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sábado, 17 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15260: Por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-mar em África, etc.: legislação régia (1603-1910) (2): "Que todos os que teuerem escrauos de Guinee os baptizem"... (Ordenações manuelinas, decreto de 1/1/1521)... Em busca do rei (cristão ?) de Guandem e Sará (Carta régia de 17/6/1603).




Portugal > Assembleia da República > Legislação régia > Ordenações manuelinas > Decreto de 1 de janeiro de 1521 >  Que todos os que teuerem escrauos de Guinee os baptizem
Sem Entidade, Livro Livro V.

Nesta época, e mais concretamente em meados do séc. XVI,  um em cada dez lisboetas era escravo (c. 10 mil em 100 mil habitantes). E temos uma ideia relativamente rigorosa das humildes ocupações ou profissões: lavadeiras, aguadeiras, vendedoras, varredores de ruas,  moços de fretes... Em termos demográficos, representavam uma compensação muito importante pela perda de homens que partiam para "a aventura dos Descobrimentos"... No Algarve, com graves problemas crónicos de despovoamento, os escravos trabalhavavam na agricultura... Estima em 2400 o número de portugueses que partiam, por ano, definitivamente para o ultramar, durante o séc. XVI... Foi uma sangria demográfica brutal...

Grande parte destes escravos eram oriundos da Guiné  (vasta região da costa ocidental de África  descoberta e explorada  pelos portugueses, a partir da dobragem do cabo Bojador, em 1434, conseguida por Gil Eanas: grosso modo, a Guiné começava no rio Senegal, que separava os "negros" dos berberes "mouros" do deserto do Sará, e ía até ao atual golfo da Guiné,  designando portanto um território muito mais vasto do que a atual Guiné-Bissau, que,como é sabido, é do tamanho do nosso Alentejo...

O tráfico luso-africano de escravos nasce ou intensifica-se, segundo os  historiadores, com a criação, em 1448, da feitoria de Arguim, na costa da atual Mauritânia. E diz-se luso-africano porque os traficantes não eram apenas os portugueses mas também os africanos.... Na costa senegalesa, os portugueses trocavm cavalos por escravos. O cavalo dava aos traficantes uma superioridade militar imprescindível para o sucesso das expedições de captura de escravos no interior do continente... Mais do que o ouro, o comércio de escravos tornou-se, para os portugueses que partiam "para dilatar a fé e o império", a principal fonte de lucro... De qualquer a história da escravatura não é linear, nem poderá ser vista à luz dos nossos valores de hoje... Em países muçulmamos como a Mauritãnia a escravatura só foi abolida oficialmemte... em 1980. No caso de África, as suas consequências foram trágicas, e ainda hoje é não é pacífica a estatística da escravatura... Cristãos e muçulmanos foram os grandes predadores dos povos africanos, essa é uma verdade histórica indesmentível. Mas também é verdade é que sem os escravos negros de África não teria sido possível a colonização do Novo Mundo, as Américas (15 milhões ? 5 para a América do Sul, 5 para a América do Norte, 5 para a América Central/ Caraíbas)... LG





Portugal > Assembleia da República > Legislação régia >  Carta Régia, 17 de junho de 1603
Carta Regia com esclarecimentos ácerca do Rei e Reino de Guandem, Guiné | D. Filipe II (1598-1621), Livro 1603-1612.

Onde ficaria, na Guiné,  esse reino de Guandem e Sará cujo rei, Dom António Gundão, seria cristão  ? Não encontro qualquer referência nos meus livros de história nem na Net... [LG]

sábado, 5 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15075: Historiografia da presença portuguesa em África (63): Casamansa, setembro de 1858: apoio das autoridades portuguesas aos interesses franceses, objeto de hostilidade pelo "gentio local": portaria, de 30/9/1858, do visconde Sá da Bandeira, secretário de estado dos negócios da Marinha e do ultramar


Fonte: Portugal > Assembleia da República > Legislação régia >

"PORTARIA, 30 de Setembro de 1858

Portaria (pelo Ministerio da Marinha — Inedita) mandando ás auctoridades de Guiné que prestassem ás auctoridades e subditos dos estabelecimentos visinhos francezes todo o auxilio contra o gentio da Casamansa em compensação de igual serviço que já nos haviam feito. Supp

MINISTÉRIO DA MARINHA, Livro 1858"...


1. Comentário de LG:
Marquês Sá da Bandeira (1795-1876).... Foi uma dos
paladinos da abolição da escravatura .,
Cortesia de Wikipedia

1. 1. Como se vê, já em 1858, quase 30 anos antes da Conferência de Berlim (1884-85), a França e Portugal eram "aliados" (ocasionais) na África Ocidental...

Irão fazer "rectificações territoriais" em 1886:  Portugal cederá Casamansa, a França dá-lhe em troca a península de Cacine.

O pequeno e velho país, chamado Portugal, com pergaminhos "históricos" no que diz respeito às relações com esta parte de Áfrca, tinha um conflito com os ingleses, seus aliados no continente europeu, a propósito de Bolama. A posse da ilha era reivindicada por ingleses e portugueses, desde 1830... O território chegou a ser integrado na Serra Leoa, em 1860.


Uma comissão de arbitragem internacional.  presidida pelo então presidente dos Estados Unidos da América, , o general Ulysses S. Grant (1869-1877),  acabou por decidir, a 21 de abril de 1870,  atribuição da posse de Bolama a Portugal. A soberania portuguesa do território é restituída a 1 de outubro de 1870.

 As hostilidades para com os franceses, em Casamansa (*). reportadas acima, remontam a 1858. Era então governador de Cabo Verde  Sebastião Lopes de Calheiros e_Meneses. Por sua vez, era  capitão-mor de Bissau o Honório Pereira Barreto, que ia no seu 5º mandato (!) (18589-1859). O rei de Portugal, nessa época, era  o promissor jovem Dom Pedro V: reinou enter 1853 e 1861, ano em que morreu prematuramente,  aos 24 anos. Era o mais bem preparado,  do ponto de vista intelectual e cultural, dos reis da dinastia de Bragança.

Dom Pedro V era um convicto defensor da abolição do esclavagismo, tal como Sá da Bandeira, político e militar de grande vulto da época do liberalismo, e que assina a portaria acima reproduzida. Depois da "perda" do Brasil, os governos oitocentistas começar a preocupar-se com os territórios ultramarinos africanos...

O jovem rei presidiu à inauguração do primeiro telégrafo eléctrico no país (1855)  e do primeiro troço de caminho de ferro, entre Lisboa a Carregado (1856). É também no seu reinado que se iniciam as primeiras viagens regulares de navio, entre Portugal e Angola.  Tinha claras preocupações quanto à posição de fragilidade de Portugal, em África, face às grandes potências coloniais europeias, em especial a Inglaterra e a França e a que irá juntar, mais tarde, a Alemanha....

Como é sabido, foi no Congresso de Viena, em 1815, que o comércio de escravos foi condenado. Em  Portugal, o comérrcio de escravos é abolido em 1836, no ultramar (já tinha sido abolida a escravatura, na metrópole e na ìndia, no tempo do marquês de Pombal, em 1761), mas o tráfico continua,  clandestinamente, feito tanto por portugueses como franceses e outros.

Sá da Bandeira decretou a abolição da escravatura a 29 de Abril de 1858, impondo contudo um prazo máximo de 20 anos para o fim da escravidão em todo o território sob administração portuguesa.  O fim oficial da escravatura é, pois, 1878... (...) "Em 1875, poucos meses antes de morrer, Sá da Bandeira tivera o ensejo de assistir à aprovação, nas Cortes, de um projecto de lei que emancipava os libertos das colónias. Tratava-se do culminar de um percurso de décadas que o então marquês percorrera com persistência e obstinação, ainda que muitas vezes isolado ou quase isolado". (Vd. João Pedro Marques, Investigador Auxiliar do DCH/IICT > Sá da Bandeira e o problema da escravatura).

1. 2. Sobre Casamansa, atualmente,  escreveu em 2008 José Horta, leitor de Português na Universidade Cheikh Anta Diop, Dacar, Senegal  (UCAD):

(...) "Casamansa e a vizinha Guiné-Bissau constituem um território com uma identidade própria, cujas populações fazem parte de um mesmo conjunto étnico e linguístico, o grupo sub-guineense (...)  A separação foi o resultado do acordo luso-francês, de 1886, no qual Portugal renunciou à bacia do rio Casamansa, incluindo o porto de Ziguinchor, e a França, em contrapartida, abandonou a área de Cacine.

"Os vestígios da presença portuguesa no passado são visíveis, por exemplo, em algum do património arquitectónico de Ziguinchor, mas sobretudo pelo facto de uma parte da população autóctone (geralmente identificada com a comunidade cristã) ter como língua materna um crioulo de base lexical portuguesa, afim do guineense, que constitui um forte factor de identificação e coesão. Curiosamente, no Senegal, estes crioulos, e sobretudo o cabo-verdiano, são muitas vezes confundidos com o Português, acreditando-se que se trata de uma mesma língua.»

(In:  nº 128 · 30 de Julho de 2008 · Suplemento do JL n.º 987, ano XXVIII, reproduzido na página do Instituto Camões)
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 Notas do editor:

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15065: Memória dos lugares (318): em terra dos felupes: Bolor, Rio Cacheu, Djufunco, Varela... (Patrício Ribeiro)



Foto nº 1 > Bolor, rio cacheu


Foto nº 2 > Bolor, casa


Foto nº 3 > Bolor, vinho de palma e correntes


Foto nº 4 > Bolor, correntes


Foto nº 5 > Bolor, canhões


Foto nº 6 > Djufunco


Foto nº 7 > Varela, casa do homem grande

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Mensagem do Patrício Ribeiro, com data de 31 de agosto último

 [Foto à esquerda, em Farim: Patrício Riubeiro, português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bssau desde 1984, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda; também conhecido carinhosamente como "pai dos tugas"]


 Assunto - Fotos, Bolor, Rio Cacheu e Palha


Ao ler o bom texto do Manuel Vaz, sobre a demarcação das fronteiras da Guiné (*)...

Vem a propósito (já que ando a reler), “ A questão de Casamança e a delimitação das fronteiras da Guiné",  de Maria Luísa Esteves, destinado ao IV Centenário da Fundação da cidade de Cacheu 1588-1988.

Envio, para recordarem, algumas fotos tiradas no mês de maio,  de visita por terra à Tabanca, do antigo Fortim da Ponta de Bolor, que é mencionado no artigo. (Foto 1)

Era época da mudança da palha (Foto 2):  ver a vedação da varanda, em paus de tarrafe, as casas naquela tabanca são autênticos fortins.

Era época das cerimónias, antes das chuvas, corria por todo o lado o vinho de palma (foto 3).

Como sabemos, esta tabanca [Bolor,  no estuário do Rio Cacheu, na margem direita, e vizinha de Jufunco ou Djufunco,] está cheia de histórias:

(i) afundamento de um barco inglês e morte dos tripulantes;

(ii) morte de mais de 30 militares portugueses, envenenados por flechas e lanças;

(iii) queda de avioneta com dois franceses, que desapareceram; após muitas buscas em terra e nos rios, nunca foram encontrados...

A quem pertencem estas correntes ? (vd. foto nº 4).

Foi a pergunta que o nosso amigo Pepito (Carlos Shwarz) fez aos Homens Grandes da tabanca, nunca teve resposta … aquando do almoço nesta tabanca de dezenas de brasileiros descendentes de escravos, em 2010,  em Cacheu.

Será que alguém sabe a quem pertence? (Foto nº 4).

Fotografei,  nesta festa, mais ou menos 5 canhões , do tempo das caravelas, que só neste dia estavam nos largos da tabanca. (Foto nº 5)

Jovens felupes, na tabanca de Djufunco (Foto nº 6). [Falta-nos a carta, de 1/50 mil, de Jufunco, lapso nosso ou do nosso "cartógrafo" Humberto Reis...Esta região faz parte do Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu, "considerado o 5º maior parque  com mancha contínua do ecossistema do mangal em África"... LG.]

Sou também um morador daquela zona desde há 20 anos, onde passo muitos fins de semana, na praia de Varela. Fiz como os outros, em maio troquei a palha, na casa do “homem grande” (Foto nº 7) (**)

Patrício Ribeiro
Impar Lda. Bissau
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Notas do editor:

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7518: (In)citações (23): Guiné-Bissau, país de história e de cultura: O Festival Quilombola Cacheu, Caminho de Escravos, Novembro de 2010 (AD - Acção para o Desenvolovimento)

(**)


Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título: Jovem quilombola de regresso à terra dos seus tetravós... > Data de publicação > 12 de Dezembro de 2010 >Data da fotografia > 21 de Novemnro de 2010 > Legenda:
"A jovem Maria do Carmo Ribeiro Baima, quilombola de 8 anos de idade, veio à Guiné-Bissau para conhecer os seus irmãos, tios e avós de quem se tinha separado há mais de 400 anos.

"O tráfico negreiro transatlântico levou os seus antepassados desta costa da Guiné, para o Maranhão, no Brasil. De um lado e de outro ninguém mais soube o que aconteceu aos que ficaram e aos que partiram: Resistiram? Chegaram ao Brasil? Casaram? Tiveram filhos?... Hoje, Maria Baima, veio contar o que aconteceu aos que foram para o Brasil e saber o que fizeram e como ultrapassaram a dor da perda, os que ficaram na Guiné.
"Porque a força dos tambores permaneceu, ela dança a música de tina, ao som doce saído das cabaças tocadas pela mandjuandade das mulheres de Calequisse".

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) (com a devida vénia...) 


No quadro do seu programa “Vamos contar a nossa História”, a AD participou na organização do Festival Quilombola “Cacheu, Caminho de Escravos”, que decorreu  [, entre 18 e 25 de ] Novembro de 2010, [, com o patrocínio da Comunidade Europeia e o Instituto Marquês Valle Flôr, de Portugal]

A adesão das comunidades locais, grupos de mandjuandades (*) artistas e grupos culturais de raiz étnica, foi um dos aspectos mais marcantes deste Festival, pelo que o governo guineense decidiu passar a promovê-lo anualmente, sempre nesta data.

Para os guineenses foi um grande orgulho poder apresentar e ver consagrada a sua cultura diversificada, aparecendo aos olhos de todos como um país de História e Cultura, elemento de unidade e de reforço da identidade nacional.



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Notas de L.G.:


(*) Mandjuandades, na Guiné-Bissau, são "organizações associativas, [femininas],  de base voluntária e igualitária, sustentadas pela solidariedade e partilha de interesses individuais e coletivos"...O fenómeno parece-me ter algumas parecenças com a Kixikila amgolana, termo que, em kimbundu, quer dizer contribuição, em dinheiro, para um dado fim colectivo. Em África, em geral, e em Angola, em particular, é aquilo que se designa pela expressão inglesa Rotating Savings and Credit Associations (ROSCA), um sistema informal de poupança e crédito, um grupo de ajuda mútua, liderado em geral por uma mulher, a "mãe de kixikila". O pequeno grupo, de cinco a dez elementos, tende a ser constituído por pessoas que estão ligadas entre si por laços de amizade, parentesco, vizinhança ou profissão. Cada elemento faz periodicamente uma determinada contribuição para um fundo comum que é depois utilizado rotativamente por cada um, com uma taxa de juro nula ou de valor reduzido. Na ausência de sistemas de crédito bancário acessíveis à generalidade da população, o kixikila voltou aos hábitos dos kaluandas como forma de atenuar ou reduzir o impacto da pobreza. O kixikila está hoje vulgarizado, não só entre as vendedeiras, quitandandeiras e kinguilas, mas também nos serviços públicos e nas empresas (vd. Neto, S. - Kixikila não é uma lotaria.Economia & Mercado. 19 (Maio-Junho de 2004). 40-42). Vd. também: Ducados, H.L.; Ferreira, M.E. (1998) - O financiamento informal e as estratégias de sobrevivência económica das mulheres em Angola : a Kixikila no caso do município do Sambizanga (Luanda). Lisboa: CEsA - Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento. Instituto Superior de Economia e Gestão. Universidade Técnica de Lisboa. 1998 (Documentos de Trabalho, 53). 


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7180: (In)citações (22): Era uma vez...Três TVês Comunitárias: Klelé (Bairro de Quelélé, Bissau), Massai (Iemberém, Cantanhez) e Bagunda (S. Domingos, Região de Cacheu)




Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semanaTítulo da foto:  Festival Quilombola em Cacheu > Data de publicação:  3 de Outubro de 2010 > Data da foto:  2000 > Palavras-chave: História e Cultura > Legenda: 

"De Cacheu para o novo mundo, Brasil, Caraíbas e América do Norte, milhares de escravos foram levados, há mais de 400 anos, para trabalhar nas grandes plantações agrícolas, especialmente de cana-de-açúcar e algodão. Esta fortaleza testemunhou o embarque desses negros, no porto de cais que se situa ao lado, muitos dos quais não aceitaram ser escravos e, no Brasil, decidiram fugir e criar as suas zonas libertadas, os Quilombos. Em Novembro deste ano, um grupo de cerca de 30 quilombolas (*) regressa às origens e vem visitar a terra dos seus avós, indo de seguida à cidade da Praia em Cabo Verde, local onde os escravos eram vendidos e partiam em várias direcções"(AD).... E seguramente que a TV Bagunda, televisão comunitária de São Domingos, vai lá estar para registar e divulgar esse (re)encontro histórico, emocionante,  das gentes do Cacheu com os "quilombas" (LG)...

Foto: AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) (com a devida vénia...)




Télévisions communautaires et sécurité alimentaire en Guinée Bissau, de Thierry Michal. Um vídeo de 10' 02''



Uma história que, desta vez, não tem que ser triste, só porque passada num dos países mais pobres do mundo... Como é que uma ONGD, local, a AD - Acção para o Desenvolvimento, onde trabalham amigos nossos, como o Pepito, a Isabel Lévy, o Domingos Fonseca,  o Tomani  Camará, e outros,  criou 3 (três) televisões counitárias no seu país com o objectivo de apoiar a sua acção  em prol dfe três objectivos: (i) segurança alimentar; (ii) preservação do ambiente; e (iii) valorização das culturais locais.


Neste filme produzido pela Federação Nacional dos Vídeos dos Países e dos Bairros,  Fédération nationale des Vidéos des Pays et des Quartiers, no quadro de uma missão de estudo na Guiné-Bissau, o nosso amigo Pepito é longamente entrevistado (em francês). Fala-nos, com grande entusiasmo,  da importância dessas televisões locais, postas ao serviço da cidadania, do desenvolvimento integrado, da extensão rural, da luta contra a degradação ambiental, da protecção e promoção da saúde, da literacia, da identidade cultural e da preservação da memória. 

Clicar aqui para visualizar o vídeo:

http://www.vimeo.com/15948009





Do relatório de actividade da AD - Acção para o Desenvolvimento, respeitante ao exercício de 2009, destacamos a seguinte informação sobre as três televisões comunitárias, a TVK [, Klelé,], em Bissau,  TVMassai, no Cantanhez, e TVBagunda, em São Domingos (pp. 9-11).


(...) 2. As Televisões Comunitárias ao serviço do desenvolvimento local

Trata-se de uma iniciativa da AD que tem 8 anos de existência e que se vemafirmando de forma gradual, apesar das reservas iniciais que muitos lhe apontavam. A Oxfam Novib foi o único parceiro que aceitou correr o risco na procura desta nova forma de comunicação.

Em 2009, elas acabaram por ocupar um lugar incontornável na informação, comunicação e produção de DVD para as comunidades locais do nosso país, começando a ser reconhecidas pela qualidade dos seus serviços e pelob impacto das suas produções, especialmente na difusão de técnicas de vulgarização, no resgate da cultura nacional e na recolha de testemunhos históricos da luta pela independência da Guiné-Bissau.

As três televisões comunitárias promovidas pela AD têm características diferentes e usam métodos de comunicação diversificados.

A TVKlélé, a mais antiga, criada em Setembro de 2001, assume-se como uma televisão “ambulante” organizando sessões na comunidade do bairro de Quelélé em Bissau (22.000 habitantes), ou noutros locais do país, como Canchungo, por exemplo. São emissões pontuais (não diárias), com uma periodicidade mensal em que a população é convocada a participar na apresentação de uma emissão de rua, da qual constam vários programas: noticiário das actividades da comunidade, um spot ou mensagem sobre a higiene, saúde ou agricultura, uma parte cultural (vídeo-clip ou dança e canto tradicional ou pequena peça de teatro) e finalmente o tema forte que irá ser o motivo de debate comunitário. Escolhe-se sempre um assunto que esteja na ordem do dia da preocupação das pessoas: comercialização dos produtos, falta de água, funcionamento das escolas públicas, higiene e saneamento urbano. 


À volta deste tema, a TVComunitária produz um filme de 20 minutos onde coloca o problema sob vários ângulos: quais são os problemas existentes? Qual a posição dos diferentes interesses em causa (mulheres, comerciantes, poder local, etc.)? Quais os desafios e eventuais soluções preconizadas? O filme pretende criar as condições de informação e sensibilização para que todospercebam o alcance do problema e possam participar activamente na discussão. Após a apresentação do filme-documentário sobre o tema central, abre-se uma fase de debate em câmara aberta, isto é, em que todos os que estão a assistir à emissão o possam seguir numa tela gigante onde se revejam e vejam os diferentes intervenientes. Isto ajuda normalmente a aumentar a consciência de que se trata de uma questão colectiva e que exige a intervenção e responsabilização individual para a sua solução. Por outro lado, criam-se dinâmicas de acção e de entre-ajuda nos diferentes grupos sociais da comunidade.

Se a TVK é sobretudo uma televisão periurbana, já as outras duas,a TVMassai, de Cantanhez e a TVBagunda,  de S.Domingos, são rurais, funcionando diariamente com o sistema “clássico” de emissões por ondas hertzianas, atingindo um raio de cerca de 15 Km. As emissões têm uma duração de 2 horas diárias, sendo o mesmo programa apresentado durante uma semana, isto é, só de 7 em 7 dias é que se faz um novo programa. No entanto, há a preocupação diária de introduzir o noticiário da televisão nacional oficial, para
que a população tenha conhecimento do que se vai passando a nível nacional.

Nestas televisões, porque rurais, são apresentados um maior número de programas agrícolas e ambientais referentes a novas tecnologias de simples utilização que podem ser vulgarizadas a nível local, como também de sistemas de cultura praticados pelos agricultores de referência, isto é, aqueles que praticam técnicas mais modernas e eficazes. Os programas de resgate das culturas das etnias da região são uma constante, permitindo dar a conhecer e valorizar as que são pouco conhecidas ou que estão em vias de desaparecimento. Outro dos temas motivantes é o da recuperação da história local de cada uma das etnias e da história nacional. A captação destas emissões é feita através de postos colectivos nas tabancas, normalmente nas Escolas de Verificação Ambiental (EVA), que dispõem de um sistema de postos de recepção que funcionam a energia solar.

Para a produção dos programas emitidos em cada uma destas TV, cada uma delas dispõem de: um pequeno estúdio de montagem áudio-visual, dotado de  equipamento muito simples de captação de imagem, sendo os filmes produzidos com recurso a uma mesa de montagem “Casablanca”; um núcleo de cerca de 10 jovens da comunidade, a maior parte dos quais são estudantes que, em regime de voluntariado e após várias formações técnicas e jornalísticas, fazem os guiões, recolhem as imagens e produzem osfilmes (eles são formados para desempenharem o papel de animadores comunitários); “actores” recrutados entre a população local para os filmes devulgarização.

A estreita ligação com a AD enquanto associação de promoção do desenvolvimento, assegura que a vulgarização obedeça a critérios de prioridades agrícolas e garanta uma coerência na sua apresentação, evitando-se que elas caiam do céu sem serem acompanhadas pelos técnicos que estãoa trabalhar no terreno com os pequenos agricultores. 

Exemplos mais recentes de produtos DVD destas TV comunitárias: (i) combate à mosca da fruta nos citrinos e mangueiros; (ii) introdução de novas tecnologias amigas do ambiente e que aligeiram o trabalho das mulheres: fogões de cozinha melhorados “numo” que permitem reduzir drasticamente o consumo de lenha e o abate de árvores da floresta;  (iii) sal solar “minda” que reduz o trabalho das mulheres e recorrem ao sol como única fonte de energia; (iv) fabrico de carvão pelo método “mate”, que produz carvão de melhor qualidade e com maior duração de consumo; (v) repovoamento comunitário do mangal e do cibe; (vi) higiene pessoal e colectiva com acento tónico no bom uso da água; (vii) prevenção e tratamento das doenças mais comuns como a malária, cólera, diarreia.

Todos estes produtos DVD assentam numa perspectiva de sensibilização dos destinatários e de demonstração clara de como e o que fazer, utilizando-se diferentes formas: através das emissões da TV Comunitárias (nas escolas EVA ou na esquina das ruas no caso da TV ambulante); projecções em seminários técnicos, encontros de agricultores ou reuniões comunitárias nas tabancas; na formação dos vulgarizadores, agentes locais de desenvolvimento e professoresn das EVA.

Vários aspectos merecem uma profunda reflexão e intervenção para se obterem melhores performances destas televisões:

(i) do ponto de vista técnico há que encontrar uma melhor solução para os emissores (frequência irregular e avarias frequentes), a existência de técnicos de manutenção-reparação competentes e de sistemas de videomontagem que se avariem com menos frequência e não deixar muito tempo os receptores parados devido a pequenas avarias (antena deslocada, fusível queimado, etc.); 

(ii) do ponto de vista de direcção da televisão, há que encontrar soluções e incentivos para ter à frente delas jovens com uma maior visão e perspectiva do desempenho futuro que as televisões virão a ser chamadas a desempenhar, concilindo com o facto de todo o pessoal trabalhar em regime de voluntariado; 

(iii) do ponto de vista da produção de conteúdos, há que haver uma maior articulação entre os técnicos da AD e os jornalistas das televisões para a concepção de programas agrícolas, assim como formações específicas para os jornalistas ligados aos aspectos culturais;

(iv) no que concerne ao acompanhamento e avaliação do funcionamento das televisões, há que constatar que ela não se faz de forma sistemática e consequente, mas apenas aleatoriamente e sem consequências práticas para a rectificação dos erros ou lacunas. 

Começa a ser importante conhecer o universo das pessoas atingidas, o funcionamento dos postos de recepção nas tabancas, o interesse que cada tema desperta nos diferentes grupos sociais, o impacto no seu bem estar e vida em geral, as sugestões e críticas da
comunidade.

A imaginação, a força de vontade, o empenho e a melhoria constante dos conhecimentos das pessoas que dirigem, fazem funcionar ou apoiam as rádios e televisões comunitárias vão empurrando para mais longe os limites das TV comunitárias.(...)
___________


Nota de L.G.: 


Último poste desta série > 27 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7179: (In)citações (21): Os irmãos Turpin, José e Eliseu, "verdadeiros filhos da Guiné" (Luís Graça)

(*) Segundo o Dicionário Houaiss (2003), o quilombo (o termo é de origem angolana) era um sítio, no Brasil, onde se escondiam os escravos fugidos. Com o tempo, os quilombos tornaram-se comunidades autónomas. Em geral, ficavam no mato, na selva ou na montanha, longe dos centros urbanos. A essa gente foragida dava-se o nome de quilombolas.O mais célebre terá sido o Quilombo dos Palmares, em Alagoas, símbolo da resistência  dos afrobrasileiros ao esclavagismo no período colonial. Vd. entradas na Wikipédia.