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terça-feira, 17 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16101: Efemérides (226): Dia 20 de Abril de 2016, triste aniversário; 46 anos se passaram sobre o assassinato do Chão Manjaco (Manuel Resende, ex-Alf Mil da CCAÇ 2585)



Pelundo - Major Osório em primeiro plano


Pelundo - Major Passos Ramos, o primeiro à esquerda; Major Osório,
último à direita e de costas



Alferes Mosca em primeiro plano ajudando na preparação da ceia de Natal de 1969

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (Ferreira) (2016).


1. Mensagem do nosso camarada Manuel Resende (ex-alf mil da CCaç 2585/BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71), com data de 20 de Abril de 2016, a propósito da passagem do 46.º aniversário do assassinato dos Majores PASSOS RAMOS, MAGALHÃES OSÓRIO, PEREIRA DA SILVA; Alferes Miliciano JOÃO MOSCA; dois condutores e um tradutor, no Chão Manjaco, no dia 20 de Abril de 1970.




Triste Aniversário

Caros amigos e camaradas
Hoje é o dia 20 de Abril. Por acaso alguém se lembra do que aconteceu no dia 20 de Abril de 1970 em Jolmete, precisamente há 46 anos?

Neste dia não houve saída para o mato, não saímos do quartel nem para caçar. Achámos estranho, mas o nosso Capitão Almendra disse aos Oficiais, não sei se a mais alguém, talvez ao Dandi, depois do almoço, que se estava a passar algo de anormal.

Nesse dia iria acontecer uma reunião (a última) para a pacificação do “Chão Manjaco”, entre os chefes do PAIGC e os OFICIAIS do CAOP, num local junto à primeira bolanha a contar do Pelundo para Jolmete, a cerca de 4-5 Kms do Pelundo.
Essa reunião destinava-se a integrar todo o pessoal do PAIGC pelos aquartelamentos da zona, como já estava combinado em reuniões anteriores.

No dia anterior, Domingo 19, o CAOP esteve em Bula, e ao jantar, o Sr. Major Pereira da Silva recebeu um telefonema, presume-se de Bissau, dizendo que um tal “LUIS” iria estar presente na reunião no dia seguinte. Segundo o que me lembro dos comentários da altura, diziam que ele ficou cabisbaixo, mudo e pensativo, ... devido à presença inesperada dessa pessoa.

Estavam previstos 5 jipes (isto é o que me lembro da altura dos acontecimentos), mas ficaram reduzidos a três, pois o Sr. Major Pereira da Silva, que superintendia o assunto, não autorizou os outros a serem “martirizados”. Lembro-me de ouvir dizer que o nosso Capelão, Padre António Gameiro queria ir, mas não foi autorizado. Eu tinha a impressão que o nosso médico Dr. Diniz Calado, também queria ir, mas ainda há poucos meses estive com ele, abordei o assunto e o próprio disse-me “que nunca essa hipótese foi colocada, não queria participar em aventuras dessas”.

Bom, o local foi alterado para a segunda bolanha, a 5 Kms de Jolmete. Porquê? Como lá foram parar, cerca de 8 Kms mais a norte, mais próximos de Jolmete?

Devo confirmar que ouvi alguns tiros por volta das 3 da tarde (e muitas outras pessoas também ouviram). Foi muito comentado, pois nesse dia estávamos proibidos de “fazer fogo”, nem a caçar.

Foram barbaramente assassinados pois estavam desarmados:

Major PASSOS RAMOS
Major MAGALHÃES OSÓRIO
Major PEREIRA DA SILVA
Alferes JOÃO MOSCA
Nativo MAMADÚ LAMINE 
Nativo ALIÚ SISSÉ 
Nativo PATRÃO DA COSTA 

OBS: Os nativos eram dois condutores dos jipes e um tradutor.

Não é meu interesse aqui entrar em pormenores, pois apenas quero lembrar a memória destes Oficiais, que devem figurar em todos os escritos com letra maiúscula.

Junto algumas fotos tiradas por mim, lamento não ter nenhuma do Sr. Major Pereira da Silva.

Manuel Cármine Resende Ferreira
Alf. Mil. Art. em Jolmete (Pelundo – Teixeira Pinto)
CCAÇ 2585 – BCAÇ 2884

************

2. Comentário do co-editor CV

São devidas desculpas ao Manuel Resende por só hoje estarmos a dar conta desta triste efeméride mas, como este assunto é por demais marcante na história da guerra da Guiné, qualquer dia é próprio para se falar dele.

Quanto a mim, não esqueço esta data porque foi o dia em que nos apresentámos, na Parada do Depósito de Adidos, ao General Spínola. A 21 seguiríamos para Mansabá para uma longa estadia, ali, que só terminaria a 23 de Fevereiro de 1972.

Temos mais de meia centenas de referência a este trágico episódio; Três majores | Alferes Mosca | Chão manjaco
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Nota do editor

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13349: Inquérito online sobre a ocorrência de eventuais execuções sumárias de elementos IN ou pop, por parte das NT, no CTIG



Guine´> Região do Cacheu > Jolmete > Outubro de 1972 >  CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73) > Vista parcial da nova tabanca. Foto do álbum de Augusto Silva Santos  (ex-fur mil, da CCAÇ 3306).


Foto (e legenda): © Augusto Silva Santos (2012). Todos os direitos reservados.


1. Mensasgem do nosso editor L.G., enviada hoje de manghã à Tabanca Grande através do correio interno:

Camaradas:

Sei que o tema é delicado...Mas a guerra acabou há 40 anos e na nossa Tabanca Grande não há (ou não deveria haver) tabus, isto é,  assuntos intocáveis... Falamos uns com os outros sobre tudo ou quase tudo... Falamos tanto da guerra como da paz, tanto de operações militares como do nosso quotidiano. Falamos sobre nós e sobre aqueles contra quem combatemos. E escrevemos sobre tudo ou quase tudo, incluindo "segredos" guardados estes anos todos... Foi, por exemplo, o que aconteceu com o António Medina, camarada de 1964/66 que vive hoje na América, e que veio partilhar aqui, no nosso blogue,  factos, alegadamente ocorridos em Jolmete, no "chão manjaco",  na sequência de uma emboscada em 24 de junho de 1964...  Esses facto, a serem verdade,  parecem configurar aquilo a que técnica e juridicamente se poderia chamar uma "execução sumária" de duas dezenas de homens da tabanca de Jolmete, incluindo o régulo e o seu neto Celestino. (*)

Até á data não há nenhuma outra versão desses alegados acontecimentos, em parte vividos pelo António Medina, e cuja boa fé não podemos pôr em causa até prova em contrário.

E a este propósito, está a decorrer um sondagem sobre eventuais "execuções sumárias" praticadas na Guiné, pelas NT (mas também pela PIDE/DGS, milícias, polícia administrativa), antes e depois de 1963, início oficial da guerra... Estamos a falar de "eventuais" casos, não estamos a falar de casos concretos que tenham ocorrido, se é que ocorreram.

A acreditar nas versões de alguns camaradas nossos, em conversas tidas "off record" ao longo destes anos, ou até mesmo durante a nossa comissão de serviço, terá havido "casos pontiuais" que, inclusive, chegaram à justiça militar, no tempo do gen Spínola. De qualquer modo, em caso algum vamos julgar nem muito condenar ninguém, já que esse é um dos "princípios sagrados" do nosso blogue...

Em eventuais postes sobre este delicadíssimo assunto, omitiremos sempre  nomes de pessoas, só nos interessam os factos, o que aconteceu, onde e quando.... Como sabem, em Portugal não havia, no nosso tempo, pena de morte...Nem nenhum de nós foi preparado, durante a instrução militar, para executar "penas capitais"... Éramos combatentes, não éramos carrascos.

Queremos conhecer a vossa opinião sincera e frontal sobre este tema que deve ser encarado com serenidade, autenticidade, seriedade, rigor, e honestidade, intelectual e moral. Isto quer dizer que não especulamos, não inventamos, nem muito menos fazemos acusações gratuitas.

Respondam à nossa sondagem, mandem textos e comentários... Não deixemos que sejam os outros a contar a nossa história por nós...

Até ao início desta manhã tinham respondido 32 camaradas. Ainda temos 3 dias para participar. Um alfabravo fraterno, Luís Graça

PS - Respondam "on line!", diretamente no blogue (votando na caixa respetiva, colocada no canto superior esquerdo). Há 7 hipóteses de resposta, mas só podem escolher uma...

2. SONDAGEM: "SOBRE EVENTUAIS EXECUÇÕES SUMÁRIAS DE ELEMENTOS
IN, POR PARTE DAS NT, NO CTIG"...


Resultados preliminares (n=32)

1. Nunca participei
6 (18%)

2. Nunca assisti
1 (3%)

3. Nunca ouvi falar
18 (56%)

4. Participei
0 (0%)

5. Assisti
1 (3%)

6. Ouvi falar
6 (18%)

7. Não sei ou não me lembro
0 (0%

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de;


26 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13333: (Ex)citações (234): Comentários ao poste do António Medina sobre os acontecimentos de 1964 em Jolmete: Vasco Pires, António Graça de Abreu, Manuel Carvalho, Joaquim Luís Fernandes, Júlio Abreu, Manuel Luís Lomba, António Rosinha e António Medina

24 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13326: De Lisboa a Bissau, passando por Lamego: CART 527 (1963/65) (António Medina) - Parte II: Foi há 50 anos, a 24 de junho de 1964, sofremos uma emboscada no regresso ao quartel, que teria depois trágicas consequências para a população de Jolmete: como represália, cerca de 20 homens, incluindo o régulo e o neto, serão condenados à morte e executados pelas NT, dois meses depois

sábado, 15 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12841: Acordar memórias (Joaquim Luís Fernandes) (4): Teixeira Pinto, adaptação às pessoas e ao terreno

1. Quarto episódio da série "Acordar memórias" do nosso camarada Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974):


ACORDAR MEMÓRIAS

4 - TEIXEIRA PINTO, ADAPTAÇÃO ÀS PESSOAS E AO TERRENO


Edifício Sede da Administração Civil em Teixeira Pinto. Estava situado em frente à porta de armas, no início da avenida principal. A casa do administrador já ficava dentro do retângulo do quartel e era uma boa casa com um belo jardim.


Teixeira Pinto, Junho de 1973

Ia entrar no 6.º mês da minha comissão na Guiné, e desde a primeira semana a sonhar com os 35 dias de licença regulamentar, que cheguei a sentir em perigo com a ameaça de uma “porrada”, quando ainda estava na terceira semana.

Já tinha superado muitas dificuldades de adaptação e de funções – adaptação ao clima, a um ambiente pouco hospitaleiro e corrosivo, os perigos e os medos, as saudades torturantes. Já conhecia as tabancas das redondezas de Teixeira Pinto, onde patrulhava de noite e de madrugada em patrulhas de proximidade e segurança, por vezes com emboscadas faz-de-conta (tipo guarda noturno) e durante o dia, em visitas de “A. Psico”.

Já conhecia alguns dos usos e costumes dos manjacos, da sua cultura e religião, tendo assistido a algumas das suas manifestações. Já tinha sentido e vivido o encanto das suas paisagens e dos sons das suas noites, das suas festas e dos seus choros. Tinham sido meses de intensa aprendizagem e atividades diversificadas.

Foto tirada em Caió, em passagem para uma visita a uma das Ilhas, Pecixe ou Jeta. Fazia “escolta” e companhia ao Alf. Médico Mário Bravo (ao centro). Ao meu lado, o Alf. Mil. Teixeira (?) da CCS. Era o responsável pelo parque-auto e pelos mecânicos do batalhão. À direita do Mário Bravo, o Alf. Mil. Moreira, que estava na sede da companhia em Carenque. Era pacífica esta zona do chão manjaco; Só os mosquitos atacavam. Apetece lá voltar.

E também já tinha muitos quilómetros de estrada, em escoltas a colunas, ao Cacheu e a João Landim. Já levava 2 meses de mata, do Balenguerez a Ponta Costa. Muitas horas de mil perigos e sofrimentos e algumas noites no “hotel estrela da mata”, entregues a nós próprios e aos mosquitos. E sentia ter conquistado a confiança e a amizade dos homens do meu grupo, por quem me via respeitado como chefe e protegido como se fosse o irmão mais novo...

Deslocação por via fluvial, por um dos canais do rio Costa-Pelundo. Partindo de Bassarel, seriamos lançados na margem sul da Península do Balenguerez. Era a primeira vez que o meu grupo fazia esta ação e o homem da lancha não conhecia o canal. Consultando a carta militar, eu descortinava entre tantos canais que o rio tinha na zona, qual era o que deveríamos seguir. E acertei. Mas não me livrava do receio de termos o IN à nossa espera, escondido no mangal, no tarrafo, ou na orla da mata, para a macabra receção. E sentia grande vulnerabilidade. Mas tudo correu bem.

Mas continuava a sentir-me tratado por alguns dos meus pares e por alguns superiores como o sempre alf. “pira” e algumas vezes senti-me hostilizado. Talvez que inicialmente, para eles, eu fosse um tipo um pouco estranho, que não alinhava em todas as suas borgas, antes se isolava, meditativo e até melancólico, a afirmar ideais humanistas e princípios com forte convicção, a questionar as razões daquela guerra, a expor valores em desuso entre a tropa local e diferente dos da sua classe, pondo-os em causa, já “velhinhos” e “apanhados” do clima. Naturalmente eu seria suspeito e era necessário manter debaixo de vigilância e ameaça. (Com o tempo fomo-nos conhecendo e ganhando confiança, respeito e camaradagem).

O meu quarto era o meu refúgio principal. Aí purgava com lágrimas a dor da saudade, na mágoa e na súplica e encontrava a Paz. Aí rezava, escrevia à minha noiva e à família, lia e ouvia música. (Belas músicas que eu ouvia). Mas algumas vezes saía e ia passear sozinho. Um dos locais para onde ia era este que a foto documenta: Nas traseiras do quartel, perto do cais, no limite do rio Baboque. Apreciava a paisagem, meditava e dava largas aos sonhos e conjeturas. Pensava naquele povo, que sofria as consequências da guerra e do subdesenvolvimento e como tudo poderia ser diferente, se uma boa parte dos recursos materiais e humanos gastos na guerra, fossem aplicados no desenvolvimento. E lembrava e meditava as palavras do Papa Paulo VI: - ”O Desenvolvimento é o novo nome da Paz”. (Vd. Carta Enciclica Populorum Progressio – PP87, Março de 1967)

Valia-me a boa relação com os homens do meu grupo, que dia a dia vinha ganhando em confiança e camaradagem. Com eles me identificava e com eles sofria e confraternizava. Sentia também o apoio e confiança do comandante da minha companhia, Cap. Mil. Gouveia.

Confraternizando com o meu grupo, após uma caçada clandestina a 2 javalis em Babol, próximo de Ponta Teixeira. O convívio foi fora do quartel (tinha que ser) num tasco de um senhor libanês de quem não recordo o nome. Fomos visitados por convite, pelo Comandante de Companhia, Cap. Mil. Aires da Silva Gouveia, que estava de Oficial-dia. À sua direita, o Fur. Mil. Op. Esp. Louro, que era da zona de Santarém. Um destemido guerreiro. Gostaria de saber dele para o contactar. Deixo o apelo a alguém que o conheça e queira fazer o favor de me informar.

E tinha um amigo, confidente e confessor, o Alf. Capelão Padre João (de quem gostaria de saber para contactar). Também tinha um grupo de jovens adolescentes, nativos, rapazes e raparigas, dos doze aos dezassete anos, para quem veiculava a minha amizade, quando me reunia com eles, lhes expressava os meus sentimentos fraternos, falando-lhes de Jesus Cristo e do Amor de Deus Pai, que nos tornava irmãos. Eu sentia-os como a minha família local, sendo eu o irmão mais velho. Como eu gostaria de voltar a encontrá-los, estar com eles e saber do rumo que levaram as suas vidas!

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12828: Acordar memórias (Joaquim Luís Fernandes) (3) : As minhas pesquisas sobre Teixeira Pinto e o "Chão Manjaco"

quarta-feira, 12 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12828: Acordar memórias (Joaquim Luís Fernandes) (3) : As minhas pesquisas sobre Teixeira Pinto e o "Chão Manjaco"

1. Terceiro episódio da série "Acordar memórias" do nosso camarada Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974):


ACORDAR MEMÓRIAS

3 - As minhas pesquisa sobre Teixeira Pinto e o "Chão Manjaco"

E onde é que eu ia? Ah! Já sei! Tinha deixado para trás o VIII Convívio do Blogue – Tabanca Grande, com o sentimento de alguma deceção.
Não tinha encontrado nenhum ex-camarada conhecido de Teixeira Pinto. Em contrapartida, tinha trazido comigo seis livros sobre a guerra da Guiné, escritos por ex-combatentes, que iria ler com interesse nos dias que se seguiriam. Porém, o foco principal do meu interesse estava em Teixeira Pinto.

Tinha que continuar a pesquisar e decerto iria encontrar alguns dos meus ex-camaradas, dos quais desgraçadamente até os nomes esquecera. Também me ocorreu que tinha mais de 200 cartas que tinha escrito à minha namorada/noiva/mulher e que iria passar a ler, na busca de reviver o que a memória tinha escondido .

E foram muitos os postes publicados que visitei, que me deram uma noção mais aproximada do que foi aquela guerra e apesar do desgosto que a sua memória me provocava, o meu respeito por aqueles que nela participaram aumentou. A par de alguns actos deploráveis, quiçá compreensíveis dadas as circunstâncias, encontrei descrições de grande humanidade, abnegação, lealdade, coragem, generosidade, amizade e valor. Alguns dos Postes visitados: todos os que julguei relacionados com o Chão Manjaco, os do José da Câmara, do Luís Faria, os relacionados com Teixeira Pinto, com o Bachile, com Capó, com o Balenguerez, com a Caboiana, com o Cacheu, com o Burné... com o Pelundo, mas também com os de outra zonas, Guidage, Guileje, Brá e muitos outros e de muitos autores.

Mas a minha atração era Teixeira Pinto e inicialmente pesquisei mais os postes que lhe julgava relacionados. E abri a carta militar disponível no blogue – deparei-me com mais uma coincidência inesperada: Teixeira Pinto, atual Canchungo, estava inserida numa zona (Regulado) chamada Costa de Baixo. Então... não é que eu morava no lugar de Costa de Baixo, de Leiria, de onde partira, para ir para uma zona na Guiné com o mesmo nome! Coincidências!... Já uma outra coincidência toponímica era a tabanca de Carenque, sede da CCaç 3461, ser homónima da localidade de onde partira e se constituíra (Carenque da Amadora), no RI 1, sua Unidade Mobilizadora. Mas o que mais me agradou ao analisar esta carta militar, foi reencontrar o nome das tabancas, que me soavam bem, quase musicais e me avivavam as memórias e os sentidos, sensíveis aos seus encantos e desencantos. - Binhante, Ucunhe, Bucol, Babanda, Petabe, Canobe, Beniche, Bajope, Chulame, Bechima, Caronca, Cachobar e as de Blequisse...

Imagem parcial da carta militar de Teixeira Pinto, atual Canchungo, (1953) – com a devida vénia ao Blogue e ao “cartógrafo- mor” Humberto Reis.

Nesta busca de notícias daquelas extensas e povoadas tabancas do Chão Manjaco, que tinha calcorreado e conhecido, desejei visitar e saber notícias dos então jovens adolescentes de quem fora catequista, preparando-os para o batismo cristão. E cheguei até à ONG “Bankada” – Andorinhas em Canchungo. Agradei-me de algumas notícias, de outras nem tanto e fiquei com o desejo de lá voltar. Na sequência destas procuras, abri o P2451 e deparei-me com isto: António Alberto Alves, sociólogo, português, a trabalhar na ONG “Bankada”- Andorinhas de Canchungo, a dar-nos conta que o livro “Diário da Guiné – Lama, Sangue e Água Pura” era lido entre os jovens de Canchungo. Curioso! Quem diria!...

Mas uma outra notícia me deixou perturbado: um grupo de ex-militares ou milícias Manjacos, do Pelundo, que tinham militado ao lado das tropas portuguesas, servindo e lutando do mesmo lado da barricada, debaixo da mesma bandeira e que agora viviam em dificuldades, na indigência. E para quem, em seu nome, era pedida ajuda aos ex-camaradas que os reconhecessem. Eu, que nunca tinha estado integrado com tropas ou milícias africanas, não me senti diretamente interpelado, mas fiquei sensibilizado e pesaroso com a sua situação. E, ao ver as suas fotografias, deparei-me com uma que me fez sentir um calafrio, um arrepio... A de Ioró Jaló.

Quem era este homem? De que tabanca? Seria mesmo do Pelundo? Ou de Beniche? Ou de Bajope? Ou de Chulame?...

Ioro Jaló
Com a devida vénia ao autor da foto Dr. António Alberto Alves e aos Editores do Blogue.

O que me fazia reviver esta foto de Ioró Jaló? Que sentimentos me despertava?

As feições deste homem, tornaram-me presente um episódio em que participei, de que não me orgulho, antes me envergonho e que, durante 40 anos, não apaguei da memória.

Um episódio que poderá não ter sido muito grave, dadas as circunstâncias, mas na minha consciência foi. Para quem pretendia ser fiel aos mais elevados ideais e princípios humanistas de coerência, justiça, respeito e solidariedade, o ato cometido foi infame. Cabe-me retratar-me dele, nesta série do Blogue: “O Segredo de...”

Mas para ganhar a compreensão e benevolência de quem o ler e me julgar, convém que faça uma introdução, que sirva de “circunstâncias atenuantes”. Até lá, não se ponham a adivinhar. Será um esforço em vão.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Março de 2014 > Guiné 63/74 - P12812: Acordar memórias (Joaquim Luís Fernandes) (2): O primeiro contacto com a bibliografia da guerra colonial

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12732: (De)caras (14): A propósito da morte dos Três Majores, tema da acta do conselho de guerra do PAIGC, de 11 a 13/5/1970: Amílcar Cabral no seu melhor: pode ter sido um grande líder africano, não é definitivamente um humanista (António J. Pereira da Costa, cor art ref)

1. Mensagem do nosso camarada António J. Pereira da Costa  [alf art na CART 1692/BART 1914,Cacine, 1968/69; e cap art cmdt das CART 3494/BART 3873, XimeMansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74; hoje cor art reformado, foto á esquerda]:


Data: 13 de Fevereiro de 2014 às 22:27
Assunto: A Morte dos Majores


Boa noite, Camarada
Aqui vai um texto que me ocorreu na sequência da acta que o [Jorge] Picado divulgou.(*)

Peço desculpa, mas acho que o louvor permanente do PAIGC, dos seu líder e suas actuações não tem razão de ser. 

Como se dizia no nosso tempo: 
- Quem muito sabaicha, a lingerie lhe aparece.

É tempo de pôr alguns pontos nos ii e traços nos tt.

Um Ab.
António J. P. Costa



2. Conselho de Guerra do PAIGC: reuniões de 11-05-1970 a 13-05-1970 

A Morte dos Três Majores

por António J. Pereira da Costa
Começaria por assinalar que esta Acta, embora “informal”,  é uma fonte histórica de grande valor e autenticidade. É um “documento de trabalho” da organização do partido que, supostamente, seria depois passado a limpo e arquivado. Não é, portanto, um documento para influenciar o futuro investigador. 

O estilo da escrita e o vocabulário estão muito dentro da linha dos  revolucionários do tempo. Era o tempo da Guerra Fria e do conflito sino-soviético. Contudo, chamo a atenção para a pobreza dos textos, que podemos admitir seja expressão de uma aplicação “cega” do marxismo que se supunha teria de dar resultados automaticamente. 

É provável que a realidade não se conformasse com os métodos aplicados. Nesse caso, o problema era da [realidade], pois os “mestres” (não os teóricos) e o Partido é que tinham razão.

E as “massas”?  Bem, as massas só tinham que se conformar e seguir o apelo e as directivas do glorioso...

É sabido que, em todas as guerras – especialmente nas subversivas – qualquer das partes pretende sempre desequilibrar psicologicamente uma parte dos elementos da outra que, uma vez recebidos, por deserção ou captura, poderão ser apresentados como materializando uma vitória e que, se colaborarem, serão uma fonte muito considerável de informações. 

Será, portanto, abusivo partirmos da ideia de que se tratava de uma “missão de paz” aquela que os majores foram autorizados a levar a cabo. O risco era enorme e o inimigo, como vemos, desde os primeiros contactos, se apercebeu do que estava em marcha, simulou até onde entendeu conveniente e foi recolhendo informações e, quando julgou o momento oportuno, agiu… com grande violência.

Saliento que, no texto, não há a menor ponta de respeito pelos inimigos capturados nem se lamenta minimamente o fim que lhes foi dado. Não tenho mesmo grande dificuldade em ver, na morte que foi dada aos capturados, uma forte componente de racismo. Mas sou eu que sou adepto da teoria da conspiração… Era necessário dar uma lição aos “tugas” e mostrar a superioridade dos combatentes do partido.

Com este texto cai por terra a ideia de que os negociantes foram mortos porque não era possível transportá-los para outros locais. Com efeito, não estando sequer aflorada esta hipótese, pelo menos no documento escrito, podemos concluir que o assassinato foi friamente planeado. Havia a possibilidade de os negociantes serem capturados e transportados nas próprias viaturas até onde o trânsito automóvel fosse possível e o PAIGC sabia que a actividade das NT era reduzida ou nula pelo que poderia em poucas horas colocá-los no Senegal e, daí na Guiné-Conacry, cujas autoridades lhe eram claramente mais favoráveis.

Reparem na barbaridade do assassinato! Poderiam ter sido simplesmente liquidados a tiro, mas o recurso a catanas confirma a ideia de que se pretendia “dar uma lição”… aos “tugas”

Neste ponto do comentário à acta, gostaria de salientar a forma “carinhosa” como os dirigentes do PAIGC nos tratavam: TUGAS! Claro que estavam no seu direito. Na guerra – mesmo fenómeno sociológico – é assim. Por isso mesmo, acho que não devemos considerar esta forma de tratamento de que os portugueses são alvo, ainda hoje, como algo de que possamos orgulhar-nos ou achar divertido ou até curioso.

Amílcar Cabral é manhoso na maneira como se dirige aos seus, enaltecendo a vitória que acabavam de obter e os louros que o movimento pretendia tirar dela, a nível local e até internacional. Não creio que assim fosse. Os “aliados” suecos do PAIGC não ficariam muito agradados se soubessem do sucedido, e os soviéticos não teriam muitos problemas com isso e não lhe dariam importância especial. Não era uma questão importante para a obtenção dos objectivos que perseguiam. Basta ter em conta os diferentes tipos de apoio que cada um prestava.

Amílcar enaltece a superioridade moral e a clarividência dos seus. Por isso, os tugas não “conseguiam comprar a n[ossa] gente”. Era necessário manter a liderança de forma incontestada e o melhor era alimentar o ego dos subordinados. 

Como é óbvio, não é esta a “1.ª vez que numa luta de libertação nacional se mata[m] assim 3 majores, 3 oficiais superiores” mas o secretário-geral di-lo para enaltecer a acção dos seus subordinados, chegando ao ponto de falar “nas condições da n[ossa] luta”, (neste ponto teve um rebate e reduziu-se à sua insignificância) fazendo equivaler o “facto à morte de generais…“.

Chamo também a atenção para a complexa organização do PAIGC, enunciada no discurso do secretário-geral, o que certamente é indício de uma malha de organização que visava não tanto uma melhor acção na luta, mas antes um controlo dos responsáveis pelos diferentes organismos do partido (embora todos fidelíssimos e muito atentos, como ficou demonstrado). O futuro confirmou que não era bem assim…

E que dizer da leitura das cartas escritas aos responsáveis do partido? Estamos perante um simples acto político ou até administrativo? Não sei até ponto é que o Amílcar não estaria a pretender tirar dividendos dentro do partido para aumentar a sua força e o controlo dentro dele. Por mim creio que estamos perante um acto de vingança, senão de sadismo ou, pior do que isso, de um “padrinho” que amedronta os outros elementos da “família”..


Foto do secretário geral do PAIGC, incluída em O Nosso Livro de Leitura da 2ª Classe, editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné (sic). Tem o seguinte copyright: © 1970 PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)... Aprimeira edição teve uma tiragem de 25 mil exemplares, tendo sido impresso em Upsala, Suécia, em 1970, por Tofters/Wretmans Boktryckeri AB.

Creio que ficam agora provadas duas coisas.

Primeiro: O PAIGC era um partido guerrilheiro,  igual a tantos outros,  e que fazia a guerrilha com os mesmos escrúpulos de todos os outros. Não se vislumbra aqui nada que o torne melhor ou mais respeitável do que os outros.

Segundo: Amílcar Cabral, como chefe guerrilheiro, não tem nada que o distinga de tantos outros líderes africanos do seu tempo. E não adianta recorrer à velha máxima de que “a sua luta era contra o colonialismo português e não contra o povo português”.

Por último, quero referir que, durante a guerra na Guiné, não tenho conhecimento de que algum guerrilheiro capturado tenha sido morto à catanada, quer fosse soldado, major ou mesmo general. Sabemos hoje que Cabral era um paisano, manobrando os combatentes, independentemente dos postos militares que o PAIGC talvez não tivesse, recorrendo sistematicamente à atribuição de responsabilidade aos “camaradas”, segundo a fidelidade ao partido e resultados obtidos.

Uma coisa é certa: podemos aceitá-lo, mas, por este procedimento está inviabilizada a possibilidade de o considerarmos um humanista. (**)

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Notas do editor:


(**) Último poste da série 21 de março de 2013 Guiné 63/74 - P11288: (De) caras (13): Guerra Ribeiro, natural de Bragança: de administrador colonial no tempo do Schulz a intendente no tempo de Spínola (Paulo Santiago / Cherno Baldé / António Rosinha)

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12704: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (10): O massacre do chão manjaco: acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry, de 11 a 13/5/1970: Transcrição, fixação de texto e notas de Jorge Picado

1. Mensagem,  enviada com data de 28 de janeiro último, pelo Jorge Picado [, foto à direita: ex-cap mil,  CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72 . . aos 32 anos, pai de 4 filhos, engenheiro agrónomo, ilhavense]:
Amigo Luís

[...] Olha, quanto às minhas pesquisas que vou fazendo,  sempre que posso,  no Arquivo Amílcar Cabral, descobri numa acta de um Conselho de Guerra as referências do PAIGC ao caso dos "3 Majores e do Alf Mil Mosca".

Não sei é retirar para publicação as referências.

Lê e vê se tem algum interesse. Entre parenteses rectos estão achegas pessoais que fiz. Jorge Picado


2. Reprodução, com a devida vénia, do documento Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry. 

 Transcrição, fixação de texto e notas pessoais [, dentro de parênteses retos, em itálicos] de Jorge Picado, que, como se sabe, também foi oficial do CAOP1, tal como os malogrados  Major Magalhães Osório, Major Passos Ramos, Major Pereira da Silva e Alferes Mosca


Para ver e ampliar o original, clicar aqui:

Conselho de Guerra: reuniões de 11-05-1970 a 1 13-05-1970: Acta das Sessões  (25 pp.)

Casa Comum

Instituição: Fundação Mário Soares

Pasta: 07073.129.004

Título: Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry

Assunto: Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra, de 11 a 13 de Maio de 1970, manuscrita por Vasco Cabral. Membros Presentes: Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, João Bernardo Vieira (Nino), Osvaldo Vieira, Francisco Mendes, Pedro Pires, Paulo Correia, Mamadu N'Djai, Osvaldo Silva, Suleimane N'Djai 

Secretário: Vasco Cabral

Data: Segunda, 11 de Maio de 1970 - Quarta, 13 de Maio de 1970

Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios 1960-1970.

Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral

Tipo Documental: ACTAS

Direitos: A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Citação:
(1970-1970), "Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_34125 (2014-2-9)


“S. G. [Secretário Geral, Amílcar Cabral]- … A situação mudou também por causa da acção levada a cabo no Norte contra alguns oficiais superiores, em conseq[uência] da acção combinada das n[ossas] forças armadas, da segurança e da Dir[ecção] do P[artido]. 

A liquidação dos 3 majores, 1 Alferes e alguns outros elementos (2.º alguns cam[aradas] - um capitão e um Chefe da PIDE) [Não havia outros Of, mas sim mais 3 guineenses. Se algum era da PIDE, desconheço.], mostrou que era falsa a propaganda dos tugas [termo depreciativo para designar os Portugueses] de que estavam à vontade na n[ossa] terra e Por outro lado, os tugas estavam convencidos de que conseguiam comprar a n[ossa] gente. 

Toda a política de Spínola [COMCHEFE e GG], em conseq[uência] destas n[ossas] acções, está posta em causa. E para toda a gente, tanto dentro como fora da n[ossa] terra, o n[osso] prestígio aumentou bastante e até para o n[osso] inimigo. Sobretudo esta liquidação dos oficiais superiores, contribuiu para isso. O tuga, o Português, pensava antes que nós todos éramos cachorros. O tuga agora já se convenceu do contrário… Os nossos cam[aradas] foram capazes de enganar, discutir com eles, convencê-los, apesar da sua imensa experiência e capacidade e liquidá-los... 

Através [de] certos cam[aradas] que estão em CANCHUNGO, os tugas tentaram ligações com eles, com vistas a desmobilizar a n[ossa] gente. Tentaram, servindo-se de elementos do Fling [Frente de Libertação para a Independência Nacional da Guiné, fundada em Dakar-Senegal em 1962, opositora do PAIGC], portanto a um nível mais baixo, desmobilizar a n[ossa] gente. Sem resultados. As conseq[uências] foram a prisão de 4 dirigentes do Fling. Tentaram contactar Albino, Braima Dakar [Era um dos 2 componente do Comando Geral da Zona BIAMBI-NAGA-BULA, fazendo também parte do Comando Conjunto da Frente BIAMBI-CANCHUNGO] e outros. E na região de Quínara. E tb [também] com gente na periferia da n[ossa] luta: Laí, Pinto e João Cabral. 

Tentaram a ligação com André Gomes e Quintino [O 1.º era um dos 3 responsáveis pela Zona de NHACRA, um dos 3 componentes do Comando Conjunto da Frente NHACRA-MORÉS, um dos 23 componentes do Comité Executivo da Luta (CEL) e por inerência também um dos componentes do Conselho Superior da Luta (CSL). O 2.º, Quintino (Vieira), era o responsável pela Segurança e Controle (SC) do Sector Autónomo de CANCHUNGO, no Comité Regional da Região Libertada a Norte do Geba (CRRLNG) e por inerência igualmente membro do Comité Nacional da Região libertada a Norte do Geba (CNRLNG)].

 Eles avisaram a Dir[ecção] do P[artido], para a interrogar. André Gomes deu mais uma prova de confiança ao P[artido]. Ele mesmo supunha que os tugas queriam desertar. Só depois é que se viu que o [que] queriam [era] desmobilizar a n[ossa] gente. O S.G. [ Secretárioi Geral, Amílcar Cabral] deu o seu acordo à proposta, mas pediu que agíssemos depressa.

 Luís Correia [Responsável pela SC do Sector do OIO no CRRLNG e igualmente do CNRLNG, além de membro do CSL e creio também do CEL], pôs-se, por sua própria iniciativa, em contacto com os cam. [camaradas] da zona. Lúcio Tombô [Ou Tombon, um dos comandos da Zona de BULA] tb [também] foi envolvido na combinação. Ele pôs-se em contacto com os tugas, mas quem devia falar era Braima Dakar que jogou um papel de defesa do P[artido]. 

Os tugas escreveram cartas amáveis e respeitosas aos cam[aradas], num grande namoro. Deram-lhes grandes presentes. Propunham que os guineenses deviam ir substituir os cabo-verdianos, de quem já tinham feito uma lista negra de 30 e que deviam ceder os seus lugares a guineenses. Deram presentes vários: conhaque, whisky, rádios, relógios, panos para as mulheres, cigarros bons, etc. Encontraram-se 5 vezes. Na 4.º vez esteve presente o Governador, que apertou a mão, tirando a luva, do n[osso] cam[arada] André Gomes. (Amílcar lê uma das cartas de um major, Pereira da Silva, a André Gomes). 

No dia do encontro deviam vir os n[ossos] cam[aradas] chefes e estava prevista a vinda do próprio Governador. Os cam[aradas] vieram de facto acompanhados das suas armas. Apareceu mesmo o Luís Correia e eles já sabiam da sua presença. Para não desconfiarem, disseram-lhes que o Luís Correia estava presente e era um alto dirig[ente] do P[artido]. Durante as conversações com os tugas, foi decidido pararem os bombardeamentos aéreos, e os combates. Isso aconteceu de facto: os nossos camar[adas] pararam também certas acções. (Amílcar lê uma outra carta do Major Mosca). [Mosca não era Maj, mas sim Alf Mil]. 

Durante as conversas, Braima Dakar, aproveitou para fazer certas exigências. Pediu a libertação de seu pai, a libertação de 2 cam[aradas] (Claude e José Sanhá) [Este 2.º elemento, antes de 1964 já comandava guerrilheiros numa Zona do Norte e depois de libertado foi novamente integrado pelos responsáveis da Frente BIAMBI-CANCHUNGO, sem que tivessem consultado a Direcção do Partido, acto entretanto criticado pelo S.G. na reunião alargada da Direcção Superior que teve lugar em Conakry de 12 a 15ABR70 e onde foi apresentada e aprovada uma nova Estrutura do Partido e onde este elemento em causa foi confirmado como um dos comandantes da Zona de BIAMBI, da Frente BIAMBI-CANCHUNGO] e foram mesmo soltos (já cá estão). 

Durante as tréguas, os cam [aradas] levantaram minas na estrada de Bula-Binar. Mesmo assim, houve uma emboscada em Biambi, aos tugas, na qual, 2.º uma carta apanhada, de um dos majores, afirmam que morreram 4 tugas. Também dão notícia dos ferimentos graves que sofreu um capitão que estivera com eles numa reunião, ao tentar detectar minas: perdeu um braço e uma das vistas. Salienta ainda o facto de ter havido nas nossas bases, vários camaradas que começavam a protestar contra as ligações que estavam a ver com os tugas. Alguns disseram que se isso continuasse se iam embora. Isto é tb [também] uma coisa muito importante, porque mostra a fidelidade desses cam[aradas ao P[artido] (eles não estavam ao corrente das coisas).

Nino – Saliente a import[ância] de os n[ossos] cam[aradas] terem levado à certa grandes homens dos tugas. Isso foi porque os tugas nos consideram como cachorros. Os tugas sentem hoje qual é a n[ossa] força, tanto moral como política.

Amílcar – Este acto foi um acto de grande consciência política e um acto de independência. Foi um acto de grande acção e de capacidade dos n[ossos] cam[aradas] do Norte. É a 1.ª vez que numa luta de libertação nacional se mata assim 3 majores, 3 oficiais superiores que, nas condições da n[ossa]  luta, equivale de facto à morte de generais…“.


3. Esclarecimento posterior do Jorge Picado [12 fev 2014, 23:18]


Amigo Luís:

Sobre o conteúdo transcrito nas actas desse Conselho de Guerra, apenas encontrei motivo de interesse nessa parte que transcrevi sobre o caso dos "3 Majores e do Alf Mil do CAOP 1" e que se resumiu a esse pedaço.

Quanto ao resto são questões variadas internas do PAIGC sem qualquer interesse para a nossa temática da Guerra.

Abraço, Jorge.
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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12349: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (9): Em setembro de 1964, a situação estava feia na antiga Zona 7 do PAIGC, segundo carta do 'Nino' Vieira [Marga]: (i) falta de homens, material, medicamentos e alimentos; (ii) 1 guerrilheiro deserta e apresenta-se em Bambadinca; (iii) as NT desembarcam no Rio Corubal, na Ponta Luís Dias, e avançam até ao Poindom e à Ponta do Inglês, provocando baixas entre a população e a guerrilha; (iv) 300 fulas da zona leste recebem instrução militar em Bissau, mas... (v) o moral da guerrilha parece ser... alto, estando disposta a ocupar militarmente o Saltinho e o Xitole (o que, como sabemos, nunca virá a acontecer até ao fim da guerra)

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11503: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (32): Bassarel, um paraíso no chão manjaco

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, BráBachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 6 de Abril de 2013: 

Meu caríssimo Carlos, amigos e Camaradas,
Num passado recente o nosso amigo e camarada José Martins presenteou-nos com dois excelentes trabalhos de pesquisa histórica.
Os artigos debruçaram-se sobre algumas das escaramuças sustentadas pelas nossas tropas contra os nativos da Guiné, muito antes da nossa chamada Guerra do Ultramar. Os belos trabalhos do José Martins evidenciam o cuidado que os nossos antepassados tiveram na feitura da história das suas unidades, que apraz registar. Infelizmente, a esta distância no tempo e por falta de dados suficientes, não me é possível referenciar com rigor histórico o movimento das praças da minha Companhia, nos chamados Destacamentos de Teixeira Pinto. Quedo-me pois pelo movimento dos graduados, aproveitando esta oportunidade única para apresentar aqueles que dignamente tiveram a responsabilidade de comando na CCaç 3327.
Neste escrito que agora trago ao nosso blogue, faço o que me foi possível para facilitar a vida de um futuro José Martins.

Abraço transatlântico.
José Câmara


MEMÓRIAS E HISTÓRIAS MINHAS

32 - Bassarel, um paraíso no Chão Manjaco

Para trás ficaram os sacrifícios e as privações que sofrêramos na Mata dos Madeiros. Bem acorrentadas ao coração levávamos recordações que a neblina da memória até hoje não conseguiu apagar.

Mata dos Madeiros: Aspecto da nova estrada Teixeira Pinto/Cacheu, recordação de uma vida

A CCaç 3327, agora adida ao BCAÇ 2905 para efeitos operacionais, dava início à sua nova missão, ao ir substituir a CCaç 2637, também esta uma companhia açoriana do BII18, nos Destacamentos de Teixeira Pinto.

Era então o dia 29 de Junho de 1971.

Na altura, eram quatro destacamentos: Bajope, Blequisse, Chulame e Bassarel, tendo a companhia formado um novo destacamento em Calequisse, o mais afastado, a cerca de 25 quilómetros de Teixeira Pinto. Aí ficou o 3.° GComb, sob o comando do Alf Mil José Queiroz Lima de Almeida, coadjuvado pelos Furs Mils Carlos Jesus e André Fernandes.

1971 - Capelinha erguida pelo 3.° GComb da CCaç 3327, em Calequisse

Em Bassaarel, a cerca de 20 quilómetros de Teixeira Pinto, ficou o Comando e Serviços e o 4.° GComb, este sob o comando do Alf Mil Francisco João Magalhães, coadjuvado pelos Furs Mils José Alexandre Câmara e Luís José Pinto, aos quais se juntava o Fur Mil Manuel Lopes Daniel (Armas Pesadas) que para efeitos operacionais integrava esse grupo de combate. As transmissões estavam a cargo do Fur Mil João Nunes Correia, os serviços de saúde sob o Fur Mil Rui Esteves e da alimentação se encarregava o Fur Mil Luís Martins de Moura. A secretaria era da responsabilidade do 1.° Sarg João Augusto Fonseca. O comando da companhia estava a cargo do Cap Mil Art Rogério Rebocho Alves.

O 2.° GComb, sob o comando do Alf Mil Agostinho Morgado Barada Neves, coadjuvado pelos Furs Mils Joaquim Fermento e João Alberto Cruz, tomou conta do Destacamento de Chulame.

O 2.° GComb, desfalcado de uma Secção, ficou em Chulame

Em Blequisse ficou uma Secção do 2.° GComb, sob o comando do Fur Mil Fernando Ramos Silva. Em Bajope, o Destacamento mais perto de Teixeira Pinto, ficou o 1.° GComb, sob o comando do Alf Mil João Luís Ferraz, coadjuvado pelos Furs Mils Carlos Alberto Pereira da Costa e Francisco Monteiro Caseiro. Os serviços Auto ficaram em Teixeira Pinto, sendo seu responsável o Fur Mil António José Marques e Silva. Infelizmente, a esta distância no tempo, não consigo localizar onde ficou o 1.° Sarg Manuel Pedro Vieira. Em Bassarel não foi de certeza.

O Furriel João Alberto Cruz, mais tarde transferido para Blequisse, fazendo o recenseamento da população neste Destacamento

Feitas as apresentações dos comandos e dispositivo militar, o que ressalta é a separação dos grupos de combate da CCaç 3327, que só voltariam a encontrar-se no dia 24 de Dezembro de 1972, quando a companhia, em fim de comissão, regressou a Bissau.

Com muita pena minha, com esta separação de forças, logicamente as minhas memórias passarão a ser mais concentradas nas minhas vivências em Bassarel.

Durante a deslocação entre Teixeira Pinto e Bassarel pudemos observar que a picada tinha óptimas condições, até porque ali ainda circulava um autocarro de passageiros que ia até Calequisse. A vegetação era bastante densa em ambos os lados. Como ponto de grande apreensão, a Curva da Onça, um autêntico cotovelo dobrado na estrada, a seguir a Chulame, oferecia condições idílicas para plantação de minas e emboscadas.

Outra particularidade verificada no trajeto, foi a ausência de povoados ao longo da picada, exceção para Balombe e Bafundade já muito perto da entrada para o ramal de Bassarel.
Ao entrarmos naquele ramal, foi possível verificar alguns terrenos muito bem cultivados na direita e outros terrenos em face de desbravamento na esquerda, que faziam parte de uma cooperativa agrícola.

Bassarel, sede do regulado com o mesmo nome, outrora campo de grandes tensões entre manjacos e tropas portuguesas, era agora um pequeno povoado, quase todo ele reordenado, relativamente bem arranjado. Mais tarde, foi possível verificar que as pessoas, sobretudo os homens, eram bastante reservadas, mas que depois da desconfiança inicial se mostravam amigas e receptivas aos nossos militares.

Bassarel: José Câmara junto do monumento da CCaç 2637/BII18

O quartel, de pequenas dimensões, cercado por duas fiadas de arame farpado, tinha dois edifícios principais, relíquias da Casa Gouveia. No edifício senhorial ficavam os dormitórios e messe de oficiais e sargentos, serviço de transmissões, arrecadação de géneros e cantina geral. No alpendre das traseiras ficava o refeitório das praças. O outro edifício, um barracão com alguma dimensão, servia de caserna para os praças.

Destacados destes edifícios havia um forno, uma pequena arrecadação e uma cozinha, esta sim com poucas ou nenhumas condições. O poço de água estava seco.

Como complemento de tudo isto, havia um paiol geral em frente ao edifício principal e uma única vala de defesa virada para o lado oposto da entrada principal. Do lado de fora do arame farpado havia um heliporto construído em cimento, que parecia oferecer excelentes condições de aterragem.

Na direita, junto da entrada principal para o destacamento, entre os arames farpados, debaixo de uma grande árvore mangueira funcionava a escola militar para os jovens das redondezas.

A parada, de terra batida de boas dimensões, também servia de campo de jogos.

Na verdade, Bassarel oferecia condições logísticas muito razoáveis. Para além disso, a zona estava perfeitamente pacificada.

Para nós, que ainda recentemente vivêramos o inferno das Mata dos Madeiros, Bassarel era um paraíso terrestre que importava que assim continuasse.

Quando ali chegámos, cedo na tarde daquele dia 29 de Junho, reparámos que ficaríamos alojados em Tendas de Campanha. Era a nossa sina, mas compreendemos ser razoável e normal num pequeno quartel, cujas instalações não tinham capacidade para tanta tropa.

Fomos recebidos com simpatia e alegria pelos elementos da CCaç 2637. Para estes, era o princípio do fim da sua comissão. Para além disso, havia muita gente conhecida entre os elementos de ambas as companhias. Mas toda aquela simpatia e alegria tinham um preço.

Ainda antes de descarregarmos as viaturas recebemos ordem para nos prepararmos para a primeira patrulha. Iria dar-se o início à sobreposição.

Nessa altura estava bem longe de saber que nos dias mais próximos iria protagonizar o dia mais negro das minha curta carreira militar.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE JUNHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10030: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (31): Operação Sempre Alerta: a morte de um amigo diferente

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10013: Notas de leitura (367): "Portugal´s Guerrilla War - The Campaign For Africa" por Al J. Venter (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 23 de Abril de 2012:

Queridos amigos,
Por partida do destino, faltou circunstância para se traduzir a tempo e horas esta caudalosa informação que Al Venter era possuidor, bem como os registos dos múltiplos depoimentos que captou. Tem que se ler do princípio ao fim para se ver com nitidez a dimensão do seu recado: uma Guiné independente marcaria o fim dos regimes racistas da África do Sul.
Na entrevista que Spínola lhe concede usando Otelo Saraiva de Carvalho como tradutor a ameaça é mais do que clara, até se agita o fantasma das ilhas de Cabo Verde nas mãos soviéticas.
É um relato minucioso, de um repórter de primeira água. Ainda não tinham chegado os mísseis terra-ar à Guiné, cumpre esclarecer.

Um abraço do
Mário


Reler um clássico: Portugal´s Guerrilla War, por Al J. Venter (2)

Beja Santos

Al Venter é um grande repórter e jornalista anglófono que em 1973 publicou na Cidade do Cabo um livro de primeiríssima importância sobre a guerrilha guineense: “Portugal´s Guerrilla War, The Campaign for Africa”. É curioso como obras de referência omitem na sua bibliografia um título de alguém que descreve com indiscutível rigor o pano de cena em que eclodiu a luta de libertação, alguém que andou no mato como Basil Davidson ou Gérard Chaliand, correndo riscos, alguém que escreve primorosamente e que até oferece ao leitor informação preciosa, caso da entrevista a Spínola que ele anexa e que Spínola mais tarde publicará nas suas obras, mas amputando prudentemente o que lhe deixara de ser conveniente… Um livro que é dedicado a João Bacar Djaló que morrera por uma causa em que acreditou, e a Amílcar Cabral, assassinado quando o seu sonho estava prestes a realizar-se. E escreve misteriosamente: Such is timeless irony of Africa.

Estamos em Tite, Al Venter vai patrulhar na companhia de João Bacar Djaló, supõe-se que vão emboscar perto de Bissássema. Descreve o equipamento, as rações de combate com toda a minúcia. Os soldados vão sonolentos, saem do aquartelamento a arrastar os pés, o repórter aproveita para descrever as armas pesadas existentes em Tite e depois o plano do patrulhamento. Ninguém discute as ordens de João Bacar, seguem embalados no interior da mata, da madrugada até às 11 da manhã marcham à mesma cadência. Al Venter irá descobrir que existem tabancas sujeitas ao duplo controlo, nalgumas delas os soldados de João Bacar estão permanentemente armados, ninguém descarta a possibilidade de uma refrega, um cerco das forças que obedecem a Nino. Pela noite fora o silêncio é interrompido por explosões e ele escreve: Someone had probably put his foot on a mine somewhere in the jungle. Us or them?

Ir-se-á montar uma emboscada, nada acontecerá. Depois o autor descreve a organização do PAIGC, o historial da luta a partir de 1961. Nino Vieira tem destaque no sul, Domingos Ramos no leste, Osvaldo Vieira no norte. Encontra analogias entre a Comissão de Segurança do PAIGC e o KGB/GRU. Relata como os países ocidentais foram sempre evasivos, até ao final dos anos 60, com as razões do PAIGC, mesmo o Partido Trabalhista britânico. Ficamos igualmente a saber o custo ciclópico do tirano Sekou Touré à URSS, que ampara todos os desaires em que este compromete a economia do país. Al Venter está bem informado sobre a estrutura do PAIGC em Conacri, conhece o elementar do seu currículo desde que saiu de Cabo Verde até que passou à clandestinidade. Tem mesmo anotadas declarações de Cabral ao longo dos anos a órgãos de imprensa da mais variada procedência. Conhece o trabalho de Rafael Barbosa e das células que a PIDE desmontou em Março de 1962. É impressionante a documentação que ele exibe, sempre com rigor, não há nada de panfletário em toda a sua exposição. É facto que no início e no fim, e mesmo citando Spínola, Al Venter sela o destino da Guiné portuguesa ao da África Austral, é esta a sua mensagem suprema para o regime do apartheid. Dá-nos também uma informação aparentemente inédita: o relacionamento de Osvaldo Vieira com Amílcar tem imensas arestas, em 1970 um grupo de militares do PAIGC advogavam abertamente que se devia abandonar a luta e fazer a paz com Lisboa e Cabral terá mandado executar Laisec Eduardo Pinto, responsável pela segurança em Ziguinchor e Koundara.

Al Venter dá-nos a atmosfera de Teixeira Pinto, contacta novamente os Comandos Africanos e os Fuzileiros, visita reordenamentos, dão-lhe informações sobre a importância do chão manjaco e a obra de desenvolvimento e bem-estar ali em curso. E disserta sobre a proveniência do armamento do PAIGC. Conclui-se, em tudo quanto ele escreve, que os mísseis terra-ar ainda não tinham entrado em ação. Viaja até ao norte, está ali mesmo na fronteira, em Sare Bacar, assiste aos cuidados médicos em cidadãos senegaleses. E logo a sua reflexão assesta no comportamento das diferentes etnias face aos portugueses e aos guerrilheiros e conta toda a história dos diferentes grupos que se movimentaram sobretudo no Senegal até que o PAIGC se tornou indiscutivelmente a força mais influente. O repórter segue para Nova Lamego, é recebido em casa do chefe de posto Dr. Aguinaldo Spencer Salomão, um homem que lê Henri Bataille e Sartre, ouve música clássica de Vilvadi a Schoenberg, conhece bastante bem a situação local, sabe que as tropas de Osvaldo Vieira não andam longe, mas os fulas hostilizam-nas é por isso que os ataques de artilharia provocam tantos feridos civis. Um oficial português, o coronel Monteiro, explica detalhadamente a escola em que Nino aprendeu a guerrilha, tudo aquilo são ensinamentos de Mao e do General Giap.

A reportagem chefia-se depois para o trabalho das enfermeiras para-quedistas, Al Venter descreve ao pormenor a frota aérea, a sua proveniência, ficamos a saber pela sua boca as carências sentidas pelas autoridades de Bissau que reivindicam mais helicópteros Alouette III e os Puma. Mostrando-se altamente conhecedor do mercado negro das armas, ficamos a saber que a Saviro Limited, operando em Toronto, vende armamento soviético mas também helicópteros Hughes 500 e que as autoridades francesas, alemãs, italianas e britânicas fornecem aparelhos à Força Aérea portuguesa; descreve também as compras de viaturas e equipamento naval. Um pouco por toda a parte, ele procura apurar o estado de espírito das tropas, ao mais alto nível ninguém ignora a barreira dos países vizinhos, Al Venter informa que Portugal já tem terrorismo interno, a ARA vai provocando danos, alguns deles muito graves, como nos helicópteros em Tancos. Vive-se num aparente impasse, mas ninguém esconde que a guerrilha está muito ativa.

E chegamos à entrevista de Spínola, conduzida por Otelo Saraiva de Carvalho. Spínola fala repetidamente na importância de Cabo Verde para a Rússia, ela aspira através deste arquipélago dominar o Atlântico sul e chegar ao Cabo, a posse destas ilhas oferecerá à União Soviética a oportunidade de controlar as comunicações entre a África, a Europa e a América. E vaticina que se Portugal colapsar na Guiné haverá consequências imediatas em Angola e Moçambique e efeito dominó sobre a África do Sul. Spínola desmente que haja peritos soviéticos a conduzir a guerra na Guiné, as informações revelam a existência de jugoslavos, cubanos, argelinos e nigerianos, fundamentalmente no apoio médico mas também como peritos de guerrilha. O apoio que as autoridades portuguesas estariam a encontrar por parte dos dirigentes muçulmanos tinha a ver com o receio que estes sentiam da penetração do comunismo. Spínola insiste no papel chave que tem a África portuguesa na resistência ao caos que os regimes comunistas introduziram em África, a defesa das províncias ultramarinas representava a sobrevivência de Portugal como Nação. Questionado por Al Venter sobre a solução para os problemas da Guiné, Spínola respondeu que as populações tinham aderido às suas propostas. Ele soubera interpretar as ambições legítimas do povo, o sucesso nesta vertente era o melhor indício que o terrorismo tinha os seus dias contados.

Uma obra importantíssima, vale a pena insistir. Em 2011 Venter e outros publicaram War Storys. Up Close and Personal in Thrid World Conflits, editado em Pretoria, Venter dedica três capítulos à Guiné. Talvez o Nelson Herbert consiga o livro e nos traga notícias…
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9993: Notas de leitura (366): "Portugal´s Guerrilla War - The Campaign For Africa" por Al J. Venter (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9702: Efemérides (87): Homenagem aos 3 majores do CAOP, mortos a 20 de abril de 1970, no chão manjaco (António Graça de Abreu / Manuel Bento / MACOUPA)


Guiné > Teixeira Pinto (?) > CAOP / CTIG 1 > c. 1970 > Os  três majores, com população local. Da direita para a esquerda: Pereira da Silva, Passos Ramos e Magalhães Osório, ou Magalhães Osório e Passos Ramos (não sabemos se a ordem está correta).

Foto: Maria da Graça Passos Ramos / Círculo de Leitores. In: ANTUNES, J.F. - A Guerra de África: 1976-1974. Vol. II. Lisboa: Círculo de Leitores. 1995. (Com a devida vénia...).


1. Mensagem do nosso amigo e camarada António Graça de Abreu, com data de 12 de fevereiro último:

Junto envio cópia da  foto dos três majores  que está no II vol., pag. 716, de A Guerra de África, de José Freire Antunes, no depoimento do general Almeida Bruno, "Libertar Guidage". A fonte da foto é a esposa de um dos majores, Maria da Graça Passos Ramos.

Dei recentemente uma vista de olhos pelo livro da jornalista Felícia Cabrita intitulado Massacres em África, (Lisboa, Esfera dos Livros, 2008) que dedica trinta páginas (da 180 à 210) ao massacre dos três majores Passos Ramos, Magalhães Osório, Pereira da Silva, do alferes Mosca e dos dois intérpretes manjacos Aliu Sissé e Patrão, todos do CAOP 1, -  a que também pertenci -, na estrada Pelundo/Jolmete a 20 de Abril de 1970. O texto é muito interessante, bem elaborado e documentado e conclui com um sentido poema do general Roberto Durão, (irmão do meu coronel pára-quedista Rafael Durão, comandante do CAOP 1, 1971-1973) dedicado aos três majores.
           
Há uns meses atrás, o coronel Mário Machado Malaquias, meu superior, meu companheiro e meu amigo no CAOP 1 (Comando de Agrupamento Operacional 1) em Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 72/74, enviou-me também um poema, este de homenagem aos três majores. Tinha-o guardado consigo, ignorava quem era o autor do poema, apenas aparecia assinado MACOUPA e perguntou-me se o anónimo poeta não seria eu.

Não escrevi este poema, e tal como o coronel Mário Malaquias não sei quem é o autor (alguém no blogue pode ajudar a descobrir que é o MACOUPA?) mas, com uma ou duas alterações de pormenor, não me importava de o ter escrito. Aí vai:
           
            Brilharam sonhos e certezas,
            Flâmulas brancas esfacelando medos
            No erguer feliz do amanhã sem data.
            E a noite vomitou
            Ecos podres vomitando anseios,
            Ódios amassados na embriaguês de cinza e sangue
            A escarnecer o abraço impossível.
            Agora,
            Que valem escolas e bolanhas fartas
            Se os chacais uivam hálitos vermelhos.
            Que importa o ouro do suor de tantos
            Na promoção das gentes deste chão.
            Quem bebe o sangue vertido nestas matas
            Se o ódio enjeita as vidas ceifadas na rotina.
            Quem ousa meditar a crueza da verdade
            Sem se vergar ao peso da descrença.
            Ah, como eu amo o riso das crianças,
            Para ver de dentro o meu olhar parado
            E vestir ainda a minha alma nua
            Na sordidez de ideias da morte…
            Desenraizado guerrilheiro terrorista
            Vem medir o fundo deste olhar despido
            Que já luziu de esperança e de gestos.
            Vem beber o fel desta chacina
            E diz-me se ainda há sedes por matar.
            Vem.
            Aqui nas matas do Jolmete
            A luta de ideais enraizou na morte,
            Os homens bons que tu sacrificaste
            Acenam ainda o braço que rejeitas.
            Aqui,
            Desenraizado guerrilheiro terrorista
            Se lutas pela Verdade
            Ergue um santuário-mesquita-catedral
            E endeusa os mártires que tombaram de pé
            Pela Verdade,
            Pela Justiça,
            Pela Paz.


2. Comentário de L.G.:

Este poema já aqui tinha sido publicado,em 8 de março de 2011,  na sequência de uma mensagem do 1º cabo telegrafista Manuel Alberto Cunha Bento, membro da nossa Tabanca Grande. De qualquer modo, parece-nos justo e oportuno voltar a publicá-lo, neste mês de abril de 2012, em que se comemora o 42º aniversário deste trágico aontecimento. Tudo indica que o pseudónimo MACOUPA diga respeito a alguém do próprio CAOP/CTIG da época (mais tarde CAOP1), CAOP a que pertenciam os três malogrados majores:

(...) "Vi as várias noticias do massacre no Chão Manjaco,  onde os 3 Majores e o Alferes foram assassinados. Eu pertencia ao CAOP, era Cabo Telegrafista e estava sempre em contacto com os referidos oficiais.

"Alguém do Agrupamento [leia-se, do CAOP] lhes prestou uma homenagem por escrito e deu-me uma fotocópia que eu guardei nos meus arquivos, e que junto para ser inserida no blogue se acharem conveniente (...).
Manuel Alberto Cunha Bento [manuelben@gmail.com / Telem 969 609 701]" (...)

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Fonte: Manuel Bento (2011).

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Nota do editor:

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9048: A minha CCAÇ 12 (20): Abril de 1970: intensificação da acção psicossocial através de contacto pop, e suspensão temporária da actividade operacional ofensiva por causa das negociações com o IN no chão manjaco (Luís Graça)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > CCAÇ 12 (1969/71) > Vista aérea da tabanca de Samba Juli, do Regulado de Badora.




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > CCAÇ 12 (1969/71) > Um elemento pop, do regulado de Badora, de etnia fulça, vestido a rigor. Adereços ocidentais, tais como o chapéu automátiico, eram considerados na altura como grande ronco...



Fotos: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados





Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca &gt > BART  2917 (1970/72) > A acção psiscossocial ao tempo do novo batalhão, o BART 2917... População fula do regulado de Badora. 


O régulo era o  tenente de 2ª linha, Mamadu Bonco Sanhá, que tinha uma motorizada, de 50 cm3, de marca japonesa, em vez do cavalo branco... Foi fuzilado em Bambadinca depois da independência (segundo a lista dos guineenses, militares e milícias das NT, fuzilados pelo PAIGC a seguir à independência, organizado pelo Cor Inf Ref Manuel  Amaro Bernardo)... Dizia-se, no meu tempo,   que tinha 50 mulheres, uma em cada tabanca de Badora; e alguns filhos seriam militares na minha CCAÇ 12, o que eu nunca pude confirmar, obviamente...


Na época, as autoridades militares de Bambadinca transformaram-no num mito... Veja-se por exemplo o que se pode ler na história do BART 2917 (1970-72), a seu respeito:

(...) "No Sector L1 podemos considerar duas raças (sic) distintas: para Leste da estrada Bambadinca-Xitole onde predomina a raça Fula, e para Oeste da mesma estrada onde predominam as raças Balanta e Beafada.

"A população Fula de um modo geral é nos favorável, sendo de destacar o regulado de Badora, que tem como Chefe / Régulo um homem de valor e considerado pela população como um Deus. Esse homem é o Tenente Mamadu, já conhecido do meio militar pelos seus feitos valorosos e dignos de exemplo. Da outra população, fortes dúvidas se tem, especialmente as dos Nhabijões, Xime e Mero" (...).


O seu notável currículo era apresentado nestes termos: 



"Régulo do Badora; vogal do conselho legislativo da Província; comandante da Companhia de Milícias do Cuor;  intitulando-se Fula, é considerado pelos Mandingas e Beafadas como Beafada, em virtude da ascendência materna; pelos seus actos de valentia é condecorado com a Cruz de Guerra; régulo justo e especialmente preocupado com a segurança das suas populações; o seu prestígio transvasa em muito para além dos limites do seu Regulado; é um excelente colaborador das NT, parece representar o movimento dos Fulas Nativos" (...).


Espantosamente não tenho/temos nenhuma foto deste homem que era presença, quase diária, no aquartelamento de Bambadinca...


Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*)
por Luís Graça

(11). Abril de 1970 intensificação da acção psicossocial através de patrulhas de contacto pop


A 5 de Abril de 1970, dois Gr Comb da CCAÇ 12 escoltam mais uma coluna logística ao Xitole (onde estava aquartelada a CART 2413). Durante a picagem do itinerário, foram detectadas e levantadas, por forças da CCAÇ 2404 (Mansambo), duas minas A/P reforçadas com barras de TNT de 2 kg cada.  Estava-se no fim do tempo seco. E no mês seguinte o BCAÇ 2852 terminaria a sua comissão de serviço no TO da Guiné, sendo substituído pelo BART 2917.

Durante o mês de Abril, verificar-se-ia de resto um acréscimo de engenhos explosivos implantados na estrada Bambadinca-Xitole, sendo levantadas, a 22,  por forças da CCAÇ 2404, mais 5 minas A/P, das quais 3 reforçadas

(11.1.) Op Pavão Real: Batida à Foz do Corubal

A 9 dá-se início à Op Pavão Real para uma batida entre a Foz do Corubal e a Ponta do Inglês, e em que participam 2 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A) e forças da CART 2520, do Xime (Dest B e C).


Do antecedente sabia-se que o IN tinha 1 brigrupo na área, actuando normalmente subdividido, e controlava importantes aglomerados populacionais. Numa das últimas operações das NT, no mês anterior, tinham sido detectados muitos vestígios de vida e destruídos vários depósitos de arroz na região de Poindon / Ponta Varela, tendo o IN reagido à acção das NT durante a Op Rinoceronte Temível.

Desenrolar da Op Pavão Real:

Enquanto 1 Gr Comb reforçado da CART 2520 (Dest C) executava uma manobra de diversão entre Madina Colhido e Gundagué Beafada, os Desta A e B saíam de Xime pelas 17h do dia 9. Em Ponta Varela, já ao anoitecer, detectaram vestígios recentes do grupo IN cuja missão era atacar as embarcações que passavam no Rio Geba.


Progredindo de noite através da enorme bolanha do Poindon, as NT chegaram ao tarrafo ao amanhecer mas seriam entretanto detectadas por dois homens que vinham em sentido contrário. Tratava-se de elementos pop uma vez que estavam desarmados. Ao avistarem as NT ao longe, deveriam ter dado imediatamente o alarme uma vez que se notou, de pronto, um movimento de fuga por parte da população que trabalhava no noutro lado da bolanha.

A progressão ao longo do Rio Geba tornava-se cada vez mais penosa até que em Xime 3A 2-46 depararam-se as NT com uma tabanca de população civil, composta por 11 casas sobre estacaria, um metro acima do solo, e 2 depósitos colectivos, com diâmetro de 3 metros, cheios de arroz (em casca), e em Xime 3 A 4-41 uma outra tabanca com 10 casas para 1 a 2 pessoas.


Foram destruídos víveres (milho e arroz) e outros meios de vida. Por sua vez, o PCV [,. Posto de Comando Volante,] detectou um possível acampamento em Xime 2E0 -69 e Xime 2B7-64. Feita uma batida à região entre a Foz do Corubal e a Ponta do Inglês, as NT detectaram ainda  vários trilhos, um dos quais (Ponta do Inglês – João Silva) apresentando indícios de ser muito utilizado pela população.

As NT passaram pelo antigo aquartelamentio da Ponta do Inglês, abandonado deste Novembro de 1968 e já completamente em ruínas, e ainda pelas tabancas destruídas durante a Op Safira Única, regressando ao Xime pelas 17h30, sem contacto.

Uma semana antes, a 2 de Abril, um grupo IN estimado em 100 elementos tinha atacado com canhão s/r, mort 82, LGFog e armas automáticas, durante 50 minutos e de várias direcções (Oeste, Sudoeste, Sul e Sudeste), o aquartelamento do Xime, causando 2 feridos, destruindo 1 abrigo e 2 paredes do aquartelamento e provocando elevados danos materiais, como resposta à acção de contra-penetração das NT.

A 7, em pleno dia (11h00) durante a montagem de segurança a uma embarcação a navegar no Geba Estreito, nas proximidades de S. Belchior, foi detectado um grupo IN, na estrada, aparentemente preparando-se para montar o seu dispositivo com vista à flagelação  do destacamento do Enxalé. Em resposta ao fogo das NT, o destacamento seria flagelado pelo IN com armas automáticas e LGFog, retirando em direcção a S. Belchior.

A 14, 3 Gr comb da CCAÇ 12 mais uma secção do pelotão da CART 2520 (Xime), destacado em Enxalé,  realizaram uma patrulha de reconhecimento à área de Enxalé, Bissilon e Foz do Rio Malafo, regressando pela estrada Portogole – S. Belchior. Junto à praia do Bissilon foi encontrado o cadável ainda em decomposição dum elemento IN, fardado, que, supõe-se, teria sido morto durante a última flagelação ao aquartelamento do Enxalé (a 7).

(11.2.) Suspensão temporária de toda a actividade operacional ofensiva no TO da Guiné


Registe-se a 10 a visita a Bambadinca, sede do Sector L1,  do príncipe Bourbon Parma, acompanhado do comandante do Comando de Agrupamento 2957 e do administrador de Bafatá.

A partir de 15, data em que foi suspensa temporariamente toda a actividade operacional de natureza ofensiva no TO da Guiné [, por causa das negociações das NT com forças do PAIGC no chão manjaco, sabe-se hoje], intensificaram-se as patrulhas de contacto pop a fim de inquirir do estado psicológico da população sob o nosso controlo, e em especial das tabancas isoladas do regulado de Badora,  e prestar-lhe assistência saniária. Dentro dessa linha directiva, os 4 Gr Comb da CCÇ 12 contactaram as populações das seguintes tabancas:

Samba Juli

Sinchã Mamadjai
Sansancuta
Dembataco (Pel Mil 243)
Sare Ade
Queroane
Queca
Aliu Jai
Sare Nhado
Iero Nhapa
Talata
Bonjenden
Sinchã Coli
Bricama
Embalocunda
Sinchã Umaru
Madina Bonco (Pel Mil 203 -)
Jana
Candembuia
Sare Iero
Mamaconon
Sinchã Infali
Dutajara
Mero
Fá Balanta
Fá Mandinga (Pel Caç Nat 63)
Bissaque (1 secção do Pel Mil 203), etc.

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Fontes consultadas:

(i) Diário de um Tuga, de Luís Graça. Manuscrito.

(ii) História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Policopiado

(iii) História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Policopiado

(iv) Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (I e II Séries)

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Nota do editor:


(*) Último poste da série > 26 de Julho de 2011 >
Guiné 63/74 - P8604: A minha CCAÇ 12 (19): Março de 1970, a rotina da guerra, a visita do Ministro do Ultramar ao reordenamento de Bambadincazinho... (Luís Graça)