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quarta-feira, 15 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14882: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (4): Os amigos e amigas que nos ligaram ao nosso mundo (José Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 12 de Julho de 2015, onde nos fala dos amigos que,  de alguma maneira, foram o suporte moral de muitos de nós, combatentes, enquanto em campanha.

Caríssimos
Não foram apenas a família e as namoradas que nos ligaram ao mundo do lado de cá da guerra, como podem ver nos anexos.

Abraços
Zé Teixeira


OS AMIGOS E AMIGAS QUE NOS LIGARAM AO NOSSO MUNDO

Alguma coisa se tem escrito sobre as noivas e namoradas que viram os seus “amores” partirem para Guerra Colonial. Seguiam-se normalmente cerca de dois anos de separação em que o amor e os afectos eram alimentados pelas cartas e “bate-estradas”,  vulgo aerogramas. Tempo de sofrimento. Tempo que nunca mais passava.

Um camarada meu recebia um montão de cartas sempre que a avioneta chegava com notícias frescas. A sua namorada assumiu o compromisso de lhe escrever todos os dias e ...ele correspondia de igual modo. Teve azar o Miguel. Uma mina traiçoeira roubou-lhe uma perna. Os seus gritos de dor eram entremeados com gritos de desespero porque pensava que ela, a sua querida, não ia querer um manco como marido. Felizmente o drama acabou bem. Hoje são um casal feliz.

E, quantas vezes, o tempo que teimava em não passar, fazia arrefecer o calor desse amor jurado e selado com beijos de saudade. Namoradas que, cansadas de esperar, por quem nunca mais chegava, mandaram o parceiro dar uma volta ao bilhar grande, para desgosto e sofrimento deste. O contrário, creio bem, que também aconteceu.

Os que conseguiram vencer esta difícil etapa tiveram com certeza uma recompensa proveitosa.
As madrinhas de guerra e o seu excelente papel no apoio aos seus afilhados. Algumas, deixaram-se apanhar pelo “cupido” e transformaram-se com o andar dos tempos em namoradas e até esposas. Outras, assumiam o papel de madrinhas de guerra como uma missão humana quando não patriótica. Elas eram raparigas novas cheias de vida, quantas vezes com compromissos de namoro assumidos com outro, eram mulheres casadas e até velhinhas.

Recordo o caso da madrinha de guerra de proveta idade, já avó e viúva que decidiu entrar nesta roda. Deu o seu nome a uma revista fofoqueira da época e lá lhe apareceu um candidato. Ao fim de algum tempo o “atrevidote” pediu-lhe uma fotografia, que teimava em não chegar. Depois foi mais longe e pediu em namoro. Claro que recebeu uma carta da senhora a dizer que aceitava o seu pedido de namoro.

Aproveitou para lhe enviar uma fotografia pessoal e informou-o do seu estado civil. Calculem o estado de espírito com que ficou o nosso camarada.

Havia ainda os amigos e amigas, sem qualquer rótulo, que nos acompanharam com a sua palavra escrita, naquele tempo de sangue, suor e lágrimas.

Há dias em conversa com uma amiga e esposa de um camarada combatente na Guiné, ao tempo, estudante na ESBAP – Escola Superior de Belas Artes do Porto, hoje uma conceituada pintora da nossa praça, disse-me ela que, em determinado ano escolar, os rapazes da sua turma desapareceram. Apenas ficou um porque era deficiente motor. Os outros “voaram” todos para a Guerra Colonial. A turma ficou vazia. A colega e amiga, tomou a iniciativa de manter uma ligação de carinho e amizade com os desventurados estudantes que desde há vários anos eram os seus amigos do dia-a-dia, assumindo o compromisso de lhes escrever a contar as novidades da escola e da terra. A linguagem que utilizou foi a que eles como estudantes de Belas artes melhor entendiam. O desenho com arte e imaginação, como se pode ver nas imagens.

Um dos colegas com quem ela se correspondeu, muitos anos depois, recordou esta forma de estar e devolveu-lhe com carinho alguns dos belos desenhos que recebera na selva africana, que aqui se reproduzem.

Eu fui dos que tive a sorte de ter alguém que de vez em quando me presenteavam com notícias frescas do meu País. Muito lhes devo pela sua presença fraterna e amiga que de vez em quando, dava sinais de vida, a lembrar-me que eu não estava só. A sua forma de escrita era diferente. Liberta de sentimentos amorosos e preocupações, enviavam notícias, comentários, contos e ditos, enfim!
Transportavam-me de novo ao meu mundo.

Acabada a guerra. Regressado ao ninho de afectos. Abraços distribuídos. Algumas cenas do outro mundo, contada. E a vida recomeçou. Cada um de nós seguiu o seu caminho. A amizade e a gratidão, essas ficaram cá dentro de nós, estejam eles ou elas onde estiverem.

Nunca mais pensei nesses amigos e amigas como os tais que se preocuparam com o meu bem-estar durante a guerra. Apenas a amizade ficou mais solidificada.

José Teixeira





(Cortesia de uma amiga que, ao tempo da guerra colonial, era estudante de belas artes. JT)
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Nota do editor

Primeiros postes da série:

26 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14799: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (1): Carta aberta aos camaradas da Tabanca Grande: o que fiz (e não fiz) como cofundador e dirigente da associação APOIAR (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

sábado, 7 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14327: Notas de leitura (688): O livro de Sofia Branco, "As mulheres e a guerra colonial", apresentado em Lisboa, na A25A, em 4 de março (Parte I): o Movimento Nacional Feminino e o papel das madrinhas de guerra



Vídeo (4' 48'') >  You Tube > Luís Graça 

Mitó [, Maria Antónia Mendes], vocalista do grupo A Naifa, lê um excerto do livro, p. 50 e ss. (o Movimento Nacional Feminino e o papel das madrinhas de guerra). 





Lisboa, Associação 25 de Abril, 4 de março de 2015 > Sessão de lançamento do livro "As Mulheres e a Guerra Colonial"... Na mesa, da esquerda para a direita, (i) Mitó, vocalista de A Naifa; (ii) a escritora Dulce Maria Cardoso; (iii)  a autora, Sofia Branco;  e (iv) a representante da editora, A Esfera dos Livros.


1. Foi apresentado, no passado dia 4 de março, pelas 19h00, na Associação 25 de Abril,  sita na rua da Misericórdia, 95, Lisboa, o livro "As Mulheres e a Guerra Colonial", da autoria de Sofia Branco (Lisboa, A Esfera dos Livros, 2015, 375 pp.).

A mesa era composta só por mulheres: para além da autora (escritora e jornalista, presidente da direção do Sindicato de Jornalistas, natural da Póvoa do Varzim, nascida no pós-25 de abril),  estava a representante da editora (A Esfera do Livro, com sede em Lisboa), a apresentadora do livro, Ducle Maria Cardoso (n 1964, escritora, que viveu a sua infãncia em Angola), e ainda a Mitó, a  jovem e talentosa vocalista do grupo musical A Naifa.

A sala da A25A foi pequena para tanta gente, na sua maioria mulheres, Mas também alguns ex-combatentes, como era o caso do nosso editor Luís Graça ou de camaradas como o Manuel Joaquim ou o Carlos Matos Gomes (que escreveu um inspirado  prefácio para o livro, pp. 9-16, fazendo um paralelismo entre esta obra e o livro pioneiro de Maria Lamas, de 1948, "As Mulheres do Meu País"), e ainda o José Arruda (presidente da direção da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas).

Tive o prazer de conhecer pessoalmente a esposa do José Arruda. e ainda  o Ludgero Sequeira, ex-fur mil comando da 38ª CCmds (Guiné, 1972/74), e hoje professor universitário  reformado, e que já fez parte dos corpos sociais da ADFA, tendo sido ferido em Guidaje, em maio de 1973. Presente também, na assistência, a Teresa Almeida, membro da nossa Tabanca Grande, antiga bibliotecária da Liga dos Combatentes,  e que,  depois de ter enviuvado em meados de 2013, está a passar - segundo nos confidenciou - por um mau momento no seu local de trabalho, queixando-se de ser vítima de "bullying".



A Maria Alice Carneiro e a Deonilde de Jesus (, esposa do nosso camarada Manuel Joaquim),  são duas das 49 mulheres cujas histórias são contadas no livro de Sofia Branco.  Como escreve a autora, Sofia Branco, logo na introdução, "mães, irmãs, mulheres e namoradas, filhas, amigas, meras desconhecidas... sem combaterem nem pegarem em armas, as mulheres viveram a guerra colonial como se lá estivessem" (p. 21).

Diversas esposas de antigas combatentes que estiveram no TO da Guiné foram também entrevistadas pela Sofia Branco: cite-se, a título exemplificativo, Natércia Salgueiro Maia,  esposa do cap cav Salgueiro Maia, ou Madalena Mira Vaz, esposa do hoje cor paraquedista ref, e escritor, Nuno Mira Vaz, do BCP 12, ou ainda Dulcinea Cerqueira, esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira... Há também, pelo menos, duas antigas enfermeiras paraquedistas: Maria do Céu Policarpo e Maria Cristina Justina da Silva (Não sei se passaram pelo TO da Guiné)...

O livro está dividido em 12 capítulos, cada um tendo o título de uma canção da época da guerra colonial... É pena que não tenha um índice remissivo.  Comtinuaremos a falar deste livro que tem como subtítulo: "Mães, filhas, mulheres e namoradas: a retaguarda dos homens na frente de batalha".

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados

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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de março de  2015 > Guiné 63/74 - P14326: Notas de leitura (687): “O Legado de Nhô Filili”, por Luís Urgais, Oficina do Livro, 2012 (Mário Beja Santos)

domingo, 11 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13127: Homenagem póstuma, na sua terra natal, Areia Branca, Lourinhã, 11 de maio próximo, ao sold at cav José Henriques Mateus, da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no Rio Tompar, no decurso da op Pirilampo. Parte VIII: Como é que a funesta notícia chegou à família ?... Através do carteiro... (Jaime Bonifácio Marques ds Silva)


Últimos dados retirados dos cartazes elaborados pelo Jaime Bonifácio Marques da Silva e que vão estar hoje expostos no clube da Areia Branca, como parte da homenagem à memória do nosso camarada José Henriques da Silva (1944-1966). A iniciativa é de uma comissão local onde estão representados antigos e colegas de escola do Mateus.  (LG)


A notícia do desaparecimento do soldado n.º 711/65 José Henriques Mateus 



1.1. O DEPÓSITO GERAL DE ADIDOS CENTRALIZAVA A INFORMAÇÃO



Os Serviços da República Portuguesa, através das Forças Armadas, tinham um Serviço especializado para este efeito. A primeira comunicação da morte ou acidente de um militar ocorrida durante a sua Comissão no Ultramar era da responsabilidade do Comandante da Unidade a que pertencia o Militar em questão. Este, via rádio, comunicava as circunstâncias da ocorrência ao superior hierárquico que, por sua vez, encaminhava o “assunto” para o departamento responsável, o DEPÓSITO GERAL DE ADIDOS.

A partir desse momento todas as formalidades eram da sua competência:

 i) informar todos os departamentos governamentais e das Forças Armadas com responsabilidades na condução da GuerraM;
ii) enviar um “telegrama à família”, via CTT a dar a notícia (nunca as Forças Armadas de Portugal enfrentaram diretamente as famílias para lhes darem essa notícia, escudaram-se nos carteiros, mas isso é outra história!...);

iii) realizar o funeral na respetiva Província onde ocorreu o acidente (por vezes, sobretudo no início da Guerra, os miliares eram sepultados nos cemitérios locais);

iii) trasladar o caixão chumbado com o corpo do Militar para Portugal e realizar o funeral no cemitério da sua freguesia (até 1968 as famílias dos militares tinham que pagar ao Estado as despesas com o transporte do caixão);

iv) tratar de enviar à família a mala com o seu espólio (quase sempre, era o melhor amigo que realizava esta “operação”);

 e, v) tratar da documentação a enviar à família para que esta pudesse receber a “pensão de sangue”, quando tinha direito (nem todas as famílias, apesar da morte dos filhos no Ultramar, tiveram direito a essa “pensão).”


1.2. O CASO CONCRETO DO SOLDADO N.º 711/65, MATEUS - S.P.M. 3008:

Oficialmente a notícia do desaparecimento do soldado José Henriques Mateus seguiu a rotina habitual:

1 - O Comandante da Companhia enviou para o Comandante de Batalhão a notícia do desaparecimento do Mateus e este fez seguir a informação para o Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG) que se limitou a enviar, via rádio, a informação para o DEPÓSITO GERAL DE ADIDOS, sediado em Lisboa.

A partir daqui os militares da Secretaria adstrita ao Comando do DEPÓSITO GERAL DE ADIDOS, na altura chefiada pelo Coronel de Infantaria Amândio Ferreira, põe em marcha um conjunto de procedimentos de rotina:

1.º Através do Ofício N.º 1893/B - P.º 183 e datado de Lisboa 14 de setembro de 1966 informa:

i) Chefe da 1.ª Seção da Rep. do Gabinete do Ministro do Exército;

ii) Chefe da Rep Geral DSP/ME;

iii) Chefe do Serv. Inf. Pública das Forças Armadas do Dep. Da Defesa Nacional;

iv) Chefe do Estado Maior do QG/GML

v) Chefe da Repartição de Sargentos e Praças DSP/ME

vi) Chefe da Agência Militar

vii) Comandante do R.C.7 (Leiria)


2.º  Depois, dá conhecimento, a partir de Lisboa, ao Chefe de Estado Maior do Quartel General do CTI da Guiné que informou aquelas entidades oficiais do teor do seguinte rádio:


ASSUNTO: DESAPARECIMENTO DE PRAÇA NO ULTRAMAR

“Para os devidos efeitos, transcrevo a V. Exa. o rádio N.º 1859/A de 12.9.66 do CTI da Guiné, que é do teor seguinte:

“DESAPARECIDO OPERAÇÕES 10.19.00SET66 JOSÉ HENRIQUES MATEUS SOLDADO 6951665 CCAV 1484/RC 7 NATURAL FREGUESIA CONCELHO LOURINHà FILHO JOAQUIM MATEUS JÚNIOR E ROSA MARIA RESIDENTE LUGAR DA AREIA BRANCA CONCELHO LOURINHÔ.

Informo V.Exa. que foi enviado telegrama à família do desaparecido comunicando a ocorrência”.

O comandante
Amândio Ferreira
Coronel de Infantaria

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AEROGRAMA DA MADRINHA DE GUERRA ESCRITO SEIS DIAS DEPOIS DO SEU DESAPARECIMENTO


No seu espólio encontrei, também, um documento comovente:  um Aerograma escrito pela sua madrinha de guerra,  em 16 de setembro de 1966, seis dias depois da sua morte. Nele, ela pede que o Mateus ou a algum colega que venha a lê-lo lhe conte o que se passou.

“ (…). Sou a madrinha de guerra do soldado José Henriques Mateus n.º 711/65. Se for ele próprio quem receba este aerograma peço-lhe o favor de me comunicar rapidamente, assim que o receber. Depois lhe explicarei a razão deste aerograma. Mas, desde já digo que o que procuro é uma prova importante, mas se isso não acontecer e que algum colega o abra,  peço também que me responda a este, contando-me o que se passou com ele” (…)

Nota: Deduzimos que o alarme ou a notícia do seu desaparecimento já seria do conhecimento da família e amigos, no entanto, deviam existir, ainda, muitas dúvidas e esperanças quanto ao trágico acidente. 



Observações finais:

i) Pesquisa, organização e texto - Jaime Bonifácio Marques da Silva [, natural de Seixal, Lourinhã, colega de escola do Mateus, vive em Fafe, onde foi professor de educação física e autarca (com o pelouro da cultura, e onde é mais conhecido como Jaime Silva), ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), membro da nossa Tabanca Grande; foto atual à esquerda]

ii) Montagem e grafismo dos cartazes – Berci [Fafe]

iii) Fontes consultadas:

a) Arquivo Geral do Exército

b) Espólio do soldado José Henriques Mateus, por cortesia do irmão Abel Mateus.

iv) Contributos:

a) Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

b) Ex- furriel Estêvão Alexandre Henriques, Ex-Marinheiro Arménio Pereira, Ex- Soldados José Rufino e Manuel Patrício

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Nota do editor:

sábado, 26 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13047: 10º aniversário do nosso blogue (22): Mensagens de parabéns (Parte I): Virgílio Valente (Macau, China), Albano Costa (Guifões, Matosinhos), Joaquim Luís Fernandes (Maceira, Leiria) e Felismina Costa (Agualva, Sintra)

1. Seleção de mensagens enviadas para a caixa do correio da Tabanca Grande ou comentários a postes anteriores (*):

(i) Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], Macau [ ex- alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74.] [, foto atual à esquerda]

Parabéns à Tabanca Grande pelo 10.º Aniversário.

Parabéns também aos seus mentores e um grande abraço pelo trabalho que vêm fazendo.

É de facto uma Tabanca Grande onde cabem todos os que vêm por bem.

Diariamente acedo ao blogue e diariamente me culpo por ainda não ter contribuído com algo.

Mas tudo virá a seu tempo.

Daqui, de Macau, do longe Oriente, vai um abraço muito especial, neste 10.º Aniversário da Tabanca Grande, para todos os que diariamente constroem e mantém vivo este ponto de encontro.

Para todos os que passaram, viveram e sentiram a Guiné-Bissau um grande abraço.

Para os camaradas da minha CCaç 4142, que estiveram em Gampará, de 1972 a 1974, que lá viveram o 25 de Abril e o primeiro 1.º de Maio, que lá tiveram os primeiros encontros, em paz, com os camaradas do PAIGC e para aqueles que sendo da Guiné se lembram ou estiveram também nesses momentos, um grande Abraço.

Força, ainda há muito para escrever nesse blogue.

Obrigado Luís Graça e restantes Camaradas.
Virgílio Valente
Macau, China.

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(ii) Albano Costa [ ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74] [., foto à direita  no nosso II Encontro Nacional, Pombal, 2007]

Caros amigos

Não queria deixar passar este dia sem vos agradecer a todos o prazer que me têm dado de vos acompanhar ao longo destes anos todos.

Parece fácil mas não o é, só com pessoas empenhadas como todos os que fazem mover este blogue, desde já os meus agradecimentos, e que Deus vos dê saúde e paciência para continuarem nesta luta que tem feito muitos bem aos ex-combatentes, que os aproximou e fez com que nós todos tenhamos sacudido o pó e que ainda possamos continuar a fazer despertar as nossas mentes para mais estórias.

Um bem haja para todos,
Albano Costa

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(iii) Joaquim Luís Fernandes, Maceira, Leiria [ex-alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974] [, foto à direita]

Caro Luis Graça, Caros Camarigos

24 de abril de 2014; De manhã visitei o blogue e deparei-me com este Post 13030. Apressado li o poema (que já tinha lido noutro post) "Hoje tenho pena de nunca ter escrito a uma madrinha de guerra". Então, senti um tremor e comovi-me até às lágrimas. Senti o impulso de logo comentar e enviar o meu abraço fraterno e os parabéns ao Luís, mas as obrigações profissionais exigiam de mim que saísse do blogue e adiasse o comentário, como tantas vezes acontece.

Foi um dia intenso, exigente. A minha sensibilidade esteve à flor da pele, pelo poema, pelo que me fez sentir, pelo dia em que estava, no muito que me recordava e me fazia reviver em fortes emoções.

Agora já é dia 25, 40 anos depois desse outro dia 25 de abril que me apanhou na Guiné. Apetecia-me escrever muito, exteriorizar os meus sentimentos, registar os meus pensamentos e reflexões sobre esta data e o que ela encerra e me diz, neste confronto de esperanças e desilusões, de interrogações e conclusões, mas não é este o lugar apropriado e também já estou cansado, pelo que vou ser breve.

Quero dizer-te Luís, que gostei muito deste teu poema, em que dizes tanto, naquilo que sentes e expressas e de que comungo. Nesta confissão, vejo a grandeza da tua alma e o teu grande talento. Mas permite-me que te diga: Não tenhas medo do Sagrado. Ele está perto de ti. Ele está em ti e nada te rouba, apenas te engrandece e te devolve em ti, a plenitude do teu Ser.

Postal de aniversário. Autor: Miguel Pessoa
Eu também nunca tive uma madrinha de guerra, mas tinha uma namorada/noiva/mulher. Tinha deixado também a rezar por mim, mãe, pai, futura sogra, irmãs, irmãos. Escrevi e recebi centenas de cartas e aerogramas. Eles foram para mim um bálsamo. Ler e escrever era o meu momento de encontro comigo próprio, livrando-me da alienação da guerra. Momento de interiorização e de equilíbrio emocional.

Por fim quero manifestar mais uma vez o meu apreço pelo Blogue. Endereçar-te os parabéns pelo seu 10º aniversário, que torno extensivos aos camaradas co-editores a a todos os camarigos de tertúlia. Peço compreensão pela minha parca participação. Quando tiver mais tempo disponível, escreverei mais. Há muitas reflexões e vivências que gostaria de partilhar e perguntas a fazer. Há enormes hiatos na minha compreensão do que foi aquela guerra, que gostaria de esclarecer. Haja tempo para isso.

E por aqui me fico por hoje.

Um forte abraço
JLFernandes

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(iv) Da nossa amiga tertuliana Felismina Costa de Agualva, Sintra

Ao seu criador Luís Graça,
Aos Editores Carlos Vinhal e Eduardo Magalhães Ribeiro, e à tertúlia em geral.

É com muita amizade que saúdo o Décimo Aniversário da existência deste Blogue, seu criador e editores, e bem assim quantos que, com o seu testemunho, fazem com que o propósito da sua criação tenha atingido um nível tão alto e tão diverso, tal como foram as vivências aqui relatadas, suas ideias, suas convicções, suas dores, mágoas e alegrias...

Ele, é a página que relata, treze anos de vida da Juventude Portuguesa, perdida numa luta sem sentido, por terras da Guiné entre 1961/1974, e onde os participantes sobreviventes dão testemunho da sua experiência, do seu crescimento e amadurecimento, e o palco do reencontro de velhos camaradas e amigos!

Ele, o Blogue, reuniu uma grande família, que cresceu e se multiplicou nos anos de ausência, na análise do passado, do vivido e aprendido, nos valores da fraternidade que toda a vivência produz!

Aqui, eu mesma, reencontro o tempo, a ligação ao passado, a amizade coexistente num tempo em que também fui "espectadora" ausente e preocupada. Com ele, julgo, também tenho crescido um pouco na compreensão do tema uno.

Ganhei amigos que fazem parte do meu presente, que preenchem as minhas horas, que são tema das minhas referências, com quem partilho vivências, ideias, alegrias e tristezas, pois que é de tudo isso que a vida se faz!

Felicito o tempo de vida desta Página, a Grande Obra, onde se regista muito do vivido "Naquele Tempo"! 

Felicito o seu Criador na Pessoa do Dr. Luís Graça.

Felicito os seus editores, nas Pessoas de Carlos Vinhal e Eduardo Magalhães Ribeiro.

Todos os seus Colaboradores, todos os que participam com o testemunho da sua vivência e da sua amizade e suas respectivas famílias. Eu, sou-vos devedora, da vossa amizade e do orgulho que sinto por tudo o que atrás refiro.

Desejo a continuação deste Diário, desta Obra-Prima de Organização e testemunho, por muitos anos, que é o relato em primeira mão de uma grande página da História dos Povos.

Bem-hajam Amigos! Obrigada!
Felismina Mealha

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13030: 10º aniversário do nosso blogue (21): Obrigado, amigos e camaradas, pelos parabéns, que vão direitinhos a todos aqueles que alimenta(ra)m este projeto... E já agora, façam a vossa "prova de vida", façam o "teste do pezinho" (... Era o que fazíamos, lá naquela terra verde e rubra, todos os dias ao acordar, verificando se o polegar do pé direito mexia, antes de nos levantar da cama)

1. Comentário do fundador e editor do 
blogue Luís Graça, em nome dos demais editores e colaboradores permanentes:


Obrigado pelos  parabéns de aniversário, recebidos durante o dia de ontem, mas que não devem vir para mim. Eles vão direitinhos a todos nós que alimentaram (e alimentam) este projeto, desde o dia 23 de abril de 2004...

Eu limitei-me a "emprestar" o então "blogueforanada" (, que raio de nome!), o blogue " onde escrevia as minhas "blogarias" (que nada tinham a ver com a Guiné) desde outubro de 2003...

O primeiro escrito sobre a Guiné ou relacionado com a guerra, foi justamente em 23/4/2004... (vd. a seguir).

Tertúlia, hoje Tabanca Grande: um  ribeiro que deu origem a um rio, que por sua vez teve (e tem ) muitos afluentes... E que queremos seja cada vez mais "caudaloso"...

Somos 654 ? Sim, entre camaradas e amigos da Guiné. Infelizmente 5% já morreram, mas ocupam um espaço muito especial, na nossa memória, no nosso blogue, no "talhão" dos que da lei da morte já se libertaram...

Sem contar as muitas centenas, se não milhares, que já por aqui passaram, sem, por uma razão ou outra, terem querido ou podido formalizar a sua adesão à Tabanca Grande: 2 fotos + 1 história ou simples apresentação e aceitação das nossas regras de convívio, que são basicamente as da camaradagem, da verdade, da partilha, da tolerância e do respeito mútuo...

654 não são muitos em 10 anos, são 65 por ano, em média... Mas pelo TO da Guiné, desde 1961 até 1974 passaram mil unidades e subunidades... Ora, nem todas elas estão ainda devidamente representadas no nosso blogue...

10 anos a blogar sigbnifica mais de 13 mil postes, ou seja, em média 1300 por ano, 4 por dia... Mais de 50 mil comentários, cinco mil por ano, cerca de 14 por dia...

8 convívios anuais, sendo o próximo, o 9º  já com data marcada: será realizado em Monte Real,  como de costume,  no Monte Real Palace Hotel, no dia 14 de junho próximo, sábado... (Aperitivos, almoço e lanche ajantarado: 30 morteiradas; facilidades de alojamento no hotel, para quem quiser vir de véspera ou ficar no fim de semana).

1 Tabanca Grande com "delegações" em vários sítios, dentro e até fora do país, uma pelo menos, a da Lapónia, mesmo que seja uma tabanca de um tabanqueiro só...

Amigos e camaradas, associem-se à nossa festa, e sobretudo aproveitem para fazer a "prova de vida", sob a forma do "teste do pezinho"... Escrevam-nos,. por estes dias,  a dizer que estão vivos e, mais ou menos, de boa saúde...

"Teste do pezinho"? Era o que fazíamos na Guiné, todos os dias ao acordar: verificar se o polegar do pé direito mexia, antes de levantar da cama...

Um bom dia  para todos/as.

Luís Graça





Primeiro poste do blogue Luís Graça  Camaradas da Guiné: 23 de abril de 2004 > Guiné 69/71 - I: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra... Acabou por ser transformado em poema que inclui numa antologia poética, a publicar, espero, ainda este ano... (LG)



2. Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma a uma madrinha de guerra

por Luís Graça

Com o atraso de décadas, 

quiçá de séculos,
presto hoje o meu preito
às mulheres do meu país
 que se vestiam de luto
enquanto os maridos ou noivos 
ou namorados ou irmãos
ou simplesmente amigos
andavam na guerra do ultramar.
(Ou guerra colonial, como se queira).
Já foi há tanto tempo 
que eu perdi as contas aos contos,
às estórias, 

às vidas, 
às lendas, 
às narrativas.

Venço, por fim, a minha relutância, 

o meu preconceito, 
o meu medo do irracional
e porventura o meu medo visceral do sagrado,
e presto a minha homenagem
às mulheres 

que rastejavam no chão de Fátima,
implorando à Virgem o regresso dos seus filhos,
sãos e salvos.
Só as mulheres, em bando, são capazes
de implorar a piedade dos deuses
e ao mesmo aplacar a sua ira,
para logo a seguir imprecar contra eles,
se for caso disso.

Decididamente, 
sem pejo nem pudor,
presto a minha homenagem
às mulheres que continuavam,
silenciosas e inquietas, 

ao lado dos homens
nos campos, nas fábricas e nos escritórios.
Por que havia um silêncio 

que não era cumplicidade,
que não era traição,
que era inquietação,
que não era claudicação,
que era a raiva a crescer dentro do peito,
que era porventura já
a emergência, a explosão da revolta e da liberdade.

Descubro a cabeça, 
tiro o chapéu, 
ajoelho-me,
perante estas mulheres do meu país
que ficavam em casa, 
rezando o terço à noite,
como a minha mãe e as minhas manas 
e até o meu pai,
a quem, de resto, nunca agradeci este gesto de amor.
Nem em público nem em privado.
Nunca saberia, porventura, merecê-lo
nem muito menos agradecê-lo.

Mas também endosso
as minhas palavras de admiração
às que aguardavam com angústia,
pelo aerograma, 
na hora matinal (e às vezes mortal)
do correio, vindo do SPM número tal.
Sem esquecer as que, muito poucas,
subscreviam abaixo-assinados
contra a guerra
(era proibido dizer colonial).
Às que, muito poucas, escreviam, 
liam,
tiravam a stencil 
e distribuíam
comunicados e folhetos clandestinos.

Às que, também raras, 
sintonizavam altas horas da madrugada
as vozes da rádio 
que vinham de longe
e que falavam de resistência
em tempo de solidão e de servidão.

Homenageio, sim, àquelas 
que, muitas, tiravam carinhosamente
do fumeiro (e da barriga) 

as chouriças e os salpicões
e os nacos de presunto, 
e até as morcelas e as alheiras
que iriam levar até junto dos seus filhos,
homens-toupeiras, 
no outro lado do mundo,
no calor dos trópicos
e na humidade dos abrigos,
um pouco do amor de mãe, 
das saudades da terra,
dos cheiros da casa e dos animais,
dos sabores da comida, 
e da alegria da festa.

Mas também, e porque não,
às, muitas, e em geral adolescentes, virgens,
e às jovens solteiras, namoradeiras,
que se correspondiam com os soldados
mobilizados para o ultramar,
na qualidade de madrinhas de guerra.

Não tive, nunca quis ter, 

madrinha de guerra,
por preconceito, 
por orgulho e preconceito,
por achar que era uma instituição ou criação
do Estado Novo,
dos senhores da guerra,
e das senhoras que os geravam…

Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma
a uma madrinha de guerra.

Lisboa, 23/4/2004

Revisto, 23/4/2014
__________________

Nota do editor:

Último poste da série > 23 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13028: 10º aniversário do nosso blogue (20): Um corredor de paz, a estrada (alfaltada) Bambadinca-Bafatá, onde o PAIGC nunca conseguiu penetrar... pelo menos no período de 1969/71 (fotos de Benjamim Durães, a quem mandamos um alfabravo fraterno e solidário num momento difícil para ele, como pai e avô)

sábado, 25 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12632: O segredo de... (16): Ricardo Almeida (ex-1.º cabo, CCAÇ 2548 / BCAÇ 2879, Farim, K3 / Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71): Como arranjei uma madrinha de guerra, como lhe ganhei afeição e amor, e como por causa da minha terrível doença fui obrigado a tomar uma dramática de decisão de ruptura... A carta de amor pungente que ela me escreveu, em resposta...

1. Mensagem, com data de 12 do corrente, do nosso camarada Ricardo Almeida [, ex-1.ºcabo, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, K3 / Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71]


Boa tarde,   Luís,   com um abraço.

Dando seguimento à solicitação de segredos guardados enquanto combatentes... Com alguma relutância, amargura e muita tristeza que me vai consumindo a alma, divulgo como o destino se encarregou de torturar-me, enquanto tiver vida para recordar.

Esta recordação que nunca apago da mente nem do coração, reporta-se a uma madrinha de guerra à qual devo gratidão eterna pelo apoio moral e psicológico que me deu enquanto combatente, doente com uma moléstia terrível, redundando isto num amor fraterno, solidário e muito apego à vida que ela me transmitia tanto nas cartas que me escrevia, como depois pessoalmente, como quando trocámos promessas de vida em comum e casamento, testemunhado no interior duma capela pelo santo que lá existia e que parecia concordar com a nossa decisão. 

Hoje vou-lhe pedindo perdão no silêncio dos meus silêncios, pela atitude que tomei, enquanto ela espera por mim,  cumprindo a promessa de nunca ter a seu lado outro amor na sua vida. Hoje, ao refletir na minha atitude, só encontro uma explicação: a moléstia de que eu padecia e os médicos dizerem-me que era muito grave, levaram-me assim a proceder. O meu raciocínio parava no tempo,  os pensamentos atropelavam-se,  levando-me muitas vezes a devaneios e loucuras.

Como poderia eu cumprir a promessa se não tinha a certeza se ficaria bom e capaz de constituir família, submeter-me a internamentos e não ter meios para angariar subsistência familiar? Por isso tomei aquela atitude da qual ainda não saí nem voltarei a sair enquanto respirar. Então surge no meu cérebro o clique do rompimento,  dando-lhe a primeira sapatada tão violenta e demolidora que até eu chorei ao reler o que lhe escrevi. 

Toda a história tem um princípio e um fim e a minha não é diferente: sou do [BCAÇ] 2879 e da [CCAÇ] 2548 sediado em Farim,  sendo que a dita companhia subdividia-se em pelotões que, por sua vez,  eram colocados em vários sectores,  sendo o meu, o  terceiro [pelotão],  colocado no K3. Certo dia ao regressar duma patrulha tive a ideia de escrever vários aerogramas, com os seguintes dizeres: 

( Ao carteiro da terra tal:) À  primeira moça que encontrar o desconhecido; levando como remetente, um coração triste no mato o desiludido. 

Dos ditos [aerogramas] só um foi respondido. Vejamos o que dizia:

(...) Foi-me entregue no dia 22/10 de 69 um aerograma que li com atenção e regozijo-me ser sua madrinha de guerra apesar de saber que não me era dirigido. Mas, no entanto,  se deseja uma madrinha e não se importa em ser eu, responda-me de novo. (...)

Então a esse aerograma sucederam-se mais, dando origem a que ganhasse afeição e  amor a essa jovem. Já no HMDIC [ Hospital Militar de Doenças Infecto Contagiosas, ou Hospital Militar de Belém] ]e com as hemoptises [, expectorações de sangue,]  por companhia,  tentei escrever-lhe para dar-lhe a notícia que me encontrava em Lisboa mas fui aconselhado a não fazê-lo,  devido ao meu estado debilitado e agora alguns aerogramas eram-me remetidos pelo SPM 6118. 

Até que, debaixo do meu estado febril, consegui articular algumas palavras ao soldado ali de serviço, o que ele acedeu de bom grado. A partir daí desenrolam-se as viagens e consequentemente as visitas quase diárias. Perdura na minha mente, na primeira ou segunda visita, ter uma hemoptise tão violenta que o sangue espirrou sem o poder conter e ela, com a mão na minha cabeça, dando-me alento e coragem para não desanimar,  que tudo se comporia.

Foi debaixo deste sentimento que tomei a decisão de tudo acabar ali,   deixando-a livre para governar a sua vida,  uma vez que era jovem e poderia arranjar um companheiro que lhe desse alguma segurança pela vida fora. Tal não veio a acontecer, conforme o acima relatado. Então,  já me podendo soerguer na cama,  escrevo-lhe a célebre carta:

(...) Hoje desprezo-me a mim próprio por tê-la conhecido e deixar que as coisas tomassem o nefasto rumo.  (...) 

só peço que ao receberes
esta carta afinal
tenhas o que mereceres
pois não te desejo mal.
Peço-te unicamente
que me dês o que é meu
por eu não ser coerente,
sofres tu e sofro eu.
Não sei se isso para ti
ainda tem significado,
creio que já sugeri
que tudo isso é passado.
Da minha parte acabei,
não voltes a pedir-me amor
pois de ti já nada sei,
já não alimento essa dor.
Eu não queria conhecer-te
na menina que amei.
pois já não quero rever-te,
reconheço que me enganei.
Peço desculpa se ofendo
mas não é minha intenção
porque eu isto revendo
só torturo o coração.
Já sofri muito, o bastante,
quando deixei de te amar.
hoje sou homem constante,
já nem quero recordar.
De certo vais estranhar
esta carta assim escrita,
pois não é para admirar,
meu coração já não grita.
Jurei à vida indiscreta
por ti, por mim e por mais
que esta coisa é certa,
de nos vermos nunca mais!
Se hoje estás arrependida,
tu mesma foste a culpada
por não saberes que a vida
só por si é já amada.
Agora para terminar
peço-te um grande favor,
esquece que está a acabar
o nosso sedento amor.
Vou terminando a final,
esperando que me escrevas,
pois não te levo a mal
o que digas ou o que pensas.

Interpretando a carta à sua maneira, a resposta [dela]  era a seguinte:

(...) Meu amor,  desejo em primeiro a tua saúde. Rik, recebi onde vi tudo quanto me dizias. Então estás assim tão desanimado! Nem tens mais confiança em minhas orações, porquê,  Rik? Se eu te amava agora mais do que nunca te amo,  com mais fervor, visto que sofres tanto. Não me interessa; não me importo esperar por ti dois ou três anos , quero casar contigo mesmo assim; nada me importa do que digam ou do que possam dizer; mais uma vez te digo que não quero perder-te por nada, não te quero trocar por ninguém. Quando comecei a namorar-te,  portanto quando te aceitei namoro, já te encontravas no hospital, já te encontravas também doente; por isso, tentei sempre dar-te coragem, calma e continuo a fazê-lo,  meu amor. Fizeste-me chorar amargamente como nunca tinha chorado em toda a minha vida e continuo a fazê-lo. Cada vez que penso no que me dizias na tua carta e quereres dar fim a tudo...

Mas eu ainda não o fiz, ainda não pus fim nem vou fazê-lo a tudo isto, ao nosso amor. Deixares-me assim sem quê nem para quê, que tristeza; nunca supus isso de ti.

Rik se me abandonas assim desta maneira, eu dou cabo de mim! Porei fim á minha vida ou adoecerei, quem sabe? Não quero mais homem nenhum; amo-te e amar-te-ei até ao fim da minha vida; até à hora da minha morte que talvez seja mais rápido do que todos pensam.

Eu que só quero a felicidade de todos e ela, para mim,  não vêm; ela não quer nada comigo. Não me queres amar mais ou então nunca me amaste; terás outro alguém que tirou o meu lugar no teu coração? Preferia que me dissesses se é isso que aconteceu! Mas se não aconteceu e se é por estares doente, acredita em mim esperarei por ti o tempo que for necessário. Quero-te tal qual como és; sabes que o amor não escolha a saúde ou a doença; o amor é uma coisa tão forte que não olha a nada disso; amo-te e é tudo.

Ricardo,  amar-te-ei sempre...

Se eu era incansável a pedir a Deus por ti, hoje mais do que nunca o faço porque sei como te encontras. Mas hás-de curar-te felizmente. Há tantos assim! Ou não é verdade? Muitos ainda em pior estado que tu! Não desanimes e pede a Deus por ti e por mim. Ele nos há-de ajudar, Ele te há-de curar, Ele é bom e nunca nos abandona,  pelo contrário, nós é que o abandonámos,  nos. esquecemos Dele. Vamos então orar-Lhe por ti, não queiras sofrer mais nem fazeres-me sofrer assim. O amor,  a Paz,  é tudo tão lindo! Mas eu quero sofrer também contigo.

Oh se eu pudesse dar a vida pela tua saúde, acredita que o faria; porque sabia que iria dar saúde àquele que tanto amo e que só ele para mim existe. Disse-te mais que uma vez que se algum dia me deixasses que não queria mais homem algum e continuo a dizê-lo constantemente até quando Deus quiser.
Quero sofrer neste mundo e alcançar a vida eterna; ir para junto dos seus anjos.

Teus pais, teus irmãos e o resto da tua família sabem de tudo isto? Da tua doença e da tua conduta para comigo? E que me queres deixar assim tão repentinamente? Diz-me; escreve-me sempre nem que sejam só como amigos.

Mas tu para mim és o meu primeiro amor e continuarás a sê-lo,  o meu único amor,  quero saber sempre noticias tuas. Agora uma coisa que te peço,  que te suplico-te, Rricardo: nunca me amaste, pois não? Eu não era a mulher que tu supunhas encontrar? uma moça simples,  simples de mais. Se não me amavas porque não me disseste logo? Então porque me beijaste? Preferia que isso nunca tivesse acontecido. Mas eu pressentia o que me poderia acontecer; lembras-te quando te disse que não devias beijar-me! Então porque quiseste saber tudo à cerca de mim e da minha família? Agora sei que quiseste fazê-lo para saberes como eram!

Disse-te tantas vezes que o amor está acima de tudo isto. Achas que procedes bem com essa tua atitude? E porque não me achas mais a mulher escolhida por Deus e por o destino? Só eu estou no mundo para receber tudo isto mas, apesar de tudo,  continuo a amar-te e amar-te-ei sempre. Quem sabe se até com isto tudo e de tanto pensar, eu irei também para junto de ti? Doente, sim; não achas que é caso para isso? Tu, se continuasses a amar-me,  pensas que me interessava se as tuas melhoras fossem a pior? Que me importava que dissessem que eu amava um homem morto,  como tu lhe chamas? Não, Ricardo, nunca teria boca para renunciar ao amor dum homem que lutou por mim, pela Pátria, por nós todos. Quero ver-te curado, quero ver-te feliz porque tu merece-lo ser. Se é que não me enganaste,  claro! Mas nunca supus isso de ti. Dizias que nunca esquecerias a minha amizade mas esqueceste o meu amor,  a coisa mais valiosa que te dei. Esqueceste tudo isso; mas pronto, faz o que quiseres.

Mas fica sabendo que nunca deixarei de te amar. Cada vez que penso nisto nem sei para o que me dá... Tirar-me já do mundo mas isso era um pecado que Deus não me perdoaria, por isso estarei aí chorando horas esquecidas, e prostrada de joelhos toda a noite, velando pela tua saúde e pelo teu bem estar nesse hospital. Não sou assim tão má e dura como pensas porque, como sabes, Deus perdoou a quem o matou,  Ricardo. Porque não fazemos o mesmo?

Perguntas-me se quero as minhas fotografias, então é porque já estás cansado de vê-las. Ou não as podes ter contigo? Oferecidas com o pensamento em ti,  ao homem que veio despertar meu coração para o amor e, agora, o deixa ou deixou tão triste, tão escuro e tão magoado. Mas, enfim, vocês,  homens, não pensam, não sabem, o quanto isto custa sofrer por amor e morrer.

Jesus morreu pelo amor dos homens, pelos nossos pecados e eu morrerei de amor por aquele que ia considerar meu marido.

Por hoje está tudo e peço-te, chorando,  que me dês sempre noticias, quer onde te encontres e como te encontres. Envio um beijo ao homem da minha vida. Mais uma vez te peço que me dês sempre notícias, sejam elas quais forem,  e estás perdoado por tudo. Chorando loucamente por quem não me ama mais ou nunca me amou,  te digo,  por último, que sempre detestei a mentira,  disse-to tantas vezes! Perdoa,  se estou a ofender-te.

Com o coração destroçado termino.
Para a eternidade. (...)
______________

Nota do editor:

Último poste da série > 23 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12627: O segredo de... (15): Processo concluído (Augusto Silva Santos)

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11548: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (8): K3, Madrinha de guerra

1. Mais um poema enviado em 9 de março último pelo Ricardo Almeida [, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, K3 / Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71]


Madrinha de guerra, K3

Epalhas amor a granel,
Minha amiga Isabel, 
Sem nada pedires em troca...
Porque a mim também me toca
Por ser um dos bafejados 
Desse amor tão verdadeiro
Que enaltece teus predicados,
E, por mim, sempre lembrados!

Desse ser tão altaneiro,
E estares em lugar cimeiro
No coração de quem tocas, 
Não de palavras, mas de carinho,
Terás sempre o teu cantinho
Na outra parte de mim!


Como a flor de jasmim
Que cativa pelo seu cheiro,
Minha amiga Isabel, 
Espalhas amor a granel,
Sem nada pedires em troca.
 

Ricardo Almeida

CCAÇ 2548/ BCAÇ 2879
Farim, K3 / Saliquinhedim, 

Cuntima e Jumbembem, 1969/71

[Fixação de texto: L.G.]

______________


Nota do editor:

Último poste da série > 15 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11394: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (7): Hotel Santa Maria, servindo de Hospital militar, no Caramulo

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10763: As mulheres que, afinal, foram à guerra (19): O que fazer com a nossa correspondência, estimada em mais de 300 milhões de aerogramas e cartas, enviados e recebidos ao longo da guerra do ultramar ? (Manuel Joaquim / Luís Graça / Alice Carneiro)

1.  Tive ontem a felicidade de receber a seguinte mensagem do nosso amigo e camarada Manuel Joaquim, um dos mais generosos dos nossos grã-tabanqueiros, além de mestre-escola:

Meus queridos amigos, esforçados editores:

Hoje venho com uma ideia que se calhar "é de jerico", como dizem na minha terra. Como estou a fixar, em letra de forma, a minha correspondência de guerra,  lembrei-me de vos questionar sobre o interesse da sua publicação no blogue. 

Sinceramente, para além de mim e dos meus familiares mais queridos, não sei se terá qualquer outro valor para alguém. Creio que alguma da chamada correspondência de guerra, não a minha, poderá ter (tem) algum valor atualmente, mesmo já valor histórico. Tenho a certeza que toda a correspondência de guerra que "sobreviva" terá cada vez mais interesse e valor com o decorrer do tempo, sejam quais forem os temas que incorpore, dos mais simples da vivência diária dos combatentes aos mais "arrebitados" discursos de cariz sociológico e/ou político, tenham muita ou pouca, alguma ou nenhuma qualidade literária,  pois o seu valor não virá da qualidade da escrita mas do seu conteúdo que terá sempre valor histórico mesmo quando se limite a contar o que se comeu (ou não) no dia a dia ou num certo dia.

Anexo as minhas primeiras seis cartas, três minhas e três da namorada que foi depois (e é) minha esposa. Esta deu-me a devida autorização, só me pedindo que o seu nome não ficasse "escarrapachado" no texto. Assim o fiz, também com o meu nome, ficando só as iniciais dos nomes próprios usados.

A publicação destas cartas no blogue é, para mim, coisa secundária. Se acharem interessante, aqui estão.

Um grande abraço para todos, e cada um, cá do Manel





O primeiro poste da I Série do nosso blogue... 23 de abril de 2004... Dedicado à nossa correspondência de guerra. Na época devo ter inflacionado o volume da correspondência: (...) "Em treze anos de guerra, cerca de um milhão de soldados terá escrito mais de 500 milhões de cartas e aerogramas. E recebido outros tantos" (...).

O mais realista é apontar para um total  entre 250 e 300 milhões de cartas e aerogramas, enviados e recebidos. O número de soldados metropolitanos mobilizados paras as 3 frentes (Angola, Guiné, Moçambique) será da ordem dos 800 mil, a que se deverão somar mais 200 mil soldados do recrutamento local. É de admitir que estes escreveriam muito menos, até por que a grande maioria (nomeadamente na Guiné) não sabia ler nem escrever português.

O número de aerogramas disponibilizado anualmente pelo Movimento Nacional Feminino ultrapassava os 30 milhões (32 milhões em 1974, de acordo com o orçamento ordinário previsional do MNF). Admite-se que muitos (talvez um terço) fosse inutilizado, servindo de papel de rascunho... Em 13 anos de guerra, possivelmente a TAP ( e os TAM) deverá ter transportado de (e para) o ultramar, qualquer coisa como 200  milhões de aerogramas, a que  se poderão acrescentar mais 50 a 100 milhões de cartas. No total, 300 milhões, o que me parece uma estimativa, conservadora mais realista, do que os 500 milhões iniciais... (Recorde-se que os aerogramas, uma invenção portuguesa, eram isentos de franquia: porte e sobretaxa aérea; vd aqui um completíssimo texto sobre a sua história).  

Estimava-se em 300 mil o número de madrinhas de guerra. Um em cada três militares deveria ter uma madrinha de guerra, segundo uma sondagem que aqui fizemos em tempos. E todos nós, com raras exceções, nos correspondíamos regularmente com os pais, irmãs e irmãos, esposas, noivas, namoradas, amigas, vizinhas... Em dois anos de comissão, 24 meses, é possível que um soldado metropolitano escrevesse ou recebesse em média um dúzia de cartas e aerogramas por  semana. Arredondando, 300 cartas e aerogramas, enviados e recebidos, "per capita...(LG)

2. Resposta, imediata, do editor L.G. [, foto á esquerda, em 1970, em Nhabijões, Bambadinca]

(i) Eureka!, Manel Joaquim, meu querido camarada!... Ando há 9 anos (!) a pedir para "salvarem" as nossas cartas e os nossos aerogramas, esqueciso no fundo dos nossos baús!...  Aliás, o primeiro poste do nosso blogue, I Série, de 23 de abril de 2004, começou justamente com o título Saudosa(s) madrinha(s) de guerra...

Da I Guerra Mundial há menos de 100 cartas no arquivo histórico militar!... Do meu pai, de Cabo Verde, do tempo da II Guerra Mundial, não tenho nenhuma!... E dos mais de 300 milhões de cartas e aerogramas que eu estimo que se tenham escrito durante toda a guerra colonial (incluindo as da Índia!), quantas se irão salvar ?

Vamos já abrir uma nova série só para ti!... Parabéns pela tua coragem e generosidade!... LG

(ii) Não escrevi cartas nem aerogramas a ninguém.  Limitei-me a mandar algumas fotografias, com breves legendas, aos meus familiares mais próximos, para os tranquilizar: que estava bem, que estava vivo, que estava de saúde!... Hoje, sinto uma culpa imensa!... Na época não tinha namorada, e muito menos madrinha de guerra!... Em contrapartida, mantive, com irregularidade, um "sofrido" diário... Das cartas e aerogramas que recebi da família e dos amigos, perdi o rasto... E sinto-me mal por isso, por não ter acautelado a salvaguarda dessa correspondência... Teria, hoje, seguramente algum valor documental. Eu diria: todas as nossas cartas têm um excecional interesse como para os investigadores da área das ciências sociais e humanas, nomeadamente, da história, da linguística, da antropologia, da sociologia...

Em contrapartida, tenho a sorte de poder ter acesso à correspondência mantida por aquela que haveria de ser (e é) a minha companheira de um vida, a Alice Carneiro, igualmente nossa grã-tabanqueira... Trata-se de algumas centenas de cartas e aerogramas, enviadas (e recebidas) pela Alice... Mais as recebidas do que as enviadas: em boa verdade, das enviadas, só restam as que o mano José, combatente em Angola, guardou e arquivou religiosamente... em Camabatela, norte de Angola. E não são tão poucas quanto isso...

O Zé [, foto à esquerda,] já não se lembra do nº da companhia. Nem parece ter grandes saudades do seu tempo de tropa e de guerra. Sabe apenas que era 1º cabo, operador de transmissões, de  rendição indvidual, e que esteve aquartelado em Camabatela e que andou a guardar os cafezais do norte de Angola, nos já idos anos de 1969/71.

Recebia e escrevia muitas cartas e aerogramas, isso sim. Das que recebeu (dos manos, pais, cunhados, amigos, amigas ...) guardou-as todas, e arquivou-as, uma a uma, por autor e data... Só da mana, Chita,  tem mais de 100, no seu arquivo. Essa coleção é já um hoje um fonte de informação interessante não só para a história da família mas também sobre o quotidiano da guerra em África, e das necessidades e preocupações que os nossos militares deixavam transparecer. 

As saudades da terra eram sempre mais do que muitas, as referências às festas anuais, à matança do porco, às vindimas, ao Natal, etc., eram frequentes. Era isso que fazia lembrar a pátria distante... Nos dois anos que lá esteve, nunca veio a casa, que as viagens eram caríssimas. Fez férias em Luanda, tanto quanto sei.

Ao voltar mais uma vez a Angola, em julho e em outubro passados, e mais concretamente a Luanda, em trabalho, lembrei-me do meu querido cunhado, com quem às vezes falo dos nossos tempos de "meninos e moços"... Quis  fazer-lhe uma pequena surpresa por ocasião do seu 63º aniversário, selecionando algumas das cartas (mais do que aerogramas) que ele mandou à mana Chita, e que felizmente chegaram até nós (apenas umas 20 e tal). Muitas outras ter-se-ão perdido, com o tempo, e as andanças da mana. A Alice já trabalhava na Junta de Colonização Interna (Ministério da Agricultura) e andou por vários sítios,  de norte a sul do país.

Aqui vai então uma pequena antologia de excertos dessas cartas. É também uma homenagem a uma família, de três filhos e três filhas, que mandou dois dos seus rapazes (curiosamente o mais velho e o mais novo) para a guerra: o António, para Moçambique, onde foi gravemente ferido, em acidente com arma de fogo; e o José,  o "caçula", que fez a sua comissão de serviço em Angola, sem "problemas de maior"... Esta seleção da sua correspondência foi já publicada no blogue da família, A Nossa Quinta de Candoz... Que sirva, ao menos, de estímulo para que outros camaradas, da Guiné, seguiam o  exemplo do nosso Manuel Joaquim. (LG)



Angola > > Cuanza Norte > Ambaca > Camabatela > Janeiro de 1974 > Avenida central de Camabatela; ao fundo, a igreja católica. A cidade de Camabatela (ou Kamabatela, como também se escreve hoje ) foi fundada pelos portugueses em 1611, e é sede do município de Ambaca, na província do Cuanza Norte (ou Kwanza-Norte), a leste de Luanda. Foto de Henrique J. C. de Oliveira, Cambatela, 1/1/1974.

Foto: Cortesia de Prof2000 > Aveiro e Cultura > Arquivo Digital


3. Cartas de Camabatela: do Zé Carneiro para a mana Chita (1970/71) > Excertos


Remetente: José Ferreira Carneiro, Caixa postal 150, Camabatela, Angola

(i) Camabatela 19/05/70

Querida mana: Aqui me tens de novo, conversando como estivesses a meu lado. Começo por te desejar óptima saúde na companhia das tuas colegas e de toda a nossa família. 

Já deves ter conhecimento de que estou de novo no destacamento. Cá estou a passar mais 45 dias de férias no mato…

Quanto ao meu castigo, tenho-te a dizer que ficou tudo em águas de bacalhau. O Capitão chamou-me e só me disse que não devia ter feito a troca sem o avisar. Escusas de te preocupar, está tudo bem.

Por hoje é tudo. Recebe do teu mano um xi coração muito forte, adeus até 1971. (...)


(ii) Camabatela 16/06/70 

Querida mana Chita:  Estou a escrever uma carta porque os aeros [aerogramas] chegam a demorar cerca de um mês até chegarem ao seu destino, isto quando não são devolvidos. Estou mesmo muito aborrecido com isto. Pensei agora só escrever cartas, mas de 15 em 15 dias. Assim as cartas só demoram 3 dias a chegar a vossa mão. Tens que escrever é para a caixa postal. Que achas? Assim não repetimos as notícias. Quando receberes carta minha, peço-te que telefones aos pais para ficarem descansados. Está bem assim? 

Já te mandei o nº dos sapatos por 4 vezes e ainda continuas a pedir!.. Isto quer dizer que não tens recebido o correio.

Então como anda a tua saúde? Iniciei a carta sem fazer aquela lenga, lenga de sempre… Quanto a mim, desde já te digo que estou forte e que gozo de boa saúde.

Termino com um xi coração muito apertado do teu mano que te adora. Bjs


(iii) Camabatela 04/07/70

(...) Agora mesmo acabo de receber mais uma carta tua, juntamente com uma encomenda que trazia os sapatos e a camisa. Cada vez as encomendas estão a demorar menos tempo. Comparar com as primeiras que foram enviadas!...

Os sapatos e a camisa ficam-me a matar, só não queria que mos oferecesses. Tens mais em que gastar o dinheiro, mas aceito. Esta não está esquecida!

Já estou de novo em Camabatela, já estava cansado de tanto capim. Não posso dizer mal, porque desta vez engordei 3kg e aqui perco sempre peso.

Faz hoje 11 meses que embarquei em Lisboa, já pouco mais falta do que um ano, e um já se passou!... (...)


(iv) Camabatela 18/11/70

(...) Depois de ter chegado de uma operação que durou 5 dias, aqui estou a dar-te notícias.

Hoje mesmo parto novamente para o mato, onde vou passar o Natal e talvez o Ano Novo. Desta vez calhou-me a mim, o ano passado foram os meus colegas.

Com isto, estou quase a entrar no ano da peluda [, fim da comissão e passagem à disponibilidade]. Cada vez falta menos. Oxalá que este termine sem problemas.

Apesar de ainda não saber o que vou fazer quanto ao meu futuro de vida, não me sinto com ideias de meter o xico….

Por aqui vou ficar, mandando cumprimentos para todos os nossos vizinhos, as tuas colegas, e tu do mano muito amigo, um forte xi coração. (...) 


(v) Camabatela 14/01/71

(...) Aproveito estar uma grande trovoada e chuva para te escrever, porque assim as comunicações não funcionam, tenho que desligar os aparelhos.

A encomenda que mandaste, chegou dois dias depois do Natal. Chegou tudo bem. As castanhas começamos a comê-las e só terminamos quando acabaram. Sabes uma coisa? O bolo Rei não tinha fava!

Já só faltam 7 meses! Isto vai com calma.

Enquanto vós estais aí com grandes nevões, (segundo dizem os jornais), por aqui a temperatura é agradável, só as chuvas é que são esquisitas.

Já estou de novo em Camabatela. Já estava saturado de estar no mato e de ver tanto capim.

Acompanhado duma boa musiquinha, consegui estar contigo no pensamento.

Agora que o temporal já lá vai, tenho que regressar ao trabalho e ligar os aparelhos que já me provocam raiva só de olhar para eles. Tenho que estar em forma.

E assim me despeço com um forte xi coração do teu mano amigo. Adeus e até Agosto ou Setembro. (...)


(vi) Camabatela 15/02/71 

(...) Querida mana, não calculas como eu fiquei ao ler a tua carta e me falavas da matança do porco [, foto à esquerda, Candoz, c. 1980, foto de L.G.] . Aquelas fêveras e os rojões de que falavas. Não continha a minha cabeça e os meus pensamentos. Pareciam o Rio Douro quando traz uma enchente das chuvas. O mano António também me falou do mesmo.

Sabes uma coisa? Estou muito, muito cansado. Andei 3 dias e 3 noites no mato a andar sem poder dormir e ainda carregado com o respectivo rádio. A roupa molhou-se e secou-me no corpo por 3 vezes. Foi por esta razão que te demorei mais a escrever.

Querida mana, quanto ao que vou fazer quando acabar a tropa, o mais certo é eu ir estudar. Sem isso eu não tenho possibilidades de ter um emprego digno. Já falei com o Capelão para me colocar como Perfeito no Seminário, assim já podia estudar e trabalhar. (...) 


(vii) Camabatela 17/05/71

(...) Espero que esta minha carta te vá encontrar de óptima saúde, bem como toda a nossa família.

De facto tens razão em dizer que estou a esquecer-me um pouco de vós, mas não. Nada tem acontecido de grave por cá. Tudo corre pelo melhor.

Não te devia dizer, mas já estou de novo no mato. Esta estadia aqui, será a última para completar a minha comissão.

Não estejas preocupada que eu aqui no mato só tenho como rival o isolamento. De resto tudo é melhor do que na vila de Camabatela.

Quando me falas do que vou fazer quando regressar. Nada te sei dizer, estou a ver tudo muito escuro, mas na lavoura eu não quero ficar. (...).




(viii) Camabatela 14/06/71

Querida mana: Só hoje recebi a tua carta e logo te respondo. Parece impossível que as cartas demorem tanto tempo. Entre tu escreveres e eu receber, chegam a demorar 15 a 20 dias. Chegamos a estar 20 dias sem correspondência o que é muito duro para quem está aqui. As coisas ainda pioram mais quando estamos no destacamento (mato) que chegamos a estar 45 dias. 

Também penso o mesmo que tu, que sou preguiçoso, que já não tenho saudades vossas, etc. etc. mas o que interessa é que só faltam 50 dias para isto acabar.

Vou te contar um segredo: Andei a fazer umas economias para comprar uns presentes para vos levar, mas acontece que um colega que sabia do meu mealheiro, foi lá e roubou-mo. Eram 2.500$00. Este colega foi-me falso e ando muito triste, mas tenho que esquecer. Depois quando eu chegar, te contarei melhor como tudo aconteceu.

Gostava de chegar aí e tu estares ainda de férias, seria bom, mas a tropa é que manda!.. (...) 


(ix) Camabatela 04/08/71

(...) É precisamente o dia que devia terminar a minha comissão e que te escrevo para desta forma estar em contacto contigo.

Aquilo que desejas saber, ainda não é desta. Porque apesar de ter terminado a minha comissão, ainda não chegou o substituto para me render, mas como há falta de pessoal tenho que aguentar. Com a graça de Deus tudo vai acabar bem.

Desta vez a minha carta levou pouco tempo a chegar aí. Nesse mesmo dia escrevi também a mana Nitas.

Desculpa não escrever mais, mas estou cheio de sono.

Um forte abraço de saudades do teu mano Zé (...)


4. Reproduz-se,por fim, uma das 100 cartas (e aerogramas) que a mana Chita mandou ao mano Zé quando ele fez 22 aninhos... Ele, lá longe, no Norte de Angola, em Camabatela, para onde a Pátria o chamou, entre 1969 e 1971, uma eternidade...Ela já a trabalhar, mas ainda a viver em Candoz, na casa dos pais... O meu obrigada ao Zé por ter arquivado todas as cartas e os aerogramas que a família e os amigos lhe mandaram!... Tudo direitinho!...





Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 21 de outubro de 2012 > O Zé Carneiro, na véspera de completar 63 anos, apanhando sentieiros (cogumelos).

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.


Candoz 9.9.70

Querido Mano:

Após algumas horas terem passado do teu aniversário [, ontem, dia 8,], aqui estou a contar-te como o passámos.


Como já há 6 anos que lá não [ ia, à festa do Castelinho, ], este ano sempre me decidi e fomos, eu, o pai, a Rosa, o Quim, António e Graça. Fomos de manhã e chegámos à noite. Para te dizer que gostei muito, isso não. Sabes que só era alegria quando fazíamos as viagens a pé. Agora ninguém o faz e portanto deixa de ter aquela alegria sã como dantes. Isto é a minha opinião!... Mas julgo que a dos outros será a mesma.

Assisti à Santa Missa no adro e depois do almoço fui para o penedo onde permaneci até vir embora. Não estava calor, pois de manhã tinha chovido, portanto não fazia pó. Fomos todos à capela rezar por ti e assim se passou o dia. Não andava muito contente mas isto são problemas de 'amor'. E também por que estou muito magra, depois que vim de Lisboa já emagreci ainda mais 4 kg. 

Também te quero dizer que hoje mesmo recebi mais uma carta tua. Até que enfim te decidiste a escrever-me. Acredita que andei uns tempos chateada, mas já passou.

Quanto às fotos realmente tens razão. Eu tinha uma série delas tiradas em Pegões, e ficaram de mas mandar, mas até hoje ainda nada apareceu. Até eu estou a ficar aborrecida, mas o remédio é ter paciência. Quando me for possível, eu tas mandarei.

Neste momento estou a escrever-te do consultório médico. Vim com a mãe, vamos ver o que diz o médico. Não te aflijas porque [ela] anda bem, o médico é que quer ver se está melhor.

Quanto às uvas, para já o preço de 2$80 o kg, não é mau de todo mas a s vindimas só podem ser feitas a partir do dia 28. Isso é que será pior e mais ainda se agora não parar a chuva, então teremos tudo podre.

Por hoje é tudo, resta-me finalizar com um abraço da família Barbosa e meninas, cumprimentos dos vizinhos, beijinhos dos pais e da tua mana uma xi-coração de amizade. Maria Alice.

PS – Escreve para casa porque, embora trabalhe todos os dias, venho cá dormir.



5. O projeto  FLY – Cartas Esquecidas  (1900-1974) (Centro de Linguística da Universidade de Lisboa)

Recorde-se que a  Alice disponibilizou a sua coleção de cartas e areogramas da guerra colonial (cerca de três centenas e meia) para um projeto de investigação, chamado FLY. Todos os documentos foram devidamente digitalizados, sendo depois devolvidos à proprietária (e, no caso das cartas do mano, fiel depositária). Cito aqui a investigadora e doutoranda Leonor Tavares, da Equipa FLY, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa:

(...) "O projecto FLY - Cartas Esquecidas (1900-1974) é um projecto que procura recolher, digitalizar e editar cartas do século XX dos contextos de prisão, exílio, guerra (colonial e mundial) e emigração. Este projecto continua o projecto CARDS - Cartas Desconhecidas (1500-1900) que já conta com 2000 cartas transcritas. Os dois projectos estão neste momento parcialmente disponíveis no site http://alfclul.clul.ul.pt/cards-fly/.

"O objectivo do projecto FLY é recolher e editar 2000 cartas dos contextos referidos, sendo que se estipulou um total de 700 cartas para o contexto da guerra colonial. Este arquivo digital (composto pelas 2000 cartas do projecto CARDS e as 2000 do projecto FLY) estará disponível para investigadores de várias áreas (principalmente as áreas da Linguística, da História e da Sociologia), para que os documentos (as cartas) sejam imortalizados como objectos históricos de grande relevância linguística. Os estudos que podem ser feitos a respeito deste tipo de documentos compreendem, entre muitas outras hipóteses, aspectos relacionados com a sintaxe, a fonologia, a pragmática, a história cultural e/ou social e aspectos da sociologia das migrações, das desigualdades e classes sociais.

"O projecto FLY compromete-se a omitir todos os dados pessoais dos intervenientes nas cartas, nas transcrições e nas imagens disponibilizadas on-line. (...)".


Recolha de cartas portugueses do Século XX (1900 a 1974) > Apelo

“Se guarda em sua casa cartas particulares e deseja que ela sejam dignificadas enquanto objeto de conhecimento, por favor contacte os investigadores do projeto FLY 1900-1974 (Cartas Esquecidas).”

Rita Marquilhas
Centro de Linguística da Universidade de Lisboa
Avenida Professor Gama Pinto, 2, 1649-003 Lisboa
Telefone : 21 790 49 57
Fax : 21 796 56 22

Email : fly@clul.ul.pt
Endereço do site : http://alfclul.clul.ul.pt/cards-fly/

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8494: As mulheres que, afinal, foram à guerra(18): As madrinhas de guerra e a Cecília Supico Pinto,precursora do Facebook (António Matos)

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10575: O nosso livro de visitas (150): Agradecimento (Vanda Silva)

1. Mensagem da nossa leitora Vanda Silva, ex-madrinha de guerra (*)

Data: 26 de Outubro de 2012 10:13
Assunto: Agradecimento

Agradeço-lhe o empenho e a rapidez em satisfazer o meu pedido que, infelizmente, tem um resultado desagradável.

Soube, através do email indicado por si (**),  que o Alferes Oliveira Marques já morreu,  facto que me deixou consternada.

Quanto a partilhar memórias desse tempo, deixe-me primeiro ordenar as ideias ( e o coração que a vida não afecta só o aspecto físico com rugas e cabelos brancos ).

Bem haja e felicidades para o seu (vosso) excelente trabalho.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série >  Guiné 63/74 - P10552: O nosso livro de visitas (149): Vanda Silva, madrinha de guerra, procura o paradeiro do ex- alf mil António Augusto Oliveira Marques, CCAÇ 1684 (Susana e Varela, 1967/69)

(**) Troca de emails entre a Vanda Silva e o o nosso camarada Manuel Santos [ou Domingos Santos]:

(i) Vanda Silva, 24 de Outubro de 2012 16:51:

Manuel Santos:

O sr. Luís Graça deu-me o seu email porque talvez me informasse sobre o Alferes Miliciano dos Comandos, António Augusto Oliveira Marques ( Tony Marques ) que esteve colocado em Susana durante 1967- 1968. Correspondia-me com ele durante esse periodo e perdi o seu contacto após a desmobilização em Dezembro de 68. Desde já lhe agradeço.

(ii) Manuel Santos, 25 de Outubro de 2012 17:47

Eu estive em Suzana de 67-69 com esse meu grande amigo Tony Marques, era do meu pelotão. Não sei se sabe, a sua Mãe morava em Bissau e estive lá em casa dele por várias vezes.

Mas tenho que lhe dar uma má noticia , ele já morreu. Ficou em Bissau quando na disponibilidade, em casa de sua mãe.

Se pretender mais algumas informações, pode contar comigo.
Manuel Santos
Furriel miliciano
Comp 684,
Suzana e Varela 67-69

domingo, 21 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10552: O nosso livro de visitas (149): Vanda Silva, madrinha de guerra, procura o paradeiro do ex- alf mil António Augusto Oliveira Marques, CCAÇ 1684 (Susana e Varela, 1967/69)


Guiné > Região do Cacheu > CCAÇ 1684 (Susana e Varela, 1967/69) > Destacamento de Cassolol  >  "Deixamos lá este pequeno monumento dedicado à nossa Companhia,  "Pantera 1684", com os nomes dos nossos mortos" (Domingos Santos).


uiné > Região do Cacheu > CCAÇ 1684 (Susana e Varela, 1967/69) > Susana > Na casa do casal José Valente e Helena > "Aqui estamos no seu terraço a comer um petisco. Ao fundo, penso ser a sua filha, que segundo sei será hoje a senhora que tem a residencial Chez Helène em Varela" (Domingos Santos).


Guiné > Região do Cacheu > CCAÇ 1684 (Susana e Varela, 1967/69) > Susana > 1968 >  O Domingos Santos, ao meio, entre lutadores felupes e mais dois militares da CCAÇ 1684, por ocasião da festa do fanado. O Domingos Santos era amigo do João Uloma, que será mais tarde alferes comando graduado da 1ª Companhia de Comandos Africanos.

Fotos: © Domingos Santos (2011). Todos os direitos reservados


1. Mensagem da nossa leitora Vanda Silva


De: Vanda Silva [ myspym@gmail.com]
Data: 16 de Outubro de 2012 09:28
Assunto: Pedido de informações


É de louvar a criação do blogue para que a memória desse tempo perdure para as gentes vindouras que ficaram livres "daquilo". 

Fui correspondente ou madrinha de guerra (eu prefiro chamar-me apenas "uma amiga") do Alferes Miliciano dos Comandos que esteve colocado em Suzana de 1967 a 1968 e pertencia, salvo erro,  aos "Os Panteras" CCAÇ 1684 [ / BCAÇ 1912, Susana e Varela, 1967/68]

Gostaria de saber mais coisas sobre ele e, se alguém o conheceu , ficaria muito grata se me pudesse elucidar. 

O meu email é myspym@gmail.com e o meu nome Vanda Silva. 


PS - Por lapso, não escrevi o nome do Alferes: António Augusto Oliveira Marques. As minhas desculpas. 

2. Comentário de L.G.:

Vanda, obrigado pela visita e pelas suas amáveis palavras.  Gostaríamos que nos falasse mais desse seu papel de madrinha de guerra ou de amiga de um combatente da Guiné, nosso camarada. Tem o nosso blogue à sua disposição. 

Quanto ao António Augusto Oliveira Marques, não temos nenhuma pista que nos leve ao seu paradeiro. Ou melhor, temos um representante da CCAÇ 1684 no blogue,  o Domingos Santos.

O Manuel Domingos Santos, ex-Furriel Miliciano, esteve em Susana e Varela, na CCAÇ 1684/BCAÇ 1912, entre maio de 1967 e maio de 1969. Seguramente que ele conheceu o seu antigo correspondente e deve encontrar-se com ele nos convívios anuais da companhia. Veja se reconhece o seu amigo nas fotos do álbum do Domingos. Ele pertence a esta grande família, que é a Tabanca Grande, desde 7 de maio de 2011. Aqui tem o e-mail: domingossantos44@gmail.com

Desejo-lhe boa sorte nas suas pesquisas.  Saudações bloguísticas dos editores.
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Nota do editor:
Último poste da série > 17 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10539: O nosso livro de visitas (148): Alfredo João Matias da Silva, ex-Fur Mil do Pel Rec Fox 3115 (Gadamael e Guileje, 1972/74) procura camaradas de armas