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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6847: Recordações de umas férias numa biblioteca em fogo (2): Tempo Africano, de Manuel Barão da Cunha (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Agosto de 2010:

Queridos amigos,
Tinha outros propósitos para as férias, limpezas a fundo, calcorrear no interior das florestas, banhar-me nas praias fluviais.
A canícula pregou-me uma partida das maiores, reduzi as limpezas, tomei banho pelas 8 da noite com 30º e li que me fartei.
Quem paga é a malta do blogue.

Um abraço do
Mário


Recordações de umas férias numa biblioteca em fogo (2)

por Beja Santos

A canícula acentua-se, invade a biblioteca, traz um bafo com odores de seiva de pinheiro. Em definitivo, desisto de fazer limpezas, vou esperar por uma aragem, irei resistir de livro na mão a toda esta fornalha. Uma sensação de modorra invade-me, sacudo o torpor pondo a ópera “Fidélio”, de Beethoven no gira-discos. E pego no número de Janeiro a Julho de 2006 da revista Mamasume, da Associação de Comandos. É aqui que vem publicado o artigo do coronel Raúl Folques acerca da Operação Neve Gelada, que se realizou a 20 de Março a 3 de Abril de 1974. Terá sido a última grande operação na Guiné. Sei que o Amadu Djaló esteve lá, ele relata este episódio, aliás em tons muito pessimistas.

Segundo Folques, na segunda quinzena de Março de 1974, a situação no canto Nordeste do teatro de operações da Guiné era crítica e deteriorava-se rapidamente. Canquelifá estava a ser diariamente bombardeada com morteiros 120 mm, foguetões e canhões sem recuo. Havia indícios de que se preparava um assalto com tropas de infantaria à localidade, cuja guarnição estava nos limites da resistência física e psíquica (CCaç 3545 com milícias e artilharia). O comandante-chefe, Bethencourt Rodrigues, determinou que o Batalhão de Comandos fosse resolver a situação. Pela análise fotográfica, concluiu-se que o In organizava as suas bases de fogos em duas posições, pelo que as Companhias de Comandos foram lançadas em direcção a estas duas posições, para desarticular e desbaratar o agressor. Duas Companhias de Comandos dirigiram-se para as bases de fogos e assaltaram as respectivas posições. O inimigo retirou com pesadas baixas, infligindo às nossas tropas 3 mortos e 20 feridos. Folques comenta que os heli-canhões estacionados em Nova Lamego demoraram muito tempo a chegar à zona de combate, tendo tido uma acção reduzida na exploração do sucesso obtido. Fez-se uma recolha significativa do material capturado e nos dias seguintes a região foi batida, tendo havido contactos esporádicos com bigrupos In. Folques refere ainda que esta operação consolidou a posição de Canquelifá, tendo o In perdido uma bateria de morteiros pesados, dado que foram capturados três morteiros de 120 mm completos, mais uma culatra, dois tripés e um prato base. O In terá sofrido 26 mortos confirmados.

No número de Janeiro a Junho de 2008, a revista Mamasume apresenta dois extensos trabalhos, um de autoria do co-editor Virgínio Briote sobre os comandos da Guiné da história de Brá e outro sobre a Operação Tridente, da autoria de António Vassalo Miranda. O Virgínio publica extractos do seu diário, estamos em meados da década de 60, transcreve relatórios das operações e até aparece publicado um bilhete apreendido a uma enfermeira, talvez familiar de Domingos Ramos, dirigente do PAIGC. Não acredito que o Virgínio Briote, com os dotes que lhe conhecemos, não irá mais tarde engrossar e condimentar esta belíssima prosa. O relato da Operação Tridente é uma versão pessoal, alguém que participou do princípio ao fim e que se apresenta como testemunha ocular que sentiu no corpo e alma todos os 73 dias que esta operação durou. Vassalo Miranda foi furriel dos Comandos, chefe da primeira equipa de assalto. Apresenta a composição das forças dos cinco agrupamentos, os Comandos do alferes Saraiva, mais os meios da Marinha e da Força Aérea. O autor não regateia elogios às forças inimigas, que deram sempre a cara à nossa ofensiva e resistiram até ao limite. No final, as nossas tropas puderam percorrer as três ilhas (Caiar, Como e Catunco) em todas as direcções, como é sabido ficou depois um aquartelamento em Cachil, que mais tarde veio a ser abandonado. Gosto muito do final deste depoimento, assim: “Muitos anos depois do 25 de Abril de 1974, por motivos de saúde, estive internado no hospital Egas Moniz. Partilhava o mesmo quarto com um cidadão guineense que ali estava para ser operado a uma catarata. Tornámo-nos amigos e durante o período de maior sofrimento sempre me apoiou. Falámos dos tempos idos e... chegámos à conclusão de que tínhamos estado na ilha na mesma altura, só que em barricadas diferentes. 42 anos depois, não tenho qualquer rancor. Perdi camaradas e amigos. Eles também. Irei morrer sem que o meu sonho se concretize. O sarar das feridas, juntando os sobreviventes de ambos os lados na praia de Caiar, numa confraternização de homens que lutaram com dignidade, para honrar as bandeiras que defendiam e que acabaram por se entrelaçar”. Este punhado de revistas “Mamasume” irá para o espólio da nossa biblioteca.

Já corre uma brisa, o melhor será pegar nos panos de pó e começar a limpeza das estantes. Mas olho para a capa de “Tempo Africano”, de Manuel Barão da Cunha, com lindas ilustrações de Neves e Sousa (Didáctica Editora, 1971), vou ainda mergulhar nesta prosa antes de passar para as operações triviais de higiene, conservação e limpeza de uma biblioteca que tanto amo. Manuel Barão da Cunha é autor de “Aquelas Longas Horas”, “A Flor e a Guerra” e de um “Tempo Africano” noutra edição, todas essas obras já aqui foram alvo de recensão. Não escondo que é este o livro da minha preferência. É uma escrita sincopada, tudo músculo sem gordura, uma reportagem pintalgada de testemunho e de alguma memória ficcionada. Estamos em Luanda em 1970 e recordam-se os acontecimentos de 1961, que Barão da Cunha viveu em directo, nos tiroteios de Luanda, nos blindados que foram ajudar os fazendeiros. O autor procurou as personagens, são civis que refizeram a vida, a camaradagem permanece, disseminou-se pelas muitas localidades de Angola. Esta prosa obedece a um eixo central das preocupações de Barão da Cunha: exaltar o militar anónimo, elogiar o acto fraterno, chamar a atenção para o sublime desses gestos heróicos a uma metrópole desatenta (não esquecer que estamos num período anterior ao 25 de Abril). Depois emergimos em Tabassai, na região de Pirada, estamos ainda em 1970. Tabassai fica sensivelmente a meia distância entre Pirada e Bajocunda, pertence ao regulado da Pachana. Voltando atrás, em 1965, é provável que Barão da Cunha rememore acontecimentos que viveu, descreve usos e costumes, temos novos reencontros, há mesmo uma ida ao Morés, temos de novo os comportamentos de heróis anónimos na permanente elegia de Barão da Cunha.

Suavizou o calor, agora vou às lides domésticas. Estão já seleccionadas as leituras em que vou mergulhar, seja qual for a intensidade para a onda de calor para amanhã: “Amílcar Cabral” contado pelo embaixador cubano Oscar Oramas; “As Memórias das Guerras Coloniais”, por João Paulo Guerra (sem dúvida o primeiro grande condensado do contexto da guerra colonial no seu possível deve e haver) e esse sublime “Ébano” do prodigioso Ryszard Kapuscinski, muito provavelmente o livro que melhor descreve, em crueza e humanidade, a diversidade das pessoas africanas. É este o proveito que vou tirando da canícula, que me incita a viajar por África à volta da minha biblioteca.

(Continua)
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Notas de CV:

Clicar nas imagens para as ampliar.

Vd. poste de 11 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6845: Recordações de umas férias numa biblioteca em fogo (1) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25177: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Anexos: II. Comandos Africanos: breve cronologia.

 

Capa do livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il., edição esgotada) 




O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)


1. Ainda com base no manuscrito, digitalizado, do livro do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il., edição esgotada) (*), vamos publicar os "Anexos" (pp. 287-299).

O nosso camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra , facultou-nos uma cópia digital. (O Virgínio, com a sua santa paciência e a sua grande generosidade, gastou mais de um ano a ajudar o Amadu a pòr as suas memórias direitinhas em formato word, a pedido da Associação dos Comandos, a quem, de resto, manifestamos também o nosso apreço e gratidão...).

O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem mais  de 120 referências no nosso blogue. Tinha um 2º volume em preparação, que a doença e a morte não lhe permitaram ultimar. As folhas manuscritaas foram entregues ao Virgínio Briote com a autorização para as transcrever (e eventualmente publicar no nosso blogue). Desconhecemos o seu conteúdo, mas já incentivámos o nosso coeditor jubilado a fazer um derradeiro esforço para transcrever, em word, o manuscrito do II volume (que ficou incompleto). E ele prometei-nos que ia começar a fazê-lo, "para a semana"...

Anexos


II. Comandos Africanos: breve cronologia (pp. 288/289)

  • 23Abr69:

despacho do Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, Brigadeiro António de Spínola, determinando a selecção de militares destinados à formação de quadros destinados à Companhia de Comandos a organizar oportunamente e constituídos na sua totalidade por elementos guineenses;

  • 14Jul69:

início do estágio de instrução de quadros para a futura Companhia de Comandos Africana, a cargo da 15ª CCmds (Capitães Garcia Lopes e Barbosa Henriques).

  • 6Set69:
final do estágio de instrução;

  • 5Dez69:

colocação na CCmds Africana de 1ºs  cabos milicianos do recrutamento da Guiné, do 1º Curso de Sargentos Milicianos efectuado em Fá Mandinga, sob a responsabilidade da 15ª CCmds;
  • 5Jan70:

início da recruta de militares do 1º turno de 1969 e dos voluntários para a formação da 1ª CCmds Africana, a iniciar em 14 de Fevereiro de 1970 (em Fá Mandinga, Sector L1, Bambadinca);
  • 13Fev70:

cerimónia de graduação de oficiais e sargentos que foram integrar a CCmds Africana;

  • 14Fev70:

início da 1ª fase do curso de Comandos;

  • 21Jun / 15Jul70:

treino operacional na região de Bajocunda;

  • 15Jul70:

fim do curso em Fá Mandinga e constituição da 1ª CCmds Africana, comandada pelo Tenente Graduado João Bacar Jaló, tendo como supervisor o Major Comando Leal de Almeida; colocada em Fá Mandinga, ficou como unidade de intervenção e reserva do Com-Chefe; a partir desta data, manteve-se em reforço do COT 1, em face do aumento da pressão IN. na área, até finais de Set70, tendo recolhido depois a Fá;

  • 30out-7nov70:

foi atribuída como reforço ao sector L1 (Bambadincva), efectua operações no Enxalé;

  •  21/22 Nov70:

operação “Mar Verde”, Conakry.

  • princípios de Dez70 / finais de Jan/71:

destacou 3 pelotões para reforço temporário das guarniçõe de Gadamael e Guileje;

  • de fevereiro a meados de Julho de 1971:

reforço a outros sectores, fez operações  nas zonas de Nova Sintra, Brandão, Jabadá e Bissássema;

  • 12Jun/20Set71:

2º curso de Comandos Africanos; c onstituição da 2ª CCmds Africana e recompletamento da 1ª CCmds; nomeados supervisores da 2ª e 1ª CCmds Africanas os Capitães Comandos Miquelina Simões e Ferreira da Silva.


  • de finais de Julho até Agosto de 1971,

a 1ª CCmdfs esteve em Bolama para recuperação, deslocando-se depois pra Brá, Bissau, nas instalações do futur0 BCmds da Guiné:

  • 30Nov71:

criado o Destacamento de Unidades de Comandos em Brá, sob o comando do Major Leal de Almeida, sendo 2º Comandante o Capitão Miquelina Simões, acumulando com o cargo de supervisor da 2ª CCmds Africana;

  • Out71/set72
a 1ª e a 2ª CCmds Africanos participam, em conjunto,  em ações em Candocea Beafaa (6Out71), Choquemone (18-12Out71), Tancroal (29Out/1Nov71),MOrés (20/24Dez71 e 7-12Fev72),Gussará-Tambicoó (30Mai-3Jun72),pensínsula de Gampará (11-15Nov71 e 24/28Nov71), Caboiana-Churo(28Ab-1Mai72, 26/28JJun72,19/21Dez72) e na região de Salancaur-Unal-Guileje (28Mar-8Abr72).

  • 30Jun/30Set72:

3º curso de Comandos Africanos em Fá Mandinga, destinado à formação da 3ª CCmds;

  • 29Set72:

extinção do Destacamento de Unidades de Comandos;

2Nov72:

nomeação do Comandante e 2º Comandante do BCmds da Guiné, respectivamente o Major Comando Almeida Bruno e Capitão Comando Raul Folques, tendo como supervisores os Capitães Comandos Baptista da Silva da 1ª CCmds, Miquelina Simões da 2ª, Baptista Serra, da 3ª e Matos Gomes da 1ª CCmds.
  • 3Nov72:

cerimónia da constituição do Batalhão de Comandos da Guiné, com a presença do Governador e Comandante-Chefe, onde foram entregues os crachás aos novos Comandos, graduados oficiais e sargentos e entregues os guiões à 3ª CCmds e ao Batalhão de Comandos da Guiné;

  • 1Abr73:

extintas as equipas de supervisão.

  • 30Mai73:

nomeação de uma equipa do BCmds para representarem as Tropas Africanas do CTIG na exposição “Paz e Progresso”, realizada em Lisboa, entre 10 e 24 de Junho de 1973;

  •  29Jun73:

comemorado pela 1ª vez na Guiné o “Dia do Comando”, com a presença do General Comandante-Chefe e de todos os Comandantes, Directores e Chefes da Armada, Exército e Força Aérea: nesta cerimónia, os Comandos do 4º curso juraram Bandeira e receberam os crachás e foram graduados novos oficiais e sargentos; o comando do Batalhão de Comandos da Guiné foi entregue ao Major Raul Folques.

  • 1Mar/29Jun73:

4º curso de Comandos;

  • 15Nov73/31Jan74:

5º curso de Comandos;

  • 7/Set974
extinção do BCMds da Guiné.



Guiné > Brá > 1973 > O furriel graduado 'comando' Cicri Vieira a cumprimentar o Major Raul Folques, comandante do Batalhão de Comandos da Guiné (no período de 28jul73 a 30abr74) (O major Raul Folques sucedeu ao major Almeida Bruno). (Foto publicada no livro do Amadu Djalõ, na pág. 197).





Lisboa >  2009 >  Da esquerda para a direita, o cor inf 'comando' ref Raul Folques e o ten general 'comando' ref Almeida Bruno (os dois primeiros comandantes do Batalhão de Comandos da Guiné, e ambos Torre e Espada) e o saudoso grã-tabanqueiro Amadu Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015).

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2015). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Fichas de unidade (CECA, 2002)


Batalhão de Comandos da Guiné

Identificação: BCmds

Crndt: Maj Cav Cmd João de Almeida Bruno | Maj Inf Cmd Raul Miguel Socorro Folgues | Maj Inf Cmd Florindo Eugénio Batista Morais

2º Crndt: Cap Inf Cmd Raul Miguel Socorro Folgues | Cap Inf Cmd João Batista Serra | Cap Cav Cmd Carlos Manuel Serpa de Matos Gomes | Cap Art Cmd José Castelo Glória Alves

Início: 02Nov72 | Extinção: 07Set74

Síntese da Actividade Operacional

A unidade foi criada, a título provisório, em 2Nov72, a fim de integrar as subunidades de Comandos da Metrópole em actuação na Guiné e também as CCmds Africanas, passando a superintende no seu emprego operacional e no seu apoio administrativo e logístico.

Em 1Abr73, o BCmds foi criado a título definitivo, tendo a sua organização sido aprovada por despacho de 21Fev73 do ministro do Exército..

Desenvolveu intensa actividade operacional, efectuando diversas operações independentes em áreas de intervenção do Comando-Chefe ou em coordenação com os batalhões dos diferentes sectores onde as suas forças foram utilizadas, nomeadamente nas regiões de Cantanhez (operação "Falcão Dourado", de 15 a 19Jan73, e operação "Kangurú Indisposto", de 21 a 23 Mar73); de Morés (operação "Topázio Cantante", de 25 a 27Jan73); de Changalana-Sara (operação "Esmeralda Negra", de 13 a j 6Fev73); de Morés e Cubonge (operação "Empresa Titânica'', de 27Fev73 a 0IMar73); de Samoge-Guidage (operação "Ametista Real", em 20 e 2IMai73); de Caboiana (operação "Malaquite Utópica", de 21 a 22 Jul73 e operação "Gema Opalina", de 24 a 27Set73); de Choquernone (operação "Milho Verde/2", de 14 a 17Fev74); de Biambifoi (operação "Seara Encantada", de 22 a 26Fev74) e de Canguelifá (operação "Neve Gelada", de 21 a 23Mar74), entre outras. As suas subunidades, em especial as metropolitanas, foram ainda atribuídas em reforço de outros batalhões, por períodos variáveis, para intervenção em operações específicas ou reforço continuado do respectivo sector.

Das operações efectuadas, refere-se especialmente a operação "Ametista Real", efectuada de 17 a 20Mai73, em que, tendo sofrido 14 mortos e 25 feridos graves, provocou ao inimigo 67 mortos e muitos feridos, destruindo ainda 2 metralhadoras antiaéreas e 22 depósitos de armamento e munições com 300 espingardas, 112 pistolas-metralhadoras, 100 metralhadores ligeiras, 11 morteiros, 14 canhões sem recuo, 588 lança-granadas foguete, 21 rampas de foguetão 122, 1785 munições de armas pesadas, 53 foguetões de 122,905 minas e 50.000 munições de armas ligeiras.

Destacou-se também, pela oportunidade da intervenção e captura de 3 morteiros 120,367 granadas de morteiro, 1 lança granadas foguete e 2 espingardas e 26 mortos causados ao inimigo, a acção sobre a base de fogos que atacava Canquelifá, em 21Mar74.

Em 20Ag074, as três subunidades de pessoal africano foram desarmadas, tendo passado os seus efectivos à disponibilidade.

Em 7Set74, o batalhão foi desactivado e exinto.

Observações - Não tem História da Unidade.

CECA (2002), pp. 646/647

1ª Companhia de Comandos Africanos

Identificação:  1ª CCmdsAfr

Crndt: Cap Grad Cmd João Bacar Jaló |Ten Grad Cmd Abdulai Queta Jamanca | Ten Grad Cmd Cicri Marques Vieira | Cap Grad Cmd Zacarias Saiegh

Início: 9Ju169 | Extinção: 7Set74

Síntese da Actividade Operacional

Foi organizada em Fá Mandinga a partir de 09Ju169, exclusivamente com pessoal natural da Guiné e foi formada com base em anteriores Grupos de Comandos existentes junto dos batalhões, tendo iniciado a sua instrução em 6Fev70 e efectuado o juramento de bandeira em 26Abr70.

A subunidade ficou colocada com a sede em Fá Mandinga, com a missão de intervenção e reserva do Comando-Chefe, após ter terminado o seu treino operacional na região de Bajocunda, de 2IJun70 a 15Ju170, e onde, seguidamente, se manteve em reforço do COT 1, em face do aumento da pressão
inimiga na área, até finais de Set70, tendo então recolhido a Fá Mandinga.

A partir de 300ut70, foi atribuída em reforço de vários sectores, tendo tomado parte em operações nas regiões de Enxalé, de 300ut70 a 07Nov70, na zona de acção do BArt 2927; de Nova Sintra, Brandão, Jabadá e Bissássema, de Fev71 a meados de Julho71, em reforço do BArt 2924. 

Tomou ainda parte na operação "Mar Verde", em 21 e 22Nov70, em acção sobre Conacri e destacou três pelotões para reforço temporário das guarnições de Gadamael e Guileje, de princípios de Dez70 a finais de Jan71.

Em finais de Ju171, seguiu de Tite para Bolama, para um curto período de descanso e recuperação, tendo, em meados de Ago71, passado a ficar instalada em Brá (Bissau), nas instalações do futuro BCmds.

Seguidamente, passou a efectuar operações conjuntas com a 2ª CCmds Afr, em regiões diversas, nomeadamente nas regiões de Cancodeá Beafada, em 60ut71; do Choquemone, de 18 a 220ut71; de Tancroal, de 290ut71 a 1Nov71; do Morés, de 20 a 24Dez71 e de 7 a 12Fev72; de Gussará-Tambicó, de 30Mai72 a 3Jun72 e ainda as operações preparatórias e de consolidação da instalação do COP 7 na pensínsula de Gampará (operação "Satélite Dourado", de 11 a 15Nov71 e a operação Pérola Amarela", de 24 a 28Nov71). 

Tomou também parte em operações desenvolvidas pelo CAOP 1, na região de Caboiana-
-Churo, de 28Abr71 a 1Mai72, de 26 a 28Jun72 e de 19 a 21Dez72 e pelo COP 4, na região de Salancaúr-Unal-Guileje, de 28Mar72 a 08Abr72.

Em 2Nov72, foi integrada no BCmds, então criado, tendo tomado parte em todas as operações planeadas e comandadas por este e tendo ainda sido atribuída algumas vezes para realização de operações desenvolvidas pelos sectores ou comandos equivalentes.

A 1ª CCmdsAfr foi desactivada e extinta em 7Set74, com as restantes forças do BCmds.

Observações - Não tem História da Unidade.

CECA (2002), pp. 648/649

2ª Companhia de Comandos Africanos

Identificação 2.a CCmdsAfr
Cmdt: Ten Grad Cmd Mamadu Saliu Bari | Ten Grad Cmd Adriano Sisseco | Ten Grad Cmd Armando Carolino Barbosa
Início: 15Abr71 | Extinção: 7Set74

Síntese da Actividade Operacional

Foi organizada e instruída em Fá Mandinga a partir de 15Abr71 exclusivamente com pessoal africano natural da Guiné e foi formada com base em anterior Grupos de Comandos existentes junto dos batalhões e com graduados vindos da 1ª CCmds Afr, tendo realizado o treino operacional de 28Ag071 a 23Set71, o qual incluiu a participação em operações realizadas nas regiões de Sancorlá-Cossarandim e Ponta Varela, no sector do BArt 2917.

A subunidade ficou colocada em Fá Mandinga, com a função de intervenção e reserva do Comando-Chefe, tendo sido atribuída inicialmente ao BArt 2917, com vista à realização de operações nas regiões de Malafo-Enxalé, em 10/11Set71 e Gã Júlio, de 2 a 40ut71.

Em meados de Out71, passou a ficar instalada em Brá (Bissau) nas instalações do futuro BCmds, em conjunto com a 1ª CCmds Africana com a qual passou a tomar parte em operações realizadas em regiões diversas, nomeadamente nas regiões de Cancodeá Beafada, em 60ut71; do Choquemone, de18 a 220ut71; de Tancroal, de 290ut71 a 01Nov71; do Morés, de 20 a 24Dez71 e de 7 a l2Fev72; de Gussará-Tambicó, de 30Mai72 a 03Jun72 e ainda as operações preparatórias e de consolidação da instalação do COP 7 na península de Gampará (operação "Satélite Dourado", de l l a 15Nov71 e
operação "Pérola Amarela", de 24 a 28Nov71.

Tomou também parte em operações desenvolvidas pelo CAOP 1 na região de Caboiana-Churo, de 28Abr71 a IMai72, de 26 a 28Jun72 e de 19 a 21Dez72 e pelo COP 4, de 28Mar72 a 08Abr72. 

Realizou ainda operações em diversas zonas de acção, nomeadamente na região de Suarecunda, em 17Jan72 e de 18 a 21Mai72, no sector do BCaç 3832 e de Sare Bacar, em 06Mai72, no sector do BCav 3864, entre outras.

Em 2Nov72, foi integrada no BCmds, então criado, tendo tomado parte em toda as operações planeadas e comandadas por este batalhão e tendo ainda sido atribuída algumas vezes para realização de operações desenvolvidas pelos sectores ou comandos equivalentes.

A 2ª CCmds Afr foi desactivada e extinta em 07Set74, com as restantes forças do BCmds.

Observações - Não tem História da Unidade.

CECA (2002), pp. 650/51

3ª Companhia de Comandos Africanos

Identificação: 3ª  CCmds Afr

Crndt: Alf Grad Cmd António Jalibá Gomes |  Ten Grad Cmd Bacar Djassi | Alf Grad Cmd Aliú Fada Candé | Alf Grad Cmd Malan Baldé

Início: 14Abr72 | Extinção: 07Set74

Síntese da Actividade Operacional

Foi organizada e instruída em Fá Mandinga a partir de 14Abr72 até 16Set72, para concretização do despacho de 3Mar72 do CCFAG, sendo constituída exclusivamente com pessoal africano natural da Guiné, recrutado nas subunidades africanas da organização territorial e das subunidades de milícias e com graduados vindos das anteriores CCmds Afr, tendo a imposição das insígnias de "comando" sido efectuada na cerimónia de criação do BCmds, em 2Nov72.

Em 2Nov72, foi integrada no BCmds, então criado, ficando instalada em Brá (Bissau) e tomando parte nas operações planeadas e comandadas por aquele batalhão. Algumas vezes foi atribuída para realização de operações desenvolvidas por sectores ou comandos equivalentes, nomeadamente na região de CampadaJ Barraca Banana, em 4Dez72, no sector do BCav 3846.

A 3ª CCmds Afr foi desactivada e extinta em 7Set74, com as restantes forças do BCmds.

Observações -  Não tem História da Unidade.

CECA (2002), pág. 652

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 648/652.
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sábado, 11 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16192: Efemérides (230): O 10 de junho de 2016, em Belém: um herói vivo, cor inf cmd Raul Folques e um grupo de grã-tabanqueiros que não costumam faltar a este convívio de antigos combatentes, entre outros, António Fernando Marques, Arménio Estorninho, Carlos Silva, E. Magalhães Ribeiro, Fernando Jesus Sousa, Francisco Silva, João Carlos Silva, Joaquim Nunes Sequeira, José Nascimento, Mário Fitas, Miguel & Giselda Pessoa, e Silvério Lobo


Foto nº 1 > Um herói vivo, o cor inf comando ref Raul Folques, com os seus 76 anos, condecorado em 9/10/2015 com o Grau Oficial, com Palma, da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

Recorde-se, de acordo com o respetivo sítio Oficial, na Net,. que a "Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito é a mais importante Ordem Honorífica portuguesa", destinando-se "a galardoar méritos excecionalmente distintos no exercício das funções dos cargos supremos dos órgãos de soberania ou no comando de tropas em campanha. Da mesma forma, premeia feitos excecionais de heroísmo militar ou cívico e atos ou serviços excecionais de abnegação e sacrifício pela Pátria e pela Humanidade."


Foto  nº 2 > Mário Fitas e Raul Folques


Foto nº 3 > Raul Folques com duas crianças a quem o pai fez questão de apresentar e mostrar um "herói vivo", português, de Portugal... Na escola, já não se fala de heróis, muito menos vivos, e muito menos da "guerra do ultramar"... Temos dificuldade em lidar com o nosso passado recente em relação ao qual vai demorando o aparecimento de uma terceira via, mais suave, mais assertiva, mais despojada de emoções, entre  as duas leituras, redutoras e extremadas do "10 de junho", do nosso espectro político-ideológico, a da extrema direita (discreta nas habitualmente presente neste espaço simbólico)  e a da extrema esquerda (completamente ausente)...


Foto nº 4 >  O nosso coeditor e "ranger" Magalhães Ribeiro, membro, este ano, da organização do XXIII Encontro Nacional de Combatentes... Um dos "últimos soldados do império",  que continua a ser um combatente dedicado e generoso.


Foto nº  5 > O Magalhães Ribeiro, de Matosinhos, nunca falta ao 10 de junho em Belém... Não me lembro de nunca o ter visto nos anos anteriores, mesmo sendo eu presença irregular nestes eventos que, confesso, me deprimem, desde sempre: este ano já éramos menos, até por causa da ponte (longa, de 6ª feira a 2ª feira, em Lisboa)... 

Cada vez seremos menos, e daqui a dez anos, vamos todos em cadeira de rodas, os que tiverem o privilégio ou a sorte de lá chegar... Recordo sempre o provérbio popular que diz: "Muita saúde e pouca vida, que Deus não dá tudo"... Não foi Deus que disse que "a sorte protege os audazes". Usemos (,mas não abusemos de) a  sorte...

Entretanto, o mundo  pulou e avançou e já ninguém terá pachorra para ouvir falar da "guerra do ultramar".... Esta é que é a verdade "nua e crua"... Até lá, daqui a 10 anos, compete-nos continuar a viver, a sobreviver e a mostrar, aos mais novos, que fomos uma grande geração... que soube fazer a guerra e a paz!... Fizemos a guerra, os nossos representantes tinham que saber fazer a paz... Não a fizeram, não quiseram ou não a souberam fazer, tivemos nós, afinal,  que saber fazer a guerra e a paz... 

Quem, daqui a 100 anos, nos vai acusar de quem fomos incompetentes nos dois tabuleiros? Camaradas, não nos compete fazer parte do tribunal da história... Fomos nós que a fizemos, a história, não nos compete escrevê-la... Mas não cedamos à chantagem daqueles que nos querem calar, à esquerda, ao centro ou à direita... Acho que é isso que estas fotos querem dizer...


Foto nº 6 > O Núcleo de Sintra da Liga dos Combatentes, representado pelo nosso grã-tabanqueiro (nº 608)  Joaquim Nunes Sequeira... Pela 23ª vez, levando o guião do Núcleo de Sintra. A seu lado, o nosso "gandulo" Mário Fitas.


Foto nº 7 > João Carlos Silva, ex-1º cabo especialista MMA, da FAP (BA 6, Montijo, 1979/82), que nos dá a honra de se sentar à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande, desde 22/2/2009.  Aqui com o  guião da AEFA - Associação dos Especialistas da Força Aérea.

Também encontrei o Victor Barata,  fundador, administrador e editor do blogue Especialistas da BA 12, Guiné 1965-74, e nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, mas infelizmente esqueci-me de tirar uma foto com ele (e o irmão)... Transmitiu-me uma ideia que fica aqui registada: as relações entre os especialistas MMA, da BA 12, Bissalanca, com os pilotos, nomeadamente dos Fiat G-91,  eram boas, mas poderiam ter sido excelentes... É uma opinião.  Mas eu poderia dizer o mesmo: a distância (social), no Exército, entre os combatentes e os seus comandantes (nomeadamente a nível de batalhão) era, em  geral, muito grande e talvez perniciosa.

 Os nossos oficiais superiores, nomeadamente no exército, nunca perceberam que essa distância podia comprometer, irremediavelmente, o desempenho operacional. Com a exceção de Spínola, ao nível dos generais, e talvez das tropas especiais (BCP 12, fuzileiros, etc.), ninguém, percebeu ou estava interessado em perceber isso; que um líder é aquele que vai à frente, mostrando o caminho...

Nunca tive um comandante de batalhão que me mostrasse o caminho, e a única vez em que um tenente coronel alinhou ao meu lado, no mato, fui eu, fomos nós, que lhe mostrámos o caminho. Esse oficial superior chamava-se Polidoro Monteiro, mas contavam-se pelos dedos os líderes militares, os grandes comandantes operacionais, como o Raul Folques, o Alpoim Calvão ou o capitão Comando graduado Bacar Jaló ou o ten cor pqdt Araújo e Sá...  Ao nível dos graduados subalternos, milicianos (oficiais e sargentos), a seleção e a formação não terão sido menos desastrosas... Em suma, fomos todos entregues aos bichos... Ou melhor, e para não ser tão radical: às vezes, eu tive a sensação de que estávamos entregues aos bichos...


Foto nº 8 > A banda da GNR - Guarda Nacional Repúblicana, que abrilhantou a cerimónia


Foto nº 9 > Aspeto parcial dos participantes e do Monumento aos Combatentes do Ultramar


Foto nº 10 > O casal mais "strelado" do mundo: o Miguel e a Giselda Pessoa (atrás, de óculos)


Foto nº 11 > Da direita para a esquerda; o Francisco Silva, o "nosso" cirurgião ortopedista, o algravio Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70),  mais outro camarada que veio com ele. e que esteve em Porto Gole com o Jorge Rosales (lamentavelmente, não fixámos o seu nome)


Foto nº 12 > Ao centro o Mário Fitas, nas pontas o José Nascimento (CART 2520) e o Arménio Estorninho (CCAÇ  2381)




Foto  nº 13 > O Silvério Lobo, mais um camarada da sua companhia (de quem também não fixei o nome mas que, segundo o Hèlder Sousa, é o Lino Rei, de Pinhal Novo)


Foto nº 13 > O José do Nascimento e o Arménio Estorninho, dois camaradas  do Barlavento algarvio, mais exatamente de Lagoa, que também é a terra do António Camilo. 


Foto nº 14  > O Fernando de Jesus Sousa,  bedandense,  DFA... > Depois de uma livro aubiográfico vai lançar um de poesia proximamente, lá para novembro,,,


Foto nº 15 > Carlos Silva e António Fernando Marques



Foto nº 16 > Luís Graça e António Fernando Marques, dois velhos camaradas da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)


Foto nº 17 > O guião da AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste, com sede na Lourinhã


Foto nº 18 > Em primeiro plano, o António Basto, um dos dirigentes da AVECO


Foto nº 19 > Acabadas as "hostilidades", reconfortada a alma, matadas as saudades, é preciso alimentar o corpo: o piquenique da malta da AVECO.

Lisboa, Belém, Forte do Bom Sucesso, Monumento aos Combatentes do Ultramar > XXIII Encontro Nacional de Combatentes >  10 de junho de 2016 > Alguns camaradas com quem falei e a quem fotografei...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6191: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (4): Intervenção do Cor Inf Ref Manuel Bernardo


1.O nosso Camarada Manuel Bernardo, Cor Inf Ref, amável e prestimosamente enviou-nos, para divulgação,  o texto da sua alocução no lançamento do livro do Amadú Djaló, Guineense,  Comando, Português,  informando-nos ao mesmo tempo, que quem quiser pode consultar as fotos do evento no site Guerra do Ultramar:




Livro “Guineense, Comando, Português; Comandos Africanos 1964-1974”, 1.º volume

1. Cumprimentos

- Dr. Lobo do Amaral
- Cor. “Cmd” Raul Folques
- Dr. Nuno Rogeiro
- O autor Amadú Djaló
- Cmd Virgínio Briote

- Todos os presentes…

Não tenho os dotes oratórios dos camaradas e amigos que me antecederam e muito menos dos do professor e ilustre comentador da SIC, que é o Dr. Nuno Rogeiro, pelo que vou limitar-me a ler um texto que elaborei para esta ocasião.

Agradeço o amável e honroso convite que me foi formulado pelo Presidente da Associação de Comandos, Dr. Lobo do Amaral, com quem já colaborara na edição de um outro livro sobre o 25 de Novembro e também incluído nesta colecção Mama Sume, da Associação de Comandos.

Para quem não me conhece e não compreende a minha presença neste acto solene de apresentação do livro do Alferes graduado Amadú Djaló, adiantarei que me envolvi com a Guiné e com os guineenses, quando fui solicitado por um grande amigo e camarada do meu Curso de Infantaria, o Coronel José Pais, pouco tempo antes de falecer, para que eu denunciasse os crimes contra a humanidade praticados na Guiné, no pós-independência, contra os seus militares, e outros, que incluía os designados “comandos africanos”.
Apesar de nunca me ter deslocado a este território, fiz questão de cumprir a promessa feita.

Assim, nesse sentido, em 2007 publiquei o livro Guerra Paz e Fuzilamento dos Guerreiros; Guiné 1970-1980, onde, além dos 53 “comandos africanos”, na grande maioria oficiais e sargentos, identifiquei 182 elementos, que igualmente foram fuzilados clandestinamente pelas autoridades guineenses, depois de serem detidos, sem ser oficialmente formulada qualquer acusação.
Nesta cerca de duas centenas de vítimas estão incluídos 34 militares do Exército, 14 fuzileiros especiais e 14 milícias, além de vários régulos e cipaios.

Quero lembrar aos presentes que os nomes daqueles 53 “comandos” africanos mandados fuzilar clandestinamente pelo PAIGC, se encontram desde Novembro do ano passado inscritos nas paredes do Memorial dos Combatentes do Ultramar, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, depois de uma porfiada campanha nesse sentido feita pela Associação de Comandos.
Pena foi que nesse acto não tivessem tomado a posição de esclarecer as pessoas, e nomeadamente os combatentes,  dessa vergonhosa afronta e dos crimes praticados e consubstanciados nesse tipo de actuação.

Questões prévias

Antes de me debruçar sobre este livro do Amadú Djaló, permitam-me que, aproveitando estar junto de tantos militares e amigos, tente esclarecer dois assuntos, que foram referidos em livros publicados recentemente.

O primeiro tem a ver com a crítica feita pelo meu amigo Cor Brandão Ferreira, no seu último livro (Em Nome da Pátria) em relação à maneira como deviam ter sido solucionadas as guerras subversivas que enfrentávamos em Angola, Guiné e Moçambique. Ele não concorda com o princípio, que eu defendo, de que “a solução para este tipo de guerra deve ser política, através de negociações para a paz, e de preferência em posição de força.”
Julgo que, genericamente, o princípio deverá ser este. Recordo ter sido o utilizado pelo General De Gaulle, na Argélia… E lembrava igualmente ter ocorrido, em 1972, a última oportunidade perdida pelo anterior regime de iniciar um processo negocial na Guiné, como foi proposto a Lisboa pelo então General António de Spínola, na sequência de um encontro com o Presidente do Senegal, Leopold Senghor.

O segundo diz respeito a uma referência errada à minha actuação antes e pós 25 de Abril, em relação ao falecido Marechal Spínola, feita pelo Professor Luís Nuno Rodrigues, na biografia deste oficial, publicada recentemente e lançado na semana passada, em Lisboa.

Afirma o referido autor, com base na transcrição de um livro meu (Memórias da Revolução; Portugal 1974-1975) em relação a um passo significativo para a reintegração de Spínola na sociedade portuguesa, o seguinte:

“(…) Os “fiéis” de sempre voltam a cerrar fileiras em torno do Velho. Em 1977, um grupo de oficiais, entre os quais Manuel Monge. Manuel Amaro Bernardo e Caçorino Dias, solicitaram ao CEME, General Rocha Vieira, que resolvesse a sua situação remuneratória (…). Meses depois, a 27-2-1978, Spínola foi finalmente reintegrado nas FA (…).”

Daquilo que conheço apenas o Manuel Monge poderá ser considerado um “fiel de sempre”, pois o Caçorino Dias apenas o terá conhecido em 1973, numa visita à Guiné, a propósito da contestação desencadeada ao Congresso de Combatentes e eu nunca o tinha visto, contactado ou trabalhado com ele até essa altura (1977). Apenas tive ocasião de lhe falar pela primeira vez, quando pedi uma entrevista, em 1993, para um trabalho universitário, depois publicado no livro Marcello e Spínola; a Ruptura (…)”.

E dos cinco oficiais, onde eu me incluo e que tomaram essa atitude de solidariedade castrense, os dois não transcritos do meu texto – os então Major José Pais e Capitão Ribeiro da Fonseca –, poder-se-iam considerar muito mais ligados ao Marechal desde os tempos da Guiné, onde prestaram serviço e comandaram companhias em operações.

Lembro ainda que imediatamente antes dessa afirmação, no livro Memórias da Revolução (…), eu frisava que apenas tinha conhecido António de Spínola depois de ele regressar do exílio, pós-11 de Março de 1975.

Mas eu já estou habituado que façam más transcrições dos meus livros, como aconteceu, com o Dr. Almeida Santos, para o seu Quase Memórias. Mas terão sempre que me ouvir em relação aos erros cometidos…, pois estou no meu direito de tentar restabelecer a verdade dos factos.

Um grande “comando” guineense”

Entrando na análise desta obra, começaria por dizer que o seu autor foi um militar perseverante e distinto, que percorreu as funções das três classes atribuídas aos combatentes: praça (soldado e cabo), sargento e oficial, ao longo dos 11 anos que durou a guerra na Guiné.
Amadú Djaló, com o Curso de Comandos, que frequentou em 1964, seria transformado de um jovem comerciante independente, na vida civil, num grande combatente.
Para tudo na vida é preciso ter sorte e ele teve-a com os militares que foram seus instrutores e, depois, com o Alferes Maurício Saraiva, comandante do seu grupo (Os Fantasmas) e que foi considerado como um dos melhores combatentes da Guerra do Ultramar.

A este propósito lembro que os instrutores e monitores deste Curso de Comandos foram militares muito valentes, quer na Guiné, quer nos outros teatros de operações.
Quatro deles viriam a ser galardoados com a mais alta condecoração, a Ordem Militar da Torre Espada, do Valor Lealdade e Mérito, em 1969/70: Tenente Jaime Abreu Cardoso, 2.º Sargento Ferreira Gaspar, 2.º Sargento Marcelino da Mata e Capitão Maurício Saraiva. Dos restantes, sete seriam condecorados com a Cruz de Guerra (alguns com mais que uma).

Aliás, durante a guerra da Guiné, e por feitos praticados em operações foram condecorados com a Torre Espada mais quatro oficiais dos comandos: Major Almeida Bruno, Capitão Ribeiro da Fonseca, e os guineenses Cherne Sissé e João Bacar Jaló.  Pena foi que o último comandante do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné, o Coronel Raul Folques (aqui presente e também na capa deste livro), que já se distinguira em Angola e condecorado com uma terceira Cruz de Guerra em 1973, não tivesse merecido da hierarquia militar a ambicionada Torre Espada.



Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Os nossos camaradas, membros do nosso blogue, João Parreira (de costas) e Mário Dias, ex-comandos do CTIG (1964/64), em conversa com o comandante Apoim Calvão (em segundo plano, entre os dois).

Foto: © Luís Graça (2010). Direitos reservados


Quanto ao conteúdo da obra poder-se-á dizer que se trata de uma história triste, contada na primeira pessoa ao logo destas 300 páginas, como tristes e dramáticas serão todas as histórias de guerra.
Nela se descrevem as acções onde as nossas tropas sofrem feridos e mortes de camaradas, que com eles conviviam no dia-a-dia. Essas são marcas que ficarão para sempre na nossa memória. O autor fez bem em salientar, em anexo, os nomes de todos eles.
Na fase inicial de combate, no Grupo Fantasmas do então Alferes Maurício Saraiva já se nota, muitas vezes, uma mistura dos guerrilheiros com as populações, por conivência ou ameaças sobre elas, o que dificulta a actuação, sem os designados danos colaterais.
No entanto, o bom senso e a experiência do Amadú foram factores importantes para o bom andamento das operações. A sua actividade nos “comandos” manteve-se após a saída deste oficial, com a sua integração no Grupo Centuriões do Alferes Luís Rainha.

Após a intensa actividade operacional entre 1964 e 1966, nesses grupos de “comandos”, Amadú sentiu a necessidade de descansar para “recarregar as baterias”, voltando à sua condição de condutor. Assim, durante três anos passou pela CCS/QG e por vários batalhões: o BCav 757, o BCaç 1877, o BCav 1905 e BCaç 2856, que estiveram sedeados em Bafatá.

Com a ordem de regressar aos “comandos” em 1969, com vista à formação da 1.ª CCmds Af., Amadú, tal como os seus antigos camaradas Braima Bá e Tomás Camará, regressou às lides operacionais, agora (1970) sob a liderança do Tenente João Bacar Jaló, um figura mítica e muito considerada pelas gentes da Guiné.

Mas, antes,  ainda teve que frequentar um curso acelerado com o então Capitão “Comando” Barbosa Henriques, um militar que, depois do 25 de Abril, prestaria serviço comigo no Tribunal Militar.

Recordo a manifestação sentida dos “comandos” guineenses residentes na área da grande Lisboa, com os seus trajes típicos maometanos, no dia do seu funeral, há alguns anos, no cemitério do Alto de S. João. Despediram-se do seu amigo com o habitual grito “Mama Sume”

Grandes operações nos países vizinhos

Além das mais variadas operações feitas em todo o território e nomeadamente nas matas de Morés ou da Cobaiana, saliento as duas efectuadas em território estrangeiro.
A Mar Verde, na Guiné-Conacri, em Novembro de 1970, em que previamente surgiram dúvidas nos elementos da 1.ª CCmds Af. sobre a sua participação naquelas condições e onde actuaram juntamente com elementos dissidentes daquele país.
Os principais objectivos acabariam por não ser conseguidos, devido a falhas dos serviços de informações em relação à localização dos aviões e do presidente Sékou Turé, mas ocorreu o notável feito da libertação de 26 portugueses, que o PAIGC mantinha em prisões na capital do país.
Nesta operação a companhia de Comandos teve uma baixa de peso, pois o Tenente Januário Lopes desertou e entregou-se com o seu grupo de 24 homens. Esta não é porém a versão de Marcelino da Mata, com acção de comando importante à frente do seu grupo, após a morte do alferes na fase inicial, e que diz terem-nos deixado para trás por falta de coragem em os ir lá buscar na retirada.
O facto é que nas declarações à comissão da ONU, dias depois, Januário afirmou ter de facto desertado e acabaria por ser fuzilado com os seus homens no mês seguinte.

Amadú aquando dos preparativos para esta operação afirma no livro:
“(…) A nós, o PAIGC não nos poupava. Que me lembre não me recordo ver alguns dos nossos matar os feridos. Nem deixávamos nenhum ferido do PAIGC na terra de ninguém. Se estivesse ferido, pedíamos a evacuação para o Hospital Militar. Certamente que alguns de nós, brancos ou negros não se comportavam assim tão dignamente, mas não eram a maioria. E se fossemos apanhados pela tropa do Sékou Turé, de certeza que não haveria nenhum sobrevivente. (…)

A segunda, a operação Ametista Real,  foi realizada em Maio de 1973, à base de Cumbamori, no Senegal, em que seria empenhado todo o Batalhão de Comandos Africano, sob o comando do então Major Almeida Bruno.
O objectivo, desta vez, foi conseguido, pois levou à destruição dos depósitos de armas e munições e numerosas baixas no PAIGC, tal como seria parado, pouco tempo depois, o cerco a Guidaje, que já durava havia três semanas.

O Batalhão de Comandos também sofreu bastantes baixas e a retirada do Senegal para o território da Guiné foi deveras penosa e feita com grandes dificuldades. Seria mais uma vez a grande experiência do Amadú e o apoio eficiente dado pelos aviões da Força Aérea a resolver a situação no final da operação. O autor descreve o sucedido, nas pag. 253 e 254:
“(…) Continuámos a retirar em direcção à fronteira. Não podíamos forçar muito, porque o Jamanca (tenente e comandante da companhia) só podia andar com o apoio de alguém e o Capitão Folques, com a perna ferida também tinha muita dificuldade em andar e estávamos ainda longe de Guidage.
“Pedimos apoio á aviação, mas recusaram. Que estavam a a voar muito alto e era difícil localizarem-nos. (…) Perguntei ao soldado que transportava o morteiro se tinha alguma granada de fumo. (…) O Capitão Folques transmitiu para os aviões (…). Disparei com o morteiro para sinalizar o local a partir do qual os aviões podiam bombardear.
“Uma grande bola branca de fumo já tinham visto dos aviões, ouvimo-los dizer. A partir deste momento, o Capitão Folques disse sueste do fumo, a sul, a sudoeste e a oeste, arrasar tudo, tudo! (…) Essa granada de fumo ajudou-nos muito. (…)
“Chegámos junto do arame farpado de Guidage entre as 18 e as 19H00, mortos de sede e fome. Em Guidage não havia nada para comer. Nem medicamentos. (…)

Como se vê, foram tempos dramáticos e de grande sofrimento os passados nessa altura… E pelas transcrições feitas julgo que ficarão de algum modo elucidados sobre o conteúdo desta obra.

Antes de terminar apenas quero fazer duas pequenas observações.
A primeira em relação ao editor, por na contra-capa não ter colocado outra fotografia do autor, em que no fundo estivessem nomes de guineenses (talvez os fuzilados e colocados recentemente no Memorial do Bom Sucesso) e não os que se encontram nessa foto.

A segunda por o autor não fazer qualquer referência à actuação do Marcelino da Mata naquelas grandes operações, atrás referidas, onde ele teve desempenho brilhante e relevante.
Lembro ainda o facto de ele ter sido o militar mais condecorado do Exército Português em toda a Guerra do Ultramar. Mas o Amadú Djaló, na pág. 243 do livro, esclarece a sua atitude em relação a este oficial:

“O ambiente entre nós nem sempre foi o melhor. Havia rivalidades étnicas que se cruzavam com os problemas que ocorriam em qualquer unidade militar. “

A terminar, quero elogiar o autor por esta significativa e importante obra hoje foi aqui lançada e que acabou por ser publicada mercê da sua persistência de vários anos.
De assinalar igualmente o trabalho meritório do “Comando” Virgínio Briote, que contribuiu bastante para a execução deste projecto, tal como na sua eficiente divulgação.
Elogio igualmente o editor, Dr. Lobo do Amaral, Presidente da Associação de Comandos, por numa altura de crise geral e editorial, nomeadamente em relação aos livros de ensaio ou memórias, se ter abalançado na sua publicação.

Muitas felicidades para os três, para o Coronel Raul Folques e para o Dr. Nuno Rogeiro, assim como para todos os presentes.

Muito Obrigado!

Manuel Bernardo
Lisboa, 15-04-2010
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Nota de MR:
Vd. último poste da série em:

18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6180: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (3): Intervenção do Cor Cmd Ref Raúl Folques

sexta-feira, 15 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25274: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Lançamento do livro em 2010 - Parte III: Intervenção do cor inf ref e escritor Manuel Bernardo


O 1º cabo 'cmd' Amadu Bailo Djaló, em meados de 1966. Foto do autor.


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Sessão de lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010) >  Amadu, 70 anos, de fato completo, gravata, e as suas condecorações, autografando o seu livro... A seu lado, a filha e o neto... Pareceu-me estar feliz, apesar do peso da idade e da doença crónica... Disse-lhe, em tom de  brincadeira: "Aamdu, agora é que vais ser famoso e rico"... (Infelizmente, os direitos de autor não o fizeram rico, apesar da generosidade da Associação de Comandos, seu editor, e do livro ter esgotado; famoso, também não, mas tornou-se um camarada guineense muito popular e estimado por todos nós; a morte levá-lo-ia consigo cinco anos depois; fez questão de ser inumado na sua terra natal.)


Lisboa > Museu >Militar > 15 de Abril de 2010 > Apesar de ter perdido ainda recentemente a sua mãe, o Virgínio Briote estava feliz pelo Amadu e  pela concretização de um projecto onde ele investiu muito do seu tempo, talento, camaradagem e generosidade. Esteve sempre atento ao Amadú, segredando-lhe ao ouvido algumas dicas... A felicidade do nosso querido amigo, camarada e coeditor (hoje jubilado, mas sempre leal e solidário com a nossa equipa) seria completo se o Amadu tivesse aproveitado a ocasião, como era a sua intenção, para a estender a mão aos inimigos de ontem, num gesto  histórico de reconciliação, que teria grande simbolismo. 

Mas o Amadu não se sentiu muito confortável nem em condições de saúde para dizer as palavras que estavam no seu coração e na sua cabeça (e que estão no seu livro).

Na foto, à direita, o nosso camarada Carlos Santos, que veio de Coimbra (recorde-se que foi  fur mil da CCAÇ 2700, Saltinho, 1970/72,  infelizmente já falecido entretanto). 

A malta do nosso blogue esteve presente em força, querendo com isso testemunhar o seu apreço e carinho ao Amadu.


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Sessão de lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010) > O Virgínio Briote "adiantando serviço" ao Amadú que não teve mãos a medir em matéria de pedidos de autógrafos... A seu lado, inclinado, apenas com a careca visível, o nosso amigo Rui Alexandrinho Ferrera, tratado afectuosamente como Ruizinho. Recorde-se que foi que o Rui A. Ferreira (1943-2023), nascido em Angola, cumpriu duas comissões de serviço na Guiné, primeiro como alf mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67, e depois  como cap mil na CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72.


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Sessão de lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010) >  Sessão de autógrafos > Na foto, à esquerda e de perfil o nosso camarada António Santos.

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1.  O lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il.) foi um acontecimento cultural, social e militar, juntando no Museu Militar alguns conhecidas personalidades e sobretudo muitos amigos e camaradas, incluindo guineenses, e membros da nossa Tabanca Grande (alguns, infelizmente, já falecidos: o José Eduardo Oliveira, o Coutinho e Lima, o José Manuel Matos Dinis, o Rui A. Ferreira).

Estamos a recordar alguns dos melhores momentos desse evento, a que o nosso blogue dedicou, na altura, nada mais mais nada menos do que cinco postes, e nomeadamente as intervenções dos três oradores: depois do jornalista, escritor e analista político Nuno Rogeiro e do cor 'cmd' Raul Folques, que foi cmdt do Amadu Djaló, em 1973, no Batalhão de Comandos da Guiné (*), terminamos com a intervenção do cor inf ref e escritor Manuel Bernardo: 


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Sessão de lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010) > O cor inf ref Manuel Bernardo lendo a sua intervenção



Capa do livro

Intervenção do cor inf ref e escritor Manuel Bernardo

Cumprimentos

- Dr. Lobo do Amaral
- Cor. “Cmd” Raul Folques
- Dr. Nuno Rogeiro
- O autor Amadú Djaló
- Cmd Virgínio Briote
- Todos os presentes…

Não tenho os dotes oratórios dos camaradas e amigos que me antecederam e muito menos dos do professor e ilustre comentador da SIC, que é o Dr. Nuno Rogeiro, pelo que vou limitar-me a ler um texto que elaborei para esta ocasião.


Agradeço o amável e honroso convite que me foi formulado pelo Presidente da Associação de Comandos, Dr. Lobo do Amaral, com quem já colaborara na edição de um outro livro sobre o 25 de Novembro e também incluído nesta colecção Mama Sume, da Associação de Comandos.

Para quem não me conhece e não compreende a minha presença neste acto solene de apresentação do livro do Alferes graduado Amadú Djaló, adiantarei que me envolvi com a Guiné e com os guineenses, quando fui solicitado por um grande amigo e camarada do meu Curso de Infantaria, o Coronel José Pais, pouco tempo antes de falecer, para que eu denunciasse os crimes contra a humanidade praticados na Guiné, no pós-independência, contra os seus militares, e outros, que incluía os designados “comandos africanos”.

Apesar de nunca me ter deslocado a este território, fiz questão de cumprir a promessa feita.

Assim, nesse sentido, em 2007 publiquei o livro Guerra Paz e Fuzilamento dos Guerreiros; Guiné 1970-1980, onde, além dos 53 “comandos africanos”, na grande maioria oficiais e sargentos, identifiquei 182 elementos, que igualmente foram fuzilados clandestinamente pelas autoridades guineenses, depois de serem detidos, sem ser oficialmente formulada qualquer acusação.

Nesta cerca de duas centenas de vítimas estão incluídos 34 militares do Exército, 14 fuzileiros especiais e 14 milícias, além de vários régulos e cipaios.

Quero lembrar aos presentes que os nomes daqueles 53 “comandos” africanos mandados fuzilar clandestinamente pelo PAIGC, se encontram desde Novembro do ano passado inscritos nas paredes do Memorial dos Combatentes do Ultramar, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, depois de uma porfiada campanha nesse sentido feita pela Associação de Comandos.

Pena foi que nesse acto não tivessem tomado a posição de esclarecer as pessoas, e nomeadamente os combatentes, dessa vergonhosa afronta e dos crimes praticados e consubstanciados nesse tipo de actuação.

Questões prévias

Antes de me debruçar sobre este livro do Amadú Djaló, permitam-me que, aproveitando estar junto de tantos militares e amigos, tente esclarecer dois assuntos, que foram referidos em livros publicados recentemente.

O primeiro tem a ver com a crítica feita pelo meu amigo Cor Brandão Ferreira, no seu último livro (Em Nome da Pátria) em relação à maneira como deviam ter sido solucionadas as guerras subversivas que enfrentávamos em Angola, Guiné e Moçambique. Ele não concorda com o princípio, que eu defendo, de que “a solução para este tipo de guerra deve ser política, através de negociações para a paz, e de preferência em posição de força.”

Julgo que, genericamente, o princípio deverá ser este. Recordo ter sido o utilizado pelo General De Gaulle, na Argélia… E lembrava igualmente ter ocorrido, em 1972, a última oportunidade perdida pelo anterior regime de iniciar um processo negocial na Guiné, como foi proposto a Lisboa pelo então General António de Spínola, na sequência de um encontro com o Presidente do Senegal, Leopold Senghor.

O segundo diz respeito a uma referência errada à minha actuação antes e pós 25 de Abril, em relação ao falecido Marechal Spínola, feita pelo Professor Luís Nuno Rodrigues, na biografia deste oficial, publicada recentemente e lançado na semana passada, em Lisboa.

Afirma o referido autor, com base na transcrição de um livro meu (Memórias da Revolução; Portugal 1974-1975) em relação a um passo significativo para a reintegração de Spínola na sociedade portuguesa, o seguinte:

“(…) Os “fiéis” de sempre voltam a cerrar fileiras em torno do Velho. Em 1977, um grupo de oficiais, entre os quais Manuel Monge. Manuel Amaro Bernardo e Caçorino Dias, solicitaram ao CEME, General Rocha Vieira, que resolvesse a sua situação remuneratória (…). Meses depois, a 27-2-1978, Spínola foi finalmente reintegrado nas FA (…).”

Daquilo que conheço apenas o Manuel Monge poderá ser considerado um “fiel de sempre”, pois o Caçorino Dias apenas o terá conhecido em 1973, numa visita à Guiné, a propósito da contestação desencadeada ao Congresso de Combatentes e eu nunca o tinha visto, contactado ou trabalhado com ele até essa altura (1977). Apenas tive ocasião de lhe falar pela primeira vez, quando pedi uma entrevista, em 1993, para um trabalho universitário, depois publicado no livro Marcello e Spínola; a Ruptura (…)”.

E dos cinco oficiais, onde eu me incluo e que tomaram essa atitude de solidariedade castrense, os dois não transcritos do meu texto – os então Major José Pais e Capitão Ribeiro da Fonseca –, poder-se-iam considerar muito mais ligados ao Marechal desde os tempos da Guiné, onde prestaram serviço e comandaram companhias em operações.

Lembro ainda que imediatamente antes dessa afirmação, no livro Memórias da Revolução (…), eu frisava que apenas tinha conhecido António de Spínola depois de ele regressar do exílio, pós-11 de Março de 1975.

Mas eu já estou habituado que façam más transcrições dos meus livros, como aconteceu, com o Dr. Almeida Santos, para o seu Quase Memórias. Mas terão sempre que me ouvir em relação aos erros cometidos…, pois estou no meu direito de tentar restabelecer a verdade dos factos.

Um grande “comando” guineense

Entrando na análise desta obra, começaria por dizer que o seu autor foi um militar perseverante e distinto, que percorreu as funções das três classes atribuídas aos combatentes: praça (soldado e cabo), sargento e oficial, ao longo dos 11 anos que durou a guerra na Guiné.

Amadú Djaló, com o Curso de Comandos, que frequentou em 1964, seria transformado de um jovem comerciante independente, na vida civil, num grande combatente.

Para tudo na vida é preciso ter sorte e ele teve-a com os militares que foram seus instrutores e, depois, com o Alferes Maurício Saraiva, comandante do seu grupo (Os Fantasmas) e que foi considerado como um dos melhores combatentes da Guerra do Ultramar.

A este propósito lembro que os instrutores e monitores deste Curso de Comandos foram militares muito valentes, quer na Guiné, quer nos outros teatros de operações.

Quatro deles viriam a ser galardoados com a mais alta condecoração, a Ordem Militar da Torre Espada, do Valor Lealdade e Mérito, em 1969/70: Tenente Jaime Abreu Cardoso, 2.º Sargento Ferreira Gaspar, 2.º Sargento Marcelino da Mata e Capitão Maurício Saraiva. Dos restantes, sete seriam condecorados com a Cruz de Guerra (alguns com mais que uma).

Aliás, durante a guerra da Guiné, e por feitos praticados em operações foram condecorados com a Torre Espada mais quatro oficiais dos comandos: Major Almeida Bruno, Capitão Ribeiro da Fonseca, e os guineenses Cherne Sissé e João Bacar Jaló. 

 Pena foi que o último comandante do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné, o Coronel Raul Folques (aqui presente e também na capa deste livro), que já se distinguira em Angola e condecorado com uma terceira Cruz de Guerra em 1973, não tivesse merecido da hierarquia militar a ambicionada Torre Espada.

Quanto ao conteúdo da obra poder-se-á dizer que se trata de uma história triste, contada na primeira pessoa ao logo destas 300 páginas, como tristes e dramáticas serão todas as histórias de guerra.

Nela se descrevem as acções onde as nossas tropas sofrem feridos e mortes de camaradas, que com eles conviviam no dia-a-dia. Essas são marcas que ficarão para sempre na nossa memória. O autor fez bem em salientar, em anexo, os nomes de todos eles.

Na fase inicial de combate, no Grupo Fantasmas do então Alferes Maurício Saraiva já se nota, muitas vezes, uma mistura dos guerrilheiros com as populações, por conivência ou ameaças sobre elas, o que dificulta a actuação, sem os designados danos colaterais.

No entanto, o bom senso e a experiência do Amadú foram factores importantes para o bom andamento das operações. A sua actividade nos “comandos” manteve-se após a saída deste oficial, com a sua integração no Grupo Centuriões do Alferes Luís Rainha.

Após a intensa actividade operacional entre 1964 e 1966, nesses grupos de “comandos”, Amadú sentiu a necessidade de descansar para “recarregar as baterias”, voltando à sua condição de condutor. Assim, durante três anos passou pela CCS/QG e por vários batalhões: o BCav 757, o BCaç 1877, o BCav 1905 e BCaç 2856, que estiveram sediados em Bafatá.

Com a ordem de regressar aos “comandos” em 1969, com vista à formação da 1.ª CCmds Af., Amadú, tal como os seus antigos camaradas Braima Bá e Tomás Camará, regressou às lides operacionais, agora (1970) sob a liderança do Tenente João Bacar Jaló, um figura mítica e muito considerada pelas gentes da Guiné.

Mas, antes, ainda teve que frequentar um curso acelerado com o então Capitão “Comando” Barbosa Henriques, um militar que, depois do 25 de Abril, prestaria serviço comigo no Tribunal Militar.

Recordo a manifestação sentida dos “comandos” guineenses residentes na área da grande Lisboa, com os seus trajes típicos maometanos, no dia do seu funeral, há alguns anos, no cemitério do Alto de S. João. Despediram-se do seu amigo com o habitual grito “Mama Sume”

Grandes operações nos países vizinhos

Além das mais variadas operações feitas em todo o território e nomeadamente nas matas de Morés ou da Cobaiana, saliento as duas efectuadas em território estrangeiro.

A Mar Verde, na Guiné-Conacri, em Novembro de 1970, em que previamente surgiram dúvidas nos elementos da 1.ª CCmds Af. sobre a sua participação naquelas condições e onde actuaram juntamente com elementos dissidentes daquele país.

Os principais objectivos acabariam por não ser conseguidos, devido a falhas dos serviços de informações em relação à localização dos aviões e do presidente Sékou Turé, mas ocorreu o notável feito da libertação de 26 portugueses, que o PAIGC mantinha em prisões na capital do país.

Nesta operação a companhia de Comandos teve uma baixa de peso, pois o Tenente Januário Lopes desertou e entregou-se com o seu grupo de 24 homens. Esta não é porém a versão de Marcelino da Mata, com acção de comando importante à frente do seu grupo, após a morte do alferes na fase inicial, e que diz terem-nos deixado para trás por falta de coragem em os ir lá buscar na retirada.

O facto é que nas declarações à comissão da ONU, dias depois, Januário afirmou ter de facto desertado e acabaria por ser fuzilado com os seus homens no mês seguinte.

Amadú aquando dos preparativos para esta operação afirma no livro:

“(…) A nós, o PAIGC não nos poupava. Que me lembre não me recordo ver alguns dos nossos matar os feridos. Nem deixávamos nenhum ferido do PAIGC na terra de ninguém. Se estivesse ferido, pedíamos a evacuação para o Hospital Militar. Certamente que alguns de nós, brancos ou negros não se comportavam assim tão dignamente, mas não eram a maioria. E se fossemos apanhados pela tropa do Sékou Turé, de certeza que não haveria nenhum sobrevivente. (…)

A segunda, a operação Ametista Real, foi realizada em Maio de 1973, à base de Cumbamori, no Senegal, em que seria empenhado todo o Batalhão de Comandos Africano, sob o comando do então Major Almeida Bruno.

O objectivo, desta vez, foi conseguido, pois levou à destruição dos depósitos de armas e munições e numerosas baixas no PAIGC, tal como seria parado, pouco tempo depois, o cerco a Guidaje, que já durava havia três semanas.

O Batalhão de Comandos também sofreu bastantes baixas e a retirada do Senegal para o território da Guiné foi deveras penosa e feita com grandes dificuldades. Seria mais uma vez a grande experiência do Amadú e o apoio eficiente dado pelos aviões da Força Aérea a resolver a situação no final da operação. O autor descreve o sucedido, nas pag. 253 e 254:

“(…) Continuámos a retirar em direcção à fronteira. Não podíamos forçar muito, porque o Jamanca (tenente e comandante da companhia) só podia andar com o apoio de alguém e o Capitão Folques, com a perna ferida também tinha muita dificuldade em andar e estávamos ainda longe de Guidage.

“Pedimos apoio à aviação, mas recusaram. Que estavam a a voar muito alto e era difícil localizarem-nos. (…) Perguntei ao soldado que transportava o morteiro se tinha alguma granada de fumo. (…) O Capitão Folques transmitiu para os aviões (…). Disparei com o morteiro para sinalizar o local a partir do qual os aviões podiam bombardear.

“Uma grande bola branca de fumo já tinham visto dos aviões, ouvimo-los dizer. A partir deste momento, o Capitão Folques disse sueste do fumo, a sul, a sudoeste e a oeste, arrasar tudo, tudo! (…) Essa granada de fumo ajudou-nos muito. (…)

“Chegámos junto do arame farpado de Guidage entre as 18 e as 19H00, mortos de sede e fome. Em Guidage não havia nada para comer. Nem medicamentos. (…)

Como se vê, foram tempos dramáticos e de grande sofrimento os passados nessa altura… E pelas transcrições feitas julgo que ficarão de algum modo elucidados sobre o conteúdo desta obra.

Antes de terminar apenas quero fazer duas pequenas observações.

A primeira em relação ao editor, por na contra-capa não ter colocado outra fotografia do autor, em que no fundo estivessem nomes de guineenses (talvez os fuzilados e colocados recentemente no Memorial do Bom Sucesso) e não os que se encontram nessa foto.

A segunda por o autor não fazer qualquer referência à actuação do Marcelino da Mata naquelas grandes operações, atrás referidas, onde ele teve desempenho brilhante e relevante.

Lembro ainda o facto de ele ter sido o militar mais condecorado do Exército Português em toda a Guerra do Ultramar. Mas o Amadú Djaló, na pág. 243 do livro, esclarece a sua atitude em relação a este oficial:

“O ambiente entre nós nem sempre foi o melhor. Havia rivalidades étnicas que se cruzavam com os problemas que ocorriam em qualquer unidade militar. “

A terminar, quero elogiar o autor por esta significativa e importante obra hoje foi aqui lançada e que acabou por ser publicada mercê da sua persistência de vários anos.

De assinalar igualmente o trabalho meritório do “Comando” Virgínio Briote, que contribuiu bastante para a execução deste projecto, tal como na sua eficiente divulgação.

Elogio igualmente o editor, Dr. Lobo do Amaral, Presidente da Associação de Comandos, por numa altura de crise geral e editorial, nomeadamente em relação aos livros de ensaio ou memórias, se ter abalançado na sua publicação.

Muitas felicidades para os três, para o Coronel Raul Folques e para o Dr. Nuno Rogeiro, assim como para todos os presentes.

Muito Obrigado!
Manuel Bernardo
Lisboa, 15-04-2010
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Nota  do editor:

(*) Último poste da série > 13 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25268: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Lançamento do livro em 2010 - Parte II: vídeo (8' 43'') da intervenção do cor 'cmd' ref Raul Folques