Mostrar mensagens com a etiqueta arroz. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta arroz. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14926: Notas de leitura (740): “Recriar a China na Guiné: os primeiros chineses, os seus descendentes e a sua herança na Guiné colonial”, artigo assinado por Philip J. Harvik e António Estácio (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Julho de 2015:

Queridos amigos,
Já que isso diz referência a um trabalho de António Estácio sobre a chegada dos chineses na Guiné e como eles valorizaram a orizicultura, que já fio fonte de grande riqueza, teremos comido todos nós, na década de 1950, muito arroz da Guiné. A cultura do arroz fazia parte da arrancada para o desenvolvimento das colónias da África Ocidental, tal como as oleaginosas.
Guardam-se imensas imagens, algumas delas muito belas, dos trabalhos efetuados depois da chegada de Sarmento Rodrigues, publicadas no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, este espólio esteve à beira de se perder, foi felizmente recuperado pela Fundação Mário Soares.
O artigo de Philip Harvik e António Estácio traz imagens muito sugestivas dos últimos descendentes dos chineses de Catió, bom seria que o nosso confrade António Estácio as republicasse no nosso blogue.

Um abraço do
Mário


Quando os chineses chegaram a Catió, no princípio do século XX

Beja Santos

O artigo vem publicado no n.º 17 da revista Africana Studia, 2.º semestre, 2011 e intitula-se “Recriar a China na Guiné: os primeiros chineses, os seus descendentes e a sua herança na Guiné colonial”, e vem assinado por Philip J. Harvik (investigador do Instituto de Investigação Tropical) e pelo nosso confrade António Estácio que, tempos antes, fizeram uma comunicação sobre os chineses e a orizicultura na Guiné.

Os autores começam por recordar duas realidades: primeiro as mudanças que se operaram nas primeiras décadas do século XX no contexto da África Ocidental, em que o império francês necessitava de mão-de-obra para as colónias, principalmente para os chamados “trabalhos públicos”, que incluíam a construção de estradas, caminho-de-ferro, edifícios, etc, essa mão-de-obra exigia gente qualificada e daí o recurso a certos meios até então legítimos, como o uso dos degredados; segundo historia-se o papel dos degredados que eram enviados para a África e mesmo para o Oriente pelos tribunais estatais e pela Igreja Católica – como registam os autores, no caso da Guiné, entre 1834 e 1896 o número de degredados foi de 425 indivíduos, a maior parte vinda de Cabo Verde e de Portugal.

A cultura do arroz juntou-se, neste ciclo imperial, ao amendoim e às oleaginosas. Já se cultivava arroz na Guiné antes da chegada dos chineses, e por razões óbvias, como anotam os autores. O litoral de baixo-relevo, cortado por muitos rios e rias, com margens abundantes de mangue formava um ecossistema perfeitamente adaptado à cultura do arroz alagado, em bolanhas. Até então, os autóctones alimentavam-se de “arroz de povoação”, espécie nativa. Nas colónias francesas inglesas foram introduzidas variedades asiáticas. No entretanto, para além do arroz local conhecido como “arroz vermelho”, as populações começaram a produzir o “arroz branco”, também chamado “arroz da Gâmbia”. Em paralelo, assiste-se à criação de explorações agrícolas e comerciais, as chamadas “pontas”, os governadores e administradores aplaudiam estas explorações, no fundo assistia-se à progressiva ocupação do território.

Imagem da cultura do arroz na Guiné
Extraída do site http://www.gbissau.com, com a devida vénia

As origens dos primeiros chineses que chegaram à Guiné não estão esclarecidas, admite-se que tenham vindo de Cantão e do estuário do Rio das Pérolas, tal como muitos outros seus conterrâneos que foram mandados para Moçambique. Estes primeiros chineses terão chegado à Guiné em 1902, assinalo o arranque da expansão da orizicultura que teve lugar a partir da primeira década do século XX. Os autores contextualizam a atmosfera da chegada dos chineses à região de Tombali, era uma região que tinha, além de um posto militar português, algumas feitorias e mesmo alguns europeus. O rio Tombali tornou-se uma área de fixação de ponteiros de origem cabo-verdiana.

Estes dois primeiros chineses eram degredados, tinham vindo através de Macau, chamavam-se Kat Chan e Lai-Assung, eram tratados ambos como mestres de lavrança de arroz. Estes dois degredados chineses seguramente que espiolharam a região metro-a-metro até decidirem pela zona de Catió, localizada entre os rios Tombali e Cumbidjã e encostada às ilhas de Como e Caiar. Lai-Assung, também conhecido por Chang-a-leng, fixou-se em Cubaque, Kat Chan foi primeiro para Canchungo e só depois é que partiu para Catió.

Os autores explicam as consequências dos acontecimentos. Na época de 1915-1924 na zona em redor de Catió estes dois chineses desenvolveram a cultura do arroz. Tiveram agora fatores a seu favor. A partir dos anos 1920, o fluxo de migrantes Balanta para a região Quínara, onde se fixaram em chão Beafada aumentou consideravelmente, e a partir de 1926, os primeiros ponteiros de origem cabo-verdiana obtiveram ali concessões de monta. Deu-se em certos casos a crioulização dos chineses. E os autores enfatizam que os percursos dos chineses e dos seus descendentes na Guiné evidenciam o modo como se processou a aculturação e a crioulização, de um modo geral integraram-se muito bem na sociedade guineense durante o período colonial. Forçados a permanecer na Guiné, alguns dos primeiros chineses procuraram novas oportunidades para a sua realização na pesca e na agricultura, quase sempre com sucesso. E os autores dão uma razão para este sucesso: tentaram recriar a China na Guiné e conseguiram-no.

O conflito armado levou alguns membros da comunidade luso-chinesa a juntar-se ao PAIGC, caso de José Costa Júnior e seu irmão Noel Costa, morto em 1965. Um descendente de chineses, Jonas Mário Fernandes, entrou em rotura com Amílcar Cabral, em Dakar, nos anos de 1960.

O trabalho de Harvik e de Estácio foi elaborado também com base em conversas com agricultores e ponteiros, mostram-se fotografias de chineses e até dos seus descendentes. É um mundo que já não existe, adiante-se. Estes degredados, contudo, relevaram-se exímios na cultura do arroz e convém não perder de vista que nos anos 1950 muitas toneladas chegavam a Portugal. Quando Sarmento Rodrigues chegou à Guiné, um dos seus primeiros cuidados foi o de mandar recuperar/regenerar os ouriques que estavam degradados, operação que se salvou numa revitalização da orizicultura guineense. Lá muito atrás, ficara a herança chinesa, a segunda geração de chineses na Guiné preferiu o comércio, mesmo no Senegal e na Guiné Conacri.

Para leitura integral do artigo:
http://www.academia.edu/11682935/Recriar_China_na_Guin%C3%A9_os_primeiros_Chineses_os_seus_descendentes_e_a_sua_heran%C3%A7a_na_Guin%C3%A9_Colonial
____________

Nota do editor

Último poste da série de 23 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14920: Notas de leitura (739): Parabéns ao nosso camarada Mário Cláudio / Rui Barbot Costa [, ex alf mil, secção de justiça, QG, Bissau, 1968/70], Grande Prémio de Romance e Novela APE/ DGLAB - 2014, atribuído ao seu último livro "Retrato de rapaz"

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14126: (Ex)citações (258): A prosperidade de Bafatá não se deveu tanto ao "patacão da guerra" como ao negócio da mancarra (Cherno Baldé)

1. Comentário do Cherno Baldé ao poste P14120 (*)

Caros amigos,

Provavelmente o factor Guerra e a presenca de 3 ou mais batalhões da tropa metropolitana e local na zona leste terá impulsionado a actividade comercial, mas na verdade Bafatá já era uma cidade com forte dinâmica de crescimento antes desta.

Como disse o Luís Graça, a economia acaba por ser o factor determinante do movimento e/ou assentamento humano. Acho que no caso de Bafatá a indústria do amendoim (mancarra) - produção, descasque e transporte via fluvial - constituíam a força motriz da sua expansão. Não é por acaso que ainda existe a marca de óleo "Fula".

Não tenho estatísticas em mão, mas acho que a contribuição monetária da tropa seria menos importante do que se pode pensar, se atendermos a que a maior parte do dinheiro recebido pela tropa era enviado de volta para casa. (**)

Um abraço amigo,

Cherno Baldé
5 de janeiro de 2015 às 17:52


2. Nota do editor LG:

"Fula" é uma marca de óleo, registada, do Grupo Sovena. "É a marca líder no mercado português de óleos vegetais", e está "presente nos lares portugueses há cinquenta anos,"

(Logo da marca "Fula", à direita,
reproduzido aqui com a devida vénia...).

A marca tem inclusive um sítio próprio na Net: www.fula.pt (, além de uma página no Facebook).

Recorde-se aqui duas figuras que, como empresários, vão ter um grande peso na história  da economia do território guineense na primeira metade do séc. XX: refiro-me, por um lado, ao António Silva Gouveia, representante da colónia da Guiné na Cãmara dos  Deputados (1ª legislatura, 1911-15),  fundador da Casa Gouveia [ou Casa Gouvêa],  que nos primeiros  anos do século passado dominava o comércio local e o mercado das oleaginosas (amendoim e coconote), através de um rede de lojas e agentes que já cobriam o território, a seguir à campanha de pacificação de Teixeira Pinto (1913/15) e implementação, em 1914, de uma administração republicana descentralizada ...

Outra figura, figura à história da economia colonial da Guiné,  é a do industrial Alfredo da Silva, fundador do grupo CUF (, cuja origem remonta a 1865). Em 1919, é criada uma empresa de transportes que vai ser decisiva não só para o futuro da CUF como o da própria economia da Guiné: trata-se da Sociedade Geral de Indústria Comércio e Transportes Lda, conhecida pela sigla SG, e em cujos navios muitos de nós viajámos para a Guiné (o Alfredo da Silva,  o Ana Mafalda, por exemplo;  em 1972 a SG fundiu-se com a Companhia Nacional de Navegação (que já detinha navios como o Índia e o Timor, que também foram navios T/T).

Ainda antes de entrar no ramo dos transportes marítimos, em 1922, a Sociedade Geral (SG) começa a adquirir (ou a fazer parte de) o capital de outras empresas que estão na mira do Alfredo da Silva, importantes para a sua estratégia de expansão do grupo, e nomeadamente no ramo das industrias oleaginosas. Uma dessas empresas é a Casa Gouveia na Guiné;  a António Silva Gouveia, Lda. passa a ser é uma sociedade que tem como sócios o António Silva Gouveia e a Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes, Lda.

As oleaginosas da Guiné (amendoim,  coconote, gergelim) passam a ser transformadas em óleos comestíveis nas fábricas da CUF, no  Barreiro, depois de  transportadas para a metrópole através dos barcos da SG. É nessa altura, em finais dos anos 20/princípios dos anos 30,  que nasceu o famoso óleo "Fula",  de há muito presente nas cozinhas portuguesas.

Recorde-se que em 1929 a CUF obtém o reconhecimento alimentar do óleo de amendoim (ou mendubim, como então se dizia). E esta decisão vai ter grande impacto não só na olivicultura nacional  (pressionando o preço do azeite)  como na economia da Guiné, que passa a ser o principal fornecedor de matéria-prima, o amendoim. A CUF detém o monopólio da exportação do amendoim (com casca ou sem casca) da Guiné, até à independência da Guiné-Bissau.

Eis mais alguns números sobre a  "mancarra" ((Knapic, 1964. pp.24/25):

(i) Entre 1930 e 1960 há um aumento gradual da produção e exportação: a. média de 1931-35 foi de 22853 t e 15203 contos; a de 1955-60 de 34196 t e 113438 contos" ;

 (ii) nos anos 60, é o principal produto de exportação da Guiné: representa 76% do total das exportações  (em 1964), percentagem que decresce para 61% em 1965;

(iii) em data que não sabemos precisar, mas no início da década de 1960,  construiu-se a primeira fábrica de extração de óleo para abastecimento local, sendo o resto exportado;

(iv) em 1965, a Guiné já exporta óleo de amendoim: 41 t (631 contos)...

(v) em meados da década de 1960, a área cultivada pelos produtores de mancarra atingia os 100 mil hectares, ou seja, um 1/4 do total da área cultivada da província!,,,.

(vi) a produção rondava as 65 mil toneladas; a produtividade era baixa: 600 kg / ha (2 mil kg /ha em casos excecionais);

(vii) em 1965, uma tonelada de amendoim exportado valia 4,2 contos (cerca de 21 euros na moeda atual) (Vd. Quadro 1).

A cultura da mancarra era feita: (i) em regime de rotação; (ii)  sem seleção de sementes; (iii) sem recurso a adubos ou estrume; (iv) proporcionando fracos rendimentos aos produtores; e (v) exigindo grande esforço nas várias fases do ciclo de produção (sementeira, monda, colheita, protecção contra os babuínos...).

As principais regiões de produção eram as do leste da Guiné (Farim, Bafatá, Gabu) onde os solos são mais leves e a precipitação menor.

No entanto, esta cultura era já considerada na época como muito lesiva do ambiente, pelo uso intensivo dos solos, a redução do pousio, as queimadas... Tradicionalmente os camponeses da região praticavam um sistema de rotação mancarra - cereal - pousio, considerado pouco eficaz. Acrescente-se ainda o sistema de comercialização, penalizando fortemente os produtores. Mas o mesmo se pode dizer hoje da cultura do caju que é uma séria ameaça para a segurança alimentar do povo guineense. (Hoje uma tonelada de caju podem valer ao produtor guineense 400 euros; o que mal dá para comprar 10/12 sacos de 50 kg de arroz, base da alimentação da população).


Ano
Mil toneladas
Mil
contos
Contos por tonelada
1960
24,0
78,8
3,27
1961
40,0
126,3
3,17
1962
38,7
133,3
3,44
1963
36,6
124,7
3,41
1964
34,0
119,2
3,50
1965
15,2
64,3
4,23

Quadro 1 - Exportação do amendoim (1960-1965)
(Knapic, 1966 / adapt por LG)


E já que falamos de segurança alimentar, temos que falar do arroz... Desde 1930 que a Guiné exportava arroz, Embora a quantidade (em toneladas), baixasse com o tempo,  aumentava todavia  o seu   valor (em contos). A média de 1931-35 foi de 3285 t e 1500 contos (0,456 contos por tonelada ) contra 1398 t e 4283 contos no período de 1956-60 (3 contos por tonelada).

Praticamente todo o arroz exportado destinava-se a Cabo Verde, na década de 1960. Com o início da guerra, a Guiné passou a ter de importar arroz (Quadro 2), tal como ainda hoje, infelizmente.

Ano
Contos
Aumento  em relação
a 1962 (%)
1962
8963
-
1963
11786
31,5
1964
29868
332, 4


Quadro 2  - Importação de arroz em contos (1962-1964) 
(Knapic, 1966 / adapt por LG)


Fonte: Adapt. de Dragomir Knapic - Geografia económica de Portugal: Guiné. Lisboa: Instituto Comercial de Lisboa, 1996, 44 pp., policopiado.

Observ - O autor desta brochura, Dragomir Knapic, de origem eslovena, era professor, no Instituto Comercial de Lisboa,  muito estimado pelos seus alunos... Era cunhado do nosso camarada Mário Beja Santos (Foi ele quem ofereceu esta brochura à biblioteca da Tabanca Grande). O livrinho tem informações preciosas sobre a Guiné dos anos 60: (i) condições naturais; (ii) população; (iii) agricultura; (iv) pesca e indústria; e (v) comércio e circulação.

________________

sábado, 9 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11217: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (10): Nunca pensei vir a gostar deste arroz e não me aborrecer de o comer praticamente todos os dias

1. Continuação da publicação do Diário de Iemberém, por Anabela Pires (Parte X) (*) [, Foto à direita; créditos fotográficos: JERO]


24 de Fevereiro de 2012

Nos últimos dois dias tivemos cá dois grupos de turistas.

Um dos grupos, de 11 pessoas, veio via Mali. Era constituído por 5 homens (americanos e ingleses) e 6 casais, dos quais 2 italianos. Vinham acompanhados de um guia do Mali e de outro guineense e já vinham do arquipélago dos Bijagós.

O outro grupo era um casal francês com 3 filhos, o mais pequeno dos quais tinha 5 anos. Vinham também acompanhados de um guia francês que trabalha para uma operadora no arquipélago. Fiquei a pensar que o meu João já cá pode vir, afinal os perigos não são assim tantos.

Pela primeira vez foi servida uma sopa no restaurante da Satu e adoraram a tarte de coco e banana, o bolo de laranja, as laranjas da Rosinda, os doces de limão e laranja, além do mel daqui e dos pratos tradicionais da Satu.

 Um dos pratos favoritos é a galinha ou cabrito à cafreal que é bem diferente do cafreal de Moçambique. Aqui, depois de grelhar a carne, é feito o tal molho onde a carne é metida. O molho tem 3 vantagens: torna a carne mais macia – mesmo as galinhas aparentemente pequenas têm a carne muito dura, permite manter a comida mais tempo quente e é o tempero do arroz que é só cozido em água e sal. 

Nunca pensei vir a gostar deste arroz e não me aborrecer de o comer praticamente todos os dias mas, na verdade, sabe muito bem. Não sei explicar como e nem porquê mas que sabe bem, isso sabe. Como dizem aqui as pessoas “muito sabe”. Outra expressão muito curiosa que usam quando uma comida é boa é dizer que pica. Um dia dei um bolo a provar à Pónu e ela começou a dizer-me “pica, pica”. Eu fiquei espantada e disse-lhe “mas eu não pus malagueta no bolo”. Então lá percebi que a expressão não tem nada a ver com picante mas que só quer dizer que é bom.

[Foto à esquerda: Anabela Pires, Catesse, janeiro de 2012. Foto de Pepito]


29 de Fevereiro de 2012

Hoje o Pepito vem cá. Foi bom de ver a Duturna cheia de pica ontem a fazer as limpezas! Ainda não consegui perceber bem o que muitas destas pessoas sentem pelo Pepito mas é um misto de respeito, de admiração, de medo? Mas de um medo bom, de um medo, creio, de o aborrecer, de o desiludir.

Ainda não terminámos as grandes limpezas, talvez seja hoje! Tem sido difícil convencer as mulheres a limpar paredes e a esfregar as junções dos ladrilhos. A sensação que tenho neste momento é que sempre que virei costas aldrabaram o trabalho, mas no final de Março faremos outra vez limpezas gerais e vou ter de estar sempre presente.

No Domingo voltei a ir à pesca mas só o Sambajuma apanhou uma raia. Mas foi um dia e tanto. Mudámos 3 vezes de piroga, fomos até ao “mar grande”, sempre em contra corrente e a partir de determinada altura só com um remo. Bem, uma maluquice do timoneiro! Passámos mais tempo a andar de piroga do que à pesca e o Sambajuma e o Alfa (irmão do Gassimo com 24 anos) “apanharam uma canseira” daquelas! Logo na mudança da 1ª piroga, quando olhei, estava tudo cheio de água, bem salgada, por sinal. Conclusão, entrou água para dentro da caixa onde ia o molho de galinha, para dentro do saco onde levava bolo que tinha feito de manhã …. Só comi meio “cuduro” com ovo mexido mas eles comeram tudo o resto. 

Já fizemos parte do caminho de noite, cansadíssimos e sem peixe! Como é costume, eu é que preparo e pago tudo, desde a comida, ao material de pesca, ao isco, e no fim ainda dou uma gorjeta a cada um. Ainda assim é muito mais barato ir à pesca aqui do que em Portugal. Compro isco para todos por menos de 50 cêntimos, as gorjetas são de 1,5€ por homem e não gastamos gasolina. Tenho de mandar vir material de pesca pois assim o que trouxe não me vai chegar para os 6 meses. Apesar de ter sido um dia louco foi muito saboroso pois a paisagem é muito bonita e repousante.

A bateria do PC está a finar-se e tenho mesmo de ficar por aqui. Ontem à noite o gerador só pegou às 21.30 e foi um bocado doloroso não ter luz logo às 19 horas. Coisas que acontecem!

[Foto acima: pescadores do Rio Geba, região de Bafatá, dezembro de 2009. Foto de João Graça]
_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 4 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11189: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (9): O batizado muçulmano da Aminata, a filha do padeiro

sábado, 3 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10615: A minha CCAÇ 12 - Anexos (I): Sansacuta, tabanca fula em autodefesa no sul do regulado de Badora, onde estive em março de 1970 e onde um dia recebi, do vagomestre, um lata 5 kg de fiambre dinamarquês... que tive de consumir e repartir pelos putos em escassas horas (Luís Graça)






Guiné > Zona leste > Seto  L1 (Bambadinca) > BARt 2917 (1970/72) > Tabancas fulas em autodefesa do Regulado de Badora: crianças... e cães.

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados



1. Enquanto não aparece o poste relativo ao mês de novembro de 1970. quando a CCAÇ 12 perfazia 18 meses de Guiné (, mês que me traz amargas memórias) (*), vou iniciar um séria paralela, para lá pôr uns textos anexos... O primeiro tem a ver com a temporada (duas semanas e meio) que passei em Sansacuta, no sul do regulado de Badora, do lado esquerdo da estrada Bambadinca-Mansambo, comandando uma secção do 4º Gr Comb da CCAÇ 12, entre 24 de fevereiro e 12 de março de 1970.

Adicionar legenda
Uma aldeia fula em autodefesa:  Sansacuta, regulado de Badora

por Luís Graça



1. Como esses bandos sinistros de jagudis (abutres) que pousam sobre a morança dos que estão a morrer, também o espectro negro da fome paira sobre as tabancas da Guiné. Porque a desnutrição, essa, é já endémica: facilmente se constata, sobretudo nas crianças, toda uma série de sintomas patológicos provocados pelas carências proteicas e vitamínicas de uma alimentação quase só à base de cereais (arroz, milho, fundo) e túbérculos (mandioca, inhame), acompanhos de molhos de origem  vegetal (óleo de palma). 

A alimentação é, pois,  deficiente, sobretudo em qualidade. O peixe (sobretudo seco) e a carne são raros. Além disso, os fulas, que são islamizados, não comem carne de porco. Em contrapartida, não têm os problemas de alcoolismo dos povos ribeirinhos, animistas (como os balantas de Nhabijões).

E, no entanto, trata-se dum território aparentemente fértil, mas com umas das mais elevadas densidades demográficas do continente africano, concentrando-se as populações em especial nas bacias hidrográficas, junto às bolanhas e lalas (regiões alagadiças ricas em húmus) onde cultivam o arroz.


Mas a guerra e a sua escalada vêm modificar profundamente a geografia humana e económica da Guiné: por um lado, provocam o êxodo maciço de populações inteira (balantas, beafadas, mandingas, manjacos, etc.) para as zonas controladas pelos guerrilheiros e para os países límitrofes (Senegal e Guiné-Conacri). E por outro, assiste-se ao fenómeno da militarização dos fulas (uma tribo islamizada cujos régulos detêm ainda algum do seu antigo poder feudal), através não só do reagrupamento e organização em autodefesa das suas aldeias como também da formação de milícias.

2. Eis a razão por que, a partir de 1963, se tem vindo a acentuar o decréscimo da produção agrícola (que aliás é cada vez para autoconsumo). Mas vejamos as duas culturas ainda comercialmente importantes: o amendoim e o arroz.

O amendoim (ou mancarra) só por si deve representar hoje  cerca de metade do valor total das exportações (da Guiné para a Metrópole).

Muito antes ainda de passar à clandestinidade, o engenheiro agrónomo Amílcar Cabral (que terá dirigido uma brigada técnica dos Serviços Agrícolas Coloniais, não  em Fá, aqui perto de Bambadinca, mas em Pessubé, tendo feito estudos sobre a produtividade de diversos tipos de amendoim), já tinha denunciado o perigo que representava a monocultura desta oleaginosa para o desenvolvimento económico e social da Guiné, e criticando implicitamente a sua importância estratégica como matéria-prima para os monopólios metropolitanos (a CUF, aqui representada pela Casa Gouveia).

Tendo sido imposta ao indígena pela administração colonial, a cultura da mancarra está hoje em declínio irreversível: os fulas ainda são os únicos que lavram mancarra (cultivam amendoim) na periferia das suas tristes tabancas, cercadas de arame farpado e de minas. É com o produto da sua venda que o camponês fula paga, no posto administrativo, a sua taxa domiciliária (imposto de palhota), colectada na base do número de mulheres (e moranças) que possui! 


Curiosa é a origem da mancarra, a semente do diabo, segundo a lenda fula, que aqui ouvi em Sansacuta (em 8 de março de 1970):

Na mitologia fula a mancarra (amendoím) está associada ao Diabo em pessoa (Iblissa). O cherno Umaru que dirige uma pequena escola islâmica nesta tabanca e que se prepara , como bom muçulmano devoto (tijanianké), para fazer no próximo ano a sua peregrinação a Meca (Iado Hadjo, em fula) e assim juntar ao seu nome o título venerando de al-hadj,contou-me a seguinte história,  traduzida  pelo Suleimane, o José Carlos Suleimane Baldé (o meu braço direito, guarda-costa, intérprete, cozinheiro, secretário):

- Um dia Iblissa (o Diabo) quis desafiar a autoridade divina de Mohamadu (o Profeta Maomé). Tinha chovido muito e o Profeta dissera que então nasceriam todas as sementes que fossem lançadas à terra. O Diabo, em vez de uma semente de milho ou de arroz, deitou leite numa cova que ele próprio tinha feito no chão. Mohamadu, intrigado e inquieto com a provocação de Iblissa, foi falar com Alá, que lhe mandou guardar uma semente. E ao fim desse tempo, não é que do leite nasceu mesmo a mancarra ? (**)

O segundo produto é o arroz (***). Antes da guerra, dois terços eram exclusivamente produzidos pelos balantas, a maior etnia do território (que são 150 mil, segundo o censo de 1962). Inclusive o arroz chegou a ser exportado. Hoje mal chega para o autoconsumo, tornando-se dramática a sua carência nos anos de menor pluviosidade.



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor de Bambadinca > Detalhe > Tabancas fulas em autodefesa, Samba Juli, Sinchã Mamadjai e Sansacuta, situadas entre os rio Querol e Timinco, a leste da estrada Bambadinca-Mansambo > Carta do Xime (1955) (Escala 1/50 mil)... Lugares que continuam no nosso imaginário...



Entretanto, no circuito da economia monetorizada, devido à inflação provocada pela guerra, a população que está sob o nosso controlo vê-se muitas vezes na contingência de vender, ao pequeno comerciante português ou libanês, o arroz que produz para comer (preço por quilo: 3 pesos!) para comprar umas chinelas de plástico:

- O senhor administrador dá porrada se pessoal africano anda descalço em Bambadinca!-, diz um dos meus soldados fulas.

Noutras ocasiões, trata-se de fazer dinheiro para pagar a taxa domiciliária I"o famigerado "imposto de palhota"), imposta ao guinéu e devida pelos escassos metros quadrados de superfície que ocupa a sua morança. 
Entretanto, quando as reservas se acabam no tempo seco, o guinéu volta a adquirir o mesmo arroz pelo dobro do preço (6 pesos).

O drama destes pobres camponeses que foram obrigados a abandonar as suas áreas de cultura, arrancadas à floresta tropical ou à savana arbustiva, de geração em geração, pude senti-lo aqui em Sansancuta onde estive em autodefesa. (****).

3. Sansancuta faz parte dum eixo de aldeias estratégicas, como se diz no Vietname, no limite sul do regulado de Badora, no Sector L1, e que funciona como uma espécie de pequena muralha da China, cortando as linhas de infiltração das forças da guerrilha que eventualmente se dirijam para o interior daquele regulado a partir do Rio Corubal.

Estão aqui reagrupados os habitantes de três tabancas, uma das quais Sare Ade cuja população, sobretudo os mais jovens, não se conformou com a ordem de deportação dada pelo comando militar de Bambadinca, tendo fugido para o nordeste (Gabu) e inclusivamente para o Senegal, que também é chão fula.

Hoje, de resto, só há duas alternativas para um homem fula: (i) oferece-se como voluntário para o exército colonial, passando primeiro pela milícia; ou (ii) emigra todo os anos, na época das chuvas, para o chão de francês (Senegal ou Guiné-Conacri) a fim de trabalhar nos campos de mancarra.

É a única maneira de fugir ao universo concentracionário da sua tabanca, e sobretudo à fome. Essa fome visceral que leva as crianças a aproveitar tudo aquilo que nós, tugas, nos damos ao luxo de deitar fora (vi-as aqui a assaram na brasa as vísceras de um frango que o bom do José Carlos Suleimane Baldé me arranjou e reparti-las equitativamente entre si).


Tínhamos uma secção destacada em Sinchã Mamadjai  [ou Mamajã] que foi transferida em 24 de Fevereiro de 1970 para Sansacuta, com o objetivo de controlar os trabalhos de autodefesa [, e que haveria de  regressar definitivamente a Bambadinca a 12 de Março de 1970].

Fome, subnutrição, carências de toda a ordem (roupas, medicamentos...), doenças como paludismo, mortalidade infantil,  etc., contrastam, de modo chocante, com a relativa opulência com que um tuga , como eu, aqui vive: ainda ontem me vieram trazer o reabastecimento semanal e, entre outros produtos enlatados, deixaram-me cinco quilos (!) de fiambre dinamarquês, para dois mecos, para mim e para o operador de transmissões, os dois únicos brancos, já que as praças são desarranchadas. 


Tivemos de comero fiambre em menos de vinte e quatro horas, sob pena de se estragar com o calor (, frigorífico a petróleo ka tem!), e, uma vez aberta a lata, repartir o resto do fiambre pelos putos da aldeia e soldados africanos da secção. É claro que lhe chamaram um figo, não tendo desconfiado sequer que tal iguaria pudesse ser feita de carne.. de porco!

Deportado e reagrupado em aldeias estratégicas (ou tabancas em a/d, chamem-lhe o que quiserem), o camponês da Guiné que ama os grandes espaços livres (a floresta onde vai caçar a gazela, a bolanha onde cultiva o arroz, o rio onde vai buscar o mafé) vê-se confinado a uma área de reserva onde pratica uma miserável agricultura de subsistência.

Ironicamemnte as fiadas de arame farpado que cercam as palhotas cónicas,as trincheiras e os abrigos de combate, os espaldões para as armas pesadas, as valas de comunicação e os abrigos passivos das tabancas em a/d, ficarão proventura como os únicos vestígios arqueológicos da presença duma civilização tecnologicamente superior nesta parte ocidental de África...

Luís Graça




Guiné > Zona Leste > Croquis do Sector L1 (Bambadinca) > 1969/71 (vd. Sinais e legendas).  Dentro retângulo a vermelho, ficavam localizadas as duas tabancas aqui referidas neste poste, Sansacuta e Sinchã Mamadjai, no limite sul do regulado de Badora,  entre Bambadinca e Mansambo. A sudeste ficavam três importantes (e das últimas) tabancas fulas do regulado do Corubal,  Afiá, Candamã e Camará,  eestas já pertencentes ao subsetor de Mansambo.

Infografias: © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados

______________



Excertos de: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1969/71. 
Cap. II.26: A secção destacada em Sinchã Mamadjai foi transferida em 24 de Fevereiro de 1970 para Sansancuta a fim de controlar os trabalhos de autodefesa da tabanca, regressando definitivamente a Bambadinca a 12 do mês seguinte [Março de 1970].~


Notas do editor:


(*) vd. último poste da série > 30 de julho de 2012 > Guiné 62/74 - P10209: A minha CCAÇ 12 (26): Outubro de 1970: o jogo do rato e do gato... (Luís Graça)

(**) Números sobre a mancarra:  Principal produto de exportação da Guiné nos anos 60: 76% do total (em 1964), percentagem que decresce para 61% em 1965, em consequência do agravamento da guerra. A área cultivada atingia os 100 mil hectares (um 1/4 do total da área cultivada da província). A produção rondava as 65 mil toneladas. A produtividade era baixa: 600 kg / ha (2 mil kg /ha em casos excecionais).

A cultura era feita em regime de rotação, sem seleção de sementes, sem recurso a adubos ou estrume, proporcionando fracos rendimentos e exigindo grande esforço nas várias fases do ciclo de produção (sementeira, monda, colheita, protecção contra os babuínos...). Principais regiões de produção: o leste da Guiné, Farim, Bafatá, Gabu, onde os solos são mais leves e a precipitação menor. 

No entanto, esta cultura era já considerada na época como muito lesiva do ambiente, pelo uso intensivo dos solos, a redução do pousio, as queimadas... Tradicionalmente os camponeses da região praticavam um sistema de rotação mancarra - cereal - pousio, considerado pouco eficaz. Acrescente ainda o sistema de comercialização, penalizando fortemente os produtores. (Fonte: adapt. de Dragomir Knapic - Geografia económica de Portugal: Guiné. Lisboa: Instituto Comercial de Lisboa,  1996,  44 pp., policopiado).

(***) Arroz: a área de cultivo devia representar 150 mil hectares no início da década de 60, antes da guerra, o que equivalente a 38% do total, concentrando-se em especial nas regiõe do Cacheu, Bissorã e Mansoa, a norte do Rio Geba, e Fulacunda e Catió, a sul. Havia dois tipos de cultura de arroz: o alagado, ou de bolanha (nas regiões mais ribeirinhas, no litoral); e o arroz de sequeiro, no interior, praticado sobretudo pelos manjacos e fulas. 

A produtividade é também baixa, oscilando entre os 30 kg e os 2 mil kg por hectare, com um a média de 800 kg/ha. A produtividade é sempre maior no arroz alagado. A Guiné passou a ser autossuficiente em matéria de arroz, sobretudo a partir dos anos 30 até ao início da guerra colonial. Exportava arroz para a metrópole, para a África francesa (Senegal e Guiné-Conacri) e para Cabo Verde. Com a guerra, a situação inverteu-se: passou a importar. (Fonte: Dragomir Knapic, 1966, op. cit.).

(****) A terceira cultura de maior peso na Guiné era a do milho (cavalo, preto e basil), mas que tinha um baixíssimo valor alimentar. A área ocupada era sensivelmente a mesma do arroz, mas a produção era 3 vezes inferior: apenas cerca de 50 mil toneladas. Era também uma cultura devastadora para o ambiente, sendo precedida de derrube da floresta e de queimadas...

Outras culturas, mas de menor  impacto na economia e na dieta do guineense do nosso tempo: fundo (30 mil hectares / 10 mil toneladas /  300 quilos por hectare), o feijão, a mandioca, a batata doce, o inhame... Dos frutos mais comuns,  e com relevância para a alimentação, destaque-se a manga, a papaia, a banana, a laranja,  a tangerina, o limão,  a cola, o cajú, o coco... A cana de acúcar também era cultivada, no litoral, destinando-se praticamente apenas para a produção de aguardente de cana.

Outras culturas, com valor económico e alimentar: o óleo de palma (extraído da palmeira de dendê, "Elaeis guineensis"), o coconote, gergelim...

Quanto á riqueza pecuária era estimada, em 1961,  em mais de 230 mil cabeças de gado bovino. Havia umas escassas dezenas de cavalos e mais de 3800 burros. Outros animais domésticos: cabras (c. 144 mil), porcos (c. 98 mil) e ovelhas (c. 54 mil). (Fonte: Dragomir Knapic, 1966, op. cit.).


sábado, 12 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9890: Estórias do Juvenal Amado (42): O arroz do nosso descontentamento

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 7 de Maio de 2012:

Carlos, Luís, Magalhães e restante Tabanca Grande
Este é um texto sobre um improvável interesse em relação a um produto que nos acompanhou de forma quase tão constante como as botas ou a G3.
Sobre os benefícios e malefícios do arroz muito foi escrito, mas o que chegou até nós, foi a memória de tempos difíceis como soldados naquela terra que se estranhou e que depois, se entranhou em nós até aos dias de hoje.
As fotos são do meu camarada Caramba e mostram o Restaurante da Morte Lenta em Galomaro, em todo o seu explendor.

Juvenal Amado


ESTÓRIAS DO JUVENAL (42)

NA GUINÉ O ARROZ DO NOSSO DESCONTENTAMENTO

Portugal é por herança dos árabes um dos países europeus que cultiva arroz no seu território. Devido ao Advento dos Descobrimentos onde cerca de 100.000 homens embarcaram nas caravelas à conquista de novos Mundos, foi necessária a importação de mão de obra africana, que colmatasse a falta de braços para cultivar os nossos campos e assim também o arroz. Este veio tornar-se da máxima importância, sendo a sua cultura depois distribuída pelos novos territórios das descobertas. Fácil de transportar e de armazenar, utilizável em qualquer situação, o arroz é consumido por mais de metade da população Mundial, com muita incidência no III Mundo onde é um poderoso antídoto contra a fome.

Esses mesmos trabalhadores possivelmente guineenses ou daquela região, fruto da escravatura, diluíram-se posteriormente nas sucessivas gerações e os descendentes, continuam por aí, como provam especialmente as mulheres de tez morena, lábios carnudos, belíssimos cabelos negros encaracolados e não menos belos bronzeados, quando apanham um pouco de sol.

A inegável beleza da mestiçagem bem patente.

Eu nunca fui grande apreciador de arroz, mas o dito é uma parte importante da nossa gastronomia e foi muito importante na guerra. Os exércitos só se movem de barriga cheia, isso quer dizer, que arroz e feijão estão em lugares cimeiros na dieta dos combatentes.

Em tempo de fartura ele come-se em sopa, quem não gosta de um arroz de feijão, malandrinho, de pimentos, de tomate, com grelos, com iroses, de lampreia, arroz doce, de marisco, de peixe, de polvo, com pasteis e no “Pó de Arroz” que o nosso malogrado Carlos Paião tão bem cantava.

Enfim, é um sem fim de iguarias que o nosso arroz tem por base.

Tempos houve que quase foi banido por ser considerado um perigo para a saúde pública, acusando a sua cultura de mais maléfica do que benéfica. Mudam-se os tempos e mudam-se os conhecimentos e aconselham-nos a ter cuidado com certezas e fundamentalismos. Como noutros casos que são bem actuais, misturou-se politica, saúde e interesses económicos, tendo estes sempre a última palavra.

A minha mãe também pegava na colher de pau e dizia, com um olhar carregado de ameaças: “Anda cá que eu já te dou o arroz”!

Mas com a minha ida para a Guiné, o dito atingiu outros patamares gastronómicos de qualidade “insuspeitável”. Lá era sempre branco. Acompanhava feijoadas, “Estilhaços à Chefe”, com gorgulho, com sardinhas de conserva, com salsichas, com Corned Beff, em alguns destacamentos com marmelada, etc, etc..

Era tão importante que quando ele faltava, tínhamos que por vezes com assinaláveis riscos por picadas pouco seguras e até de travessias de rios em canoas, (como aconteceu algumas vezes no Saltinho) de o pedir emprestado a um quartel vizinho, quase como quem pede hoje uma chávena de arroz à vizinha do 2.º esquerdo, salvo as distâncias da comparação.

Dificilmente os nossos cozinheiros: Nascimento, Esteves, “Risinho” e o ajudante Borrego, teriam pretensões a chegar às tão almejadas estrelas Michelin e se não fossem os conhecimentos dos ajudantes africanos, o caso atingiria foros de tragédia.

Ele ficaria como uma bosta branca tipo papa, que se pegava de tal maneira a tudo, e quando se virava o prato ao contrário ele nunca caía. Os nossos especialistas cozinheiros, confeccionavam-no mais ao menos como foi usado para construir a famosa Muralha da China, com os resultados que todos sabemos ou ouvimos falar.

Está lá há muitos anos e até a única coisa construída pelo homem, que é avistado pelos astronautas nas viagens espaciais.

Mas os ajudantes de cozinha africanos cozinhavam-no ao vapor com um sabedoria difícil de igualar, deixando-o solto, que até parecia milagre para quem ainda cá na Metrópole o tinha gramado da forma argamassa que a tudo se colava.

Galomaro City > Restaurante da Morte Lenta

Quando regressei cumprido que foi o serviço militar na Guiné, o dito cujo foi praticamente banido da minha alimentação durante anos, na companhia das tão celebradas latas de conservas. Hoje já o como nas variadas formas com moderação e há uns tempos de visita a uns amigos angolanos, fui surpreendido com arroz de atum superiormente confeccionado pela Dona Verónica, matriarca da família.

Acompanhado com banana, uma belíssima salada a fazer lembrar aromas e sabores africanos… não é que fiquei fã?

Só provando se pode dar o valor.

Um abraço para todos.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 31 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9685: Estórias do Juvenal Amado (41): Um drama causado pelo esquecimento dum carteiro

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7095: (In)citações (11): O arroz nosso de cada dia nos dai hoje... (Cherno Baldé)




Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 6 de Junho de 2010 > Região de Cacheu > Barro > Foto tirada em 22 de Abril de 2010 > Palavra chave: segurança alimentar > Legenda: "O ano de 2009 foi um mau ano agrícola, especialmente com a redução da produção de arroz de bolanha salgada, responsável por cerca de 75% da colheita deste cereal na Guiné-Bissau.  Daí que, neste ano de 2010, tenha havido uma mobilização geral dos agricultores para recuperar antigas bolanhas (arrozais) abandonadas e voltar a cultivá-las.  Mulheres e homens meteram-se ao trabalho numa bolanha perto de Barro,  no norte da Guiné-Bissau, contribuindo para a construção de uma barragem que impeça a água salgada de invadir os terrenos de cultivo".

Foto (e legenda): © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). (Com a devida vénia...)


1. Comentário de Cherno Baldé ao poster P7073, com data de 3 do corrente:

Há vários factores que estão a contribuir para o abandono gradual da produção do arroz na Guiné:


A partir dos anos 80, com a liberalização do comércio e das importações, aliado à descida de preços do amendoím no mercado internacional, o cajú transformou-se no principal produto de exportação da Guiné contribuindo, neste momento, com mais de 90% do PIB e ocupando mais de 80% da população activa.

A partir do momento em que há uma grande procura deste produto no mercado internacional, sobretudo indiano, e na condição de uma troca directa cajú/arroz, prevaleceu a lógica do mais fácil, ou seja, as famílias/populações preferiram aumentar os campos de plantação de cajú em detrimento da produção do arroz que, como sabem, é muito exigente em água, técnicas de cultivo e mão de obra intensiva.

Pouco a pouco o cajú transformou-se no concorrente e substituto directo do arroz numa altura em que se verifica uma certa diminuição e irregularidade das chuvas assim como um crescente êxodo da mão-de-obra mais jovem para as cidades.

As nossas autoridades estão confrontadas com o dilema do preço do arroz. Não podem perfilar pela subida do arroz importado para não prejudicar as populações (real politique exige)mas, também, não o podem diminuir muito porque o estado não é actor comercial directo.


Cherno AB.

_____________

Nota de L.G.:

6 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7089: (In)Citações (10): Vídeos produzidos pela AD - Acção para o Desenvolvimento na área do Ambiente e Desenvolvimento (Pepito)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6432: Tabanca Grande (220): António Estácio, nascido em Bissau, no chão papel, escritor, amigo do Pepito, do Zé Neto, do Mário Dias e do Graça de Abreu, autor de Nha Carlota




Aos 17 anos, em 1964, em Bissau, na Guiné, onde nasceu, de pais transmontanos, e fez o Liceu Honório Barreto (onde foi condiscípulo do Pepito).



Em 1964 Nhacra, na Guiné, com 17 anos, quando foi visitar um militar, um alferes, natural da terra dos seus pais... 




Em 1967 em Coimbra, na Escola Agrícola da Bencanta, onde tirou o Curso de Regente Agrícola (hoje, Engenheiro Técnico Agrícola), tendo tido como colega o Paulo Santiago.


O António Estácio, agora membro do Clube dos SEXAS... Casado, 63 anos, pai de duas filhas.  

Fotos: © António Estácio (2010). Direitos reservados


1. António Estácio > Curriculum vitae

António Júlio Emerenciano Estácio:

(i) nasceu em Bissau, a 3 de Maio de 1947, no tchom de Papel; em miúdo, nos anos qinquenta, viveu em Bolama, com os pais;

(ii) estudou no Liceu Honório Barreto, onde foi condiscípulo do nosso amigo Pepito;

(iii) conheceu, ainda na Guiné, o nosso camarada Mário Dias.

(iv) de 1964 a 67 estudou, em Coimbra, na ex-Escola Nacional de Agricultura, onde tirou o Curso de Regente Agrícola, posto que estagiou no extinto Instituto de Algodão de Angola (IAA).

(v) de Janeiro de 1969 a Abril de 1972 cumpriu o serviço militar obrigatório, tendo, a partir de Março de 1970 a Maio de 1972, prestado comissão de serviço na Região Militar de Angola (R.M.A.), como alferes miliciano,  e estado aquartelado nas povoações de Luquembo, Sautar e Bessa Monteiro.

(vi) em 28.09.1972 chegou a Macau, a fim de desempenhar funções técnicas na, então, Brigada da Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar (M.E.A.U.); neste território, conviveu com o Mário Dias e com o José Neto, de quem ficou grande amigo.

(vii) de 28 Setembro de 1972 a 2 Dezembro de 1998 viveu em Macau, onde exerceu vários cargos e funções, como:

- Técnico e Técnico Chefe dos Serviços Florestais e Agrícolas de Macau (SFAM); 

- Criador e Coordenador da “Semana Verde”, campanha de sensibilização, nomeadamente dos jovens em idades escolar, sobre a manutenção, defesa e valorização das Zonas Verdes de Macau;

- Membro da Comissão de Educação da União Internacional para a Conservação da Natureza; 

- Vogal a Tempo Inteiro da Comissão Administrativa da Câmara Municipal das Ilhas (CMI); 

- Vogal do Conselho Consultivo do Governador; 

- Secretário-Geral e, posteriormente, vogal do Conselho do Ambiente (Macau); 

- Vice-Presidente da Câmara Municipal das Ilhas; 

- Colaborador da Editora Verbo; 

- Coordenador científico da Exposição “A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses”, promovida em 1995 pela Comissão Territorial de Macau para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; 

- Colaborador no Projecto Garcia de Orta, da “Expo 98”; 

- Colaborador do Museu de Macau; 

- Membro fundador (30.04.1974) e dirigente do Centro Democrático de Macau; 

- Sócio e, em 2 mandatos não sequenciais, membro da Direcção do Clube Militar (Macau); 

- Vogal do Conselho Fiscal da Associação de Xadrez de Macau; 

- Presidente da Direcção e Vice-Presidente da A.G. da Associação de Patinagem de Macau; 

- Segundo Secretário da A. G. da Associação para a Promoção da Instrução dos Macaenses, 

Em 03.07.1997 aposentou-se da, então, Câmara Municipal das Ilhas (Macau).

- Foi Vogal da Direcção da Casa de Macau (2003-2005); 

(viii) está ligado a diversas  instituições nacionais, desempenhando funções como: 

- Sócio da Sociedade de Geografia,  sendo e Secretário da sua Comissão de Heráldica; 

- Observatório da China, em cujo Conselho Fiscal, foi Vogal; 

- Membro da Associação Lusitana da Heráldica; 

- Associação Cultural da Terceira Idade e Sintra (ACTIS), sendo 1º Secretário da Direcção. 

- Sócio n.º 456 da 223ª Casa do Benfica em Algueirão Mem Martins, fundada em 28.02.2008.

(ix) tem participado na Semana Cultural da China e no Fórum Internacional de Sinologia. 

(x) louvores e distinções:

Foi louvado pelo Despacho n.º 19/SASAS/91 e pela Deliberação n.º 268/26/CMI/97;

Foi agraciado, em 1995, pelo Governador de Macau, com a Medalha de Mérito Profissional ; 

Em Março de 2006, foi distinguido com a Moeda Comemorativa, pelo Instituto para os Assuntos Cívicos de Macau, aquando da 25ª edição da “Semana Verde de Macau”. 

Em 8 de Fevereiro de 2007, distinguido com Medalha de Honra atribuída pela ONG “Acção para o Desenvolvimento” (AD), da República da Guiné-Bissau.

(xi) É autor, co-autor e coordenador de diversas publicações, na sua maioria de carácter técnico e referentes a Macau tendo apresentado comunicações, artigos, folhetos, brochuras e sido res-ponsável pela edição de Boletins Informativos da Casa de Macau, da respectiva Folha In-formativa não periódica “Qui Nova?!...” que criou e, bem assim, responsável pela edição do Boletim da Associação Cultural da Terceira Idade e Sintra (ACTIS). 


Trabalhos publicados > É autor de vários folhetos, brochuras e das seguintes publicações:

Publicações de índole técnica:

- Flora da Ilha da Taipa, Monografia e Carta Temática (M. E. Cartográficos) 1978; 

- Flora da Ilha de Coloane (S.F.A. Macau) 1982; 

- Dinâmica das Zonas Verdes na cidade de Macau (S.F.A.M.) 1982;

- Arborização de Macau. Intervenção de Tancredo Caldeira do Casal Ribeiro (1883-1885) (S.F.A.M.) 1985;

- Jardins e Parques de Macau  (Macau) 1993 (Em colaboração com o Eng.º Agrónomo e Arq. Paisagista António Manuel Paula Saraiva); 

- Zonas Verdes. Particularidades da Flora de Macau (Macau) 1994 – Ed. do B.C.M.;

- Guia do Parque de Seac Pai Van (C. M. das Ilhas - Macau) 1995;

- Evolução das Zonas Verdes das Ilhas  (C. M. das Ilhas -Macau) 1999 (Em colaboração com o Eng.º Técnico Agrário Carlos Daniel de Carvalho Batalha);

- As Árvores no Brasões Municipais – Ed. da C. M. de Freixo de Espada à Cinta 2001;

- Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense (Portugal) 2002 – Ed. do autor. 



Publicações de índole não técnica: 


- Em Memória de Sá Nogueira (S.F.A.M.) 1984;

- Passadas – Ed. do autor (Macau) 1992;

- Na Roda de Amigos – Ed. do autor (Macau) 1973;

- Para lá do Rasgar da Ganga ...– Ed. do autor (Macau) 1997;

- Histórias Vividas e Contadas – Ed. “Livros do Oriente” (Macau) 1997.

- Nha Carlota, figura esquecida da História Guineense – Ed. do autor (Portugal) 2010

Coordenador as seguintes publicações técnicas:

- Árvores de Macau, Vol. I, de autoria do Prof. Wang Zhu Hao (Ed. C. M. Ilhas) 1997;

- Árvores de Macau, Vol. II, de autoria do Prof. Wang Zhu Hao (Ed. C. M. Ilhas) 1999.

Foi editor do:

- Boletim do Rotary Club Amagao (Macau);

- Boletim da Casa de Macau (Lisboa) (2004-2006);

É editor do:

- Boletim da Associação Cultural da Terceira Idade de Sintra (ACTIS).


Algueirão, aos 19 de Maio de 2010 

António Júlio Emerenciano Estácio
Morada - Av. Prof. Bento de Jesus Caraça n.º 59
2725 – 032 Algueirão – Mem Martins
Telefone - 21-9229058  / Tm 96-2696155
E-mail - citassi@yahoo.com.br

2. Comentário de L.G.:

Para além do falecido Zé Neto, o Estácio é amigo do Mário Dias e do António Graça de Abreu, por afinidades com Macau e a China... E do Pepito, pois claro. Já há muito tinha ouvido falar dele, tanto por parte do Pepito como do Zé Neto. Esteve ligado ao projecto Guileje.

Por exemplo, em 21 de Novembro de 2005, o Pepito mandou-me, em anexo, "um quadro que um amigo meu português, António Estácio, me ajudou a fazer, listando todas as companhias que passaram por Guiledje, onde estão os nomes de algumas pessoas que nos têm disponibilizado documentos (fotografias, memórias e informações) [, uma lista ainda] muito limitada, a necessitar de identificar mais pessoas interessadas em colaborar e a precisar algumas das datas em dúvida".

Conheci-o, há dias, pessoalmente na sessão de lançamento do livro do Amadu Djaló, "Guineense, Comando, Português"... E hoje, de manhã, estive a falar com ele ao telefone. É um apaixonado pela sua terra. E é dotado de um finíssimo humor. É uma pessoa encantadora. Convidei-o a (e ele aceitou em) fazer parte do nosso blogue. Fiz questão de sublinhar que não é apenas um blogue de camaradas que fizeram a guerra colonial na Guiné (1963/74) mas um espaço de diálogo entre todos aqueles que são naturais da Guiné ou são  estudiosos da história e da cultura da Guiné, e nomeadamente que se interessam pela historiografia da presença portuguesa. E sobretudo daqueles que amam a Guiné e o seu povo.

No dia 21, 6ª feira, às 18h00, no Palácio da Independência, no Largo de S. Domingos, em Lisboa, o novo membro da nossa Tabanca Grande vai lançar o seu livro Nha Carlota - uma popular e notável Mulher Grande no seu tempo (1889-1970)  mas hoje desconhecida das novas gerações - para a qual contamos com a presença dos amigos e camaradas da Guiné que quiserem e puderem comparecer.

O António tem em curso a elaboração de um outro livro sobre a sua terra, neste caso sobrte outra Mulher Grande (Nha Bijagó, de seu nome Leopoldina Ferreira Crato). E prometeu contar-nos histórias sobre   o seu país de origem,  que por certo nos irão prender a atenção (como, por exemplo, o nascimento de Catió ou o desenvolvimento da cultura do arroz no sul da Guiné, graças a um chinês de Macau, desterrado no princípio do Séc. XX, por "dívidas de jogo").

Para já, formalizamos a entrada do António Estácio na nossa Tabanca Grande, a tal que não tem portas nem janelas, damos-lhe as boas vindas e fazemos votos para que se sinta em casa, debaixo do nosso frondoso poilão, entre amigos e camaradas. L.G.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6376: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (14): Chegou a hora do caju... e do vinho de caju!


Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título da foto: Chegou a hora do Caju. Data de Publicação: 9 de Maio de 2010. Data da foto:  24 de Abril de 2010. Palavras-chave: Segurança alimentar (*).

Foto e legenda: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) (com a devida vénia)

"Aí está! Chegou a hora do caju!



"Anualmente, por esta altura, o caju assume a sua omnipresença e todos se envolvem freneticamente nesta actividade, excluindo bem claro, os que estão mais preocupados em dar uso às fardas e às armas.


"Para além da castanha de caju, vendida ou trocada por arroz, num processo iniciado há mais de 20 anos e que subverteu por completo a lógica da segurança alimentar nacional, a qual deixou de se basear na nossa produção de arroz para passar a contar com a importação deste cereal, o que custou o ano passado 85 milhões de dólares.


"Igualmente mobilizadora é a comercialização de vinho de caju extraído da polpa e que, uma vez introduzido em bidões de plástico de 20 litros, é comercializado, transportado e… arrastado em camiões por todo o país."
_______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior desta série > 22 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6214: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (13): Força, Luís e Camaradas, porque o Blogue é um momento único e inigualável no mundo (Pepito)