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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13018: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte III: A vida em campanha (Sidónio Ribeiro da Silva, hoje cor inf ref)

1. Histórias da CCAÇ 2533 > Parte III (Cap Inf Silvino R. Silva, hoje cor ref)


Continuamos a publicar as "histórias da CCAÇ 2533", a partir do livro editado pelo 1º ex-cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia. Esta publicação é uma obra coletica, feita com participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças). As primeras 25 páginas são do cap Sidónio Ribeiro da Silva, hoje cor ref.

A brochura chegou-nos digitalizada através do Luís Nascimento. Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as andanças do pessoal da CCAÇ 2533, que andou por Canjambari e Farim, região do Oio, estando na dependência do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras, cuja história já aqui foi publicada pelo nosso camarada e amigo Carlos Silva, carinhosamente tratado por "régulo de Farim".

Recordo, por outro lado, que as nossas duas companhias, a minha CCÇ 2590 (mais tarde CCAÇ 12), e a CCAÇ 2533, do Luís Nascimento e do Joaquim Lessa, viajaram, juntas no mesmo T/T, o Niassa, em 24 de maio de 1969, e regressaram juntas, a 17 de março de 1971, no T/T Uíge!... Ah! uma fantástica coincidência!...

Publicamos agora a parte correspondente às pp. 12 a 17, onde o cap inf Sidónio R Silva  fala de diversos aspetos da "vida em campanha", comuns à tropa que estacionou no CTIG: (i) formaturas e toques; (ii) o pelotão da "lata" (os miúdos que iam rapar o tacho da tropa); (iii) o primeiro ataque de abelhas; (iv) tropas nativas Pel Caç Nat 58 e 61, Pel Mil 183; (v) minitornados e seus efeitos devastadores; (vi) as colunas de reabastecimentos e a ida da Farim (c, 4 mil habitantes, fora a tropa), sede do BCAÇ 2879, apanhar o "ar da civilização"; (viii) a mascote da companhia. o nº 33, um macaco-cão; e, por fim,  (ix) o correio (; esta parte está truncada, vou pedir ao Luís Nascimento que volte a digitalizar as páginas 16/17).















Cortesia de Sidónio Ribeiro da Silva (ex-comandante da CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71), do Joaquim Lessa e do Luís Nascimento


(Continua)
________________

Nota do editor:

Último poste da série > 18 de abril de 2014> Guiné 63/74 - P13005: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte II: Embarque e as primeiras impressões do aquartelamento e tabanca (Sidónio Ribeiro da Silva, hoje cor inf ref)

sexta-feira, 15 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11259: (Ex)citações (214): Ainda a Operação "Aquiles Primeiro" (Manuel Carvalho)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Carvalho (ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70), com data de 24 de Janeiro de 2013:

Caros Luís e Vinhal
Ainda relativamente à operação Aquiles Primeiro, como tenho algumas fotos dessa operação, vou enviar e dizer mais alguma coisa sobre o assunto.

Como já disse em comentário, no início de Fev/69 veio para Teixeira Pinto o CAOP sobre o Comando do Coronel Pára Alcino Ribeiro e os Majores Passos Ramos e Magalhães Osório e as seguintes forças:
- CCP 121 e 122,
- DFE 3 e 12
- 16ª CCmds

passando a depender operacionalmente do CAOP:
- CCaç 2366 
- CCaç 2444 
- CCaç 2446 
- Pel Caç Nat 58 e 59 
- Pel Mil 128 e 130

Todas estas forças começaram a actuar conjugadamente em todo o sector durante quase todo o mês de Fevereiro.

O IN do Churo e da Caboiana, de facto, no primeiro dia da operação teve algum sucesso, mas a partir daí sentiu-se acossado e passou a andar dividido em pequenos grupos e sempre em movimento.
Pela nossa parte, 2366, fizemos várias operações sem grandes resultados e felizmente também sem baixas a não ser no dia 21 de fevereiro em que encontramos um acampamento que destruimos tendo apanhado quatro armas entre elas um RPG2 e abatido os seus portadores.

O regresso ao quartel foi complicado porque fomos deparando com pequenos grupos que nos iam emboscando e nos obrigavam sempre a gastar munições, muitos de nós chegaram a Jolmete com meia dúzia de balas no carregador.

Podem ver nas fotografias da chegada que os nossos camaradas que ficaram no quartel estão na porta de armas à nossa espera, ora isto não era normal, mas como eles no quartel ouviam o tiroteio e os rebentamentos muito seguidos, e nós como vínhamos acelerados, não comunicávamos com o quartel e eles não sabiam o que fazer nem o que nos estava a acontecer.

Até já próximo do quartel comunicamos e daí esta recepção. Para os homens do Jol: Manel Resende, Augusto Silva e Firmino, de quem me estou a lembrar e sei que ao verem estas fotos vão ver gente que eles bem conheceram, os valentes milícias de Jolmete que e como quase sempre também na chegada vêem na frente.

As minhas homenagens a todos os camaradas que perderam a vida naquela maldita guerra.
Que descansem em paz.

Caros Luís e Vinhal estão à vontade para fazerem com este material o que muito bem entenderem.

Um forte abraço.
Manuel Carvalho

Chegada com a Milícia na frente

Nas duas fotos, a partir da esquerda: Manuel Carvalho; Dandi, Comandante da Milícia e o Martins

A partir da esquerda: Martins, Pereira, uma bajudinha e Manuel Carvalho já com uma garrafinha vazia na mão

 ____________

Nota do editor:

Vd. último poste da série de 21 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11129: (Ex)citações (213): Cameconde, hoje seria um lugar de absurdo, de pesadelo e de loucura... (Alexandre Margarido, ex-cap mil, CCAÇ 3520, Cacine e Cameconde, 1972/74)

domingo, 7 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2162: O fatídico dia 12 de Outubro de 1970 - Emboscada no itinerário Braia/Infandre (Afonso M. F. Sousa)


Afonso M. F. Sousa, ex-Fur Mil Trms, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro) (1968/70)

Mais um dossiê organizado pelo nosso camarada Afonso Sousa (1), residente actualmente em Maceda, Ovar, a quem o nosso blogue agradece a persistência, o entusiasmo, a paixão do rigor, o amor da verdade, a discrição e a camaragem (Carlos Vinhal, co-editor)


O fatídico 12 de Outubro de 1970
Guiné - Região de
Mansoa

Dossiê organizado por Afonso M.F. Sousa

A sequência dos momentos que precederam a trágica emboscada (Uma descrição sumária onde se procura circunscrever os passos e os momentos que preencheram este trágico dia do Pel Caç Nat 58 e da CCAÇ 2589)


Brasão do Pel Caç Nat 58

O Pel Caç Nat 58, em Outubro de 1970, estava sediado em Infandre. Defendia, juntamente com a CCAÇ 2589, o itinerário Mansoa - Infandre – Namedão (segurança e picagem).

Um aspecto do aquartelamento de Infandre

Vista parcial do aquartelamento de Infandre

Vista parcial da Parada de Infandre

Militares de Infandre numa pausa do quotidiano de guerra


O 12 de Outubro de 1970

7 horas da manhã. Militares do Pel Caç Nat 58 e da CCAÇ 2589, acantonados em Infandre (cerca de 10 Km a NW de Mansoa), partem deste aquartelamento em direcção a Mansoa, em 2 viaturas Unimog, a fim de efectuarem mais um reabastecimento da Unidade.

Para a detecção de minas, um grupo de militares segue à frente das viaturas, fazendo a habitual picagem da estrada (de terra batida). Duas horas depois a coluna chega a Mansoa.

As viaturas são colocadas nas posições de reabastecimento. Alguns dos militares, como sempre o fazem (sempre que se deslocam à vila), procuram de imediato o único estabelecimento de comidas onde poderão refrear todo o seu justificado apetite pelo esforço destas 2 horas de marcha.

Encaminham-se, como sempre, para a Casa Simões, ali mesmo ao lado da Igreja de Mansoa. O Simões havia também cumprido o seu serviço militar na PM em Bissau e resolveu continuar na Guiné, abrindo em Mansoa um pequeno restaurante, sobretudo para apoio à comunidade militar desta zona. Por aqui, ele estava na boca de quase todos. Os que vinham da periferia não hesitavam em fazer uma visita ao restaurante. Assim aconteceu com estes militares do aquartelamento de Infandre. Era como que reviver, por instantes, sabores e momentos da saudosa Metrópole.

Mansoa > Igreja onde estiveram as urnas, para as devidas honras e formalidades

Mansoa > Na Esplanada da Casa Simões, almoçam os furriéis César Dias e Caetano

Mansoa > O Fur Mil César Dias (à direita) e o 1º Cabo Brogueira

Reconfortados, estes militares lá voltaram ao espaço do reabastecimento. A operação de carga conclui-se. Eram cerca de 11 e meia. Ia começar a viagem de regresso a Infandre. Alguns civis, como de costume, acomodam-se nas viaturas, com as suas compras. A velocidade rondam os 50 - 60 Km/h. Por volta das 11,45h a coluna está à vista do aquartelamento de Braia. Resolvem parar para um cumprimento rápido aos seus vizinhos e camaradas amigos e tomarem uma bebida. Deixam as viaturas sobre a direita da picada e vão até ao interior do fortim. A visita é rápida, não mais que 10 minutos.

Braia > Um aspecto do aquartelamento

Efectivos de Braia > Parte do 3.º Pelotão da CCAÇ 2589 (Os Peras) mais quatro elementos do PEL CAÇ NAT 58 (um deles é o Fur A. Silva Gomes). Os restantes elementos destes dois Pelotões, juntamente com um Grupo de Milícia, constituiam o efectivo de Infandre.

Braia > Interior do aquartelamento (Messe)

Braia > Em posição de continência, o Fur A. Silva Gomes do PEL CAÇ NAT 58

É agora quase meio-dia. Vão retomar o caminho rumo a Infandre. Faltam apenas pouco mais que 4 Km.

Decorrem cerca de 5 minutos, após a partida. Os militares de Braia ouvem um intenso tiroteio para o lado do caminho que a coluna de Infandre seguia. Pressentiram, de imediato, que estava a ser atacada. A sua reacção foi instantânea. As duas viaturas do fortim, puseram-se estrada fora, a toda a velocidade. A estrada descreve uma curva à direita. Há um fardo de palha (talvez colmo) na estrada. Contornam-no. Cerca de trezentos metros depois da curva avistam-se as duas viaturas do aquartelamento de Infandre. Estão paradas na estrada. Em cima delas, nativos de armas apontadas ripostam à progressão dos homens de Braia. Estes saltam das viaturas e começam a progressão de forma mais cautelosa, pelas bermas da picada, junto ao capim. O Furriel António Gomes refere que teve necessidade de reposicionar-se para não ser atingido. Alguém lhe estava a chamar a atenção para isso. A nossa reacção foi determinada e eficaz. Os elementos do PAIGC começam a evadir-se no mato. Os militares socorristas aproximam-se. Junto às duas viaturas o ambiente é desolador, dramático...

Militares mortos e feridos, no chão, em redor das duas viaturas. Os feridos em estado desesperado. Começam a ouvir-se o estrondo das granadas dos obuses de Mansoa que caíam para o lado da fuga do inimigo. Alguém já tinha dado o alerta. Procura-se o socorro possível aos feridos e estabelece-se a comunicação para as necessárias evacuações. O cenário é dantesco e de profunda emoção e tristeza. Um pelotão inteiro está ali, naquele pequeno espaço, completamente abatido. Os olhos humedecidos são de tristeza e de raiva. O inimigo tinha atingido os seus desígnios de forma cruel e bárbara. Diz o Furriel António Gomes: - Deparámos depois que a cerca de 50 metros, para o lado contrário da emboscada, junto a um baga-baga, aí se haviam escondido 5 dos nossos militares, sobreviventes sem ferimentos, que de forma instantânea e algo feliz conseguiram evadir-se através do alto capim, para o outro lado da picada.

Entretanto chegavam também, em socorro, militares de Infandre. Estes demoraram mais porque tiveram que fazer a deslocação a pé (as duas únicas viaturas existentes eram as que tinham sido emboscadas).

Introduzo aqui um parêntesis para referir que tive, entretanto, conhecimento que o 1.º cabo enfermeiro António Oliveira, do Hospital Militar 241 de Bissau, chegou, exactamente ao local da emboscada, por volta das 12,30h. Ele era um dos elementos que integrava a equipa do helicóptero que procedeu à evacuação dos feridos de maior gravidade.

Por ironia do destino, o Oliveira também é da Mealhada e morava a pouco mais de 2 Km do José da Cruz Mamede. Este tinha estado a gozar férias em Bissau onde, conforme combinação prévia, deveria ter visitado o António Oliveira, no Hospital Militar. Por qualquer circunstância o José não esteve com ele e voltou a Infandre uns dias antes da fatídica emboscada.

O António Oliveira reconheceu, no capim, o seu amigo. Estava do lado esquerdo (conforme a orientação das viaturas), a cerca de 10/15 metros da berma da estrada. Já estava sem vida. À minha observação para a distância a que se situava em relação ao local exacto da emboscada, disse-me que, provavelmente, ainda se terá arrastado naquele espaço, enquanto as forças lho permitiram.

Quanto ao Serifo Djaló, que morreu em Bissau, 5 dias depois e o Natcha que morreu em 20 de Novembro, confirma que se tratavam de elementos apanhados nesta emboscada e que haviam sido evacuados para Bissau.

Dada a quantidade de feridos, deram instruções imediatas para que de Bissau, partissem 2 ambulâncias, por estrada. Os 3 ou 4 feridos de maior gravidade, foram, de imediato, evacuados de helicóptero.
Refere que, antes de procederem à descida, no local, um T6 procedeu a bombardeamentos no enfiamento de Morés e Canquebo.

O António Oliveira não põe de lado a hipótese da coluna ter parado entre o fortim de Braia e a zona da emboscada, para dar boleia a alguém da população. Continua, por isso, a haver alguma dúvida se terão parado, para esse efeito (**). A paragem poderia ser tácita com os elementos do PAIGC. Por ora, é ainda uma questão difícil de investigar ou concluir. Sobre esta questão, o ex-Furriel António Silva Gomes (um dos socorristas de Braia) afirma de forma quase peremptória que não houve qualquer paragem, dado que entre a saída de Braia e o momento da emboscada, apenas decorreu um intervalo de cinco minutos.
Quem sabe se algum daqueles 5 militares que estavam ilesos, atrás de um baga-baga, poderiam ajudar a esclarecer o assunto.

O problema é que ainda não se descobriu os seus nomes. Supõe-se que um deles terá sido o 1.º Cabo Costa (Laureano Augusto Costa ?) que esteve emigrado em França e que acaba de regressar à sua terra, em Mirandela. O seu depoimento seria de grande interesse, mas não foi ainda possível contactá-lo.

Segundo o António Oliveira, quem esteve também no local, nesse momento ou no dia seguinte, foi o Marcelino da Mata. O seu testemunho também poderia ajudar na pormenorização de uma ou outra questão sobre as quais pareça subsistir ainda alguma dúvida ou menor clarificação, como, por exemplo, esta: o ex-Furriel César Dias diz que só no dia seguinte (13 de Outubro) foram evacuados, de Mansoa, 6 elementos do Pel Caç Nat 58. O Cabo Enf António Oliveira diz que, de imediato (12 de Outubro), foram chamadas ambulâncias, de Bissau, para procederem à evacuação de todos os feridos que o transporte de helicóptero não pôde contemplar.

Falta saber, quanto ao atado de palha, deixado na estrada (logo após a curva, pouco mais de 1 Km à frente de Braia), se foi ou não aí colocado pelo IN e, em caso afirmativo, se o terá feito antes ou depois da passagem da coluna emboscada.

Os taipais das viaturas encontravam-se muito esburacados por força das rajadas, feitas quase à queima-roupa, já que a emboscada foi executada por elementos do PAIGC, camuflados no alto capim (lado N), a escassos 2 metros da borda da picada. Os nossos militares estimaram que seriam cerca de 100 guerrilheiros, com um relevante potencial de armamento.

O Furriel Dinis César de Castro, foi capturado, tendo-lhe sido exigido que tirasse a farda. Recusou-se, com grande determinação e enorme sentido de patriotismo. Foi cruelmente rasgado, de lado a lado, com rajada de metralhadora. Este incomensurável gesto de patriotismo haveria de ser reconhecido pelo Estado português, quando, na cerimónia do 10 de Junho de 1971, Dinis César de Castro foi condecorado, a título póstumo, com a Cruz de Guerra.

Introduzo aqui um testemunho, recente, de alguém que, na altura, seguiu e viveu este acontecimento:

"12-10-1970 é uma data que recordo com tristeza. Como muitas outras, era mais uma coluna a passar naquele itinerário, (Braia-Infandre), mas daquela vez havia à volta duma centena de guerrilheiros emboscados com morteiros, lança-granadas-foguete e armas automáticas. Chegaram mesmo a lutar corpo a corpo. Sofremos 10 mortos (entre os quais, do Pel Caç Nat 58, o 1.º cabo José Mamede, o 1.º cabo Joaquim Baná e os soldados Cumba, Seidi, Mundi, e Baldée da CCAÇ 2589 o meu amigo Furriel Mil de Op Esp Dinis Castro, e os soldados Joaquim M Silva, Joaquim J Silva, Duarte Gualdino, a quem presto sentida homenagem), 9 feridos graves, 8 feridos ligeiros e um soldado capturado. Recorri aos documentos que guardo com muito carinho, e mais uma vez fiquei emocionado" (Furriel Mil César Dias – CCS BCAÇ 2885, Mansoa)

Em 20 de Novembro de 1970, o Furriel Carlos Fortunato, da CCAÇ 13, que se dirigia para Bissau para participar na Operação Mar Verde, passou no local da emboscada e viu, espetada num tronco, uma granada de RPG-7, que não tinha explodido. Estimava em cerca de 3 Km a distância até Braia. E, de facto, esse cálculo não estava muito longe da realidade.

Mais duas informações, entretanto recolhidas:

- Às 18,35h do próprio dia 12 de Outubro de 1970, o IN flagelou Mansoa, com canhão sem recuo, a partir de Cussanja (junto ao Rio Geba) - 4,4 Km a SE de Mansoa, no entroncamento da estrada Mansoa-Cussaná-Cussanja com a estrada de Jugudul-Porto Gole. Cussanja, pela sua situação, junto à margem do Rio Geba, o IN tinha-a como um ponto privilegiado para flagelações de Mansoa. Tudo indica que esta flagelação terá surgido como retaliação aos bombardeamentos aéreos feitos pelas nossas tropas, logo a seguir à emboscada e teriam como objectivo surpreender os efectivos de Mansoa que estavam preocupados com a recolha dos mortos e feridos e com todas as acções inerentes ao desfecho da emboscada. Cussanja ficava precisamente do lado oposto de Braia/Infandre, a NW de Mansoa.

- As pesquisas levam-nos, por vezes, a resultados surpreendentes, como é este caso que me acaba de ser relatado pelo 1.º Cabo Luís Camões, à altura, em Mansoa: - O condutor de uma das duas viaturas emboscadas, quase dado como desaparecido, surgiu, à noite, em Mansoa (com a sua G3), depois de ter percorrido, pela mata, cerca de 9 km, previsivelmente em puro sofrimento (*). Falta averiguar o seu nome e se ainda permanece entre nós para, neste caso, procurar obter o seu testemunho e o porquê deste seu arriscado procedimento.

(*) Pertencia à C. Caç. 2589 e estava adstrito ao PEL CAÇ NAT 58, em Infandre.

O trajecto

A zona da ocorrência e o percurso para Bissau

No trajecto da emboscada

…e os momentos

7 horas – Saída (Infandre)
9 horas – Chegada a Mansoa
9,30 às 10 h – Alguns dos elementos da coluna fazem a habitual visita à Casa Simões
10 às 11,30 h – Carregamento do reabastecimento
11,50 h - Chegada a Braia
11,45 ás 11,55 h – Paragem em Braia
12,00 h – Emboscada
12,04 h - Ajuda de Braia (chegada a 300m do local da emboscada)
12,10 h – Termo dos confrontos – evasão dos guerrilheiros do PAIGC

Distâncias:

Braia ao local da emboscada: 2,26 Km (0,8 Km na parte recta)
Braia a Infandre: 4,69 Km
Local da emboscada a Infandre: 2,43 Km
Infandre – Mansoa: 9,56 Km
Infandre – Namedão: 8 Km

Recta de 800 metros, entre a estrada da emboscada e a entrada do aquartelamento de Infandre

Local: a cerca de 500 metros do cruzamento para Infandre.
Deslocação de uma das viaturas de Infandre, para apanhar lenha precisamente junto à estrada, a cerca de 1500 metros, onde, mais tarde, havia de acontecer a emboscada


Algures, após o Fortim de Braia

A coluna da CCAÇ 13 acaba de atravessar a bolanha e o Rio Braia e aproxima-se do aquartelamento de Braia

Uma coluna da CCAÇ 13 após atravessar a bolanha, junto ao Rio Braia

Notas:

Justificação do espaço de 5 minutos entre a saída da coluna de Braia e o momento da emboscada:

Saída do fortim, chegada às viaturas e pô-las em movimento: 2 minutos.
Percurso de 2,26 Km (à velocidade provável de 50 Km/h): 2,71 minutos.
(total: +/- 5 minutos).

Tem este cálculo o objectivo de comprovar (e confirmar testemunhos) de que neste espaço de 2,26 Km a coluna não fez qualquer paragem e que o molho de palha encontrado na estrada, pelos militares de Braia, terá, eventual e estrategicamente, ali sido colocado por algum dos guerrilheiros do PAIGC, logo após a passagem da coluna, talvez com o objectivo de confundir ou surpreender os homens de Braia ou moderar a passagem das suas viaturas.

- José da Cruz Mamede (n.º 17762169), desembarcou em Bissau em 21/11/69. Veio, em rendição individual, para substituir o 1.º Cabo Joaquim da Silva Magalhães (n.º 01779368), falecido em combate (PEL CAÇ NAT 58) em 30/8/69.

- O Pel Caç Nat 58 chegou a Infandre a 16/11/69, para substituir o Pel Caç Nat 62, que foi extinto.

- Durante a permanência em Infandre, o Pel Caç Nat 58 sofreu 16 confrontos, entre flagelações e emboscadas.

- À data da emboscada, era esta a distribuição dos efectivos militares, nestes 2 destacamentos:


Infandre: 2 SEC do Pel Caç Nat 58 + 1 SEC de um 1 Gr Comb da CCAÇ 2589 + Grupo de Milícia
Braia: 2 SEC de um PEL da CCAÇ 2589 + 1 SEC do Pel Caç Nat 58

- Henrique Martins de Brito – Furriel – mais tarde (20/11/70), viria a ser evacuado para a Metrópole, não se sabe se em consequência de ferimentos, nesta emboscada.

- Era comandante do PEL CAÇ NAT 58 o Alferes Eduardo Ribeiro Manuel Cardoso Guerra que não esteve envolvido neste acontecimento, visto não ter feito parte da coluna de reabastecimento. Consta-se que, posteriormente, foi evacuado para a Metrópole, não se sabe se por doença ou por ferimentos em combate.

- Em Mansoa estava sediado o BCAÇ 2885 (RI 15 – Tomar – Maio de 1969 a Fevereiro de 1971).

- Manuel João Mimoso Belo – (Sacavém) – Foi posteriormente para Infandre, para substituir o José da Cruz Mamede.

- Rendição do BCAÇ 2885 pelo BCAÇ 3832 (RI 2 – Abrantes - Janeiro de 1971 a Janeiro de 1973.

José da Cruz Mamede > Um quadro de saudade

Os mortos e feridos

A trágica ocorrência redundou em 10 mortos, 9 feridos, 8 feridos ligeiros e um soldado capturado. (6 mortos e 6 feridos(*) eram do Pel Caç Nat 58 e os restantes da CCAÇ 2589 e população) .

(*) Dois, vieram depois a falecer em Bissau, o que elevou o número de mortos, do Pel Caç Nat 58, para oito.

Listagem de mortos do PEL CAÇ NAT 58 e da CCAÇ 2589

As listas dos combatentes falecidos no Ultramar, que podem ser consultas no site da APAV, ou da Liga dos Combatentes, nem sempre são rigorosas, neste caso omitiram o falecimento do (Sold) Joaquim Manuel da Silva da CCAÇ 2589 - (12/10/1970).

Lista dos mortos do Pel Caç Nat 58

Bomboro Joaquim - 21-08-1969
Joaquim da Silva Magalhães, 1.º Cabo - 30-08-1969
José da Cruz Mamede, 1.º Cabo - 12-10-1970
Joaquim Banam, 1.º Cabo - 12-10-1970
Idrissa Seidi, Sold - 12-10-1970
Tangina Mute, Sold - 12-10-1970
Betaquete Cumbá, Sold - 12-10-1970
Gilberto Mamadú Baldé, Sold - 12-10-1970
Serifo Djaló, Sold - 17-10-1970
Natcha Quefique, Sold - 20-11-1970

Lista dos mortos da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885

José Luciano Veríssimo Franco - 29-05-1969
António José Penhasco da Costa - 09-11-1969
Joaquim Moreira Marques - 09-11-1969
Dinis César de Castro, Fur Mil - 12-10-1970
Duarte Ribeiro Gualdino, Sold - 12-10-1970
Joaquim João da Silva, Sold - 12-10-1970

- Em 20-11-1970, o Fur Mil Henrique Martins de Brito, do Pel Caç Nat 58, foi evacuado para a Metrópole.

Feridos do Pel Caç Nat 58 evacuados de Mansoa, para o HM241 de Bissau, no dia seguinte ao da emboscada:

- Augusto Ali Jaló – 2.º Sarg Mil
- Jamba Seidi – 1.º Cabo
- Malam Dabó – Sold
- Serifo Djaló – Sold – (Viria a falecer 4 dias depois – 17-10-1970)
- Jorge Cantibar – Sold
- Samba Canté – Sold

Agradecimentos

A todos os que, de alguma forma, contribuíram com as suas informações ou testemunhos, para que se pudesse encontrar a clarificação possível sobre esta trágica ocorrência.

Entre esses, permito-me destacar:

- César Dias (1)
- António Silva Gomes (2)
- “Kimbas do Olossato” (3)
- Benjamim Durães (4)
- Manuel João Mimoso Belo (5)
- Dinis Pinto Silva (6)
- Manuel Simões (7)
- Carlos Fortunato (8)
- “Os Leões Negros” (9)
- Luís Graça (10)
- Paulo Raposo (11)
- Joaquim Mexia Alves (12)
- Jorge Cabral
- Augusto Ali Jaló
- Eduardo Ribeiro (13)
- Artur Conceição
- Paulo Reis (Inglaterra) (14)
- Aniceto Henrique Afonso (15)
- António Oliveira (16)
- Lucília da Cruz Mamede (17)

Nenhuma pesquisa deste género poderá dar-se por finalizada enquanto subsistirem dúvidas, omissões, imprecisões ou desencontro de informações.

Pese embora toda a boa vontade, interesse e persuasão, como esforço investigativo, a exactidão, pela exaustão e cruzamento dos relatos, o fundamento dos conceitos ou a isenção, são factores determinantes que conduzem à autêntica realidade. Enquanto não se atingir esse patamar, teremos sempre e apenas relatos próximos ou tendentes a essa certeza, por onde, eventualmente, perpassam ainda algumas interrogações.

Vem a propósito referir que o Carlos Fortunato conta voltar a Infandre (provavelmente ainda este ano de 2007) e propõe-se encontrar alguém que tenha estado envolvido nesta sinistra emboscada, que vitimou, praticamente, um pelotão. Será agora um repórter, quase quarenta anos depois de haver calcado aquelas paragens, envergando a farda do exército português. Ele irá à procura de outros eventuais pormenores, testemunhos e justificações e trará mais algumas imagens da realidade presente destas terras de Mansoa.

(**) Testemunho que acabo de obter de um dos feridos na emboscada :

-"Augusto Ali Jaló, então 2.º Sargento, era o Comandante desta coluna de reabastecimento. Acabo de localizá-lo na zona de Lisboa. Tive com ele uma agradável conversação, no sentido de tentar obter a clarificação de algumas destas questões. Nesta coluna, o Augusto seguia na viatura da frente, a mesma onde também seguia o José Mamede. Ao eclodir da emboscada, saltou da viatura. Não foi atingido mas sofreu um severo trautamatismo craneano e uma grave contusão no joelho esquerdo. O helicóptero que se apresentou no local, 20 minutos depois da emboscada, levou o Jaló para Bissau, juntamente com outros 3 dos feridos mais graves. Esteve 3 meses, com gesso, no Hospital de Bissau.

Quanto à sua condecoração, confirma-se. Na cerimónia do 10 de Junho de 1970, em Bissau, foi condecorado com a medalha de cobre de Serviços Distintos com Palma. Em Agosto, seguinte, foi promovido a 2.º Sargento.

Outras clarificações:

- O Furriel Henrique Martins de Brito, evacuado para a Metrópole 8 dias depois da emboscada, não participou nesta coluna de reabastecimento. A sua evacuação terá derivado de doença.

- O molho de palha (molho de "fundo", segundo o Jaló) que estava na estrada, após a curva, foi deixado por algum elemento da população, logo após ouvir a 1.ª detonação da emboscada. Não se tratou, por isso, de qualquer estratagema do PAIGC. Quando a coluna passou não estava lá.

- Confirma o Augusto Jaló que não pararam para dar qualquer boleia o que, de todo, dissipa algumas dúvidas que ainda existiam sobre esta questão.

E revela ainda: na zona da emboscada, os guerrilheiros haviam colocado uma mina anti-carro mas, à vista da coluna e à sua aproximação ao sítio da mina, os guerrilheiros anteciparam-se com uma roquetada. O condutor da 1.ª viatura (onde ia o Jaló), desviou-se ligeiramente para a direita e, por felicidade, contornou a mina, não a accionando. De contrário a tragédia teria sido ainda maior. O José Mamede ia do lado direito dessa 1.ª viatura (lado da emboscada e lado do Morés). Foi atingido e ainda encetou um movimento de refúgio para o lado esquerdo. Morreu a cerca de 15 metros da estrada. Foi aí que o seu conterrâneo e amigo António Oliveira (1.º Cabo Enf do HM241 de Bissau) o encontrou, após a descida do helicóptero que veio proceder à evacuação dos feridos de maior gravidade, entre eles o Jaló.

- Confirma também o Augusto que uma secção do PEL CAÇ NAT 58 fez a picagem entre Infandre e Mansoa e que alguns dos elementos da coluna estiveram a comer na Casa do Simões (a) e na Tasca da Emília de Sá.

O Jaló, como responsável da coluna, não pôde deslocar-se a estes estabelecimentos, de visita costumada, por estar envolvido na orientação do reabastecimento.

(a) hoje, gerente e proprietário de “O Painel – Restaurante Simões, Lda”, próximo da Curia.

- Sobre os 5 militares que se protegeram atrás de um baga-baga, não sabe dizer quem eram, dado que estava muito ferido e foi, de seguida, evacuado para Bissau. O mesmo e pelas mesmas circunstâncias, quanto ao condutor que, à noite, apareceu em Mansoa, apenas acompanhado da sua G3.

- Os militares mortos foram levados para Mansoa, onde estiveram na igreja local, para as habituais formalidades.

Outros testemunhos poderão, ainda, vir a ser obtidos, no sentido de chegar a um registo factual, tão exaustivo quanto possível, sobre este trágico acontecimento.

Fotos cedidas por gentileza de:

António Silva Gomes (Lisboa – ex-Fur Mil Pel Caç Nat 58
Joaquim Carlos Fortunato (Lisboa) - ex-F Mil CCAÇ 13
César V. Dias (Santiago do Cacém) - ex-Fur Mil - BCAÇ 2885 (Mansoa)
Lucília Cruz Mamede – (Casal Comba – Mealhada)- Irmã do falecido José da Cruz Mamede

Com o meu especial agradecimento.

Fotos:© António S.Gomes, J.Carlos Fortunato, César Dias e Lucília Cruz Mamede (2007). Direitos reservados.

“Recordar é manter a memória colectiva ao transmitir os factos do passado às novas gerações”.
Afonso M. Ferreira Sousa

(1) – Fur Mil – CCS BCAÇ 2885 (Mansoa) – Procedeu a um armadilhamento na zona Braia-Infandre (por estas alturas).
(2) – Fur Mil – Pel Caç Nat 58 – Braia
(3) – Onde coloquei esta 1.ª mensagem, em Setembro de 2005, questionando se alguém poderia informar onde estaria sediado o Pel Caç Nat 58, em Outubro de 1970.
(4) – Fur Mil - CCS/BART 2917 - Foi crucial para o seguimento da pesquisa. Foi ele que, após ter visto a minha mensagem (de 2005) no sítio Kimbas do Olossato, se me dirigiu, em 18/3/2007, para me fornecer o guião do Pel Caç Nat 58.
(5) – 1.º Cabo – Pel Caç Nat 58 - Infandre
(6) – 1.º Cabo – Pel Caç Nat 58 – Infandre (depois da comissão: professor em Infandre).
(7) – Restaurante Simões dos Leitões – Tamengos (junto à Curia, Anadia) - telefone 231202031
(8 ) - Fur Mil – CCAÇ 13 - jcfortunato@yahoo.com
(9) - Site da CCAÇ 13 (http://leoesnegros.com.sapo.pt/)
Na página da CCAÇ 13 existe uma sub-página dedicada a este tema, com o título Pel Caç Nat 58.
(10) – Editor do maior Blog sobre a Guerra na Guiné: Luís Graça & Camaradas da Guiné
(11) – Alf Mil - CCAÇ 2405/BCAÇ 2852)
(12) - Alf Mil - CART 3492 – Pel Caç Nat 52 – CCAÇ 15
(13) - CCS/BCAÇ 4612 (mais conhecido por Pira de Mansoa)
(14) - pcv_reis@yahoo.co.uk – jornalista em missão de pesquisa nos arquivos do CTIG.
(15) - Ten Cor – Director do Arquivo Histórico Militar (Exército) – ahm@exercito.pt
(16) - 1.º Cabo Enfermeiro do HM241 de Bissau – Fez parte da equipa heli-transportada que procedeu à evacuação de alguns dos feridos, a partir do local da emboscada.
(17) –Irmã do falecido José da Cruz Mamede.
__________________

Nota de CV:

(1) Vd. posts sobre a emboscada do Infandre de 3 de Abril de 2007:

Guiné 63/74 - P1641: A morte do 1º Cabo José da Cruz Mamede, do Pel Caç Nat 58 (1): Onde e em que circunstâncias ? (Afonso M. F. Sousa)

Guiné 63/74 - P1642: A morte do 1º Cabo José da Cruz Mamede, Pel Caç Nat 58 (2) : Em Infandre, a 13 km de Mansoa (Afonso M. F. Sousa)

Guiné 63/74 - P1643: A morte do 1º cabo José da Cruz Mamede, do Pel Cacç Nat 58 (3): 10 mortos em emboscada com luta corpo a corpo (César Dias)

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1644: A morte do 1º cabo José da Cruz Mamede, Pel Caç Nat 58 (4): Recordando o mítico Morés (Afonso M.F. Sousa / Carlos Fortunato)

Guiné > Região do Oio > Morés > Folha de manual escolar do PAIGC, impresso na Suécia. Documento apreendido pela CCAÇ 13 no decurso da Operação Jaguar, em 9 de Junho de 1970.

Foto: © Carlos Fortunato (2007) (Reproduzida, com a devida vénia, da sua excelente página pessoal > Guiné - Os Leões Negros, CCAÇ 13, 1969/71).



Guiné > Bissorã / Mansoa > Duas fotos tiradas pelo ex-Furriel Miliciano da CCAÇ 13, Carlos Fortunato (1969/71), quando um dia passou por Braia-Infandre a escoltar uma coluna. O Carlso que esteve sobretudo em Bissorã, é uma apaixoanda pela terra e pelas gentes da Guiné-Bissau, que revisitou recentemente, em Novembro de 2006. Tenciona lá voltar em 2011.

Fotos: © Carlos Fortunato (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do Afonso M. F. Sousa (subtítulos da responsabilidade do editor do blogue):

Com que emoção recebo e leio esta excelente notícia! Há quanto tempo que eu e a irmã do meu conterrâneo José Mamede procuramos saber aonde e em que circunstâncias ele terá tombado em combate (1).

Com todas as entreajudas, boas-vontades, persistências e com esta ferramenta extraordinária que é a Internet, hoje chegámos ao objectivo pretendido.

Todas as peças do puzzle foram sendo sucessivamente montadas e o intuito foi atingido. Sempre pensei que depois de ter chegado à descoberta do local onde se deu a ocorrência fatídica (Infandre), mais tarde ou mais cedo chegaria à localização de alguém que nesse 12/10/70 a tenha acompanhado de perto ou mesmo integrado. Tinha essa esperança e hoje, dia 1 de Abril de 2007, isso, finalmente, concretizou-se, mesmo coincidindo com o dia das imaginações férteis. É assim que se faz a memória da Guerra Colonial e, em particular da Guiné. Com o contributo e empenhamento de todos (2).

Envolvo todos os meus amigos num abraço de sincero agradecimento e permitam-me que dê também conhecimento deste resultado final ao Senhor Director do Arquivo Histórico Militar do Exército - Sr. Tenente-Coronel Aniceto Henrique Afonso e agradecer-lhe a sua nota nº 691/2006, de 3 de Outubro de 2006 e a sua disponibilidade para uma continuação da investigação rumo ao objectivo que agora se atingiu.

Um obrigado também ao Carlos Fortunato pelos mails que comigo trocou há dias, pelas dicas que me deu e pela sua disponibilidade e empenho. A especulação que o Carlos Fortunato chegou a fazer apontava para a morte deste meu amigo e conterrâneo através de um ataque ou numa patrulha. E a verdade aí está: emboscada numa picagem e protecção a coluna, no itinerário Braia-Infandre (apenas 2 Km). E a sua percepção foi mais longe, quando me referiu: (desculpem a transcrição já que alguns dos amigos não tiveram acesso ao teor destes mails):


Mito e realidade do Morés

«Penso que a função deste aquartelamento, em Braia, era fundamentalmente defensiva, pois assegurava que a ponte não era destruída, e também dava proteccção à zona entre a ponte e Mansoa, pois o rio Braia dificultava a fuga aos guerrilheiro que actuassem nessa zona. Este sistema defensivo permitia que, entre Braia/Infandre e Bissorã, o PAIGC podia facilmente movimentar-se, pois não existia (naquela altura) mais nenhum quartel entre Braia/Infandre e Bissorã, e colocava Braia/Infandre na linha da frente. Infandre gozava do apoio das armas pesadas de Mansoa, e mais tarde também de Bissorã, e poderia ser socorrida por Mansoa, que ficava a pouca distância.

"Na estrada que seguia para Bissorã, depois de Infandre, tínhamos do lado direito da estrada, a uns 10 Kms, o Morés, onde estava o QG do PAIGC para a zona norte, era um dos seus santuários, e era considerado zona libertada; do lado esquerdo da estrada, tínhamos o Queré, nele existia um bigrupo, reforçado com uma unidade de artilharia (60 a 80 guerrilheiros).

"Na altura o que se pensava do Morés, era que existiam ali estacionados 900 guerrilheiros do PAIGC, nos quais se incluiam cubanos, possuindo armas pesadas (morteiros 82). A CCAÇ 13 foi lá uma vez, com 70 homens, e não ficou com saudades de lá voltar (Operação Jaguar descrita no site da CCAÇ 13 - Os Leões Negros). O que acontecia aos aquartelamentes estacionados naquela zona eram ataques pontuais do PAIGC, e confrontos durante as patrulhas ou operações que fazíamos.

"Poder-se-à dizer que existia um aquartelamento em Braia e outro em Infandre, não me lembro de tal (*), apenas me lembro de existir aquele. Especulando poderíamos imaginar que a tarefa do Pelotão de Caçadores Nativos 58 (1) seria a de assegurar a defesa da ponte e servir de tampão para a zona entre a ponte e Mansoa, pois face ao poderio inimigo na zona não tinha capacidade atacante, provavelmente faria patrulhas de proximidade, junto ao aquartelamento.

"Quando tiver oportunidade vou tentar reduzir um outro filme que fiz sobre Braia e envio-lhe por e-mail, o filme completo ocupa 356 MB, é demasiado grande para o conseguir enviar. As fotos foram tiradas na zona de Mansoa, mas já não me lembro se são do quartel que estava em Braia (eu penso que sim), ou se foram tiradas à entrada de Mansoa. Penso que o aquartelamento de Infandre ficava em Braia, quando se passava a ponte, era do lado direito.

"Quando estive em Braia (3), ainda havia algumas paredes de pé, mas à sua volta era um mato cerrado, que quase não dava para as visualizar. Junto envio-lhes 2 fotos tiradas por mim quando passei por Braia (Quartel de Infandre ?) a escoltar uma coluna. Na que tirei para a frente vê-se a ponte e o quartel à direita, e na que tirei para trás a bolanha e a enorme coluna de viaturas civis. O único problema, como lhe referi é que neste caso a minha memória não é clara, tenho a certeza absoluta que é na zona de Mansoa, mas já não tenho a certeza absoluta de ser Infandre, embora creia que sim, pois não me lembro de outro local ou aquartelamento assim. Talvez outros camaradas possam ajudar a confirmar o que descrevi (*).

"Em 2011 conto voltar à Guiné, e vou estar novamente nessa zona, caso não se consiga nenhuma informação até lá, talvez eu encontre alguém do Pelotão de Caçadores 58".

Houve festa na aldeia à minha chegada da Guiné

E já agora, permitam-se abusar da vossa paciência para lhes deixar esta confidência que, no fundo, justifica, de alguma forma, o meu interesse neste assunto e na sua clarificação quanto aos pontos que acima referi.

Era usual, na minha terra natal, a população homenagear todo aquele filho que regressava após o cumprimento do serviço militar no ultramar. A mim também me surpreenderam e, praticamente, exigiram-me esse acolhimento. Lá tive que fazer os 80 Km de distância que separavam a terra de residência, após o casamento [Ovar], e a terra de origem [Casal Comba, Mealhada] para ser recebido no centro cultural da aldeia e assistir, durante a noite, à exibição de uma banda musical, onde o povo manifestou a seu contentamento pela minha chegada da Guiné.

Para mim era tudo muito exagerado, mas a espontaneidade e pureza deste povo simples não me permitiu dizer não. Eu fui o último militar a quem, na minha terra, fizeram este tipo de manifestação de júbilo. Cinco meses depois da minha chegada, aquela aldeia estava a viver um momento de grande tristeza. O José da Cruz Mamede (1º cabo) chegava da Guiné mas jamais para voltar ao convívio dos vivos. Como alguém disse, a implacável lei da vida tornou-lhe o caminho mais curto. E quanto o Zé era estimado por aquelas gentes. No ultramar, tinha morrido o 1º militar oriundo daquela terra. Foi o fatídico 12 de Outubro de 1970, algures, num qualquer sítio da Guiné. Hoje fiquei a saber aonde e em que circunstâncias.

Afonso Sousa

PS - Mando em anexo as 2 magníficas fotos da autoria do Carlos Fortunato. É pena que ainda não possamos ver (com total definição) a zona Infandre-Mansoa, através do Google Earth. Talvez só dentro de um ano.

__________

Nota do Carlos Fortunato:

(*) O César Dias poderá confirmar ?

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

3 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1641: A morte do 1º Cabo José da Cruz Mamede, do Pel Caç Nat 58 (1): Onde e em que circunstâncias ? (Afonso M. F. Sousa)

3 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1642: A morte do 1º Cabo José da Cruz Mamede, Pel Caç Nat 58 (2) : Em Infandre, a 13 km de Mansoa (Afonso M. F. Sousa)

3 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1643: A morte do 1º cabo José da Cruz Mamede, do Pel Cacç Nat 58 (3): 10 mortos em emboscada com luta corpo a corpo (César Dias)

(2) É de registar o mail que o Joaquim Mexia Alves mandou, em tempo oportuno (20 de Março de 2007) ao Afonso, e que passo a transcrever:

Caro Afonso Sousa: Tenho pena mas não te posso ajudar no que me pedes.
Fui para Mansoa em meados de 1973 (Julho ou Agosto), para a CCAÇ 15 e, por falta de Capitão, mal cheguei, e porque era o mais velho, passei a comandar a Companhia. Estive lá até Dezembro de 1973, tendo regressado à Metrópole.

Não me recordo, sinceramente, de ter ouvido falar no Pel Caç Nat 58. Aliás aquela zona, por força das colunas para Norte, o Morés, etc., falava-se apenas da situação do momento [e não do passado].

Espero que consigas saber o que procuras. Lembro-me que no meu tempo a CCAÇ 13 13 era comandada pelo Oliveira, Cap Miliciano, que tinha o Curso de Rangers. Talvez pela Associação de Operações Especiais, em Lamego, consigas localizá-lo e fazer-lhe as perguntas que desejas.

Abraço amigo do Joaquim Mexia Alves

(3) Vd. post de 17 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1533: De regresso a Bissorã: Uma viagem fantástica (Carlos Fortunato)

terça-feira, 3 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1643: A morte do 1º cabo José da Cruz Mamede, do Pel Cacç Nat 58 (3): 10 mortos em emboscada com luta corpo a corpo (César Dias)

1. Mensagem do César Dias (ex-Fur Mil Sapador Inf, CCS do BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)(1):

Olá, companheiros de bala:

É verdade, o Pel Caç Nat 58, juntamente com a CCAÇ 2589, defendia o itinerário Mansoa - Infandre – Namedão (segurança e picagem para passagem de colunas para Bissorã e Olossato), itinerário esse que fazia parte do sector de Mansoa onde estava sediado o meu BCAÇ 2885 (1).

Sobre o Alferes Miliciano que comandava o Pel Caç Nat 58 (2), era desde Junho de 1970 o Alf Mil At, nº 16831968, Eduardo Ribeiro Manuel Cardoso Guerra que tinha vindo da CCAÇ 2679 para substituir o Alf Mil nº 04140867 [...] que terminara a comissão em 30 de Abril de 1970. Em 7 de Janeiro de 1971 o Alf Mil Eduardo Guerra foi evacuado para a metrópole, não sei se por doença ou se por ferimento em combate.

Quanto ao malogrado 1º Cabo José da Cruz Mamede (2), nº 17762169, veio do RI 3, tendo desembarcado em Bissau a 21 de Novembro de 1969 para substituir o 1º Cabo Joaquim da Silva Magalhães, nº 01779368, que havia falecido em combate em 30 de Agosto de 1969.

Amigos e camaradas: 12 de Outubro de 1970 é uma data que recordo com tristeza. Como muitas outras, era mais uma coluna a passar naquele itinerário (Braia-Infandre), mas daquela vez havia à volta duma centena de guerrilheiros, emboscados com morteiros, lança granadas-foguete (RPG) e armas automáticas.

Chegaram mesmo a lutar corpo a corpo. Sofremos 10 mortos (entre os quais, do Pel Caç Nat 58, o 1º cabo José Mamede , o 1º cabo Joaquim Baná, e os soldados Cumba, Seidi, Mundi e Baldé; da CCAÇ 2589 o meu amigo Furriel Miliciano de Op Esp Dinis Castro, e os soldados Joaquim João Silva, Joaquim Manuel Silva e Duarte Ribeiro Gualdino, a quem presto sentida homenagem). Tivemos ainda 9 feridos graves, 8 feridos ligeiros e um soldado capturado.

Recorri aos documentos que guardo com muito carinho, e mais uma vez fiquei emocionado. Espero ter ajudado

Um abraço para todos

César Dias
Ex Furriel Miliciano do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71)

PS - Ao Luís Graça, mais uma vez o nosso obrigado por tornar possível situações destas. Bem Hajas !

2. Informação complementar do Benjamim Durães (ex-furriel miliciano do Pel Rec, CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72) (3):

Pela informação do tertuliano César Dias, ex-furriel miliciano do BCAÇ 2885, averiguei quais os nomes completos dos nossos ex-camaradas (dez) que nesse dia 12 de Outubro de 1970 morreram, e que passo a indicar:

Furriel Miliciano Dinis César Castro;
1º Cabo José Cruz Mamede;
1º Cabo Joaquim Banam;
Soldado Duarte Ribeiro Gualdino;
Soldado Joaquim João Silva;
Soldado Joaquim Manuel Silva;
Soldado Gilberto Mamadu Baldé;
Soldado Idrissa Seidi;
Soldado Tangina Muté;
Soldado Betaquete Cumbá.

Força, Afonso, é assim que não nos esquecemos dos nossos mortos de guerra. Recordá-los é honrar as suas memórias. Ao César o meu muito obrigado por teres contribuído para um melhor esclarecimento da morte do Mamede. O blogue e a tertúlia do Luís Graça & Camaradas da Guiné existem para isso mesmo.

Benjamim Durães
_____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 1 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1557: No regresso éramos menos 32 (César Dias, CCS do BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)

(2) Vd. posts de:

3 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1641: A morte do 1º Cabo José da Cruz Mamede, do Pel Caç Nat 58 (1): Onde e em que circunstâncias ? (Afonso M. F. Sousa)

3 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1642: A morte do 1º Cabo José da Cruz Mamede, Pel Caç Nat 58 (2) : Em Infandre, a 13 km de Mansoa (Afonso M. F. Sousa)

(3) Vd. post de 21 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1618: Tertúlia: Benjamim Durães, ex-furriel mil da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)

Guiné 63/74 - P1642: A morte do 1º Cabo José da Cruz Mamede, Pel Caç Nat 58 (2) : Em Infandre, a 13 km de Mansoa (Afonso M. F. Sousa)

1. Mensagem do Afonso M. F. Sousa:

Olá, caro amigo Benjamim !

Com que satisfação recebi este seu mail, dando-me indicações sobre o trajecto do Pelotão de Caçadores nº 58 (1). Este é um assunto que me vem interessando há já algum tempo. Efectivamente, persisto em tentar descobrir o aonde, quando e em que circunstâncias terá caído mortalmente um amigo e conterrâneo meu, na Guiné (em 12/10/1970). É um objectivo que eu e uma irmã dele perseguimos com todo o entusiasmo.

Diligências nesse sentido já fiz muitas, mas não tinha ainda obtido quaisquer resultados práticos. Talvez que, agora, com a sua prestimosa informação, se possa avançar na procura do alferes ou furriel que em 12 de Outubro de 1970 comandava o Pel Caç Nat 58, em Infandre (a 13 Km de Mansoa, a 45 Km de Bambadinca e a 50 Km de Bissau).

Um deles poder-me-ia informar o sítio exacto da sua morte e em que circunstâncias. Vamos ver se consigo chegar a este desiderato.

Sei que a CCAÇ 13 fez patrulhamentos nesta zona, a partir de 7 de Março de 1971.Quem sabe se algum dos seus elementos conhecia o nome do alferes, comandante daquele pelotão, em Outubro de 70, ou algum outro dos seus elementos brancos. Sei que o Carlos Fortunato pertenceu à CCAÇ 13 e, eventualmente, talvez me possa dizer algo sobre isto. Por isso tomo a ousadia de lhe enviar, também, cópia deste mail, agradecendo-lhe, desde já, a sua eventual ajuda. E, se calhar, atrevo-me a pedir igual favor a outros nossos amigos que estiveram em terras de Mansoa, como o Paulo Lage Raposo, o José Afonso ou o Joaquim Mexia Alves, aos quais, antecipidamente peço
desculpa do meu atrevimento.

Um grandes abraço para todos.

Afonso M. F. Sousa

2. O Benjamim Durães, em mail de 1 de Abril de 2007, sugeriu ao Afonso para contactar o César Vieira Dias (2), membro recente da nossa tertúlia:

(...) "Aqui volto a dar-te mais algumas dicas quanto ao Pel Caç Nat 58 que esteve em Infandre.

"Salvo melhor opinião, penso que o Pel Caç Nat 58, em Outubro de 1970 (mês em que morreu o teu amigo, 1º Cabo José da Cruz Mamede) estava sob o comando da CCS do BCAÇ 2885, de que fazia parte o Furriel Miliciano César Dias, membro da nossa tertúlia. Talvez ele possa dar mais alguma informação" (...).

___________

Notas de L. G.:

(1) Vd. post de 3 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1641: A morte do 1º Cabo José da Cruz Mamede, do Pel Caç Nat 58 (1): Onde e em que circunstâncias ? (Afonso M. F. Sousa)

(2) Vd. post de 1 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1557: No regresso éramos menos 32 (César Dias, CCS do BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)

Guiné 63/74 - P1641: A morte do 1º Cabo José da Cruz Mamede, do Pel Caç Nat 58 (1): Onde e em que circunstâncias ? (Afonso M. F. Sousa)

1. Em 25 de Setembro de 2006, o nosso camarada Afonso M.F. Sousa iniciou uma série de pesquisas sobre a morte, no TO da Guiné, de um amigo e conterrâneo, o José da Cruz Mamede, começando por mandar a seguinte mensagem ao Arquivo Histórico-Militar:


Exmo. Senhor Director do Arquivo Histórico Militar do Exército (Sr. Tenente-Coronel Aniceto Henrique Afonso)

Na qualidade de ex-combatente do exército português no ex-território ultramarino da Guiné (Agosto 1968-Maio 1970), venho junto de V. Exa. na tentativa de recolha da seguinte informação:

Um conterrâneo meu, o José da Cruz Mamede (1º cabo), jamais chegaria da Guiné para voltar ao convívio dos vivos. Como alguém disse, a implacável lei da vida tornou-lhe o caminho mais curto. E quanto o Zezito era estimado pelas gentes da sua terra! No ultramar, tinha morrido o 1º militar oriundo daquela povoação. Foi o fatídico 12 de Outubro de 1970, algures, num qualquer sítio da Guiné. Ultimamente tenho querido saber onde isso terá acontecido e é isso que me leva a dirigir-me a V. Excia.

Ele foi mobilizado pelo RI3 e pertenceu ao Pelotão de Caçadores Nativos 58. A ajuda que lhe pedia era esta: se consta desse arquivo histórico os locais onde esteve e, sobretudo, o local onde faleceu, em combate.

Dados de identificação:

Nome: José da Cruz Mamede > 1º Cabo Exe - Guiné
Unidade de Mobilização: RI 3
Unidade no TO da Guiné: Pel Caç 58
Naturalidade: Casal Comba – Mealhada
Data da morte em combate: 12-10-1970

2. A resposta do Arquivo Histórico Militar veio a seguir, sob a forma da Nota nº 691/2006, de 3 de Outubro de 2006, informando o local em que o ex-1º cabo Mamede tinha sido morto em combate: Infandre (Mansoa).

3. Vários camaradas e amigos, deram informações ou pistas ao Afonso relacionadas com este caso e com o Pel Caç Nat 58. É justo referir aqui os seguintes:

Paulo Reis > 10 de Novembro de 2006:

(...) Gostaria de poder ajudá-lo com algo de mais concreto, mas as poucas pesquisas que fiz, até agora, têm-se concentrado nas companhias de comandos. O acesso aos arquivos do CTIG é livre, podendo ser consultados por qualquer pessoa que se drija ao arquivo histórico-militar, que abre das 11h00 da manhã até às 19h00, julgo eu.Só retomarei as minhas pesquisas lá a partir de Novembro. O que posso fazer é perguntar, nessa altura, que material lá há sobre a unidade que me referiu e tentar obter os dados de que necessita (...).

Eduardo Magalhães Ribeiro (o nosso pira de Mansoa) > 10 de Setembro de 2006:

(...) Aconselho aos que gostam de exactidão, a adquirir 2 livros, não muito caros, nos Museus Militares de Lisboa e Porto (...). Já aqui atrasado, reparei que alguém disse que desconhecia que na Guiné houvesse GEs - Grupos Especiais. Pois bem, segundo estes livros, da autoria do Estado Maior de Exército,em 1973 haviam 13 Grupos Especiais de Milícias, que aumentatram para 35 em 1974.

Têm todas as informações úteis sobre batalhões, companhias, mapas, esquemas, etc. (...)

Benjamim Durães > 18 de Março de 2007:

(...) Com um grande abraço de um ex-combatente na Guiné, aqui vos forneço o solicitado, e em anexo segue o guião do Pelotão de Caçadores 58 [que não chegou ao editor do blogue].

De acordo com o vosso pedido, de Setembro de 2005, (pois só agora fui ao site em causa (Kimbas do Olossato)[página da CCAV 3378,Olossato, 1971/73] passo a indicar quando foi formado o Pelotão, e as localidades onde estiveram.

O Pelotão de Caçadores [Nativos] nº 58 foi uma unidade formada na Guiné (CTIG). Iniciou, em Bissau, as suas funções em Abril de 1967. Em Junho de 1967 foi transferido para o Cacheu. Em Agosto de 1967, foi para Teixeira Pinto. Um ano depois (Ago-1968) voltou ao Cacheu. Em Abril de 1969, foi para Canjambari. Em Novembro de 1969, foi colocado em Infandre [Mansoa], onde permaneceu, para além do 25 de Abril de 1974 (...)