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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9340: Memórias do Carlos Marques dos Santos (Mansambo, CART 2339, 1968/69) (3): Um mês a feijão frade, sem banho e sem muda de roupa, em Mondajane (Dulombi, Galomaro), de 27 de Agosto a 27 de Setembro de 1969, a menos de três meses do fim da comissão


Guiné > Zona Leste > Rio Geba > A caminho de Bissau > 1968 >  O Fur Mil Carlos Marques dos Santos, da CART 2339, Mansambo (1968/69), num dos típicos barcos civis de transporte de pessoal e de mercadoria (***), que fazia a ligação Bissau-Bambadinca, e Bambadinca-Bissau, passando pela temível Ponta Varela, na confluência do Rios Geba e Corubal e, a seguir, o assustador Mato Cão, no Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca. Estes barcos (alguns ligados a empresas comerciais, como a Casa Gouveia) tinham, como principal cliente a Intendência militar. Pelo Xime e por Bambadinca passava a alimentação e tudo o mais que era preciso para saciar o "ventre da guerra" da Zona Leste.

Foto: © Carlos Marques dos Santos (2006)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Mais um texto, repescado (*),  do Carlos Marques dos Santos (ex-furriel miliciano da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69):


Dei conta, nas minhas notas pessoais, de que entre 27 de Agosto e 27 de Setembro de 1969, estive com o meu pelotão em reforço  do sector de Galomaro/Dulombi, mais propriamente em Mondajane, sem no entanto haver qualquer nota na História da Companhia. É como se estivesse andado desenfiado...


Talvez na História do BCAÇ 2852 haja referência a esse tempo esquecido, mas vivido por nós, 3.º Grupo de Combate da CART 2339.


A 27 de Agosto foi recebida a notícia de que iríamos para Galomaro, em reforço da CCAÇ 2405.

A 28, saímos e chegámos cerca do meio dia com indicação de que iríamos para Mondajane, a seguir a Dulombi, o que não aconteceu nesse dia mas sim no dia seguinte.


No cruzamento para Dulombi rebenta uma mina na GMC que segue à minha frente (nós íamos apeados, fazendo a segurança à coluna que integrava uma nova Companhia em treino operacional e que era de madeirenses, se não erro, a CCAÇ 2446)  a cerca de 15/20 metros, destruindo a sua frente.


Resultado: um morto (desintegrado) e um ferido (condutor) que faleceu ainda nesse dia. Esta mina rebentou a cerca de 12 metros de mim e felizmente nada sofri. O soldado madeirense, pela acção da mina, desintegrou-se, literalmenet. Bocados desse soldado, o relógio, roupa, etc… ficaram agarrados à árvore.

Impossibilitados de prosseguir fomos para Dulombi com os reabastecimentos. Aí fomos informados que deveríamos seguir a pé para Mondajane [, a sudoeste de Dulombi], que atingimos e onde nos instalámos.

Aí, e enquanto aguardávamos uma coluna com as nossas coisas, sem resultado, aparece-nos um pelotão vindo de Dulombi, carregando parte das nossas coisas, a pé e à cabeça, informando ser necessário termos que ir a Dulombi carregar, a pé e à cabeça, o que aconteceu no dia seguinte.


Dia 1 de Setembro de 1969, fui a Dulombi com 17 carregadores e 2 secções de milícias mais 10 homens do meu pelotão, a pé e por trilhos, buscar coisas que eram absolutamente necessárias, numa zona desconhecida e densamente arborizada, o que aconteceria de 2 em 2 dias.

A população recusa-se a ajudar (a zona era perigosa) e só com a intervenção pela força (ameaçámos queimar a tabanca!), isso é conseguido. Note-se que nestas circunstâncias - falta de géneros e outros bens - repartimos com as populações.

A 5 de Setembro, um nativo mata um portentoso javali e houve carne fresca confeccionada.

A 7, chega um grupo de carregadores de Galomaro, carregando ainda parte das nossas coisas que estavam em Dulombi. Nesse dia o pelotão que aí estava foi rendido.

A 9, nova caminhada para Dulombi para carregar géneros.

Entretanto a 13 um nosso soldado é evacuado por doença e a 15, à tarde, recebemos a visita dos capitães das Companhias 2405 [Galomaro] e 2446.

Dia 19,  novamente ida a Dulombi para reabastecimento. A pé e pela densa mata.


Dia 23, notícia de que iríamos ser rendidos no dia seguinte. Nada.


Dia 24, rendidos finalmente e saída para Bambadinca, pela estrada Bafatá-Bambadinca, com chegada a Mansambo a 27 de Setembro de 1969. Sem incidentes.


Em suma, um mês a feijão frade, sem banho e sem mudar de roupa.


Carlos Marques dos Santos


PS - O alferes do Grupo de Combate da Companhia de Galomaro (CCAÇ 2405) que nos apoiou é meu primo, [o Victor David, um dos "baixinhos  de Dulombi", também natural de Coimbra, e membro da nossa Tabanca Grande desde 2006]. Ainda bem. Para não variar, a 29 de Setembro de 1969, rebentamentos cerca das 07.00h e uma nossa coluna emboscada no sítio do costume. Um morto e um ferido das NT. Ainda faltavam cerca de 2 meses e meio para o regresso [da CART 2339] à Metrópole.
_______________


Notas do editor:


(*) Vd. I Série, poste de 24 Janeiro 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXVI: Um mês a feijão frade... e desenfiado (Mondajane, Dulombi, Galomaro, 1969)


(**) Infelizmente a História do BCAÇ 2852 é omisso sobre este destacamento do Carlos Marques dos Santos e do seu Grupo de Combate. Oficial ou oficiosamente, o CMS andou de facto um mês... desenfiado, sem conhecimento das autoridades máximas do Sector L1 (Bambadina)... De acordo com o registo que fica para a História, em Setembro de 1969, a CART 2339 limitava-se a ter um pelotão em Candamã (2 secções) e em Afiá (uma secção). Mas em Agosto, tinha apenas um pelotão em reforço ao COP-7 (Galomaro)...
 
A História da CCAÇ 12 confirma a existência, em Agosto, de tropas de Mansambo [, CART 2339,] em Candamã e Afiá: vd post de 30 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXX: A CAÇ 12 em operação conjunta com a CART 2339 e os paraquedistas (Agosto de 1969) ...

Em resumo, havia muito mais vida, na Guiné do nosso tempo, do que nas secretarias das nossas companhias...
 
Posteriormente à inserção deste poste (*), o Marques dos Santos enviou-me a seguinte mensagem:


"Grato pela publicação desta nota. Isto demonstra as incongruências das 'várias histórias oficiais escritas'. Não será caso único. Que os nossos companheiros de tertúlia descubram pequenos pormenores vividos, mas não descritos. Ainda hoje, no meu dia a dia, dou extrema importância a um bem ao alcance de uma torneira – a água".

(**) CCAÇ 2446: Mobilizada pelo BII 19, partou para o TO da Guiné em 11/11/1968, e regressou a 1/10/1970. Andou pelo Cacheu, Mansabá, Baftá, Galomaro,  Cancolim e Brá. Comandante: Cap Mil Inf Manuel Ferreira de Carvalho.
 
(***) Vd. último poste da série > 5 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9315: Memórias do Carlos Marques dos Santos (Mansambo, CART 2339, 1968/69) (2): Três emboscadas na fonte, em julho e setembro de 1968

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2447: Julião Soares Sousa, o primeiro guineense a doutorar-se pela Universidade de Coimbra (Carlos Marques Santos)


Universidade de Coimbra > 11 de Janeiro de 2008 > Doutor Julião Soares Sousa. Foto retirada do Diário As Beiras, de 12 de Janeiro de 2008, com a devida vénia. O historiador guineense será um dos oradores do Simpósio Internacional: Guiledje na rota da independência da Guiné-Bissau (Guiledje e Bissau, 1 a 7 de Março de 2008).

O nosso Camarada Carlos Marques Santos enviou-nos um recorte do jornal Diário As Beiras de 12 de Janeiro de 2008, que transcrevemos, com a devida vénia.

Julião Soares Sousa é o primeiro guineense doutorado pela UC [Universidade de Coimbra]


Historiador e investigador guineense, especialista em História Política da Guiné e de Cabo Verde, Julião Soares Sousa defendeu ontem [, 11 de Janeiro de 2008,] com mérito a sua dissertação, intitulada “Amílcar Cabral e a luta pela independência da Guiné e Cabo Verde 1924-1973”.

Natural da Guiné, é actualmente colaborador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20), da Universidade de Coimbra (1).

Em 1991 concluiu a Licenciatura em História, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC). Seis anos depois, em Janeiro de 1997, torna-se mestre em História Moderna, também pela FLUC.

Desde 1999 que vinha a preparar o seu doutoramento, em História Contemporânea. A sua principal área de investigação é a construção do Estado nos PALOP. Porém, revela ainda um gosto por outras áreas científicas, nomeadamente, História de África, História e Cultura dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, História da Expansão, Colonialismo e Anticolonialismo.

Quanto a publicações, em 2003 lança a sua primeira obra, intitulada, “Os movimentos unitários anticolonialistas (1954-1960). O contributo de Amílcar Cabral”. Faz parte da revista Estudos do Século XX, do (CEIS20).

Publica, ainda, “Amílcar Cabral: do envolvimento na luta antifascista à manifestação de tendência autonomista no Portugal do pós-Guerra (1945-1957)”. A publicação resultou de comunicações e discursos produzidos no II Simpósio Internacinal Amílcar Cabral realizado na Cidade da Praia, Brasil, entre 9 e 12 de Setembro de 2004.

Carlos Marques Santos
ex-Fur Mil da CART 2339
Fá Mandinga e Mansambo
1968/69

2. Comentário de CV:

Congratulamo-nos, na nossa Tabanca Grande, com a existência de mais um guineense Doutor (por extenso) em História Contemporânea, formado por uma universidade portuguesa. O seu trabalho de investigação interessa-nos a todos nós que fizemos a guerra colonial / guerra do ultramar / luta de libertação na Guiné-Bissau... Daqui vão as nossas melhores saudações e os votos de uma feliz e produtiva carreira profissional (3).

Ficamos também felizes por saber boas novas do nosso camarada Carlos Marques dos Santos, natural e residente em Coimbra, tertuliano da primeira hora, camarada do Torcato Mendonça e de outros camarados nossos da CART 2339... Segundo me diz o Luís, o coraçãozinho do Carlos Marques dos Santos há tempos pregou-lhe uma partida. Felizmente que a coisa agora está "medicamente controlada", segundo ele nos diz no mail que nos enviou. Carlos, um caloroso abraço em nome desta Tabanca Grande.


___________

Notas de CV:

(1) Uma das linhas de investigação do CIES20 é o "Colonialismo, anticolonialismo e identidades nacionais". Responsável: Doutor Luís Reis Torgal (um dos oradores que irá estar presente no Simpósio Internacional: Guiledje na rota da independência da Guiné Bissau, tal como de resto o novo Doutor).

(2) O Doutor Julião Soares Sousa é também poeta, tendo nós encontrado um dos seus poemas na página Maktub Poemas, numa antologia de poetas de expressão portuguesa (Figura, na Guiné-Bissau, ao lado de Amílcar Cabral e de Carlos E. Vieira).O seu livro de poesia, Um Novo Amanhecer, 48 pp., foi publicado em 1996, pela Livraria Minerva, de Coimbra


CANTOS DO MEU PAÍS

Canto as mãos que foram escravas
nas galés
corpos acorrentados a chicote
nas américas

Canto cantos tristes
do meu País
cansado de esperar
a chuva que tarde a chegar

Canto a Pátria moribunda
que abandonou a luta
calou seus gritos
mas não domou suas esperanças

Canto as horas amargas
de silêncio profundo
cantos que vêm da raiz
de outro mundo
estes grilhões que ainda detêm
a marcha do meu País


Julião Soares Sousa
(Um novo amanhecer, 1996)

(3) Sobre este evento também encontrei a seguinte notícia no blogue de Eurídice Delgado Monteiro (cabo-verdiana, presumo) > Igualdade na Diferença > 11 de Janeiro de 2008 > Academia (as teses mais aguardadas)

(...) Amílcar Cabral

Nesta sexta-feira, dia 11 de Janeiro, aqui na Universidade de Coimbra, fui assistir à defesa da Tese de Doutoramento em História do candidato doutoral Julião Soares Sousa, intitulada Amílcar Cabral e a Luta pela Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, sob a orientação científica do Prof. Doutor Luís Reis Torgal.

Para além da presença sombria dos Reis de Portugal e da moderação do Vice-Reitor da Universidade de Coimbra Prof. Doutor Pedro Manuel Tavares Lopes de Andrade Saraiva, também a arguente externa Profa. Doutora Isabel Castro Henriques (Universidade de Lisboa) e o arguente externo Prof. Doutor José Carlos Venâncio (Universidade da Beira Interior) estiveram de olhos nos olhos do Julião Sousa Soares. Ainda fizeram parte da mesa do júri o Prof. Doutor João Marinho dos Santos, o Prof. Doutor A e a Profa. Doutora B.

Após oito anos de investigação científica, o Historiador e Poeta Julião Soares Sousa entrou pela Sala dos Capelos para debruçar sobre Amílcar Cabral, numa perspectiva africana (ou seja, a partir de dentro). Durante os 150 mn da prova, várias questões foram abordadas, sendo de destacar: a socialização de Amílcar Cabral; o despertar da consciência política de Amílcar Cabral; a vida literária de Amílcar Cabral; o nacionalismo no espaço ex-colonizado por Portugal; o materialismo histórico e o marxismo; o espírito unificador de Cabral; a unidade Guiné e Cabo Verde; a proximidade e as singularidades históricas da Guiné e Cabo Verde; a problemática ideológica; os problemas de liderança enfrentados por Cabral; a dessacralização dos chefes africanos; a actualidade da filosofia política de Amílcar Cabral.

Entre as novas pistas de reflexão, foram destacadas nomeadamente a importância de uma análise sobre “as representações, as interpretações e os mitos cabralianos” e sobre “o género na perspectiva de Amílcar Cabral”. Durante a arguição desta prova académica, foram destacados os pontos fortes e fracos do trabalho realizado. No final da prova, tendo respondido às questões colocadas, o candidato de origem guineense foi aprovado com Distinção e Louvor (sendo o primeiro guineense a doutorar-se pela Universidade de Coimbra e o segundo africano a doutorar-se através da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra).


(Reproduzido com a devida vénia)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P381: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (2): as CART 2339, 2714, 3493 e 3494 (Carlos Marques Santos)

© Carlos Marques Santos (2005)

No post anterior, de 28 de Dezembro último, publicámos duas fotos relativas aos trabalhos de construção do aquartelamento de Mansambo, a cargo da CART 2339 (1968/70).

Essas duas primeiras fotos são um hino à vida: (i) a abertura de um poço e a instalação da motobomba; (ii) os chuveiros e a alegria da água correndo sobre os corpos sedentos e sujos.

© Carlos Marques Santos (2005)

Hoje publicamos mais algumas das fotos que oe x-furriel miliciano Samtos, da CART 2339, nos mandou: os soldados que, além da G-3, também sabiam pegar na pá, na picareta, na enxada, na serra, no balde e na colher da massa, no enxó, no formão, no martelo, etc. para construir abrigos subterrâneos e outras instalações para o pessoal... Com materiais baratos mas frágeis: troncos de palmeira, tijolos de areia e cimento, chapa de zinco, colmo...

© Carlos Marques Santos (2005)

Guiné > Zona leste > 1968 > Vista parcial do quartel de Mansambo >

Recebemos, entretanto, uam mensagem do Manuel Cruz, ex-capitão miliciano, ex-comandante da CART 3493, fazendo algumas correcções às legendas das fotos que estão na página Memórias dos ligares > Mansambo. aqui fica:

Olá

Temos aqui umas fotos de Mansambo, e com gente da nossa CART 3493 junto da Fonte (1).

Creio que as descrições das fotos têm alguns erros / dúvidas (abrir a página sobre Mansambo para ver fotos do Manuel Ferreira da CART 3494)

- Não estivemos em Mansambo até Abril de 1974;

- De Mansambo fomos para Cobumba, Fá Mandinga e terminamos no COMBIS (comando de Bissau) de onde chegamos a participar em escolta de coluna até Farim;

- É verdade que o BART 3873 esteve na Guiné entre finais de 1971 (passámos o Natal a bordo do Navio Uíge (2); a passagem de ano, 1971/72, foi já em Bolama;

- Saímos de Mansambo para Cobumba e não para o Cantanhês;

- Que companhia é que foi ocupar Mansambo quando saímos para Cobumba, terá sido a CCAÇ12?

- Não fomos do Xime para Mansambo, mas sim directamente de Bolama (centro de instrução);

Com votos de que este período festivo esteja a decorrer bem para todos Vós e um Bom Ano 2006.

Manuel Cruz (3)

(ex-Cmdt CCART 3493, 1971/74)
______________________

Nota de L.G.

Guiné > Bolama > Princípios do Ano de 1972 > O Manuel Ferreira, condutor auto da CART 3494 (que fez a sua comissão no Xime e em Mansambo, entre 1972 e 1974)

© Manuel Ferreira (2005)

(1) Involuntariamente, o Manuel Cruz foi induzido em erro: na realidade, o Manuel Ferreira era da CART 3494, e não da CART 3493.

A primeira esteve originalmente no Xime e depois é que foi para Mansambo, em Abril de 1973. Ambas pertenciam ao BART 3873 (Dezembro de 1971 / Abril de 1974), que esteve sediado em Bambadinca.

A CCAÇ 12 passou a unidade de quadrícula nessa época, tendo sido destacada para o Xime até à data da independência.

(2) O Manuel Carvalhido, da CCS do BART 3873, corrige: o navio não era o Uíge mas o Niassa...

(3) Vd. post de 13 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CVIII: Welcome aboard, captain ! (CCAÇ 3493, Mansambo, 1972)

"Chegámos a Bolama para treinos militares entre o Natal e o Ano Novo (1971/1972. Depois seguimos para Mansambo onde estivemos em sobreposição com a companhia [2714] comandada por um capitão miliciano, de nome Agordela. Não sei exactamente quando, mas o senhor comandante da Guiné, General Spínola, transferiu-nos para Cobumba, [região de Tombali] (perto de Cufar - COP4 e perto de Bedanda e um pouco mais a montante do rio Cobumba instalou-se um grupo de Fuzileiros.

"Alguns meses depois a CCAÇ 3493 foi para Fá Mandinga, onde estivemos poucos meses.A última parte da comissão, que nos custou ao todo 27 meses, estivemos em Bissau no COMBIS, onde integrávamos a defesa de Bissau e dávamos apoio / segurança a colunas militares e civis para Farim".

domingo, 3 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5585: Humor de caserna (17): Mansambo no seu melhor (Parte 1) (Carlos Marques dos Santos, CART 2339, 1968/69)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Foto 1 > A Messe onde tudo começou. Sargentos e oficiais, jogando cartas, lendo, fazendo fotografias (Lima fotógrafo, Marques dos Santos fotografado). O Zeferino ( à direita é o soldado barman )




... Foto 2 > Bebendo uns copos de uísque... em copos de água. Quem dá a cara, é o CMS...



... Foto 3 > Em convívio, sargentos e oficiais....


... Foto 4 > Altercação ? ou … já copos a mais. No fundo, sã camaradagem...




... Foto 5 > Começa a dança porque o pessoal já aqueceu.

(Continua)

Fotos e legendas: © Carlos Marques dos Santos (2007). Direitos reservados



1. Mensagem do Carlos Marques dos Santos (ex-Fur Mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69), com data de 18/3/07:

Luís:


Aproveitando as 'estórias' que têm vindo a ser lançadas no blog, aproveito para reenviar fotos (em 3 partes) de uma noite de 'alegria' em Mansambo, [em Novembro de 1968]. Aqui vai a parte 1.


CMSantos

2. Mail enviado, em 9/7/07, ao Virgínio Briote, acabado de entrar para blogue como co-editor:

Virgínio:

Tenho aqui uma estória de uma noitada que ainda não quis publicar, porque põe em causa camaradas nossos que não são da tertúlia e que têm direito à reserva de imagem… Gostava de conhecer a tua sensibilidade e opinião… Se achares que é publicar, podes preparar o texto e as fotos ? Ou, pelo menos, acrescentar um comentário.

Conheces o Carlos Marques dos Santos (ex-Fur Mil, da CART 2339, Mansambo, 1968/79, a mesma unidade do Torcato) ( e a propósito, ele é o pai da talentosa e bonita Inês Santos, que tem aparecido num programa da manhã da RTP1).

Eu já lhe perguntei se não poderia haver objecções por parte dos ex-camaradas… Não me chegou a responder… Mando-te mais dois mails com o resto das fotos (que não são de grande qualidade: se calhar podemos editá-las e pô-las todas a preto e branco)…. Este poderia ser um primeiro biscate para ti…

Depois mando-te a senha de acesso à nossa conta no Google e à nossa caixa de correio… Obrigado, pelo teu SIM (ao desafio como co-editor).

Luís Graça

3. Comentário de L.G.:

Agora que o nosso CMS festeja os seus 67 aninhos (foi o primeiro aniversariante do ano de 2010) (*), acho que a melhor prenda a dar-lhe é publicar esta... brincadeira que ele me mandou há quase três anos (!)... Aqui nada se perde, tudo se transforma... O VB nunca me chegou a dar a sua opinião sobre este assunto, que eu achava poder ter algum melindre... O CMS, por sua vez, não também não me respondeu à minha pergunta: nem SIM, nem NÃO... Presumo que quisesse responder NIM... Em todo o caso, julgo que as fotos não ferem nem sensibilidades nem susceptibilidades... O assunto já tinha sido abordado num poste publicado na I Série, em 20 de Fevereiro de 2006 (**)...

Espero reencontrar as fotos que faltam e que nunca chegaram a ser publicadas... Espero que os camaradas da CART 2339 vejam neste meu gesto apenas uma homenagem não só ao histórico do nosso blogue, que foi (é) o CMS - que entrou para a nossa tertúlia em Dezembro de 2005 (***), e por mão dele veio o Torcato, seis meses depois, em Maio de 2006 - mas também todos os bravos construtores e defensores de Mansambo...

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 2 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5579: Parabéns a você (61): Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CArt 2339 (Editores)

(**) Vd. I Série, poste de 20 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXIX: Uma bebedeira colectiva (Mansambo, Novembro de 1968) (CMS)http://blogueforanada.blogspot.com/2006/02/guin-6374-dlxix-uma-bebedeira.html

(...) Era Novembro de 1968 e a Companhia voltava a estar reunida, agora num novo aquartelamento, por nós executado de raiz no meio do nada.


O aquartelamento era um charco, as condições de vida eram péssimas e o moral baixo, quer pelo peso do trabalho físico executado, quer pelas sucessivas e difíceis operações em que a companhia esteve envolvida.


Além disso já dois comandantes tinham abandonado a companhia, por vários motivos.


O pessoal andava à deriva.

Dias antes, a 11 (dia de S. Martinho), no decorrer da Op Hálito (1), uma coluna ao Xitole tinha sido emboscada, com rebentamento de mina comandada e vários feridos.



A cambança do rio (Pulom) tinha sido efectuada em 4 barcos de borracha e uma jangada, tornando extremamente difícil a sua concretização. Só com a acção de bombardeiros T6 foi conseguido o nosso retorno a Mansambo.

Tudo isto - é necessário imaginar o contexto - nos levou a libertar o extremo stresse. Só podia ser com uma garrafa de whisky (ou melhor, muitas).


Era assim a vida dos combatentes. Não teremos sido os únicos.


Um Abraço. CMS (...)


(***) Vd. postes, I Série:

28 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXCIX: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (1): a água da vida

29 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CD: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (2): as CART 2339, 2714, 3493 e 3494

30 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDI: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (3): Memórias da CART 2339

sábado, 18 de fevereiro de 2006

Guiné 63/74 - P541: Bajudas, nem vê-las! (Carlos Marques dos Santos)

Guiné > Zona Leste > Subsector de Geba > Sare Gana > 1968 > o Fur Mil Marques dos Santos (CART 2339, Fá e Mansambo, 1968/69)
© Carlos Marques dos Santos (2006)


1. Acabo de ler um texto sobre Sara Gana (1) e lembrei-me de aditar um conjunto de fotos que atestam a minha passagem por essa tabanca, muito antes de vós e felizmente sem os problemas como os que foram descritos posteriormente.

Guiné > Zona leste > Subsector de Geba Sare Gana > Putos da tabanca armados em "autênticos guerrilheiros"...
© Carlos Marques dos Santos (2006)

Estive aí muito poucos dias, pois a nossa missão era reforçar o sector de Geba.
São fotos de uma vida calma, da infância que aí vivia na altura.

A foto da disputa de comida que eu vi, com os meus olhos, impressionou na altura.
O que estava em disputa era somente uma terrina de sopa, sobra do almoço do meu Pelotão.Aquela disputa era a sério. Seria fome? (2)

Guiné > Zona Leste > Subsector de Geba > Sare Gana > 1968 > CART 2339 (Fá e Nansambo,m 1968/69) > Crianças disputando comida da tropa...
© Carlos Marques dos Santos (2006)


2. Em relação ao tema que lançaste sobre as relações sexuais, não tenho nada a dizer.
Até nisso fomos privilegiados. Estivemos sempre dentro do arame farpado e sem população, excepto os picadores e suas mulheres. Bajudas, nem vê-las!

No final da comissão ainda houve duas saídas para Bafatá, para fim de semana.
Ao meu pelotão não chegou a vez.

Melhor ainda. Viemos embora para casa. Tinha terminado o mato. Esperava-nos Bissau e o Uíge, em contraposição com o Ana Mafalda de ida, de vómitos e sofrimento de toda a Companhia.

Foi a minha estreia em cruzeiros. No regresso fomos tratados com senhores.
Só que não vieram todos.

Um Abraço
Carlos Marques dos Santos
______

Nota de L.G.

(1) Vd post de 17 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLII: Fátima, a furtiva gazela

"(...) Os dias em Sare Ganà [ no subsector de Geba, a noroeste de Bafatá] ainda vão sendo suportáveis, à aparte o calor, as moscas e o estado de sítio...As noites, essas, é que são longas e penosas (...) Resta-me a companhia silenciosa e furtiva da Fátima, uma das mulheres do comandante da milícia (...)".

Vd. também post de 30 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXXI: Sare Ganá, a última tabanca de Joladu

(2) Vd post de 30 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXXII: As aldeias fulas em autodefesa

" (...) Hoje, de resto, só há duas alternativas para um homem fula: (i) oferece-se como voluntário para o exército colonial, passando primeiro pela milícia; ou (ii) emigra todo os anos, na época das chuvas, para o chão de francês (Senegal) a fim de trabalhar nos campos de mancarra.

"É a única maneira de fugir ao universo concentraccionário da sua tabanca,e sobretudo à fome. Essa fome visceral que leva as crianças a aproveitar tudo aquilo que nós, tugas, nos damos ao luxo de deitar fora (vi-as aqui a assaram na brasa as vísceras de um frango que o bom do Suleimane me arranjou e reparti-las equitativamente entre si).

"Fome, subnutrição, doença, carências de toda a ordem (roupas, medicamentos...) contrastam, de modo chocante, com a relativa opulência com que um tuga , como eu, aqui vive: ainda ontem me vieram trazer o reabastecimento semanal e, entre outros produtos enlatados, deixaram-me cinco quilos (!) de fiambre dinamarquês, para dois mecos, para mim e para o operador de transmissões, já que as praças são desarranchadas. Tivemos de o comer em menos de vinte e quatro horas, sob pena de se estragar com o calor, e, uma vez aberta a lata, repartir o resto do fiambre pelos putos da aldeia e soldados africanos da secção. É claro que lhe chamaram um figo, não tendo desconfiado sequer que tal iguaria pudesse ser feita de carne.. de porco!" (...).

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Guiné 63/74 - P552: Uma bebedeira colectiva (Mansambo, Novembro de 1968) (Carlos Marques Santos)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Cart 2339 > Novembro de 1968> As longas noites quentes de Mansambo...

© Carlos Marques dos Santos (2006):


"Esquecer, ao menos por uma noite...
Se há uma via de libertação
É através do álcool
Que climatiza os pesadelos
Dos homens que nasceram meninos,
Que não nasceram soldados.
Entre duas bebedeiras e um duche
Ganha-se tempo,
Enquanto os obuses batem os trilhos
Das matas do Xime
E o quarteleiro abre os caixotes de munições
Para a operação
Do dia seguinte..."

Extractos de Esquecer a Guiné... por uma noite
Luís Graça (1971-2005 )

Texto do Carlos Marques dos Santos (ex-furriel mil, CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69):

Luís:

Volto a entrar no blogue mais uma vez enviando uma fotorreportagem de momentos vividos na CART2339 em Mansambo. Por motivos técnicos enviarei uma a uma.

Era Novembro de 1968 e a Companhia voltava a estar reunida, agora num novo aquartelamento, por nós executado de raiz no meio do nada.

O aquartelamento era um charco, as condições de vida eram péssimas e o moral baixo, quer pelo peso do trabalho físico executado, quer pelas sucessivas e difíceis operações em que a companhia esteve envolvida.

Além disso já dois comandantes tinham abandonado a companhia, por vários motivos.
O pessoal andava à deriva.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Cart 2339 > Novembro de 1968> Uma longa noite, nos abrigos de Mansambo, com muita água de Lisboa ...

© Carlos Marques dos Santos (2006)


Dias antes, a 11 (dia de S. Martinho), no decorrer da Op Hálito (1), uma coluna ao Xitole tinha sido emboscada, com rebentamento de mina comandada e vários feridos.

A cambança do rio (Pulom) (2) tinha sido efectuada em 4 barcos de borracha e uma jangada, tornando extremamente difícil a sua concretização. Só com a acção de bombardeiros T6 foi conseguido o nosso retorno a Mansambo.

Tudo isto - é necessário imaginar o contexto - nos levou a libertar o extremo stresse. Só podia ser com uma garrafa de whisky (ou melhor, muitas).

Era assim a vida dos combatentes. Não teremos sido os únicos.

Um Abraço.
CMS
_________

Notas de L.G.

(1) Vd post de 22 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXI: Quando até os picadores tinham medo (Mansambo, 1968)

" (...) A Op Hálito (11 de Novembro de 1968) foi outra das operações dramáticas que aconteceram no Sector L1, no tempo do Carlos Marques dos Santos (...). Foi a última coluna logística de Bambadinca para o Xitole, entre Novembro de 1968 e Agosto de 1969. A partir daí a estrada, no troço Mansambo-Xitole, ficou interdita.
"As NT sofreram duas emboscadas, tendo que recorrer a apoio aéreo para poder prosseguir. Os picadores foram obrigados, sob a força das armas, a continuar a picar o itinerário: Cerca das 16.00h foi feita uma distribuição de munições e obrigaram-se coercivamente os picadores a continuarem a picagem...
"Destas duas emboscadas resultaram 1 morto, 1 desaparecido e 12 feridos, além de danos materiais em viaturas e armas" (...).

(2) Afluente do Rio Corubal: vd. mapa do Xime.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5704: Humor de caserna (19): Mansambo no seu melhor (Parte III) (Carlos Marques dos Santos, CART 2339, 1968/69)



Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) >  Foto 10 >  "Vamos entrar na marcha, pergunta-se ?"




... Foto 11 > "Começa a marcha. Nem as mesas escapam."




... Foto 12 > "Em bicha de pirilau”.



... Foto 13 > "E no final porque não cantar um fado de Coimbra ?"


Fotos e legendas: © Carlos Marques dos Santos (2007). Direitos reservados



1. Terceira e última  parte do texto e imagens enviadas pelo Carlos Marques dos Santos (ex-Fur Mil, CART 2339, Os Viriatos, Mansambo, 1968/69), em 18/3/07 > O bunker de Mansambo no seu melhor, uma noite de alegria colectiva, aí por volta de Novembro de 1968, um ano antes o regresso a casa, à doce casa...


Epílogo:

As noites longas de Mansambo. Rentabilizar o tempo entre guerras era a palavra de ordem.

Nota final:  fotos pessoais.  Os figurantes são pura ficção e aparecem porque estavam no âmbito da focagem.

As fotos foram conseguidas por acção de uma Olimpus Pen e reveladas em Mansambo (o fotógrafo e o técnico de fotografia eram residentes).

Os slides foram revelados em Barcelona, porque na Metrópole ainda não havia o conceito das novas tecnologias. Estávamos orgulhosamente sós e por aí continuámos mais uns anos.

CMSantos
Ex-Fur Mil

2. Comentário de L.G.:

Em 14 de Abril de 2006, o Carlos interrogava-se, a ele próprio, e interpelava-nos:

"(...) Fico, às vezes, espantado com a fluência de histórias que aparecem contadas e, muito mais, vividas. Eu que estive sempre, mas sempre, entre quatro arames farpados, que estórias tenho para contar!? Nenhumas.

"Nada, rigorosamente nada, a não ser, o ter comido mancarra verde para matar a fome de três dias, mandioca apanhada da terra, água dos charcos das picadas, feijão frade durante um mês, a ração de combate deitada fora porque era doce e salgada ao mesmo tempo.

"Sede. O banho, aproveitando a água das chuvas. Ou, então, sem água durante um mês em destacamentos isolados. 5 ou 10 litros de água bebida em sofreguidão quando chegava ao aquartelamento." (...).

Carlos:

Quem te disse que não tinhas histórias para contar ? Viveste meses e meses a fio a constuir um aquartelamento, os bunkers de Mansambo, de pá e pica na mão... Dormiste meses e meses nesses bunkers... Sobrevivestes meses e meses a fio, neste sítio que não vinha no mapa... Tu e milhares e milhares de camaradas, ao longo de anos, em dezenas e dezenas de bu...rakos como este... A CART 2339, unidade de quadrícula do Sector L1,  no famoso triângulo Xime-Bambadinca-Xitole,  cumpriu a missão que lhe atribuiram, que era manter aberta a estrada Bambadinca-Xitole...

Quantos Mansambos não houve na Guiné, de norte a sul, de leste a oeste ?... Era um universo concentracionário... Não cometeste nenhum crime para seres condenado a um tal degredo, a não ser teres nascido porventura no ano errado e no país errado... Sobreviveste, não enlouqueceste,  roubaram-te uma parte da tua vida, da tua juventude, dos teus sonhos...

A tua foto-reportagem sobre uma noite de Mansambo (para quê adjectivar ? louca ? longa ? absurda ?...) é um notável documento que um dia os teus netos irão  ver e ler com outros olhos que não os nossos... E seguramente compreender:
- Um dia o meu avô foi para a guerra, lá longe, na Guiné-Bissau,  e teve meses e meses a fio a viver e a dormir debaixo de terra como os ratos, as toupeiras... Ao todo dedicou 3 anos à sua Pátria como soldado... Eu tenho orgulho no meu avô que foi um homem digno...

Carlos, obrigado pelas tuas fotos e legendas: este também é o outro lado (oculto e, muitas vezes, ocultado) da guerra... Não vamos ignorá-lo, nem escamoteá-lo, nem branqueá-lo. Não vamos vitimizarmo-nos, mas também não vamos pormo-nos em bicos de pés. Simplesmente estivemos lá, em Mansambo e em tantos outros bu...rakos da Guiné! ... E sabíamos uma coisa importante: que o nosso país não poderia continuar a estar ou sentir-se orgulhosamente só...

Nós estávamos sós, nos Mansambos da Guiné, mas não orgulhosamente... Batemo-nos, com dignidade, para que o poder político de então encontrasse uma saída,  histórica,  para a nossa solidão... Podes achar que as histórias de Mansambo não tiveram nada de exaltante nem muito menos de heróico: deixemos os heróis no Olimpo, junto dos deuses; retomemos o nosso lugar entre os homens... neste pequeno rectângulo do mundo que nos coube em sorte. 

Espero que esse coraçãozinho continue a bater forte, meu amigo e camarada Carlos Marques... Um beijinho à tua Teresa. E até ao nosso próximo encontro.  Luis

____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores da série:

16 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5654: Humor de caserna (18): Mansambo no seu melhor (Parte II) (Carlos Marques dos Santos, CART 2339, 1968/69)

 3 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5585: Humor de caserna (17): Mansambo no seu melhor (Parte 1) (Carlos Marques dos Santos, CART 2339, 1968/69)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

Guiné 63/74 - P400: Os Solitários da CART 2339 na Ponte do Rio Undunduma e em Fá (Carlos Marques Santos)


Guiné > Fá Mandinga > 1968 > Depois do ataque a Bambadinca, a 28 de Maio de 1968, o Gr Comb do Fur Mil Santos - Os Solitários - é destacada para defender a Ponte do Rio Undunduma (que o IN tentou dinamitar); lá viveu duas semanas em tendas de campanha; mais tarde é destacado para reforçar Fá Mandinga. Ei-lo aqui, em diligência...

© Carlos Marques Santos (2005)

Texto do Carlos Marques dos Santos, ex-furriel miliciano da CART 2339 (Mansambo, 1968/70), afecta ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (1).

Sabendo que andámos pelos mesmos caminhos - cruzados, concerteza, sem o sabermos -, é hoje bom ver que aquilo que vivemos não esquecemos. É importante não esquecer!

Li no Blogue (Luís & Camaradas) uma referência ao pontão do Rio Undunduma (2). Eu e os meus camaradas da CART 2339 estivemos lá.

Em 28 de Maio de 1969 ouvimos rebentamentos para aqueles lados e pensámos ser na tabanca Moricanhe. Afinal, para nosso espanto, era mesmo em Bambadinca, sede do Batalhão (3).

Dia 29, pela 05.30 da manhã, seguimos para reforço da sede de Batalhão. 15 dias. Salvo erro com o Pel Caç Nat 63 estivemos em tendas (panos de tenda com botões), em vigília constante, àquela que era uma passagem importante [, a ponte sobre o Rio Undunduma, na estrada Xime-Bambadinca].

Guiné-Bissau > Estrada Bambadinca-Mansambo > Novembro de 2000 > Cruzamento em Bambadinca que dá para Xime e Bafatá, e Mansambo) . Foto tirada já na estrada que dá para Mansambo...

Placa rodoviária: Xime, 10 km; Bafatá, 28 km.

© Albano Costa (2005)


Depois disso, outros, e até da nossa CART 2339, estiveram lá. Nós, CART 2339, abandonámos em 12 de Julho de 1969.

Entretanto dali, e depois de uma série de ataques, em Amedalai, Mansambo e Xime, Bambadinca e outra vez Bambadinca, fomos para reforço a Fá (Mandinga), nosso aquartelamento de acolhimento, pois havia indicações de que poderia ser atacado.

Guiné-Bissau > Mansambo > Novembro de 2000 > A pequena tabanca de Mansambo à beira da estrada (alcatroada) de Bambadinca-Xitole-Saltinho-Quebo... Segundo lo fotógrafo, " estas tabancas ficam mais ou menos a 100 metros da porta do antigo aquartelamento de Mansambo (...) O quartel quase desapareceu, só ficou a entrada do destacamento, o resta (os abrigos) está tudo tapado".

O Albano e os seus amigos foram lá encontrar, na sua viagem à Guiné, em Novembro de 2000, um antigo soldado da CCAÇ 12.

© Albano Costa (2005)

O meu pelotão - e eu era o furriel mais velho e por ausência quase sistemática do Alferes, competia-me o comando - intitulou-se de "Os Solitários", pois por norma estava em diligência. Que palavra tão bonita.

Carlos Marques dos Santos
Coimbra
____

Notas de L.G.

(1) Vd. post de 28d e Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXCIX: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (1): a água da vida

(2) Vd. post de 3 de Janeiro de 2005 > Guiné 63/74 - CDXVI: Herr Spínola na ponte do Rio Undunduma

(3) Sobre o célebre ataque a Bambadinca, de 28 de Maio de 1968, vd. post de 14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1649: II Encontro da nossa tertúlia: Pombal, Restaurante Manjar do Marquês, 28 de Abril de 2007 (Vitor Junqueira / Luís Graça)






1. Em 20 de Março de 2007, enviei a seguinte mensagem ao nosso camarada Vitor Junqueira:


Vitor: Como vai corpo de bó ? Escrevo-te só para te dar conta do seguinte: há malta da tertúlia a querer fazer um segundo encontro lá para a meados da primavera, antes da avalanche dos almoços-convívios das unidades (finais de Maio, Junho, Julho)...

O que é o homem grande de Pombal diz ? Há alguns condições para a gente se reunir aí na tua terra adoptiva (?), ponto ideal porque equidistante do norte e do sul, como tu mesmo sugeriste na Ameira ? (1)

O Carlos Marques dos Santos (estive com ele há dias em Coimbra) já se ofereceu para se encarregar das questões ditas administrativas e logísticas... Ele tem experiência destas coisas e dá boa conta do recado... Como é que está a tua vida ? Bom, diz-me alguma coisa... Temos que ter duas ou três alternativas, definir a agenda de trabalhos, etc.

Um grande abraço. Bjinhos para a tua filhota.

2. O Vitor, que em linguagem castrense não é nenhum... empata-fodas, respondeu-me logo, feio e grosso no mesmo dia, mostrando as suas qualidades de liderança, sem ter que puxar dos galões:

Amigos Luís e Carlos,

Corpinho di bó, jametum?

A nossa próxima reunião, a ser feita em Pombal conforme proposta minha tacitamente aceite no encontro da Ameira (1), poderá realizar-se em qualquer altura. A minha cidade tem condições de restauração e hotelaria para que as marcações se possam fazer de um dia para o outro.

Agradeço muito a disponibilidade do Carlos que com a experiência que já tem do encontro anterior, vai ser certamente um aliado de peso. Até porque, tenho de confessá-lo, não disponho no meu newsgroup dos endereços de todos os camaradas. Portanto, caro amigo Carlos Marques, se quiseres fazer o favor de avançar com uma data que te pareça consensual e propô-la à rapaziada para que se pronuncie, ficar-te-ia muito grato. Logo que tenhamos uma lista com o número aproximado de convivas, eu tratarei de negociar local e preços. A mesma coisa para as reservas de hotel, se as houver.

Entretanto devo estar a partir para a minha peregrinação anual. Desta vez tenciono ir até ao sul da Itália (Sicília), Grécia, Balcãs e Turquia. Se houver por aí alguém que queira alinhar, faça favor!
Tchau e até logo,
Vitor.

3. Em 26 de Março o Vitor mandou o seguinte e-mail ao Carlos Marques dos Santos com conhecimento editor do blogue:

Amigo Carlos,

Até agora ainda ninguém sugeriu qualquer data. Aliás, até agora ainda ninguém se pronunciou sobre o encontro. Excepto quanto a uma proposta alternativa [do Beja Santos] para que o mesmo se realizasse na zona de Figueiró dos Vinhos, e que eu só não aplaudo por me parecer que não teve grande eco. Portanto há que arregaçar as mangas e avançar.

Olhando para o calendário, temos o seguinte: Dia 7 de Junho é feriado, dia do Corpo de Deus, se não me engano. Calha a uma quinta-feira. Muito provavelmente haverá uma ponte no dia 8, sexta feira. A seguir vem, o fim de semana, que inclui mais um feriado, o do dia 10 de Junho. Proponho por isso que o nosso encontro se realize num dia a definir segundo o critério do interesse da maioria, entre sete e dez de Junho próximo.

Por favor malta, manifestem-se! Digam-me qual o dia que mais vos convém para que possamos dar início à fase das inscrições.

Aos amigos Carlos M. Santos ou Luís Graça, peço o favor de fazerem circular este e-mail pelos tertulianos.

Cordiais saudações do Vitor Junqueira

4. No dia 28 de Março, o Vitor perdeu a santa paciência e falou ainda mais feio e grosso do que das outras vezes:

Amigos Luís Graça e Carlos Marques Santos,

Após o apelo lançado à Tertúlia para que opinasse afim de se encontrar uma data consensual para a realização do nosso segundo encontro ...Quem se encontra em palpos de aranha sou eu! A maltosa, bem à portuguesa, vai deixando correr.

Honra ao P. Santiago, Mexia Alves e D. Guimarães que, conforme e-mails que já circularam pela tertúlia, disseram de sua justiça. Com base na opinião destes três camaradas, que naturalmente está longe de ser representativa, o intervalo que propus para o mês de Junho não parece sofrer grande contestação, salvo o pormenor de acerto para o caso do D. Guimarães. Mas como se vê e até ao momento, também não suscitou qualquer entusiasmo.

Será de recuperar a proposta do 28 de Abril, passá-la a definitiva e não se fala mais nisso? A vossa opinião (indeclinável), começa a urgir. Está tudo tão sereno! Ou haverá por aí algo de pessoal? O ímpeto dos encontros parece ter esmorecido após Ameira, porquê? Diferenças, mágoas escondidas, pedritas no sapato? Ora, camaradas, estamos velhos para isso, e além do mais essas porras fazem mal ao coração.

Querem a minha opinião? Pois queiram ou não, ela aí vai, e partindo de mim de mim sei que já não vão estranhar: Sapos vivos, daqueles verdes, viscosos e escorregadios, todos temos que engolir uns tantos. Quanto a isso não há volta a dar ao texto. Mas o mais importante, é ser capaz de os vomitar! Não permitir que nos provoquem indigestão crónica, amargos de boca ou sorrisos amarelos. E assim havemos de nos entender todos, de preferência de olhos nos olhos à volta da mesa do nosso próximo encontro. Para aconcretização desse objectivo, estou disponível para dar tudo, até o ... (não é isso chiça!), braço.

Fico à espera dos vossos comentários, sugestões e sobretudo, confirmação de presenças. Façam-no para o meu email > Vitor Junqueira

Telemóvel > 965517918

Abraços para todos.

5. Em 31 de Março de 2007, acabaram-se as desculpas, os alibis as moratórias, as hesitações... O Vitor foi peremptório: o nosso próximo encontro é em Pombal, no próximo dia 28 de Abril de 2007, sábado!!! Para a pequena história da nossa tertúlia, aqui fica a ordem de serviço:

Queridos camaradas,

Está decidido! Nem que chovam picaretas, no próximo dia 28 de Abril, vamos encontrar-nos. Estou certo de que iremos fruir de momentos inesquecíveis de especial camaradagem. Para isso torna-se necessário que cada um dos meus amigos se dê à maçada de preencher e devolver esta espécie de ficha que segue abaixo.

O nosso encontro irá decorrer no restaurante Manjar do Marquês, conhecido pela maioria como a antiga Shell. Vejam a sua localização através do diagrama anexo.

Proponho que comecemos a reunir por volta do meio dia, para que às 13.00 h toda a gente se encontre sentada à volta da mesa. Por favor, dêm-me a conhecer qual a vossa preferência quanto à ementa . Como TPC terão de imprimir, recortar e, se quiserem colar muma pequena cartolina o gráfico Portugal-Guiné. Depois é só pendurá-lo com a ajuda de um clip na botoeira do casaco ou na pestana do bolso da camisa. Para que possamos reconhecer-nos mútua e rapidamente.

Fico à vossa inteira disposição para quaisquer esclarecimentos que estejam ao meu alcance.

Ao Luís Graça, peço que faça correr os obrigatórios éditos no Blog.
Amistosos cumprimentos,

Vitor Junqueira

6. O editor do blogue, que andou desenfiado estes dias da Semana Santa & Aleluia, por terras do Norte (Porto, Marco de Canavezes, Braga, Amares, Terras do Bouro, etc....) causando alguma ansiedade na caserna, reaparece.... e só que tem que cumprir as ordens do nosso tenente general graduado Vitor Junqueira.

Lá estaremos em Pombal, no dia 28 de Abril, com a mesma alegria, entusiasmo e espírito de camaradagem com que estivemos na Ameira, o ano passado. Só espero que não deixem a vossa inscrição para o último dia, para não atrapalhar o pessoal da organização & logística... Já sei que há camaradas (e amigos) que não podem estar, por motivos de calendário. Outros há que já se inscreveram. Mas o grosso do pelotão ainda se manifestou a sua soberana vontade. Por favor não deixem o nosso tenente general graduado à beira de um ataque de nervos... De qualquer modo, não é caso para isso. A nossa guerra está ganha... L.G.
_____________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 15 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1177: Encontro da Ameira: foi bonita a festa, pá... A próxima será no Pombal (Luís Graça)

sexta-feira, 31 de março de 2006

Guiné 63/74 - P644: Diário do CMS (CART 2339) (1): Um homem ficou para trás e não há voluntários para o ir buscar... (Carlos Marques Santos)

Felizmente que há mais vida, para além da blogosfera... É o que eu deduzo da última mensagem do nosso CMS (Carlos Marques Santos), ex-furriel mil, CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69...

A esta hora, o CMS já terá partido, de manhã cedo, para França (região de Biarritz ) em viagem de uma semana em autocaravana. (Que os bons irãs das florestas do Corubal o acompanhem e o tragam de volta, são e salvo!).

Pede-nos desculpa por nos últimos tempos não ter dito nada no blogue, pois tem ocupado o seu tempo noutras andanças, "apesar de todos os dias vêr o que há de novo"...

Promete organizar qualquer coisa depois de vir de França". Mesmo assim mandou-nos umas notas do seu diário, com a seguinte legenda: "dois meses de Guiné e muita experiência".


Notas do Diário do CMS

5 de Abril de 1968


Às 15h, saída de Fá Mandinga para mais uma operação (Op Gavião). Desta vez para a zona do Enxalé, via Xime.

O [Rio] Geba foi atravessado de lancha. Do Enxalé saímos cerca da meia-noite iniciando mais um passo para o desconhecido. Dois meses de mato e já tínhamos tido a nossa dose. Andámos a corta mato até às 3.30h.

O guia turra capturado, como sempre, perdeu-se. Descanso até às 5.00h, seguindo as NT depois em progressão normal.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 >Brasão da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69)

© Carlos Marques Santos (2005)


Perto do objectivo vimos, na mata, dois nativos. Fugiram e nós continuámos. A CART 2338, nossa companheira de andanças, está a atacar o objectivo. A Companhia de Mansoa também.

Cerca do meio-dia sofremos um ataque de abelhas. Desespero em muitos de nós. Eu também fui completamente picado. Há camaradas inchados. Disformes. Há 2 camaradas desmaiados. Faz-se uma maca. Soam tiros...

- EMBOSCADA!

Um nativo do Pel Caç Nat 53 é atingido e morto. O ataque IN continua. Regressamos.

Sofremos 5 emboscadas, mas apesar de tudo correu sem grandes azares. O IN tem baixas. Fogem. Seguimos para o Enxalé. Mais 2 ataques de abelhas. CHOROS. Desespero. Há que fugir. Desorientação total. Armas abandonadas.

Compreendo agora - pois noutra ocasião e lá para a frente no tempo de comissão, estive debaixo de fogo - o que estar nestas mesmas circunstâncias. 45 minutos intermináveis. Antes o fogo do IN.

Chegámos ao Enxalé cerca das 18.00h. Soube-se depois que tinha ficado um homem da Cart 2338 desmaiado no local dos acontecimentos.

Quem vai procurá-lo? Ninguém. Não há voluntários.

Triste vida a da GUERRA e da sobrevivência. Mas nem sempre foi assim!

Passamos para o Xime e chegámos a Fá Mandinga às 03.00h da manhã do dia de 7 de Abril de 1968.

Estou exausto. Estamos todos exaustos.

Boas notícias: o nosso homem desmaiado, soube-se, apareceu por ele no Enxalé! Já li uma estória semelhante nesta tertúlia. Ou será o mesmo protagonista?

No dia seguinte, 8 de Abril de 1968, voltamos ao Enxalé procurar as armas perdidas. Na progressão ouvimos rebentamentos. Será Mato Cão?

Recuperámos 2 armas. Regressámos a Fá Mandinga sem incidentes.


10 de Abril de 1968

Há emboscada na estrada Xime-Bambadinca. Não houve incidentes, são as notícias que nos chegam.


14 de Abril de 1968

Dia de Páscoa, aqui, igual aos outros.

© Carlos Marques dos Santos (2006)

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1656: 2º encontro da nossa tertúlia, Pombal, 28 de Abril de 2007: lista de inscrições (Vitor Junqueira / Carlos Marques dos Santos)

Actualização da lista de inscritos para o nosso almoço de convívio, no Restaurante Manjar do Marquês, em Pombal, no dia 28 de Abril de 2007 (1)...

Como vêem, a mesa vai-se comendo. Já temos quase 6 dezenas de comensais, devendo-se ultrapassar assim o nº de presenças do nosso primeiro encontro, na Herdade da Ameira, Ameira, Montemor-o-Novo (2)

Nome (entre parênteses, o nº de comensais e a ementa escolhida: A ou B) (1)

A. GRAÇA DE ABREU (1A)

A. MARQUES LOPES (3B)

ALBANO COSTA (1A)

ANTÓNIO BAIA (2B)

ANTÓNIO DUARTE (1A ou B)

ANTÓNIO FIGUEIREDO PINTO (2A)

ANTÓNIO SANTOS (2B)

BENJAMIM DURÃES (1B)

CARLOS MARQUES SANTOS (2B)

CARLOS OLIVEIRA SANTOS (1A ou B)

CARLOS VINHAL (2B)

CONSTANTINO (ou TINO) NEVES (2A ou B)

DAVID GUIMARÃES (2B)

FERNANDO CHAPOUTO (2B)

FERNANDO FRANCO (2B)

HÉLDER SOUSA (*)

HUGO MOURA FERREIRA (2A ou B)

HUMBERTO REIS (2A)

IDÁLIO REIS (1A)

J. L. VACAS DE CARVALHO (1A ou B)

JOAQUIM MEXIA ALVES (1A)

JOSÉ A. F. ALMEIDA (1A)

JOSÉ BASTOS (1A)

JOSÉ CASIMIRO CARVALHO (1A ou B)

JOSÉ GANCHO (2B)

JOSÉ M. MARTINS (2A)

LUÍS GRAÇA (2A)

LUÍS RODRIGUES C. MOREIRA (1B)

MANUEL LEMA SANTOS (2B)

MÁRIO BEJA SANTOS (1A ou B)

PAULO SANTIAGO (2A ou B)

RUI ALEXANDRINO FERREIRA (1A ou B)

SOUSA DE CASTRO (2A)

VIRGÍNIO A. BRIOTE (2A)

VITOR BARATA (2A ou B)

VITOR TAVARES (1A ou B)

VITOR BARATA (1A ou B)

(*) Dados a completar.

__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

9 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1649: 2º Encontro da nossa tertúlia: Pombal, Restaurante Manjar do Marquês, 28 de Abril de 2007 (Vitor Junqueira / Luís Graça)

10 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1650: Tod@s a Pombal, 28 de Abril de 2007 (Vitor Junqueira / Carlos Marques dos Santos / Luís Graça)

(2) Vd. post de 15 de Outubro de 2006 > 15 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1177: Encontro da Ameira: foi bonita a festa, pá... A próxima será em Pombal (Luís Graça)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Guiné 63/74 - P432: O Hotel de Bambadinca (Carlos Marques Santos)

Bambadinca. Março de 1969. O furriel miliciano Marques dos Santos, da CART 2339 (Mansambo), aguarda transporte, de Bambadinca para Bissau, para gozo da sua licença de férias na Metrópole (vd fotos a seguir).

Um felizardo do mato, com direito a férias (nem que fosse em Bissau, também conhecida por guerra do ar condicionado), ia de barco, civil, a partir de Bambadinca, ou apanhava uma LDG no Xime ou, ainda, uma boleia, de helicóptero ou de Dornier (o que era mais difícil, por causas das prioridades, do elevado custo do transporte aéreo e sobretudo do factor C - a cunha).

A sede da CCS (Companhia de Comando e Serviços) do BCAÇ 2852, em Bambadinca, funcionava como hotel para os militares em trânsito, oriundos dos aquartelamentos e destacamentos do sector (em especial, Xime, Mansambo, Xitole, Missirá e Fá Mandinga) ou até de outros sectores da Zona Leste (Bafatá, Gabu, Galomaro...).

Comparadas com as do Xime, Mansambo ou Xitole, as instalações para oficiais e sargentos em Bambadinca eram as de um hotel de cinco estrelas... Daqui que a malta de Bambadinca (CCS do BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras unidades) arranjasse sempre poiso para os alferes e furriéis milicianos em trânsito... Mais do que cumplicidade, havia solidariedade para com os camaradas que viviam em piores condições do que nós... De resto, havia sempre camas vazias, nomeadamente da malta operacional que frequentemente dormia no mato (como era o caso da CCAÇ 12)


Foto nº 1 > "A foto foi tirada pelo Furriel Rei (Cart2339), meu inseparável companheiro de férias - diz o Carlos Marques dos Santos. - No interregno das nossas férias aconteceu o desastre do Cheche – Madina do Boé, onde também a CART 2339 esteve envolvida com material auto e apoio logístico (1).

"Na primeira fila, vêem-se os Furriéis Oliveira e Soares. Na 2.ª fila, eu (Marques dos Santos) mais o furriel Carlos Pinto".

O Humberto Reis confirma que o Soares que aparece na foto é o José Manuel Amaral Soares, ex-furriel miliciano sapador de minas e armadilhas, pertencente à Companhia de Comandos e Serviços (CCS) do BCAÇ 2852. Foi um dos co-organizadores do convívio anual da malta de Bambadinca (1968/71) que se realizou em 2004, em Faro (2).

Em 1999, realizou-se outro convívio, já aqui relembrado (3), na Quinta da Graça, em Riade, Resende, junto ao Rio Douro. A Quinta da Graça é propriedade de outro camarada do nosso tempo, e da mesma unidade (CCS do BCAÇ 2852), o Pinto dos Santos, que era furriel de operações e informações (se não me engano).

Foto nº 2 > "Aqui, já com o Furriel Rei na 1.ª fila"... Como se pode ver pelas fotografias, não se passava sede no Hotel de Bambadinca e, a avaliar pela decoração das paredes dos quartos, os seus hóspedes tinham uma permanente ligação (espiritual, estética, mágica, poética, erótica...) com o mundo dos vivos (ou, melhor, das vivas...).
 
Foto nº 3 > "Eu, Marques dos Santos, no Hotel de Bambadinca"...
Manda dizer o Humberto Reis, a propósito destas fotos:

Carlos Marques, acertaste em cheio. É ele mesmo, o Soares, sapador, que mora aqui na zona de Lisboa (mais concretamente, em Caneças, concelho de Loures).
"Fotos 1 e 2: O que está na 1ª fila do lado esquerdo é o Ranger Fernando Jorge da Cruz Oliveira, de quem sou visita habitual lá de casa. Temos dado uns belos passeios juntos com as nossas Marias (também mora aqui na região de Lisboa, em Fernão Ferro, cocnelho do Seixãl). O que está ao teu lado é o radiomontador Carlos de Oliveira Pinto que mora no Porto, aliás o Sr. Engº Pinto....
"Na foto 3 pode ver-se um frigorífico que eu comprei quando os velhinhos da CCS do BCAÇ 2852 se vieram embora e ficou para a malta da CCAÇ 12 que depois mudou para o meu quarto". Um frigorífico (eléctrico), naquelas paragens e naquele contexto, era um verdadeiro luxo! O nosso só funcionava à hora do almoço e à noite, quando estava ligado o gerdaor... Foi depois revendido aos periquitos que nos vieam render, em finais de Fevereiro de 1971. E julgo que terá chegado, heroicamente, até à hora da partida do último soldado português na Guiné. Provavelmente terá sido oferecido a um camarada do PAIGC. Por falta de energia eléctrica, terá morrido ingloriamente no montão de lixo que deixámos em Bambadinca, a começar pela tralha da guerra...
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(1) Notas de L.G.:

Vd post de 2 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre de Cheche, na retirada de Madina do Boé (5 de Fevereiro de 1969)

(2) Vd post de 20 de Abril de 2004 > Guiné 69/71 - V: Convívio de antigos camaradas de armas de Bambadinca

(3) Vd post de 23 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCVII: Convívios do pessoal do BCAÇ 2852 e da CCAÇ 12: Resende (1999)

domingo, 22 de janeiro de 2006

Guiné 63/74 - P448: Estrada Mansambo-Bambadinca (Op Cabeças Rapadas, 1969) (Carlos Marques Santos)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada Bambadinca - Mansambo > A espingarda, a enxada, a pá, a picareta, a maceta... © Carlos Marques dos Santos (2006)


Texto de Carlos Marques dos Santos (ex-furriel miliciano da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69)

Cabeças Rapadas

Prenúncio da abertura definitiva da estrada Bambadinca/ Xitole, intransitável desde Novembro de 1968 a 4 de Agosto de 1969 (Op Belo Dia) (1)

Haverá concerteza alguns dos tertulianos que estiveram envolvidos nesta série de operações (?). Então relembrem:

Nós, CART 2339, especialmente na segundo Operação [Op Cabeça Rapada II], vibrámos com o movimento. Espantoso. Caldeirões de arroz (meio bidão de gasóleo, em fogueiras espalhadas pelo aquartelamento, movimento de viaturas e homens, um barulho ensurdecedor, homens deitados por tudo o que era sítio, em suma uma anarquia bem controlada).

Passemos à exposição dos factos:

Op Cabeça Rapada I

Em 25 de Março de 1969, uma semana depois da Op Lança Afiada (2), inicia-se a primeira Op Cabeça Rapada, com a duração de 2 dias, no itinerário Bambadinca/Mansambo.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Mobilização de milhares de nativos para os trabalhos de desmatação das orlas da floresta na estrada Bambadinca-Xitole ... © Carlos Marques dos Santos (2006)

Picagens, seguranças de flanco, etc. Trabalhos de nativos em desmatação das bermas da estrada. Estava dado o pontapé de saída, para maior segurança nas deslocações na estrada Bambadinca/ Xitole. Mas, do nosso ponto de vista, maior exposição à observação IN.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada Bambadinca - Mansambo > As catanas a funcionar... © Carlos Marques dos Santos (2006)

Só o meu cão, Xime de nome, porque o herdei da anterior Companhia aí aquartelada, era capaz de fazer a segurança completa. À nossa frente na picada, farejando, entrando e saindo da mata, flanqueando em zig-zag, detectando minas, dormindo quando eu estava de olhos abertos, de olhos, nariz e orelhas atentas quando eu dormia. Um verdadeiro guerrilheiro responsável das suas missões. Não me lembro se ficou em Mansambo, se o levei de volta ao Xime, quando regressei. Dias sem incidentes.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada Bambadinca - Mansambo > Aspecto do trabalho de desmatação... © Carlos Marques dos Santos (2006)

Em 5 de Abril inicia-se o aperfeiçoamento na desmatação do itinerário Bambadinca/ Mansambo, o mesmo acontecendo nos dias seguintes, 6, 7 e 8 de Abril, sempre das 6.00h às 17.00h (nota jocosa: em horário de expediente).

Op Cabeça Rapada II

Em 9 de Abril, às 5.40h, inicia-se com a duração de 3 dias a Op Cabeça Rapada II, no itinerário Mansambo/ Ponte dos Fulas.

Efectivos:

CART 2339 [Mansambo], a 3 Gr Comb;
CART 2856 [ a 2 Gr Comb] (3)
CCAÇ 2405 [Galomaro], a 3 Gr Comb;
CART 1746 [ Xime], a 2 Gr Comb;
CART 2413 [Xitole], a 2 Gr Comb;
CCAÇ 2406 [Saltinho], , a 2 Gr Comb;
3.º e 4.º Pel CCAÇ 2314 [Bambadinca];
Pel AM Daimler 2046 [Bambadinca];
Pel Erec 2350 [Bafatá] (4);
Pel Caç Nat 63 [na altura, sediado em Bambadinca, mais tarde - Julho de 1969 - transferido para Fá Mandinga, sendo a partir de então comandado pleo nosso tertulaino Jorge Cabral]:
8.º Pel BAC [Mansambo] (5);
Esq Mort. 10,7 [Xitole],
Pel Sap BCAÇ 2852 [Bmabadinca].

Foi efectuada a picagem e estacionamentos laterais, para segurança, no sentido Mansambo/Ponte Fulas, antes e durante os trabalhos.

Foram detectadas 2 minas A/P e uma A/C, mas sem incidentes. Estas minas [fazim parte de um vcampo de minas] que não foram concerteza detectadas na passagem e regresso da Operação que feriu o Mamadu Indjai e foi capturado o Malan Mané e que foi efectuada com os Paras (6).

O trabalhos envolveram 2150 trabalhadores nativos, que dormiram e comeram em Mansambo, tendo a segurança ficado montada de noite no itinerário.

Em 10 de Abril de 1969 retomam a actividade, pela manhã, tendo os trabalhadores sido recolhidos em Mansambo ao final do dia, regressando ao seus destinos.

Às 18.00h, desse dia, os vários destacamentos militares regressam a Mansambo e aguardam a sua vez de regressar aos quartéis, sem incidentes, com muitos vestígios.


Op Cabeça Rapada III

Em 30 de Abril, inicia-se a Op Cabeça Rapada III com duração de 3 dias no itinerário Mansambo/Galomaro, com 2100 trabalhadores nativos.

Há picagens e segurança no sentido Candamã/ Mansambo/ Candamã. Em 1 de Maio reiniciam-se os trabalhos.

Em 2 de Maio, às 6.40h há uma emboscada IN no pontão do Rio Almani, iniciada com rebentamento de uma mina A/CC comandada. A emboscada, de cerca de 15 minutos, foi dirigida a uma secção da Milícia 145 (Moricanhe) que se dirigia a Mansambo e à frente de um Gr de Comb da CCAÇ 2405 que se dirigia para Bambadinca. As NT reagiram pelo fogo e foi batida a zona com Obus 10,5 e Mort 81 (a partir de Mansambo) causando 5 mortos e 3 feridos, confirmados, ao IN (7).

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada Bambadinca - Mansambo > Montando a segurança às brigadas de trabalhadores... © Carlos Marques dos Santos (2006)

A Secção de Milícia teve 2 mortos e 3 feridos. Foi a primeira acção deste género na estrada Mansambo/ Bambadinca

No dia seguinte, a 3 de Maio, a CART 2339 estava envolvida em nova operação, a Op Espada Grande, iniciada às 00.00h e terminada - para a CART 2339 - às 8.00h do dia 4 (Galo Corubal e Satecuta) (8).

Não havia tempo para descansar. As acções de segurança e combate iriam prosseguir.
___________________

Notas de LG ou de CMS

(1) Vd. post de 20 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXII: O inferno das colunas logísticas na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho. Há um erro (factual) no primeiro parágrafo, que já não se pode corrigir, no roginal, mas que aqui fica:

"Desde Novembro de 1968 que o itinerário Mansambo-Xitole estava interdito. Nessa altura, uma coluna logística do BCAÇ 2852, no regresso a Bambadinca, sofrera duas emboscadas (uma das quais, a primeira, com mina comandada), a cerca de 2km da Ponte dos Fulas, na zona de acção da unidade de quadrícula aquartelada no Xitole [não era ainda CART 2413, mas sim a CART 2339]. A coluna prosseguiu com apoio aéreo.

"Nove meses depois, fez-se a abertura desse itinerário, mais exactamente a 4 de Agosto de 1969. Na Op Belo Dia, participou o 2º Gr Comb da CCAÇ 12 com forças da CART 2339 (Mansambo), formando o Destacamento A (...)" (LG).

(2) Vd posts de:

14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal

9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIII: Op Lança Afiada (1969): (iii) O 'tigre de papel' da mata do Fiofioli

9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXI: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas

15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli

(3) Julgo que é lapso do CMS. Deve ser CCS do BCAÇ 2856, sediada em Bafatá, a companhia e o batalhão do nosso tertuliano Jorge Tavares: vd. post de 31 de dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDVIII: A doce nostalgia de Bafatá (BCAÇ 2856, 1968/70) (LG).

(4) Esquadraão de Reconhecimento de Cavalaria, sediado em Bafatá: vd. post de 28 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXIX: Um ataque a Sare Ganá (1968) (LG)

(5) Pelotão Artilharia BAC 1, de Mansambo, obus 10.5. Em nota de rodapé deixo ficar aqui a informação de que em Mansambo, em Dezembro de 1969, quando regressámos à Metrópole, existiam 2 obuses 10.5 (105 mm), pelo que a informação de que haveria obuses 14 ou 10.7 (que já li algures no blogue), me parece errada (CMS).
(6) Vd. posts de:

6 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXV: A Op Nada Consta vista pelo lado da CART 2339 (Mansambo)

30 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXX: A CAÇ 12 em operação conjunta com a CART 2339 e os paraquedistas (Agosto de 1969)

(7) Na História do BCAÇ 2852, esta emboscada é referida como tendo acontecido a 2 de Abril de 1969, às 6.30h, e não a 2 de Maio. Não há referência a baixas tanto das NT como do IN (Cap. II, pág. 74) (LG).
(8) Na História do BCAÇ 2852, a Op Espada Grande realizou-se a 3 de Abrild e 1969, e não a 3 de Maio. Com a duração de 2 dias, o seu objectivo era completar as destruições fdos meios de vida na área, executados aquando a Op Lança Afiada, na região de Galo Corunal. A CART 2339, a 3 Gr Comb, formava o Destacamento A (Cap II, pag. 76).

domingo, 14 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7280: Memória dos lugares (112): Mondajane, a sudoeste de Dulombi, tabanca fula em autodefesa que ameaçámos queimar no princípio de Setembro de 1969 (Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil, CART 2339, 1968/69)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Subsector de Galomaro > Carta de Duas Fontes, 1/50000 > Posição relativa de Mondajane, tabanca fula em autodefesa, a sudoeste de Dulombi, seriamente ameaçada em Agosto/Setembro de 1969 pela penetração do PAIGC no regulado do Corubal. Com a retirada de Béli, Madina do Boé e Cheche, passou a haver um corredor por onde o PAIGC se infiltrava facilmente na parte meridional do chão fula, a norte do Rio Corubal.



Apesar do reforço temporário de tropas pára-quedistas ao subsector de Galomaro (a partir de Agosto de 1969, COP 7), bem como da CCAÇ 12 (que vai ter a sua estreia logo em Julho de 1969, em plena época das chuvas), Madina Xaquili (entre Galomaro e Canjadude) seria uma das primeiras tabancas fulas, a cair,  com a sua defesa a tornar-se insustentável (foi andonada pela população e depois pelas NT em Outubro de 1969). Padada, mais a sul, também já tinha sido abandonada (em data que não posso precisar). O PAIGC apertava o cerco ao chão fula.

Em Agosto de 1969, Madina Xaquili e o Pel Mil 147 constam no dispositivo das unidades combatentes do BCAÇ 2852, em virtude de ter constituído um novo Sector, o L5, com sede em Galomaro (onde já estava de resto a CCAÇ 2405, com forças espalhadas por Imilo, Cantacunda, Mondajane, Fá, Dulo Gengele), integrado no CO7 (Bafatá). Nunca mais ouvir falar de Mondajane, sendo muito provável que tenha sido também abandonada...


Imagem: Luís Graça (2010)



Coimbra > O Gil Maia dos Santos, de 4 anos, com a maninha, que acaba de nascer, com 2 kg. Com um Bj para  toda a tertúlia. Enviado por "Avô, babadíssimo, CMSantos, Cart 2339".





 
1. O Carlos Marques Santos (ex-furriel miliciano da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69) é um dos nossos tertulianos da primeira hora [, foto à direita, de 1968].  Foi por mão dele, por exemplo,  que o Torcato Mendonça chegou até nós. É casado com a Teresa, que nos acompanha também desde o princípio, e é pai da artista Inês Santos.  Por razões de saúde (Mansambo não lhe fez bem à saúde, nem a ele nem ao Torcato), tem participado pouco na II Série do nosso blogue. Há dias (8 do corrente) mandou-nos uma mensagem: "Tenho andado um pouco distraído das questões do Blogue,  sem perder a leitura habitual. Hoje, a propósito de avós e netos informo, oficialmente, o nascimento de mais uma neta, pequenina, mas mesmo pequenina, da mana do Gil,  meu neto mais velho - 4 anos" (...).

O CMS (como eu lhe chamo) é um camarada muito querido de todos nós. É professor de educação física, reformado. Decidi, em homenagem ao nosso "baboso avô", recuperar estes textos que remontam  a 2006. (*)


(i)  Dei conta, nas minhas notas pessoais de que entre 27 de Agosto e 27 de Setembro de 1969, estive com o meu pelotão em reforço do sector de Galomaro/Dulombi, mais propriamente em Mondajane, sem no entanto haver qualquer nota na História da Companhia. (#)

Talvez na História do BCAÇ 2852 haja referência a esse tempo esquecido, mas vivido por nós, 3.º Grupo de Combate da CART 2339. (**)

A 27 de Agosto foi recebida a notícia de que iríamos para Galomaro.


A 28 saímos e chegámos cerca do meio dia com indicação de que irímos para Mondajane [, a sudoeste de Dulombi], o que não aconteceu nesse dia mas sim no dia seguinte.

No cruzamento para Dulombi rebenta uma mina na GMC que segue à minha frente  a cerca de 15/20 metros, destruindo a sua frente. Resultado: um morto (desintegrado) e um ferido (condutor) que faleceu ainda nesse dia. Nós íamos apeados, fazendo a segurança à coluna que integrava uma nova Companhia em treino operacional e que era de madeirenses.

Impossibilitados de prosseguir,  fomos para Dulombi com os reabastecimentos. Aí fomos informados que deveríamos seguir a pé para Mondajane, que atingimos e onde nos instalámos.

Aí, e enquanto aguardávamos uma coluna com as nossas coisas, sem resultado, aparece-nos um pelotão vindo de Dulombi, carregando parte das nossas coisas, a pé e à cabeça, informando ser necessário termos que ir a Dulombi carregar, a pé e à cabeça, o resto das coisas. O que aconteceu no dia seguinte.

Dia 1 de Setembro de 1969, fui a Dulombi com 17 carregadores e 2 secções de milícias,  mais 10 homens do meu pelotão, a pé e por trilhos, buscar coisas que eram absolutamente necessárias, numa zona desconhecida e densamente arborizada, o que aconteceria de 2 em 2 dias.

A população recusa-se a ajudar (a zona era perigosa) e só com a intervenção pela força (ameaçámos queimar a tabanca), isso é conseguido. Note-se que nestas circunstâncias - falta de géneros e outros bens - repartimos com as populações.

A 5 de Setembro, um nativo mata um portentoso javali e houve carne fresca confeccionada.

A 7, chega um grupo de carregadores de Galomaro, carregando ainda parte das nossas coisas que estavam em Dulombi. Nesse dia o pelotão que aí estava foi rendido.


A 9, nova caminhada para Dulombi para carregar géneros.

Entretanto a 13 um nosso soldado é evacuado por doença e a 15, à tarde, recebemos a visita dos capitães das Companhias 2405 [Galomaro] e 2406 [ Saltinho].

Dia 19 novamente ida a Dulombi para reabastecimento. A pé e pela densa mata.

Dia 23, notícia de que iríamos ser rendidos no dia seguinte. Nada.

Dia 24, rendidos finalmente e saída para Bambadinca [pela estrada Bafatá-Bambadinca], com chegada a Mansambo a 27 de Setembro de 1969. Sem incidentes.


Em suma, um mês a feijão frade. Sem banho e sem mudar de roupa.

   (ii) Humberto [Reis]: Há dias evocaste aqui uma companhia de madeirenses, que levou porrada em Madina Xaquili, no subsector de Galomaro, com vocês, da CCAÇ 12.(***)


Eu também estive em reforço a Galomaro e disso já dei referência e andei por Dulombi e Mondajane, Madina Xaquili, etc. Essa história está, por mim, contada no blogue salvo erro com o título um mês a feijão frade.

Referiste os madeirenses e presumo que são os mesmos que, em treino operacional, andaram comigo. Esses factos não estão descritos na história da minha Companhia, mas eu tenho-os registados nas minhas notas pessoais diárias que elaborei enquanto estive na Guiné.

Há poucos dias, com o Luís, que estava em trabalho em Coimbra, pude com o Victor David recordar factos de Galomaro e Dulombi.


Lembro-me que em coluna para Mondajane, onde eu iria estar em reforço da CCAÇ 2405, a coluna sofreu o rebentamento de uma mina (A/C) na viatura que seguia ao meu lado (nós estávamos apeados) e desse rebentamento um soldado madeirense, pela acção da mina, desintegrou-se. Esta mina rebentou a cerca de 12 metros de mim e felizmente nada sofri.


O Luís perguntava: então o lenço que estaria mais tarde e durante algum tempo pendurado numa árvore nesse itinerário seria dele? Presumo que sim, pois bocados desse soldado, o relógio, roupa, etc… ficaram agarrados à árvore. Seria essa a Companhia [, a CCAÇ 2446,] a que te referes? [O tristemente famoso lenço pendurado numa árvore localizava-se algures no troço da Estrada Bambadinca-Mansambo, e não no subsector de Galomaro, na estrada para Mondajane, como sugere o Carlos. L.G.]

Se foi [a mesma companhia], parece que não entraram na guerra com sorte e também não a tiveram depois. Consegues referenciar no tempo esse ataque?


Poderei a partir daí confrontar as minhas notas, desconhecendo no entanto a denominação da tal Companhia.


Um abraço,


Carlos Marques dos Santos


Cart 2339 – Mansambo, sempre em diligências solitárias  (****)
______

(#) Nota do CMS:


O alferes do Grupo de Combate da Companhia de Galomaro que nos apoiou era meu primo. Ainda bem. Para não variar, a 29, rebentamentos cerca das 7.00h e uma nossa coluna emboscada no sítio do costume. Um morto e um ferido das NT. Ainda faltavam cerca de 2 meses e meio para o regresso à Metrópole.


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Notas de L.G.:

(*) Postes da I Série do nosso  blogue:

24 Janeiro 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXVI: Um mês a feijão frade... e desenfiado (Mondajane, Dulombi, Galomaro, 1969)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXIV: a morte a caminho de Mondajane, com os madeirenses da CCAÇ 2446 (Carlos Marques Santos)



(**) Infelizmente a História do BCAÇ 2852 é omisso sobre este destacamento onde penou o Carlos Marques dos Santos e o seu Grupo de Combate. Oficial ou oficiosamente, o CMS andou um mês desenfiado, sem conhecimento das autoridades máximas do Sector L1 (Bambadina). De acordo com o registo que fica para a História, em Setembro de 1969, a CART 2339 limitava-se a ter um pelotão em Candamã (2 secções) e em Afiá (uma secção). Mas em Agosto, tinha apenas um pelotão em reforço ao COP-7 (Galomaro)...

A História da CCAÇ 12, por sua vez,  confirma a existência, em Agosto de 1969, de tropas de Mansambo em Candamã e Afiá: vd post de 30 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXX: A CAÇ 12 em operação conjunta com a CART 2339 e os paraquedistas (Agosto de 1969) ...

Em resumo, havia muito mais vida, na Guiné do nosso tempo, do que nas secretarias das nossas companhias...


Posteriormente à inserção deste poste,  o Marques dos Santos enviou-me a seguinte mensagem: "Grato pela publicação desta nota. Isto demonstra as incongruências das 'várias histórias oficiais escritas'. Não será caso único. Que os nossos companheiros de tertúlia descubram pequenos pormenores vividos, mas não descritos. Ainda hoje, no meu dia a dia, dou extrema importância a um bem ao alcance de uma torneira – a água".

(***) Vd. postes de 7 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6686: A minha CCAÇ 12 (5): Baptismo de fogo em farda nº 3, em Madina Xaquili, e os primeiros feridos graves: Sori Jau, Braima Bá, Uri Baldé... (Julho de 1969) (Luís Graça)

 (****) Último poste desta série > 8 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7245: Memória dos lugares (110): Ponte Caium: Mais fotos ... (Carlos Alexandre, CCAÇ 3546, Piche, 1972/74)