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sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24588: Tabanca Grande (552): António João Alves Cruz, ex-fur mil, 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513/72 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, mar1973 / set1974); senta-se sob o nosso poilão no lugar nº 880

António Joáo Alves Cruz, ex-fur mil, 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513/72 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, mar1973 / set1974)


António João Alves da Cruz: foto atual: "alfacinha",  vive em Almada, trabalhou na Lisnave

Foto nº 1

Foto nº 2


Foto nº 3

1. Mensagem do novo membro da Tabanca Grande, nº 880, António Alves da Cruz:

Data: quarta, 23/08/2023, 17:29
Assunto - Pedido de ingresso no Blogue Luis Graça & camaradas da Guiné

Caro amigo, estes são os meus dados;
  • Nome completo: António João Alves da Cruz
  • Data de nasdcimento: 01-03-1951
  • Naturalidade: Belém -Lisboa
  • Posto: Furriel Miliciano
  • Recruta e especialidade (Atirador) tiradas em Tavira. 
  • Fui dar instrução para Elvas (BC 8) onde fui mobilizado para o CTIG,  indo  formar batalhão (o BCAÇ 4513/72) em Tomar. 
  • Parti para a Guiné no dia 16-03-73.
Agradeço a possibilidade de poder fazer parte do vosso blogue. Anexo as duas fotos da praxe.

Um forte abraço.

2. Resposta do editor LG, no mesmo dia, 23/08/2023,  às 20:23:

Obrigado, camarada. Tudo OK. Vou publicar... És recebido de braços abertos. E já viste com certeza o poste (*):

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2023/08/guione-6174-p24581-facebookando-33.html

Um alfabravo, Luís


3. Nova mensagem do novo membro da Tabanca Grande, com data de hoje, às 17h20:


Caro amigo Luís

Publiquei no Face as fotos porque no blogue não vi a minha inscrição. A partir de agora vão por email. Pode publicar onde quiser os slides são meus não tem problema algum. Em breve enviarei "slides" sobre a nossa saída em setembro de 1974.

Legenda:
  • Foto nº 1: saída de Buba para operação em Ponta Nova;
  • Foto nº 2: a malta  bordo da LDM: o terceiro camarada que está na conversa é o ex furriel Oliveira da 1ª Companhia do BCAÇ 4513 que faz parte do blogue;
  • Foto nº 3: Depois do "festival".  chegada a Buba nas LDM (uma delas, a 113).
Abraço


4. Comentário do editor LG:

Obrigado, camarada. A nossa regra nº 1 é tratarmo-nos por tu, como camaradas que fomos e continuamos a ser... Felizmente que já não vivemos no sistema de "apartheid" que ainda conhecemos na tropa e na guerra: "clero, nobreza e povo"... 

Ficaste apresentado  à Tabanca Grande: ficas sentado à sombra do nosso poilão, no lugar nº 880.

 Diz-me de tens "slides" suficientes para abrirmos uma série só tua, do género "Álbum fotográfico do António Alves da Cruz"... Ou preferes ser tratado por António João Cruz?... Se tiveres umas vinte ou trinta fotos, devidamente digitalizadas (e com boa resoluçao, quanto maior melhor...) podemos ir publicando regularmente... Digamos, semana a semana... 

Estas que me mandaste, da saída em LDM para uma operação em Ponta Nova,  parecem-me bem, mas têm fraca resolução (entre 41 kb, 49 kb, 191 kb)... O ideal é digitalizares as fotos com maior resolução: por exemplo, 300, 500 kb, 1Mb ou até mais... (Assim posso editá-las melhor, recortá-las, etc.)... 

Os créditos fotográficos serão sempre teus!...

Um abraço, António. 
Luís Graça.

PS 1 - Temos um editor em Almada, o Jorge Araújo (tem passado largas temporadas nos Emiratos Árabes Unidos; é do teu tempo).

PS2 - Continua a usar este meio (o email) para fazeres chegar as tuas coisas até mim (que passo a ser o teu editor)... Mas podes sempre publicar no nosso Facebook... Como sabes, quem é "amigo" do nosso Facebook, não é automaticamente membro da Tabanca Grande, até por que a maioria dos "amigos" do Face não são ex-combatentes da Guiné...

5. As nossas dez regras de convívio (que temos o dever de transmitir a todos os novos membros da Tabanca Grande, e recordar aos antigos):

(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);

(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, etc.);

(iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra do Ultramar, guerra colonial ou luta de libertação (como cada um preferir);

(iv) carinho e amizade pelo nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);

(v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro;

(vi) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro;

(vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo);

(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;

(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome;

(x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos.

PS - Defendemos e garantimos a propriedade intelectual dos conteúdos inseridos: texto, imagem, vídeo, áudio...). Em contrapartida, uma vez editados, não poderão ser eliminados, tanto por decisão do autor como do editor do blogue, mesmo que o autor decida deixar de fazer parte da Tabanca Grande.

Qualquer outra utilização desses conteúdos, fora do propósito do blogue,  necessita de autorização prévia dos ediores e dos autores (por ex., publicação em livro ou jornal,    programa de rádio ou televisão).

Luís Graça & Camaradas da Guiné
31 de Maio de 2006, revisto em 25 de agosto  de 2023
____________

6. Primeiros comentários de camaradas que te saúdam (*):

(i) António Carvalho:

Tenho andado arredado deste precioso e bem nosso blog, mas tive agora a sorte de, ao abri-lo, deparar com mais um camarada que andou pelos meus lados e por certo se cruzou comigo, quanto mais não fosse, num encosto ao balcão do bar de Mampatá, ou numa passagem pela enfermaria em busca de qualquer mesinho.

Um grande abraço para o Luís, para o Cruz do 4513 e para todos os combatentes.

Carvalho de Mampatá
~

(ii) António Murta:

Olá, camarada António J. Alves da Cruz.

Confesso que já não me recordo do teu rosto nem do teu nome (nem de outros mais recentes!), mas desde Tomar, desde a viagem no Uíge, passagem por Bolama e da permanência na mesma área da Guiné, por certo que nos cruzámos muitas vezes. Eras um dos meus vizinhos de Buba, onde eu ia tantas vezes.

Foi um prazer e uma agradável surpresa ver mais um contemporâneo a juntar-se à Tabanca Grande.

Sejas bem vindo. Se tiveres fotografias envia-as porque eu (e não só) iria gostar muito. E histórias também.

Grande abraço do António Murta, de Nhala.



(**) Último poste da série > 31 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24522: Tabanca Grande (  ): cor inf ref Cunha Ribeiro (Gondomar, 1926 - Porto, 2023), antigo 2º cmdt, BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), fica simbolicamente inumado, à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 879

sábado, 17 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21459: Fotos à procura de... uma legenda (135): Levantamento de minas A/P no carreiro de Uane, em julho de 1974 (António Murta, ex-alf mil inf, MA, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)... E um grande texto de antologia, um grande documento humano de um grande português, dilacerado entre dois imperativos antagónicos, a sua consciência humana e as suas obrigações militares.

 

Foto nº 2  > Guiné > Região de Tombali > Subsetor de Nhala > Carreiro de Uane > Julho de 1974  >   O alf mil inf MA Murta apontando uma mina A/P acabada de localizar.


Foto nº 2A  > Guiné > Região de Tombali > Subsetor de Nhala > Carreiro de Uane > Julho de 1974  >   O alf mil inf MA Murta apontando uma mina A/P acabada de localizar (, assinalada a vermelho)


Foto nº  1 >  Guiné > Região de Tombali > Subsetor de Nhala > Carreiro de Uane > Julho de 1974  > O guia que nos levou ao campo de minas. Pertencia à milícia de Nhala.



Foto nº 3  >  Guiné > Região de Tombali > Subsetor de Nhala > Carreiro de Uane > Julho de 1974  >    Duas minas levantadas [, assaladas a vermelho[  e os restos de uma bota de cabedal.



Foto nº 4 >   Guiné > Região de Tombali > Subsetor de Nhala > Carreiro de Uane > Julho de 1974  >    Junto à minas levantadas,   os restos de uma bota de cabedal [, assinalados a vermelho]
 



Foto nº 5 >  Guiné > Região de Tombali > Subsetor de Nhala > Carreiro de Uane > 1973  > Aspecto parcial do 4.º Grupo de Combate da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 a caminho do carreiro de Uane, e após saída da mata



Foto  nº  6 > Guiné > Região de Tombali > Subsetor de Nhala > Carreiro de Uane > 1973  > O José Gomes em passo acelerado depois de entrarmos em campo aberto.





Foto nº 7 > Guiné > Região de Tombali > Subsetor de Nhala > Carreiro de Uane > 1973  > A retaguarda do 4.º Gr Comb a sair da mata.

 

Foto nº 8 > Guiné > Região de Tombali > Subsetor de Nhala > Carreiro de Uane > 1973 > Já no regresso a Nhala, paragem para descansar numa zona rochosa.




Foto nº 9 > Guiné > Região de Tombali > Subsetor de Nhala > Carreiro de Uane > 1973  > O Alf Mil M/A Murta a descansar junto do cão Pifas.



Foto nº 10 > Guiné > Região de Tombali > Subsetor de Nhala > Carreiro de Uane > 1973  > Pose do alf mil  Murta em baga-baga.





Foto nº 11 > Guiné > Região de Tombali > Subsetor de Nhala > Carreiro de Uane > 1973  >
 Zona de poilões monumentais. Aqui,  alguém  (assinalado a amarelo] junto do poilão,  por uma noção de escala.

Fotos (e legendas): © António Murta  (2016). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Notável  sequência de fotos do álbum de António Murta, ex-alf mil inf Minas e Armadilhas, da 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), com referência à minagem (em 1973) e desminagem (julho de 1974) do carreiro de Uane, utilizado pelo PAIGC. E, mais notável ainda, é um grande texto de antologia, um grande documento humano de um grande português, dilacerado entre dois imperativos antagónicos, a sua consciência humana e as suas obrigações militares.

Contexto: 

7 de julho de 1974 – Conforme pedido dos Comissários Políticos do PAIGC presentes em Aldeia  Formosa, foi solicitado,  a Bissau, autorização para a abertura da estrada Chamarra-Gandembel. Uma vez autorizado, iniciou-se a desminagem e a abertura da referida estrada.

8 de julho de 1974 – Prosseguem em todo o Sector os trabalhos de desminagem de diversos trilhos utilizados pelo PAIGC. Foram desminados trilhos na região de Buba, Nhala e Missirá.


  Julho de 1974: desminagem do carreiro de Uane (trilho do PAIGC)

por António Murta (*)


(...) Aproximavam-se os tempos das coisas derradeiras. Os sinais estavam um pouco por todo o lado, mas os acontecimentos não correspondiam à ânsia de uma resolução clara e definitiva, e arrastavam-se de forma penosa e desesperante. Fui-me abaixo. Em carta de 5 de julho de 1974 para a família, dou conta de estar a ser medicado por ter os nervos arrasados. 

Começo a ponderar vir de férias à Metrópole para recuperar a saúde e ganhar tempo. Podia ser que,  quando regressasse,  estivesse clarificada a situação e se procedesse à passagem do território para as novas autoridades. Amadurecida a ideia, decidi que só ficaria ali até ao fim deste mês de julho. Passaria o agosto na Metrópole, se entretanto não ocorresse algo de significativo que me alterasse os planos. Mas eu queria que ocorresse, para poupar uma viagem e evitar ser surpreendido pelos acontecimentos. Mas não aconteceu nada e no final do mês [de jukho] decidi partir, como pouco antes já tinham feito alguns dos meus camaradas da Companhia e até os Comandantes de Batalhão.

Mas foi o maior erro da minha vida. Tudo o que antes ansiara testemunhar, começou a ocorrer logo nos primeiros dias do mês seguinte. Agosto seria o mês da entrega do território ao PAIGC, fim da secular presença portuguesa naquele chão. Perdi a oportunidade de ser testemunha de momentos históricos de tão alto significado, em que tantas vezes havia reflectido, não fosse eu e os meus camaradas ainda ali, os últimos guardiões do templo. 

Ia-se entregar o templo sem eu estar presente. Sei que os momentos derradeiros da troca das bandeiras nacionais me iriam gerar fortes emoções e sentimentos ambíguos: regozijo pelo fim do colonialismo que abria caminho à independência da Guiné, e o sentimento vago da perda, todavia aceite. 

Foram esses momentos históricos que eu perdi, e isso deixou-me uma mágoa para sempre. Podia-se ser contra aquela guerra e contra o colonialismo, (que se não fosse português era outro qualquer), podia-se achar justo o direito à autodeterminação conseguida – ou não -, com as lutas de libertação, mas, para o bem e para o mal, foi português aquele chão africano desde que, há mais de quinhentos anos, ali chegaram os primeiros compatriotas. 

Nós seríamos os últimos. Só por isso, a nossa geração ficaria na História, mas ficará também pelo alto preço que pagou sobretudo em sacrifícios inimagináveis e em vidas humanas, para que se mantivesse lá a mossa bandeira. Tal como fizeram os primeiros, e sem menos valor e honra que eles. (...)

Era a quarta vez que ia àquela zona do carreiro [de Uane], no extremo norte da nossa área de acção, lá para os lados do Rio Corubal, mas ainda longe do rio. O objectivo foi sempre a minagem e desminagem do trilho usado frequentemente pelos guerrilheiros. 

Como responsável pelas minas, armadilhas e afins da minha Companhia, era obrigado a fazer o levantamento das minas antes de uma ausência prolongada, como era o caso das férias.  No regresso tinha de lá voltar a instalá-las de novo. Agora a situação [, em julho de 1974, ] iria ser diferente: era a última vez que levantaria as minas, à imagem do que estava a acontecer em todo o território, face à situação de paz irreversível. O PAIGC fazia o mesmo.

Saímos muito cedo de Nhala, que a caminhada iria ser longa. Com o meu grupo [, o 2º Gr Comb, ]  seguia o meu guia preferido, milícia maduro e experiente, com um ar sempre sisudo mas de trato fácil e atencioso [, Foto nº 1]. Pouco falava e, em português, quase nada. Mas entendíamo-nos perfeitamente. Era marido da Fátima, a minha lavadeira, também ela uma excelente pessoa, dedicada e afável até à doçura. E falava com desenvoltura o português acrioulado, se assim se pode dizer. Tantas saudades desta gente...

Caminhámos quase sempre dentro de mata cerrada que, a certa altura, começava a mudar e a apresentar-se algo estranha e até misteriosa, onde havia poilões enormes [, Foto nº 11,]  e, numa certa zona, um solo de rochas de aspecto granítico  [, Foto nº 8,] como não conhecia em mais nenhum lado na Guiné. 

No regresso parávamos sempre aí para comer e descansar [, Fotos nºw 9 e 10]. Quando ali passámos no ano passado [, 1973,] , fiz algumas (péssimas) fotografias que mostrarei mais à frente. Aliás, as únicas fotografias que tenho da ida e regresso do carreiro, são do ano de 1973, que agora não repeti. Apenas a fotografias da desminagem [, Fotos nºs 2, 3 e 4] são desta acção de julho de 1974.

Saímos finalmente da mata [, Fotos nºs 5, 6 e 7]  para uma clareira que eu reconheci como próxima do local das minas. Era ainda muito cedo e a humidade extrema evaporava-se do chão como uma nuvem longa e densa, criando momentos tão desconcertantes que me adiantei para fotografar a caminhada do pessoal em fila indiana. 

Ao princípio os soldados caminhavam com essa nuvem ascendente a ocultar-lhes as pernas, revelando a imagem bizarra de um grupo de “amputados” a deslizarem suavemente num tapete de algodão. Mas com a ascensão acelerada da evaporação, os últimos do grupo marchavam com energia sem que se lhes visse o corpo da cintura para cima. Só se viam pernas em andamento. 

Mais à frente, já sem estas visões “paranormais”, todos nós transpirávamos com o sufoco do calor emergente. Guardei sempre estas imagens na memória, mas em película não. Não se aproveitou nada das fotografias do fenómeno.

Lá adiante o guia parou. Aproximei-me e ele apontou uma zona, talvez a cem metros. Mandei o grupo instalar-se na orla da mata ali ao lado e pedi uma pica trifurcada, pondo-me em andamento normal até estar próximo do local indicado. Peguei no croqui que fizera aquando da instalação das minas e estive um bocado a observar o local e o desenho no papel, mas não vendo qualquer semelhança com as referências ali desenhadas. 

Olhei para trás para o guia e ele, lá da mata, insistiu num ponto mais à frente. Comecei a picar e a avançar ainda com alguma ligeireza e depois voltei a consultar o papel. Em redor não encontrava nenhuma das minhas referências, menos ainda marcas do carreiro no chão. Já calculava que isto iria acontecer, era sempre assim. Bastava que as minas tivessem sido instaladas numa época diferente do ano e era suficiente para nada no terreno ser reconhecível. 

A bem dizer, o croqui só serviria para me indicar a posição relativa das minas entre si, e ainda precisava de sorte para que nenhuma tivesse sido mudada de sítio pelas enxurradas da época das chuvas, por algum animal ou, pior, por algum guerrilheiro que as tivesse localizado. 

Apenas era seguro avançar pressupondo que podiam estar em qualquer lugar naquela zona, caso não tivessem sido accionadas. Era uma operação solitária, demorada e perigosa, logo, de alguma tensão. Mas eu podia apenas contar comigo e com a minha experiência, numa acção que exigia tempo e sangue frio.

Comecei a picar cada sítio onde punha um pé, observando constantemente o chão e as raras árvores à volta em campo aberto. Pela escassa altura do capim, julgara que encontraria facilmente o carreiro, mas não. Há muito que, pelos vistos, não era utilizado. Depois, ao mudar de posição percebi, finalmente, que uma das árvores muito esganiçadas ali ao lado era a minha referência no croqui, embora sem semelhanças com os detalhes precisos que eu riscara muito tempo antes. 

A partir daí, tirando medidas a olho, não foi difícil colocar-me no ponto certo da passagem do carreiro e, pouco depois, identificar uma particularidade que eu registara e onde, na altura, aproveitara para colocar duas minas, com alguma maldade, diga-se. É que, uma dezena de metros antes, o carreiro bifurcava, passando a ser duplo ao longo de não mais vinte de metros e reencontrando-se novamente. 

Imaginei que resultasse do hábito natural de, por vezes, as pessoas, ao saírem da mata fechada,  terem necessidade de caminharem lado-a-lado, para um pouco de conversa. Na altura ocorreu-me logo usar essa particularidade de forma ardilosa e, infelizmente para alguém da guerrilha, o ardil resultou e uma das minas foi pisada. 

Devo dizer que foi o único caso concreto em que tive consciência de ter feito uma vítima naquela guerra. Facto que, desde do momento da verificação sempre senti de forma penosa, não me aliviando pensar que fiz o que tinha de fazer por estarmos em guerra. Tudo mais pesaroso por eu saber que a falta de evacuação pronta, numa situação daquelas, representava quase sempre a gangrena e a morte. 

Então porquê remexer agora na morbidez destas lembranças? Talvez esperando que o desabafo público permita algum alívio, já que não o senti das raras vezes em que o fiz em privado. E para que, quem nunca foi à guerra, conheça e compreenda que ela não representa apenas uma contabilidade de mortos e feridos entre os beligerantes, mas também um grande sofrimento para as vítimas, para quem as provoca e para os que as viram acontecer. Trauma de graduações várias que, muitas vezes, são para o resto dos dias. 

Finalmente localizei a primeira mina [, Foto nº 2]. Com a ajuda do croqui foi fácil encontrar a segunda [, Foto nº 3[ . Sempre agachado e picando o terreno com a faca de mato, não mexendo um pé sem que o sítio para o pôr estivesse seguro, fui-me deslocando para o local da terceira mina.... mas ela não estava lá. 

Embora sempre calmo, fiquei apreensivo. A mina podia ter sido detectada e mudada de local, entre muitas outras hipóteses. Foi remexendo à superfície o capim rasteiro, quase a um metro do local, que descobri os vestígios que explicavam a falta da mina: um pedaço de cabedal ainda com o tacão de uma bota agarrado [, Foto nº 4], depois outro pedaço com a série de furos dos atacadores, mais uns fragmentos menores e nada mais. O resto voara. 

Perante a evidência, fui tomado por um sentimento de grande pesar e desconsolo. Por momentos fiquei ali a olhar para aqueles restos, pensando na estupidez da guerra. Para me aliviar, por certo, e reagir, pensei: mas não é para isto que servem as minas? Não foi para isto que calcorreei tantos quilómetros para vir cá pô-las? 

Levantei-me e fiz sinal na direcção do grupo que modorrava na borda da mata, para que se aproximassem. Passei a máquina fotográfica a um e pedi-lhe para me fotografar junto das minas no chão. Todos observaram a cena, silenciosos e pensativos. Preparámo-nos para o regresso, pois não havia mais nada a fazer ali. Para além do sucedido, hoje interrogo-me sobre as razões de uma tão grande canseira para ir ali implantar apenas três minas. 

Não era por falta de minas, creio. Que eficiência teria este tipo de segurança afastada? Por quê os guerrilheiros não contornavam a zona das minas, não sendo credível que ignorassem que sempre ali existiu minagem? E outras considerações...

PS - A fotografia n.º 2, embora não desfocada, estava tão “tremida” que teve de ser sujeita a edição severa. Sempre que a revejo e me foco apenas nesse defeito que quase gerou duas imagens sobrepostas, não evito um sorriso ao pensar: será que o fotógrafo estava mais nervoso do que eu? 

Saberia da história de outros que perderam as pernas e a vida ao pisar minas enquanto fotógrafos de guerra? Por certo que não. Nem eu sabia naquele tempo. Para só citar dois de uma lista infindável, refiro um dos meus preferidos e o mais notável dos antigos fotógrafos de guerra, Robert Capa. #(Segundo a Wikipédia, actualmente um dos mais importantes é o americano James Nachtwey, n. Nova Iorque, 1948). Citarei ainda o português João Silva. ##

As fotografias que se seguem  [, do nº 5 a nº 11] são de uma das idas ao carreiro em 1973 para implantar minas naquele local, provavelmente estas que agora (em Julho de 1974) foram levantadas como acabei de relatar acima.

# Robert Capa (1913-1954). Húngaro, de seu nome verdadeiro Endre Friedemann, foi cofundador da Agência Magnum em 1947. Fotografou a Guerra Civil Espanhola, Segunda Guerra Sino-Japonesa, Segunda Guerra Mundial, Guerra Árabe-Israelita de 1948 e Primeira Guerra da Indochina onde morreria ao pisar uma mina.

## João Silva (n. Lisboa, 1966). Vive na África do Sul, trabalha para o “The York Times”, foi várias vezes premiado com o “World Press Photo”. Perdeu as duas pernas ao pisar uma mina no Afeganistão. Continua a fotografar.

[Revisão / fixação de texto, para efeitos de edição deste poste: LG]
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(**) Último poste da série > 0 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21437: Fotos à procura de... uma legenda (127): Levantamento de um campo de minas A/P: chão felupe, setembro de 1974, uma notável sequência fotográfica do António Inverno (ex-alf mil Op Esp / Ranger, 1º e 2ª CART / BART 6522 e Pel Caç Nat 60, São Domingos, 1972/74)

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21361: (De)Caras (160): Cecília Supico Pinto (1921-2011)... "Cilinha, uma mulher que aprendi a admirar e a respeitar, mesmo discordando dos seus objetivos políticos" (António Murta, autor de uma belíssima reportagem fotográfica da visita da histórica líder do MNF a Nhala, em 10/3/1974, e que ela nunca viu em vida)


Foto nº 2


Foto nº 1


Cópia nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6 


Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9


Foto nº 9A


Foto nº 11

Foto nº  12


Foto nº 13


Foto nº 14


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Foto nº 19


Guiné > Região de Tombali > Nhala > 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) >  Domingo, 10 de março de 1974 > A visita da Cilinha

Fotos (e legendas): © António Murta  (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. A Cecília Supico Pinto tem quase 3 dezenas de referências no nosso blogue, muito mais do que a grande maioria dos comandantes de batalhão que operaram na Guiné. (*)

A visita da Cilinha  (seu nome de guerra...) era sempre motivo para grande alvoroço nos nossos aquartelamentos... Antes de mais, pela curiosidade de  ser uma das raríssimas  mulheres brancas que se podia ver no mato, em plena guerra, em carne e osso... E só depois por ser a histórica e carismática líder do MNF - Movimento Nacional Feminino que, para alguns  nossos soldados,  tinha sobretudo a função de "Pai Natal": com sorte, um pedido ao MNF, desde que não fosse exorbitante,  era atendido: livros, instrumentos musicais, equipamentos de futebol, etc..

A Cilinha tinha um carinho especial pela Guiné e pelos militares que aí "defendiam a Pátria", a avaliar pelas diversas vezes que visitou o território, a última das quais já em março de 1974, a um escasso mês e meio do golpe de Estado do MFA. (**)

A melhor reportagem, documentada. por texto e fotos, que já aqui foi feita, sobre uma visita da Cilinha ao mato, é a do nosso camarada António Murta. ex-alf mil inf,  MA,   2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74).  Fomos repescá-la, reeditámos as fotos (, melhirando a sua qualidade) e selecionámos alguns excertos do poste P15320, bem como comentários dos nossos leitores. [. Destaque para a ternura do comentário de Joana, filha do António Murta.](***)


A visita da Cilinha a Nhala em 3 de março de 1974

Texto e fotos: António Murta (**)

(...) Este mês de Março ficou marcado por alguns acontecimentos empolgantes, para variar, como a ligação de Nhala à estrada nova Aldeia Formosa-Buba e a visita da Presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto.

Sobretudo esta visita, trouxe uma animação inusitada às tropas de Nhala – e do Sector -, mas não se pode dizer que tivesse, também, quebrado a monotonia e a rotina, simplesmente porque naquela época, o que tínhamos menos era monotonia e rotina, tal era a actividade operacional. Esta actividade continuava virada para a protecção às obras da estrada como até aí, mas, a partir de agora, também para a protecção exclusiva das máquinas, paradas à noite, em zonas cada vez mais afastadas dos aquartelamentos, implicando dormidas no mato junto delas. Para além disto, todo o Sector era “vasculhado” (...)


10 de Março de 1974 – (domingo) – A visita da Cilinha

Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho Supico Pinto [Lisboa. 1921 – Cascais, 2011],  Cilinha, como gostava de ser tratada, (diminutivo que lhe vinha da infância), era descendente de aristocratas e uma Senhora do Regime.

Não precisa de grandes apresentações porque sobre ela quase tudo já foi dito. Muito antes de a ter conhecido em Nhala, já tinha por ela uma elevada consideração e um grande respeito, pela sua coragem, tenacidade e coerência.

Durante treze anos, de 1961 a 1974, foi presidente do MNF que ela fundou, tendo em vista acções de sensibilização da sociedade portuguesa para a defesa das colónias ultramarinas, o seu Ultramar. Tudo fez nesse sentido, desdobrando-se em iniciativas na Metrópole e calcorreando as colónias, tentando dar alento a tropas desmotivadas e politicamente amorfas.

Era por ser assim, e não pelos seus objectivos, que a admirava e a minha consideração elevou-se depois de a ter conhecido. Porque, sendo coerente com as suas convicções, saiu do seu confortável cantinho e dos salões solenes e elegantes, e veio para o terreno com o seu camuflado pôr na prática aquilo em que acreditava, correndo riscos e sofrendo privações.

E via-se que gostava do que fazia, exibindo uma alegria contagiante e uma disponibilidade total, atributos que passavam para quem a via e ouvia, por a reconhecerem como “um deles”. Politicamente, eu estava nos antípodas. Para mim, a Cilinha, pelas suas ideias e acções e pela sua proximidade (intimidade) com o Regime, representava o Regime.

Politicamente, portanto, eu era contra a sua filosofia de manutenção das colónias, contra tudo o que dizia e fazia nesse sentido, que era, um pouco do que já fizera na sua juventude em prol da caridadezinha.

Paradoxo, incoerência da minha parte? Não. Repito que, como pessoa, tinha por ela o meu maior respeito e consideração. Aliás, soube já depois da sua morte que, nesse aspecto de respeitar o “outro” mesmo não concordando com “ele”, ela não era muito diferente de mim.

Dois exemplos: foi sempre amiga, desde a infância, da Sofia de Mello Breyner, mesmo estando em campos políticos opostos; uma vez disse, revelando nobreza de carácter: “Admiro Cunhal pela sua coerência”.

Para terminar, lamento que, após o 25 de Abril e até à sua morte, tenha sido desprezada pela esquerda e ostracizada pelos seus correligionários de direita. Tudo apanágios de gente de baixa índole. Sei que nunca foi hostilizada, ainda assim, merecera mais consideração.

À chegada a Nhala, a Cilinha foi alvo de calorosa recepção por parte da tropa e de alguma população, sobretudo crianças. Mais pelo inédito da situação e pela curiosidade por esta mulher branca que se aventurava no mato para chegar perto deles, com estímulos e uma palavra amiga.

Almoçou na messe de oficiais após uns descontraídos aperitivos, mais para pôr a conversa em dia. Vinha acompanhada pelo Comandante do Batalhão, Ten Cor Carlos Alberto Ramalheira e por um séquito de outros oficiais que foi arrastando por onde passou.

Após o almoço (ou antes?) houve tempo para falar aos soldados, cantar o fado e, até, dançar com alguns. Depois partiu rumo a Mampatá, após demoradas e sentidas despedidas. Admito que foi o acontecimento do mês, mas não poderia adivinhar que o mês seguinte traria acontecimentos muito mais importantes e marcantes do que este, efémero e superficial.

Seguem-se algumas fotografias que seleccionei dessa visita.

Legendas:

Fotos nºs 1, 2, 3, 4 -  A Cilinha rodeada por alguns oficiais num momento de descontracção durante os aperitivos. 

Foto nº 3 A Cilinha a dialogar com o Comandante do Batalhão, BCAÇ 4513 (Buba), tem cor Carlos Ramalheira; em primeiro plano o cap João Brás Dias, comandante da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4513,  de Buba.

Foto nº 4 - Messe de oficiais de Nhala. O Comandante do Batalhão diz umas palavras de circunstância.

Foto nº 5 - Ajuntamento de alguns militares e nativos para ouvir a Presidente do MNF.

Foto nº 6 - A assistência vai-se chegando, mas alguns parecem hesitantes...

Fptos nº de 7 a 17 -  Após a visita, a Cilinha é acompanhada até às viaturas para o regresso.

Foto nº 7 - À sua esquerda o Comandante da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 de Nhala, Cap Braga da Cruz. À frente, o Comandante do Batalhão em diálogo com um homem grande da tabanca.

Foto nº 8 - A Cilinha troca umas palavras com o Cap Braga da Cruz.

Foto nº 9 - Cilinha sorridente, num meio que lhe é familiar: a tropa.

Foto nº 9A - A Cilinha olha directamente para a objectiva (detalhe  da fotografia anterior)

Foto nº 11 - Finalmente o embarque: a difícil subida para a Berliet

Foto nº 12 - Cilinha e o Comandante do Batalhão acomodam-se por cima de sacos de areia.

Foto nº 13 - Beijo de despedida do cap Braga da Cruz.

Foto  nº 14 - Cilinha despede-se de um Alferes que não consigo identificar.

Foto nº 15 - Últimas recomendações? A mim pareceu-me mal que a Cilinha e o Comandante tivessem seguido à cabeça da coluna numa Berliet rebenta-minas; ao lado direito, os fuzileiros do destacamento de Cacine.

Foto nº 16 - Vista geral do aparato que envolveu a visita da Cilinha.

Foto nº 17 - Último adeus da Cilinha ao pessoal de Nhala. Em segundo plano, de frente com a mão na cintura, vê-se o fur mil Manuel Casaca.

Foto nº  18 e 19 - Partida

Foto nº 18 - A coluna embica pela velha picada rumo a Mampatá. Mas em frente já é possível ver-se o troço que, ao cimo, entronca na estrada nova: à direita para Buba, e à esquerda pata Mampatá e Aldeia Formosa.

Foto nº 19 - O pó foi sempre uma constante, mas agora agravado pelo revolver dos terrenos pelas máquinas da Engenharia. Não o apanhar de frente, é uma vantagem de quem segue na viatura rebenta-minas. Ou talvez por isso...

[Revisão / fixação de texto para efeitos de edição neste blogue: LG]

2. Comentários (*):

(i)  Luís Graça

São palavras de grande autenticidade, hombridade e nobreza, as que escreves sobre esta mulher, a Cilinha, que podíamos descrever como a Pasionaria do regime... Podemos discordar, política e ideologicamente, das pessoas com quem fizemos a guerra, ou contra quem fizemos a guerra, mas o respeito pelo "adversário" é das coisas que eu mais admiro... 

Alpoim Calvão manifestou, publicamente, antes de morrer, numa entrevistas que deu, a sua admiração pelos guerrilheiros do PAIGC que tão duramente combateu...

Valiosíssimo, o teu álbum fotográfico!... Continua a ser uma caixinha de surpresas!... E fazes bem em editar as fotos, desde que tenham boa resolução... Podes fazer "grandes planos", valorizando certos detalhes... Foi o que fizeste (ou foi o Carlos Vinhal por ti?) com o "grande plano da Cilinha" mais o comandante de batalhão [e o cap Braga da Cruz, foto nº 9A]... Parabéns!

3 de novembro de 2015 às 12:34 e 12.51

(ii) Virginio Briote

Documento de grande valor, caro Murta.

3 de novembro de 2015 às 13:39

(iii) César Dias

Que grande reportagem,finalmente vejo uma senhora que nos acompanhou, não me recordo que tenha passado por Mansoa (69/71), ouvi falar dela , bem e mal como era normal.

Caro Murta, obrigado por partilhares estas imagens connosco, dá-nos a ideia que estamos no terreno.

(iv) JD [José Manuel Dinis]

Caro Murta: não posso deixar de me associar à tua homenagem a essa figura mítica, que foi a Cilinha. Nunca a vi, mas foi uma patriota consequente, que fez o que muitos militares e políticos não fizeram, talvez porque ela acreditasse, e eles, incompetentes, só tivessem em consideração o "prestígio" das funções que exerciam.

Mais ou menos como acontece persistentemente, pois os responsáveis desta "segunda república" não têm mostrado sentido cívico nem orgulho em servir Portugal, e têm sido responsáveis por inúmeras traições que nos conduziram à perda da soberania, e à corruptela dos valores de solidariedade e de orgulho nacional, que precipitou o país numa profundíssima crise económica, financeira, e de identidade.

(v) Carvalho de Mampatá [António Carvalho]

Na senda que nos tem habituado,  o Murta continua a revelar-nos cenas e ângulos de visão singulares da nossa guerra. O MNF liderado por Cecília Supico Pinto teve um papel nesta guerra, como nós todos, antigos combatentes. Pelo seu esforço, em proveito nosso, a minha gratidão.

(vi) Valdemar Queiroz

Parabéns, caro Murta.

Extraordinária reportagem fotográfica.

Contado, se calhar, ninguém acredita ou, só acreditam os que lá estiveram.

Eu, também, conheci a Cilinha. 'Quem é que do Benfica'? perguntou ela e, depois, ofereceu uma bola de futebol.

Cilinha, 1921-2011, como é que viveu 90 anos a mandar a baixo uns bioxenes e umas grandes cigarradas?

Mais uma vez, grande reportagem fotográfica. A foto final com a poeirada até
parece ensaiada.

(vii) Carlos Milheirão

É, sem sombra de dúvidas, um excelente documentário e, por isso mesmo, agradeço ao Grã-tabanqueiro Murta, a sua partilha. 

No mesmo mês de Março de 1974 (não sei em que dia), a Cilinha, juntamente com outra senhora, visitaram Gadamael Porto, tendo aí pernoitado. Era, sim senhora, uma mulher de coragem. 

No dia em que lá chegou, estávamos no bar de oficiais e já noite fechada, entrou um soldado com uma granada descavilhada na mão e a gritar "f...-vos todos". Escusado será dizer que esse soldado já estava "apanhado" (já tinha lá ultrapassado o tempo normal da comissão devido a sanções disciplinares. 

O certo é que a Cilinha não arredou pé do sítio onde se encontrava. O soldado foi mais ou menos facilmente manietado e foi-lhe retirada a granada em segurança. No dia seguinte, por volta das 5:30 da manhã, uma flagelação e, a Cilinha, uma vez mais, deu provas da sua coragem. 

De facto, enquanto nós recorremos às valas e abrigos, a Cilinha já se encontrava no bar e dali não arredou. Questionada pelo Capitão Patrocínio sobre o facto de não se ter abrigado, ela respondeu: 'Só se morre uma vez'. Grande lição.

4de novembro de 2015 às 17:59

(viii) Joana [, filha do António Murta]

Papá: Mais uma vez me comovo por saber que guardas tantas histórias impressionantes, cheias de emoção! Garanto-te que muito poucos foram os livros que li, que me fizessem sentir entrar tão profundamente na acção da história, e arrepiar, e ficar com um nó no estômago ao passar naqueles momentos de ansiedade e perigo!... Gosto muito de te ler!... Gosto muito da forma como escreves!

Mais uma vez te peço que continues! Posso não ter tempo agora para ler todas as tuas publicações, mas garanto-te que um dia, talvez naquela ainda longínqua fase da vida em que as minhas filhas vão querer dar mais que fazer a outros do que a mim, eu então vou querer ler tudinho, sem falhar nenhum capítulo!
Beijinho bom!

6 de novembro de 2015 às 11:55

(ix) C. Martins (*)

A Srª Supico Pinto... 

Visitou Gadamael em março de 1974. Fez-se acompanhar por um pelotão do destacamento de Fuzileiros de Cacine.

Ao desembarcar imitou uma "rajada" ...perante o espanto do Zé Pagode,pediu um copo de tinto do bidão, que apenas provou, bebendo isso sim um "Old Parr".

Ofereceu-me um disco e um maço de tabaco, mas recusei a oferta, porque não estava interessado no conteúdo do disco e não fumava. A bem da verdade detestava a Senhora, não por ela, mas pelo que representava.

Pernoitou no abrigo de transmissões, e na manhã do dia seguinte aguentou estoicamente a primeira flagelação do dia.

Começou a correr o boato que iria regressar a Bissau de "hélio" e, perante a revolta geral, visto que as evacuações só se faziam de "hélio"a partir de Cacine, regressou da mesma forma como veio.
Foi assim que a conheci pessoalmente.

13 de setembro de 2020 às 01:10
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de12 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21349: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (5): A visita da Cilinha ao destacamento de Nova Sintra, em 1973...

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17795: Memória dos lugares (364): Quem se lembra (ou ouviu falar) da tabanca de Portugal, a seguir aos rápidos de Cusselinta e à Ponte Carmona (em ruínas) (carta do Xitole, 1955)? Seria distinta de "Gã Portugal" que terá existido, também na margem esquerda do Rio Corubal, mas na península de Gampará... (Luís Graça / Cherno Baldé / Alcídio Marinho / Luís Branquinho Crespo / Luís Marcelino / Mário Pinto / António Murta)


Guiné > Mapa geral da Província (1961) > Escala 1/ 500 mil > Localização da tabanca de Portugal, que ficava antes do Xitole, na estrada secundária (com troço de picada, a tracejado) Buba - Nhala - Xitole...

Foi por aqui que passou, de automóvel, o jornalista do "Diário de Lisboa", Norberto Lopes, em janeiro/fevereiro de 1947, vindo de Bolama, pela estrada principal  São João - Fulacunda - Buba, a caminho de Bafatá (via Xitole - Bambadinca). Com a queda da Ponte Carmona, logo em 1937, quem vinha do sul tinha que passar pela tabanca de Portugal para ir cambar o rio Corubal para o "porto do Xitole" (sic) e seguir viagem, de carro,  para o norte ou para o leste (*)...


Guiné Portuguesa > Região de Quínara > Mapa do Xitole (1955) > Escala 1/25 mil > Posição relativa da tabanca de Portugal, na margem esquerda do Rio Corubal, a sudoeste do Xitole. Era uma tabanca seguramente abandonada no tempo da guerra, mas referida na reportagem de Norberto Lopes, no "Diário de Lisboa", em 25/2/1947.

Não confundir com a tabanca de Lisboa, a escassos 3 km de Buba, visitada e citada pelo nosso camarada José Ferreira, e cujo chefe era um antigo soldado paraquedista, o Sadjo Camará. A tabanca de Portugal, no regulado de Incassol, já existia em 1947... E consta da carta do Xitole, que é de 1955..

Recorde-se que esta e outras cartas da Guiné resultam do levantamento efectuado em 1955 pela missão geo-hidrográfica da Guiné – Comandante e oficiais do N. H. Mandovi. A fotografia aérea é da aviação naval (Março de 1953). Restituição dos Serviços Cartográficos do Exército. Fotolitografia e impressão: Arnaldo F. Silva. A edição é da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar, do antigo Ministério do Ultramar, s/d. Digitalização efectuada pela Rank Xerox (2005). Oferta do nosso camarada Humberto Reis.

Infogravuras: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017).


1. Perguntei a três dezenas de camaradas se chegaram a conhecer (ou ouvir falar de) uma tabanca chamada Portugal... Ficava a escassos quilómetros do Xitole, do outro lado do rio Corubal... Quem vinha de Buba para o leste  tinha que passar por lá, contornando a Ponte Carmona, em ruínas (desde 1937, ano em que foi inaugurada) (*)... 

Em 1947 por lá passou, nessa tal tabanca de Portugal, o jornalista do "Diário de Lisboa", Norberto Lopes... Ninguém sabe como aparece este nome... Será que tem alguma relação com a construção da ponte Carmona em meados dos anos 30?

E quem seria este obscuro régulo Bacar Dikel que lá morava e "reinava" (mal)? Dikel será apelido fula ou biafada?

Alguns dirão que andamos há anos a discutir o sexo dos anjos neste blogue... Que importância tem, de facto, para a história, e sobretudo para o futuro, dos nossos dois povos, o raio desta tabanca, que deve ter sido destruída ou abandonada no tempo da guerra colonial?... A verdade é que há 70 anos existia e houve um "tuga" que a referiu, num jornal de Lisboa... Eu estava a nascer, em janeiro de 1947, quando o Norberto Lopes por lá passou... E os cartógrafos também a assinalam: no mapa geral da província, de 1961, era ainda uma terra relativamente importante...


Guiné > Mapa de Fulacunda  (1955) > Escala 1/25 mil > O Rio Corubal, margem esquerda (região de Quínara) e direita (região de Bafatá), antes de desaguar no Rio Geba... Localização de Gã João (ou Ponta João da Silva) e Gã Garnes (ou Ponta do Inglês)... Não conseguimos localizar, neste mapa, a povoação de Gã Portugal, referida por Alcídio Marinho.

Toda o triângulo Bambadinca - Xime - Xitole, e em especial a margem direita do Rio Corubal, foi batida, no início do "consulado" de Spínola, no âmbito da grande Op Lança Afiada (de 8 a 19 de março de 1969  (**)

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017).


2. Eis algumas respostas que recebemos, dos nossos colaboradores (*): 

(i) Cherno Baldé (Bissau):

Não conheço o local [, antiga tabanca de Portugal] nem nunca ouvi falar, mas tal como tenho dito num dos postes das minhas memórias sobre o nome dado à nossa aldeia (Luanda) do início da guerra colonial, era normal e muito comum que régulos, antigos cipaios ou militares que fundavam novas aldeias,  quisessem honrar ou mostrar suas simpatias para com Portugal e aos Portugueses. (***)

O meu tio paterno, patriarca da nossa família, foi colaborador e polícia da administração colonial em Bolama durante muitos anos. Há bem pouco tempo descobri que existia em Bolama um bairro com esse nome [, Luanda,] e pensei que, talvez, houvesse alguma ligação. É assim.

Por outro lado, a  zona de Xitole assim como toda a região de Forreá eram domínio fula, conquistado aos biafadas no séc. XIX. Assim, todos os régulos ou são fulas ou de ascendência fula e o Bacar Dikel não será excepção.

O nome que aparece como Sadiu Camará, chefe em 2005 da tabanca de Lisboa [, a escassos quilómetros a leste de Buba], dever se Sadjo Camará. (*)

(ii) Luís Branquinho  Crespo [que esteve na Op Lança Afiada]

Bem gostaria de ajudar, mas estive na margem direita do Corubal (1968/1970) e fui apenas duas vezes,  que me lembre,  junto da ponte Carmona e desconheço onde fica ou sequer tenha ouvido falar da tabanca Portugal a não ser agora.

(iii) Luis Marcelino

Não conheci a referida tabanca.

Embora tenha estado no sul, mais concretamente em Mampatá, cerca de dois anos, não tive oportunidade de conhecer muito, para além do espaço à responsabilidade da companhia.

(iv) Mário Gualter Rodrigues Pinto

Gostaria muito de poder contribuir para o solicitado, mas apesar de ter estado na parte sul do Corubal, mais propriamente em Mampatá e uma vasta área do zona junto ao Corubal ser ZA [, zona de ação,]  da minha companhia, nunca ouvi nem dei pela existência dessa tabanca.

Creio mesmo que os mapas ou croquis que nos davam para a Zona fizessem alguma referência à Tabanca [de Portugal] 

(v) António Murta:

Sobre essa enigmática tabanca, devo dizer que nunca fui tão longe, mas, se fosse, confesso que tropeçaria nela de surpresa porque ignorava a sua existência. O mais longe que fui, fica-se pela "Ponte interrompida" sobre o Corubal, e apenas estive sobre o tabuleiro uma vez, conforme descrevo num dos postes enviados ao Blogue há tempos. Era um lugar paradisíaco, fora do tempo, mas que causava uma impressão muito intensa. E de Nhala lá eram muitas horas por mata fechada quase sempre. Ora, essa tabanca, pelos vistos, ainda era mais afastada.

(vi) Alcídio Marinho

A tabanca "Portugal" chamava-se "Gã Portugal" ficava na margem esquerda do rio Corubal,
mesmo em frente à tabanca da Ponte do Inglês.

Da Ponte do Inglês fazia-se a cambança para a Gã Portugal. Ficava no caminho do rio Corubal para Fulacunda

Em Maio de 1963, pelos dias, 20 e poucos, fiz uma emboscada nesse local, onde prendemos dois turras que transportavam numa piroga um rodado de metralhadora pesada.

Era na zona de Gã Portugal que os aviões faziam a descarga das bombas sobrantes das operações, pois dizia-se que não podiam regressar a Bissau com os aviões com as bombas.


Guiné-Bissau > Saltinho > Ponte General Craveiro Lopes > Novembro de 2000 > Lápide, em bronze, evocativa da "visita, durante a construção" do então Chefe do Estado Português, general Francisco Higino Craveiro Lopes, acompanhado do Ministro do Ultramar, Capitão de Mar e Guerra Sarmento Rodrigues, em 8 de Maio de 1955.
Era então Governador Geral da Província Portuguesa da Guiné (tinha deixado de ser colónia em 1951, tal como os outros territórios ultramarinos...) o Capitão de Fragata Diogo de Melo e Alvim... Craveiro Lopes nasceu em 1894 e morreu 1964. Foi presidente da República entre 1951 e 1958 (substituído então pelo Almirante Américo Tomás). 

Praticamente só 20 anos depois, em 1956,  é que há uma ponte, moderna e segura, a ligar o sul e o norte da Guiné, no Saltinho, substituindo a famigerada Ponte Marechal Carmona, mais acima, que colapsou logo no ano da sua inauguração (1937).

Foto do "turista" Albano Costa, nosso camarada, que lá passou em novembro de 2000.

Foto: © Albano M. Costa (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


3. Comentário de LG:

Obrigado, a todos pelo vosso esforço de memória e sentido de colaboração... e também pelas pistas que deixam.

Ao António Murta quero dizer que, afinal, esteve relativamente perto da tabanca de Portugal, em 1973/74... em linha reta, mas longe, se ele caminhasse ao longo da margem direita do Rio Corubal... Dez quilómetros pelo mato, em floresta galeria, equipada, a nossa tropa  podia levar 5, 6  ou mais horas, tendo a sorte de não encontrar nem bichos nem homens pelo caminho... Mesmo assim, o Murta veio bem de longe, de Nhala, a seguir a Buba, até à Ponte Carmona...

Esta ponte nunca a  conheci nem me recordo de ter ouvido falar dela, no meu tempo (1969/71) e eu fiz operações no subsetor do Xitole... e colunas logísticas de Bambadinca ao Saltinho... Em contrapartida, estive por mais de uma vez na Ponte Craveiro Lopes, no Saltinho (que veio substituir a Ponte Carmona, em 1956), mas nunca passei para o lado de lá. Só o fiz em 2008, quando fui de Bissau a Iemberém, no sul, passando por Bambadinca, Xitole, Mampatá, Quebo, Gandembel, Guileje e indo mesmo até Cacine...

No tempo da CCAÇ 12 (Bambadinca, julho de 1969 / março de 1971), só fiz operações na margem direita do Rio Corubal, nunca na margem esquerda (nessa época, praticamente interdita, nem lá iam os fuzileiros; e, a propósito, temos falado muito pouco aqui dos nossos camaradas fuzileiros).

Quanto ao Alcídio, o mais "veterano" de todos nós, foi com ele que a guerra começou... Receio que não estejamos a falar da mesma tabanca...

Esta tabanca de Portugal vem assinalada no mapa do Xitole, e fica em frente ao Xitole, do outro lado (esquerdo) do rio Corubal, conforme se pode confirmar  aqui no mapa ou a carta  do Xitole (de 1955)... Mas também no mapa geral (1961) (vd. acima).

Devemos estar a falar de tabancas diferentes, em regiões diferentes, se bem que próximas... Diz o Alcídio:

(...) "A tabanca 'Portugal' chamava-se 'Gã Portugal'  ficava na margem esquerda do rio Corubal, mesmo em frente à tabanca da Ponte do Inglês. Da Ponte do Inglês fazia-se a cambança para a Gã Portugal. Ficava no caminho do rio Corubal para Fulacunda". (...)

Essa "Gã Portugal" devia constar do mapa ou carta de Fulacunda, também de 1955, mas eu não a encontro... significa em crioulo família, no sentido alargado do termo, clã: por exemplo, os Gã Martins, de Empada, a que pertencia o avô materno, Victor Vaz Martins, do nosso amigo e historiador guineense Leopoldo Amado... Veio do mandinga para o crioulo e também quer dizer "casa grande", quinta, exploração agrícola, "ponta" (vocábulo crioulo)...

Nas margens (esquerda e direita) do Rio Corubal havia várias povoações que começam por Gã, provavelmente relacionadas com colonos ou famílias lá estabelecidas:

Gã Garnes (ou Ponta do Inglês)

Gã João (ou ponta João da Silva)


Gã Júlio  (na zona de Mina), etc.

devia ser um casa (rural) isolada, com exploração agrícola, mais próxima do português "monte" (no Alentejo) ou "casal" do que de "aldeia" (aglomerado populacional reunindo diversas famílias)... É possível que houvesse no princípio da guerra uma tabanca chamada "Portugal" (mapa do Xitole) e uma povoação mais pequena ("ponta") chamada "Gã Portugal" (mapa de Fulacunda).

Quero, mais uma vez, agradecer a todos  e dizer o seguinte: descobrimos, ao fim de alguns meses de insistência e persistência, o mistério do acrónimo "ASCO" que existia (e existe) na parede de um dos edifícios de Gadamael que as NT ocupavam... Pois haveremos de descobrir, com tempo e pachorra,  e a colaboração de todos, o mistério da tabanca de Portugal... e já, agora, da Gã Portugal.

Tal como noutros territórios (Angola, Moçambique...), as autoridades coloniais criaram novas povoações ou rebatizaram outras: no caso da Guiné, temos, por exemplo, Nova Sintra, Nova Lamego, Teixeira Pinto... Mas também podia nascer novas aldeias, com nomes não gentílicos, de iniciativa local: por exemplo, o caso de Luanda, referido por Cherno Baldé... Resta saber quem está na origem da fundação da tabanca de Portugal (e já agora, da Gã Portugal, a ter existido e ser diferente).
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Notas do editor:

(*) Vd. último poste da série > 22 de setembro de  2017 > Guiné 61/74 - P17787: Memória dos lugares (363): tabanca de Portugal, onde vivia em 1947 o régulo Bacar Dikel, e que ficava a sudoeste do Xitole, na margem esquerda do Rio Corubal. É referida pelo repórter do "Diário de Lisboa", na sua crónica de 25/2/1947.

(**) Vd. poste de  16 de maio de 2013 >  Guiné 63/74 - P11575: Op Lança Afiada (Setor L1, Bambadinca, 8 a 19 de Março de 1969): I Parte: Cerca de 1300 efetivos: 36 oficiais, 71 sargentos, 699 praças, 106 milícias e 379 carregadores


(...) Foi devido a esta situação, no mínimo embaraçosa, e a chacota que dela resultaram, segundo explicou a minha mãe, é que justificou a fundação, entre 1959 a 1960 de uma nova aldeia no lado norte da bolanha, a menos de 2 km de Sare Coba, na confluência de Berekolóm (antigo feudo mandinga do Séc. XIX), que recebeu o nome do chefe da família, Sinchã Samagaia, que literalmente quer dizer a aldeia de Samba Gaia. Para agradar aos seus amigos da administração de Bolama, Sambagaia deu-lhe o nome de Luanda (porquê Luanda e não Lisboa?...). (...)