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quinta-feira, 13 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24474: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4.ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos). Parte IV: 3, 5 e 6 de abril de 2023











Timor Leste >  Liquiçá > Manati > Boebau > Março/abril de de 2023 >  Escola São Francisco de Assis (ESFA) > Um país de belas paisagens e um povo gentil que quer continuar a falar português... Seleção de fotos de Rui Chamusca, na sua 4.ª vista à ESFA, um projeto da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste.


Timor Leste >  Liquiçá > Manati > Boebau > 2018  >  Da direita para a esquerda, Rui Chamusco (Sabugal e Lourinhã)  e João Crisóstomo (Nova Iorque) na inauguração da Escola São Francisco de Assis (ESFA) 

Fotos (e legendas): © Rui Chamusco  (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de alguns excertos das crónicas que o nosso amigo Rui Chamusco (76 anos, professor de educação musical reformado, do Agrupamento de Escolas de Ribamar, Lourinhã, natural de Malcata, concelho de Sabugal, cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste) nos mandou, na sequência da sua 4.ª viagem àquele país lusófono (março - maio de 2023).  

Esteve lá já 4 vezes, em 2016, 2018, 2019 e agora em 2023; é juntamente com a família luso-timorense Sobral um dos grandes pilares deste projeto de solidariedade com o povo timorense. É um exemplo inspirador, de amor à lusofonia e de olidariedade para com o povo de Timor Leste, que merece ser conhecido pelos mossos leitores.

 De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos) 

Parte I - 3, 5 e 6 de abril de 2023

03.04.2023, segunda feira - Carta ao Diretor da Escola Portuguesa de Dili

Estimado Senhor

Diretor da Escola Portuguesa de Dili

Dr. Manuel Alexandre Marques

 De regresso a Dili, Bairro Pité – Ailok Laran, depois do fim de semana em Boebau / Manati, venho responder a solicitação que nos foi feita, dando a conhecer a lista de material escolar que faz falta à ESFA. 

A lista apresentada revela as muitas carências existentes mas, com certeza, não pretendemos que seja a Escola Portuguesa de Dili a colmatar todas as nossas necessidades. O nosso amigo verá o que é possível doar. Seja o que for, estamos-lhe muito gratos pela simpatia e disponibilidade com que nos tem acolhido. De nossa parte, queremos responder com as mesmas atitudes e, dentro das nossas limitações, estaremos sempre ao vosso dispor.

Também quero informar que, na perspetiva de uma visita a Boebau e à Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem”, o mau estado do caminho exige esforço e coragem para fazer esta viagem. Por isso, estaremos à vossa disposição para combinarmos bem essa visita e podermos ser úteis.

Qualquer contacto pode ser através do 966509086 (whatsapp) ou do nº 76083728

Com elevada estima e consideração

Prof. Rui Chamusco

03.04.2023, segunda feira - Carta ao Diretor da Educação Municipal de Liquiçá


Exmo. Senhor Diretor
Educação Escolar Municipal de Liquiçá
Dr. Carlos Lopes

Os nossos melhores cumprimentos.

A Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem”, ESFA, em Boebau/Manati vem por este meio informar Vossa Excelência da frequência de alunos do 1º ciclo ao longo dos últimos 4 anos.

Assim, em 2020 frequentaram 34 alunos (1.º ano); em 2021 frequentaram 40 alunos (1.º e 2.º anos); em 2022 frequentaram 49 alunos (1.º, 2.º e 3.º anos); em 2023 frequentam 59 alunos (1.º, 2.º, 3.º e 4.º anos).

Informamos também que todos estes alunos não tiveram o apoio da merenda escolar durante todos estes anos, pelo que solicitamos ao Senhor Diretor da Educação se digne proceder às diligências necessárias para que tal aconteça.

Gratos por toda a ajuda e colaboração que nos possa dispensar, subscrevemo-nos, com consideração

Boebau, 01 de Abril de 2023

P’la ESFA
João Moniz de Oliveira Sobral
Rui Manuel Fernandes Chamusco

05.04.2023, quarta feira - E esta, hein?!...


O Eustáquio, quando não tem, inventa. E vem isto a propósito de sabonete que encontrei barrado na parede em tosco na casa de banho, e que me chamou de imediato a atenção. Fui perguntar ao Eustáquio para que era aquilo. E, maravilhem-se com a explicação. “Como não chego atrás para lavar as costas, então colei sabonete na parede e esfrego as costas na parede”. E exemplificava com o corpo como fazia o esfreganço. “Eu inventa... e pronto!”

Tentei convenvê-lo a comprar uma escova de cabo comprido que existem para esse efeito, mas ele prontamente respondeu: “Não precisa...” É isto, gente desenrascada.

E se fôssemos nós a resolver esta necessidade, o que faríamos? Corríamos para o supermercado, escolhíamos a escova mais macia, pagávamos fosse o que fosse e satisfazíamos prazenterosos a coceira que nos afligia. 

Pois é! A necessidade aguça o engenho. No poupar está o ganho. Quem não tem cão caça com gato. Mas, que nos faz pensar duas vezes sobre a satisfação das nossas precisões, lá isso faz.

06.04.2023, quinta feira - Orçamento para a cozinha escolar.

Chegou aqui há momentos o Eustáquio com uma folha aonde consta a previsão de gastos para a construção da cozinha escolar - uma exgência da direção escolar municipal de Liquiçá.

Material

Qt

Preço      Unidade

Total Unidade

Total estimado

  Ferro U

16

9.50

152,00

 

Barras de Derro 8x4cm

    3

         13,00

39,00

 

  Ferro 4x6cm

10

9,00

90,00

 

  Zinco 0.45

6

22,50

135,00

 

  Blocos

400

0,50

200,00

 

  Sacos de cimento

  30

5,50

160,00

 

  Areia

    3

80,00

240,00

 

  Pedras

    3

80,00

240,00

 

  Rede metálica 1x2m

    5

12,00

60,00

 

  Parafusos de Ferro U

    4

6,00

24,00

 

  Parafusos de Zinco

    4

6,00

24,00

 

  Eletrodos

    1

12,00

12,00

 

  Transporte dos materiais

    1

140,00

140,00

 

  Transporte blocos e sacos

    2

140,00

280,00

 

  Mão de obra

.......

......................

.....................

 

                                                          Valor estimativo:

2.790,00

3.000,00


06.04.2023, quinta feira - Votos de Boas Festas

É Primavera com certeza! É Páscoa! É Ressurreição!

Que estes sinais da vida que se renova sejam os meus e os votos da Astil de Boas Festas de Páscoa para todos os sócios e amigos.

Desde Timor Leste, terra do sol nascente (Loro sa’e) um forte abraço.

(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos / subtítulos: LG)

(Continua)
___________

Nota do editor:

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24466: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4.ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos). Parte III: 1 e 2 de abril de 2023


Timor Leste > Posição relativa de Boebau e da Escola de São Francisco de Assis, nas montanhas de Liquiç
á. Liquiçá é a sede do munícipio, com cerca de 20 mil habitantes. Recorde-se que em Abril de 1999, na sequência da campanha de terror que antecedeu o referendo sobre a independência, mais de 200 pessoas foram mortas na igreja católica de Liquiçá, quando membros da milícia Besi Merah Putih, apoiados por soldados e polícias indonésias, atacaram a igreja. De Dili a Boebau, em plena montanha, são cerca de 50 km, que em viatura podem demorar a percorrer 4 ou 5 horas na época da monção...

Fotografia: página do Facebook da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (com a devdia vénia...)



1. Continuação da publicação de alguns excertos das crónicas que o  nosso amigo Rui Chamusco (professor de educação musical reformado, do Agrupamento de Escolas de Ribamar, Lourinhã, natural de Malcata, concelho de Sabugal, cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste) nos mandou, na sequència da sua 4º viagem àquele país lusófono, e no âmbito do projeto ". (Esteve lá já 4 vezes, em 2016, 2018, 2019 e agora em 2023, de março a maio; é juntamente com a família Sobral um dos grandes pilares deste projeto de solidariedade com o povo timorense.)


De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4.ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos)  (*)

Parte III - 1 e 2 de abril de 2023

01.04.2023, sábado - Cobras: receios, medos e preocupações

Logo de manhã, enquanto nos deleitávamos com as lindas paisagens que se avistam, aparece o Nico (Joanico) com uma ceira às costas carregando plantas de abacate para plantação. É então que ele conta: “quando ia pôr às costas vi uma 'somodo' (cobra venenosa) nestas plantas.”  De repente se desenvacilhou dela, evitando ser mordido.

Desta cobra já eu sabia que mora por aqui. Só que o Ti António Bahasa (com certeza por falar a língua dos indonésios) contou que agora aparecem cobras novas diferentes. Uma é toda branca, e a outra é vermellha no ventre e castanha no dorso. Ele a contar e a gente a arrepiar-se. Pelo sim e pelo não, vale mais estar atento e precaver-se, não vá algum bichinho deste fazer-nos uma visita. 

E porque será que todos temos alguma repugnância e algum receio de falar destas criaturas?

01.04, 2023, sábado - Lista de prioridades

Quase sempre que vimos à Boebau trazemos na mente de passar em revista a ESFA para ver o que faz falta e quais são as prioridades. Desta vez também não fugiu à regra.

E, vai daí, em reunião com as pessoas responsávéis, toca a anotar o que vimos e ouvimos:

(i) Construção da cozinha: é uma exigência da Direção Escolar Municipal para que seja prestado o apoio à merenda escolar dos quatro anos do 1.º ciclo. Vamos a ver aonde iremos buscar ajudas para isso.

(ii) Substituição de lâmpadas no edifício escolar (16) e na casa dos professores (4).

(iii) Substituição de vidro na sala São Francisco.

(iv) Pintura de metade da fachada da escola. A pintura das paredes e das colunas está muito desgastada. Falta implantar nesta gente hábitos de higiene que preservem mais estes bens.

(v) Elemento identificativo (pintura, recorte?) na parede lateral direita, com o dizer “ESCOLA SÃO FRANCISCO DE ASSIS”.

(vi) Construção de muro ao longo do caminho que suporte o desabamento de terras.

(vii) Substituição do triplex nas salas de aula.

Como vemos, há sempre coisas a fazer para a manutenção e conservação da ESFA. Que a vontade e os meios para tal não nos faltem, e que Deus não nos desampare.

Há que referir também que há uma lista de material escolar necessário mas que, felizmente, vai havendo pessoas e entidades que nos vão ajudando nestas necessidades

01.04.2023 - “Loro mono / Loro sa’e”

Vale a pena subir às montanhas, vale a pena vir a Boebau para contemplar esta luxuriante natureza, onde o astro rei se mostra com todo o seu esplendor. “Louvado meu Senhor pelo irmão sol que faz o dia e nos iluminas. Ele é belo e radiante com todo  seu esplendor. De Ti Altíssimo nos dá a imagem”. (Francisco de Assis)

O “loro mono” de ontem à chegada, estendendo-se e sumindo pelo vale até Atabai e pelas montanhas do ocidente, e o “loro sa’e” no dia seguinte, vindo dos lados do oriente. Impressionante o seu esplendor!... 

Entretanto, o dia que decorre com mais encontros, mais reuniões, com mais decisões. Tanta coisa há que fazer ainda!... Para já, e por exigência da direção geral, há que construir uma cozinha fora do edifício escolar, para preparar a “merenda”, oferta deste organismo. Vamos a isso, que alguém há-de ajudar!... 

Depois, a lista de material escolar necessário, pintura de espaços, frontespício lateral, muro de proteção de estrada, substituição de lâmpadas (quase todos fundidas), estantes e armários para arrumação de material, etc, etc... Há sempre coisas a fazer.

E, tal e qual como o sol, há mar e mar, há ir e voltar. Uma decisão de momento: vamos voltar para Dili. Ou seja, mais uma vez o caminho do calvário a percorrer. Eu até já nem sei se é melhor a subir ou a descer. O que importa é que tudo corra bem. 

Com a comitiva aumentada (Fátima mais as duas crianças) e alguns presentes de Boebau (aidilas de 5 Kg e feijão foré), bamboleando até Hepu onde fizemos uma pequena paragem para visitar esta grande família Galocho (mais de 20 pessoas) e entregar o saco de prendas que a madrinha Rosa Henriques enviou de New York para a afilhada Tessa. Um  oásis em meio da viagem!


01.04.2023, sábado - “Basok” ao jantar

Eu sei lá o que a gente come por aqui! Perguntaram-me se queria comer “Basolok”. 

  O que é isso?  − perguntei. 
− Comida da China  − diz a Adobe.

 Vamos experimentar. Soube-me bem? Soube. O que comi? Não sei. Tinha carne, que diziam ser de vaca mas também poderia ser de cão. É comer, fechar os olhos e saborear. O resto pouco importa. E só assim conseguiremos sobreviver, seja onde for, em qualquer parte de mundo. Como diz o ditado latino: “De gustibus non est disputantibus” (de gostos não se discute).


02.04.2023, domingo - Fé, cultura e religião

Hoje é Domingo de Ramos. Também em Timor, país de maioria católica, se vibra com as celebrações religiosas desta festividade. Já ontem se via muita gente com ramos de palmeira nas motos, pois tinham ido a apanhar os ramos para a procissão  dos ramos de amanhã. 

Acredito na fé de toda esta gente, mas dou comigo a pensar que há muita falta de esclarecimento, de “dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”. Eu sei que todos estes acontecimentos mobilizam e dão atividade a quem dispõe de muito tempo livre. E, na falta de melhor, é preferível fazer alguma coisa que não fazer nada. Mas, a mistura de valores e a confusão que daí vem, questionam-nos muitas vezes sobre os nossos comportamentos e os comportamentos dos outros. Fé ou fezada? Rituais religiosos ou folclore? Religião ou cerimónias?...

Com todo o respeito para quem acredita e pratica à risca tais atos, penso que há uma 
grande caminhada a fazer.

(Continua)

(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos / subtítulos: LG)

_____________

Nota do editor:

( *) Postes anteriores da série:

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24453: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4.ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos). Parte II: 23, 26 e 31 de março de 2023


Foto nº 1


Foto nº 2

Timor Leste > Fevereiro de 2018 >  Escola São Francisco de Assis (ESFA), em Boebau, Manati, Liquiçá, inaugurada em 19 de março de 2018. E os difíceis acessos a Boebau (na foto nº 2
, o Rui Chamusco teve de se apear da moto, ei-lo em segundo plano, à frente da moto e do condutor).  Sáo cerca de 50 km, de Dili até Boebau, na montanha, que podem demorar 4 a 5 horas, na época da monção.

Fotos  da página do Facebook da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (com a devdia vénia...)


Timor Leste > 20 de março de 2023 > Alunos e pessoal da Escola São Francisco de Assis (ESFA), em Boebau, Manati, Liquiçá. Envergam as camisolas recém-chegadas de Portugal.

Foto de Rui Chamusco, publicada em "Jornal Tornado - Jornal Global para a Lusofonia" > Uma escola luso-timorense esquecida nas montanhas de Timor-Leste, por J.T. Matebian, em Timor-Leste,  21 de março de 2023 (Com a devida vénia...)


Lourinhã > Praia da Areia Branca >  2 de dezembro de 2017 >  O
 Rui Chamusco e o Gaspar Sobral. 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

1. O nosso amigo  Rui Chamusco (que ainda não é membro da  Tabanca Grande),  professor de educação musical reformado, do Agrupamento de Escolas de Ribamar, Lourinhã, natural de Malcata, concelho de Sabugal, é cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste. 

A ASTIL conseguiu concretizar um dos seus  projetos, a construção da Escola São Francisco de Assis (ESFA), em Boebau, Manati, Liquiçá, Timor Leste ou Timor Loro Sa'e, a terra do sol nascente.

Este projeto nasceu de um conversa entre dois amigos, em 2015: Gaspar Sobral (timorense residente em Portugal, topógrafo, retornado de Angola, em 1975) e o Rui Chamusco. O Gaspar "manifestou-me o seu grande desejo de construir uma escola na terra dos seus ascendentes em Boebau, pois na visita que lhes fizera em 2000 verificara que havia muitas crianças sem escolaridade. De imediato, eu como professor aposentado e livre de obrigações, anui ao seu desejo, respondendo prontamente: 'conta comigo'  "(...)

Em fevereiro de 2016, o Rui e o Gaspar foram  a Timor Leste visitar a localidade de Boebau (município de Liquiçá) e avaliar as necessidades no terreno: 

"O Chefe de Suco informou-nos, através dos cadernos de registo, do número de crianças que aí viviam. Mais ou menos 400, das quais só 111 iam às escolas mais próximas. Por consulta presencial, o povo pediu que fosse construída uma escola. E assim fizemos."

A construção Escola São Francisco de Assis – Paz e Bem foi inteiramente financiada por fundos recolhos pela ASTIL (*). A organização e o funcionamento da ESFA continuam a ser assegurados pela ASTIL. 

Foi inaugurada em 19 de março de 2018 " com a presença de gente muito importante (Embaixador de Portugal, representante do Núncio Apostólico, Director da Escola Portuguesa de Díli, coordenador da Caixa Geral de Depósitos, Directora da Fundação Oriente, Director da Educação do Município de Liquiçá, Diretor da Polícia Municipal), e muitos amigos e povo de Boebau e Manati."... 

Mas ainda não tem um professor, português ou timorense,  destacado pelo ministério da educação:

(...) "Este ano frequentam a ESFA 88 crianças no ensino pré-escolar e primário. Com muito esforço a ASTIL de Portugal e a ASTILMB (Manati/Boebau) têm conseguido manter a escola em funcionamento, graças ao voluntariado de amigos portugueses e timorenses. 

As crianças que a frequentam são todas oriundas de famílias pobres, e por isso tudo é gratuito excepto o pagamento de ordenados aos professores. 

Ainda não temos professores portugueses ou timorenses destacados pelos ministérios de educação. Muitas promessas, muitos aplausos, mas nada de concreto que nos ajude a encontrar uma solução. Este é o nosso grande problema, que urge resolver. Disto depende a sustentabilidade da ESFA. Pedimos encarecidamente que nos ajudem. SOS! " (...)

(Declarações de Rui Chamusco ao"Jornal Tornado - Jornal Global para a Lusofonia" > Uma escola luso-timorense esquecida nas montanhas de Timor-Leste, por J.T. Matebian, em Timor-Leste 21 Março, 2023) (Com a devida vénia...)

Rui Chamusco, presidente da direção da ASTIL, voltou, depois da pandemia, a Timor Leste, agora pela 4ª vez, no passado dia 4 de março, para poder participar das cerimónias do 5.º aniversário da inauguração da escola e resolver problemas pandentes.

Do diário do Rui Chamusco, selecionámos, com a sua devida autorização, alguns excertos que nos falam não só deste projeto, tão acarinhado pela ASTIL (e a sua congénere timorense, a ASTILMB), como do quotidiano de Timor "Loro Sa'e", o país lusófono que fica mais longe de todos nós, fisicamente falando, mas não seguramente ao nível do carinho, da solidariedade e da amizade dos portugueses.


De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos) 

Parte II - 23, 26 e 31 de março de 2023


23.03.203, quinta feira - As receitas do Dr Eustáquio.

Já não é a primeira vez que escrevo sobre os conhecimentos que o Eustáquio (irmão

do Gaspar Sobral) revela nas mais diferentes áreas. A universidade da vida conferiu-lhe o grau de doutor, com toda a justiça. Sei que a casca do ailok, tomada em forma de chá, acalma as dores de barriga; sei que o chá de erva tira as dores de cabeça; sei que o chá feito da casca de ailok tira as dores de estômago. E eu sei lá quanta coisa mais jé aprendi com este doutor “Desenrasca”.

Desta vez, como o meu pé direito tem chamado a atenção devido às dores e ao inchaço que apresenta, o Eustáquio tentou logo aliviar-me deste fardo, e contou-me a seguinte história passada com ele.

Depois de 3 anos a viver nas montanhas devido a invasão dos indonésios, ele e a irmã Bene começaram a apresentar alguns sinais físicos preocupantes, talvez causados por carência alimentar, e que se traduzia em inchaço das pernas no seu caso, e inchaço de todo o corpo na irmã Bene. 

Da irmã tratou a mãe, conhecedora de muitos segredos da natureza, e que com plantas selecionadas tratou de aplicar inalações e plasmas de folhas, com resultados milagrosos. Quanto a ele, contou-me, em sonho lhe apareceu um velhinha que lhe disse: “vai encontrar as folhas de 'farinha borracha', 'hahy oan metan', 'trompeta'. Aquece-as no fogo e aplica-as nas pernas e pés inchados”. E assim fez. Com poucas aplicações os inchaços tinham desaparecido.

Como nestas coisas não tenho nada a perder, talvez até a ganhar, aceitei que fizesse o mesmo comigo. Depois de procurar as folhas das plantas referidas, fez a aplicação. Então não é que as dores e o inchaço estão quase desaparecidos!?

E esta, hein!...


26.03.2023, domingo  - Alif, meu amigo

Alif (Ali+f= Ali,  da parte do pai Alino, e f,  da parte da mãe Fátima) é o nome pelo qual, familiarmente, chamamos o Hermenegildo. Uma criança franzina que fraquentou a Escola São Francisco de Assis, em Boebau, e que agora está em Ailok Laran na casa da família Eustáquio (Painino). 

À Aurora (mulhar do Eustáquio) chama mãe, e a mim abô Rui. De manhã está em casa, e de tarde frequenta a escola pública São Mateus, aqui bem perto de nós. É quase sempre ele o mensageiro que me vem chamar para as refeições. Com dificuldade, vai aprendendo algumas palavras em português mas, como todas as crianças, deseja saber e falar muitas mais.

Hoje quando me veio chamar, fiquei estupefato com o seu português. “Abô Rui arroz come”. Para bom entendedor meia palavra basta. Qual gramática, qual quê?!

E eu a pensar, a língua portuguesa é a segunda língua oficial de Timor Leste. Mas quando é que estas crianças pobres terão acesso à sua aprendizagem? Escola Portuguesa de Dili, escolas Cafe nos diversos distritos (12). Tudo bem. E as outras ciranças que não têm o privilégio ou a sorte de as frequentar? Quantos Alif(s) não existem neste país?!


29.03.2023, quarta feira - Sem rede, sem comunicações

Acontece em todo o lado, mas aqui com alguma frequência. A internet deixa de funcionar, e então é uma desgraça. Parece que tudo pára, que o marasmo se instala e não se sabe o que fazer. Trabalhos online interrompidos, ligações impossíveis de fazer, músicas que se deixam de ouvir, e mais... e mais... As contingências do noso tempo, das novas tecnologias. 

Resta-nos ao menos podemos escrever e guardar o que escrevemos, o que já é muito bom. É a velha história do copo meio cheio de água. E, se a situação nos afeta individualmente, o que dizer das empresas que negoceiam online, das editoras de jornais, das escolas e universidades que dependem da informática? (...)


 (...) 
31.03.2023, sexta feira  - Contrariedades

O dia de hoje estava destinado para irmos à direção escolar de Liquiçá, e de lá seguirmos para Boebau, ao encontro solicitado pela ESFA. Azar doa azares! De Boebau informam-nos que tem chovido muito e que hoje o céu também está muito carregado. Sabendo do mau estado dos caminhos provocado pelas enchurradas, o Eustáquio achou por bem adiar a viagem. Iremos logo que houver condições. E vamos lá nós então desfazer o saco, à espera de melhores dias.

Sendo assim, vamos só até Liquiçá para serem assinados os papéis solicitados pela direção escolar, e conversarmos com o Dr. Carlos Lopes sobre a assistência à nossa escola.

31.03.2023, sexta feira  - E, de repente...

E, de repente, tudo muda. É assim a vida! O Eustáquio aparece de novo e ordena: “Tiu, prepara tudo para irmos a Boebau”. E lá fomos nós.

Em Liquiçá, houve uma paragem demorada para irmos à direção escolar entregar documentação; para ir a casa da prodessora Teresa carregar uma caixa de material escolar; para comprar três colchões destinados à casa dos professores; e para almoçar.

A seguir vem o caminho do calvário, com precalços e mais precalços, saltos e abanões que nos escangalham o corpo e afligem o olhar. Não fossem as belas paisagens e as gentes destas bandas que se desfazem em sorrisos abertos e nos cumprimentam à nossa passagem e tudo seria ainda mais difícil.

Mas pronto, depois de algumas horas para fazermos alguns quilómetros, eis-nos chegados sãos e salvos. Feitos os cumprimentos habituais e as arrumações, a Adobe preparou um bom petisco para a ceia, e toca a reunir e trabalhar. Foram tratados assuntos pendentes da ESFA e, devido ao cansaço, fomos descansar. Coube à comitiva (eu, o Eustáquio e a Adobe) estrear os colhões que, mesmo no chão, assentaram que nem uma luva. Uma noite plena de sons da natureza, de alguns receios, e de “pára-arranca” no sono. Amanhã há mais...

(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos: LG)
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segunda-feira, 3 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24446: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4.ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos). Parte I, 19 e 21 de março de 2023


Timor Leste > Escola São Francisco de Assis (ESFA), em Boebau, Manati, Liquiçá, inaugurada em 2018. Foto de cronologia da página do Facebook da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (com a devida vénia...)


1. O nosso amigo  Rui Chamusco, membro da antiga Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã, professor reformado, natural de Malcata, concelho de Sabugal, a viver na Lourinhã,  é cofundador e líder  da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste. 

A ASTIl conseguiu concretizar um dos seus projetos, a construção da Escola São Francisco de Assis (ESFA), em Boebau, Manati, Liquiçá, Timor Leste. A construção da ESFA foi inteiramente financiada por fundos recolhos pela ASTIL (*). Inaugurada há cinco anos, a organização e o funcionamento da ESFA continuam a ser assegurados pela ASTIL.

Rui Chamusco, presidente da direção da ASTIL, voltou, depois da pandemia, a Timor Leste, em 4 de março de 2023, para poder participar das cerimónias do 5.º aniversário da inauguração da escola e resolver problemas pendentes (Vd. aqui como surgiu o projeto da ESFA).

Do diário do Rui Chamusco, de volta às montanahs de Liquiçá, pela quarta vez,  selecionámos, com a sua devida autorização, alguns excertos que nos  falam não só deste projeto, tão acarinhado pela ASTIL, como do quotidiano de Timor Leste,  terra do sol nascente ("Loro sa'e"), o país lusófono que fica mais longe de todos nós, fisicamente falando, mas não seguramente ao nível do carinho e da amizade dos portugueses.

Em 5 de abril último, mandou-nos o "Pack 3 das Crónicas sobre Timor Leste" (cobrindo o período de 17 de março a 6 de abril de 2023), com a seguinte mensagem:

(...) Estimados sócios e amigos da Astil e do Projeto de Solidariedade em Timor Leste.

É com muita alegria que vos envio o pack 3 das Crónicas que vou escrevendo durante esta 4.ª estadia neste país irmão. Por elas podereis estar a par das minhas (nossas) andanças e afazeres em prol do projeto de solidariedade que todos abraçamos de alma e coração. Solicito a vossa paciência para suportar tantos relatos, que nem sempre estão bem descritos, e aceito todas as vossa correções e reparos.

Que a luz da Páscoa nos faça ver melhor toda a beleza que há no mundo e nos ajude a fazer deste mundo um mundo melhor.

Com estima e consideração por cada um de vós, aqui vai o meu grande abraço, na certeza de que vamos continuar unidos nesta tarefa e projeto de solidariedade.
Todo vosso, Rui Chamusco" (..:)


Lourinhã > Praia da Areia Branca >  2 de dezembro de 2017 > Almoço de um grupo de amigos de Timor Leste, no restaurante Foz: Rui Chamusco, o casal Sobral (Gaspar e Maria da Glória) (os très cofundadores da ASTIL), casal João Crisóstomo e Vilma, e casal Luís Graça e Alice Carneiro e ainda o nosso saudoso Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019). 

Na foto, o Rui Chamusco e o Gaspar Sobral. Foi o Eduardo quem apresentou o seu colega e amigo Rui Chamusco ao João Crisóstomo, ativista luso-americano  da causa da independência de Timor Leste.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos) 

Parte I - 17, 19 e 21 de março de 2023


17.03.2023, sexta-feira - Encontros imediatos / Visita surpesa

Instigado pelo amigo Ascenso (muito obrigado amigo pela tua impertinência), eu mais o Eustáquio fomos ao Hotel Timor, na tentativa de podermos encontrar e falar com a Dra. Paula Teixeira e os outros elementos da comitiva do ministério da educação de Portugal. 

(...) De expetativa em expetativa, de olhar em olhar íamos controlando as entradas, até um carro diplomático chegou à porta do hotel, com as ilustres +ersonagens. Rapidamente corri para a porta da entrada e pedi licença para cumprimentar a dra Paula Teixeira, que me reconheceu e me saudou com toda a simpatia que já lhe reconhecemos. 

Conhecedora já do nosso projeto e das dificuldades da Escola São Francisco de Assis em Boebau / Manati, foi esclarecendo os ilustres colegas do que se estava a passar. Mas, para grande surpresa e satisfação minha, outra personagem ilustre se aproximou, a Dra. Manuela Bairos, embaixadora de Portugal em Dili/Timor Leste, e que me identificou como o professor Rui Chamusco de quem já ouvira falar devido ao seu envolvimento no projeto de solidariedade “uma escola nas montanhas de Liquiçá, em Boebau / Manati”. 

Depois de uma saudação calorosa, perguntou-me de imediato:” Então é no Domingo a comemoração do 5º aniversário da Escola?!... Eu também vou...” Fiquei tão contente, que não cabia em mim. “É uma grande honra e uma enorme alegria que a Sra Embaixadora nos dá. Muito obrigado!."... E ficou logo combinada a viagem de Dili para Boebau no dia 19.(...)
 

19.03.2023, domingo - 5.º Aniversário da inauguração da Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem” (ESFA)

Chegou finalmente o dia da comemoração do 5.º aniversário da inauguração da ESFA.

Muita ansiedade, alguma preocupação sobre a viagem, grande azáfama em preparar o evento. À hora marcada, frente ao Hotel Timor, em Dili,  lá estamos nós (Eustáquio, Mário Louro, Mariana, Adobe, Monizia e eu) prontos para acolher a chegada da Sra. Embaixadora que, passados alguns minutos se fez presente. 


Depois das saudações, organizou-se o transporte até Liquiçá: Na picup da escola seguiram o motorista Eustáquio, os professores Mário Louro e Mariana Gomes, a Adobe e a Monízia; no carro da embaixada a senhora embaixadora Dra Manuela Bairos (condutora) e eu próprio. 

Em Liquiçá juntou-se à comitiva a prodessora Teresa Costa (coordenadora da Escola Cafe), a professora Cristina Breda, o senhor Dr. Carlos Lopes (diretor da educação distrital) e o senhor João (motorista da escola) que conduziu o terceiro veículo da comitiva.

A partir da escola Cafe de Liquiçá, começa a grande aventura do caminho até
 Boebau. Um percurso com muitos precalços, buracos e e mais buracos, pedras inesperadas, lamas escorregadias, curvas e contracurvas, subidas e descidas arrepiantes, pessoas e animais ocupando as vias já de si estreitas e perigosas. Um autêntico “cabo das tormentas”. Compensavam-nos as paisagens deslumbrantes que se estendiam por montes e vales. Valeu-nos a perícia dos motoristas, com destaque para o senhor João que nos safou de situações embaraçosas.

E por fim, chegamos a , a terra prometida. Uma grande emoção de aqui voltar. Ambiente de festa em frente da escola, com o povo e sobretudo as crianças com os rituais de acolhimento caracteríticos (danças, imposição dos tais, ramos de flores, palmas, beijos e abraços. Muita emoção e algumas lágrimas impossível de conter.

Depois, o ritual muito próprio desta região: oferta de areka, folha de malus e cal para mascar, ou tabaco para inalar. Seguem-se os discursos de boas vindas e os discursos dos convidados. Sobre a mesa, são colocados cocos que o Cesáreo foi colher e prepar e que saborosamente fomos consumindo. Ao som de músicas e canções cantaram-se os “parabéns”, cortou-see distribui-se o bolo. É uma satisfação enorme ver e ouvir estas crianças (e não só) cantar canções portuguesas: o malhão, as modinhas, viva a máusica, etc, etc... Cantam com a alma e o coração.

Depois do almoço, com ementa timorense à qual não faltou uma garrafa de vinho do Porto para o brinde, fzemos a visita à “casa dos professores” , que a Astil de Portugal patrocinou, donde se observam paisagens do outro mundo: montes de Ermera, ribeira de Laoeli, enxtensão do vale até Atabai já junto ao mar. Valeu a pena o esforço dispendido para aqui chegar. Como diz a professora Cristina,  “ isto enche-me a alma”.

De regresso à escola, já todo o mundo dançava. Mas foi sobretudo a dança das crianças que nos cativou e levou a associarmo-nos a elas (menos eu que ando coxo).

Depois foi a hora do adeus. Muita gratidão, muitos beijos e abraços, muitos “beija-
mãos” das crianças, e algumas lágrimas. Eu promenti que dentro em pouco vou voltar, e estarei uns dias com eles. Assim o farei.

E agora outra vez a amargura do caminho. Isto é mesmo para gente valente, que saiba suportar tanto baloiço, alguns arrepios, algum cansaço e outras contrariedades.

Mesmo assim, fomos brindados com a paisagem de uma cascata impressionante, que vertia as suas águas em queda até ao caminho por onde passamos. O restante caminho fez-se bem, até Aipêlo e até Dili.

 Junto ao Hotel Timor de novo, para agradecermos mais uma vez a visita da sra embaixadora Manuela Bairos e louvarmos a sua coragem e simpatia para connosco. 

“ No queremos a un hombre pregonero / Queremos a un hombre / Que se embarre connosotros / Que viva connosotros / Que bebe connosotros el vino en las tabernas. / Los otros no interessan / Los otros no interessan.” 

É de gente assim que nós precisamos. Bem haja,  Dra Manuela. Não iremos esquecer a sua presença e proximidade. Que São Francisco de Assis a proteja.


21.03.2023, terça feira - Estamos sempre a aprender, de surpresa em surpresa.

Ao percorrermos o trajeto de Ailok Laran para Dili, um percurso penível devido ao mau estado dos caminhos que mais parece a “via dolorosa”, o Eustáquio que tudo faz para evitar os saltos e sobressaltos, muda de direção pensando que o outro caminho seria melhor. Eis então quando, o caminho escolhido estava interrompido. “ Por quê não se pode passar?” perguntei eu. “Parece que há morto ou ‘barlak’ (festa de noivado)”. E vai daí, toca a virar à esquerda à procura de outra solução. 

Aqui é assim: interrompe-se a rua, a circulação, não sendo necessária qualquer autorização. E eu a pensar “se isto fosse em Portugal... Ai! Ai!"

Mais à frente, noutro cruzamento, havia um ferro espetado no chão com um pano
branco a servir de bandeira. 

− Que é isto, Eustáquio?

 Foi criança que morreu. Se é gente grande,  coloca pano preto.

Sempre a aprender, até morrer...

[Seleção / revisão e fixação de texto / negritos e itálicos: LG]
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