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terça-feira, 29 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13066: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (6): Pretendem atrofiar-me a memória?

Anúncio do sabão Lifebuoy, 1902.. Fonte:
Wikipedia. Imagem do domínio público.
1. Em mensagem do dia 18 de Abril de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil da CCAÇ 1422/BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, Pelundo e Bissau, 1965/67) enviou-nos mais uma Crónica Higiénica.

Desta feita para, com toda a legitimidade, deixar aqui a sua indignação face às afirmações reproduzidas no nosso blogue, pelo camarada Manuel Vitorino (jornalista e ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4518/73, Cancolim, 1973/74) que no mínimo tiram do sério qualquer ex-combatente que viu morrer a seu lado um companheiro de armas.
Por vezes, também nós editores, falo por mim, discordamos daquilo que nos aparece para publicação, mas é nossa obrigação manter distância e reagir, se for o caso, em local apropriado.


CRÓNICAS HIGIÉNICAS

6 - PRETENDEM ATROFIAR-ME A MEMÓRIA? Esqueçam

Até se me saltou a tampa, senão vejam bem, que no post 12955 aqui no n/blogue se afirma:

- "A MINHA COMPETIÇÃO FOI OUTRA"
- "A GUERRA DA GUINÉ SÓ PODIA SER GANHA PELO PAIGC"
- "...UMA COLUNA DE «TEMÍVEIS GUERRILHEIROS DO PAIGC ULTRAPASSOU O ARAME FARPADO E VEIO FRATERNALMENTE AO NOSSO ENCONTRO"

E EU? EU, que sei ler, comecei a ferver... a ferver... a ferver.

Mas muito calmamente, vamos lá ao contraditório:

- "COMPETIÇÃO" significa disputa.
E então o camarada estava a competir ou a lutar, cumprindo o seu dever enquanto militar integrado no Exército, que lhe ensinou e pagou, para defender a Pátria?

- "SÓ PODIA SER GANHA PELO PAIGC"
Não consigo chegar a tal conclusão, nem tão pouco a admito, embora a tenha ouvido já algumas vezes, e ouvido o contrário por muitas mais. Ou será que eu e os que pensamos que a guerra podia ser ganha por nós PORTUGUESES, somos heróis, e aqueles que pensam o contrário são cobardes?

Estou convencido que uns e outros coexistiram em quaisquer dos casos, mas só que os heróis, não renegam...
NÃO COMPETIAM MAS LUTARAM...
SOFRERAM...
VIRAM AMIGOS A DESAPARECER...
COMBATERAM POR SI E PELOS SEUS, PARA SE DEFENDEREM, que essa era a sua missão.

Mas aquela: "UMA COLUNA DE TEMÍVEIS GUERRILHEIROS, etc etc etc... fez-me rir e lastimar o autor destas opiniões que o sendo, mereceriam o meu desprezo mas que aqui postadas como afirmações sem nexo, apenas repudio com nojo.

Brincamos ou quê?

Provavelmente o autor deste post 12955 nunca ouviu falar do FUR.MIL Higino Arrozeiro, da minha CCAÇ 1422, que foi morto ali na estrada que liga K3 a Mansabá, por mina colocada pelos "temíveis guerrilheiros" como lhes chama e "com quem trocou a farda e os emblemas tal e qual como acontece nos jogos de futebol"
- Provavelmente o autor deste post 12955 nunca ouviu falar do Cap Corte Real, CMDT da minha CCAÇ 1422, morto ali na estrada que liga o K3 a Farim, por mina colocada pelos "temíveis guerrilheiros", como lhes chama, e "com quem trocou a farda e os emblemas, tal e qual como acontece nos jogos de futebol"
- Provavelmente o autor deste post 12955 nunca ouviu falar daqueles sete infelizes, incluindo três majores, bárbaramente assassinados e que pacificamente, desarmados, iam para um encontro pretensamente amigável com os "temíveis guerrilheiros" e que foram liquidados a sangue frio e à catanada pelos mesmos "temíveis guerrilheiros, como lhes chama e com quem trocou a farda e o emblema, tal e qual como acontece nos jogos de futebol"

É EM SITUAÇÕES DESTAS que lastimo ser educado e não saber escrever asneirame, pois que me apetece mesmo espetar aqui meia dúzia daquelas do mais ordinário que sei. 
Fiel aos meus princípios, não o farei mas... Espero que o autor deste post 12955, que esteve a beber cervejas talvez até com os causadores dos assassinatos que atrás menciono, e de tantos mais outros amigos e por quem choro cada dia, pois que o autor, repito, medite... e que a luz o ilumine. 

Chega de dor... chega de gozarem com a tropa... chega de provocações.

Veríssimo Ferreira
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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12844: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (5): Contrastes e coincidências

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12961: Fotos à procura... de uma legenda (27): Oh Elvas, oh Elvas, Badajoz à vista!... (Parte I) (Luís Graça)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 663 > Aqueduto da Amoreira (1)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 441 Aqueduto da Amoreira (2)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 444 > Aqueduto da Amoreira (3)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 445 Aqueduto da Amoreira (4)


Aqueduto da Amoreira:

(i) Desde sempre a população de Elvas teve problemas com o abastecimento de água; a sua posição estratégica no alto de uma colina levou a que desde a ocupação islâmica os elvenses sobrevivessem através de poços situados intra-muros e de fontes nas redondezas que em caso de guerra se tornavam inacessíveis;

(ii) com o aumento populacional a situação tornou-se gravíssima durante a segunda metade do séc. XV. É em 1498 que os procuradores de Elvas pedem a D. Manuel I que lhe resolva o problema; seria então lançado na povoação o imposto do Real d’Água que recaía sobre bens de consumo para futuramente ser construído um aqueduto; a obra seria monumental e dirigida por Francisco de Arruda já no séc. XVI, que ao mesmo tempo trabalhava também na futura Sé da cidade;

(iii) as despesas enormes da construção fizeram com que ela pouco avançasse até 1537; a obra só estaria pronta em 1622 quando a água começou a correr na Fonte da Misericórdia; nos anos seguintes as obras de manutenção ao nível dos contrafortes aumentou o custo já por si enorme da construção;

(iv) O Aqueduto da Amoreira é um verdadeiro ex-libris da cidade (....):; trata-se de uma obra gigantesca que se desenvolve desde a nascente principal em galerias subterrâneas numa extensão de 1367 metros e depois ao nível do terreno e em arcadas por mais de cinco quilómetros e meio que chegam a superar os 30 metros de altura. (Fonte: Adpat. do sítio CM Elvas > Turismo > Lociais a visitar > Património civil) (com a devida vénia).


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 468 > Antiga Sé Catedral  e praça da República


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 497 > A praça da República, vista da antiga Sé Catedral.


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 599 > A belo calçada portuguesa da praça da República



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 487 > Antiga Sé Catredral > O magnífico  silhar de azulejo policromo  do séc.XVII



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 468 > Antiga Sé Catedral 


Antiga Sé Catedral, hoje Igreja de N.Sra. Assunção


(i) A construção da então igreja de Nossa Senhora da Praça foi principiada em 1517 segundo o traço do arquitecto régio Francisco de Arruda que trabalhava ao mesmo tempo no Aqueduto da Amoreira;

(ii) o espaço ocupado pela nova igreja tinha-se erguido até então a igreja de Santa Maria dos Açougues; a nova igreja abriu ao culto finalmente em 1537 mas tendo continuado as obras até final do século sob a direcção do mestre pedreiro Diogo Mendes;

(iii) a mestria de Francisco de Arruda fez com que fosse possível a construção de um majestoso edifício com um carácter fortificado e uma torre como fachada; Francisco de Arruda teve ainda a ajuda de outros mestres (...);

(iv) em 1570 com a criação do bispado de Elvas pelo Papa Pio V, a igreja de Nossa Senhora da Praça transformou-se na Sé de Elvas, título que viria a perder em 1881;

(v)  em termos artísticos a Sé de Elvas é um templo originalmente manuelino mas que perdeu alguma desta traça durante os séculos após alterações mandadas fazer nele pelos bispos da cidade; são de salientar no exterior o seu portal neoclássico e os portais laterais manuelinos; no interior, em redor de todo o corpo da igreja corre um silhar de azulejo policromo mandado ali colocar no início do séc. XVII pelo Bispo de Elvas D. António de Matos de Noronha; a capela-mor, mandada construir em 1734, é da autoria de José Francisco de Abreu em mármore de várias cores e em estilo barroco;

(vi) uma palavra como não poderia deixar de ser para o soberbo órgão situado no coro-alto mandado elaborar pelo bispo D. Lourenço de Lencastre em 1762 ao organeiro italiano Pasqual Caetano Oldovino que o completa em 1777. 

(Fonte: Adapt do sítio CM Elvas > Turismo > Locais a visitar > Património religioso) [Com a devida vénia].


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 599 >  




Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 513 > Igreja do antigo convento das domínicas... A sub iddae à sua torre sineira é obrigatória...  Um dos melhores miradouros das cidade...



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 533 > Um dos sinos da torre sineira da igreja das domínicas...



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 523 > Pormenor do centro histórico da cidade, vista da torre sineira da igreja das domínicas...


Igreja das Domínicas

(i) Antigo convento feminino da Ordem Dominicana fundado em 1528;

(ii) a igreja que hoje observamos foi principiada em 1543, tendo as obras terminado em 1557 no local onde outrora se situava a Igreja da Madalena;

(iii) é um edifício de rara planta octogonal com um pórtico renascentista e um interior completamente revestido a azulejos;

(iv) a talha dourada dos altares é obra do final do séc. XVII;

(v) Com a  extinção das ordens religiosas em 1834, levou ao o abandono do convento que no entanto viria a durar até 1870, altura em que falece a sua última freira Ana Inácia de Gusmão;

(vi) No início do séc. XX é decidida a demolição do convento, excepto da igreja; no seu lugar foram construídos um cine-teatro, casas particulares e uma escola primária; 

(vi) Da sua torre sineira tem-se uma vista magnífica sobre Elvas e redondezas.

(Fonte: Adapt do sítio CM Elvas > Turismo > Locais a visitar > Património religioso) [Com a devida vénia].


Fotos (e legtendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Pois, claro, que "as fotos á procura de legenda"... que publicámos no poste anterior (*), só podiam ser de Elvas, a "raínha da fronteira!... A bela cidade raiana do alto Alentejo, rica de história e património (civil, religioso e militar), tem hoje cerca de 16 mil habitantes.

Foi considerada a cidade mais fortificada da Europa. Orgulha-se de possuir o maior conjunto de fortificações abaluartadas do mundo. As muralhas de Elvas, em conjunto com o centro histórico da cidade,  são Património Mundial da Humanidade, de acordo com a classificação da UNESCO em 30/6/2012.

No tempo do escudo e da peseto, do Salazar e do Franco, Elvas eram apenas uma porta de entrada em Espanha (e na Europa) por Badajoz...Tempos duros, de repressão, de guerra civil espanhola (1936-1939), de contrabando, de emigração clandestina (anos 60/70,), de serviço militar obrigatório... Alguns de nós, como o Hernrique Cerqueira, passaram, por lá (BC 8)...

Passei por lá, mas desta vez com olhos de ver... Não é uma cidade para ... mancos!... Quando lá fui ainda não tinha a "anca nova"...Deixo aqui algumas fotos dessa visita "turístico"...

No passado, a caminho do "estrangeiro de fora", passei por lá, a correr, como cão por vinha vindimada... Era no tempo em que os portugueses, pobretes nas alegertes,  pouco ou nenhum valor davam a si próprios, à sua história e ao seu património cultural...E de Elvas sabíam o refrão da canção "A minha cidade", do elvense Paço Bandeira (n. 1945) e nosso camarada (fez o serviço militar em Angola, como 1º cabo trms inf, CCS/BCAÇ 1903, 1967/69, segundo li algures na Net):

(...) Ó Elvas, ó Elvas
Badajoz à vista.
Sou contrabandista
De amor e saudade,
Transporto no peito
A minha cidade,
A minha cidade,
A minha cidade, (...)


Excertos de comentários ao último poste da série, organizados por ordem lógica e  cronológica (*)

Veríssimo Ferreira:;

(...) Sobre as fotos, sei mas não digo, para que a rapaziada descubra. Talvez todavia e plagiando se possa dizer para a 1ª "tocam os sinos na torre da igreja". (...)

Henrique Cerqueira:

(...) Quanto ás fotos em busca de legenda: Pois a verdade é que mais uma vez são fotos de grande qualidade e a fortificação que se vê ao fundo tanto pode ser no Alentejo como no Alto Minho. Em fortificações o nosso país é tão rico que de repente eu dou comigo a pensar que nos habituamos tanto a essas belezas arquitetónicas que nem reparamos devidamente nelas.

Bom, mas não serve de desculpa e vê lá se dás uma dicazinha. (...)

Luís Graça:

(...) Obrigado, Veríssimo, obrigado, Henrique...  O Veríssimo, que joga em casa, já descobriu. Não é difícil... A terra tem sido. até agora, uma daquelas de "passagem" onde a gente nunca para(va)... Há agora motivos de sobra para a gente a redescobrir e saborear, com tempo e vagar... Toda ela é amuralhada... E hoje é motivo de orgulho para todos os portugueses., pelo seu pattrimónio edificado...

Sim, a arquitetura militar (no caso do forte...) não é medieval...

Mais dicas para o Henrique: fica naquela parte do país que tem mais de um terço do território (é equivalente à Guiné) e pouco mais de 7% da população...

Não te vou dizer o nome da igreja... Subi à torre sineira, a coxear de uma perna, para tirar estas e outras fotos... Justamente a pensar em camaradas, como tu, que por lá passaram, no tempo da tropa, há manga de tempo...

Henrique, também estás a jogar em casa, que eu sei!... Só me falta dizer o nome da terra, pá! (...)

Manuel Joaquim:

(...) Quanto às fotos, conheço bem o sítio: "Ó El... ó El..., ...oz à vista!" ... A foto dos sinos da Igreja de Nossa Senhora da Assunção (Sé) recorda-me que alguém "cá de casa" foi responsável por obras de conservação e restauro realizadas no seu interior há poucos anos atrás, altura que aproveitei para visitar a cidade. (...)

Henrique Cerqueira:

(...) Luís Graça: É imperdoável da minha parte não ter identificado de imediato a localidade e qual o campanário que utilizaste para tirar as fotos.

É claro que foi na Cidade de Elvas e na Igreja da Nossa Senhora da Assunção.

Na verdade eu estive no BC8 em Elvas e também é verdade que quando lá estive eu via a cidade com outros olhos que não hoje em dia. Passados muitos anos, voltei a Elvas e fui visitar com a família essa igreja e lembro-me de ter subido umas escadas apertadas até ao campanário para admirar as vistas que são maravilhosas.

Também nunca tinha visto a fortificação de Elvas do mesmo modo que a vejo agora e até tive de me socorrer do Google para melhor compreender as imagens.

Bom um grande abraço e continuação das tuas melhoras e espero que quando coxeavas ao subir a torre sineira não nos chamasses muitos nomes feios. (...)

domingo, 16 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12844: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (5): Contrastes e coincidências

Anúncio do sabão Lifebuoy, 1902.. Fonte:
Wikipedia. Imagem do domínio público.


1. Em mensagem do dia 12 de Março de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil da CCAÇ 1422/BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, Pelundo e Bissau, 1965/67) enviou-nos a sua habitual Crónica  Higiénica para publicação.






CRÓNICAS HIGIÉNICAS

5 - CONTRASTES E COINCIDÊNCIAS

P12790
Numa foto está escrito: "três mil soldados para uma piscina".
Claro que fiquei a pensar: Em Bafatá? Paraíso para onde só alguns iam combater... a boa comida... o sossego... o cinema? Mas como três mil? Não será exagero... tanta gente a descansar, ou melhor 12% então, de toda a população militar da Guiné concentrada num só local?

Alembrei-me do tempo que andei lá nos matos (Agosto/65,Julho/66) e da forma primitiva como vivemos, em Bissorã, Mansabá, Manhau, K3, Biribão e respondido a emboscadas várias nas matas, nos caminhos e até no próprio aquartelamento, valendo-nos nessa altura, a artilharia de Farim.

E que bom teria sido se tivéssemos, nós os 150 da CCAÇ 1422 nem que fosse um tanque de lavar roupa, para não termos de ir ao rio gastar granadas para afugentar os crocodilos e banhar-nos em meia-hora, que depois eles voltavam.

P12787
Aqui o contraste... o horror e não a piscina. Esta foi a guerra que conheci.

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"Meus amigos", tal como diz a canção "A ternura dos 40"... "o importante é o sorriso".
Façam-no, descontraiam, recordem, sintam saudades, que isso sim é sinal de que ainda estamos vivos, sentimos, amamos e sofremos. E nem se preocupem se o dinheiro chega e se os impostos vão aumentar. Preocupemo-nos sim com o próximo jogo de futebol qu'o resto nada vale.

E como diz o PR, vamos demorar 21 anos a ser novamente PORTUGAL. Não comento ladrões, que roubam para sustentar a mulher estrabeculosa e os filhos que não comem o suficiente nas cantinas escolares, não comento políticos, nem futebóis, mas comento, por me dizer respeito, esta questão do 21.

É que, vejam bem a perseguição: nasci a 21, casei a 21, cheguei à nossa Guiné a 21, sai de lá a 21 e agora mais o 21 para finalmente deixar a pata protectora das gentes boas que desinteressadamente nos ajudam a pagar mais impostos... nos retiram subsídios.... Sensibilizado me sinto por termos tão bons dirigentes... confesso, pois que se em vez de 21 fossem 22, estragavam-me a mnemónica.

Mais do que tudo até lhes agradeço... pois que me fazem lembrar o tempo que andei de G3 com bipé, capacete na tola, quatro ou cinco cartucheiras cheias no cinto, cantil com whisky Vat 69, três ou quatro granadas de morteiro 60 no torso, mais duas ou três defensivas nos bolsos do camuflado. Mas sei que valeu a pena ter combatido para a construção dum Mundo melhor... ah pois valeu, e como gostaria de voltar aos meus vinte e pouco anos, talvez não os deixasse gozarem assim tanto com o povo que tanto defendem, mas aporcalham porque sabem que já não há revoluções que lhes façam frente.

Mas também morrem e que a morte seja, antes, cheia de sofrimento idêntico ao que estão a provocar. Nesse dia e se calhar até invocarão os Deuses, cujas teorias desrespeitam.

P12817
Caro camarada d'armas, permite-me que te cumprimente pelo desassombro.
Há verdades incómodas para alguns, mas mal de nós se tivermos de desistir ou de pôr por escrito o que sabemos. "Ver para crer" foi dantes e perdoar até será uma coisa boa, mas a verdade é que os crimes ainda não esqueceram e como tal ainda não prescreveram.

Há camaradas brancos e bloguistas que ficaram instalados na Guiné após a "descolonização exemplar" e que por força das pressões posteriores dos mandantes, a tiveram que abandonar devido a perseguições e ameaças. Também o mesmo aconteceu com Angola e deixemo-nos de ser ingénuos.
A que chamarão a isso os puristas? Não foi racismo? E quando a UPA começou a matar brancos em Angola (1961) não foi racismo?

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Hoje 11 de Março e para dar continuidade a essa treta da fisioterapia, enquanto esperava lendo o que já havia lido, fui ouvindo um senhor que procurava estabelecer diálogo, fosse com quem fosse e ali estivesse a aguardar a sua vez e até com quem de novo chegasse.

Olhei-o, vi que precisava de alguém para desabafar e decidi sentar-me ao seu lado. Esteve em Madina do Boé, algum tempo em Nova Lamego, fez um mês de férias em Bissau, foi aos bairros pobres e durante o dia, ouvir a música... ver os pretinhos a dançar e só não se atreveu a ir de noite, pois que se dizia ser perigoso.
Fez a especialidade em Tavira, na mesma altura que eu... foi para Lamego na mesma altura que eu... foi no Niassa... no mesmo dia que eu...
Dói-lhe o corpo todo e gostaria de voltar a ser novo... tal como eu.

Chamaram-me para as massagens... e eu não fui.
Chamaram-no... e ele foi.

Nada falei... apenas ouvi e prometi que na 5.ª feira cá estaremos de novo.
Nem nos "apresentámos"...nem fiquei a saber o seu nome. Vim para casa tremendo e a pensar que afinal estamos mesmo sem ninguém que nos oiça.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12813: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (4): Semanas para esquecer

domingo, 9 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12813: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (4): Semanas para esquecer

Anúncio do sabão Lifebuoy, 1902.. Fonte:
Wikipedia. Imagem do domínio público.


1. Em mensagem do dia 4 de Março de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, Pelundo e Bissau, 1965/67) enviou-nos a sua habitual Crónica (semanal) Higiénica para publicação.





CRÓNICAS HIGIÉNICAS

4 - SEMANAS PARA ESQUECER

As duas últimas foram tramadas: amigos que nos deixaram sem mais nem ontem e que me fizeram pensar quão mais bera devo ser, considerando o dito "só morrem os bons".
PAZ LÁ ONDE ESTEJAM.

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Mas o blogue continuou cheio de adesões, pleno de colaborações, muitas fotos e mais histórias vividas.

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E no P12733, "O que fazer deste blogue", é sugerida uma ideia no sentido de criarmos algo para que possamos usufruir os merecidos cuidados que nunca tivemos por parte dos governantes cá da terra e até colaborar para que não continuemos esquecidos. Mas... e há sempre a porra dum "mas" eu disposto que estou a entrar nessa, devo contudo lembrar, que já muitas petições foram feitas não só por parte das Ligas... das Associações... dos blogues dos Combatentes, e também individualmente, por centenas, entre os quais me incluo e hoje mesmo 1 de Março, até protestamos ao vivo.

Será talvez, através da alteração do voto, que alguma coisa se conseguirá, considerando que botar o "X" nos habituais não tem resultado apesar de que quem o fez, o fez por acreditar no que dizem os seus mentores mentirosos compulsivos. Nanja eu que até democrata sou e aceito os resultados expressos nas urnas, mas desde que o Sporting deu aquela abada dos sete a um, ao Benfica, deixei-me de politiquices e de futebol e só me tenho dado bem.
Até esse dia fui adepto de vários partidos (nunca militante)... aos dezasseis aninhos era da esquerda, com todos os pobrezinhos que trabalhávamos lá na moagem da minha terra e em 1967, após o regresso vivo da nossa Guiné, até delegado sindical dos Bancários me atrevi a ser e continuei, apesar de me terem avisado:
- É pá se queres "subir" na vida, deixa-te disso agora... espera mais seis anos... aguarda pelo vinte e cinco do quatro de 1974, que aí sim valerá a pena. Vão haver "ocupações", os patrões deixarão de o ser, a Banca será nacionalizada e então sim: "quem tiver olho é rei".

E estava certo sim senhor, não totalmente pois que apesar de tudo, subi o que havia de subir, o que prova que os, trabalho e honradez, também tinham algum valor. Mas lá que vivi em liberdade, vivi sim senhor e durante catorze anos seguidos, mais propriamente, trabalhei na Avenida da Liberdade, junto aos Restauradores, como "caixa" do meu Banco e até fui considerado o melhor de todos, podem crer.

Aceito a democracia (que remédio...) mas aceito melhor a Fisioterapia. Nesta, passam-me a mão pelo lombo e as dores vão passando, naquela passam-me a mão pela carteira e dói... dói... dói cada vez mais. Penso até que nunca mais haverá lenitivo que resolva a situação. Daí que e como atrás digo, penso não valer a pena continuarmos a querer que nos olhem doutra forma, pois que eles mesmos (os deputados) têm plena consciência de quem somos, do que nos é devido e o que ambicionamos. Só que essas boas gentes decerto... filhos e enteados doutros que já por lá estiveram e se reformaram no máximo com doze anos de trabalho insano e também os das juventudes partidárias, não querem que existamos e em boa verdade, dentro de quinze ou vinte anos NÃO HAVERÁ MAIS COMBATENTES menos tempo do que Portugal pagará as dívidas contraídas por eles e os seus partidos.

Soluções em vez de críticas? Claro que as tenho, mesmo analfabruto que sou, mas os poderes oligárquicos que são, não aceitarão... era só o que faltava.
Olhando para aqueles excelentíssimos que fazem leis a seu favor, não vejo lá ninguém que nos represente. E então porque não poderá haver pelo menos um antigo Combatente no para lamento Parlamento? Em boa verdade há lá um, qu'até esteve na Guiné, mas as atitudes que tem tomado, mais parece ser contra nós.

Repito a ideia, que a coisa só se resolverá, com consciência de votar em quem mereça. Anarquia por anarquia... mentira por mentira... mais vale dar um pontapé nos fundilhos de quem muito nos tem prometido e melhor humilhado.
Tenho dito.

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Guiné > Bissorã > 1969: Quartel utilizado pela CCAÇ 13, localizado no centro de Bissorã 
Foto: © Carlos Fortunato (2005)

P12774: O Henrique Cerqueira, que pisou a Bissorã por onde passei uma semana e deixei pacificada, fala-nos daquela pequena dificuldade no atravessamento da fronteira. Também nós tínhamos uma, a d'Elvas, e aquilo era igual. Por isso fizémos outra em terra batida, em Sto. António das Areias, ali perto de Marvão e aquilo era sempre a aviar. Portugueses para lá, Espanhóis para cá e toda a gente sabia como fazer.
Quantas pastas de dentes Colgate bem como Whiskye "Dyc", "caraméis" licores, perfumes o que mais pudéssemos por ali passaram. Havia mais ou menos um acordo entre as autoridades dos dois países, para não chatearem e cumpriam.

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P12763: Esfalfou-se este marmelo a escrever para quê? Ó pá se queres um conselho... desiste. Vá lá vá... que mesmo assim tiveste um comentário, o que significa que ainda tens um leitor (decerto teu amigo... só pode) e a melhor forma de lhe agradeceres é... não mais o incomodares.
Vai por mim... enrola a caneta no saco e dedica-te à pesca. Vai pró teu monte... vai

Veríssimo Ferreira,
Fur. Mil. da CCAÇ 1422,
Guiné 65/67,
Mansabá, Pelundo, K3, Bissau.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12789: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (3): Esquecer? Nunca

segunda-feira, 3 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12789: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (3): Esquecer? Nunca

Anúncio do sabão Lifebuoy, 1902.. Fonte:
Wikipedia. Imagem do domínio público.


1. Em mensagem do dia 24 de Fevereiro de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3 e Bissau, 1965/67) enviou-nos a segunda Crónica Higiénica para publicação.





CRÓNICAS HIGIÉNICAS

3 - ESQUECER? NUNCA

Post 12694 do nosso Blogue

Guiné-Bissau > Região do Oio > Mansabá > Dia nº 12 da viagem > 16 de abril de 2006 > Mullher com 2 dentes de ouro...
Foto (e legenda): © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados.

Pois eu estou nos 82% dos que não voltaram à nossa Guiné e dos 83 que gostariam de voltar, mas calma que ainda não é tarde.
Deve ser uma emoção das grandes reviver os locais por onde andei bem como grande será a tristeza ao lembrar-me, dos amigos que deixaram de estar comigo, assassinados que foram por terroristas bárbaros e cruéis. Terroristas bárbaros e cruéis sim, e se dúvidas houvessem, basta que leiam o que se passou naquele conselho de guerra, como lhe chamaram os facínoras que o subscreveram e que tão bem está documentado no P12704 - O massacre do chão manjaco. (Transcrição do nosso camarada Jorge Picado, que em boa hora descobriu esta preciosidade) e espreitem também o P12732.

Afinal e infelizmente estávamos certos alguns de nós, quando denunciávamos o que seriam os amílcares do PAIGC e que tão bem foram recebidos em Portugal, com casa, água e lavadeira privadas, pagas pelo Estado, ou seja por nós os que nada recebemos, nem um pouco de consideração e até combatemos pelo País. E não me venha com as tretas costumadas... que não sabiam, etc., etc.
E para aqueles que ainda acreditavam na bondade dessa gente, vejam o horror que aconteceu com os nossos camaradas apunhalados e cortados com catanas... a sangue frio ali entre o Pelundo e Jolmete, para onde foram de boa fé e desarmados.
Este triste episódio demonstra àqueles que ainda tinham dúvidas, que cobardes combatemos. Guerra será sempre guerra de matas ou morres, mas isto premeditado que foi, é mais que selvajaria e bestialidade.

Continuo é sem perceber, mas lá chegarei, do porquê de termos dado asilo a monstros destes em vez de os termos aprisionado e colocado perante a justiça. Dos presentes naquela reunião, em Conacry, pelo menos um morreu da mesma forma como aplaudiu a dos nossos.
Ao que se diz e enquanto PR, usou do mesmo banho de sangue, até com os seus correligionários

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Tavira, Quartel da Atalaia > 2014 > Edifício onde esteve instalado o CISMI, até ser desactivado em 31/12/1975 
© Luís Graça (2014)

TAVIRA tem merecido (aqui no nosso Blogue) justas e merecidas homenagens, sejam escritas ou em fotos e também alguns comentários negativos contra a preparação militar de quem por ali passou e não gostou.
Para estes últimos sempre digo e não haveria necessidade de o fazer, que tudo fazia parte dum processo para preparar homens, como atiradores de Infantaria, que vieram a ser. Sem essas duríssimas etapas, física e mental, talvez não tivéssemos aguentado aquilo por que passámos lá na nossa Guiné. E sei do que falo, pois que também ajudei a treinar quatro pelotões, um de cada vez dado que só saí da Metrópole já com 21 meses e tudo o que havia de ser feito foi-o de maneira a não prejudicar ninguém mas "explorando" os limites humanamente exigíveis para que pudessem sobreviver às duras missões que se avizinhavam.

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Lamego
Foto: Pais&Filhos, com a devida vénia

E vai daí e pois tal como a Tavira, também Mafra, Lamego e Tancos, locais onde aprendi a arte da guerra, são por mim visitados regularmente e sempre com agrado, bem como Abrantes e Tomar, onde partilhei tal aprendizagem. Ontem mesmo almocei no Ti Chico, restaurante que serve o melhor peixe fresco e mantendo-me cá por baixo neste Reino dos Algarves, ali voltarei ainda esta semana, e com a conta não me preocupo que a despesa para mim e para uma das minhas "espósias" é sempre 17 euros, quer coma também pudim flin ou mousse ainda mornos, feitos diariamente... quer beba ou não aguardente de medronho (qu'o whikey "cá tem").

E se mais não for, passarei e espreitarei pela janela do quartel, onde do outro lado dormia.
E podem crer que saio revigorado desta visita da saudade.

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P12737 sobre as opiniões de altos membros das Forças Armadas.
Aqui não percebo a dúvida existente. Todos nós acompanhámos o que foi dito após o vinte e cinco do quatro por algumas personalidades (foram meia dúzia... mas foram) que em vez de respeitarem a Instituição Militar a que pertenciam, se atropelaram com verdades inverdades, esquecendo a ética... mas procurando subir, agradando à classe política dominante.
Tenho em meu poder uma gravação duma emissão de uma TV, onde estiveram reunidos alguns da esquerda e da direita. Está presente um senhor General, que perante um vídeo da própria TV, diz às tantas, mais ou menos isto: "Este que vai falando, se fosse no meu tempo e com a voz fininha" etc etc... dando a entender que nem tropa poderia ter sido.

E eu aplaudo-o. MAS QUE HÁ POR AÍ E CADA VEZ MAIS, MUITOS DE VOZ FININHA A PRECISAR DUM ENXERTO... Há.
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12763: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (2): Os ursos, lobos, raposas e até os peçonhentos

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12763: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (2): Os ursos, lobos, raposas e até os peçonhentos

Anúncio do sabão Lifebuoy, 1902.. Fonte:
Wikipedia. Imagem do domínio público.



1. Em mensagem do dia 13 de Fevereiro de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3 e Bissau, 1965/67) enviou-nos a segunda Crónica Higiénica para publicação.



CRÓNICAS HIGIÉNICAS

2 - OS URSOS, LOBOS, RAPOSAS E ATÉ OS PEÇONHENTOS

No National Geographic está a dar um programa sobre os ursos a alimentarem-se com salmões. Luta pela vida portanto, com a qual concordo e agora... uma ursa luta com outra para salvar duas suas crias, bem lindas por acaso.

Dou-me a pensar: qu'é qu'isto tem a ver com a GUINÉ, sobre a qual irias escrever?

Tudo... respondi-me.
Tem que ver pois, que lá, lutei para sobreviver com e pelos camaradas de guerra, bem como também eles igualmente o fizeram por mim... para que nos salvássemos fisicamente... mas... mentalmente desesperávamos cada dia e eu... desesperado continuo.

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Estou a ler o nosso blog agora... e num post é descrita a morte dum lobo (e a condenação para o facto) cujo corpo até foi passeado por uma aldeia mas acrescenta-se a seguir que este não atacava crianças, só comia umas cabras para se alimentar. Cabras essas, que e obviamente, tão necessárias seriam também para a subsistência dos seus donos.

Questiono-me: mas afinal se era um predador, como fazer? E se não atacava crianças, devia-se ao simples facto de que também não as deixavam sós e sei do que falo porque na minha terra também os havia (os lobos), bem como raposas e ginetes que de noite arrebanhavam as galinhas que eram o nosso sustento, naqueles tempos difíceis dos anos 50 e 60.
A solução era fazer-se-lhes uma espera nocturna e acabar com tais bichos a tiro.

Tive e amansei, uma de cada das três feras citadas atrás, recolhidas, por abandonadas quando acabadas de nascer e com quem dividi o pouco leite (1/4 de litro) que a minha mãe adquiria a quem o andava a vender de porta em porta, e sempre vos digo... domesticados que foram, sempre que viam os referidos galináceos, ficavam bravos como própria era a sua natureza. Aliás eu, ainda hoje e tal como ontem, quando os vejo, sejam eles patos... perdizes... faisões ou franguinhas, só penso em canja e nas brasas para os assar e nas outras para se sentarem à mesa comigo.

É aqui que sinto mais as saudades do Pelundo, onde estive um mês a viver na tabanca do Ti Vicente. Ele, homem grande da zona, fazia questão de presentear diariamente a minha Secção de morteiros 60, com uma refeição de barulhentas (enquanto vivas) fracas, servidas grelhadinhas ou de chabéu e tudo preparado pelas bajudas suas filhas.

Continuemos:
Desse tempo de menino e moço saudável, ficou-me muita recordação e até dos nojentos alacraus, como lhes chamávamos, me esqueço.
Eram presença constante quer dentro das botas que o meu pai sacudia antes das calçar e donde de quando em vez, um saltava cá para fora.
Bonito era, mas pouco tempo tinha antes de ser esmagado.

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Algarve, Manta Rota 7/2/2014 

Saí agora da piscina (é coberta, aquecida), soube das chuvas que caiem lá pela capital que o foi dum Império e alembrei-ma daquelas torrenciais que suportávamos de Maio a Outubro.


Aquilo sim era chover, tanta e tão quente.
Lá no meu K3, toda a CCAÇ 1422 aproveitava e em vez de ir ao rio, que chuveiros no aquartelamento "cá tem", banhava-se dessa forma usando o Lifebuoy... nem nos limpávamos que cinco minutos passados e se permanecêssemos na suite, debaixo de telha (telha não... qu'é coisa de pobre)... debaixo sim, das madeiras tropicais dos tectos, que eram os cibes) secávamos, excepto os pés que continuavam no molho. Mas o remédio era colocá-los em cima da cama e enquanto víamos a televisão, que não tínhamos... e mesmo o rádio ouvia-se mal.
E os trovões!!!
Ao princípio nem descortinávamos se eram as bombardas de Dio... os canhões de Navarone ou se os obuses de Farim. A verdade vinha à tona ao vermos os poilões rachados ao meio.
Daí que agora se oiça muito por aí: (e somos muitos) "Raios os partam" (quando se fala de políticos entenda-se).

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Post 12701 do nosso Blog: Ora cá está um rapaz que gosto de ler, embora a princípio e quando ele escreveu "OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA", o título me parecesse desajustado. 

Porquê "os melhores etc... etc" se para todos nós, ir à tropa e depois combater, apenas nos trouxe angústias e desilusões?
Compreendi contudo e após leitura atenta, qual era o seu ponto de vista. O rapaz escreve bem, embora se notem alguns pontapés no Português, moderados que têm sido decerto pelas ajudas do seu distinto Editor, que também vai beneficiando os textos, apensando fotos adequadas às situações.


Agora com este novo título, "Crónicas Higiénicas" e parecendo ter abandonado a mordacidade habitual, vou aguardar mais uns episódios para em definitivo me pronunciar.

Noto porém e contudo, alguma melhoria na utilização gramatical e ao que sei, tem-se vindo a cultivar, lendo as obras primas mundiais, Astérix e Tim-Tim. Do mesmo autor (Senhor de, Veríssimo Ferreira) aconselho-vos também a consultar outras porcarias que tem vindo a escrevinhar, tais como "O PÓS-GUINÉ 65/67", "OS LOCAIS POR ONDE PASSEI" e por fim "FRAGMENTOS DE MEMÓRIAS".
(Blogue: Luís Graça & Camaradas da Guiné).

Veríssimo Ferreira
11/02/2014
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Nota do editor

Vd. primeiro poste da série de 9 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12701: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (1): A raiva que vai cá por dentro

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12701: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (1): A raiva que vai cá por dentro

1. Em mensagem do dia 5 de Fevereiro de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3 e Bissau, 1965/67) enviou-nos a sua primeira Crónica Higiénica.


CRÓNICAS HIGIÉNICAS

1 - A RAIVA QUE VAI CÁ POR DENTRO

Já vai sendo hábito ficar piurso e contra tudo o que aparece escrito, dando loas aos IN's que fui obrigado a combater na Guiné. Daí que e a propósito da "A minha homenagem a alguns dirigentes do PAIGC", dum nosso distinto escritor num post que foi há dias publicado no nosso blogue, manifeste aqui e mais uma vez meu desacordo quanto ao facto de se elogiarem tipos que ajudaram a matar tantos dos nossos.

O camarada fala assim porque e também como diz, só conheceu Bissau, não esteve ao lado de vivos agora, mortos daí a segundos, não apanhou pedaços de corpos dos nossos. Mas entendo que a história tem de ser contada, só que e à semelhança do que agora acontece quando me aparecem notícias (onde falam, falam falam ...de política ...de futebol) quer nos jornais, quer nas TV's e até no face, mudo de canal e não vejo não senhor.
É que não sou 100% de rancores nem de vinganças... sou apenas 98%, mas enervar-me, não vou nessa. Podem não me tratar bem (mas gosto) só que quando me tratam mal... afino com'ó caraças.

Nesta provecta idade dos 71 anos (faço 72 a 21 de Fevereiro - tomem nota, colectem-se e mandem a prenda), não estou disposto a aturar madurezas, NÃO SENHOR.

Continuando: a bestialidade terrorista de que falei na crónica anterior, foi uma das formas que tivemos de combater pois que "semeavam" minas por tudo o que era sítio, onde pensavam que os militares Portugueses, viessem a passar e nem se preocupavam se matavam soldados, sargentos ou oficiais. Dizia o IN, que não estava a combater o Povo. E então se não éramos Povo, éramos o quê?
Se tinham tantos apoios doutros países, porque não avançar por aí politicamente? Esta de "terroristas bons" nunca me passaria pela cabeça, mas tal como o ditado abaixo, direi: deixa andar porque:
"MUCHOS PERROS MATAN A UNA LIEBRE. PERO LA FECUNDIDAD DE LAS LIEBRES ES SUPERIOR A TODOS LOS ESFUERZOS DE LOS PERROS" - (sic, Hans Hellmut Kirst, no livro OS LOBOS)

Pois é... também sei castelhano, olaré!
Este é o inicio duma fantástica história, que continua a fazer-me gostar de ler. Está roto, está sublinhado, quando o comprei passei oito horas seguidas e avidamente desejoso de conhecer o final... para além das mais trinta ou mais vezes que o tenho vindo a visitar e sempre ali encontro novos motivos para o considerar o melhor dos melhores.
No fundo trata-se duma história passada numa pequena aldeia alemã e nos palhaços que apoiaram a ascensão, auge e queda do nazismo.

E por falar em nazis: "DESPACHÁMOS MILHARES".

Pôssaras, pôssaras !!! Mais uma informação apensa no nosso blogue. Foi em 1968, diz com foto e tudo.

Está provado que não foi verdade, mas sendo-o fiquei tão triste que tropas assim destemidas, não tenham lá estado de Agosto de 1965 a Abril de 1967, pois que estes sim e não eu como tenho afirmado, teriam pacificado tudo e mais alguma coisa.

A este propósito deixem-me que recorde com muita saudade, um locutor da Emissora Nacional, cujo nome se me passou, dado o meu alzheimeirado estado, que ouvia todas as manhãs às oito e que começava assim: "Alô gaivotas do Tollan" e que tinha também um programa à noite onde partia discos mas antes dizia: "Este disco não é intocável mas também não é inquebrável" ...Logo a seguir ouvíamos o ruído do escaqueirar do dito.

O que quero dizer é: Que pena não podermos "partir" este ... Cá para mim começo e desconfiar que e perante tantos mortos e só com um pelotão, o gajo que escreveu esta coisa mal cheirosa, deve ser um dos carniceiros de Treblinka (ter-se-á enganado e trocou os nomes das terras) e que escapou às malhas dos caçadores israelitas.

Mas lá, que me fartei de rir... fartei.

Veríssimo Ferreira,
3 de Fevereiro de 2014

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12666: Fragmentos de Memórias (Veríssimo Ferreira) (12): Era uma vez...

1. Em mensagem do dia 31 de Janeiro de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos este comentário para integrar a sua série Fragmentos de Memórias.


FRAGMENTOS DE MEMÓRIAS

12 - ERA UMA VEZ...

Decidira ontem, não voltar a explorar a minha memória e até porque julgava eu que nada mais haveria para lembrar, só que hoje no post 12640, publicado na nossa Bíblia "Luís Graça & Camaradas das Guiné" li: "Eu Queria pra Brancos Voltar Governar Guiné de Novo".

Revolveu-se tudo cá dentro e então, cá venho incomodar-vos o intelecto.

E a esse propósito:
Vou-me encontrando de quando em vez, em convívios da Tabanca da Linha, com a rapaziada que esteve na Guiné e como não poderia deixar de ser a guerra vem sempre à baila, embora na maioria das vezes, relembrando locais por onde passámos.

Eu que vagar tenho, vou-me esforçando por entender o porquê daquele horror, que tantos mazelas custou a esta juventude, que nos anos 60 e 70 do Séc. XX teve de ir combater.
Refiro-me a mim próprio e aos bravos companheiros que partilhamos a mesa nos tais convívios atrás referidos e claro que a todos os que como nós estiveram depois, usufruindo daquelas férias em terras africanas.

Acontece que fui investigar e lá me apareceu um "austrolopithecus africanus", coisa assim mais macacal, do que dizem terem sido os nossos antepassados. Curiosamente os primeiros conhecidos teriam sido descobertos na África do Sul, afinal ali bem perto da nossa Guiné, (aqui no meu mapa está a 10 centímetros).
Posteriores estudos descobriram que na mesma época já existia uma raça melhor desenvolvida, inteligente e explorada, que ficou conhecida pelos "alentejanuspithecus", que personalizo e qu'até já utilizavam instrumentos para cavar a terra, tais como a enxada e o arado, coisas que permaneceram milhares d'anos, para proveito dos pobres patrões fascisantes. Entrementes agora, que estou a acender mais um cigarro cuido-me a ler: "Fumar pode reduzir o fluxo de sangue e provoca impotência".

Ora porra... e eu a julgar que era da idade, afinal parece que se deve ao facto de há 57 anos fumar.

Sim... porque comecei aos 14 com os "Provisórios", passando depois a meio do mês para os "mata ratos" e já mais no final do dito mês, até as barbas de milho ou folhas de balsa, devidamente moídas, serviam.

Mais tarde, (na minha Guiné) e somente a título informativo, passei para o "Paris"... "Três Vintes", logo após o que e considerando o invento dos filtros apensos à chucha, para o "SG Gigante" qu'era maior.

Nunca me deu muito jeito, confesso, foi o ter de embrulhar o conteúdo das onças de tabaco "francês" ou "superior", no papel "galo" ou "zig-zag" que no final, haveria de se lamber a mortalha e como uma vez cortei o lábio desisti dessa coisa do meter a língua de fora.

Bom... acho que me estou a afastar do tema.
Vamos lá regressar ao dito:
A afirmação desejo, que considero arrojada, dum jovem que poderá vir a ser alguém (assim o espero) não é inédita e outros já o tinham dito antes. Verdadeiramente e como disse um camarada combatente "ela já se deu... os brancos da droga já lá mandam".
De qualquer forma atrevo-me a propor que se consulte o seu povo através desta coisa nova a que chamam Referendo.
Tal já foi feito em países civilizados como na Austrália onde se perguntou se queriam ser independentes ou continuar ligados aos cinco tostões Britânicos. Preferiram a Coroa, por muito estranho que pareça e até mesmo ali em Gibraltar, local duma pedra grande, a população quis também ficar como nos antigamente.
Por isso digo: referendem e caso necessário, a gente volta sim senhor.

O IN sempre se fortaleceu com os nossos medos, só que agora o IN seríamos nós, eu pelo menos tenho-lhes umas ganas!!! Não para os combater, ou fazer qualquer mal, mas apenas para tentar educá-los, civilizacioná-los, ajudá-los enfim.

Em boa verdade, o que se está a passar lá, onde deixámos muito sangue suor e lágrimas e deste há muitos anos, ronda a bestialidade.
Bestialidade que usaram contra nós, só que a continuaram contra eles próprios, desde que lhes demos de mão beijada a independência. E não me venham com a história de que eles venceram, porque na verdade tal não aconteceu. Nós é que desistimos... nós oferecemos.

Nem vale a pena tentar tapar o sol c'a peneira pois que a verdade é só uma não duas ou três, como já tenho visto teóricos defenderem (sempre os mesmos que se escondiam debaixo dos GMC's e no ar condicionado).

(continua)

PS: - Continuarei a "estudar o porquê daquele horror... etc, etc, etc", prometendo-vos que de tal vos darei conhecimento.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12638: Fragmentos de Memórias (Veríssimo Ferreira) (11): Março de 1967, aproximava-se o fim da comissão de serviço

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12649: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (14): As localidades por onde passei, sofri e amei - Conclusão (Veríssimo Ferreira)

1. Em mensagem do dia 34 de Janeiro de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil da CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, e Bissau, 1965/67) enviou-nos a segunda e última parte do seu percurso militar desde sua promoção à alta patente de 1.º Cabo Miliciano, passando pela promoção a Senhor Furriel, terminando na sua ansiada ida para a Guiné.


AS LOCALIDADES POR ONDE PASSEI... SOFRI... AMEI
(continuação*)

À Amadora cheguei... nem ao almoço tive direito e mandam-me avançar, de forma a estar e sem falta, no dia seguinte em Lamego.
Voei para Sta. Apolónia, fui para o Porto, daqui para a Régua e o certo mesmo é que às 8,30 entro no novo poiso.

Bambúrrio... dei de caras, logo à porta de armas, com um herói da minha terra, combatente já com uma comissão prestada em Angola, 2.º Sargento e monitor agora, das tropas a preparar.
Trocámos abraços, continências e amigáveis palavras, e logo ali ele próprio se disponibilizou para me ajudar no que eu precisasse.

A caserna era óptima e fiquei em lugar privilegiado de cama. Fora dos últimos a chegar e não houve hipótese de arrebanhar melhor. Havia só que subir três beliches, até chegar ao 4.º onde dormia e com uma vista fantástica para os barrotes em madeira, que até me davam para estender a roupa molhada e esta, por sua vez, passava as gélidas noites, a afagar-me a tromba, durante os raros momentos que ali estacionei, pois que os treinos eram constantes, a qualquer momento... prolongados... estafantes.

Foram tempos duros, mas uma óptima preparação para as dificuldades que vieram depois. Ficou-me gravada, a frase: "Nunca se sabe", resposta que sempre ouvíamos a qualquer pergunta que fizéssemos.
Lá de quando em quando, também nos convidavam a ir até lá abaixo à City e então era um fartote... que belas pingas... bom presunto (coisa da qual eu já ouvira falar mas não provara qu'a crise abundava com'há agora) e até as pessoas eram simpáticas prá rapaziada fardada.

No aspecto da preparação militar, gostei "manning" d'atravessar o rio dum lado pró outro, agarrado a uma corda e com os pés assentes noutra e a água lá em baixo revolta com'ó caraças fez-me perguntar a mim próprio: porqu'é que não trouxeste o calção de banho em vez da farda de trabalho?

Lamego
Foto: Pais&Filhos, com a devida vénia

Tancos, desejava-me ardentemente e as Minas e Armadilhas que as amasse... e a Barquinha ali tão perto e com tão boa comida e melhor buída...
Recordo com alguma emoção convenhamos, aquele dia em que cá em baixo, junto ao Castelo de Almourol, me pediram atenciosamente para experimentar um pedaço de massa explosiva, a que chamavam farinheira. Colocada que foi, debaixo dum pedregulho de todo o tamanho, a que juntei depois um detonador, mais um cabo eléctrico com 50 metros que trouxe até cá ao alto e liguei a uma caixinha com alavanca que pressionei.
O estardalhaço do rebentamento foi impressionante, levantei a cabeçorra e é nessa altura que vejo no ar aquele monstro redondo a dirigir-se a jacto, precisamente para o local onde me encontrava e a quem eu disse:
-Trá-la-rai, la-rai, la-rai... falhaste pá... paciência.

Acabara sim, por derrubar uma pobre e velha árvore centenária.

Castelo de Almourol
Foto: Imagens de locais onde já estive, com a devida vénia

Passou-se e eis senão quando, me vejo a caminho de Lisboa, Avenida de Berna, Grupo de Companhias Trem Auto, o que me confundiu do porquê. E não só a mim, também o Senhor Sargento da Secretaria se espantou e exclamou:
- Ora porra, pedi um Cabo-Miliciano condutor e mandam-me um atirador? Mas... - continuou ele: Aguente aí ó patrício, você é da Ponte Sôr... eu sou de Alter... temos de resolver isto.

E após perguntar-me se conheço a capital e eu respondido "negativo", decidiu que eu devia ficar por ali, até que fosse rectificado o lapso, o que deveria demorar um mês.

Sem função atribuída, saía, à civil, de manhã e voltava para dormir, às vezes, num quarto com mais sete militares e cinco ratazanas, das maiores que já vi.
Turismei... Vi cinema nos: Piolho... Condes... Éden... S Jorge...;
Conheci, a desoras, as boas zonas... Intendente... Cais Sodré... Bairro Alto... Alfama... Mouraria... Madragoa...;
Vi campos de futebol, com relva imagine-se... o aeroporto... Cabo Ruivo e os hidroaviões... comboios em Santa Apolónia e Rossio... Fui a Cacilhas... ao Jardim Zoológico... Parque Mayer... Parque Eduardo VII... Feira Popular...;
Comi bifes na Solmar... Portugália... Império... Ribamar... sopa de marisco na Rua de S. José... iscas na Travessa do Cotovelo... bacalhau com grão no João do Dito...;
Bebi na Ginginha e no Pirata e uns tintos no Quebra Bilhas...

Lisboa - Cinema S. Jorge
Foto: Expressões Lusitanas, com a devida vénia

Até que um dia me transmitem:
- Vais para Abrantes.

Bati o pé e disse:
- Não vou... Não vou... Não vou... E fui.

Em Abrantes, estava mais perto de casa, o que me agradou.
Lá se foi passando o tempo e coube-me ajudar o Oficial instrutor, ensinando novos militares. Por que alguns de nós, os recentes cabo-milicianos, estávamos já a ser mobilizados, fui-me preparando. Contudo, tal mobilização só veio a acontecer, quando já houvera prestado 20 meses de tropa.

Entretanto em Abril de 1965 e "por equivalência a seis meses consecutivos em Unidade Operacional, condição a que satisfaz para promoção ao posto imediato (sic)" , fui promovido a Senhor Furriel-Miliciano. Estava então em Tomar a preparar outros jovens, que afinal acabaram por ser os que fazendo parte da Companhia de Caçadores 1422, embarcaram comigo para a Guiné, em 18 de Agosto.

Quando digo "embarcaram comigo", em vez de "embarquei com eles", deixem que explique:
Quer o Comandante, quer os restantes Oficiais e Sargentos, haviam partido uma semana antes, de avião, ficando apenas connosco, um senhor Sargento-ajudante, (pessoa com alguma idade e peso e que era chefe de secretaria) e nós próprios, os Furriéis Milicianos e toda a restante e valorosa CCAÇ 1422 claro.
A ele pertenceria comandar-nos antes do embarque, no desfile perante as autoridades... perante os nossos familiares presentes. No último momento, nomeia-me para o fazer... ordens não se discutem... cumpri.

Correu lindamente, marchámos com garbo. Depois? Bom... depois a vinte e tal de Agosto de 1965 chegámos a Bissau... para ganhar a guerra e preparar zonas de turismo para que os vindouros ali passassem férias descansadas.

Não precisam agradecer.
Disse.

Veríssimo Ferreira

Abrantes
Foto: Região do Médio Tejo, com a devida vénia
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Nota do editor

(*) Vd. poste de 21 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12617: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (7): As localidades por onde passei, sofri e amei (Veríssimo Ferreira)

Último poste da série de 27 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12645: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (13): Mafra e Lamego duas cidades que me marcaram (Francisco Baptista)

domingo, 26 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12638: Fragmentos de Memórias (Veríssimo Ferreira) (11): Março de 1967, aproximava-se o fim da comissão de serviço

1. Em mensagem do dia 16 de Janeiro de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos mais um episódio da sua série Fragmentos de Memórias.


FRAGMENTOS DE MEMÓRIAS

11 - APROCHEGAVA-SE O FIM DA COMISSÃO MILITAR 

Março de 1967

Já vos contei antes, que criei uma equipa de futebol, lá na minha Repartição mas depois convidado fui para dar a preparação física ao Sporting de Bissau, onde o treinador era um 2.º sargento amigo, de Portalegre.
Tive até de treinar a equipa durante um mês. Estudei uma nova táctica que pus em prática de imediato. O importante final é que a bola não chegasse próximo da nossa baliza. Por isso dei ordens aos jogadores que não queria cá fintas ou passagens, de uns para os outros, e disse:
- Quando a bola estiver ao vosso alcance, chutem, chutem de qualquer forma para que ela saia do nosso meio campo. Lá à frente só quero dois à melosa.

Nos quatro jogos disputados, só ganhámos um aos Balantas de Mansoa, (empatámos a zeros os outros três) com um golo monumental meu, jogador nesse dia, metido fora de jogo, mas convém acrescentar que o árbitro era meu amigo e tinha sido ameaçado por mim myself com retaliações... sim... que na altura não se ofereciam cousas boas com'ó milho. E lá diz o ditado: se queres ver um pobre toleirão... mete-lhe quelque chose avec... na mão e eu prometera-lhe ...já se ma não alembra o quê...


A guerra fizera de mim, um xico-esperto mas cheio de força, arrogante qb e desejoso sempre de entrar em conflitos, resolvê-los na boa ordem e acima de tudo ao abrigo da lei do mais forte. E por isso... como eu me identifiquei com umas imagens há dias mostradas num canal de TV !!!

Em qualquer País que não reparei qual, um árbitro de futebol amandou duas galhetas num jogador depois um valente murro noutro que avançava malandrosamente para o agredir. É que eu fui assim e assim fiz, quando regressei da Guiné e reactivei o prazer de andar com um apito na boca, já que não podia andar de G3 dentro do campo.
Vinha cheio de força, sedento de sangue fresco, isento não era, não fui e nem conhecia quem o fosse e por isso, quando o povo do futebol, se atrevia a chamar-me nomes, fazia-lhes frente, acintosa e provocadoramente e se preciso fosse afinfava-lhes mesmo, qu'essa coisa do medo ficara bem lá longe "onde o sol castiga mais" (sic, Paco Bandeira).

No fundo eu estava a ser um prazentoso utilizador do que aprendera na sociedade militar onde passara 40 meses e sabia bem dar o valor, não aos temores, mas há camaradagem e à vida e a disparar se necessário. E só deixei de ser apitador, quando vergonhosamente, resolveram pôr redes à volta do campo. Aí sim disse para comigo: - "Não pá... assim não... então a turba chinga-te, ofende-te, chama nomes à família, fere-te na tua hombridade e tu não podes subir à bancada, enquanto páras o jogo que recomeçará com bola ao solo, e partir as trombas ao ofensor?"

Eu era, eu era não... eu sentia-me ou começava a sentir-me um renegado da Pátria, que apenas permitira que a defendesse, mas qu'agora começava a esquecer o que por ela fizera.
Voltei também há vida artística, ou seja a minha voz voltou a fazer as delícias das avós, filhas e netas, que compareciam nos bailes onde o Conjunto musical (Sôr-Ritmo, se chamava) actuava ao vivo... naturalmente e pelos vastos palcos da República Federal do Alto-Alentejo e até nos Países limítrofes do Ribatejo e Beira-Baixa.


Mas... e ainda em Bissau, o Abril aproximava-se e fui convidado para ficar pelo menos mais um ano, naquela função chata mas não perigosa e confesso que tremi entre o ficar ou não. Acabei por vir embora, mas arrependi-me depois. Voltei mas o coração ficou lá. Ficou lá em Mansabá... em Manhau (e aqui para além do coração ficou também a alma)... em Bissorã... no Pelundo... em Jolmete... e no K3.

Os sentimentos desapareceram depois em Bissau, nos horríveis nove meses finais. O Uíge trouxe a CCAÇ 1422, e foram cinco belos dias, de contactos e promessas para encontros futuros, o que não aconteceu. A rapaziada era toda de sítios dispersos, a maioria do Centro do País, gentes pobres que na sua maioria emigrou, mas com os poucos que ficaram sempre nos íamos vendo quando passavam por Lisboa, onde acabei a procurar e consegui, dias melhores, profissionalmente entenda-se.

A Guiné?
Pois foi importante e de tal maneira que ainda hoje vivo tudo o que de bom e de mau por lá passei.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12605: Fragmentos de Memórias (Veríssimo Ferreira) (10): Fevereiro de 1967 - Aproveitamento dos tempos livres de Bissau

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12617: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (7): As localidades por onde passei, sofri e amei (Veríssimo Ferreira)

1. Em mensagem do dia 18 de Janeiro de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil da CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, e Bissau, 1965/67) enviou-nos a sua perspectiva sobre o seu percurso militar desde a Recruta até à sua promoção à alta patente de 1.º Cabo Miliciano.


AS LOCALIDADES POR ONDE PASSEI... SOFRI... AMEI 

E VAI DAÍ: 

Por edital, soube que me deveria apresentar em Mafra, na Escola Prática de Infantaria, a fim de frequentar o Curso de Sargentos Milicianos.
Saí de Ponte de Sôr, pela matina e no combóio. Chegado a Lisboa, pedi informações para ir para o Martim Moniz, local donde sairia a camioneta para Mafra.

A confusão, nesta louca cabecinha, era mais que muita (primeira vez na grande cidade) e habituado que estava a ver muita gente junta, aquando das feiras, pensei:
- Há por aqui uma como a nossa de Outubro!!!

Bom, mas lá fui ter e parti para o destino... e cheguei enquanto no entretanto comi as duas sandes que a minha querida mãe, preparara para a viagem.

Mafra, surpreendeu-me, quando logo ali mirei, o Mosteiro.
- Um quartel? - Duvidei.

Convento de Mafra

Na entrada, havia um enorme grupo de juventude de cabelinhos cortados à inglesa curta e que esperava e a eles me juntei.
Lá chegou a minha hora e preenchidos que foram, uns papéis, mandaram-me para o alfaiate que tirava medidas olhando-nos de alto abaixo, o que significou que recebi umas roupitas bem bonitas por acaso... um bivaque onde cabiam duas cabeçorras, duas camisas cinzentas nº 54 e eu até aí, usava 42, dois pares de calças que me chegavam dos pés à cabeça, duas botas 47 e eu calçava 41... e por aí fora.

Na caserna, assim chamavam ao quarto luxuoso, um 5.º andar e 183 degraus para subir, onde me colocaram, para me não sentir só deixaram-me acompanhado por mais 151 recrutas que se tornaram meus amigos.

No dia seguinte, reuniram-nos num espaço rectangular, que ainda hoje existe, lá atrás do convento e a que chamaram e chamam, "A parada".
Éramos, talvez uns três mil, que sairiam dali como Oficiais ou Sargentos Milicianos.
Juntaram-nos depois, sentados no chão e rodeando o Oficial Instrutor, cá fora... ali ao lado esquerdo de quem entra... e esclareceram-nos sobre as normas nem vigor, para contactos eventuais, com os residentes civis e também como distinguir os postos militares.

Escola Prática de Infantaria

Ficámos a saber, que a coisa começava desta forma:
- O início e por aí fora: - RECRUTAS; 1.º Cabo; Furriel; Sargento; Aspirante; Alferes; Tenente; Capitão; etc; etc; etc; etc; General; Marechal; e finalmente: 1.º CABO MILICIANO.

Contentíssimo fiquei. Então não é, que o filho do meu pai, iria alcançar o mais alto posto, lá para Agosto e já especialista de Infantaria...
E 1.ª classe em metralhadora Dreyse 7,9?
E 3.ª classe em espingarda 7,9?
E 1.ª classe em comportamento?
E atirador, terminada a instruçao complementar?

Aparvalhado ainda, com o facto de ontem ter visto, Lisboa... aviões dos grandes... e barcos a atravessar um rio a que ouvi chamarem Tejo e ter ainda a possibilidade, de e também, pela primeira vez, poder ir ver o mar... as praias da Ericeira e mais agora esta notícia... plena de responsabilidades...
Olhem... fiquei de tal maneira entontecido... que julgo não ter voltado a ser o humano normal de antes.

Continências e divisas, foram-nos sabiamente mostradas, bem como o manejo duma espingarda... o seu desmanchar em bocados... e a consequente limpeza com o escovilhão.

No 3.º dia e após o pequeno almoço, começou a preparação para que pudéssemos vir a ser militares disciplinados, bravos, heróicos e que acima de tudo, voltássemos inteiros.
- Corridinhas na tapada... rastejar no meio da trampa... percursos de combate... saltos para o galho... jogos de brutóbol... tiro na carreira do dito... actividades desportivas com vários empecilhos no meio... audição dos gritos estridentes e ameaçadores dos monitores do pelotão... enfim... toda uma panóplia útil que só mais tarde entendemos ter sido preciosa para que aqui e agora estejamos ainda semi-vivos e, ah, sempre acompanhados pela fiel Mauser e de capacete enfiado... no local próprio de enfiar capacetes.

Regressávamos depois e quase na hora do repasto. Íamos à suite tomar um banhito rápido e mudar de fato. Toca a corneta e ala que são horas de almoço.
Boas refeições sim senhor e até vinho havia e da cor que entendêssemos, embora eu achasse que aquilo era mais água... e cânfora... substância que e ao que diziam, transformava em eunucos, embora provisoriamente, quem bebia a zurrapa.

A 4 de Julho de 1964, após portanto 5 meses e 10 dias e com aproveitamento e todos os créditos alcançados, consideraram-me então, apto, ou seja, vais tirar a especialidade de "atirador" e como ordens não se discutem, decidi-me e fui para Tavira.

Vista parcial de Tavira

Terra linda que continuo a visitar.
Linda praia, onde até a água era e é, quente, comparada com a da Ericeira, de que tinha provado o sal.
Boas gentes, embora e nesse período, as tenha considerado más com'ás cobras, tendo em conta que quando os pobres militares, sedentos e até com alguma fomita, colhíamos algumas amêndoas, alfarrobas ou figos, ou ainda, lhes bebíamos umas gotas nos escassos poços existentes... iam de imediato participar ao quartel e algumas vezes desembolsámos os 25 tostões para compensar o prejuízo.
A miséria patrimonial deste povo algarvio era notória e justificava a queixa. O turismo mal começara e aquelas frutas e água eram o seu ouro.

No que se refere à instrução militar, foi o acrescento próprio, para quem já estava treinado.
Novidade apenas para o "DEITÁÁÁÁR" nas salinas. Lindo de se ver, creiam. E nós... vestidinhos... lavadinhos e engomados... calçadinhos... botas engraxadas e reluzentes, espelhando o sol quente desse mês de Julho... obedecíamos está claro, só para não nos considerarem desobedientes.
Saíamos enlameados, cheios de lodo até aos cabelos, mas mais fortes alguns, aqueles que engoliam alguma distraída enguia. Até nisso, a sorte me foi madrasta já que o único brinde que me calhou, foi uma enorme serpente que resolveu aninhar-se no bolso esquerdo das calças.

À tardinha dispensavam-nos e podíamos então confraternizar com as tascas locais, onde sempre comíamos generosas doses de grandes conquilhas, ou jaquinzinhos atados pelo rabo e em grupos de 5 ou 6, regados com aquele saboroso tintol carrascão de tal forma, que até os dentes ficavam coloridos.

Alguns mais afortunados, proporcionavam a outros, passeios e assim conheci, Quarteira, Armação de Pera, Albufeira e Faro.

E em 30 de Agosto de 1964, fui promovido a 1.º Cabo Miliciano, pois então...
Começa aí um percurso agitado, com constantes mudanças, assim estilo "faça férias cá dentro" e foi o que me valeu para ficar bem a conhecer, algum deste País, que eu julgava ser só o Alto Alentejo.
1.º - Amadora (Regimento de Infantaria 1);
2.º - Lamego ( Rangers);
3.º - Tancos (Minas e Armadilhas)
4.º - Lisboa (Grupo C. Trem Auto)
5.º - Abrantes (Regimento Infantaria 2)
6.º - Tomar (Regimento Infantaria 15)
7.º - GUINÉ.

(Continua)

OBS:- Imagens retiradas da internete pelo editor,
com a devida vénia aos seus autores
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12614: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (6): Eu fiz "Tropa" em cinco cidades, em Portugal e ainda em Nhacra, Quebo e Nhala, na Guiné Bissau (Manuel Amaro)