca diria deles Caco Baldé, Pimbas ou outro "nome" a qualquer. Aceito que outros o usem. É problema que me transcende.

Mas outros militares foram desaparecendo, alguns que comigo ou contigo, Luís - estivemos na mesma zona – não conviveram, caso do Capitão José Neto e a todos, mais certamente aos que de perto com ele privaram, deixou (deixaram) grande saudade. São, queiramos ou não "bocados" de nós, que se vão aos poucos perdendo. É natural, é a lei da vida. Mas é triste, como era lá, meus caros. Todos por isso passamos.

Conheci o General Hélio Felgas. Antes da Lança Afiada, durante esta operação, quando estive em Galomaro, no COP 7, a trabalhar para a CCAÇ 2405, na operação que levou à destruição do acampamento do Mamadu Indjai e à captura do Malan Mané. Tudo davam estórias e mostravam facetas do Homem e Militar que Ele foi. Estás a pensar: Que raio, o tipo está a ficar militarista. Nada disso. Estou é a sentir que aos poucos muitos vão desaparecendo e, muitos ou alguns deles, em vida deviam ter tido melhor tratamento.

Repara, que não falo na cambança do Cheche: porquê? Aponto só dois motivos: o Alf Diniz era do meu curso e conheci-o; ouvi o relato feito por um ou dois militares que lá estiveram (um o Capitão Neto, de Nova Lamego) e aceito o relato dos nossos camaradas da 2405. Nessa data estava em Portugal, em férias. Dava um bom dossiê e não difícil de formar. Até convinha…Como convinha o dossier Lança Afiada e o erro da falta de mais apoio aéreo (Leia-se bombardeamentos – da minha responsabilidade – e emprego de forças especiais que, devido á sua mobilidade teriam provocado outro desenlace, ou seja, baixas ao IN).

Permitam-me uma sugestão:

(i) Que se faça uma página no blogue com nome e curta biografia destes Homens;

(ii) Que certas operações, ou casos polémicos, tenham página própria para rápida consulta e estudo. (Certamente seriam melhor completados)!

À vossa consideração

Um abraço,

Torcato Mendonça
Apartado 43,
6230-909 Fundão
__________

Notas:

1. Fixação do texto: vb
2. Artigos relacionados em:

24 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2980: In Memoriam (5): Morreu ontem o Major General Hélio Felgas, antigo comandante do Agrupamento nº 2957, Bafatá (1968/69)

24 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2981: Hélio Felgas, com Spínola, em Bambadinca (Jaime Machado)

25 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2984: Op Mabecos Bravios: a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche (Maj Gen Hélio Felgas † )

25 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2985: Homenagem ao meu professor da Academia Militar, Hélio Felgas (António Costa, Cadete aluno nº 11/650, Curso ART 1964/67)