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quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20197: Historiografia da presença portuguesa em África (179): “Duas descrições seiscentistas da Guiné”, de Francisco Lemos Coelho, introdução a anotações históricas por Damião Peres, Academia Portuguesa de História, 1953 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Janeiro de 2017:

Queridos amigos,
Quanto às ilustrações que aqui se apresentam, constam de uma esplêndida publicação da Sociedade de Geografia de Lisboa onde se mostram os seus tesouros artísticos. Pedi autorização ao seu presidente para destacar no nosso blogue estas quatro peças artísticas guineenses, amavelmente acedeu.
Continuo a frequentar com regularidade a biblioteca desta Sociedade, possuidora de valiosa documentação que me permite estudar e recolher belíssimos relatos de viajantes para uma obra que idealizei com o título "Guiné: as suas páginas de ouro", uma recolha de preciosidades escritas a partir de Zurara até aos nossos dias. O trabalho prossegue e o ânimo não desfalece, é um prazer documentar-me e descobrir pepitas de ouro nesta literatura tão injustamente esquecida.

Um abraço do
Mário


Francisco de Lemos Coelho, aventureiro seiscentista na Guiné (2)

Beja Santos

Francisco de Lemos Coelho é autor de duas impressivas descrições que avivam e complementam os conhecimentos e relatos de outros viajantes anteriores e contemporâneos.

Em texto anterior, vimos como ele define territorialmente a Guiné a partir do rio Senegal, viaja e comenta tudo quanto vê no que é hoje correspondente ao território senegalês, demora-se em Cacheu e Bissau e quando parte escreve: “Antes de passar daqui para diante me parece dar notícia das ilhas dos Bijagós que ficam já de trás e começam de frente das ilhetas ao mar, e vão correndo para a banda do Sul, farei sua narração, e direi primeiro o costume e natural dos negros, e o que foram, e são hoje de presente”. E enceta a descrição do território Bijagó, seus ritos e costumes: “Esta casta de negros dizem os antigos que foram povoadores do Reino dos Beafares, os quais foram conquistados pelos ditos Beafares, gente do sertão adentro e que vendo-se apertados fugiram em canoas que também chamam almadias, e vieram povoar estas ilhas”. Tendo sido perseguidos pelos Beafares acabaram por vencer e arrebanharam as suas presas como escravos. Os Bijagós fizeram-se grandes guerreiros, atacaram os Papéis, chegaram ao Geba e a Cacheu, em toda a parte eram temidos.

Mais adiante Lemos Coelho observa: “Hoje é a gente mais doméstica que tem a Guiné, e mais amiga do branco”. Considera as mulheres Bijagós como formosíssimas, dizendo que na sua terra vestem saias de palha até ao joelho. E adianta: “Não é proibido o matrimónio se não no primeiro grau de consanguinidade, o homicídio não se castiga mas os parentes do morto podem matar o matador se podem, não há rei entre eles mas os grandes são juízes em suas desavenças”.

O relato prossegue com a descrição a partir da ilha de Bissau para o rio de Geba. “Corre da ilha de Bissau para Leste o rio de Geba o qual tem à banda do Norte os Balantas, que vão correndo da terra de Antula, e da banda do Sul o Reino de Guinala, que é o maior que têm os Beafares; assim que da banda do Norte acabando a terra dos Balantas se dá logo no Reino de Gole, também de Beafares, aqui começa o rio a estreitar, e aqui começa o macaréu que há neste rio, o qual é uma correnteza de água quando vem a enchente com tanta veemência, que quando se sente que vem porque antes de chegar vem fazendo estrondo como de trovoada, e o navio que está solto suspende a âncora para não soçobrar”. Adianta que acima de Gole, da mesma banda do Norte está o reino de Amchomene, também de Beafares, “gente ruim os deste reino, e traidores, logo se segue a terra de Geba sujeita ao Farim de braço, tem seu reizinho, mas está a Farim sujeito”.

“Da banda do Sul está o reino dos Beafares sujeito ao rei de Guinala, ou do rio grande. É a povoação de Geba a terceira que há hoje na Guiné, e agora faz 30 anos que se podia dizer era a primeira no trato (comércio), como nos moradores, mas como o capitão de Cacheu mandou levar os moradores para com eles fazer a povoação de Tubabodaga (Farim) e hoje não há nela mais do que filhos da terra, se bem ainda destes há mais de 200 almas cristãs e costuma o Cabido de Cabo Verde mandar aqui um clérigo para administrar os sacramentos a estes cristãos”. E retrata Geba: “Era a dita povoação de Geba de maior trato de toda quantas havia em Guiné, aqui era que se vendia à cola, aqui se despachava muito ferro a troco de cera, aqui se comprava muito marfim que vinha da terra dos Cocolins, gente que confina com os Beafares. Esta é a povoação que foi de Geba à qual não ficou mais do que o nome, e com isto torno ao porto de Bissau para dele fazer o caminho para o Rio Grande”. E começa a descrição do Rio Grande, dizendo que indo de Bissau para o Sul se chega à ilha de Bolama, que era povoada de Beafares e que por causa dos Bijagós está hoje despovoada, observa que tem à entrada muito bons portos a que se chama prainhas por causa de umas alegres praias de área que tem em terra e junto delas há muito bons recifes de pedra; “a terra é fertilíssima mui cheia de palmeirais e de árvores frutíferas”.

E começa a descrição de Guinala: “Há no fim da terra de Guinala uma grande aldeia que se chama Corubal que é como feira adonde vêm mercadores de todas as partes a comprar e vender, vende-se nela principalmente muitos negros, roupas e tintas com que se tinge a roupa na Guiné de azul. Os moradores desta aldeia são geralmente Mandingas. Há também na terra de Guinala o melhor gado vacum que tem toda a Guiné, nem entendo se há melhor no mundo, assim na gordura como no sabor”. E começa a comentar o povo Beafare: “Os Beafares não têm religião nenhuma mais que adorarem uns paus a que chamam Chinas, aos quais sacrificam vacas e galinhas, e os untam com o sangue como os Bijagós”. E tece outros comentários: “Tem o porto de Guinala o melhor peixe que há em toda a costa da Guiné, principalmente umas tainhas brancas de que há tanta quantidade que fazem negócio delas secas ao sol".

O primeiro documento de Francisco de Lemos Coelho caminha para o fim, no que toca à descrição do território onde aproximadamente se vai constituir a presença portuguesa na pequena Senegâmbia. Este texto descreve o que ele vê do Rio Grande para o Rio de Nuno, ou seja a região Sul da Guiné e a orla litoral do que é hoje a Guiné Conacri. “Partindo do Rio Grande a primeira terra que nos fica pela costa abaixo é o rio dos Tambalis, os moradores da terra são Beafares, o negócio é negros, marfim e muito mantimento, não há má viagem para os brancos que vivem no rio Grande. Toda a mais terra daí até ao rio de Nuno que são pela costa abaixo mais de 30 léguas tudo são Nalus, se bem não temos comunicação com este gentio pelos seus portos por quanto há por este caminho muitas coroas e recifes”.

O rio de Nuno tinha grande importância nestas viagens até à Serra Leoa, daí a presença de brancos: “Tem na povoação do rio de Nuno uma igreja de Santo António, santo para quem se tem notável devoção, daqui para baixo não só os brancos mas também o gentio; morou aqui um frade capucho castelhano que veio morrer em Bissau. Também costuma o Cabido de Cabo Verde mandar aqui às vezes sacerdote administrar os sacramentos a estes cristãos”.

Vai seguir-se “Descrição da Costa da Guiné e situação de todos os portos e rios dela, e roteiro para se poderem navegar todos os seus rios”, quem o escreve é o Capitão Francisco de Lemos Coelho, em São Tiago, Cabo Verde, 1684.

(Continua)

Espada Mandinga
Irã Bijagó
Máscara Nalu

Machado, ritual Nokubê
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20174: Historiografia da presença portuguesa em África (177): “Duas descrições seiscentistas da Guiné”, de Francisco Lemos Coelho, introdução a anotações históricas por Damião Peres, Academia Portuguesa de História, 1953 (1) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 27 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19625: Historiografia da presença portuguesa em África (156): Missão de Estudo dos Movimentos Associativos em África, Relatório da Campanha de 1958, por J. M. da Silva Cunha (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Julho de 2018:

Queridos amigos,
Trata-se de um documento rigoroso, o professor Silva Cunha recebera a incumbência de detetar focos tendencialmente subversivos no contexto dos dois países vizinhos caminharem indeclinavelmente para a independência. Não havendo associações políticas confirmadas, entendia o professor que se devia rastrear as missões católicas e protestantes, as associações de diferente índole, era premente saber onde as ideias subversivas se poderiam anichar. O curioso é que tudo se irá passar praticamente à revelia do que aqui se escreve, com exceção do que o autor desvela sobre a região Sul, ali já se estava permeável aos ideais do fim do jugo colonial. Silva Cunha alertava para a importância do ensino e dizia em bom português que os guineenses sabiam muito bem o que se passava à sua volta. Em 1959, o que ele chamava atmosfera de paz encheu-se de tensões, com os acontecimentos do Pidjiquiti. E nesse ano, em sigilo, Amílcar Cabral combina com Rafael Barbosa e outros como se irá processar a luta pela libertação.
O resto, toda a gente sabe como aconteceu.

Um abraço do
Mário


A Guiné em 1958, por Joaquim da Silva Cunha

Beja Santos

O documento intitula-se Missão de Estudo dos Movimentos Associativos em África, Relatório da Campanha de 1958, Guiné, assina o chefe de missão Joaquim da Silva Cunha, professor e posteriormente ministro do Ultramar e da Defesa. A edição é do Centro de Estudos Políticos e Sociais da Junta de Investigações do Ultramar, a data é do mesmo ano. O investigador não esconde a urgência daquela missão: “A situação política dos territórios da África Ocidental francesa aconselhou a que se fizesse, o mais rapidamente possível, uma prospecção nesse campo, com vista à referenciação de eventuais movimentos de reacção que pudessem servir de canal à penetração no nosso território de ideais semelhantes aos que agitam as populações da África Ocidental francesa”.

Procurou ser meticuloso e abrangente, foram examinados arquivos (Administração Civil, PIDE, PSP, Tribunal da Comarca), houve entrevistas com autoridades eclesiásticas e missionários católicos, mas também com missionários protestantes, foram inquiridos indígenas. Logo se esclarece que a missão teve obstáculos graúdos na comunicação, dificuldades com as línguas nativas, e o professor escreve: “No caso da Guiné, esta dificuldade agrava-se porque são raros os indígenas fora de núcleos urbanos que falam o português". Propõe-se a detalhar o que apurou sobre movimentos associativos de reação e daí expor a estrutura do seu trabalho: prospeção geral dos movimentos associativos de reação, espécies encontradas na Província; associações religiosas e confrarias; associações mutualistas ou cooperativistas e clubes; apresentar uma panorâmica sobre a situação social da Província; registar o essencial dos problemas sociais e políticos dos territórios franceses vizinhos; e fazer as conclusões.

Recorda que na Guiné não se encontravam organizações semelhantes às igrejas separatistas e aos movimentos profético-messiânicos, largamente referenciados em Angola e Moçambique. As associações políticas eram inexistentes. E quanto à existência de sociedades secretas ou ocultistas, dispunha-se de pouquíssima informação. Expunha-se no relatório esse pouquíssimo que se sabia. Primeiro, o caso de Cacine, com data de 1922, houvera um homicídio com antropofagia, todos os adeptos dessa sociedade de homens-leopardo pertenciam à etnia Nalu, foram desterrados para outra colónia. O caso de Teixeira Pinto (Calequisse) datava de 1944, havia referências a homens-hiena ou homens-leopardo. O inquérito não dera em nada. Mas havia provas de crenças de, por artes mágicas, alguns homens julgarem que se iam transformar em feras. O relatório fala também nos baloubeiros, mas nada mais se indiciava a não ser a pura prática do animismo. Havia sinais da existência de seitas, até de desvios ao Adventismo, e depois o relatório orienta-se para as confrarias islâmicas e fala da sua organização. Aí, diz o autor, podia haver motivos de preocupação, e explica porquê: “O gosto dos pretos pelas associações, as estruturas sociais que compreendem grupos de iniciação, associações de auxílio mútuo, associações religiosas, etc., tudo faz para que o preto muçulmano facilmente compreenda a confraria e nela se integre”. E falando dos territórios circunvizinhos, lembra o comportamento de Sékou Touré quanto às chefias tradicionais e à influência dos chefes muçulmanos, convém não esquecer que ele era proveniente de uma linhagem Mandinga: “Sékou Touré procura limitar a influência dos chefes tradicionais, apoiou-se na influência dos chefes muçulmanos de mais prestígio no território. Foi assim que no congresso dos partidos políticos africanos que reuniu em Bamako, em 1957, se fez acompanhar do maior chefe religioso do Futa-Djalon para mostrar que, se combatia os chefes políticos tradicionais, respeitava os grandes chefes religiosos”. E tenha-se em conta que as etnias Mandinga e Fula apareciam muito ligadas às confrarias.

Descreve as associações de auxílio mútuo, e então vem um sinal de inquietação onde ele destaca o caso do clube de trabalho de Cacine, em 1956, as autoridades verificaram que os indígenas de algumas povoações se reuniam frequentemente e suspeitaram que tais reuniões tinham por objeto a criação de organizações ligadas à secção da Guiné Francesa do Rassemblement Démocratique Africain (RDA), liderado por Sékou Touré.
Feitas as averiguações, apurara-se que tais reuniões eram mesmo reuniões do clube de trabalho que tinham por objetivos reunir associados que se auxiliavam mutuamente, quer em trabalhos agrícolas, quer na construção de casas, quer em contribuições pecuniárias para a realização de casamentos.
Mais tarde, alterou-se esta posição, tinham sido descobertos indícios de propaganda do RDA. A PIDE deteve 32 indígenas por manterem ligações ao RDA.

Agora direcionado para as organizações mutualistas, apresenta-as: Club Vélia e Club Banana, em Bissau; Club Palmeiro, em Farim; Club dos Beafadas em Fulacunda; Club dos Manjacos, em Bolama. As principais finalidades destas organizações de caráter clubístico eram religiosas, recreativas, mutualistas, culturais e de administração de justiça.

Findo este percurso sobre o movimento associativo, dirige o seu olhar para a situação social da Província. Considera que a Guiné vive em sociedade plural, constituída por colonos, mestiços e nativos. Diz abertamente que o setor da economia capitalista é muito restrito, limita-se quase exclusivamente à atividade comercial. “É raro o europeu que se dedique à agricultura por conta própria e os que o têm ensaiado quase sempre têm fracassado, com excepção de duas ou três empresas no Sul, na área de Catió”. E descreve sumariamente o setor capitalista.

O trabalho volta-se agora para as missões católicas, revela-se profundamente crítico quanto às atividades do ensino: “O ensino ministrado aos indígenas é mais em qualidade e insuficiente em quantidade”. E profere uma catilinária quanto à existência de professores mal preparados. Diz que a Missão Evangélica da Guiné Portuguesa não está autorizada a exercer o ensino. Denuncia abertamente os abusos dos castigos corporais.

De forma muito cuidada, expõe os acontecimentos na África Ocidental francesa, refere-se à evolução política do ultramar francês entre 1945 e 1958. Vê-se que sabe do que está a falar, aborda com detalhe a lei-quadro de 1956, altura em que a União Francesa foi substituída por uma Comunidade formada pela França e povos ultramarinos “por um acto de livre determinação”. Silva Cunha alude a uma obra de Jean-Paul Sartre, o ensaio “Orfeu Negro”, onde o filósofo definiu as bases da doutrina da Negritude, um tanto dissemelhante da apresentada por Senghor. Faz igualmente referência ao congresso dos escritores e artistas negros, que decorreu em Paris, em setembro de 1956. Descreve os principais partidos políticos da África Ocidental francesa e, encaminhando-se para as conclusões, diz claramente: “Afigura-se-me de excepcional interesse o que se passa na nova República da Guiné”. Havia que rever cuidadosamente a política do ensino, pois, como escrevera anteriormente, era profunda a crítica à qualidade do ensino das missões católicas, com professores mal preparados, e a Missão Evangélica da Guiné Portuguesa não estava autorizada a exercer o ensino. Era inquietante que os islamizados, um terço da população, estavam à margem da influência da escola portuguesa.

E termina do seguinte modo: “A situação política vigente nos territórios vizinhos, a velocidade com que se processam hoje em África os fenómenos sociais, impõem que se actue com rapidez. No nosso território reina a paz. As condições objectivas não são de molde a gerar perigos imediatos. Não devemos, no entanto, ter ilusões. Os nossos indígenas sabem tudo o que se passa à roda da Guiné. Sabem que no chão francês os brancos estão a ir embora e que os pretos agora é que mandam. Nos seus espíritos começaram a surgir inquietações. Urge estar atento”.

Tudo leva a crer que este relatório tenha sido recebido sem qualquer sentido da urgência que o seu autor não escondia. Como se viu.

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Nota do editor

Último poste da série 20 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19605: Historiografia da presença portuguesa em África (154): A Guiné na “Gazeta das Colonias” (1924-1926) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19259: (D)o outro lado do combate (39): Vídeo de 2/3/2008 com entrevista a antigo guerrilheiro do PAIGC, contemporâneo do cerco a Darsalame, em julho de 1962, pelo grupo de combate da CCAÇ 153, comandado pelo cap inf José Curto (Luís Graça)



Guiné-Bissau > Seminário Internacional de Guiledje, 1-7 de março de 2008 > Visita, no dia 2, ao Cantanhez, na região de Tombali. Reconstituição do antigo acampamento ("barraca") Osvaldo Vieira. O nosso saudoso Pepito (1949-2014) fala com um antigo guerrilheiro do PAIGC, sentado à sua esquerda,  sobre o início da luta aramada em 1962.

Vídeo Guné. Cantanhez. Acampamento Osvaldo Vieira5. Alojado no You Tube > Nhabijoes (*)

Vídeo (4' 52 ''): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.  [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guné]


1. Guiné-Bissau, Região de Tombali,  Mata do Cantanhez, Acampamento Osvaldo Vieira, nas proximidades de Madina do Cantanhez, na picada entre Iemberém e Cabedu... Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje, domingo, de manhã, 2 de março de 2008... Visita guiada e animada por antigos guerrilheiros e população local, à Baraca  (acampamento) Osvaldo Vieira, outro dos momentos surpreendentes da nossa viagem à pátria de Amílcar Cabral.

Neste vídeo (**), um dos homens grandes da região conta como foram os primórdios da luta aramda... Trata-se de um excerto, há informação que perdi...  Infelizmente não consegui fixar o nome do entrevistado. Creio que é nalu. 

"Entrou no mato", como ele diz, em 1962. Ou seja: passou à clandestinidade, depois de aderir a (ou ser aliciado por) o PAIGC, ainda antes do início das hostilidades... Recorde-se que, para o PAICC e para a historiografia portuguesa, a guerra começa oficialmente com o ataque  Tite a 23 de janeiro de 1963.

A designação deste acampamento corresponde à verdade fática, histórica, não é  apenas uma homenagem, póstuma, a um dos heróis (, de resto, controversos...) do PAIGC, o Osvaldo Vieira  (cujos restos mortais repousam na Amura, a antiga fortaleza colonial de Bissau transformada em panteão nacional)... Ao que parece, o Osvaldo Vieira não actuou só na região do Óio (Frente Norte), também terá andado pelo Cantanhez (Frente Sul).

"Quando começou a mobilização, quando entre no mato, foi em 1962. Éramos só sete nessa altura. O comandante do grupo era o José Condição. Ficámos no mato de Caboxanque, aqui perto. Numa barraca, parecida com esta"...

O entrevistado fala num crioulo difícil. O Pepito vai traduzindo. Vê-se que nem sempre percebe o que diz ou quer dizer o entrevistado...

E a narrativa continua: 

"Até que chegou à região de Tombali o Capitão Curto".  (Aqui o  Pepito acaba por baralhar a audiência, maioritariamente estrangeira, ao falar em dois capitães Curto,  um dos quais teria andado a espelhar o terror no chão manjaco; ora, o capitão a que o antigo guerrilheiro se referia era o cap inf José Curto, comandante da CCAÇ 153, com sede em Fulacunda, e reportando ao BCAÇ 236, que estava em Tite.)

Na mesma altura apareceu o Nino. O tal Cap Curto cercou Darsalame, entrou aos tiros na tabanca, mandou toda a gente pôr as mãos na cabeça, ninguém podia dar um passo… Das cinco da tarde às cinco da manhã, a aldeia esteve cercada e as pessoas foram interrogadas… Alguns mais novos conseguiram-se escapar e pedir socorro ao grupo do Nino, que estava na "barraca".

O Nino ficou muito preocupado e quis saber o que se passava. Reuniu os camaradas, entre eles o Mão de Ferro, com a missão de ir a Darsalame saber o que se estava a passar e tentar ajudar o povo. Não deixou ir o José Condição. "Tu não vais. Vão lá saber o que se passa com a populaçãi"...

Quando os camaradas lá chegaram, o cap Curto já não estava lá. Foram informar o Nino. Foi também nessa altura que o grupo, que tinha aumentado, já não cabia em Caboxanque. “Este mato é pequeno. Não vamos ficar aqui, disse eu… E foi então que fomos para o mato de Cantomboi” (um dos catorze actuais matos do Cantanhez)…

2. O vídeo, ou pelo menos este excerto, é omisso sobre a data em que acorreu o cerco de Darsalame, e suas consequências em termos de baixas (mortos, feridos ou prisioneiros). Mas tudo indica que tenha sido em julho de 1962 e que foi na mesma ocasião em que, às tantas da madrugada, houve mortos entre um grupo de alegados simpatizantes e militantes do PAIGC, entre eles o 'comandante' Victorino Costa (1937-1962). (Já cadáver,  terá sido reconhecido por um cipaio ou guia que acompanhava o grupo de combate do cap Curto.)

Enfim, não tive, no Cantanhez, e em Bissau, em 2008, oportunidade de confirmar esta história  dos "anos de chumbo", em que se cometerem muitas arbitrariedades e ações de terror de um lado e do outro... Também não achei apropriado o momento, que era de festa e de reconciliação, entre homens que tinham combatido de um lado e do outro, para aprofundar a história (macabra) da cabeça do Vitorino Costa que terá sido levada para Tite.

Por outro lado, tanto o Nuno Rubim como o José Martins me confirmaram, na altura, em 2008, que no TO da Guiné, em 1961/63,  só havia um oficial com o apelido Curto....

Escreveu-me então o Nuno Rubim:

 "Só há dois [ com esse apelido,] que poderão ter comandado companhias: (i) José dos Santos Carreto Curto, oriundo de Infantaria, mais tarde com o curso de EM [Estado Maior,], promovido a Major em Jul 1966; e (ii) Luís Manuel Curto, Cap de Artilharia, promovido a este posto em Ago 1969. (...) 

Quanto à "companhia manjaca do Bachile", o José Martins esclareceu o seguinte:

(...) "A unidade que esteve em Bachile foi a CCAÇ 16, criada em 04Fev70 com elementos Manjacos enquadrados por graduados e praças especialistas metropolitanas. Em Bachile colocou 2 pelotões em substituição da CCAÇ 2658 em 04Mar70. Em 30Abr70 assumiu e responsabilidade do subsector, então criado. Em 26Ago74 entregou o quartel de Bachile ao PAIGC recolhendo a Teixeira Pinto, sendo extinta a 31 desse mês. Não consta nenhum Capitão de nome Curto, no seu historial." (...).

Sobre o cap Curto, falecido há dias (com o posto de ten gen reformado), escreveu  ainda o seu camarada George Freire (radicado na América há 5 décadas e meia, e membro da nossa Tabanca Grande desde 29/12/2008):

(...)  Formei-me na Academia Militar, (nesses tempos com o nome Escola do Exército), no ano de 1955. Servi na Guiné de 26 de maio de 1961 a 26 de maio de 1963 (...) A companhia de que originalmente fiz parte quando partimos para a Guiné, no dia 26 de maio de 1961, foi criada em Vila Real de Trás-os-Montes, onde eu ainda tenente, segundo comandante, e o capitão Curto, comandante, (do curso um ano mais velho do que o meu), passámos semanas a organizar a companhia.

(…) Comecei em Fulacunda como Tenente na Companhia 164 [, deve ser  153, e não 164], comandada pelo capitão Curto. Passados dois meses, fui promovido a capitão e segui para Bissau como comandante de uma Companhia de nativos. Daí passei para Nova Lamego (Gabu), como comandante de uma Companhia mista de nativos e tropas brancas. Nos últimos 6 meses estive em Bedanda como comandante da 4ª CCaç  [, Indígena, mais tarde, CCAÇ 6].  Foi nessa altura que as coisas começaram a aquecer de verdade" (...)
_____________


(...) De acordo com as coordenadas do GPS do Nuno Rubim (...), tiradas no centro da clareira onde decorreu a cerimónia, este sítio fica a 11º 12' 46" N - 15º 03' 10" W, ou seja, à esquerda da picada que vai de Iemberém para Cadique (a oeste) e Cabedu (a sudoeste), nas proximidades de Madina do Cantanhez, entre Iemberém e Cachamba Sosso... Uma das linhas de fuga do acampamento, que ficava numa pequena elevação, ia dar directamente ao Rio Bomane, afluente do Rio Chaquebante, este por sua vez afluente do Rio Cacine, desaguando justamente frente a Cacine, perto de Cananime (onde iremos almoçar nesse domingo).(...)


(***) Vd. postes de:

11 de janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3724: História de Vida (13): 2ª Parte do Diário do Cmdt da 4ª CCaç (Fulacunda, N. Lamego, Bedanda): Abril de 1963 (George Freire)

10 de janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3717: História de Vida (12): Completamento de dados (George Freire)

29 de dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ª CCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda). Maio 1961/Maio 1963)

12 de janeiro de  2009 > Guiné 63/74 - P3726: Em busca de... (61): O Capitão Curto, que esteve no cerco de Darsalame, em 1962

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18533: (D)outro lado do combate (27): A mobilidade das populações por efeito da guerra: o caso de Quitafine, com 41 tabancas que foram riscadas do mapa (ou cuja população foi deslocada), segundo relatório de cabo-verdiano, comissário político, José Araújo (1933-1992), casado com a Amélia Araújo, a nossa "Maria Turra" (Jorge Araújo)


Citação: Mikko Pyhälä (1970-1971), "José Araújo e Nino Vieira" [dois cérebros da guerra, sendo o primeiro, cabo-verdiano, com formação universitária portuguesa], CasaComum.org, Disponível HTTP: http://www.casacomum.org/cc/ visualizador?pasta=11025.008.026 (2018-4-13) [ Fonte:  Fundação Mário Soares > Casa Comum >Arquivo Amilcar Cabral...com a devida vénia]



O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494  
(Xime-Mansambo, 1972/1974).


Mensagem do nosso editor, Jorge Araújo, com data de 13 do corrente:

Caro Luís, boa tarde.

Perdi a cabeça... numa 6.ª feira, treze.

Fiz mais um texto... deixando para trás outros mais antigos... é a vida!

No final do documento coloquei mais três fotos para, caso entendas escolher alguma, ou todas, as poderes utilizar.

Até breve. Bom fim-de-semana.


Ab. Jorge Araújo.

GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > A FISIONOMIA HUMANA NO SECTOR DE QUITAFINE [FRENTE SUL] APRESENTADA POR JOSÉ ARAÚJO À DIRECÇÃO DO PAIGC EM RELATÓRIO DATADO DE 16OUT1971: A MOBILIDADE DAS POPULAÇÕES POR EFEITO DA GUERRA 


1.  INTRODUÇÃO



Porque tudo na vida é processo e projecto, conceitos que se reformulam na dialética "ordem / desordem" para dar lugar a uma nova "ordem", apresento hoje no fórum mais um tema novo, se a memória e a investigação não me atraiçoam, este relacionado com a "mobilidade das populações da Guiné, do nosso tempo, por efeito da guerra". (*)

É que, de facto, o comportamento psicossocial das populações no início do conflito ficou marcado, ou foi influenciado, inexoravelmente, pela sucessão de acontecimentos, que deram lugar a uma inevitável "desordem" social e étnica, alguns ainda antes do 23 de janeiro de 1963, com o ataque ao quartel de Tite, localizado na região de Quínara, e que depois se alargaram cumulativamente a todo o território.

A oportunidade desta apresentação, a meu ver, enquadra-se nas imagens que o nosso camarada tertuliano, o ex-alf mil inf Luís Mourato Oliveira,  tem vindo a partilhar neste espaço colectivo que é a «Tabanca Grande», e que estiveram guardadas durante mais de quatro décadas no seu baú de memórias. (**)

Por isso é justo e oportuno agradecer-lhe essa disponibilidade e atenção, ele que ficou também na história da guerra por ter sido, em função dos acontecimentos do "25 de Abril", o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74) antes da proclamação da independência da Guiné, declarada em 23 de Setembro de 1974.

Por outro lado, as últimas imagens postadas nos P18504 e P18517, tendo por pano de fundo a delegação do PAIGC que visitou Missirá em julho de 1974 no âmbito dos acordos de cessar-fogo, e com as quais se fecharia o ciclo temporal deste conflito armado, que uns chama(ra)m «guerra do ultramar», outros "guerra de África", outros "guerra colonial"  e outros  ainda  «guerra de libertação», conforme a sua posição no cosmo, continuam a suscitar novas reflexões, sinal que se mantêm bem vivas, em cada um de nós, algumas das memórias gravadas ao longo das múltiplas vivências desses tempos ultramarinos, independentemente do lugar, época e contexto.

Porque nos postes acima se referem as imagens de alguns dos actos finais ocorridos na mata do interior do território (Missirá, sector L1, região de Bafatá. zona leste, "chão fula"...), proponho voltar ao início do conflito, apresentando um pedaço da "geografia social e étnica" dessa época, em particular da região da Frente Sul [, segundo o dispositivo do PAIGC], especificamente do Sector de Quitafine, por onde tenho "circulado" nos últimos tempos (entenda-se, em termos de investigado), de modo a fazer-se a ponte temporal de mais de uma década.

Em função do exposto, é difícil não concordar que a mobilidade das populações, por efeito da guerra, foi uma realidade, obrigando-as a tomar opções concretas no imediato, cujas decisões só tinham três hipóteses principais: a primeira, ficando sob o controlo da "ordem instalada" (a administração portuguesa); a segunda, transitando para além das fronteiras (exterior); e a última, aceitar fazer parte do universo da guerrilha nacionalista.

Para a elaboração deste trabalho socorri-me, uma vez mais, de um documento existente nos arquivos de Amílcar Cabral (1924-1973), disponível na Casa Comum – Fundação Mário Soares, intitulado «Relatório sobre o Sector de Kitáfine», assinado por José Araújo, Comissário Político e Produção para a Frente Sul, datado de 16 de Outubro de 1971, com trinta e nove páginas (sitio: hdl.handle.net/11002/fms_dc_40058).





Folha de rosto e introdução do relatório do José Araújo, "O Sector de Kétafinme" (sic), datilografado, 39 páginas, datado de 16 de outubro de 1971, e feito na base de Kandiafara (Guiné-Conacri). Fomte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral (com a devida vénia...)


Quanto ao perfil de José Araújo, de seu nome completo José Eduardo de Figueiredo Araújo (1933-1992), à data do relatório, ele era também membro do Conselho Superior da Luta e do Comité Executivo da Luta. 

À laia de resenha biográfica, acrescente-se que este dirigente do PAIGC nasceu em 1933 na cidade da Praia, ilha de Santiago, em Cabo Verde, foi aí que fez os seus estudos primários. Em 1942, com apenas 9 anos, seguiu com a família para Angola, uma vez que o seu pai era funcionário da Fazenda (Finanças). Com uma bolsa de estudos atribuída pelos Correios de Angola, José Araújo desloca-se para Lisboa com o objectivo de realizar os seus estudos universitários na Faculdade de Direito de Lisboa, onde, em 1961, concluiu a sua licenciatura em Direito. 

Porém, no ano anterior tinha-se tornado militante do MPLA na clandestinidade, depois de ter-se envolvido numa intensa actividade associativa universitária. Em 1961 faz parte do grupo de africanos,  universitários, que decidem fugir para França. Seguiu-se depois o Gana. Após ter militado no MPLA, associa-se ao PAIGC, vindo a instalar-se em Conacri, com a sua família, dois anos depois, em 1963.

Com a independência da Guiné-Bissau, as suas novas funções políticas foram desenvolvidas como ministro do Secretariado. Entre 1975 e 1980, foi ministro sem pasta. Após essa data transferiu-se para Cabo Verde, onde desempenhou as mais elevadas responsabilidades políticas no novo contexto, em particular o cargo de ministro da Educação. Viria a falecer na sua terra natal, exactamente dezanove anos depois do assassinato de Amílcar Cabral, em 20 de Janeiro de 1992 (Fonte: adapt. de pascal.iseg.utl.pt/~cesa/images/files/ diaspora2016_texto4.pdf).

À data da sua morte era casado com Amélia Araújo, a locutora da "Rádio Libertação", conhecida entre nós como "Maria Turra"  (vidé P15434).


2. A MOBILIDADE DAS POPULAÇÕES NO SECTOR DE QUITAFINE POR EFEITO DA GUERRA – 41 TABANCAS DESAPARECIDAS


A propósito do conteúdo do "relatório" elaborado por José Araújo, este refere que ele tem por base a sua missão ao Sector de Quitafine [, Kétafine, sic, como vem grafado no relatório], realizada entre 14 de setembro e 8 de outubro de 1971. Aí teve a oportunidade de contactar com todos os responsáveis desse sector, incluindo a visita a duas bases do Exército (em Comissorã e em Cabonelo), ao Hospital (em Campo, ou Campum, no relatório) e ao Posto Civil (em Cassacá), local histórico para o PAIGC, pois foi aí que realizou o seu 1.º Congresso, que decorreu entre 13 e 16 de fevereiro de 1964.

Acrescenta que o Sector de Quitafine foi dos primeiros em que se fez a mobilização e se instalou a luta armada. Foi aí, no mato de Campo, que, dizem os pioneiros, nasceu a primeira "barraca" [acampamento] do partido no Sul, ainda antes da guerra.



Guiné > Região de Tombali > Carta de Cacine (1960) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Cassacá, a 15 km a sul de Cacine, região também como conhecida como Quitafine (falta-nos  a carta de Cassumba, com a ponta sul de Quitafine, que não está "on line"... Ver também carta de Cacoca.)

Fonte: Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)

"A situação criada à aviação inimiga [NT] com a instalação de antiaéreas em Quitafine e as pesadas derrotas que sofreu na sua tentativa de recuperação dessas armas, talvez expliquem a sanha com que se dedicou à destruição de tudo quanto via mexer em Quitafine, nos anos 68 e 69. A partir de 69 (fins), Quitafine começou a "arrefecer". […]

"É preciso ter-se em conta este passado para se compreender muito da actual fisionomia de Quitafine e os seus problemas. Quitafine, que era das áreas mais povoadas do Sul, só tem hoje [1971] 12 tabancas, organizadas em 9 comités. Repare-se que aquilo a que hoje se chama Tabancas e a que se dão nomes antigos, pouco tem a ver com as antigas tabancas. As populações, que conservaram os nomes das suas antigas tabancas, estão dispersas nos tarrafos e num ou noutro mato mais favorável. 

Além disso, grande parte (se não a maioria) da população das tabancas antigas ainda "presentes" dispersou-se pelas tabancas fronteiriças da República da Guiné, quando não foi juntar-se aos tugas. Penso também que alguns erros cometidos no trabalho político inicial devem explicar a actual fisionomia humana de Quitafine" (op. cit., pp 2/3).


No Relatório estão identificados os nomes de quarenta e uma Tabancas que deixaram de existir na região de Quitafine, e que serão referidas abaixo.

A organização da sua apresentação contém alterações em relação à original. Como metodologia seleccionada, optámos pela ordenação alfabética para melhor localização da ordem estabelecida. Quanto ao conteúdo textual, existem algumas (pequenas) correcções, particularmente no que concerne à construção semântica e unificação da descrição, mas que não alteram o sentido apresentado.

Eis, então, os nomes da Tabancas desaparecidas por efeito da guerra no Sector de Quitafine (n=41)

● BANERE –> Tabanca de Fulas. Retiraram-se para CAMABANGA e SATENIA, na República da Guiné. O chefe – Mamassalu – encontra-se na segunda destas tabancas.

● BIRCAMA –> Tabanca de Beafadas. Foram todos para os tugas.

● CABOBAR –> Tabanca de Nalús, pequena. Uma morança só. Toda a gente retirou-se para GÃ BIT FONE, CARAQUE e BISSAMAIA, na República da Guiné.

● CABOXANQUE –> Tabanca de Fulas. Foram todos para a República da Guiné, tendo-se instalado em várias tabancas, em especial na de CUN-HA e CAMABANGA. [Não confundir eventualmente com Caboxanque, no Cantanhez, na oputra margem do Rio Cacine]

● CABOXANQUEZINHO –> Tabanca de Fulas e Tandas. Os tandas espalharam-se na República da Guiné, longe da fronteira. Os Fulas foram para os tugas, à excepção de duas pessoas (Beila  Baldé e a irmã), que foram para CALAFIMETE, na República da Guiné.

● CABOMA –> Tabanca de Sossos. Só duas pessoas foram para os tugas. O resto juntou-se à população de CAMISSORÃ.

● CABONEPO –> Tabanca de Sossos e Beafadas. Havia também um cabo-verdiano de nome Leão Gabriel. O caboverdiano foi para Dacar (ao que parece). O resto foi para CARATCHE, GAFARANDE e CABACO, na República da Guiné. Só ficou um Homem Grande, de nome Idrissa Keita, que se instalou no mato, em CASSACÁ.

● CACAFAL –> Tabanca de Nalús. Toda a gente foi para os tugas, à excepção do camarada Ansumane Djassi, do Exército, que está em FULA MORI.

CACOCA –> Tabanca de Sosso, Nalús, Bagas, Fulas e Lândumas. Só se retirou uma família (Canforseco Keita), que está em CAPOQUENE. O resto ficou com os tugas.

● CADUCÓ –> Tabanca essencialmente de Nalús. Foram para a fronteira, tendo-se instalado em CAN-HOR, uma parte, e a outra em CATCHIQUE.

● CAIANQUE –> Tabanca de Nalús. Refugiaram-se em CAMAÇO e CATCHIQUE, na República da Guiné,

● CAIÂNTICO –> Tabanca de Beafadas. Foi gente para os tugas e o resto para HAMDALAYE e CABUM-ANE, na República da Guiné.

● CALAQUE –> Tabanca de Sossos, Fulas, Manjacos e Lândumas. À excepção de duas moranças de Manjacos, toda a gente retirou-se para tabancas fronteiriças da República da Guiné. As duas moranças de Manjacos instalaram-se no mato de CALAQUE.

● CAMBAQUE –> Tabanca de Nalús. A maioria da população foi para os tugas. Alguns elementos foram para CASSAMA e CARAQUE, na República da Guiné. 

● CAMBEQUE –> Tabanca de Nalús. Retirou para BAKILONTON E IAMAN, na República da Guiné. Alguns foram depois daí para os tugas.

● CAMBRAZ –> Tabanca de Mandingas. Toda a população juntou-se aos tugas.

CAMECONDE –> Tabanca de Nalús. Só retiraram duas famílias (Almani Keita e Braima XCamaré), que estão em CASSANSSANE, na República da Guiné. O resto ficou com os tugas.

● CAMISSORÃ –> Tabanca de Sossos, Nalús, Mandingas, Beafadas e Fulas. Os Fulas foram todos para a República da Guiné. Houve também gente de outras tribos que se refugiou. Ficou pouca gente, que se refugiou nos tarrafos de CAMPUM [ou Campo], e que tem o seu comité.

● CAMPEANE –> Tabanca de Nalús e Sossos, essencialmente. Refugiaram-se igualmente em CAIETCHE e CATCHIQUE.

● CAMPEREMO –> Tabanca de Nalús e Beafadas. Uma morança de beafadas está em Hamdalaye. Uma outra (Mamadu Dabo) está para os lados de CANELAS. Duas famílias estão em CARATCHE (Ansumane Dabo e Tomás Dabo). O resto foi para os tugas.

● CAMPO –> Tabanca de Fulas. Retiraram-se para CASSEMAQUE, BAGADAYE, e outras, na República da Guiné.

● CANDEMPANE –> Tabanca de Nalús. Só ficou o camarada Ansumane Dabo, que é actualmente instrutor das FAL no sector. O resto foi para os tugas.

● CANFEFE –> Tabanca de Sossos e Nalús. Retiraram-se todos para tabancas da República da Guiné.

● CANTEDE –> Tabanca de Nalús. Toda a população juntou-se aos tugas.

● CANTOMBOM –> Tabanca de Nalús. Foram todos para os tugas.

● CARIMPIM –> Tabanca de Nalús. Toda a população refugiou-se em CARATCHE.

● CASSENTEM –> Tabanca de Nalús e Balantas. Os Nalús foram para CALAFIMET e CAMAÇO, na República da Guiné. Os Balantas mantiveram-se no interior, tendo-se instalado nos tarrafos de TAFORE e CASSEBETCHE.

● CASSOME –> Tabanca de Nalús. Instalaram-se em CARAQUE, na República da Guiné.

● CATONAIE –> Tabanca de Nalús. Foram todos para os tugas.

● CATRIFO –> Tabanca de Nalus. Toda a população foi para os tugas, à excepção da família Ali Keita, que retirou-se para MAMADIA, na República da Guiné.

● CATUNAIE –> Tabanca de Nalús. Ficou uma família (Abdu Camará) nos tarrafos de CASSEBETCHE. O resto refugiou-se em CASSEMAQUE, na República da Guiné.

● CATUNGO –> Tabanca de Nalús. Foram todos para os tugas, à excepção de uma mulher, Mama Camará que está em CARATCHE, na República da Guiné.

● CAULACA –> Tabanca de Sossos e Nalús. Dessa tabanca, que se tinha retirado para a fronteira com a República da Guiné, toda a gente voltou para dentro. Estão instalados nos matos de CASSACÁ.

● CUGUMA –> Tabanca de Nalús. Foram todos para CACINE.

● CUNFA –> Tabanca de Nalús. Toda a tabanca foi para os tugas, à excepção de uma família (Amadu Dabo), que retirou-se para IAMANE, na República da Guiné.

● DÉBIA –> Tabanca de Nalús. Alguns elementos refugiaram-se em TANENE e IAMANE, outros foram para os tugas.

● MANSABATÚ –> Tabanca de Nalús. Foram todos para os tugas, só tendo ficado uma pessoa – um camarada, o enfermeiro do bigrupo em missão na área, de nome Mamadu Keita, mais conhecido por Tam Atna. [Este bigrupo tinha como Cmdt Cinur N'Tchir, natural de Cafine, onde nasceu em 1943. Actuava na Frente «Buba – Quitafine»[

SANCONHÁ –> Tabanca de Beafadas. Foram poucos para os tugas, os outros estão para os lados de SANSALÉ, na República da Guiné.

● TADI –> Tabanca de Nalús. Toda a população refugiou-se em CARATCHE.

● TARCURÉ –> Tabanca de Nalús. Foram todos para os tugas.

● TUBANDI –> Tabanca de Djacancas [um subgrupo da etnia Mandinga]. Retirou para CAPOQUENE e N'DJAILÁ, na República da Guiné.

Será que alguém ouviu falar ou esteve em alguma destas tabancas? [Há referências no nosso blogue a algumas destas tabancas, não fiz unma pesquisa exaustiva.]

Aguardo. Obrigado pela atenção.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
13ABR2018.



Citação: (s.d.), "Tabanca no interior da Guiné, ao fundo distinguem-se mulheres cozinhando", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_ dc_43022 (2018-4-13) (com a devida vénia).



Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC numa tabanca", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43109 (2018-4-13) (com a devida vénia).

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Notas do editor:


(**) Vd. poste de 12 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18517: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (27): Visita de uma delegação do PAIGC a Missirá, em julho de 1974, no âmbito dos acordos de cessar-fogo - Parte II: Dando uma oportunidade à paz, depois de oito anos de guerra: os últimos dias dos bravos do pelotão

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17449: Notas de leitura (966): Anuário da Província da Guiné, ano de 1925 - Um documento histórico incontornável (2) (Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,
Que ninguém espere encontrar aqui uma caraterização das etnias guineenses com o rigor antropológico e etnológico. Tudo aqui é observação de quem pensa que está a falar de primitivos, gente que precisa de ser civilizada, aculturada. Não que falte algum rigor em certas apreciações, mas neste documento o autor não esconde que fala de civilizado para indígena, os pobres coitados têm costumes bizarros, a cultura do branco ainda não os moldou para a cidadania. Só décadas depois é que o olhar do cientista se despiu de preconceitos raciais.

Um abraço do
Mário


Um documento histórico incontornável: Anuário da Província da Guiné, ano de 1925 (2)(*)

Beja Santos

Estes anuários tinham a apresentação de um mostruário do território, dos seus transportes, da natureza da sua administração, fazia-se uma incursão pela cidades e vilas e depois passava-se para as atividades económicas, neste tempo ainda se falava pouco do turismo mas fazia-se sempre menção da fauna e flora, eram requisitos obrigatórios do feitiço africano; e por último, mostrava-se um pouco da história da pacificação e referiam-se os usos e costumes dos indígenas.

Deixei exatamente para este texto a descrição do anuário sobre as etnias existentes na Guiné. Não se perca de vista estamos em 1925 e a antropologia e a etnologia ainda não são consideradas ciências. De acordo com o anuário, na Guiné Portuguesa o tipo de raça dominante é o negro e o negroide e o hamita cruzado. Segue-se um pálido resumo dessas raças, os usos e costumes e o autor adverte que não há intuitos “de que nos tomem por senhores doutores no assunto”.

Fulas – a sua índole é boa, se bem que de feitio concentrado. Pouco robustos em geral, são bastante atreitos a doenças. Quase todos praticam a tatuagem, nos lábios, as mulheres e os homens no rosto. Devido a esta prática absurda, acontece vermos tipos de mulheres verdadeiramente cativantes, prejudicados em absoluto pela deformação dos beiços. O Fula usa lavar-se, mas nem todos empregam o sabão, por ser crença entre eles que tal emprego faz diminuir a virilidade. São supersticiosos à sua maneira. Logo que lhes morre um filho ou parente mudam em regra de povoação, transportando para longe os seus penates. Têm a vaidade de que são grandes progenitores.

Mandingas – têm boa índole, são alegres, expansivos, hospitaleiros e obedientes. São atraídos pelo comércio e a agricultura. Têm duas castas: a dos ferreiros e a dos sapateiros, não podem juntar-se com castas diferentes. Têm os Mandingas também a sua autoridade religiosa que denominam almarne (penso que o autor confundiu, a palavra própria é almani). Ele é ao mesmo tempo conselheiro político, goza de muito prestígio. É curioso como se transmitem entre eles as heranças: por morte do pai herdam os irmãos, começando pelo mais novo que tenha família. Os filhos e as mulheres fazem parte do legado, e neste caso elas ficam sendo pertença do herdeiro. Quando este tem mulheres a mais, a mulher herdada pode passar para o outro irmão, desde que ela concorde, e dividem-se os filhos entre os irmãos.

Felupes – são bem constituídos, robustos, musculados, sadios e resistentes. Quando novos e solteiros, usam várias contas nas pernas e diversas penas na cabeça. Quanto a trabalhar, não se matam muito, apenas produzem o suficiente para comer e pagar o seu imposto. Só depois dos 20 anos é que se casam e não se divorciam, separam-se do modo mais simples quando não se dão bem. Crêem em Deus e nos espíritos malignos.

Papéis – são muito vivos e espertos, musculosos e resistentes. Quase todos de caráter concentrado. Têm um costume interessante: deformar os dentes, tornando-os pontiagudos. Exímios montadores de bois ou de vacas, é costume passarem nos caminhos a trote, ou a galope. No que respeita a bebidas, apreciam o álcool e o vinho de palma. As raparigas Papéis, logo que nascem são pedidas em casamento por qualquer homem, que desde logo tem que auxiliar o pai dando-lhe aguardente e trabalhando na sua lavoura. Uma vez chegadas à idade 10 ou 12 anos, vão as raparigas para casa das mães dos seus futuros maridos e só se juntam com estes depois de atingida a puberdade.

Manjacos – são considerados como uma divisão dos Papéis, com que se assemelham fisicamente e até pelos costumes. Náuticos por temperamento, são os que mais contingente fornecem para o pessoal de embarcações. A mulher Manjaca é ordinariamente esbelta e agradável. Adora os lenços de cores vivas e ornamenta-se, como os ídolos, de bizarros colares de pontas e manilas. Os Manjacos constituem uma população densa e obedecem aos régulos, que são senhores absolutos.

Banhuns (Brames ou Mancanhas) – não crêem na alma, nem sabem o que isso seja, mas acreditam na transmigração. Há Banhuns que se caracterizam pelas horas mortas da noite em hienas e onças para exercerem pequenas vinganças. Para os Banhuns, a mulher não é bem um ser, um farrapo desprezível, sem vontade própria, que eles negoceiam como negociariam a vaca ou uma cabra. Reconhecem que precisam dela mas não se lhe dedicam. Por este facto estão sempre prontos a tê-la em casa e a recebê-la, mesmo que saibam que os filhos que ela lhes traz não lhes pertencem. Ela lavra a mancarra, corta o chabéu (cacho de coconote), lavra o milhinho, que é uma espécie de alpista ou painço; ela prepara os terrenos, sacha e monda as culturas, colhe a mancarra e quebra o coconote.

Balantas – as suas crianças, mal nascem, são lavadas e podem chorar à vontade. Hão de esperar que as mães tenham leite. Se estas morrem em resultado do parto, ou mesmo muitos meses depois, os filhos têm também de morrer por não haver quem os amamente. Quando nascem gémeos, um é abandonado junto de qualquer montículo de bagabaga e lá morre, tomando a mãe conta do outro. Aos mancebos (blufos) tudo é permitido. Praticam a circuncisão, para eles a maior festa. Escolhem as mulheres com que hão de casar. A mulher Balanta, é em geral, infiel ao marido, o que não admira, visto este normalmente ser muito mais velho do que ela. Há entre eles um costume muito curioso: se duas famílias são inimigas, fazem as pazes trocando os filhos em casamentos.

Beafadas – são uns verdadeiros amorosos de batuques. É a mulher que trabalha; é ela que trata da apanha dos produtos, ela que põe em fio o algodão, ela que o tinge, enquanto homem descansa à sombra da árvore.

Cassangas – são considerados uma espécie de Beafadas, havendo quem neles encontrasse muitas semelhanças.

Nalus – atingindo a idade de 18 anos, podem casar e terão tantas mulheres quantas forem as irmãs que tiverem. Praticam a circuncisão. As mulheres são consideradas, em geral, como escravas, não havendo nenhum cuidado com elas quando estão grávidas, chegando até a ser espancadas pelos maridos. Entre os Nalus herdam os filhos, e na falta destes, os sobrinhos.

Bijagós – são os únicos indígenas que não praticam a circuncisão. Untam os corpos com azeite de palma e, nas ocasiões das festas, juntam a este um barro branco. São bons nadadores. Alimentam-se de macacos, ratos, jibóias, cães ou outros bichos domésticos. As suas casas, em regra, são caiadas com barro branco. Algumas têm vários desenhos informes, feitos com barro vermelho e amarelo ou com uma tinta preta. Crêem todos numa entidade suprema.

E o artigo termina assim: acrescentaremos agora que, a par do Balanta, é talvez o Fula o mais corajoso na investida, de uma intrepidez mais calma.


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Nota do editor

(*) Poste anterior de 5 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17433: Notas de leitura (964): Anuário da Província da Guiné, ano de 1925 - Um documento histórico incontornável (1) (Beja Santos)

Último poste da série de 6 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17437: Notas de leitura (965): Guiné: um rio de memórias, "alegres e doridas"... Porque regressar é preciso: "costuma(-se) dizer que tem mais dores aquele que nunca regressa completamente"... E quem o reafirma é o Luís Branquinho Crespo, que lá voltou quarenta e tal anos depois...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15736: Álbum fotográfico de António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494 e CART 3567 (3): Arte guineense

1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74), com data de 31 de Janeiro de 2016, com algumas fotos sobre a arte da Guiné para o seu Álbum fotográfico:

As esculturas que se seguem foram feitas pelo artesão Mussé (não lhe conheço mais nomes) era nalú e trabalhava à beira-rio, sentado no chão.
O Capitão da Companhia anterior (Sá Nunes) "deu-lhe" um miúdo para que ele o ensinasse e a arte não se perdesse. O Mussé era teimoso e não deixava o miúdo praticar.

Creio que este tipo de arte se perdeu, embora ande por ai, em diversos desenhos um iran - Karamanchol - parecido com um outro que apresentarei, mas mais trabalhado. O Mussé usava um gorro à fula e metia o cachimbo sob o gorro, deixando apenas o fornilho de fora.

As três primeiras são uma Banda que se coloca na cabeça do bailarino apoiada naquela ranhura que está em baixo. O bico mais afiado fica para frente.

As outras duas dizem respeito a outro adorno de dança que chama, se não erro, Lumbé.

A madeira usada era clara, fibrosa e não muito dura. Não sei de que árvore provinha. Não sei em que danças eras utilizadas, pois nunca as vi em uso.






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CIRANS

Julgo que é arte fula, pois foi um soldado fula - o Aliu Embaló - Atirador em 1968 e Campanha, obús 14 / 11,4 em 1971, que mos deu. Tinha nesta altura duas mulheres - a Aminata e a Umu - uma por amor e outra por dever social, dada a estirpe a que pertencia, Vestiam sempre de igual (até o chapéu de sol/chuva), e já havia duas filhas - a Jénabu e a Salimato - uma de cada mulher. Em 1972 nasceu o António Zé que tem este nome em homenagem ao nosso arfero/capitão; este vosso criado.

Este ciran foi construído para oferecer ao meu cunhado Pedro, então com dois anos.

Este ciran, com asa, é para adulto e parece-me mais autêntico.


Um Abraço
António J. P. Costa
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15681: Álbum fotográfico de António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494 e CART 3567 (2): Arte guineense

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15503: Notas de leitura (789): “Esculturas e objetos decorados da Guiné Portuguesa no Museu de Etnologia do Ultramar”, Edição da Junta de Investigações do Ultramar, 1971 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Fevereiro de 2015:

Queridos amigos,
Recordam-se certamente das esculturas, panos e artigos de couro que se vendiam no mercado de Bandim e imediações, isto no caso de Bissau. Havia o ourives de Bafatá e seguramente outros em diferentes localidades. Os colecionadores e os museus disputam objetos escultóricos dos Bijagós e dos Nalus.
Numa visita que fiz ao Museu Metropolitano de Nova Iorque, nas salas reservadas à arte africana li um documentário de um Rockfeller que andara pela África Ocidental e que deixara escrita a sua apreciação sobre a escultura Nalu, considerou-a a mais genial de todas. Foi uma opinião, mas há que reconhecer que nestas esculturas vibra a inspiração e muitos séculos de artífices espantosos.
Fica aqui uma oportunidade para rever imagens dessa opulência.

Um abraço do
Mário


Esculturas e objetos decorados da Guiné Portuguesa

Beja Santos

Fernando Galhano é um nome importante na etnologia e etnografia guineense a par de António Carreira e Rogado Quintino, no período colonial. Este seu trabalho “Esculturas e objetos decorados da Guiné Portuguesa no Museu de Etnologia do Ultramar”, Edição da Junta de Investigações do Ultramar, 1971, atesta o esmero e o rigor do seu trabalho. Concentra-se essencialmente na arte Bijagó e Nalu porque foram sempre aquelas que deram provas de maior originalidade e criatividade.

Apesar dos seus particularismos culturais, os Bijagós dão provas de uma unidade cultural verificada há séculos. São dotados de uma exuberante fantasia. As suas esculturas são cobiçadas por colecionadores e museus de todo o mundo, ávidos por estas máscaras de pelicano e de hipopótamo que revelam um espírito muito livre e aberto. Estas máscaras de animais que podem ser uma cabeça de boi ou a cabeça de um peixe-serra, de um búfalo, as máscaras que representam cabeças de tubarão ou de porco, adornadas de fitas, tranças, ranjas, borlas e adornos são muitas vezes peças excecionais.

Escreve Fernando Galhano: “O boi, o tubarão e o tubarão-martelo, e também o hipopótamo, em corpo inteiro ou apenas numa das suas partes – cabeça ou barbatanas – entram com grande frequência na composição de vários objetos rituais e de uso corrente. Pegas de tampas, cabos de colheres, os bastões dos iniciados, certos chapéus de dança, são em muitos casos enriquecidos com figuras daqueles animais. É nos adornos de dança – de cabeça, costa e braços – que a fantasia deste povo mais francamente revela a sua exuberância e a sua liberdade de escolha de motivos”. O autor faz larga referência a outros elementos escultóricos que aparecem em colheres, taças, cabaças, fechaduras, bancos e machados cerimoniais, lanças-bastões e para demoradamente nas máscaras e adornos de cabeça para dança.

Vejamos alguns desenhos por ele apresentados, quanto à arte Bijagó.

Figura cultual, Ilha de Caraxe, Bijagó


Adorno de costas para dança do peixe-verga Ilha Formosa, Bijagó 

A cultura Nalu é muito antiga. Deslocados em tempos recuados, pela expansão do império Mandinga, da região do curso superior do Niger em que habitava, os Nalus já ocupavam no século XV, à data da chegada dos portugueses o território onde hoje se encontra. A sua cultura foi fortemente influenciada pela dos Bagas, outro povo que devido à pressão dos Mandingas foi forçado a tomar o caminho do litoral. A expressão mais conhecida e procurada pelos colecionadores é o Nhinte-kamachol, a representação da cabeça de uma ave, e a estilização da ave, na qual aparecem também traços de um rosto humano. Segundo os estudiosos esta ave será o pelicano, tida por ave mítica. E Fernando Galhano adianta: “O Nhinte-kamachol estava presente em todas as cerimónias relacionadas com a Simô, e presidia aos ritos da iniciação à puberdade dos rapazes. Nessa ocasião, são metidos chifres de gazela nos orifícios abertos no crânio da escultura entre as cerimónias, o Nhinte-kamachol fica guardado dentro de uma espécie de caixa circular feita de pauzinhos postos a prumo, ligados por duas cintas, do fundo da qual, junto às paredes, se erguem picos de porco-espinho. Mas há também outras máscaras Nalus de grande importância e veneração animista: o ‘Mrime, que dá boa sorte às casas e às colheitas, a máscara Numbé, que guarda a casa e combate os maus feitiços, a máscara Bandá, usada na cabeça dos dançarinos, e a máscara Koni que aprece encarnar os espíritos benfazejos".

Nhinte-kamachol


Fernando Galhano realça também os trabalhos dos Fulas e Mandingas na decoração do couro e no trabalho dos metais. As manifestações do trabalho em couro são as bainhas dos sabres e as almofadas. Os ourives trabalham ouro e a prata, pulseiras, colares, anéis, amuletos, etc. E recorda a bela olaria dos Balantas e dos Manjacos, bem como a panaria Manjaca oriunda dos teares de Cabo Verde. Para terminar, fala-nos dos Sônôs, disputados pelos grandes museus. Segundo o Teixeira da Mota, os Sônôs são constituídos por hastes de ferro de cerca de 1,2 metros de altura, com vários braços laterais terminando em esculturas de bronze, geralmente pequenas cabeças humanas. Eram os símbolos da realeza, sobretudo dos régulos Beafadas e eram também objeto de formas culto animista. O Nhinte-kamachol fascina-me pela singularidade dos perfis e pelo génio da escultura em madeira. São tão importantes para mim que pedi a um dos meus editores para o pôr na capa de um livro em que a minha heroína tinha vivido na Guiné entre os anos 1950 e 1960. Acho que ficou uma beleza
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15486: Notas de leitura (788): “Geração de 70”, por A. Santos Silva, Euedito, 2014 (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14640: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (31): Em busca das minhas raízes nalus / In search of my Nalu family origins (Nigel Davies, historiador britânico, originário da Serra Leoa / British historian, specialising in the study of Sierra Leone Creole people)


1. Mensagem de um nosso  leitor, do Reino Unido, originário da Serra Leoa, Nigel Davies:

From: Nigel Davies

Date: 2015-04-11 16:43 GMT+01:00

Subject: Towl family of Guinea/Guinea-Bissau


Dear Professors Ribeiro, Graca, Vinhal:


I am an independent historian, mainly specialising in the study of the Sierra Leone Creole (Krio), people of Sierra Leone. (*)

I am quite familiar with your eminent work on the history of Africans, and as a historian similarly interested in this area of research, I greatly appreciate your scholarship in this area of study.

I am getting in contact with you because I noticed your blogspot posting on the Towl/Camara family of Victoria in Kafarande, Guinea, Rio Nunez. I noticed your blog spot:


18 de julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3070: Antropologia (6): O povoamento humano da zona do Cantanhez: apontamentos (Carlos Schwarz, Pepito) (*)

  http://blogueforanadaevaotres.blogspot.co.uk/2008/07/guin-6374-p3070-antropologia-6-o.html.


I am a descendant of the Towl family and I have been researching the family history of the Towl or Camara family of the Rio Nunez, a royal family descended from Mandab Camara, a Nalu from Guinea-Bissau, whose son, Tokhoye Tawouli,  settled in the Rio Nunez in 1825 and established the Towl royal family line. 

Tokhoye married Magboya Ratcha, the daughter of a local chief, Mango Ratcha in Guinea. Tokhoye and Magboya Ratcha had a first-born son called Boya Lamina, who was at one time the King of the Nalus until his death and succession (his younger brother Youra Towl succeeded him and then his nephew, Dinah Salifou). 

Boya Lamina had a son called Sekou Tomas, who married a very light-skinned Baga woman called Josephine. This union produced at least five or six children-Sekou Togba, the eldest, Samuel Tomas, Joseph Tomas (d. Congo), Isata Kamara (later Esther Thomas, my second great grandmother), and two other sisters, both of whom also settled in Sierra Leone-and one of them was known as Miriam Priddy. 

Isata Kamara or Esther Thomas, my great grandmother settled in Sierra Leone as a six year old girl and was raised as a Sierra Leone Creole in the Settler Town area of Freetown. Like her Baga mother, she was quite fair, with long hair, and may have had partial Fulani or perhaps European ancestry on her maternal line. She married John William Campbell, a Sierra Leonean and had six children including my late great grandmother, Sarah Rebecca Letitia Campbell, (1908-2009).

There was a document that was held in our family archive, 'Tawoulia or Tawel, Regnante Famille du pays Nalou au Rio Nunez, Perfecture of Boke from 1820 to 1952' published in 1999 by Elhadj Sankoumba Camara. However, my mother threw away this document and I have been trying to regain an original copy ever since. All the photographs on your blog spot are instantly recognizable, as they are derived from that document.

Do you have any contact in Guinea who would be able to get me an original copy of this document? I am willing to pay whatever costs for the item, however I am not presently in contact with my remaining relatives in Guinea and so I don't have any contacts in Guinea who could get me a copy of this precious document.

I attach my curriculum vitae and a copy of the only remaining photograph I have of Boya Lamina, my fourth great grandfather.

I look forward to hearing from you.

Kind regards, Nigel Browne-Davies



Guiné-Conacri > Posição relativa ao Rio Nunez : a nordeste Boké e a sua noroeste Cacine, Guiné-Bissau. Ou Rio do Nuno, em homenagem ao nosso grande navegador Nuno Tristão, mas não é pacífico que ele chegado exatamente à foz deste rio...onde teria encontrado a morte.

Adapt. com a devida vánia do mapa do Google.


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



Foto de Boya Lamina, o primeiro rei dos Nalus  (1837-1840), segundo Nigel Davies... Seria o seu "fourth great grandfather" [, em português, tetravô, ou pai do trisavô ou avô do bisavô...]... No poste do Pepito, esta é a foto de Biya Salifo,esse sim, o primeiro rei (1837-1840), tendo-lhe sucedido o seu irmão Boya Lamina (1840-1857).



Foto de Boya Lamina, 2º rei dos nalus (1840-1857), segundo o Pepito, que cita Camará (1999):

(...) "A principal tentativa, para a criação de um Reino Nalú, remonta aos anos de 1780, na tabanca de Caniop, zona de Boké, na que é hoje a Guiné-Conacri. Tudo começa com o casamento entre Tokhoye e Boya do qual nascem 4 filhos varões, por esta ordem: Salifo, Lamine, Youra e Carimo. Nesta altura todas as tabancas Nalús funcionavam de forma autónoma, não havendo nenhuma autoridade superior que as unisse.

"Com a morte do pai Tokhoye, em 1837, Boya Salifo, o primogénito, assume a liderança de um processo com vista à união de todos os Nalús à volta de uma só autoridade, representada por ele. Para isso contou com o apoio dos outros 3 irmãos que se desdobraram em visitas e contactos a todas as tabancas habitadas por Nalús, especialmente em duas zonas: na baixa do Rio Nuno e entre os rios de Cacine e Tombali. 

"O processo é coroado de sucesso, tendo oReino dos Nalús tido 4 chefes durante toda a sua existência: o primeiro foi Boya Salifo que reinou durante 3 anos, de 1837 a 1840, ano da sua morte; a ele sucedeu-lhe Boya Lamine que chefiou os nalús durante 17 anos, de 1840 a 1857, igualmente ano da sua morte (...).

"Segue-se-lhe, Boya Youra Tawel, o qual reina durante 28 anos, entre 1857 e 1885, tendo dividido o Reino Nalú em quatro províncias: Socoboli, Tonkima, Caniop e Cacine. Em 1860, com as etnias Landumas e Mikiforés a desentenderam-se, Youra começa a conquista de novos territórios para preservar a segurança das suas fronteiras contra as intenções expansionistas do chefe do Futa. Em 1863 dispunha de um grande território e reino. Nomeia então chefes para cada província. Para Cacine foi designado Saiondi, filho de Boya Salifo.

"Com a morte deste último [o Boya Youra,], em 1857 [lapso, deve ser 1885], o primeiro filho de Salifo Boya, Diná Salifo, assume a chefia para um reinado de cinco anos que termina com a sua prisão pela França e respectiva deportação para Saint Louis, no Senegal, onde acaba por falecer em 1897 (...)

A sua prisão prende-se com o seu completo desacordo com a França, decorrente da elaboração da Convenção Franco-Portuguesa de 1886, em que se procede a uma nova delimitação das suas respectivas possessões, na qual a França cedia a Portugal a zona de Cacine por troca com a Casamança" (...) (**)

2. Tradução para português:

De: Nigel Davies

Data: 2015-04-11 16:43 GMT+01:00

Assunto: A família Towl [ou Tawel] da Guiné-Bissau

Caros Professores Ribeiro, Graça, Vinhal,

Sou um historiador independente, particularmente interessado  no estudo do povo crioulo (em inglês, Krio people) da Serra Leoa). (**)

Estou bastante a par do vosso notável trabalho sobre a história dos povos africanos e eu próprio como historiador tenho interesse nesse tópico. Só tenho a agradecer o vosso trabalho académico nesta área de estudo.

Permito-me entrar em  contato com vocês, na sequência do vosso poste  sobre a família Towl / Camara de Victoria,  em Kafarande, Guiné-Conacri, Rio Nunez.  Tomei boa nota do vosso poste no blogue:

18 de julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3070: Antropologia (6): O povoamento humano da zona do Cantanhez: apontamentos (Carlos Schwarz, Pepito) (*)

 http://blogueforanadaevaotres.blogspot.co.uk/2008/07/guin-6374-p3070-antropologia-6-o.html.

Sou descendente da família Towl [ou Tawel] e  tenho feito  pesquisas sobre  a história da família Tawel ou Camará,  do Rio Nunez, uma família real que descende de Mandab Camará, um Nalu da Guiné-Bissau, cujo filho, Tokhoye Tawouli,  se instalou na região do  Rio Nunez em 1825, tendo dado origem ao ramo da família real Tawel.

Tokhoye casou com  Magboya Ratcha,  a filha de um chefe local, Mango Ratcha, da Guiné-Conacri. Tokhoye e Magboya Ratcha tiveram um filho primogénito chamado Boya Lamina, que foi então o primeiro rei dos Nalus, tendo-lhe sucedido, depois da morte, o seu irmão mais novo Youra Tawel e,  em seguida, o seu sobrinho, Dinah Salifu.

Boya Lamina, por sua vez,  teve um filho, chamado Seku Tomas, que se casou com uma mulher, da etnia Baga,  de pele muito clara,  chamada Josephine. Desta união nasceram  pelo menos cinco ou seis filhos: Seku Togba, o mais velho, Samuel Tomas, Joseph Tomas (que norreu no Congo), Isata Kamara (mais tarde Esther Thomas, minha segunda bisavó), e duas outras irmãs, que se estabeleceram, ambas, na Serra Leoa. Uma delas era conhecido como Miriam Priddy.

Isata Kamara (ou Esther Thomas), minha bisavó,  foi para a Serra Leoa, ainda  menina, com seis anos, tendo sido criada como crioula da Serra Leoa na área colonial  da cidade de Freetown.  Tal como a sua mãe, de etnia Baga,  era de pele bastante clara, com cabelos longos, e provavelmente com  uma parte de ascendência  fula ou talvez europeia, do lado materno. Casou-se com John William Campbell, nascido na Serra Leoa, e teve seis filhos, incluindo a minha falecida bisavó, Sarah Rebecca Letitia Campbell (1908-2009).

Havia um documento, guardado no  nosso arquivo de família, 'Tawoulia ou Tawel, Regnante Famille du pays Nalou au Rio Nunez, Préfecture de Boke 1820-1952 ", publicado em 1999 por Elhadj Sankoumba Camara. Infelizmente, a minha mãe deitou  fora este documento. Eu tenho tentado desde então arranjar  uma cópia do original.  Todas as fotografias no vosso blogue  são facilmente reconhecíveis, já que  são extraídas do supracitado documento.

Pergunto-vos se vocês têm  algum  contacto na Guiné-Conacri que me permita  obter uma cópia original desse documento?  Estou disposto a pagar o que se for preciso. No entanto, não tenho atualmente quaisquer contactos com os meus parentes que ficaram na Guiné-Conacri. Enfim, eu não possuo contatos na Guiné-Conacri que me ajudem a  obter uma cópia deste documento precioso.

Anexo o meu "curriculum vitae" (***), bem como  uma  cópia da única fotografia  que tenho de Boya Lamina, meu quarto bisavô.

Estou ansioso para conhecer a vossa resposta

Atenciosamente,

Nigel Browne-Davies



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Setor de Bedanda > Iemberem > Simpósio Internacional de Guileje > Março de 2008 > Visita ao sul > Dois homens grandes da Guiné, o Engº Agrónomo Carlos Schwarz (Pepito, para os amigos) (1949-2014), fundador e director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento e o 'Aladje' Salifo Camará, régulo de Cadique Nalu e Lautchandé, antigo Combatente da Liberdade da Pátria, "o rei dos nalus", então  com 87 anos (morreu em 2011).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.


3. Reply to Mr. Nigel Davies

Welcome to our blog. We are friends of the people of Guinea-Bissau . We are old Portuguese soldiers during the colonial war (1963/74 ) in that  speaking Portuguese African country, Blog editors are not academic people, except myself,  the blog founder,  and university teacher. The document you are looking for  is in French and the source is at Conakry, not Bissau. Unfortunately , our friend Carlos Schwarz, ' Pepito ' ( nickname ) , died suddenly last year. I can give you the contact of his widow,  Mrs . Isabel Levy Ribeiro, who lives in Bissau. He was a close friend of the former king of Nalus, Salifu Camara.

We wish could help you more. But we can maintain this contact. Good luck for you research on the history of your family. Our best greetings. Luís Graça

Resposta a Nigel Davies:

Seja bem-vindo ao nosso blogue . Somos amigos do povo da Guiné-Bissau, antigos combatentes portugueses durante a guerra colonial (1963/74) naquele país africano de língua oficial portuguesa. Os editores não são pessoas acadêmicas , com exceção do fundador, Luis Graça, que é professor unibversitário. O documento que você procura é em francês e a fonte é Conacri, não Bissau. Infelizmente o nosso amigo Carlos Schwarz, mais conmhecido por 'Pepito',  morreu subitamente no ano passado. Posso dar-lhe o contacto da sua viúva, Isabel Levy Ribeiro, que vive em Bissau. Ele era muito amigo do anterior rei dos nalus, Salifu Camará.

Gostaríamos de poder ajudá-lo mais. Podemos manter este contacto. Desejamos-lhe  boa sorte na procura de mais elementos sobre a história da sua família. As nossas melhores saudações. Luís Graça (****).

__________________ .

Notas do editor:

(*) Vd. Wikipédia, a enciclopédia livre > Crioulos da Serra Leoa

(...) Os Crioulos da Serra Leoa ou Krio (também Creo ou crioulo) é uma expressão designada aos não-nativos africanos, uma comunidade de cerca de 200 000 descendentes de escravos libertos das Índias Ocidentais, América do Norte e da Grã-Bretanha.

Os Krio vivem principalmente no leste de Serra Leoa, principalmente na capital, Freetown. A sua língua é a língua krio, falada por cerca de 98% da população do país, apesar de os krio serem uma minoria. (...)


Vd,. também entrada em inglês ou português, na Wikipedia >  Serra LeoaFreetown | Sierra Leone Creole People

(**)  Vd. poste de > 18 de julho de  2008 > Guiné 63/74 - P3070: Antropologia (6): O povoamento humano da zona do Cantanhez: apontamentos (Carlos Schwarz, Pepito)

[2008, 18 july > Guinea 63/74 - P3070: Anthropology (6): Human settlement in the area of Cantanhez: notes (Carlos Schwarz, Pepito)]

(...) Fonte citada pelo autor do artigo, Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito0 (1949-2014):

Elhadj Sankoumba Camará, 1999. Tawoulia ou Tawel, Famille regnante du pays Nalou au Rio Nunez, Préfecture de Boke de 1820 a 1952. Conakry.  [in francês / french]

English title: Tawoulia or Tawel, ruling family of Nalou country at the Rio Nunez, Préfecture of Boke, from 1820 to 1952. Conakry.

(***) Nigel Davies > Abridged CV::

(...) Nationality: British

 (...)  Research Focus

My main focus of research is the study of coastal elites in British West Africa, particularly during the late eighteenth and nineteenth centuries. Although my main focus is on repatriated freemen and ex-slaves in Sierra Leone and Liberia, I have also conducted research on nineteenth century ‘educated Africans’ in Ghana, Nigeria, the Gambia, Fernando Po, Cameroon and Senegal. My research focuses on different aspects including family histories, colonial identity, and the study of mixed race and westernized blacks in West African societies. My aim is to examine these dynamics in order to understand the various similarities among members of the West African coastal elite, and their cultural outlook and similarities with black elites in the Americas and middle-class families in Britain.

Education

BPP University College (Law School), (2013-2014)
Graduate Diploma in Law: Commendation

Queen Mary, University of London, (2010-2013)

BA (Honours) History: high Upper Second Class Honours

(...) Undergraduate Dissertation title: ‘The role of the Sierra Leone Creole people in the Hut Tax War of 1898: Aggressors or Victims?’

Dissertation summary: My dissertation was an examination of the role that the Freetown press and individual Creole traders in the hinterland may have had in exacerbating or inciting indigenous peoples in the Sierra Leone Protectorate to rebel against the colonial government in the 1898 Hut Tax War.

 (...) Editorial work

Journal of Sierra Leone Studies

Position: Member of the Editorial Board

 (...) Krio Descendants Union Historical Journal

Position: Editor and founder

(...) Krio Descendants Union Calendar (2011)

Position: Contributor

- Researched and wrote ‘The Origin of Krio Surnames’

- Article was included in the 2011 Krio Descendants Union Calendar


Published work

Transactions of the Historical Society of Ghana

§ ‘The Brothers Easmon: The emergence of a Nova Scotian medical dynasty in Sierra Leone and the Gold Coast’, Transactions of the Historical Society of Ghana (New Series), Number 16, 2014

Summary: Article outlines the origins of the Easmon medical dynasty in the former British West African colonies of the Gold Coast and Sierra Leone.

Journal of Sierra Leone Studies

§ ‘The role of the Sierra Leone Creole people in the Hut Tax War of 1898: Aggressors or Victims?’, Journal of Sierra Leone Studies, Volume Three, Edition One

Summary: Article outlines the role of the Sierra Leone Creole (Krio) in fomenting the 1898 rebellion in the Protectorate of Sierra Leone and examines whether the Creole were victims or the aggressors in the conflict.

§ ‘A Precis of Sources relating to genealogical research on the Sierra Leone Krio people’, Journal of Sierra Leone Studies, Volume Three, Edition One

Summary: Article provides information on archival records held in the United Kingdom, North America, and Sierra Leone that are pertinent for researching Sierra Leone Krio genealogy.

§ ‘Lieutenant Macormack Charles Farrell Easmon: A Sierra Leonean Officer in the First World War’, Journal of Sierra Leone Studies, Volume Three, Edition Two

Summary: First academic article to examine the history of possibly the only black African commissioned to serve as a British officer in the First World War.

§ ‘The British Library Endangered Archives Programmes 284 and 443: A Short note on the digitisation of records at the Sierra Leone Public Archives’, Journal of Sierra Leone Studies, Volume Three, Edition Two

Summary: Provides an overview of the important work of the British Library Endangered Archives Programmes and outlines records held at the Office of the Registrar-General in Freetown which also require urgent measures for preservation.

§ ‘William Smith, Registrar of the Courts of Mixed Commission: A Photograph of an African Civil Servant in the nineteenth century’, Journal of Sierra Leone Studies, Volume Three, Edition Two

Summary: A biographical sketch of a nineteenth century African civil servant and contains a rare photograph (from a private album) of the subject of the article.

Black History Month Magazine 

‘Nelson Mandela: Freedom Fighter and Trailblazing Father of a Nation’, [Cover article], Black History Month Magazine, October 2014

Summary: Wrote the cover article on the life, legacy, and achievements of Nelson Mandela in South Africa and abroad.

‘Africa’s own Officer in the First World War: Lieutenant Macormack Charles Farrell Easmon’, Black History Month Magazine, October 2014

Summary: Summarises the life story and significance of Macormack Easmon, who was possibly the only black African to serve as a British medical officer in the First World War.

‘The Krios of Sierra Leone: A Unique Heritage linked to Britain and beyond’, Black History Month Magazine [co-authored], [circulated with the Telegraph newspaper], October 2013

Summary: Co-authored an article highlighting the unique culture and heritage of the Sierra Leone Krio people, a small ethnic group in the peninsula of Sierra Leone.

Black History Magazine 

‘The Krios of Sierra Leone: Celebrating their heritage and discoveries’, Black History magazine publication, October 2013 [co-authored]

Summary: Co-authored an article on the discoveries and contributions of Sierra Leone Creole medical doctors to the discovery of sickle cell, Blackwater fever, and the analysis of the breakdown of insulin in the human body.

The Network for Change [Web Article]

‘The Importance of History, Part 1’, The Network For Change, 20 August, 2013

Summary: Outlines the historical importance of Sierra Leone and particularly the need to preserve oral histories and archival records contained at the Sierra Leone Public Archives in Freetown, Sierra Leone. (...)

Presentations:

‘Thomas Peters and the founding of Freetown’, Krio Descendants Union, Southwark City Council and Sickle Cell Society Black History Month event, The Crypt, St. Peter’s Church, 12 October, 2012

Summary: Prepared and researched a presentation given before an audience of 130 people; the presentation received the highest rating as the most interesting aspect of the event based on feedback surveys filled in by the audience.

‘A presentation on Dr. Davidson Nicol’, Krio Descendants Union, Southwark City Council and Sickle Cell Society Black History Month event, The Crypt, St. Peters Church, 12 October, 2012

Summary: Prepared a presentation on Dr. Davidson Nicol, the first scientist to analyse the breakdown of insulin in the human body, before 130 people; the presentation received high ratings in feedback surveys filled in by the audience.

‘Black History in London: The Sierra Leone and Caribbean connection’, Krio Descendants Union, Southwark City Council Black History Month event, The Crypt, St. Peters Church, 11 October, 2013

Summary: Prepared and researched a presentation given by Dr Morgan Dalphinis before an audience at a Southwark Black History Month Event; the presentation received the highest rating of the event based on feedback surveys completed by the audience.

‘An Overview of Krio History, Webinar, Roots to Glory

Summary: Prepared and gave a web presentation on Sierra Leone Krio history to an African American audience who had undertaken DNA tests and had ancestral ties to Sierra Leone.

‘An Overview of Krio History’, Sickle Cell Society, Liverpool Maritime Museum, 4 October, 2014

Summary: Prepared and gave a presentation on the connection between the discovery of sickle cell and Sierra Leone Krio history to an audience at the Liverpool Maritime Museum.

‘Stella Marke and Frances Wright: Pioneer Female Lawyers’, ‘Acknowledging the Legacies of our past generations: Celebrating Early Krios from Sierra Leone’, Krio Descendants Union, Southwark City Council Black History Month event, The Crypt, St. Peters Church, 10 October, 2014

Summary: Prepared presentation on Stella Thomas and Frances Wright, the first West African female lawyers.

‘Samuel Ajayi Crowther’, ‘Acknowledging the Legacies of our past generations: Celebrating Early Krios from Sierra Leone’, Krio Descendants Union, Southwark City Council Black History Month event, The Crypt, St. Peters Church, 10 October, 2014

Summary: Prepared and researched a presentation on Samuel Ajayi, the first African to be consecrated as an Archbishop of the Church of England. Presentation was given before an audience comprised of Sierra Leoneans.

‘Lieutenant M.C.F. Easmon in the First World War’, ‘Acknowledging the Legacies of our past generations: Celebrating Early Krios from Sierra Leone’, Krio Descendants Union, Southwark City Council Black History Month event, The Crypt, St. Peters Church, 10 October, 2014

Summary: Prepared and gave a presentation on Lieutenant Macormack Easmon, a Sierra Leonean who was possibly the only black African to serve as a British officer in the First World War.

‘Adelaide Casely-Hayford: An African nationalist, educationalist, and feminist’, ‘Acknowledging the Legacies of our past generations: Celebrating Early Krios from Sierra Leone’, Krio Descendants Union, Southwark City Council Black History Month event, The Crypt, St. Peters Church, 10 October, 2014, URL: http://youtu.be/ibP7gc_06KY

Summary: Prepared and gave a presentation on Adelaide Casely-Hayford, one of the few Sierra Leoneans to permanently settle in Britain during the late Victorian era.

‘John Henry Smythe: A Sierra Leonean Pilot in the Second World War’, Krio Descendants Union, Southwark City Council Black History Month event, The Crypt, St. Peters Church, 10 October, 2014.

Summary: Prepared and researched a presentation on John Henry Clavell Smythe, a Sierra Leonean pilot in the Second World War who was one of the first West Africans to serve in the Royal Air Force.

‘An Overview of Krio History’, Sickle Cell Society, Black and Asian Workers’ Group, Home Office of the United Kingdom, 16 October, 2014

Summary: Prepared and gave a presentation on the connection between sickle cell and Sierra Leone Krio history before the Black Workers’ Group at the Home Office.

'Black Englishmen': Sierra Leoneans in the British Archives,’ ‘What's Happening in Black British History? A Conversation,’ Institute of Commonwealth Studies, The Chancellor’s Hall, Senate House, London,’ 30 October, 2014

Summary: Researched and gave a presentation on the links between the development of the Sierra Leone Creole community and Black British history.

 (...) Media appearances

Short Documentary Clip

Krio Descendants Union London Luncheon Sale 2013 Highlights, URL: https://www.youtube.com/watch?v=yWRriuLj4Bw

Television 

Africa Wrap with Charles Aniagolu, Arise News Network, 9 October, 2014, URL: http://www.arise.tv/arise-news-show/africa-wrap-09-10-8614.

Summary: Appeared as a historian and member of the Krio Descendants Union to discuss Sierra Leone Creole history and the 2014 Southwark City Council Black History Month event.

Princess of Arize with Princess Deun, Black Entertainment Network, 4 April 2013, URL: http://youtu.be/TGN1D7htkok, URL 2: http://youtu.be/VpzfXgv0-Ys, URL 3: http://youtu.be/ryQEObIdPmo

Summary: Appeared as the lead historian for the Krio Descendants Union delegation.

Blog radio 

‘The Importance of History: Can events and experiences of our past shape our future’, Powordful conversations with Olive Lazure-Guillias, Blog Radio, 9 October, 2013, URL: http://www.blogtalkradio.com/olivegl/2013/10/09/can-events-and-experiences-of-our-past-shape-our-future

Summary: Invited to discuss the importance of history and my research focus on Sierra Leone (...)