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domingo, 21 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24330: Tugas, pocos pero locos: algumas das nossas operações temerárias (1): Op Tigre Vadio, 30 de março a 1 de abril de 1970, sector L1, Península de Madina / Belel, zona leste, sector L1 (Bambadinca)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca (1955) / Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bambadinca, Fá Mandinga e Missirá donde partiram as forças envolvidas na Op Tigre Vadio. No princípio da década de 1970, para Norte (Cuor) e Oeste (Enxalé) não havia mais tropa (a não ser o destacamento do Enxalé, frente ao Xime, do outro lado do rio Geba). 

O PAIGC tinha aqui uma "base" (ou "barraca", melhor dizendo), a "base do Enxalé" (sic), e este era um corredor fundamental para as colunas logísticas que vinham do sul... na altura em que o Senegal do Senghor não permitia ainda o trânsito de armas e munições no seu território. (Em linha reta devem ser mais de 25  km, de Bambadinca até à península de Madina / Bele, já na carta de Mamboncó.)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


Março de 1970: Op Tigre Vadio, 300 homens na península de Madina/Belel, limite do regulado do Cuor

Esta foi seguramente a mais dramática (e talvez a mais temerária) operação conjunta que a CCAÇ 12 efectuou enquanto esteve de intervenção ao Sector L1, às ordens do Comando do BCAÇ 2852. Podia ter dado para o torto... Envolveu 250 combatenets, três destacamentos,  e mais um número, indeterminado, de carregadores civis.

A missão confiada às NT era bater a  chamada península de Madina/Belel, no limite do regulado do Cuor e início do regulado do Oio, a fim de aniquilar as posições IN referenciadas do antecedente e eventualmente capturar a população que nela vivesse (espalhada por locais como Madina, Quebá Jilã, Belel e Banir, esta localização já no Oio) e, como corolário, destruir todos os seus  meios de vida. 

Em Madina, localizada em  Mamboncó 8G-1, havia uma população sob controlo do IN, estimada em 1500 habitantes. Mais 400, em Banir, cuja localização era em Mamboncó 8H-9.

Segundo as informações de que se dispunha, existiria 1 bigrupo nesta região, pertencente à "base do Enxalé" e dispondo de 2 Morteiros 60, 1 Metralhadora Pesada Goryonov, além de armas ligeiras (Metr Degtyarev, Esp Kalashnikov, Pist Metr PPSH, etc).

Admitia-se também que este bigrupo estivesse reforçado com 1 grupo de Mort 82, pertencente ao Grupo de Artilharia de Sara-Sarauol [a noroeste de Madina/Belel, vd. carta de Mambonco].

As NT iam a este objetivo, anualmente, no final da época seca,  com maior  ou menor sucesso,  mas sempre com casos de esgotamento,  insolação,  desidratação (*)... 

A última operação com forças terrestres realizara-se em fevereiro de 1969, não tendo as NT atingido o objectivo devido à fuga do prisioneiro-guia e ao accionamento dum engenho explosivo que alertou o IN. Verificaram-se ainda vários casos de insolação (Op Anda Cá) (**)

Veja-se este diálogo saboroso, mas algo surreal, entre o ten cor Pimentel Bastos, comandante do BCAÇ 2852, e o seu subordinado (e amigo), alf mil Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52:

"- Meu Comandante, há duas noites que não durmo a pensar nesta operação que dentro de dias vem para o Cuor. O que me foi dito pelo Major Pires da Silva é que há dois destacamentos que deviam partir juntos e teme-se que não haja condições para tal. Gostava que revêssemos outras possibilidades para não deslocarmos mais de 300 militares em bicha, com todas as desvantagens. Por favor, peço-lhe como seu amigo que converse comigo em particular nas próximas horas. (...)

"O Pimbas cofiava o bigode, aclarou a voz, olhou-me com estima e não escondeu as suas dificuldades:

- Ouve lá, tu até és capaz de ter razão mas o Pires da Silva tem desenhado esta operação com minúcia e está muito determinado. Faz-me o favor de não o causticares, actua como se ele tivesse razão" (...).


Releia-se outro escrito do Mário, aqui publicado no blogue (em 29 de junho de 2006):

(...) "Soube da Tigre Vadio em finais de fevereiro de 1970, quando o major de operações de Bambadinca [Sampaio,] me convidou para um passeio numa Dornier sobre os céus do Cuor. Foi uma viagem que permitiu medir o crescimento militar e populacional de Madina/Belel e a sua ligação a Sara/Sarauol, uma enorme base do PAIGC com um hospital de campanha.

"No regresso desse prolongado voo de reconhecimento, o oficial informou-me discretamente que lá para os finais de março eu iria revisitar Madina. Era o que menos me interessava a 15 dias do meu casamento, que se veio a realizar na Sé Catedral de Bissau [com a Cristina Allen]. 

"O ano tinha-se iniciado da pior maneira. Desde que, em novembro anterior, passara a prestar serviço em Bambadinca, não havia um dia de descanso: colunas ao Xitole, correio a Bafatá, noites na ponte de Udunduma, patrulhamentos alucinantes à volta da pista, toda ela bem iluminada, operações no Xime, emboscadas, segurança nas obras do alcatroamento da estrada Xime-Bambadinca" ...

Mais recentemente, em 5 de março de 1970, forças helitransportadas tinham destruído vários acampamentos na área de Mamboncó, reagindo o IN com mort 60 na região de Belel durante a Op Prato Verde. Os RVIS apontavam para a existência de uma razoável, e já mal dissimulada, rede de comunicações (trilhos bem batidos) que, do Oio, permitiam fazer infiltrações de homens e material, na zona leste, através do Sector L1.

Participaram na Op Tigre Vadio as seguintes forças (num total de 300 homens, incluindo carregadores civis que transportaram 2 morteiros 81, granadas de morteiro 81 e de bazuca,... mas alguém se esqueceu dos jericãs com o precioso líquido chamado... água!):

(i) Destacamento A: CCAÇ 2636 (2 Gr Comb) + Pel Caç Nat 52

(ii) Destacamento B: CCAÇ 12 a 3 Gr Comb reforçados

(iii) Destacamento C: Pel Caç Nat 54 + 1 Esq Mort 81 / Pel Mort 2106  


Guiné-Bissau > Região Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > 1970 > Pel Caç Nat 54 >  Uma unidade constituída por nharros, tugas e até turras (sic)!... A legenda é do açoriano Mário Armas de Sousa: 

(i) 1ª fila da direita para esquerda: do pessoal metropolitano, o primeiro sou eu, furriel miliciano Mário Armas; o terceiro é o 1º cabo Capitão; 

(ii) 2ª fila da direita para a esquerda: o primeiro é o soldado Amarante; o segundo é o soldado Bulo; o quinto é o furriel miliciano Inácio; o sexto é o 1º cabo Tomé; o nono é o soldado Samba; 

(iii) 3ª fila da direita para a esquerda: do pessoal metropolitano, o primeiro é o furriel miliciano Sousa Pereira; o quinto é o alferes miliciano Correia (comandante de pelotão); o sétimo é o 1º cabo Monteiro; o oitavo, africano, é o soldado Pucha (era guerrilheiro do PAIGC, foi capturado e ficou no nosso exército)"...

Foto (e legenda): © Mário Armas de Sousa (2005) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O verdadeiro comandante das NT, envolvidas na Op Tigre Vadio, foi na prática o alf mil  Beja Santos, nosso querido tabanqueiro e colaborador permanente. profundo conhecedor da região, na qualidade de comandante do Pel Caç Nat 52, primeiro em Missirá e agora colocado em Bambadinca. 

Depois do desastre da Op Anda Cá (**), repetiu-se a cena, com o comando do BCAÇ 2852 a querer "fazer ronco", à conta dos pretos  (de 1a.  e 2a. classe) e dos açorianos... (Estava-se no término da comissão, não se quis sacrificar nenhumas das subunidades de quadrícula do batalhão, o BCAÇ  2852, espelhadas pelo Sector L1: Xime, Mansambo, Xitole)...

No 2º volume do seu livro de memórias (Diário da Guiné: 1969-1970: o Tigre Vadio), o próprio Mário Beja Santis dá a entender que esta missão terá sido uma espécie de prenda de casamento, mas envenenada… 

Antes de o deixarem ir a Bissau para casar, embora com baixa psiquiátrica (!) (por ter levado uma porrada, não podia ir de férias...), o comandante do BCAÇ 2852, ten cor Pamplona Corte Real (que substituiu o famoso Pimbas), e o major Sampaio (que foi para o lugar do Pires da Silva), preparam-no para "o banho de sangue no corredor do Oio" (sic) (p. 271).

Quem são as forças que o comando de Bambadinca quer meter na boca do lobo, para vingar o desaire da Op Anda Cá? Como se disse atrás, mais uma vez  "os pretos e os açorianos"...


A CCAÇ 2636, mobilizada pelo BII 18, tinha partido para o CTIG em 22/10/1969, ainda era portanto periquita (menos de seis meses de Guiné). Era comandada pelo Cap Mil Inf Manuel Medina e Matos. Passou por Có, Bafatá e Sare Bacar. Regressaria a casa em 6/9/1971. Em Março de 1970, a açoriana CCAÇ 2636 estava aquartelada em Bafatá. 

[Imagem à esquerda: Guião da CCAÇ 2636 a companhia açoriana a que pertenceu o nosso camarada João Varanda (Có/Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/70; Bafatá, Saré Bacar e Pirada, 1970/71)].

A africana CCAÇ 12, por sua vez, era comandada pelo Cap Inf Carlos Brito, a escassos meses de ser promovido a major. Deste o fim da época das chuvas, que não tínhamos tempo para nos coçarmos... 

Desenrolar da acção:

Em 30 de Março de 1970, as forças empenhadas na Op Tigre Vadio concentrar-se-iam em Missirá (destacamento agora guarnecido pelo Pel Caç Nat 54, por troca com o Pel Caç Nat 52, comandado pelo Alf Mil Beja Santos, então conhecido pelo nome de guerra Tigre de Missirá, e que fora colocado desde novembro de 1969 em Bambadinca).

A marcha em direcção ao objectivo (Madina / Belel) iniciou-se às 23h00.  Anteriormente, para despistar e confundir os olhos e os ouvidos do PAIGC em Bambadinca, as NT seguiram não para Finete (como seria normal), mas para Fá. Atravessaram o Rio Geba de sintex (uma cambança morosa...), e dali seguiram para Missirá.

Por falta de trilhos e por dificuldade do terreno, muito arborizado, não foi possível fazer a progressão por itinerários paralelos, como estava inicialmente previsto, pelo que o Dest B (CCAÇ 12) teve de seguir na rectaguarda do Dest C (Pel Caç Nat 52 + Esq Mort 81 /Pel Mort 2106).

Sancorlá só foi atingida três horas e meia depois, pelas 2h45 do dia 31 de março, por dificuldades de orientação dos guias e pelas frequentes paragens no decorrer da acção.

Quase seis horas depois da partida, por volta das 4h40, fez-se uma paragem de meia hora para descanso do pessoal.

Atingir-se-ia Salá às 7h e Queba Jilã às 8h, não se tendo detectado até aqui quaisquer sinais da presença ou passagem do IN e utilizando-se sempre um antigo trilho, muito arborizado dos lados, o que impossibilitava a progressão por colunas paralelas.

Depois de um novo alto em que se entrou em contacto com o PCV [Poso de Comando Volante], as NT atingiram o início da península onde depararam, pelas 9h, com uma extensa cortina de fogo, em frente a Madina. Pediu-se então ao PCV novas indicações e orientação, uma vez que já não se podia cumprir o plano estabelecido para a batida a desenvolver em linha conjuntamente pelos Dest A e B.

Dada ordem pelo PCV para seguirem na direcção W, torneando a queimada linear feita pelo IN, as NT encontrariam um trilho muito batido no sentido N/S e na direcção de Belel.

Seguindo o trilho, iriam detectar por volta das 14h, no píncaro do calor, um acampamento IN do lado direito, composto por oito moranças de colmo e sete de adobo. 

O Dest A (Pel Caç Nat 52 + açorianos) tomou imediatamente posição para o assalto enquanto 1 Gr Comb do Dest B (CCAÇ 12) se dispunha de maneira a cortar a retirada ou o eventual afluxo de reforços vindos de Madina e os outros montavam à rectaguarda e à direita a fim de interceptar quaisquer fugas para Norte.

Desencadeado o assalto com bazuca, foi abatida imediatamente a sentinela e incendiadas as barracas de colmo. Como o IN reagisse com RPSH (costureirinhas) e RPG-2 enquanto iniciava a fuga para NW, foi aberto fogo de armas automáticas, dilagrama e morteiro 60.

O Dest C (Pel Caç Nat 54 + Esq Mort 81 / Pel Mort 2106), instalado na rectaguarda dos grupos de assalto,  fez fogo com os dois Mort 81, batendo a mata para onde os elementos IN se refugiaram. 
  

Os Gr Comb que montavam segurança à direita (CCAÇ 12), viram aparecer na orla da mata vários grupos fugindo para norte, pelo que imediatamente abriram fogo, tendo uma das granadas caído no meio dum grupo de 3 elementos que não mais foram vistos (sic). Numa rápida batida à orla da mata, encontraram-se muitos rastos de sangue que conduziam à mata onde o IN se internou.

Depois do assalto foram referenciados mais onze elementos abatidos e nove rastos nítidos de sangue na direcção NW, além de ouvidos gritos de dor nas imediações (segundo o relatório da Op Tigre Vadio). 

Na busca realizada ao acampamento, verificou-se haver numa das barracas a arder seis armas carbonizadas que pareciam ser Pist Metr PPSH. Também foi vista uma bicicleta no meio do incêndio, o que vinha comprovar a utilização por parte do IN daquele meio de transporte e comunicação no corredor do Oio.

As oito casas de colmo arderam completamente, tendo-se depois completado a destruição das sete casas de adobe, assim como de todos os meios de vida existentes. 

Foi impossível recolher ou capturar armamento ou munições pois o fogo ateado desenvolveu-se rapidamente, começando também a mata a arder devido ao vento que soprava.

No assalto ficou ferido o soldado Mauro Balbé (3° Gr Comb da CCAÇ 12), com um tiro no antebraço, além dum outro soldado do Pel Caç Nat 52 com um estilhaço de granada de RPG-2 no peito.

Devido ao violento ataque de abelhas que se seguiu, muito material e munições (principalmente o que era transportado pelos carregadores civis) ficaram abandonados, não tendo sido possível a sua recuperação total.

Entretanto, não se conseguiu pedir mais evacuações devida à avaria dos micros do único AN/PRC-10 que nessa altura ainda funcionava (!), nem aliás a DO-27 e o helicóptero com o reabastecimento de água chegariam já a localizar as NT naquele dia. 


O que aconteceu nessa tarde? Eis mais um excerto do testemunho Beja Santos, de 29 de Junho de 2009 (reproduzido, de resto, no seu livro de 2008):

(...) "Foi nessa altura que pedi um helicóptero para ir buscar água a Bambadinca. Negociámos uma clareira com o oficial aviador e, ao levantar, uma rajada estilhaçou o vidro. Ainda hoje me interrogo sobre a proveniência do fogo, e longe de mim insinuar que foi gente menos calma entre os nossos. 

O que interessa é que quando cheguei a Bambadinca, o Comandante [do BCAÇ 2852] perguntou-me porque é que eu deixara o teatro de operações. Olhei-o a direito e perguntei-lhe se ele sabia o que era um estado de desidratação total, desafiando-o a vir comigo...

"Lá regressei à mata cheio de garrafões, o helicóptero dançava com os vidros partidos, a ligação ar/terra não se fez e o oficial convidou-me a desembarcar com os garrafões num sítio qualquer. Perguntei-lhe se ele tinha consciência que não estávamos num filme de aventuras na selva e então levou-me até ao Xime, dizendo que regressava a Bissau e que, depois da reparação, me viria buscar. Até hoje. Dormi no Xime, sem nenhum êxito na tentativa de comunicar com as forças do Tigre Vadio" (...).


O helicóptero trouxe também o médico do batalhão, o alf mil med Joaquim Vidal Saraiva (1936-2015)... que acabaria por perder a boleia, de regresso a Bambadinca. Andou todo o resto da tarde, de 31, e toda a noite, do dia 1 de Abril, com a destroçada e desmoralizada tropa...

Os Destacamentos continuaram a progressão a corta-mato em direcção a Enxalé, transportando os feridos em macas (improvisadas) e amparando os elementos mais debilitados.

Devido à escuridão e à vegetação densa, os Destacamentos acabaram inevitavelmente a fraccionar-se, perdendo-se completamente a unidade de comando, enquanto o Pel Caç Nat 52 caminhava na vanguarda orientando-se pela bússola, uma vez que os guias, da inteira confiança do Alf Mil Beja Santos,  davam provas de não conhecer a zona. 


A progressão tornou-se, de resto, cada vez mais penosa devido aos crescentes casos de esgotamento físico e psicológico provocado pela marcha quase ininterrupta durante uma noite e um dia (31 de Março), e sobretudo pela terrível desidratação e pelo brutal ataque de abelhas.

Pelas 22h, as várias fracções dos Destacamentos que, embora seguissem trilho feito pelo Gr Comb que ia na frente, não tinham ligação visual ou contacto-rádio entre si, estacionaram para pernoitar a uns 8 quilómetros do Enxalé.

Reiniciou-se a marcha, ao amanhecer, a 1 de Abril, depois dos 3 Destacamentos se reorganizarem, tendo o grupo da frente atingido o Enxalé por volta das 10h da manhã, com o auxílio do PCV que orientou o deslocamento. 

A maior parte do pessoal, porém foi transportado de viatura a partir do cruzamento de São Belchior, depois de se ter sofregamente dessedentado com água trazida em bidões. (Assisti a cenas que julgava nunca poder ver em vida, e que são reveladoras do mais básico instinto de sobrevivência do ser humano; essas cenas inspirara-me o texto poético, já aqui publicado, O Relim Não é um Poema).

Em resultado da acção das NT, o IN sofreu quinze mortos (entre referenciados e confirmados), dez feridos confirmados e baixas prováveis, não sendo possível discriminar os elementos combatentes dos elementos pop. (Cito o relatório da operação).

Desta operação o Comando colheu os seguintes ensinamentos, conforme também consta no dito documento:

(i) a surpresa conseguida deve-se ao facto de se ter atingido o objectivo pelas 14h, hora que o IN abranda a vigilância por que sabe que as NT fazem habitualmente um alto entre as 11h e as 16h;

(ii)  outra razão foi ter-se convencido que as NT retiravam devido à cortina de fogo que havia lançado ao capim;

(iii) um ataque de abelhas tem pior consequências que uma flagelação, pois que naquele caso as NT entram em estado de pânico, abandonando armamento e equipamento num instinto de defesa e tornando impossível a manobra de comando. (...)

Fontes consultadas:

(i) Diário de um Tuga, de Luís Graça. Manuscrito.

(ii) História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Cap. II. pp. 28-29.Policopiado (***)

(iii) História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Policopiado

(iv) Santos, Mário Beja - Diário da Guiné: 1969-1970: o Tigre Vadio. Lisboa: Círculo de Leitores / Temas & Debates. 2008. 




Anexo: O relim não é um poema

por Luís Graça


Relim:


Op Tigre Vadio terminou 1 [de Abril], 13h00. Regresso quartéis terminado 1, 16h30. Aproximação dificultada partir 31, 8h00 queimada linear feita IN. 31, 14h00, detectado acampamento região Belel (Mambonco 7I4-97) oito moranças com colmo sete adobo.

IN reagiu PPSH e RGPG-2 cerca de 2 minutos, sofrendo 15 (quinze) mortos confirmados, vestígios sangue 10 (dez) feridos graves. Verificado após incêndio acampamento 6 PPSH queimadas.

Destruídos meios vida. NT sofreram 2 feridos ligeiros. Batida Mort 81 mata (Mambonco 8H5- 17) ouvidos muitos gritos de dor. Fuga IN direcção (Mambonco 8G6 -32).

31 [de Março], 17h00 encontrada cadeira vigia e 2 granadas RPG-2 (Bambadinca 1A8-95). Gr[upo] IN estimado 6/8 elementos emboscou NT 2 LGFog, RPG-2 e PPSH cerca de 5 minutos.

IN fugiu reacção NT impossibilitadas perseguição virtude forte ataque abelhas causou diminuição física bastantes elementos. NT tiveram 1 ferido ligeiro e 1 ferido grave, 1 doente grave esgotamento. (...) 

Transcrição da mensagem 1404/C do Com-Chefe (Rep Oper):

COM-CHEFE MANIFESTA SEU AGRADO REALIZAÇÃO RESULTADOS OBTIDOS OP TIGRE VADIO."

Extractos de : História da Unidade: BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Bambadinca: Batalhão de Caçadores 2852. 1970. Cap. II. 145-146.




Participaste nesta operação, a Tigre Vadio,
que era pressuposto durar dois dias.
Um passeio a Madina/Belel,
a sudeste de Sara / Sarauol, já no mítico Oio,
um patrulhamento ofensivo,
a travessia de um rio,
a sombra aprazível dos bissilões,
uma excursão a um santuário da guerrilha,
uma visita de cortesia aos homens do mato,
ali tão longe e ali tão perto,
que a Guiné era do tamanho do Alentejo,
pouco menos que os Países Baixos
de Sua Majestade a Rainha Juliana,
para retribuição de outras visitas de cortesia
que eles, os homens do mato, faziam à nossa malta,
aos destacamentos de Missirá e de Finete, Porto Gole e Enxalé,
e à navegação no Geba Estreito, no Mato Cão.
Afinal, o que eram 25 quilómetros
entre Bambadinca e Madina, em linha reta?!

Em boa verdade,
só te faltou o autocarro autopulman,
com ar condicionado e bar aberto!...
E a orquestra de Berlim a tocar a Sinfonia do Novo Mundo,
a Sinfonia n.º 9 em mi menor, do Antonín Dvořák.

Mas era só tropa-macaca, tudo a penantes, como convinha,
sempre era mais seguro e barato,
que o heli custava quinze contos à hora:
"pretos de primeira" da tua CCAÇ 12
e dos Pel Caç Nat 52 e 54,
mais alguns "brancos de segunda",
os açorianos da CCAÇ Vinte e Seis Trinta e Seis
e um esquadrão da morte,
de morteiros 81 do Pel Mort 2106.

Levavam dois cantis de água por combatente, imagina!
E um arsenal de granadas, à cabeça de carregadores,
arrebanhados pelo chefe de posto de Bambadinca
e pelo régulo de Badora, 
pagos por uns míseros patacões ao dia.

O que é um gajo pensa, diz-me lá ?!
O que é que um gajo pensa, aos vinte três anos,
de Missirá a Sancorlá, e dali a Salá,
em bicha-de-pirilau, escuro como breu,
a alma tensa, o corpo lasso, o capim mais alto
que as searas de trigo da tua terra, lá na cabeça do império,
a fustigar-te as trombas ?!

Bendita chuva, ou chuvinha, a primeira do ano,
que é um santo refrigério;
maldita, essa, sim, a trovada, ligada ao automático,
a disparar de rajada,
que te desperta os terrores mais antigos
de qualquer primata, hominídeo, social, territorial, predador.

Caminhas toda a noite, por terras do Cuor.
Um gajo não pensa nada, camarada,
"ligado ao automático",
colado ao gajo da frente, para não se perder
um gajo não tem tusa para pensar,
apenas para serrar os dentes 
e tentar sobreviver a mais uma operação,
no final do tempo seco, 
com dez meses de (co)missão,
que a Pátria é quem mais ordena...
Era final de março, marçagão, mas na tua terra não,
que em abril, sim, é que são águas mil.

Era pressuposto haver um reabastecimento no dia seguinte,
como mandava o mais elementar bom senso
e a experiência operacional do passado: 
60 graus ao sol e 100% de humidade do ar,
às duas da tarde, em que bichos e homens dormem a sesta!
(Avisavam-te, os velhinhos, da Operação Lança Afiada
em que um em cada seis dos bravos combatentes fora evacuado,
por desidratação, insolação, exaustão, fome, sede, ataque de abelhas...)

Caminhaste, caminhou a tropa-macaca,
penosamente, toda noite.
Era pressuposto a guerra parar às dez horas da manhã,
às dez em ponto, para fazer o piquenique;
sardinhas com pão e molho de piripiri,
e conservas de ananás da África do Sul!..
Porque o clima é quem mais ordena, ou ordenava,
e não o relógio do senhor comandante.

Cortaram-te as voltas, os gajos do PAIGC
(não te apetece dizer IN, já não sabes quem é aqui o teu inimigo),
cercaram-te pelo fogo.
E, quanto a Deus, Alá e os irãs,
mais as formigas e as abelhas selvagens da Cuor,
e até o macaco-cão,
a gente nunca sabia exatamente de que lado é que estavam.

Temerariamente,
alguém decidiu brincar ao gato e ao rato.
às catorze horas da tarde, no píncaro do dia,
com uma temperatura brutal e os cantis vazios...
Havia ali uma dúzia de casas de colmo e de adobe, 
desalinhadas, não reordenadas, 
que não pagavam imposto de palhota,
mesmo a jeito, a calhar,  ou por azar,
para a malta despejar as granadas de bazuca e de morteiro oitenta e um.
Pois que saia, e forte, a bazucada e a morteirada, com o código da morte!

A malta, nós, quem ?
O patrão da Dornier, do PCV, da tropa-macaca,
a quem as moranças estragavam a vista
nos seus passeios matinais pelo corredor do Oio,
com ciclovia e tudo,
uma autêntica autoestrada
para as "bikes" dos homens do mato,
oferta da loura Suécia com amor livre
e muitas coroas de flores no cabelo,
Make War, Not Love!

Não, ainda não havia os Strelas,
a temível arma dos arsenais soviéticos,
que haveriam de pôr o "tuga" em sentido, em terra,
ou a pau, quando voava contra os ventos da História,
mau grado a valentia e a perícia
dos nossos Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras.

Alguém puxou dos galões dourados
e decidiu fazer um golpe de mão,
ou melhor: mandar fazer,
que tu nunca viste nenhum "cão grande", de capitão para cima,
andar cá em baixo, com a tropa-macaca,
com a p... da canhota nas mãos.

A escassas semanas de acabar a (co)missão ao serviço da Pátria,
p'ra ficar bem no álbum de fotografia do batalhão,
e impressionar o Caco Baldé,
o homem grande de Bissau...
Um pequeno senhor da guerra qualquer,
do batalhão de Bambadinca,
que gostava de andar de Dornier, de cu tremido,
e que queria chegar a tenente-coronel,
e a coronel e quiçá a general,
o que era perfeitamente normal
para quem escolhera a carreira das armas,
e portanto a honra e a glória de servir a Pátria.

Quem ?
Quem é que manda nesta merda, ó oinca,
tu que lavras a tua bolanha,
e que talhas com a tua catana a piroga onde te afogas,
metralhada pelo helicanhão ?
Quem é que comanda esta tropa-macaca,
ó mandinga, ó biafada, ó fula, ó minha gente ?
É uma imensa cobra
que se desloca nas terras do Infali Soncó,
espantando os bichos e os irãs,
qual rolo compressor, calcando o capim à sua passagem.
Não se lhe vê nem o rabo nem a cabeça.

Entretanto, já alguém, o "tigre de Missirá" em pessoa,
tinha ido buscar, de heli,
o reabastecimento de água a Bambadinca.
Alguém da malta (não interessa a cor) terá,
intencional ou inadvertidamente,
disparado uma rajada que atingiu o heli
e estilhaçou um dos vidros laterais.
O heli foi para Bissau, para a oficina,
e o "tigre", que é vadio mas não voa, ficou retido no Xime.
 
A verdade é esta, camaradas:
o PCV falhou,
o plano de operações saiu furado,
o heli desandou, estilhaçado, 
a cadeia de comando quebrou-se,
e alguém quis matar o "tigre de Missirá",
afinal o elo mais fraco da cadeia de comando.
O fogo no capim e o ataque de abelhas fizeram o resto,
enquanto o senhor comandante do PCV
foi dormir, nessa noite, na sua cama fofa em Bambadinca.

No regresso ao Enxalé,
depois de uma segunda noite no mato,
tropa-macaca sofreu brutalmente,
tu sofreste, que a dor não dá para colectivizar nem partilhar,
sofreste brutalmente a desidratação,
o veneno das abelhas,
o esgotamento físico,
a fome,
a sede,
a insolação,
a exaustão,
as miragens,
o absurdo,
o desespero,
a desumanidade.
Tiveste miragens, o deserto do Saara ali tão perto,
em passando o Senegal, logo ao virar da esquina!
Nunca tinhas tido miragens,
foi mais uma experiência enriquecedora,
tudo por mor da Pátria e dos seus desígnios insondáveis!

Tiveste miragens, como no deserto do Saara,
lambeste a última gota do teu frasco de uísque,
bebeste o teu próprio mijo, esgotado o soro,
mastigaste as ervas do orvalho, esgotada a água,
desesperaste, perdida a esperança,
bebeste sofregamente a água choca dos charcos,
amparaste os mais desgraçados do que tu,
transportaste os feridos.
consolaste os mais sofridos,
fizeste as tuas obras de misericórdia,
segundo o Evangelho de São Mateus
que aprendeste quando eras cristão e crente e menino e moço
e temente a Deus
e tinhas um grande amor à Pátria, à Fátria e à Mátria,
mesmo que a sagrada tríade nunca te tivesse dado sinais
de que correspondia ao teu grande amor de filho e irmão!

Não deste nenhum tiro de misericórdia, mesmo cristãmente,
aos moribundos que não chegaram a haver, felizmente,
mas odiaste o PCV,
odiaste o Cuor,
odiaste Bambadinca,
as fardas,
os galões,
a tropa,
a guerra,
odiaste tudo naquele dia de mentira,
1 de abril de 1970,
Herr Spínola, a Guiné,
o Amílcar Cabral e os seus libertadores,
os senhores da guerra e os seus títeres...
Odiaste tudo,
até... o dia em que nasceste!

Um homem, mesmo o cristão que tu és,
tem que odiar,
tem que aprender a odiar,
tem que saber odiar,
para sobreviver, em qualquer guerra,
tem que odiar o inimigo para o poder matar,
tem que arranjar um inimigo, qualquer que ele seja,
e tem que saber odiar o seu general
para poder saber matar quem te quer matar.

Camarada, tu que fizeste a Op Tigre Vadio,
depois de tantos anos,
releste o relim
e há qualquer coisa que mexe em ti:
o relim não é um poema,
um poema épico ou dramático,
é sim, tão apenas,
um esquema telegráfico da guerra
para os senhores que estão em terra,
e que não têm tempo para ler relambórios.

O relim (vocábulo que não vem sequer grafado no dicionário).
o relim, abreviatuta de relatório imediato,
faz economia dos pontos e vírgulas,
dos pontos de interrogação e das reticências,
enfim, de quase tudo,
que não fica para a História com H grande,
da escassa água choca que ainda existia nas lalas e bolanhas,
ou do próprio mijo que ainda levavas na bexija,
dos quilos de merda que destilaste,
das miríades de abelhas kamikazes
que arrancaste do cachaço,
que arrancaste do couro cabeludo,
dos gritos de dor que ecoaram pelas matas de Madina/Belel,
dos teus gritos e dos gritos dos desgraçados dos elementos pop
que morreram à hora da sua sesta, carbonizados, nas suas moranças,
o relim faz economia de tudo que é acessório,
o relim despreza os detalhes,
o relim ignora as paredes do estômago,
coladas uma à outra pela fome e a sede,
o relim não conhece as hormonas do stress,
o cortisol, a adrenalina e a noradrenalina,
o relim escamotoeia a lassidão do corpo, a tensão da alma,

e nem sequer te dá  um colchão para te estirares, à noite,
ou um ombro amigo para chorares, de raiva e de impotência.

Não, nunca mais irás esquecer Madina/Belel
onde nem chegaste a ir, diz-te  o guia que perdeu a bússola,
tu, e mais 250 homens, combatentes
(oito grupos de combate),
fora um número indeterminado de civis, nativos,
contratados ou arrebanhados como carregadores
(para transporte à cabeça,
como no tempo do Teixeira Pinto, o "capitão diabo",
de granadas de morteiro e  de bazuca.
E que largaram tudo, ao primeiro ataque
do exército das abelhas do Cuor,
quiçá treinadas na China ou em Cuba.)

Ah, esqueceste-te de mencionar o médico do batalhão,
o Joaquim Vidal Saraiva (tinhas esquecido o teu nome),
o valente alferes miliciano médico,
que o "tigre de Missirá" deve ter conseguido aliciar à última hora,
face aos casos graves de desidratação,
insolação, intoxicação e ferimentos em combate...

Pobre doutor
(ninguém tratava ninguém por doutor
lá no cu do mundo, longe do Vietname),
ficaste em terra
(nunca te tratámos por tu, a não ser hoje),
perdeste a boleia do heli e conheceste o inferno do Cuor,
com os teus trinta e três anos feitos.

Agora, que morreste,
lá no Olimpo, ao lado do velho Hipócrates, teu mestre,
deves estar a sorrir,
com um sorriso bonacheirão, benevolente,
ou com uma gargalhada desbragada, insolente,
o humor ácido típico do cirurgião, 
destas tuas peripécias cá na terra...
Será que as constaste, ainda em vida, aos teus netos ?
Oxalá, Enxalé, Insh'Allah!

Meus senhores, o Relim não é um poema,
é um exercício de pura economia,
um tratado de finíssima estética,
um compêndio de sumária gramática,
um fait-divers com que se brinca,
um escarro na cara do Zé Soldado,
entre duas partidas de bridge ou de king
na messe dos oficiais de Bambadinca.

Que nos valha, ao menos, o velho RDM,
o Regulamento de Disciplina Militar,
é mais grosso, tem mais papel, vê lá tu,
é coisa que se apalpa, outrossim,
e que em último caso serve,
bem melhor do que o capim,
para enxugar o suor da pele,
e mais prosaicamente para limpar... o cu!

Luís Graça

Bambadinca, 2 abril de 1970. 
Última revisão: Lourinhã, 21/5/2023
_______________

Notas do editor:


(*) Vd. 18 de maio de 2023> Guiné 61/74 - P24325: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (5): Op Triângulo Vermelho, a três agrupamentos (CART 2715, CCAÇ 12 e CCP 123 / BCP 12), em 4 e 5 de maio de 1971: a captura de população civil que depois é levada para Bambadinca e cujo tratamento causa a piedade e provoca a indignação do alf grad capelão Arsénio Puim

terça-feira, 4 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24196: Tabanca Grande (547): Rogério Paupério, ex-1.º Cabo Escriturário, CCAV 3404 / BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73). Natural de Valongo, vive atualmenmte em Vila Nova de Gaia; passa a ser o membro n.º 874 da Tabanca Grande.



Rogério Paupério, ex-1º cabo escriturário, CCAV 3404 / BCAV 3854 (Cabuca, 1971/773). Vive atulamenmte em Vila Nova de Gaia. Passa a ser o membro nº 874 da Tabanca Grande. 


1. Mensagem de Rogério Paupério:

Data - sábado, 1/04/2023, 23:11
Assunto - Cabuca

Boa noite Luís Graça

Tal como o Gomes de Sousa falou, também estive no BCav 3854 / CCav 3404 que embarcou para a Guiné a 4/7/71 e lá chegou a 11/7/71 com destino a Cabuca, Nova Lamego. Fui o escriturário da Companhia.

Em 2010 convenci uns camaradas a ir à Guiné, organizei um grupo de oito, três da companhia (sendo um o Gomes de Sousa, que nos tinhamos acabado de reencontrar 37 anos depois), dois de Canquelifá, um de Angola (que tinha o sonho de visitar a Guiné) e ainda meu filho.

Partimos a 12/3/2010 e regressámos a 20/3/2010. Uma viagem inesquecível. Uma decepção pelo estado lastimoso de tudo; abandono, destruição etc. Salvou-se o amor que tínhamos aquela terra e que se reforçou depois da nossa vinda. Não nos cansamos de recordar aqueles 8 dias da nossa vida.

Ficámos no Saltinho, visitámos Bafafá, Nova Lamego, Cabuca, Piche, Canquelifá, Bissau, Quebo, Buba, Guilege e outros pequenos locais com história principalmente Quitaro, local trágico para as NT.

Junto, como pediste,  uma foto minha da minha passagem pela Guiné e uma actual.

Quanto à minha colaboração no teu blogue terei o maior prazer em fazê-lo.

Bom fim de semana e um grande abraço.

Cumprimentos, Rogério Paupério.



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Cabuca > Brasão da CCAV 3404 / BCAV 3854 (1971/73).

Este batalhão embarcou em 4 de julho de 1971 e regressou à Metrópole em 5 de outubro de 1973. Esteve sediado (comando e CCS) em Lamego (Comandante: ten cor cav António Malta Leuschner Fernandes). A CCAV 3405 esteve em Mareué e Nova Lamego. A CCAV 3406 em Madina Mandinga. 

O João Candeias, fur mil, pertenceu originalmente a esta companhia, a CCAV 3404, antes de ingressar, em rendição individual, na CCAÇ 12. Além dele (que entrou a título póstumo, para a Tabanca Grande), temos mais dois camaradas que representam a CCAV 3404 (e felizmente estão vivos), o José António Sousa e agora o Rogério Paupério.

Outros camaradas que passaram por (ou conheceram) Cabuca;
  • António Barbosa, ex-alf mil op esp/ranger, 2.ª C / BART 6523 (Cabuca, 1973/74);
  • Armando Gomes ex-1.º cabo ap armas pesadas, CCAÇ 2383 (Cabuca 1968/70);
  • Carlos Arnaut, ex-alf mil art, 16º Pel Art (Binar, Cabuca, Dara, 1970/72);
  • José da Luz Rosário, ex-fur mil, Pel Canh S/R 2298 (Cabuca e Buruntuma, 1971/72);
  • José Pereira, ex-1.º cabo inf, 3.ª CCAÇ e CCAÇ 5 (Nova Lamego, Cabuca, Cheche e Canjadude, 1966/68);
  • Ricardo Figueiredo, ex-fur mil, 2ª C / BART 6523, Cabuca (1973/74);
  • Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70).
Foto: Cortesia de Os Abutres de Cabuca (2ª CART / BART 6523/73, Cabuca, 1973/74) [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Resposta do editor LG:

Rogério, obrigado, por teres aceitado o meu convite para integrar a Tabanca Grande, na sequência do poste que publicámos com as tuas fotos de 2010, tiradas no Quirafo (*). 

Passas a sentar-te à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 874 (**). 

Temos ainda poucas referências à tua/vossa CCAV 3404, como ao teu/vosso BCAV 3854. Já o topónimo Cabuca tem mais de quatro dezenas de referências. 

Todos as fotos e textos que nos mandares, para publicação no nosso blogue (meu/teu/de todos nós),  serão bem vindos (incluindo os da vossa viagem à Guiné-Bissau, em 2010):  ajudam-nos a ampliar, melhorar e enriquecer a memória de todos nós, antigos combatentes no CTIG e demais amigos da Guiné.

Espero voltar a encontrar-te mais vezes numa das nossas tabancas, a começar pela de Matosinhos. Dá uma braço ao Zé António Sousa e demais camaradas e amigos que eu encontrei na passada quarta-feira, dia 29 de março, no almoço-convívio da Tabanca de Matosinhos.  

Já agora aqui fica também, para os nossos leitores, o link para a tua página no Facebook. Ainda a teu respeito, ficamos a saber que:

  Trabalhaste na empresa Barbot
  Andaste na escola de Valongo
 Vives em Vila Nova de Gaia
 És natural de Valongo.


Se quiseres completar os teus dados (data de nascimento e nº de telemóvel) manda um email para o nosso coeditor Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos): carlos.vinhal@gmail.com

A data de nascimento serve para te "cantarmos os parabéns" no dia do teu aniversário; e o nº de telemóvel  serve para, além do teu endereço de email, ficarmos mais facilmente em contacto contigo (é confidencial e não será partilhado, a não ser com a tua autorização).

Sê bem vindo, em nome de todos nós, amigos e camaradas da Guiné.
____________


1 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24183: Efemérides (384): A tragédia do Quirafo foi há 51 anos, em 17 de abril de 1972... Em 2010 ainda havia vestígios da fatídica GMC... (Rogério Paupério / José António Sousa, membros da Tabanca de Matosinhos, ex-militares da CCAV 3404 / BCAV 3854, Cabuca, 1971/73)

terça-feira, 7 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24126: Tabanca Grande (546): António Figueiredo, ex-sold cond auto, CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67); natural de Sátão, Viseu, vive em São Domingos de Rana, Cascais; senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 873



O António Figueiredo, hoje e ontem... Senta-se, a partir de hoje, 
no lugar nº 873, à sombra do poilão da Tabanca Grande.


Fotos (e legenda): © António Figueiredo (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do António de Almeida Figueiredo, ex-soldado condutor auto, nº 8563364, CCAÇ 1439 (1965/67):

Data - 06/03/2023, 16:02

Assunto - Pedido de Adesão ao Blogue Combatentes da Guiné

Conforme indicação do Amigo Crisóstomo, junto envio os seguintes elementos:

Duas fotografias, uma antiga (Guiné); a outra é a atual.

Chamo-me António de Almeida Figueiredo, sou natural de Satão, Viseu e resido em S. Domingos de Rana, Cascais.

Fui combatente na Guiné, incorporado no BII 19, CCAÇ 1439 , Funchal, desde 17 de Agosto de 1965 até 18 de Abril de 1967.

Tenho falado várias vezes sobre este tema com o Crisóstomo, que muito estimo e, apesar de só agora solicitar adesão ao blogue, reconheço a sua grande importância.

Na Guiné estive colocado, por mais ou menos tempo, em Bambadinca, Xime, Missirá, Enxalé e também com deslocações a Porto Gole, como condutor auto. Foi numa destas deslocações, em 21-8-1966 que tive a experiência real do risco constante, com a explosão de uma mina anticarro  (**) que eu conduzia e em simultâneo sofremos uma grande emboscada que só terminou com o auxílio da Força Aérea. Felizmente não houve mortos mas houve vários feridos graves, incluindo o nosso médico. Na viatura destruída seguia ao meu lado o Alferes Crisóstomo.

Um abraço, António Figueiredo



CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): tem 107 referências no nosso blogue. E além do João Crisóstomo e do Júlio Martins Pereira (1944-2022), passa a ter mais um representante na Tabanca Grande, o António Teixeira...


2. Mensagem do João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67):

Data - 06/03/2023, 21:53

Meus caros,

Quando pensava que já não valia a pena qualquer esforço meu para trazer mais alguém da CCaç 1439 para a nossa Tabanca, sucedeu o milagre: como o Figueiredo alegava não ser perito em coisas digitais eu pedi à esposa dele, a senhora Emília, que tinha apanhado o telefone quando chamei, que o ajudasse, uma vez que ele afirmava ter gosto em fazer parte do blogue.

Por ocasiões e experiências anteriores,  eu sabia da simpatia e amabilidade da senhora Emília. Este feliz desenvolvimento deve-se a ela. Bem haja. Fico aguardando com antecipação o podermo-nos encontrar pessoalmente de novo para, em nome dos muitos que se regozijam pela entrada do Figueiredo na nossa Tabanca, lhe dar um beijinho de apreço e gratidão. É que este feliz desenlaço vai-me ainda dar a possibilidade de "explorar mais um pouco”: vou telefonar de novo ao Teixeira e outros, que também manifestaram boas intenções de um possível ingresso na Tabanca, na esperança de que o exemplo do Figueiredo sirva de inspiração e motivação...

Como ele menciona na sua apresentação, eu e o Figueiredo estamos de alguma maneira especialmente ligados na nossa experiência da Guiné (Vd. poste P22478,  de 23 de Agosto de 2021) (**) por termos sido projectados pelos ares por uma mina em que houve muitos feridos, possivelmente mortos. E digo possivelmente mortos pois que dos vários que na altura foram evacuados de helicóptero para Bissau (incluindo o médico Francisco Pinho da Costa que tinha partido as pernas), de alguns deles nunca soubemos mais nada. A nós os dois, salvo o grande susto, não nos aconteceu nada.

Além das fotos agora recebidas, encontrei duas fotos feitas num encontro/convívio em 26 de maio de 2012, no restaurante Solar Verde Gaio, em Viseu, da CCaç 1439, Pel Caç Nat
52 e 54 e dois pelotões de  morteiros 81 que foi organizado pelo Figueiredo. 

Tenho uma pena enorme, muito grande mesmo, de já não os poder identificar todos. Com sinceras desculpas àqueles que cujos nomes não me lembro mais (é a tal “…” da idade!) não quero deixar de identificar os que ainda lembro bem (Foto nº 1)
 
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Foto nº 1 > Viseu > Restaurante Verde Gaio > 26 de maio de 2012 > Convívio do pessoal da CCAÇ 1439, organizado pelo António Figueiredo. 

"Na linha da frente, na Foto nº 1, meio ajoelhados, da esquerda para a direita (entre parênteses o número de ordem atribuído pelos editores): furriel Farinha (já falecido) (1); alferes Freitas (Funchal) (2); o nosso novo tabanqueiro António Figueiredo (3): Pimentel (4), e outros dois cujos nomes me escapam (5 e 6)

Na segunda fila de pé, também da esquerda para a esquerda: furriel Neiva (7); furriel Teixeira (Faro) (8); alferes Sousa (V. N. Famalicão) (9); a seguir não lembro os nomes daqueles com os números 10, 12 e 14; eu sou o número 11 e o falecido furriel Octávio (dos autos) ocupa o penúltimo lugar (13)".


Foto nº 2 > 
Viseu > Restaurante Verde Gaio > 26 de maio de 2012 > Convívio do pessoal da CCAÇ 1439 (mais Pel Caç Nat 52 e 54) e dois pelotões de morteiros 81, um deles o Pel Mort 1028), organizado pelo António Figueiredo.

"Nesta segunda foto aparecem todos os participantes (penso eu), neste convívio. O reduzido número de participantes deve-se ao facto de as praças (soldados) da CCaç 1439 serem todos da Madeira".

Nota do editor LG: do restante pessoal (não pertencente à CCAÇ 1439), reconhecemos na primeira fila,  na ponta esquerda, o nosso saudoso Jorge Rosales (1939-2019), o Manuel Calhandra Leitão, o "Mafra" (do Pel Mort 1028) (o nº 6 da segunda fila, a contar da direita para a esquerda), o Mário Beja Santos (do Pel Caç Nat 52, o penúltimo desta fila, ao lado do João Crisóstomo). O mais alto da terceira, fila, ao centro, é o Henrique Matos, que foi o primeiro comandante, em 1966/68, do Pel Caç Nat 52.

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

3. Comentário do editor LG:

Antes de mais um grande abraço de boas vindas ao António Figueiredo, que se passa a sentar no lugar nº 873, e fica sob a protecção do nosso mágico, simbólico, fraterno poilão da Tabanca Grande, a mãe de todas as tabancas, a única em que todos nós, os antigos combatentes da Guiné, cabemos com tudo o que os une e até com aquilo que os pode separar (política, religião, futebol, etnia, armas, postos...).

De acordo com as nossas regras, como antigos camaradas de armas que fomos, tratamo-nos por tu. Já lá vai o tempo do antigo regime de "apartheid" que vigorava na tropa (e depois na Guiné), com as "três ordens (nobreza, clero e... povo)" devidamente segregadas, socioespacialmente falando... 

Depois do João Crisóstomo e do saudoso Júlio Martins Pereira, tu és o terceiro elemento da CCAÇ 1439 a integrar a nossa Tabanca Grande. O que também é uma honra para todos nós, sabendo-se que a maior parte do pessoal era de origem madeirense e está muito provavelmente espalhado pelos quatro cantos do mundo, na diáspora lusófona. 

O "Mafra", o Manuel Calhandra Leitão, que era do Pel Mort 1028, e esteve convosco, ao longo da comissão, também nos dá a honra da sua presença na Tabanca Grande. Somos uma comunidade virtual de antigos combatentes, que desde há 18 anos procura preservar e divulgar as suas memórias da Guiné. De 2006 até 2019, também realizámos encontros anuais (catorze ao todo). Foram interrompidos com a pandemia, vamos lá ver se conseguimos juntar forças para reeditar esta iniciativa. O último, o XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande realizou-se em Monte Real, Leiria, em 25 de Maio de 2019.

O teu nome, António Figueiredo, passa a figura na lista alfabética da Tabanca Grande, de A a Z, constante na "badana" (ou coluna estática) do blogue, do lado esquerdo. Dos nosso 873 (contigo) membros, já faleceram, infelizmente, cerca de 15% (132).

Podemos dizer que entras pela mão de um "padrinho", o João, a quem eu trato por mano e com quem falo com frequência, à distância. Ele nasceu perto de mim, em A-dos-Cunhados, Torres Vedras, eu sou do concelho vizinho, Lourinhã. Há muito, desde 1977, como sabes, que ele vive em Nova Iorque. Mas de vez em quando dá-nos o prazer da sua visita, dele e da sua querida Vilma. Pode ser que a gente, um dia destes, se encontre, aqui para os lados do Oeste, já que tu também não estás longe, vives em São Domingos de Rana, Cascais. 

António, também nos podemos encontrar, em Algés, na Magnífica Tabanca da Linha, de que um dos cofundadores e grande animador foi o nosso Jorge Rosales, já falecido o ano passado (vd. foto nº 2). Costumamos anunciar, no nosso blogue, a realização dos convívios da Tabanca da Linha: vê aqui a págjna do Facebook. Há malta de São Domingos de Rana, que costuma aparecer. Os almoços-convívio realizam-se, em geral, de seis em seis semanas, às quintas-feiras, no restaurante A Caravela, D'Ouro, em Algés.

Parabéns à tua esposa Emília, que te ajudou a chegar até nós. Também estamos no Facebook, vê aqui a nossa página, Tabanca Grande Luís Graça. E, claro, parabéns ao teu "padrinho", João Crisóstomo, cuja dedicação ao nosso blogue eu tenho que aqui destacar e agradecer em público. Tomo a liberdade de citar aqui um excerto do mail que ele te mandou a ti e mais camaradas da CCAÇ 1439, convidando-vos, mais uma vez, a juntarem-se à nossa Tabanca Grande:

(...) Tenho mesmo pena que a nossa CCaç 1439 esteja tão pouco representada em meios escritos… Seria bom que mais alguém aparecesse  para que a nossa CCaç 1439 num futuro próximo não passe quase despercebida! 

 Além disso eu gostaria de não me sentir tão sozinho, mas antes ter o gosto de ver a nossa querida CCaç 1439 mais e melhor representada neste blogue que é sem dúvida o melhor meio de nos lembrarmos uns dos outros, de lembrarmos tudo o que passámos e vivemos na Guiné. " (...)

PS 1 - Já agora, António, sendo tu natural de Sátão, distrito de Viseu, sabes quantos conterrâneos teus morreram na guerra do ultramar / guerra colonial? Foram, dezassete, sendo quatro no TO da Guiné. Podes ver aqui os seus nomes.

PS 2 - Se quiseres que a gente te faça, no dia do teu aniversário, um "cartanito de parabéns", tens que nos indicar a tua data de nascimento (sabemos, pelo João, que vais fazer 80 aninhos no próximo daí 11 de novembro)... Comunica connosco, e manda mais fotos e algumas pequenas histórias.

PS 3 - Esqueci-me de te dizer que também andei, em 1969/71, pelos mesmos sítios onde tu e os teus camaradas da CCAÇ 1439 penaram:  Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, entre outros...
___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 26 de fevereiro de  2023 > Guiné 61/74 - P24098: Tabanca Grande (545): Corrigindo um lamentável lapso nosso, o José António Paradela (1937-2023) fica connosco, no lugar nº 872... pelo seu contributo para a memória da "Faina Maior"... Parafraseando o capitão Valdemar Aveiro, podemos perguntar: "daqui a uma geração, quem se vai lembrar disto, a guerra do ultramar / guerra colonial e a outra guerra, a da pesca do bacalhau"?!

(**) Vd. poste de 23 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22478: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XII: Mina A/C em 21/8/1966, e violento ataque ao Enxalé em 9 de setembro

(...) Do rebentamento do engenho explosivo resultaram danos materiais e físicos:

(i) Destruição de uma viatura GMC;

(ii) Feridos das NT:
  • Alf Mil Médico Francisco Pinho da Costa, do BCAÇ 1888, evacuado
  • 1º cabo 682 1364 José Manuel Afonso Ferreira, evacuado
  • 1º cabo aux. enfer. 647 4664, Alexandrino Pestana F. Leitão
  • 1º cabo 182 6865 Carlos Tibúrcio Nunes
  • 1º cabo 7351565, José Luís Fernandes Martins
  • Soldado condutor 8563364, António de Almeida Figueiredo
  • Sold 22665 António Francisco Caneca de Oliveira
  • Sold 651 7665 Álvaro de Sousa
  • Sold 0483065 José Dionísio Vieira de Castro
  • Sold 09/63 Nagna Chete, da 1ª CCaç
  • Sold da Polícia Administrativa 241/64 , Buli Mané. (...)

sábado, 3 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23841: Tabanca Grande (539): Manuel Calhandra Leitão, de alcunha o "Mafra", ex-1º cabo, Pel Mort 1028 (Enxalé, 1965/67), faz hoje anos 79 anos e passa a sentar-se à sombra do nosso poilão, sob o nº 867


Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >   "Paradas Party, do João Crisóstomo" ou  Festa das Famílias Crisóstomo & Crispim.

O camarada  Manuel Calhandra Leitão, o "Mafra" ou o "Ruço", como era conhecido no CTIG: foi 1º cabo, Pel Mort 1028 (Enxalé, 1965/67).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Almeirim > 10 de maio de 2014 > 23º Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Caç Nat 52, Pel Caç Nat 54, e Pel Mort 1028, subunidades que passaram pelo Enxalé (1965/67). 

Mesta foto, além do "Mafra" (Manuel Calhandra Leitão), podemos reconhecer  outros membros da Tabanca Grande: o Abel Rei (o primero da primeira fila, do lado direito), o Henrique Matos (Pel Caç Nat 52), o José António Viegas (Pel Caç Nat 54) e o Júlio Martins Pereira (CÇAÇ 1439) (1944-2022).

Foto (e legenda): © Henrique Matos  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Coruche > 19º Encontro Nacional da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), mais os Pel Caç Nat 52 e 54, Pel Mort 1028 e outras subunidades > 6 de Março de 2010 > Fotografia de grupo. O Manuel Calhandra Leitão está assinalado a amarelo.

Associaram-se ainda à festa os antigos alf mil  João Crisóstomo (que vive nos EUA), o António Freitas (que vive no Funchal), o Mário Beja Santos e o Jorge Rosales (1939-2019). A foto veio sem legenda: reconheço o Jorge Rosales (o primeiro da 1ª fila, do lado esquerdo), o Beja Santos (o segundo da 2ª fila, a contar do lado direito); e o Henrique Matos (o segundo da 3ª  fila, a contar do lado direito).

Fonte: © Henrique Matos (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Mafra > Ericeira > Restaurante Onda Mar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, subunidades que passaram pelo Enxalé, Porto Gole e/ou Missirá, 1965/67 >   Da esquerda para a direita, dois homens da CCAÇ 1439: o ex-alf mil Sousa (V. N. Famalicão) e  o ex-fur mil Teixeira (Faro), mais o "Mafra" (Manuel Calhandra Leitão, também conhecido por "Ruço"), ex-1º cabo apontador do morteiro 81, Pel Mort 1028, o organizador do convívio.


Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira Onda Mar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 > À direita, a Felismina, a "patroa" do "Mafra", que o ajudou a organizar o encontro, juntamente com os filhos. À esquerda, a Alice Carneiro.


Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira Onda Mar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 >  O João Crisóstomo e o filho do "Mafra", o Pedro Leitão, que empresta "a caixa de correio eletrónico" ao pai... Também gostei muito de falar com ele e incentivei-o a gravar, em áudio e vídeo, as histórias de vida do pai, o nosso camarada "Mafra"...  

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > Festa das Famílias Crisóstomo & Crispim > Dois camaradas da Guiné: no lado esquerdo, o nosso  saudoso Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019); no lado direito, o "Mafra", um camarada natural de Achada, Mafra que esteve com o João Crisóstomo no Enxalé em 1965/67...


Caldas da Rainha > 28 de maio de 2022 >   Os participantes da CCAÇ 1439 presentes: "Mafra", Teixeira e eu. O "Mafra", de seu nome, Manuel Calhandra Leitão,  foi o organizador do último encontro, de resto excelente (do ponto de vista da escolha do restaurante e do agradável convívio), do pessoal da CCAÇ 1439, na Ericeira, em 18/5/2019.


Mafra > Sobreiro > 1 de junho de 2022 > Visita ao "Mafra", na sua casa: a Vilma tirou a foto e ficou de fora… Em primeiro plano,  sentados, o "Mafra" e a esposa; na fila de trás de pé,   os filhos do "Mafra"  a meu lado.
 
Foto (e legenda): © João Crisóstomo (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. O "Mafra", alcunha do Manuel Calhandra Leitão, conhecia-o na terra do João Crisóstomo, Paradas,  A-dos-Cunhados. concelho de Torres Vedras, por ocasião da festa das famílias Crisóstomo & Crispim, em 16 de setembro de 2018. Na altura ainda era vivo o nosso querido Eduardo Jorge (1952-2019). 

Estivemos um bocado à conversa, de copo na ,ão,e conclui que  o "Mafra" era um grande contador de histórias... Logo na altura convidei-o para integrar a Tabanca Grande; de seu nome completo, Manuel Calhandra Leitão; não se lembrava, na altura,  do nº do Pel Mort, que estava sediado em Bambadinca, dizia ele  (descobri depois que era o Pel Mort 1028)... 

O "Mafra" era de rendição individual. Não tem notícias dos seus camaradas desse tempo, que fizeram parte do pelotão de morteiros. Foi destacaddo para o Enxalé com uma esquadra (ele mais sete, sedno ele o 1º cabi)... E lá fez a sua comissão que só acabou, uns meses depois da CCAÇ 1439 ter regressado a Bissau... 

Já agora ficamos com uma ideia das forças que estavam às ordens do BCAÇ 1888 (Fá Mandinga), subordinado do Agrupamento 24 (Bafatá), à data de 1 de julho de 1966:

BCAÇ 1888;
- Comando - Sector LI Fá Mandinga
- CCaç 818 (-) Xitole
_ 2° Pel (-) Saltinho
- 1 Sec Ponte Rio Pu 10m
- 1 Sec Cansamange
- CCaç 1439(-) Enxalé
_ 3° Pel(+) Missirá
- 2 Sec Porto Gole
- CCaç 1551(-) Bambadinca
_ 1° Pel(-) Taibatá (T)
_ 2° Pel(-) Xime
- 1 Sec Amedalai (T)
- 1 Sec Galomaro
- CCav 1482(-) Xime
_ 2° Pel(-) Quirafo (T)
_ 3° Pel Ponta do Inglês
- 1 Sec(+) Galomaro
_ 1 Pel(-)/1ª CCaç Porto Gole
- 1 Sec Enxalé
- Pel AMetr "Daimler" 809 Galomaro
- Pel Mort 1028(-) : Fá Mandinga
- 1 Sec(-) Xime
_ 1 Sec(-) Ponta do Inglês
- 1 Sec(-) Xitole
- 1 Esq Enxalé
_ Comp Milícia 1(-) Dulombi
- 1 Pel Finete
- 1 Pel(-) Moricanhe
- 1 Sec Samba Silate
- Comp Milícia 14(-) Quirafo
_ 1 Pel Ponta do Inglês
- 1 Pel(-) Galomaro
_ 1 Sec(-) Sinchã Tumani
- 1 Sec Mondajane
- 1 Sec(-) Cansamange
- 1 Sec Duá

O "Mafra" falou-me de homens "lendários" como o Luís Zagallo e Abna Na Onça e de alguns episódios de guerra. Era um exímio apontador de morteiro.

Entretanto, fui depois conhecer a sua quinta, na Sobreira, Mafra, onde ele  era um  produtor de limões, de créditos firmados  (tinha mais de setecentos limoeiros). Esta zona do concelho de Mafra, próxima do mar, Ericeira, é historicamente uma grande produtora de limões. 

Tive ocasião de conhecer o seu grande amor à terra, bem como à sua família, esposa, filha e filho.

Meteu-se, entretanto, a pandemia, e surgiram problemas de saúde, que tiraram um bocado de alegria à vida: o "Mafra" já recuperou, a esposa Felismina ainda anda em tratamento.

Ontem, encontrámo-nos, na Praia da Areia Branca, Lourinhã, no restaurante Foz, por iniciativa do João  Crisóstomo (que esteve cá menos de um mês, desta vez sem a sua Vilma, e gressa a Nova Iorque no próximo domingo, dia 4). Infelizmemnte, não tenho uma única foto...

Cabíamos numa mesa, éramos sete:  eu, a Alice, o João Crisóstomo, o Joaquim Peixeira e a esposa, o Leitão e o filho, Pedro... O Joaquim Peixeira, que vive em Loures, é alentejano de Campo Maior, ex-bancário, e ex-furriel mil, que passou por Tite, também no período de 1965/67; não tomei boa nota do batalhão e companhia a que pertencia, mas suponho que era o BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67): não dispunha de subunidades orgânicas, e foi rendido pelo BCAÇ 1914).

Foi um agradável almoço no resturante Foz, que tem uma localização privilegiada, memso em cima da praia. Pedimos três pratos duplos: mariscada de povo, arroz de lampreia, e povo panado com feijão...  

Ainda antes de começarmos o repasto, voltei a lembrar, ao "Mafra", o meu convite de 2018. O filho, Pedro Leitão, que tem uyma empresa na área do "web design", prometei-me enviar algumas fotos digitalizadas do seu álbum da Guiné. 

E logo ali fizemos um brinde aos nossos reencontros (ele anda sempre atrelado ao CCAÇ 1439)  e demos-lhe os parabéns antecipados pelo dia de hoje, em que completa 79 anos.

É uma pequena prenda de anos, esta, coincidindo a sua entrada na Tabanca Grande. Uma prenda mais do que merecida: a sua história de vida é um exenplo para todos nós, o "Mafra" ou "Ruço" (era "lourinho" quando jovem) é sobretudo um exemplo de tenacidade, capacidade de luta, organização e resistência... É uma cidadão com valores e princípios, um lutador pela justiça e a liberdade, antigo operário da FOC... 

Sê, pois,  bem vindo, "Mafra", ficas aqui connosco de pleno direito,,, E sentimo-nos felizes pela tua presença ao nosso lado. Ficamos `espera das fotos prometidas pelo teu filho. E agora, não te esqueças: até aos cem, é sempre em frente, só é preciso é ter cuidado com as "minas & armaldilhas", e nunca perder a bússola, o mesmo é dizer, o norte (e os restantes pontos cardeais). Parabéns, bebo mais um copo à tua saúde, com votos de melhoras para a tua Felismina. Oxalá, Enxalé, Insha'Allah! (LG)