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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12759: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (4) : Parte IV (pp. 16-18): Regime disciplinar; Pretensões, dispensas e licenças


Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 8 >  A hora do almoço...



Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 8 A >  A hora do almoço... Pormenor: lado direito da foto nº 8: os instruendos estoirados e esfomeados...




Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 8 AA > A hora do almoço... Pormenor: lado direito da foto nº 8... Há sofrimento nestes rostos...




Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 8 B >  A hora do almoço... Pormenor: lado esquerdo  da foto nº 8: os instruendos estoirados e esfomeados...




Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 9 >  Regresso da carreira de tiro, sob a ponte romana que ligava as margens do Rio Gilão, a esquerda (casario ao fundo) e a direita (onde ficava a colina de Santa Maria e, nesta, a parte antiga de Tavira)



Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 9 A >  Regresso da carreira de tiro, sob a ponte romana.. Lado esquierdo da foto nº 9.




Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 9 B >  Regresso da carreira de tiro, sob a ponte romana.. Lado direito  da foto nº 9.




Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 10 > A memorável semana de campo...



Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 11  > Semana de campo: o grupo IN, alguns equipados de mauser...



Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 12 >  Regresso da semana de campo 



Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 12 A >  Regresso da semana de campo  (pormenor)


Fotos (e legendas): © César Dias (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]



1. Continuação da publicação da brochura "Guia do Instruendo" (Tavira, CISMI, 1968), pp. 16-18 (*):












Páginas, de 16 a 18, não numeradas, do "Guia do Instruendo", usado no CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, em Tavira, na altura em que o César Dias lá fez a recruta e a especialidade (sapador) (2º semestre de 1968).

O documento, de 21 páginas, era policopiado a "stencil". O César Dias mandou-nos o documento em "power point", com 21 "slides". As páginas foram convertidas em formato jpg. O original foi-lhe dado pelo seu camarada de recruta, o Fernando Hipólito, que foi depois mobilizado para Angola, enquanto o César foi parar à Guiné.

Um grande abraço  aos dois.

O César Dias, em resposta a email meu, deu-me as seguintes coordenadas, em mensagem do dia 10 do corrente:

Olá, Luis!,,, É verdade, não voltei lá [, à Guiné, a Mansoa...] nem voltarei,  penso eu, embora gostasse de voltar a vêr alguns lugares daquela terra. Sobre o Branquinho também não sei nada dele, nem do Levezinho, mas para as Caldas não foram, porque no nosso tempo não havia especialidades nas Caldas se eram atiradores de infantaria ficaram em Tavira.

Tens razão em me relacionares com Torres Novas, nasci numa aldeia desse Concelho, Chancelaria entre Torres Novas e Fátima. Vivo há 35 anos em Santiago do Cacém, trabalhei na Refinaria de Sines este tempo todo e por cá fiquei. Estou reformado desde 2009, mas agora tive uma recaída, chamaram-me para dar formação à juventude, e eu aceitei.
Sobre as fotos, ainda pensei que tinha alguma de Santa Margarida, mas aquilo foi mesmo uma rapidinha, nem fotos fizemos.

Obrigado pelo mapa [de Tavira], fiz alguma plantação de explosivos por essa zona [, salinas].
Um abraço, César Dias.

Imagens (digitalizadas): © César Dias (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]


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Nota do editor: 

Postes anteriores da série:

10 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12703: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (1) : Parte I (pp. 1-6)

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12474: Tabanca Grande (415): Júlio Martins Pereira, ex-sold trms, CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá e Porto Gole, 1965/67): condecorado com a Cruz de Guerra de 4ª classe, pela sua ação em 6/10/1966, na sequência de mina A/C na estrada Missirá-Enxalé


Crachá da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67). Divisa: "Bravos, Avante!"



Cruz de guerra de 4ª classe, com que foi condecorado o nosso camarada Júlio Martins Pereira (vd., lista do portal UTW - Utramar Terraweb > Condecorações atribuídas por feitos em campanha, Guiné 1963/743. Segundo esta preciosa fonte de informação, mais de mil e cem combatentes dos 3 ramos das forças armadas portuguesas receberam condecorações por feitos em campanha, no TO da Guiné: cruz de guerra, valor militar ou torre e espada).





Averbamentos na caderneta militar do Júlio Martins Pereira, pp. 20/21


Fotos: © Júlio Martins Pereira (2013). Todos os direitos reservados.


1. Continuação da apresentação do novo membro da Tabanca Grande, nº 635, Júlio Martins Pereira, sold trms, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) (*)


 As minhas lembranças na Guiné.1965/1967...Agora são recordações, mas naquelas datas foram sofrimentos e muitas saudades de quem cá deixei e muitas coisas mais que por aí se passaram.
Ver, por exemplo,  colegas meus morrerem, como vós camaradas deveis saber.

Sim,  é verdade que fui condecorado com a Cruz de Guerra de 4ª classe, no dia 10 de junho de 1968, na Avenida dos Aliados, no Porto. É também verdade que fui várias vezes convidado pelo governo português para estar presente nas cerimónias comemorativas do Dia de Portugal.

Poderão ainda confirmar aquilo que vou descrever que é verdade e porque está escrito na minha caderneta militar, não pedi nada a ninguém, podem consultar os arquivos. O que fiz está feito, deram-me ordem de prisão por eu ter dito que tomasse o café e que lhe soubesse  merda, aqui no Enxalé. Deram-me ordem de prisão porque eu lhes disse que não havia direito eles já terem comido e nós estarmos à espera.

Aqui, em Missirá, mas eu nunca estive na prisão nem da primeira vez nem da segunda, todo o pelotão estava formado, em sentido e de marmita na mão, quando eles já tinham comido, debaixo da tabanca na nossa frente. Foi preciso eu tomar a atitude de mandar destroçar, batendo com o pé no chão, três vezes. Mas só aí alguém lhes perguntou quem foi que tinha mandado destroçar... Foi quando me vieram pedir os meus dados e nos mandaram formar novamente. Foram então novamente prá sombra da tabanca e só depois mandaram o cozinheiro servir-nos a dita refeição...

Não, eu não pedi para ser condecorado, eu não era filho de gente dita rica, chique, eu lutei por mim e pelos meus camaradas, porque quando eu dei a primeira resposta do café, foi porque eu tinha estado de serviço durante a noite, ao posto de rádio, que ficava nas traseiras do quarto do alf Luís Zagallo. Essa frase foi para o camarada que me veio substituir, de manhã, o Clidónio, este vive em Campo, Valongo, [é hoje meu vizinho].

Lutei por aquilo em que eu acredito, mas que muita coisa foi uma má imagem para Portugal, isso foi. Tantas coisas se fizeram e algumas pessoas ainda foram contempladas, mas, enfim, a vida é assim mesmo, e dos mortos já não devemos falar. Mas eu passei muitas noites no Enaxalé, de serviço ao posto de rádio e também a servir de..., dum que se dizia senhor e, que quando lhe dava na cabeça, já depois de bem bebido, depois de fazer aqueles ditos coquetéis com todo o género de bebidas e mais algumas, incluindo a famosa pasta 444 que era de pôr na cara, a altas horas da noite, mandava chamar o motorista e eu era incumbido de comunicar com Porto Gole,  informando que um certo senhor ia lá tomar um uísque... 

Àquela hora da noite, o jipe lá arrancava, povoação adiante,  saía fora da porta d'armas do Enxalé e, mais adiante, o piso era bastante bom, já dava para fazer algumas travessuras.

Júlio Martins Pereira

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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12456: Tabanca Grande (415): Júlio Martins Pereiratabanqueiro nº 635

domingo, 3 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12245: In Memoriam (167): Manuel Leitão Silvério, ex-alf mil, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70), mais tarde despromovido a 2º srgt mil, CCAÇ 2382 ( Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70) (Adriano Moreira, ex-fur mil enf, CART 2412)

1. Comentário,  ao poste P12241 (*), por parte do Adriano Moreira [, foto à direita, ao tempo da CART 2412, 1968/70]:  

Caros Camaradas,

O nosso malogrado camarada Manuel Leitão Silvério era o Comandante do 1º Grupo de Combate da CArt 2412 [Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70] e, para que fique bem claro,  eu vou contar o acontecimento que motivou a sua despromoção.

Terá sido em Maio ou Junho de 1969,  estávamos nós em Barro e o Alferes Silvério recebeu a ordem de se deslocar com o seu Grupo de Combate até ao marco 133 ou 134 na fronteira do Senegal. 

Depois de reunido o seu Grupo,  chegou à conclusão que com ele os furrieis e praças somavam 14 ou 15 efectivos, pelo que foi falar com o Comandante da Companhia,  dizendo-lhe que achava um efectivo demasiado exíguo para a missão que lhe estava a ser atribuída.

Como o Comandante da Companhia não foi da mesma opinião, deu-lhe um prazo de uma hora para ele resolver se ia ou não.

Eu acho que todos os Camaradas falaram com ele para o demoverem daquela ideia. Eu falei com ele duas vezes,  chegando a dizer-lhe para ele sair fazendo só metade ou um terço do percurso, mas ele não se deixou influenciar persistindo na sua ideia inicial, pelo que o Comandante participou a ocorrência originando um processo que levou à sua despromoção.

Se se tivesse recusado a tomar parte numa operação,  possivelmente despromoviam-no a 1º Cabo.
Tenho muita pena que tudo isto tenha acontecido, principalmente a sua morte, pois ainda em Setembro passado fiz todos os esforços para ele vir à nossa reunião de graduados da Cart 2412, mas ele tinha sido precisamente internado nessa semana.

Lamento profundamente a sua morte, e à Família, Camaradas e Amigos apresento os meus sentidos pêsames.

Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira
________________

Nota do editor: 


(...) Estava a minha Companhia sediada em Nova Lamego (2.º semestre de 1969), e por onde passava muita gente daquela zona do Gabú. Por lá, entre tantos, havia de passar o Manuel Silvério, provindo não sei donde, com destino a Bissau. Relembro que nos encontrámos na messe de oficiais, vinha fardado o alferes Silvério, e só esperava oportunidade de ter ingresso numa aeronave.

Passados alguns dias, porventura menos de uma semana, estando sentado no quartel à sombra de um poilão, ouço um cumprimento militar. Tentando indagar da sua proveniência, qual o meu espanto ao reconhecer o Silvério, mas na qualidade de 2.º sargento. Procurando tomar conhecimento da trama que lhe acontecera, foi lacónico, só me referindo que fora sujeito a um processo por indisciplina, e que o Comandante-Chefe o punira daquela forma. 


Do seu destino próximo, nunca mais tive qualquer conhecimento. Um dia, nos finais da década de 70, numa das principais ruas da cidade de Coimbra, casualmente encontro o Silvério. Tinha-se radicado nesta cidade, onde exercia as funções de delegado de informação médica.

Poucas vezes mais nos havíamos de reencontrar, e por escusa sua, nunca me deu a conhecer o que então lhe aconteceu na Guiné. Referiu-me já se ter esquecido desses tempos. (...)

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12159: Convivios (539): Pessoal da CCAÇ 616 / BCAÇ 619 (Empada, 1964/66), em Fátima, nos dias 19 e 20 do corrente (Joaquim Jorge, ex-alf mil, natural de Ferrel, Peniche)


Lourinhã, Ribamar > Festa anual em honra de N. Sra. Monserrate > 14 de outubro de 2013 > Almoço anual de convívio de amigos do Oeste > O Joaquim da Silva Jorge, natural de Ferrel, Peniche, ex-alf mil, CCAÇ 616 / BCAÇ 619, que esteve em Empada (1964/66).

Foto: © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do meu amigo e nosso camarada Joaquim da Silva Jorge, com data de hoje:



Vai realizar-se no próximo fim de semana, dias 19 e 20 de Outubro, o convívio anual da CCAÇ 616.

O encontro será em Fátima no Hotel Pax. 

A receção será a partir das 14 horas de sábado. Ás 18h30 será a missa, seguindo-se o jantar. Depois do jantar teremos um animado serão com música e baile.

Um abraço do Joaquim Jorge.


2. Comentário de L.G.:

Estive, há dias, em Ribamar, por ocasiões da festa anual da terra, em honra de Na. Sra. Monserrate com uma série de amigos e camaradas da região Oeste, uma boa parte dos quais passou pelo TO da Guiné, durante o período da guerra...

O convívio (, a pretexto de um boa caldeirada, ou não estivessemos nós em terra de gente do mar, terra dos meus antepassados Maçaricos,) foi organizado mais uma vez pelo Eduardo Jorge Ferreira, nosso grã-tabanqueiro, ,ex-alf mil da Polícia Aérea (BA12, Bissalanca, 1973/74), natural de A-dos-Cunhados, Torres Vedras, e que está connosco na Tabanca Grande desde 31/8/2011.

No grupo de convivas, de várias zonas do oeste (Lourinhã, Peniche, Cadaval, Torres Vedras, Mafra, Caldas da Raínha, Alcobça, etc.), fui encontrar alguns "velhinhos" da guerra da Guiné, gente dos primórdios, mas também "periquitos", gente que fechou a guerra e as portas do império...

O Joaquim da Silva Jorge, ou simplesmente oaquim Jorge,   é dos "velhinhos". Reformado da banca (onde foi prospetor, trabalhando muito em Ribamar nessa qualidade...), o Joaquim Jorge é natural de Ferrel, Peniche, tendo sido all mil na CCAÇ 616 / BCAÇ 619, que esteve em Empada (1964/66).

De espírito jovial, o Joaquim Jorge contou-me alguns dos episódios que marcaram a história da sua companhia. Num dada altura, ele teve mesmo que assumir o comando, em substituição do capitão. por razões que já não fixei. Vem, desse tempo,  um forte ligação ao pessoal da companhia, que todos os anos se encontra.

O Joaquim Jorge visita o nosso blogue, conhece os nomes de camaradas que estiveram em Empada depois dele (o Zé Teixeira, o Xico Allen...) mas ainda arranjou pachorra para pedir a sua integração na nossa Tabanca Grande, com direito a guarda de honra e tudo. Aproveito o ensejo para o convidar. Pedi-lhe também para me mandar a notícia do próximo convívio, o que prontamente já fez.


3. Informação complementar:

 O BCAÇ 619 esteve sediado em Catió, ao tempo de camaradas nossos como o J.L.Mendes Gomes (ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil e Catió, 1964/66).

Deste batalhão também é o nosso tabanqueiro João Sacôto (ex-Alf Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619, CatióIlha do Como e Cachil, 1964/66), que muito provavelmente conhece o Joaquim Jorge. O seu nome completo  é João Gabriel Sacôto Martins Fernandes. Entrou para a Tabanca Grande em 29/12/2011. E já aqui contou uma série de histórias da sua unidade. O nosso grã-tabanqueiro nº 532 era amigo do João Bacar Jaló.

Da mesma CCAÇ 616 / BCAÇ 619 [ e não da CCAÇ 617, como aparece por erro num dos nossos postes] também era o já falecido 1º Cabo Fernando Ferreira [foto à direita]... 

O 1º Cabo nº 2514, Fernando das Neves Ferreira, da CCAÇ 616 / BCAÇ 619 (Bissau, Empada, Pirada, Bigene, Ilha do Como, Bafatá, 1964/66), mais conhecido por Cabo 14, está representado na nossa Tabanca Grande pela sua filha Ana Paula Ferreira, desde 2006.

O Cabo 14 morreu precocemente aos 48 anos, em 1991. A filha escreveu sobre ele um texto comovente, em 9/4/2006, e dedicou-lhe um blogue... Foi desenterrar também problemas da vida militar e disciplinar do pai. (Talvez por isso, o Joaquim Jorge, que ficou a comandar a companhia, desde 17/7/65, me tenha pedido o mail da Ana Paula Ferreira, o que já lhe facultei).

Do mesmo batalhão, mas da outra companhia, a CCAÇ 618, temos o João Henrique Pinho dos Santos. Ex-Alf Mil Inf da CCaç 618 / BCAÇ 619,  o João esteve em Susana e Binar no período 1964/66.

Falta-nos, portanto, e se não erro,  um digno representante, vivo,  da CCAÇ 616 (que veio substituir a CCAÇ 417). O Joaquim Jorge vai-nos dar essa honra, a  de aceitar o nosso convite para desempenhar  esse papel, o de primeiro representante da CCAÇ 616. Joaquim, fico à espera de uma foto desse tempo, e de um pequena história, como é da praxe, para complementar os procedimentos para a tua entronização. Pode ser a/s) história(s) do Cabo 14. Gostei de te ver. Um Alfa Bravo. Luis. (**)

PS - Da CCAÇ 616 temos aqui um história contada  pelo Toni Borié, que vive nos States. Será que o Joaquim  Jorge se lembra do 1º cabo Fialho, que era natural Rio Maior, e que depois da peluda  foi emigrante na América   ?  (***)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1148: Cabo 14, um blogue de homenagem de uma filha a seu pai (Ana Ferreira)
  
(...) Entretanto nas minhas diligências, e através do esforço impagável do Sr. Ilídio Costa, sei agora com todos os detalhes qual a companhia de meu pai, Fernando das Neves Ferreira: Companhia de Caçadores nº 616, 3º Pelotão, 1ª secção, atirador, soldado nº 2514/63. Os castigos disciplinares foram alguns e as despromoções também, tendo posteriormente sido transferido para a CART 676/RAP 2,  em Setembro de 1965.

No documento que me foi tão gentilmente fornecido dizia ainda que "esta Companhia, após o desembarque do Batalhão nesta Província em 15.1.64, ficou em Bissau às ordens do Quartel General. Passou novamente a pertencer ao Batalhão em 8.4.64 quando rendeu em Empada a CCAÇ 417. Nesta altura veio comandada pelo Sr. Capitão Mil António Francisco do Vale. Em 2.5.64 este Capitão foi rendido no Comando da Companhia pelo Sr. Capitão José Pedro Mendes Franco do Carmo. Presentemente está sendo comandada desde 17.7.65 pelo Alferes Mil Joaquim da Silva Jorge, em virtude do Sr. Capitão Franco do Carmo ter sido evacuado para a metrópole por doença". (...)


(**) Último poste da série > 14 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12151: Convívios (536): Almoço de confraternização no passado dia 14 de Setembro em Salicos e XX Convívio dos Combatentes do Ultramar, a levar a efeito no próximo dia 20, iniciativas do Núcleo de Lagoa/Portimão da Liga dos Combatentes (Arménio Estorninho)



(...) Também esteve por um pequeno período de tempo na povoação de Catió, onde encontrou pessoal de Rio Maior, lembra-se do seu grande amigo, o Zé de Alfruzemel, pois juntos cozinhavam grandes “patuscadas” para todo o pessoal. Nunca mais lhe saíram do seu pensamento os chuveiros do aquartelamento em Empada, que traziam água quente a cheirar a enxofre, e “encarnada”!.

De uma vez andaram trinta quilómetros de noite, carregados, chegando pela manhã, em auxílio de um batalhão que estava em dificuldades. Os guerrilheiros quando souberam que estavam a chegar os militares da companhia de Empada, fugiram, pois os caçadores da Companhia 616, já eram famosos.(...) 


quarta-feira, 27 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11324: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte IX): Piche, vista aérea... E as valas onde se "despistou" o nosso camarada e amigo comum Renato Monteiro...



Guiné > Zona Leste > CART 2479/CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/70) > Piche, vista aérea > "Quando sobrevoei Piche... Vê-se as valas feitas pela CART 11 onde o Renato Monteiro se despistou"...

Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemenetar: L.G.]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa companhia de “Os Lacraus de Paunca”) (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70). (*).

Que história é essa do "despistanço" do meu amigo de Contuboel, o Renato Monteiro, o "homem da piroga" ?


2. Eis aqui a versão do Abílio Duarte... Espero que um dia destes o Renato Monteiro possa (e queira) apresentar a dele... Já o convidei... Mas ele tem mais que fazer: é hoje um conceituado fotógrafo e escritor...

[, Foto à direita, o Renato Monteior, o homem do remo, numa piroga com o Luís Graça, Rio Geba, Contuboel, Junho de 1969; foto de L.G.]



O que se passou, com o Monteiro, foi o seguinte: O Monteiro era, e penso que ainda é, uma extraordinária pessoa, e estava nitidamente a mais naquela guerra, assim como todos nós.
Conheci-o, muito bem, pois estivemos em Vendas Novas,e tiramos o mesmo Curso de Minas e Armadilhas, em E.P.E. em Tancos.

Ele e o Furriel Cunha, tinham um relacionamento com os africanos, muito diferente dos restantes quadros, e isso só lhes trouxe problemas. Quando a nossa Companhia deixou Contuboel, fomos para Piche, em Julho de 1969, para reforço operacional, pois tinham sido atacados. Quando lá chegamos, os pelotões, quando não iam para o mato, ficavam a abrir valas e construir abrigos.
Certo dia, e eu assisti ao diálogo, aconteceu o seguinte: Estávamos a coordenar os nossos soldados na abertura de valas, a terra era extremamente dura, fazia um calor doido o esforço era muito grande , toda a gente estava cansada, e era hora do almoço. Mas estava estabelecido que cada pelotão tinha que fazer uns tantos metros de vala, e de profundidade,(estás a ver o petisco). O bom do Monteiro vira-se para os soldados, e diz para pararem, e prepararem-se para ir comer.

Hora de azar, ia a passar ou estava a ver o trabalho, um Major do Batalhão lá de Piche, e vê o Monteiro a formar os homens, aproximou-se perguntando porque é que pararam o trabalho, e o Monteiro diz que os homens tinham que ir comer. Deu-se a bronca, era o Major a dizer que eles não podiam ir comer, enquanto as valas não estivessem prontas, e o Monteiro respondia que iam, porque ele é que mandava! Foi um 31 dos antigos.

O resto foi o que se sabe, inquérito, processo, prisão, despromoção e transferência. [O Renato Monteiro foi transferido, por motivos disciplinares, para a CART 2520, Xime, 1969/70. LG]

Eu tive mais sorte, pois ainda em Contuboel, tive um caldinho parecido. Estava de Sargento de Dia e,  ao jantar, conforme vinham da instrução os soldados,  iam comer ao refeitório, depois da companhia de brancos, a que estavamos adidos. Quando entraram os nossos primeiros soldados, sentaram-se, tudo bem. Estava eu á porta do refeitório, e vem o 1º sargento  daquela companhia, chamar-me, a dizer que os meus soldados não queriam comer!

Fui ter com dois deles que me mereciam respeito, um deles até bastante religioso, e perguntei o que se passava, explicaram, que o arroz não prestava e as conservas de sardinhas não estavam boas. Ok. Não querem comer não comem, vão comer á tabanca.

Estava eu,  mais o meu Cabo, a orientar os homens para sair do refeitório, vem o cabrão do
1º sargento,  aos gritos, que eu tinha que obrigar os soldados a comer.  Olha lá, como é ? Levantou-se um arraial, não passaram 5 minutos e aquilo já estava cheio de oficiais. Levaram-me ao Capitão deles, apareceu o meu, porquê isto, porquê aquilo, os homens  tinham que comer, etc. etc. Estou feito. Iam comunicar ao Major Azeredo, para Bolama,  que era o Director de Instrução, e que me iam embrulhar numa folha de 25 linhas.

Quando fomos a Bissau, para o Juramento de Bandeira, fui visitar uns camaradas da CCS, do meu Batalhão inicial em Penafiel, quando me disseram, que havia uma participação com o meu nome. Normal. Fiz várias perguntas, e disseram que aquilo dava prisão. Eu comentei, não acredito que me mandem preso para a metrópole, pois preso já aqui estou.

Até hoje, penso que o que me livrou foi alguém em Bissau, considerou que o que fiz era boa
politica, tendo em atenção a filosofia do Spinola com as tropas africanas. Safei-me. O Monteiro
não. São situações e momentos, que nunca esquecemos, de uma aventura de 22 meses, em terras
estranhas.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11040: A Cilinha em Gadamael, em fevereiro de 1974... Ia havendo levantamento militar, por causa do heli da senhora... (C. Martins, o último artilheiro de Gadamael, 1973/74)



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > Agosto de 1972 > Espetacular foto noturna do obus 14 em ação...

Foto: © Vasco Santos (2011). Todos os direitos reservados.


1. Do nosso leitor (e camarada) C. Martins, ex-comandante do último Pel Art de Gadamael (1973/74), comentário ao poste P10993


A Sra. Supico Pinto por acaso até foi a Gadamael,  em fevereiro de 1974

Era para pernoitar no aquartelamento, mas não pernoitou... É que começou a correr o boato que no dia seguinte viria um heli para levar a Sra, o que quase levou a um levantamento militar.

Regressou no mesmo dia a Cacine e julgo que a Bissau.

No final da tarde fomos flagelados mas Sra.já estaria provavelmente no remanso de Bissau.

Porquê do quase levantamento militar ? Explicação simples: as evacuações eram feitas em sintex ou zebro para Cacine e daí em heli, para Bissau...Se não vinha heli a Gadamael para evacuações, era o que faltava vir um para levar a Sra.! (*)

Confesso que fui um dos autores morais... da coisa.

Quanto a conjuntos musicais e outras "variedades", nunca tivemos direito a nada disso... Ora,  era suficiente o arraial que tínhamos quase diariamente.

C. Martins
_______________

Nota do editor:


(*) Em 1969, o custo do heli AL III era de quinze contos (!) por hora... mais do que o vencimento mensal de dois alferes milicianos juntos..."O heli é uma arma cara (15 contos por hora). Mas é indispensável neste tipo de guerra" (...Relatório da Op Lança Afiada, 8-19 de março de 1969).

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10677: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (25): Os dirigentes do PAIGC não usavam caixa nem cornetim nos quartéis das FARP (Forças Armadas Revolucionárias do Povo)








Guiné-Bissau >  Bissau >  Forte da Amura, Panteão Nacional > 7 de março de 2008 > Uma força da PM - Polícia Militar presta continência, enquanto  e ouve o "Toque de silêncio"... Homenagem a Amílcar Cabral e aos outros heróis da Pátria. Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje, 1-7 de março de 2008.


Fotos e vídeo (''40): Luís Graça (2008). Alojado no You  Tube > Nhabijoes



1. Mensagem do nosso camarada e amigo António Rosinha [, foto à direita, Pombal, 2007]:


Data: 14 de Novembro de 2012 11:37

Assunto: Os dirigentes do PAIGC não usavam caixa nem cornetim nos quarteis das FARP ( Forças Armadas Revolucionárias do Povo)


Se for publicável,  talvez seja bom em horas mortas.

FARP e PAIGC não são devidamente distinguidos e separados neste BLOG, nem faz grande diferença que assim seja.

Faria diferença sim, mas para os guineenses se estes não conseguissem separar uma coisa da outra.

Mas para o bem ou para o mal, os guineenses nunca conseguiram separar o PAIGC das Forças Armadas Revolucionárias do Povo [, FARP,], durante muitos anos. (Hoje não sei como será o ponto de vista do povo).

Nos primeiros anos da Independência, os militares das FARP em Bissau, não usavam cornetas ou cornetins nem marchavam ao toque de caixa nos respectivos quartéis. Hoje não sei.

Mas quando Amílcar fundou o PAIGC e foi também co-fundador do MPLA, copiaram os métodos castristas e guevaristas e aí não havia cornetas nem cornetins.

Mas no regime de Luís Cabral pós independência, houve pelo menos uma tentativa de criar esse hábito, ou seja , Luís Cabral chegou a promover o ensino de corneteiros e tamborileiros .

Ouvia-se durante vários dias ensaios de corneta e cornetim, e toques de caixa, dentro da fortaleza da Amura e constava que teriam ido sargentos ou outros militares de Portugal para treinar guineenses.

Pelo  menos os diversos toques desde o recolher, formar, refeições, bandeira, etc. de infantaria,  eu ainda me recordei do meu tempo de tropa passados 20 anos.

Mas isso não chegou a funcionar, não  se chegou a marchar ao toque de caixa, nem a formar ao toque de corneta, ou seja à voz de um único comandante.

Psicologicamente, penso que sem um corneteiro dificilmente haverá um exército disciplinado em tempo de paz, um corneteiro representa a voz de um comandante sobre toda uma unidade.

Conheci e visitei por motivos profissionais aquilo que foi o quartel da artilharia do tempo colonial, e que penso que continuava como sendo dessa arma, com o exército das FARP.

Embora parecesse mais um bairro (tabanca),  devido haver mulheres e filhos dos militares a viver lá dentro, tinha sentinela na porta de armas, casernas numeradas e gabinetes dos comandantes e também se viam circulando militares soviéticos, tinha verdadeiro aspecto de quartel à antiga.

Mas não havia aquele aspecto convencional de um exército, no dia a dia, como sendo ouvir vozes de comando, toques para as diversas formaturas, etc.

Nunca cheguei a saber se o presidente Luís Cabral tinha algum posto na hierarquia militar, ou se era ou foi militar,  tanto na luta como após a independência, assim como Amilcar, ainda não entendi se teve hierarquicamente algum posto.

Mas com posto militar ou não, ele Presidente da República,  se só em 1980 pensou na corneta (Ordem, disciplina nos quartéis),  já foi tarde.

Mas, pode parecer que falo uma baboseira,  como dizem os brasileiros, mas não posso deixar de transmitir uma impressão que jamais  me sai da cabeça e já lá vão...1980-2012=31 anos: se Luís  Cabral tem conseguido impor o toque de recolher, alvorada, e marcha ao toque de caixa, embora possa ser simbólico apenas, mas era um símbolo de ordem e disciplina,  os militares das FARC não teriam tanto tempo para matutar em  "bolsas" étnicas, facciosas e rebeldias que já vinham embrionárias do tempo da luta, e eram conhecidas até por estrangeiros.

E, como os militares durante vários anos mantinham uma atitude e um aspecto, mais de revolucionários do que um exército regular, mesmo os próprios comandantes que se exibiam em viaturas em grandes velocidades, "olha lá vai o Gazela", olha lá vai o Manel Saturnino"  por exemplo, tinham comportamentos de rebeldia,  era impossível para Luís Cabral e governo, pôr um exército em formatura ao som de um corneteiro, em 1980, quando se deu o golpe de 14 de Novembro.

Se o PAIGC e as FARP de Amilcar Cabral deixaram  criar facções  de várias ordens, e não as controlou, no caso por exemplo do assassinato de próprio Amílcar, já no MPLA e as FAPLA de que Amílcar foi co-fundador, as facções como Chipenda, Nito Alves…foram controladas e dominadas e parece que hoje já não existem.

Foi ainda em vida de Agostinho Neto que essas facções foram dominadas. Será que Amílcar Cabral não teve os devidos cuidados com o PAIGC e as FARC, ao contrário dos cuidados que Agostinho Neto teve com o MPLA e as FAPLA?

Claro que entre nós,  tugas, estas coisas que aqui trago, pouco nos dizem respeito, mas só as trago aqui, porque para mim, muitos dos dirigentes dos MPLA e do PAIGC, foram na maioria tão portugueses como nós, tugas, , alguns até a recruta fizeram comigo ou são do meu ano, no meu ou  noutros quartéis, e para mim estavam certos nas suas ideias, mas  no momento errado e com processos  errados, suicidas e criminosos.

Com resultados maus para todos os lados, até para eles próprios.

Claro que isto faz parte da " minha guerra", não quer dizer que não haja a guerra de jornalistas, mirones,  ideólogos e até de africanos que são os que menos testemunham.                                                                                                                                                 

Cumprimentos

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10476: (Ex)citações (197): Carta aberta a Tony Borié (Belmiro Tavares)

1. Em mensagem do dia 28 de Setembro de 2012, o nosso camarada Belmiro Tavares (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), enviou-nos esta carta aberta destinada ao outro nosso camarada Tony Borié:


Lisboa, 28 de Setembro de 2012

Caro Tony Borié,
Depois de uns dias de férias no Centro-norte do país (a Troika não permite mais), eis-me de regresso às lides rotineiras. Apenas hoje tive oportunidade de ler o teu comentário (1) ao texto sobre o Engrácia, um digno soldado do meu pelotão. Obrigado!

Nunca escondi de ninguém que eu era rigoroso com os meus soldados; quer no cumprimento de horários, quer no seu comportamento individual, quer ainda no seu relacionamento com outros soldados ou com os seus superiores. Fui sempre muito exigente, mas eu dava o exemplo! Nunca ordenei aos meus subordinados que fizessem o que eu não fazia.

À primeira falta, eu, normalmente, não atuava a não ser que fosse muito grave; avisava e explicava pormenorizadamente as minhas razões; à segunda raramente não castigava. O oficial, comandante de homens, também deve ser, penso eu, um educador. Tenho a certeza que nunca fui injusto na aplicação de qualquer castigo – corporal ou não – porque na dúvida, não actuava disciplinarmente; sem dar a entender que me tinha apercebido que alguém teria prevaricado, eu conversava sobre determinada falta (a tal) e que deviam ter cautela com o seu comportamento. Eles logo entendiam que alguém teria pisado o risco.

Nunca castiguei um soldado “à ordem” – isso só podia acontecer in extremis – porque era um ferrete que o acompanharia durante toda a vida e prejudicava-o tremendamente, como bem sabes. O meu pelotão foi o único da gloriosa CCaç 675 que não teve problemas disciplinares graves até ao final da comissão.

Os meus homens tinham plena liberdade de me alertar, respeitosamente, se entendessem que eu não tinha agido corretamente; eu tinha de descalçar a bota. Um dia em pleno mato, na fase final de uma “batida”, mal eu subi para a viatura, um soldado que foi sempre muito frontal, mas educado, perfilou-se e pediu-me licença para me interpelar; eu respondi afirmativamente, e ele desabafou:
- Nós temos um alferes para nos comandar em qualquer situação; não queremos sair com qualquer outro oficial, a não ser que o nosso comandante esteja impedido de o fazer. Se tal voltar a acontecer, nós decidiremos se saímos ou não com outro, arriscando as consequências da nossa decisão.

Aceitei, respeitosamente, a “reprimenda” e de seguida, expliquei:
- O nosso alferes sentiu-se mal e eu aceitei sair com o seu pelotão por respeito aos seus soldados, pois não gosto que um pelotão vá para o mato sem alferes; não houve tempo para vos avisar que eu ia sair com outro pelotão e que vocês sairiam com outro oficial que não eu. Apenas exigi ao nosso alferes que teria de vos comandar nas viaturas para “recolher” aqui os que fizerem a “batida” pois não aceitava que o meu pelotão saísse do quartel, mesmo que apenas na coluna auto, sem um oficial.
- O problema é que nós fomos apanhados de surpresa, mas já está tudo esclarecido! - Comentou outro soldado.

Eu dava tudo pelos meus soldados e continuo a dar; mas sabia e sei ainda que o contrário, era também verdadeiro.
Um dia, em Bissau, fui informado que um cabo do meu pelotão estava na prisão, na companhia de adidos; fui logo de táxi para o quartel.

O 1.º Cabo A. F. Santos, encontrava-se dentro de uma cela… de porta aberta; mas um soldado com uma G3 na mão vigiava-o no seu cubículo. Ele era acusado de ter assaltado a cantina; ele negou perante mim ter sido o autor do assalto e isso bastava-me! Eu confiava nele!

De cabeça meio perdida procurei o capitão (um oficial do serviço geral) e transmiti-lhe que ele não podia manter o meu soldado na prisão. Se o assunto não fosse sério, a resposta do capitão até seria cómica:
- Ele não está preso! A porta da cela está aberta!

Perdi as estribeiras! Abri a boca e saíram asneiras em catadupa. Ele, porém, não teve coragem para agir disciplinarmente contra mim.

Quando lhe transmiti que eu só aceitava que o Santos fosse autor do assalto se ele confessasse, o capitão riu-se descaradamente. A sua resposta condizia perfeitamente com a sua mentalidade:
- São todos iguais! Roubam e negam, enquanto podem!

No dia seguinte - nem eu sei como - o verdadeiro assaltante foi detetado e não era o Santos. Desabafei de novo com o capitão… mas a asneira estava feita.

Um dia um soldado comunicou-me que o alferes X lhe deu uma bofetada.
- Porquê !?
- Eu estava a “massajar” uma preta, mas ele estava a fazer o mesmo com outra.
- Foi mesmo assim? - Perguntei.
- Foi tal e qual, meu alferes!

Falei com o outro oficial que me respondeu:
- Ele estava a apalpar uma preta!
- O mesmo que tu fazias! Ficas a saber que se voltares a agredir um soldado meu e acima de tudo sem motivo, ver-me-ei obrigado a agredir-te também.

Outra vez a companhia de Adidos. Eu estava na consulta externa – otorrino – e fazia serviço naquela companhia. Um 1º cabo da minha companhia perguntou-me:
- Oh meu alferes! No mato nós temos lençóis! Porque será que aqui não os temos?! - Fiquei surpreendido, mas era verdade!

O capitão já não estava na companhia. Perguntei ao 1.º Sargento se na companhia não havia lençóis para os praças. Ele respondeu que havia, mas que o capitão “mandou guardá-los porque os soldados não os merecem”.

Ordenei ao 1.º Sargento que preparasse tudo para distribuir lençóis imediatamente às praças que os quisessem.

No dia seguinte tive de aturar o capitão, mas pus termo à conversa como segue:
- O meu capitão deve exercer os seus poderes disciplinares, participe! E não se preocupe com o que possa acontecer-me! Não será difícil defender-me!

Isto já vai longo! Mas só mais uma pitada!

De maneira alguma levaria a mal o teu comentário! Eu exponho-me com a verdade dos factos! Nunca escondi o meu comportamento; passei a falar mais disto quando vi duas causídicas ficar assustadas, surpresas, de cabelos em pé por eu lhes ter declarado que castiguei corporalmente alguns soldados menos bem comportados. Mais um cheirinho: na CCaç 675 os soldados comiam razoavelmente bem. Talvez em nenhuma outra companhia “do mato”, os soldados comessem tão bem como os nossos. O cozinheiro deles era um profissional – era 2.º cozinheiro num hotel do Porto -; um soldado, pescador, em Peniche, cozinhava para oficiais e sargentos.

Quanto a matas, bolanhas, emboscadas e quejandos, os soldados da CCaç 675, não ”levavam“ mais que os oficiais e sargentos que sempre os acompanhavam; a dose era a mesma para todos.

A conversa é como a cerejas… é preciso travar às quatro… ou nunca mais acabo.

Na fase final da comissão, um alferes da CCaç 675 – a gloriosa – repreendeu asperamente um soldado que reagiu grosseira e insolentemente. O alferes agrediu-o, quanto a mim tarde de mais; o soldado ripostou e engalfinharam-se. Não foi necessária a minha intervenção. O alferes dominou a situação e aplicou-lhe um castigo tão severo… que me recuso a citá-lo.

Imaginei que ia haver complicações o que agravaria as circunstâncias. Cerca de meia hora mais tarde decidi dar uma volta pelo aquartelamento, para me antecipar a qualquer surpresa. Mais vale prevenir que remediar! Foi sempre – e ainda é – o meu lema.
Uns tantos soldados conversavam acaloradamente no refeitório, a briga era o tema.

A meia noite aproximava-se; abeirei-me do grupo e comentei:
- Tanta gente sem sono?! Eu também não tenho! Por isso ando por aqui!

Um dos meus soldados, ali presentes, perguntou-me:
- O meu alferes acha justo o que está a passar-se?
- Passa-se tanta coisa, por aqui, meu rapaz! A que te referes?

Era mesmo o que eu pensava! Tomei a iniciativa:
- Os soldados do meu pelotão não têm que meter o nariz naquilo que não lhes diz diretamente respeito. Assim sendo, o meu pessoal deve ir já para a cama.

Todos se dirigiram à caserna, mas o mesmo soldado comentou, meio zangado:
- Isto não podia acontecer! Temos de tomar uma atitude!
- Oh Pinela! Vem cá! Como é que tu tentas mostrar, agora tanta valentia e há dias na emboscada em “tal parte” escondeste-te atrás do teu medo e só não foste abatido porque o guerrilheiro tinha a espingarda em segurança e entretanto foi abatido. Vai deitar-te e não te metas onde não és chamado!

Sem resposta ele dirigiu-se à caserna.

De seguida, perguntei se havia ali mais alguém que não fosse do pelotão em causa. Três ou quatro levantaram-se e eu aconselhei-os a ir dormir, pois pretendia conversar apenas com os soldados mais diretamente ligados ao caso.

Conversei com cerca de dez praças; contei o que tinha acontecido e que eu presenciara; transmiti-lhes que comigo o soldado teria “levado” mais cedo mas que considerava o castigo exagerado. Contei tudo com tal minúcia que não deixei grande margem de manobra aos ouvintes. Consideraram que, na verdade, estavam decididos a agir erradamente, etc etc.
Convenci-os a ir dormir e que colocassem uma pedra sobre o assunto.

Solicitei, no entanto, a um cabo ali presente, que ficasse comigo mais um pouco. Sugeri-lhe determinada actuação, mas que não podia falhar. Juntos conversámos com o soldado castigado. A minha proposta foi cumprida… em rigoroso sigilo. E por aqui me fico. Transmiti-lhe que se algo corresse mal… eu assumia a responsabilidade. Quer o soldado castigado, quer o cabo por mim envolvido no assunto nunca compareceram nas nossas reuniões… por razões díspares; nunca descobri o paradeiro do cabo.

Creio que ficou demonstrado que o relacionamento com os meus soldados não era mau de todo. Bem ou mal não me arrependo do que fiz; a intenção era boa! Os meus soldados sempre mostraram que não ficaram zangados.

Se tiveres paciência, lê o meu texto, “ser ou não ser disciplinado” – está no blogue! (2) Não o cito aqui para não me repetir. É interessante, digo eu!
As minhas desculpas por tanta parra! Só mais um toque: há 46 anos, eu organizo as reuniões anuais da minha muito querida CCaç 675… e muitas minis pelo meio.

Há anos temos vindo a colocar lápides, nas sepulturas dos nossos mortos: os três que faleceram na Guiné cujos os corpos foram entregues às famílias a expensas nossa e 38 que faleceram depois da guerra.

A CCaç 675 foi ímpar e continua a sê-lo! Mais bofetada ou menos… valeu a pena!

Um grande abraço!

PS1 - Se vives em Lisboa ou na zona passa um dia pelo Hotel Dom Carlos Park e tomamos um copo. Fica na Av. Duque de Loulé, 121 – mesmo ao lado do Marquês!

PS2 - Creio que não pertences ao blogue… o teu nome não está na lista; e tratas-me por “você”. Aqui é “tu cá… tu lá…” como dizia a Cilinha S. P.
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Notas de CV:

(1) Comentário de Tony Borié no poste Guiné 63/74 - P10378: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (27): O "Engrácio" de 13 de Setembro de 2012

Caro Belmiro.
Gostei da história, é uma homenagem ao "Engrácio".
Não sei se, ao mencionar: "dei algumas bofetadas e pontapés aos meu soldados...", está a fazer uma confissão, ou se é um desabafo, pois como deve de saber, havia outras maneiras de colocar o pessoal no devido lugar, a violência, gera violência, e no caso já chegava aquela que sofriamos dos guerrilheiros. Esteve em 64/66, foi no meu tempo, e vejo que afinal não era só em Mansoa, que se batia nos soldados.
Pobres soldados, levavam em tudo, era no comer, no corpo, nas matas, nas bolanhas, enterrados na lama e na água, nas emboscadas, era difícil ser soldado.
Não leve a mal este comentário, pois isto é conversa entre combatentes, e longe de mim, ofender.
Um abraço e escreva mais.
Tony Borie

(2) Vd. poste de 17 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7001: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (3): A(s) Disciplina(s): Ser ou não ser... disciplinado, eis a questão

Vd. último poste da série de 28 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10451: (Ex)citações (196): Um funeral balanta, em Barro, no tempo da CART 2412 (1968/70) (Adriano Moreira)

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10305: Estórias do Juvenal Amado (43): Olha o Silva!!!




Guiné > Zona leste > Galomaro > CCS/BCAÇ 3872, 1971/74) > Malta do Pel Rec Info



Vila Nova de Gaia > Carvalhos  > s/d > O casamento do Silva e da Ester

Fotos: © Juvenal Amado (2012). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado, com data de 21 do corrente

 Caro Luís, Carlos, Magalhães e restante Tabanca Grande

Esta pequena estória serve para recordar o meu amigo Silva e faz parte da parede que tento construir. Cada nome, cada caso, cada recordação são tijolos para essa parede.

Seguem algumas fotos com a particularidade de que numa delas aparece um africano que eu não tenho a certeza de ser o Jamba. Tentei confirmar junto de alguns camaradas, mas penso que só o dr Pereira Coelho o conhecer hoje. Fiz alguns apelos mas até agora nada.

Mas mesmo assim vou falar sobre o Jamba. O Jamba era um civil contratado pelo quartel que fazia vários trabalhos. De forte compleição, de bom trato ia connosco à lenha, por vezes há água, estava por todo o lado à vontade pois gosava de total liberdade de entrar e sair do quartel. Também fazia os recados do comandante nas relações comerciais com as lavadeiras, levando-lhe a roupa suja e trazendo a lavada.

Enfim era uma pessoa de toda a confiança... Só mais tarde se veio a descobrir que ele era militante do PAIGC na clandestinidade. Quando reunir informação suficiente contarei o resto da estória se ouver material para isso.

Até lá um abraço
Juvenal Amado


2. Estórias do Juvenal Amado > Olha o Silva!!!
por Juvenal Amado
(ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)



O Silva foi 1º cabo do Pel Rec e era um amigo de todas as horas. Fazia parte de um grupo que se tinha formado ainda em Abrantes após a mobilização, todos do mesmo pelotão excluindo eu que fui praticamente adoptado.

Viemos todos do RI6,  na Sra da Hora,  no Porto,  para Abrantes no mesmo dia e no mesmo comboio, eu com os condutores e com pouca ligação ou nenhuma a essa malta, que depois viria a ser e ainda são como meus irmãos.

O Silva a nível dos soldados só tinha amigos, o mesmo já não digo aos graduados, pois não se coibia de criticar e mesmo tomar posições de certa maneira complicadas de ordem disciplinar. A título de exemplo conto uma pequena estória.

Os camaradas que saíam para as patrulhas nocturnas, quando chegavam ao quartel e depois de tomar banho, dirigiam-se para o refeitório por volta da meia-noite para assim jantarem.

Mas o jantar era difícil de comer àquela hora,  frio e normalmente em papas, pois estava feito desde a 18 horas. De queixa em queixa, de crítica em crítica, as situações iam-se repetindo. Uma bela noite o pelotão recusou-se a comer, fazendo um levantamento de rancho ainda que restrito.

Veio o oficial de dia, que tentou convencê-los a comer e não conseguindo, passou às inevitáveis ameaças, das inevitáveis porradas disciplinares. Tudo foi em vão, pois os camaradas do Pel Rec estavam irredutíveis com o Silva à cabeça.

O oficial passou das ameaças e pensando que vergando o Silva os outros se renderiam, agrediu-o para o obrigar a comer. O Silva manteve-se firme e não comeu. Não me lembro como se resolveu o problema gerado pela agressão, mas as partes envolvidas acabaram por chegar a um acordo e a coisa ficou por ali, com a promessa que o problema das refeições seria resolvido, o que veio a acontecer a partir daquela data e nos meses posteriores até ao fim da comissão.

O Silva subiu na nossa consideração e todos lhe gabamos a coragem de fazer frente ao graduado, embora, se o não segurassem, teria ele respondido à agressão e a coisa tinha ido a mais.

Mas o Silva tinha uma particularidade que nós estranhávamos. Nunca se embebedava. Bebia uns copos mas não passava dali. Coisa estranha, pois até os mais controlados acabavam por se “encharcar” e  tanto mais que a comissão já ia bem adiantada.

Um belo dia, com o pré fresco no bolso fomos a Bafatá,  já com os nossos periquitos e foi de arrasar. Iam os do costume, o Silva, o Ivo, o Caramba, o Ferreira etc. Não será necessário aqui mencionar todos, embora tenha que aqui fazer uma ressalva para o Estofador e o Aljustrel que,  não tendo recebido autorização para seguir na coluna, nos foram esperar ao fundo da bolanha e assim passarem a perna ao tenente Raposo que tinha negado a licença aos dois.

Bom, em Bafatá,  o circuito do costume, começou na Transmontana e entre este mata- bicho e o almoço já encomendado no Libanês, a cerveja corria a rodos.
- É hoje que pregamos uma bebedeira no Silva. - combinamos nós.

E assim foi quando chegamos ao restaurante do Libanês, já todos íamos bem bebidos. Lá como de costume, corria a rodos o vinho branco bem fresco a acompanhar o bife. Depois vinham os charutos e o whisky, normalmente oferecido pelo dono da casa. Inconsolável estava o meu periquito, porque o não deixamos beber nada a não ser Fanta e Coca-Cola.

Não será preciso ter grande imaginação, para ver em que estado estávamos e em que estado chegamos ao quartel. Ao Silva, esse estava que ninguém o podia aturar. Uns usavam o termo “atravessado”, que é um estádio entre a bebedeira e a negação do facto, outros diziam que ele estava com uma “cabra” de todo o tamanho. Uma coisa era certa, ninguém o segurava, não dava um minuto de descanso pois queria apresentar-se ao comandante, ou ir chatear o tenente Raposo, beber um copo à messe, ir para a tabanca e sabe-se lá o que ele faria se o largássemos.

Já noite ia adiantada quando finalmente o deixei no abrigo do Pel Rec e fui para o meu, que era no extremo oposto do quartel. Estava a pegar no sono, pensando que não contassem mais comigo para o embebedar, e que finalmente o gajo tinha sossegado, levo uma palmada fortíssima na coxa, acompanhada de um exclamação do Silva com aquela pronúncia dos Carvalhos:
- Olha o Amado!!!!! estás aqui,  filho da puta!!!! - E tive que o aturar o resto da noite.

Este grupo onde está também o Passos [, foto acima,] tem-se mantido sempre em ligação excluindo o Ferreira que nunca mais deu sinal de si e a ultima vez que o vi, foi numa foto numa revista, quando ele ganhou uma viagem à Disneylândia.

Eu fui ao casamento do Silva com a Ester  [, foto acima,] e eles posteriormente vieram ao meu. O Silva, depois de muito ter trabalhado num negócio que montou, acabou por ter que emigrar para França há meia dúzia de anos. Nunca mais o vi. Esteve cá agora de férias na sua terra, mandei-lhe um abraço virtual e pensei que gostava de estar com ele, mas desta vez bebia cerveja sem álcool.

Um abraço

Juvenal Amado
______________

Nota do editor:


Último poste da série > 12 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9890: Estórias do Juvenal Amado (42): O arroz do nosso descontentamento

terça-feira, 3 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10107: O Nosso Livro de Visitas (141): Jaime Vieira, açoriano, a viver nos EUA há 38 anos, procura uma amigo e camarada, dado como desertor em 1972, o sold escrit Carlos Alberto Sousa Emídio, da CCAÇ 3476 (Canjambari, 1971/73)



Excerto da página do Carlos Silva, na parte relativa à história da CCAÇ 3476 (Canjambari, 1971/73) (Reproduzido com a devida vénia).




1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Jaime Vieira, açoriano, que vive nos EUA (*):

De: Jaime Vieira [52_j@live.com ]
Data: 2 de Julho de 2012 05:30
Assunto: Boas noites ou bons dias, a todos os camaradas da Guiné

Os meus parabéns por terem se lembrado de nós.

Fui soldado na companhia de caçadores 3476, estive em Canjambari, sector de Farim, nos anos de 1971 e 72 e depois estive no Chugué, antes de Mansoa. Vim para Casement [, nos EUA, ?] em 16 dezembro de 1973. 


Tínhamos o nome de Bebés de Canjambari por se tratar duma companhia muito jovem ou a mais jovem de todas. [Vd. o muito original miniguião, imagem  acima, cortesia de Carlos Silva].

Agora, meus amigos, tenho uma curiosidade: no ano de 1972 desapareceu um soldado que era escriturário, com o nome de Carlos. Penso que era de Trás os Montes. Sempre penso nele, era meu amigo, e sempre me preocupei em saber o que lhe aconteceu.

Se algum camarada sabe algo sobre este nosso amigo, diga-me alguma coisa para o meu email 52_j@live.com.

A companhia era açoriana.

Por agora é tudo, um abraço a todos
Jaime Vieira,

2. Comentário do editor:


(i) Pedi ao nosso camarada, amigo e vizinho  Carlos Silva, que eu trato carinhosamente, na brincadeira,  por "régulo de Farim", e que conhece bem toda a rapaziada que passou pelo setor, o seguinte:



Carlos Silva: Tens alguma "pista", na tua página, que possa ajudar este camarada que esteve em Canjambari, na CCAÇ 3476 ? Penso que ele vive no estrangeiro (EUA ?)... Deve ter emigrado, como muitos outros camaradas açorianos...

Não consegui localizar a cidade de Casement (em inglês, "batente", "casement windows", janelas de bater...).   Vou pedir ao nosso amigo Jaime se ele nos esclarece melhor estas duas coisas: (i) O país onde vive (presumo que desde 16 de dezembro de 1973); (ii) o apelido do amigo (Carlos... é pouco) e a companhia a que pertencia; era a mesma, a CCAÇ 3476, açoriana ? E já agora, como e quando é que ele desapareceu ? Foi em Canjambari ? Foi no Chugué ?

Um abração. Luis



(ii) O Carlos Silva respondeu-me de pronto, a mim e ao Jaime:


Luís e Jaime:

Aqui vai o link sobre o Carlos Emídio que desapareceu:

http://carlosilva-guine.com/index.php?option=com_content&view=article&id=57&Itemid=79&limitstart=23 
(**)

Nenhum camarada sabe dele. Espero que esteja vivo.
Estou no Algarve
Um abraço
Carlos Silva


(iii) O Jaime Vieira mandou-me um segundo email, ontem, nestes termos:

Muito obrigado por teres respondido. A minha companhia era dos Açores e fomos para Canjambari em 1971. O Carlos [Emídio] chegou mais tarde . Um pouco tinha sido cabo e foi despromovide mas antes de chegar à nossa companhia. Ele era um pouco contra o regime e tinha problemas com o capitão como eu tambem tinha. Ele desapareceu em Canjambari no ano de 1972 e nunca vi muito interesse por parte das autoridades em saber de ele. Por este motivo fiquei sempre preocupado e com ansiedade para saber o que aconteceu.

Sou emigrante nos Estados Unidos da América já há 38 anos,  era da companhia de caçadores 3476 e, como a metade da companhia era de voluntários com menos de 20 anos de idade,  deram-nos o  nome de Bebés de Canjambari. O meu capitão era chinês de Macau,  muito conhecido hoje pela televisao. O nome dele era Jorge Rangel.

Um abraço a todos, Jaime Vieira.


(iv) Comentário final de L.G.:

Obrigado, Jaime, por teres chegado até nós. Graças ao valioso contributo do nosso camarada Carlos Silva, ficamos a saber que o teu amigo, o sold escriturário Carlos Alberto Sousa Emídio, desapareceu no dia 17 de agosto de 1972 e foi dado, mais tarde como desertor, de acordo com a história da unidade.

Ninguém sabe, até agora, do seu paradeiro. Pode que ser que a tua mensagem chegue até ao seu conhecimento, se ainda for vivo, como esperamos... Como costumamos dizer, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... Oxalá possas encontrá-lo, vivo e de boa saúde. Terá, de certo, muito para te contar...

Ficas convidado, desde já, a integrar o nosso blogue. Manda-nos duas fotos tuas, uma do teu tempo de "bebé de Canjambari" e outra atual, tirada em Casement (já agora, em que Estado norte-americano fica ?).

Muita saúde e longa vida para ti e os teus.  Divulga o nosso blogue entre os nossos camaradas açorianos da diáspora!

PS - Na Internet, uma pessoa com este nome, num anúncio comercial, no portal Lisboanet... Pode ser uma pista...

CARLOS ALBERTO DE SOUSA EMÍDIO
Rua Marechal Gomes da Costa, 12 E
Famões, Odivelas, Lisboa 1685-901


Actividade: Instalação de canalizações


... Mas, como se costuma dizer, há mais Marias na terra!

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Notas do editor:

(*) Último poste da série> 2 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10104: O Nosso Livro de Visitas (140): António Rés Borié, ex-1º cabo cripto, Cmd Agr nº 16, Mansoa, 1964/66, camarada da diáspora, vive na Florida, EUA, e procura camaradas do seu tempo 

(**) Excerto da página do Carlos Silva, na parte relativa à história da CCAÇ 3476 (Canjambari, 1971/73):



(...) Caso Deserção do Sold Escrit nº 2055276 Carlos Alberto Sousa Emídio

17 – 08-1972 – Ao fim da tarde deste dia ausentou-se ilegitimamente o Sold Escriturário Carlos Alberto Sousa Emídio, constituindo-se mais tarde em desertor. Fora colocado nesta Companhia por motivo disciplinar, vindo da Sucursal do Laboratório Militar de Bissau.

18-08-1972 – Por todo este dia foram efectuadas buscas, e pelas 17H00 foram encontradas pegadas do Soldado ausente que seguiam na direcção da área da Bricama. O mesmo já fora desertor na Metrópole e o seu desaparecimento seria premeditado, em virtude de problemas de ordem pessoal e militares ainda pendentes, motivados pela sua deserção anterior.


[Fonte:] HU - História da Unidade, Cap II, pág 19

Será que este nosso camarada estará vivo? Faço votos para que sim.

Alguém saberá do seu paradeiro?

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9915: Lições de artilharia para os infantes (5): Quando o oficial de dia fez um levantamento de rancho... (C. Martins, Cmdt do Pel Art, Gadamael, 1973/74)


[Foto à esquerda, de Lázaro Ferreira, nosso próximo grã-tabanqueiro: malta de Gadamael, 1974].


1.  O C. Martins - nosso leitor e camarada, mais conhecido por ter sido o "último artilheiro de Gadamael" , comandante do Pel Art 23, que acabará por (con)fundir-se com o 15, mas também médico, hoje, no Portugal profundo, -  não faz parte formalmente da nossa Tabanca Grande (TG), por razões alegadamente deontológicas, éticas  e profissionais que eu entendo e respeito. Isto quer dizer que: (i) nunca pediu para aderir à TG; (ii) nunca aceitou o meu convite para ingressar na TG; (iii) nunca se apresentou ao "pessoal da caserna", como mandam as NEP do blogue; (iv) nem nunca enviou as duas fotos da praxe... 

Em contrapartida, é leitor assíduo, fã do nosso blogue, comentador diário dos nossos postes, frequentador dos nossos encontros nacionais, e profundo conhecer da Guiné, amigo das suas gentes... Tem, além disso - e excecionalmente - uma série feita com os seus comentários neste blogue... Ele é um bom contador de histórias, tem sentido de humor, e muitas memórias da tropa, da guerra e da paz, por partilhar... Seria uma pena que esta, que a seguir (re)publicamos, ficasse  escondida (e perdida) na montra traseira (que é a caixa de comentários) do nosso blogue... 

Sem sequer lhe pedir autorização (já foi dada tacitamente), aproveitei esta história, que considero exemplar, para mais um poste da série Lições de artilharia para os infantes... Pode perguntar-se: Foi a tropa uma escola de virtudes ? Quero eu dizer, a tropa do nosso tempo... Aprendia-se lá só coisas de artilharia, infantaria, cavalaria, transmissões ? Mas também valores ?... 

A pergunta não tem uma resposta dicotómica: como de resto tudo na vida, nada  pode ser visto a preto e branco... Depois da história do J.L. Mendes Gomes, a do C. Martins: são duas histórias que têm direito a "mural ao fundo"... Não confundir com "moral"... São histórias que se prestam a que a gente, os grã-tabanqueiros e demais leitores deste blogue, escrevem os seus grafitos na parede (mural), ao fundo... Eu diria que são "contos morais"... Mas ao leitor é que é reservada a última palavra. 

O C. Martins que me perdoe a partida, mas achei que este seu comentário era um pequeno diamante em bruto, que merecia ser lapidado... Podia tentar adivinhar quando e com quem se passou... Seguramente, gente da artilharia, mas para o caso não interessa. Os "contos morais" não têm historicidade, isto é, a espessura e a ganga do tempo e do espaço... (Quanto a mim, limitei-me a fazer o papel do escriba de serviço, neste turno, que foi o de fazer a fixação do texto; os méritos vão inteirinhos para o C. Martins).

Para o J.L. Mendes Gomes vai também o meu apreço pela coragem e frontalidade com que ele partilha, connosco (e com os netos...), uma história que alguns poderiam/poderão achar "politicamente pouco correta"... (LG).


 2. Lições de artilharia para os infantes > Quando o oficial de dia fez uma levantamento de rancho...


por C. Martins

Este tema é muito interessante: Relação entre comandantes e comandados e vice-versa (*).

Atitudes, justiça, injustiça, abuso de poder, capacidade de liderança ou não, coesão ou espírito de corpo.
Todos nós tivemos casos, independentemente da categoria ou posto hierárquico.

A propósito de rancho... Lembro-me de um caso passado num regimento de uma cidade alentejana. O oficial de dia fez um levantamento de rancho !!!!.

Este tinha por hábito não se limitar a provar a comidinha da bandeja, mas verificar as pesagens dos géneros segundo as NEP. Era vitela à jardineira: tanto de ervilhas, cenouras, batatas e a carne da dita.


Iniciado o repasto, que a bem da verdade o pessoal comia com sofreguidão, o dito oficial, olhando de soslaio para pratos e travessas repara que havia ervilhas, cenouras, grande quantidade de batatas e, surpresa,  a carne praticamente tinha-se evaporado!. 
-  NINGUÉM COME MAIS, CAR...!!! - berra o gajo com um galãozito transversal no ombro, e enceta uma corrida frenética até à cozinha onde se depara com grandes nacos de carne sobre a bancada.

Transtornado, enfia uma cabeçada no 1º sargento vago-mestre ou lá o que era:
- Você está preso,  seu f... da p...!. E estão todos presos, seus cabr...f...das p..., bandidos, gatunos! ...

Mais calmo, tenta contactar o comandante que não estava, o 2.º também não... Bem, a alternativa era o contacto com o QG da região militar. Atende o oficial de dia da respectiva:
- ... Fez o quê ?!! Você já desgraçou a sua vida!

Nesse dia almoçou-se só às cinco da tarde. 

O sorja f... da p... tinha por hábito gamar a carne e outros géneros que vendia a talhos e estabelecimentos civis,  com a conivência dum cabo RD... Os outros elementos da cozinha eram ameaçados para se calarem. A justiça militar atuou com penas exemplares... O aspiranteco teve um elogio verbal e foi mobilizado para o CTIG.

Qualquer coincidência com a realidade não foi mera ficção.

C.Martins (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9910: Cartas do meu avô (4): Segunda Carta: Em Catió (Parte III) (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66).



(**) Último poste da série > 4 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9852: Lições de artilharia para os infantes (4): O que era uma bateria (ou bataria)... (C. Martins, Cmdt do Pel Art, Gadamael, 1973/74)