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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues

Capa do livro de Benigno Fernando, O Princípio do Fim. Porto: Campo das Letras. 2001. 78 pp (Campo da Memória, 6).

"Benigno Femando nasceu em Massarelos, Porto, em 1960. Começou a trabalhar aos dez anos de idade. Em 1975, iniciou a prática de futebol no Sport Comércio e Salgueiros, prolongando esta actividade durante treze anos em diversos clubes amadores.Durante a década de 90, colaborou na secção desportiva dos jornais O Primeiro de Janeiro e O Portuense. Trabalha nos Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento do Porto desde 1979. Reiniciou os estudos no final dos anos 80 e em 2001 estudava na Escola Secundária Alexandre Herculano. O Princípio do Fim é o testemunho de um militar (o soldado condutor auto Rodrigues, da 1ª Companhia do Batalhão nº 8323) que esteve na zona leste da Guiné durante a Guerra Colonial"...

Sabemos que o António Rodrigues é de Braga, e vive no Porto (*)


1. Mensagem do José Martins, de 25 de Janeiro último:

"Boa tarde. Apesar de já ter comprado e lido o livro há dois anos, feitos no dia 9 do corrente, quase de imediato iniciei as minhas habituais pesquisas mas, não sei qual a razão de ter ficado em arquivo.
"Segue o texto, com os parabéns ao Benigno Fernando pela forma como conseguiu passar ao papel, e à posteridade, as memórias do nosso camarada de armas António Rodrigues.
 

Um abraço. 
José Martins"


2. Copá , na fronteira com o Senegal (1965-1974) - Parte I: a história do Sold Condutor Auto António Rodrigues, contada por Benigno Fernando

“Chegava a noite; os que tinham começado a enjoar deitaram-se mais cedo, a maioria só foi para as camaratas perto da meia-noite e a essa hora ainda se conseguia ver luzes na costa portuguesa. Essa vista começou a provocar-lhe uma nostalgia, e foi nesse momento que o Rodrigues começou a pensar: 'É o princípio do fim.' *

(...) Há terras maravilhosas,
De certeza que não minto;
Se duvidam, vão visitar
Copá e Teixeira Pinto. (...)

In Turismo na Guiné,

de Florêncio Oliveira da Silva
Furr Mil, QG, Bissau, 1972



(i) Uma história igual a tantas outras

A frase saída da memória do António Rodrigues e da pena de Benigno Fernando, numa edição da Editora Campo das Letras, recorda-me outra frase, muito semelhante, O fim do principio atribuída como título a um dos textos que compõem a colectânea Refrega, de minha autoria e não editada, e que pretendem recuperar a minha memória dos tempos que passei na Guiné, assim como a fase que os antecedeu e alguns comentários posteriores.

Poder-se-á dizer, durante ou mesmo no final da leitura de O princípio do fim que se tratar de uma história igual a tantas outras.

Todo o percurso daqueles, a grande maioria, que vieram a cumprir o serviço militar obrigatório nas fileiras do Exército, começa com o dia das sortes, sortes essas que já são previsíveis: o apuramento para todo o serviço.

Depois, como o António Rodrigues, a espera pela incorporação, a entrada no quartel com toda amalgama de emoções, muitas das vezes não reprimidas, a aversão à farda, a recruta, a especialidade… tendo de permeio todos os obstáculos que são desde a disciplina militar, nova e despropositada para todos, os pequenos poderes, os fins de semana “à Benfica” (castigo com perda do direito ao passaporte e, algumas vezes a acumular serviços) ou mesmo o contar dos tostões que não chegam para a camioneta para ir à terra ver a família e os amigos.

Depois vem o “formar batalhão” e, quando completo, a ordem de embarque.

No teatro de operações de destino há que cumprir, ainda, o IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional) e a sobreposição com a unidade a render.

Depois há que [re] iniciar tudo aquilo que os que nos procederam fizeram, fazendo cada um de nós, e todos em conjunto, a história de cada unidade e a história deste país cuja Bandeira juramos defender.

Ao António Rodrigues coube-lhe a sorte de cair num destacamento, semelhante a muitos que existiram na Guiné, numa tabanca em que se misturava a tropa e as populações, duma povoação atravessada por uma estrada/caminho de terra batida, mas, na realidade é a história de alguém, a história que revela uma vivência única, porque única é a história de cada um e na história dum povo.

O autor adverte de que a “narrativa é baseada em acontecimentos verídicos”. Assim é. Há nomes, locais, datas ou factos que, validados com a versão oficial, não podem ser mais coerentes.


(ii) Copá: de 11 de Março de 1965 a 14 de Fevereiro de 1974

Copá [ou Kopá, como escrevem hoje os guineenses] foi o local que, a partir de 11 de Março de 1965, passa a ser guarnecido, em permanência, por uma força do exército constituída ao nível de pelotão reforçado e, portanto, uma unidade em quadricula, de pequeno efectivo, mas que se tem de desdobrar para fazer face à vida que se vivia em qualquer destacamento, fosse de que escalão fosse.

O livro é um texto que se lê de uma vez só. Só se consegue parar na última página, mas que obriga, quase de imediato, a regressar ao início, para uma leitura mais pausada. Mais pausada e com outros olhos, colocando, sobretudo, no que foi aquele pedaço de chão e no que se tornou.

A zona, desde o início das hostilidades, era uma zona relativamente calma, dado que era lá para o sul que a guerra se desenrolava, bastando ter na zona apenas um pelotão da unidade que pontificava no distrito de Nova Lamego – a 3ª Companhia de Caçadores Indígenas.

Porém, quando a guerra se estendeu ao Leste, foi necessário ir reforçando a presença militar que, acabando por serem criadas outras estruturas de comando, incluindo o destacamento em análise, que acabaria por ser abandonado em 14 de Fevereiro de 1974. Este abandono foi justificado não só pela ausência dos civis na povoação, mas porque com o evoluir da situação, desfavorável para o lado português, deixou de ter interesse estratégico. Não era o primeiro destacamento/ aquartelamento a ser abandonado. Muitos mais, e em breve a totalidade, seriam alvo do chamado movimento de retracção das NT que, após o Acordo de Argel, teria início.

Situado, sensivelmente, nas coordenadas 13º 55” Oeste e 12º 38” Norte, por lá passaram centenas de homens que, na impossibilidade de se obterem relações nominais, nos levaram a pesquisar as unidades que por lá estiveram, não só actuando directamente no terreno, quer em quadrícula quer em patrulhamentos, mas também nos escalões de comando e coordenação, embora mais afastados do local de acção. Tentou dar-se uma informação sucinta de cada unidade, dando destaque à sua passagem por Copá ou na área em que este destacamento se inseria.

(Continua: Parte II - Unidades que passaram por Copá) (**)
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1409: Bibliografia de uma guerra (16): Pirada, Bajocunda, Canquelifá, Copá: o princípio do fim (Beja Santos)


8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1410: Antologia (57): O Natal de 1973 em Copá (Benigno Fernando)

Vd. também poste de 10 de Novembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3430: Bibliografia de uma guerra (36): No ocaso da Guerra do Ultramar, de Fernando Sousa Henriques (Helder Sousa)

(**) Sobre Copá (aquartelamento abandonado pelas NT em 14 de Fevereiro de 1974), vd. ainda o postes de:

27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

30 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P3004: PAIGC: Op Amílcar Cabral: A batalha de Guileje, 18-25 de Maio de 1973 (Osvaldo Lopes da Silva / Nelson Herbert)

13 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2937: A guerra estava militarmente perdida? (16): António Santos,Torcato Mendonça,Mexia Alves,Paulo Santiago.

Vd. ainda o poste de 16 de Julho de 2007 >Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)

(... ) Referência ao vídeo da televisão francesa, a antiga ORTF, disponível em INA - Institut National de l' Audiovisuel

GUINEE : LA GUERILLA AU GRAND JOUR MAGAZINE 52 ORTF - 04/07/1974 -

Video 12m 32s / DVD 3 €

Sinopse (em francês)

On est plus de 2 mois après la 'révolution des oeillets' au Portugal, le gouvernement Caetano est tombé après un coup d'Etat d'officiers portugais engagés dans la guerre coloniale en Afrique, le mouvement des "forces armées", le pouvoir a été rendu aux civils et le général Spinola, membre de la junte militaire qui a pris le pouvoir le 25 avril à Lisbonne est désigné pour mener à bien la décolonisation en Afrique après avoir été gouverneur militaire de Guinée Bissau et des îles du Cap Vert et avoir combattu les militants du PAIGC.

Abouchar est parti dans les maquis du mouvement en Guinée Bissau sorti de la clandestinité. - meeting du parti dans le maquis acclamant les peuples de Guinée et du Cap Vert et celui du Portugal passé aux mains de l'opposition de gauche - discours d'Antonio Borges en créole et portugais, trad off par Abouchar "la négociation est dans l'impasse avec le Portugal" - discours d'un commissaire politique du PAIGC en portugais - itw Manuel Santos alias Manecas, commissaire politique du Front nord, en français, parlant du combat contre le tribalisme et la lutte anti colonialiste - entraînement des guerilleros équipés par l'Union soviétique.

Camp portugais de Copa détruit et incendié, Manecas fait visiter les lieux à un journaliste portugais Manuel Batoreo, le premier admis dans une zone contrôlée par le PAIGC - itw Manuel Batoreo en français, sur le point de vue du PAIGC - suite itw Manecas sur l'indépendance du Cap Vert qui interviendra seulement le 5 juillet 1975 "le PAIGC est une organisation qui lutte pour l'indépendance de la Guinée et du Cap Vert, ce sont 2 pays différents, dans notre programme c'est très clair, ce sont 2 pays différents mais le PAIGC estime qu'il y a toutes les raisons pour unifier ces 2 pays parce que nous avons des origines ethniques, oui je suis capverdien, le PAIGC n'a pas d'action directe au Cap Vert mais nous avons une organisation clandestine au Cap Vert qui travaille, il y a des manifestations au Cap Vert en faveur du PAIGC, de l'indépendance...le Cap Vert a un intérêt stratégique pour leurs lignes de communication" - dans les marais guinéens, militants débarquant dans une zone très peu accessible, jambes nues et chaussures à la main.

Suite itw Manecas "nous estimons que ce n'est pas une mauvaise chose que d'avoir des contacts avec les militaires portugais mais nous ne pouvons pas arriver à un accord sur place sur un cessez le feu qui n'a pas été encore déterminé entre le gouvernement portugais et les autorités de notre parti" - suite itw Manuel Batoreo "selon moi, le gouvernement est intéressé à accorder l'autodétermination comme premier pas vers l'indépendance mais au bout ce sera effectivement l'indépendance pour toutes les colonies, c'est pour bientôt oui l'indépendance" - arrivée ravitaillement dans zone libérée, la une du journal indépendantiste "PAIGC Actualités" avec la photo d'Aristides Pereira leader du parti, vente de vivres par des magasins ambulants aux villageois.

Itw Batoreo "ce qui m'a le plus marqué ? la conscience collective de la lutte que les gens ont dans les différents rangs de l'armée, des civils, l'organisation, conscience de faire un pays vraiment nouveau, adapté aux besoins des gens exploités toutes ces années par un colonialisme que le monde connaît bien" - itw Manecas "les Portugais ont laissé le pays dans un état on ne peut plus arrièré, il n'y a rien, avant le déclenchement de la lutte armée il y avait au moins 90 % d'analphabètes, la seule école secondaire ouverte en Guinée date de 1956" sur des images d'alphabétisation dans le maquis - la popote et l'ouverture des boîtes de conserves pour les maquis - suite et fin Manecas "le PAIGC se sent prêt pour l'indépendance, nous avons sur place une administration et je crois qu'il faut sur place l'agrandir un peu, ça va fonctionner, nous aurons un régime nationaliste, de parti unique, démocratique, y a t il un pays indépendant africain pour servir de modèle ? nous, on ne croit pas beaucoup aux modèles"
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Resumo em português (tradução e adaptação de LG)

Passaram-se mais de dois meses após a "Revolução dos Cravos" em Portugal, o governo Caetano caiu após um golpe de Estado levado a cabo por oficiais portugueses envolvidos na guerra colonial em África, o movimento das "Forças Armadas". O poder foi entregue a civis e o General Spínola, membro da Junta Militar que tomou o poder em 25 de Abril em Lisboa, é encarregado de levar a bom termo processo de descolonização em África após de ter sido governador militar da Guiné-Bissau e das ilhas de Cabo Verde e de ter ter combatido os militantes do PAIGC .

Abucar partiu para a Guiné-Bissau, para as regiões controladas pelo PAIGC, saído da da clandestinidade. - Reunião do partido no mato, dão-se vivas aos povos da Guiné e Cabo Verde e de Portugal, país que agora passou para as mãos da oposição de esquerda - Antonio Borges fala em crioulo e Português, tradução de Abucar em voz off, "as negociações com Portugal estão num impasse" - discurso dum comissário político do PAIGC, em Português – entrevista em francês com Manuel Santos, ‘Manecas’, comissário político da frente frente, em que fala do combate contra o tribalismo e da luta anticolonialista – treino dos guerrilheiros equipados pela União Soviética.

Copá, aquartelamento português, destruído e queimado e queimadas, Manecas faz uma visita guiada, acompanhando jornalista português, Manuel Batoreo, o primeiro admitido numa zona controlada pelo PAIGC – entrevista com Manuel Batoréo, em francês, em que se aborda o ponto de vista do PAIGC – continuação da entrevista com Manecas sobre a independência de Cabo Verde, que terá lugar somente em 5 de Julho de 1975, "o PAIGC é uma organização que luta pela a Independência da Guiné e Cabo Verde, são 2 países diferentes, no nosso programa é muito claro, são 2 países diferentes, mas o PAIGC acredita que há todas as razões para unificar estes 2 países, porque temos origens étnicas comuns, sim eu sou caboverdiano, o PAIGC não nenhuma ação directa em Cabo Verde mas temos uma organização clandestina em Cabo Verde que trabalha, há manifestações em Cabo Verde a favor do PAIGC, a independência ... Cabo Verde tem um interesse estratégico para as suas linhas de comunicação " - nos pântanos da Guiné, militantes desembarcam numa área muito pouco acessível, descalços, as botas na mão.

Continuação da entrevista de Manecas, "Nós achamos que isto não é mau, manter contactos com os militares portugueses, mas não podemos chegar, no terreno, a um acordo sobre um cessar-fogo que ainda não foi estabelecido entre o Governo Português e direcção do nosso partido "- prossegue a entrevista com Manuel Batoréo, "Acredito que o governo está interessado em conceder a auto-determinação como um primeiro passo para a independência, mas o final do processo é a independência para todas as colónias, em breve sem dúvida é a independência "- chegada de reabastecimento a uma zona libertada, a primeira página do jornal nacionalista “PAIGC Actualités”, com a foto do líder Aristides Pereira, vende de alimentos aos camponeses pelas lojas ambulantes do PAIGG.

Entrevista de Batoréo, "O que me surpreendeu mais? a consciência colectiva da luta das pessoas nos diferentes escalões das forças armadas do PAIGC, nos civis, a organização, a consciência de se estar a um país verdadeiramente novo, adaptado às necessidades das pessoas exploradas durante todos estes anos por um colonialismo que o mundo conhece bem” – entrevista de Manecas, "os Portugueses deixaram o país num estado que não podia ser de menor atraso, não há nada, antes do início da luta havia pelo menos 90% de analfabetos, a única escola secundária aberta na Guiné data de 1956 ", imagens de alfabetização no mato – o rancho e a abertura de caixas de conserva para os guerrilheiros – continuação e final da entrevista com Manecas, "o PAIGC sente-se pronto para a independência, temos uma administração montada no terreno, creio que é só preciso aumentá-la um pouco, isto vai funcionar, teremos um regime nacionalista , de partido único, democrático, há algum país africano independente Africano para servir de modelo ? nós, não acreditamos muito nos modelos”.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18342: Vídeos de guerra (15): "Guerre en Guinée" (ORTF, 1969, 13' 50'): o governo português suportou o custo das viagens e estadia de todos os elementos da equipa do programa "Point Contrepoint", da televisão pública francesa, durante cerca de um mês... Eu assisti à montagem do filme e trouxe, de Paris, cópia para o Marcelo Caetano... Quando viu a cena da emboscada, disse-me: "Temos que acabar com esta guerra" (Manuel Domingues)


Guiné > Região do Cacheu > Bula > Pecuré > Op Ostra Amarga > 18 de outubro de 1969 > Geneviève Chauvel, então uma jovem jornalista da Agência Gamma, depois da emboscada que vitimou 3 militares portugueses (2 mortos e 1 ferido)... No "Paris-Match" haveria de escrever um artigo de 2 páginas, com fotos suas, sobre "Guinée: l' étrange guerre des Portugais" (pp. 30-31).

Na foto, em grande plano, a Geneviève Chauvel, e a seu lado, o capitão Sentieiro (de que só se vê parte do corpo) momentos após a emboscada. Foto cedida, em 2007, ao Virgínio Briote pelo cor cav ref José Maria Sentieiro, que vive em Torres Novas, e tem a Cruz de Guerra de 1.ª Classe.


Capa da revista "Paris-Match",  nº 1071, de 15 de vovembro de 1969. Segundo o nosso camarada e colaborador permanente Torcato Mendonça, a revista, de venda livre em Bissau, terá sido apreendida nessa semana...


No sumário do referido número do Paris-Match, entre os artigos da seção "Estrangeiro", há um sobre Nixon e a sua maioria silenciosa, e outro sobre a odisseia da Apolo XII (que se preparava para a 2.ª alunissagem, a 19 de Novembro). A revista inseria ainda um pequeno texto da autoria de Geneviève Chauvel, então uma jovem jornalista da Agência Gamma, sobre "Guinée: l' étrange guerre des Portugais" (pp. 30--31) ["Guiné: a estranha guerra dos portugueses"].


Guiné > Região do Cacheu > Bula > Pecuré > Op Ostra Amarga > 18 de outubro de 1969 > O General Spínola, à esquerda, ladeado pelo major João Marcelino (2.º Comandante do BCAV 2868, então em Bissau e que apanhou boleia no heli) e o ten cor Alves Morgado, Comandante do BCAV 2868 que acompanhou o desenrolar da acção. Foto tirada momentos após a emboscada. Imagem extraída do Paris-Match (,edição de 11 de novembro de 1969).


Guiné > Região do Cacheu > Bula > Pecuré > Op Ostra Amarga > 18 de outubro de 1969> De costas, o capitão de cavalaria José Maria Sentieiro, comandante da CCAV 2485 que, por impedimento do comandante da CCAV 2487, foi encarregado de dirigir a Op Ostra Amarga. Imagem obtida momentos após a emboscada que custou dois mortos à CCAV 2487.  Imagem extraída do Paris-Match (,edição de 11 de novembro de 1969) e editada pelo blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  [ Com a devida vénia...]


Excerto do artigo da Geneviève Chauvel, p. 30

Sobre o gen Spínola, escreveu Geneviève Chauvel:

(...) "Monóculo no olho, apoiando-se no seu pingalim, este oficial parece surgir de um filme dos anos 30. Não é o Pierre Renoir de 'La Bandera', nem o Von Stroheim de 'La Grande Illusion'. O general português Spínola faz verdadeiramente a guerra. Na Guiné. Imagem soberba e irrisória: um pequeno país que possuía, há quatrocentos anos, um império imenso, sobre o qual o sol nunca se escondia, esgota-se hoje no último combate colonial do século.

Entre a Gâmbia e a Guiné de Sékou Touré, a Guiné Portuguesa conta com um punhado de colonos, face a meio milhão de autóctones, num território do tamanho de um departamento francês. De há oito anos a esta parte está transformado num campo de batalha. A guerrilha dos rebeldes, armados pela China e muito organizados – revistas, instrução política, jornais de propaganda – absorve cada vez mais as tropas portuguesas.

Lançados num país muito quente, com uma vegetação muito densa, vigiados pelo inferno das emboscadas, os camponeses de Beja, os pescadores da Nazaré ou os estudantes de Coimbra cuidam da sua elegância, a exemplo do seu comandante-em-chefe: “Mais vale ir para o céu com um uniforme como deve ser”. (...)

Paris-Match, nº 1071, L’étranger, pp. 30 e 31, texto de Geneviève Chauvel-Gamma. Tradução livre de V. Briote. (Com a devida vénia...).


1. Mensagem do nosso camarada e grã-tabanqueiro Manuel Domingues, ex-alf mil op esp, comandante do Pel Rec Info, CCS/BCAÇ 1856 (Nova Lamego, 1965/67) (*)

[Manuel Domingues, foto à esquerda; frequentou o Curso de Rangers e fez parte da CCS/BCAÇ 1856 (Nova Lamego, 1965/67); como alf mil foi comandante do Pelotão de Reconhecimento e Informação, tendo desempenhado as funções de oficial de informações e, durante alguns meses, a de oficial de operações do BCAÇ 1856, esteve no Leste, Sector L3, com o Comando e CCS sediados em Nova Lamego [Gabu]; e as companhias operacionais em Madina do Boé (CCAÇ 1416, com um destacamento em Béli); em Bajocunda (CCAÇ 1417, com um destacamento em Copá); e em Buruntuma (CCAÇ 1418, com um destacamento em Ponte Caiúm); nasceu em 1941, em Castro Laboreiro; é utor do livro Uma Campanha na Guiné (com estórias e testemunhos de vários camaradas do batalhão) bem como de O Pegureiro e o Lobo – Estórias de Castro Laboreiro (2005); está reformado, depois de uma multifacetada carreira profissional, em Portugal e no estrangeiro, em organismos públicos e em empresas].

Caros tertulianos:

Relativamente ao filme da ORTF e à reportagem do Paris Match (**), posso adiantar o seguinte: Participei em setembro e outubro de 1969 no apoio à equipa da ORTF  [, a televisão pública francesa] que realizou o filme e que incluiu Portugal e o Ultramar, com deslocações do Minho a Timor, captando imagens em todas as possessões ultramarinas. 

Esta equipa englobava cerca de uma dúzia de pessoas, entre as quais uma jornalista do Paris Match [, Geneviève Chauvel, ao serviço da agência Gamma] e um do Figaro [Jean-François Chauvel, que era simultaneamente o produtor do programa televisivo "Point-Contrepoint"].

O objectivo inicial era recolher material para incluir no programa "Point-Contrepoint" (tipo Prós e Contras) em que de um lado se afirmava que Portugal era uma potência colonialista, que explorava os povos coloniais que lutavam pela sua libertação. Esta ideia era suportada em reportagens e depoimentos fornecidos pelos movimentos de libertação a que se juntavam alguns opositores do regime, no exílio, entre os quais Manuel Alegre. Do outro lado, pretendia-se refutar esta ideia, afirmando a ideia de que o Ultramar fazia parte integrante de Portugal e mostrando o grau e ritmo de desenvolvimento que se estava a processar, sobretudo em Angola e Moçambique.

A equipa responsável pelo programa, durante as negociações, pôs como condição poder verificar com total liberdade a realidade em todos os territórios, sobretudo na Guiné, Angola e Moçambique, onde se desenvolviam as lutas de libertação.

O Governo Português aceitou, apenas impondo como condição que o elemento que tinha apoiado a equipa nas suas deslocações em Portugal e no Ultramar,  estivesse presente nos estúdios da ORTF para assistir à montagem do filme, evitando surpresas que já tinham acontecido em programas idênticos nos Estados Unidos onde a ideia de confronto acabou por ser subvertida e resultou num manifesto antiportuguês. Portanto, e em resumo, tive a oportunidade de acompanhar todo o processo.

Capa do livro "Uma campanha na Guiné
Assim, no dia da assinatura do Armistício, 11 de Novembro de 1969 [, feriado nacional em França, comemorativo do fim da I Grande Guerra Mundial, 1914-1918], o programa foi para o ar. O grau de imparcialidade, relativo, conferiu-lhe um sucesso na crítica francesa da especialidade e alguma satisfação ao Governo Português de então que pela primeira vez não deu por mal empregue o montante gasto no apoio ao programa, suportando o custo das viagens e estadia de todos os elementos, durante cerca de um mês. (***)

O próprio Marcello Caetano quis ver a cópia que eu tinha trazido [de Paris] e foi durante a sessão, quando viu a cena da emboscada na Guiné que pulverizou dois dos elementos das NT, pronunciou para mim a esperançosa frase:
- Temos que acabar com esta guerra (****).

O impacto na opinião francesa e o elevado volume de material recolhido nos próprios locais levou os produtores da ORTF a fazerem vários documentários.

Já não disponho do exemplar do Paris Match nem da cópia do filme, mas ainda disponho da reportagem do Figaro da mesma altura, onde o autor define Spínola como um misto de Goering e de Marquês de Cuevas, reportagem essa que vou tentar digitalizar e que enviarei depois para os nossos tertulianos.

Um abraço cordial do
Manuel Domingues (*****)


Guiné Região de Cacheu > Bula > Carta (1953) > Escala 1/50 mil  > Sítios por onde se desenrolou a Op Ostra Amarga, de 12 a 18 de outubro de 1969: ponta Matara (vd. carta de Pelundo), ponta Ponaté, ponta Portuga, ponta Penhasse, Bissauzinho, Bofe...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camarads da Guiné (2018)




Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV 2868 (1969/70) > Op Ostra Amarga >18 de outubro de 1969 > Excerto de Sintrep (?) > No último dia, 18, as NT  acionaram uma mina A/P na região de Badapal, sofrendo dois feridos; na região de Pecuré, um grupo IN não estimado emboscou as NT, acabando por retirar com 4 mortos e 2 sofridos, e sofrendo as NT 2 mortos e um ferido...Já na região de Biura, um grupo IN, também não estimado, voltou a emboscou as NT, sem consequências, e acabando por retirar face à reação, pelo fogo e manobra,das NT.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camarads da Guiné (2018)
______________

Notas do editor:


(**) Vd. postes de:




(***) De acordo com a ficha técnica do vídeo, disponível do portal do INA - Institut National de l'Audiovisuel, a equipa da televisão pública francesa que se integrou na Op Ostra Amarga, devia ser constituída por, pelo menos, os seguintes elementos; Jean Baronnet, realizador; Jean François Chauvel, jornalista / repórter:  Roger Mathurin, operador de som; e Jean Louis Normand, operador de imagem... Haveria ainda a Geneviève Chauvel, que representava a agência Gamma e a revista Paris-Match...

O responsável pelo programa "Point Contrepoint", da ORTF, em 1969, era o jornalista Jean- François Chauvel (1927-1986), que também trabalhava para o Figaro, como grande reporter... Encontrei na Wipipedia, em francês, uma pequena nota biográfica, pela qual fiquei a saber que ele era casado, desde 1961, com a Geneviève, em terceiras núpcias... Foi além disso, membro da resistância francesa, tendo sido ferido em combate em 1944, com apenas 17 anos, tendo condecorado quer pela França pela América, por feitos em combate.

(...) Fils de l'ambassadeur de France Jean Chauvel, il est né à Pékin le 30 mars 1927 et mort à Paris le 10 février 1986.

Après des études scolaires difficiles, il s'est engagé dans la Résistance à l'âge de 15 ans. Après la Libération de Paris, il a rejoint la 2ème division blindée et a été grièvement blessé près de Baccarat à l'automne 1944, ce qui lui a valu la croix de guerre 1939-45 avec palme et le purple heart américain. Après la Libération, il a découvert le métier de journaliste dans des publications modestes parisiennes, puis a sérieusement appris le métier pendant plusieurs années à l'AFP.

Dans les années 1960, il a été intégré à la rédaction du Figaro comme grand-reporter et a été l'un des tout premiers à alerter l'opinion publique nationale et internationale sur le drame du Biafra.

En 1968, il est l'un des membres fondateurs du syndicat étudiant l'UNI.

Il est producteur de l'émission de l'ORTF Point - Contrepoint en 1969.

Au début des années 1970, il a créé et animé deux émissions de reportages pour l'ORTF : 52 (janvier 1973-août 1974) et Satellite, consultables dans les archives de l'INA. À la même époque, il a publié ses mémoires sous le titre À rebrousse-poil, un succès d'édition.

Il a ensuite quitté et le Figaro et la télévision pour produire ses propres reportages, dont Des hommes sans nom sur la Légion étrangère en 1980." (,,,)

Vd. também 15 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2351: Vídeos da Guerra (6): Uma Huître Amère para a jornalista francesa Geneviève Chauvel (Virgínio Briote / Luís Graça)

(****) Vd. (*) Vd: Novo Contacto com a Guiné: a esperança marcelista. In: Domingues, Manuel -  Uma Campanha na Guiné, do Autor.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)







Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV 2862 (1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Imagens brutais da reportagem Guerre en Guinée, que passaram na televisão francesa em 11 de Novembro de 1969, no programa Point Contrepoint e que os portugueses, devido à censura, nunca puderam ver antes do 25 de Abril de 1974 (1)...

Fotos: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006) / Cópia pessoal de Virgínio Briote (2)


1. Mensagem do Virgínio Briote:

Luís: Acabo de ter uma conversa telefónica com o Cor Cav, na reforma, Sentieiro, por intermédio de um conhecido comum.

A história que me conta, em resumo é a que segue (1):

(i) Era o comandante da CCAV 2485;

(ii) Tinha acabado de regressar de uma operação com 2 Gr Comb da sua Companhia;

(iii) Por impossibilidade do Cap J. Quintela, o comandante do batalhão (Ten Cor Morgado, que é o que aparece no fim do filme com Spínola e Almeida Bruno, e ainda hoje vivo) encarregou-o de comandar 2 Gr Comb da CCAV 2487.

(iv) Esta CCAV estava algo deprimida, por várias razões que não explicitou. Limitou-se a falar de 2 alferes que não tinham regressado das férias em Lisboa. Um deles apareceu em Paris, do outro não me soube dizer nada.

(v) O Ten Cor Morgado informou-o de que ia acompanhado por uma equipa da ORTF e de um ou dois jornalistas do Paris-Match.

(vi) Questionados pelo então Cap Sentieiro sobre a experiência que tinham de cenas de guerra, os jornalistas disseram que já tinham estado no Vietname (não presenciaram qualquer cena bélica), em Angola (idem) e em Moçambique (onde conseguiram filmar umas cenas do final de um rebentamento de uma mina);

(vii) E que pretendiam filmar o que viesse a acontecer, [no TO da Guiné, ] estando desejosos que viesse a haver contacto com o IN.

(viii) A cena filmada é a NE (?) de Bula (para os lados da base de Cobiana).

(ix) O tiroteio foi intenso, de um lado e do outro. As cenas, diz o Cor Sentieiro, não são nem mais nem menos do que as que ocorreram muitas vezes na Guiné.

(x) Que os jornalistas tiveram um comportamento muito profissional. Acabada a emboscada, quiseram ir atrás dele e não no final da coluna como aconteceu quando os GrCmb foram emboscados. Que ele, cap. Sentieiro, não lhes permitiu. Que atrás dele ia um tipo da absoluta confiança, normalmente portador de uma caçadeira ou de um LGFog.

(xi) Que a jornalista era a Chaubel (não tenho a certeza se se escreve assim; que há ainda em Paris uma casa de fotografia, que é da família dela).

(xii) Que ela ficou profundamente arrasada. Nem os acompanhou mais, apanhou o heli e regressou com o Almeida Bruno a Bula, onde desceu.

(xiii) Que era jovem e linda e que, à noite ao jantar, depois dos banhos, apareceu na messe com um vestido de pele, do tipo que as índias usavam nos filmes, sem nada por baixo.

(xiv) Que o militar que estava a servir (ele disse-me o que foi que estava na travessa, mas não fixei) se entusiasmou tanto com o que viu que se distraiu e entornou a travessa na mesa...

(xv) Que alguém em Bula (um dos jornalistas) o provocou, perguntando-lhe se ele, Cap Sentieiro, não terá previamente dado algum sinal ao IN...

(xvi) Que ele, Sentieiro, nunca viu o filme (1), que sabe que ele existe e que as únicas imagens que viu são as que às vezes aparecem na TV. Ele chama a essas imagens fruta fresca, isto é, quando a TV quer mostrar cenas violentas da guerra da Guiné, aí vão elas.

(xvii) Fiquei de lhe enviar o filme. Tenho algumas dúvidas sobre a oportunidade de o fazer, estar a mostrar-lhe cenas que ele pessoalmente viveu há quase quarenta anos. Mas foi tanta a insistência, que acabei por lhe prometer. Temos vários conhecidos comuns e estou convidado para almoçar com ele quando passar por Torres Novas.
E pronto, Luís.

Um abraço, vb

Nota de L.G. - A revista Paris Match publicou, na edição nº 1071, de 15 de Novembro de 1969, uma reportagem efectuada pelo(s) seu(s) jornalista(a)s que vieram (ou veio) à Guiné... Título da peça: Guinée: l'étrange guerre des Portugais [Guiné: a estranha guerra dos Portugueses]...

2. Operação Ostra Amarga

Extractos do PERINTREP Nº 42/69, Página 13 de 23

CAOP/BCAV 2868 (Intervenção-Sector 01)

Op Ostra Amarga
Patrulhamento
Pta Matar-Pta Ponate-Pta Fortuna-Pta Penhasse-Bissauzinho-Bofe
12 Out [de 1969]
7 dias
2 Gr Comb/ CCAV 2485; 2 Gr Comb / CCAV 2486; 2 Gr Comb / CCAV 2487

(i) 1º dia : 500 m a N Ponta Fortuna foi destruído um acampamento IN abandonado há 3 dias, com 14 casas de mato;

(ii) IN, avistado de longe, furtou-se ao contacto;

(iii) 7º dia, accionada uma mina A/P na região de Badapal, com 2 feridos NT; na região de Pecure, IN não estimado emboscou NT, retirando com 4 mortos e 2 feridos; as NT sofreram 2 mortos e 1 ferido; na região a L de Biura, IN não estimado emboscou NT, retirando pela reacção fogo manobra.

(iv) Restantes dias sem contacto.



Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV Outubro de 1969 > Resumo informativo sobre as Op Caça Ratos, Op Ostra Amarga e Op Gato Assanhado


Ainda no mesmo PERINTREP:

Em 17 de Out[ubro de 1969], durante a Op Ostra Amarga, forças do BCAV 2868 accionaram uma mina A/P na região a sul de Capafa em 1545 1205 D3-86, causando 2 feridos graves às NT (Pelotão Cav BCAV 2868).

Segundo informações de elementos IN que estiveram na tabanca de Nhemgue na noite de 18 para 19 de Outubro, o IN sofreu 4 mortos e 2 feridos.





Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Monumento aos Mortos do Ultramar > > 28 de Outubro de 2007 > Passei por lá e fotografei o muro onde constam os nomes dos infortunados camaradas António Capela, natural de Cabaços, Ponte Lima, e Henrique Costa, natural de Ferrel, Atouguia da Baleia, Peniche, mortos na Op Ostra Amarga / Op Paris Match... Para que sejam lembrados por todos nós e pelos vindouros... (LG)

Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

3. Os mortos na Op Ostra Amarga (filme):

(i) António da Silva Capela

Soldado atirador, nº 07241868 / CCAV 2487 / BCAV 2868
Ferimentos em combate, em 18 de Out. de 1969

Solteiro

Pai: Gabriel dos Santos Capela / Mãe: Rosa Araújo da Silva

Freguesia de Cabaços / Concelho de Ponte do Lima

Local da operação: Bula

Local da sepultura: Cemitério de Lousa – Loures


(ii) Henrique Ferreira da Anunciação Costa

Soldado atirador, nº 03434368 / CCAV 2487 / BCAV 2868

Ferimentos em combate, em 18 de Outubro de 1969

Casado (com Noémia M. M. Oliveira)

Pai: Francisco Ferreira da Costa / Mãe: Maria da Anunciação Lourenço

Freguesia de Atouguia da Baleia / Concelho de Peniche

Local da operação: Bula

Local da sepultura: Cemitério de Ferrel – Atouguia da Baleia


4. Informações adicinais sobre o Batalhão de Cavalaria nº 2868 (Bula, 1969/70)
Unid. Mobilizadora: RCav 7

Comandante: Ten Cor Carlos Alves Morgado

2º Comandante: Maj Cav João Marcelino; Maj Cav Luís Casquilho

Of Inf Op Adj.: Major Cav Ruy Pereira Coutinho

Comandantes de Companhia

CCS: Cap SGE António Vagos

CCAV 2485: Cap Cav José Sentieiro

CCAV 2486: Cap Cav João Almeida; Alf mil José Fernandes

CCAV 2487: Cap Cav João Quintela; Cap QEO Caimoto Duarte

Divisa: Não Temo

Partida: 23 de Fevereiro de 1969 / Desembarque: 1 de Março de 1969 / Regresso: 30 de Dezembro de 1970

Actividade Operacional: Síntese


(i) Com a sede em Bissau, foi-lhe atribuída a função de intervenção como reserva do Com-Chefe.

(ii) Em princípios de Abril 1969, estabeleceu um posto de comando avançado em Cacheu, com a missão de actuar nas regiões de Churo e Pecau, a fim de deter o alastramento da luta armada à região do “Chão Manjaco”, em área temporariamente retirada ao BCAÇ 2845.

(iii) Após um curto período de IAO, até 19 de Abril de 1969, comandou e coordenou a actividade de duas das suas unidades e outra ali instalada do antecedente, desenvolvendo actividade operacional de patrulhamento, batidas e emboscadas nas regiões de Churo-Pecau-Quesse e do Cacheu.

(iv) Em 30de Agosto de 169, após substituição pelo Comando Militar do Cacheu, transferiu o Pel Cav para Bula, onde assumiu em 5 de Setembro de 1969 a responsabilidade do sector 01-A, então criado nesta zona por subdivisão da área do BCAÇ 2861, com a sede em Bula e incluindo as suas subunidades também ali estacionadas, e depois outras que lhe foram atribuídas em reforço.

(v) Em 8 de Janeiro de 1970, duas das subunidades passaram a ter a sua sede em Ponta Augusto Barros e Pete, com vários destacamentos disseminados nas respectivas áreas de acção. (…)

(vi) A partir do início de 1970, a sua actividade foi especialmente orientada para o desenvolvimento e promoção sócio-cultural do “Chão Manjaco”, com abertura de itinerários e asfaltamento da estrada Bula- S.Vicente e orientação e construção de aldeamentos da população.

(vii) Pela acção desenvolvida, destacam-se as operações “Freio Reluzente” e “Pequeno Baio”, entre outras.

(viii) Dentre o material capturado ao IN, salientam-se 8 espingardas, 4 lanças granadas-foguete e levantamento de 28 minas.

(ix) Em 1 de Dezembro de 1970, o BCAV 2868 foi rendido no sector 01-A pelo BCAÇ 2928, recolhendo a Bissau, a fim de aguardar embarque.

Nota de vb - Seguem-se as Companhias, com a descrição dos percursos da comissão, sem notas relevantes. O BCAV 2868 tem História da Unidade (Caixa nº 117- 2ª Div/4ª Sec do AHM).

5. Bula > Comando de Agrupamento Operacional


COMANDO de AGRUPAMENTO OPERACIONAL

COMANDO de AGRUPAMENTO OPERACIONAL OESTE

COMANDO de AGRUPAMENTO OPERACIONAL nº 1

Início em 8 de Janeiro de 1968 / Extinção em 1 Julho de 1974

Cmandantes: Cor Pára Alcínio Ribeiro / Cor Art Gaspar Freitas do Amaral

Cor Pára Rafael Durão / Tem Cor Inf Pedro Henriques

Cor Pára João Curado Leitão

CEM: Maj CEM Passos Ramos / Maj CEM Santiago Inocentes

Maj Art Pimentel da Fonseca / Maj Inf Bacelar Pires

Maj Art Fernandes Bastos
__________

Notas de V.B./L.G.:

(1) Vd. post de 8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)

(2) Vd. post de 16 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14467: Tabanca Grande (456): Sebastião Ramalho Lavado, ex-sold comando, CCmds do CTIG, Grupo Apaches, Brá, 1965/66... Mais um camarada da diáspora: vive em em França há 45, está reformado.




Guiné > Brá > Comandos do CTIG > &gt4 de setembro de 1965 > Cerimónia de imposição dos crachás aos novos comandos > Formatura (1)


Guiné > Brá > Comandos do CTIG  > 4 de setembro de 1965 > Cerimónia de imposição dos crachás aos novos comandos > Formatura (2): O grupo Apaches, aque pertencia o Sebastião Ramalho Lavado.



Guiné > Brá > Comandos do CTIG > 4 de setembro de 1965 > Cerimónia de imposição dos crachás aos novos comandos > Formatura (3)



Guiné > Brá > Comandos do CTIG > 4 de setembro de 1965 > Cerimónia de imposição dos crachás aos novos comandos > Formatura (4) : Cap mil comando Saraiva_impõe os  crachás_ao grupo Apaches



Guiné > Brá > Comandos do CTIG > 4 de setembro de 1965 > Cerimónia de imposição dos crachás aos novos comandos > Formatura (4)


Guiné > Brá > Comandos do CTIG > 4 de setembro de 1965 > Cerimónia de imposição dos crachás aos novos comandos >  Desfile dos novos comandos depois da cerimónia de entrega dos crachás




Guiné > Região do Cacheu > CCmds do CTIG> Novembro de 1965 > Material capturado ao PAIGC pelo grupo Apaches., comandados pelo nosso grã-tabanqueiro, o 2º srgt comando Mário Dias.



Guiné > Brá > CCmds do CTIG > 20 de junho de 1966 >  Fim da comissão


Fotos (e legendas): © Virgínio Briote (2015). Todos os direitos reservados.

I. Mensagem e fotos enviadas pelo Virgínio Briote em 30 de março passado:

Assunto - Sebastião Ramalho Lavado

Boa tarde, Camaradas

Lembro-me do nome do Sebastião Lavado, embora não tenha pertencido ao meu grupo [, que era os Diabólicos]. Anexo alguns nomes, faltam-me 4 ou 5 que ainda não descobri, do Gr Cmds Apaches, comandado na altura pelo então alf mil António Neves da Silva, hoje coronel reformado.

Anexo também algumas fotos daquele tempo, em que o Sebastião pode ver alguns dos seus camaradas de então e talvez se possa rever em uma ou outra imagem. A maior parte refere-se à imposição dos crachás em 4 de setembro de 1965, em Brá, com a presença do gen Schulz e do cmdt militar de então,  cor Monteiro Guerra (?). 

Duas outras das fotos que envio  referem-se ao grupo Apaches em Bigene onde, numa acção comandada pelo notável sargento Mário Dias, em que o grupo entrou por um acampamento e capturou as armas que aparecem numa outra imagem.

Para o Sebastião Lavado um abraço e o reconhecimento por se ter lembrado dos camaradas dos comandos do CTIG (Brá, 1965/66).


II. Em 4 setembro de 1965 terminou o 2º Curso de Comandos do CTIG.  Eis a relação dos nomes do Grupo  Apaches:

1. Alf mil António Amadeu C. Neves da Silva / 2º Sargento Mário Dias

2. 2º Sargento Mário Roseira Dias (ex-”Camaleões”)

3. Furriel mil Carlos Alberto Correia da Silva (ex-”Camaleões”)

4. Fur mil João Severo Parreira (ex-“Fantasmas”)

5. Fur mil Fernando José Gomes Cordeiro

6. 1º Cabo José Maria Branco

7. 1º Cabo António Jacinto Rosário Moreira

8. 1º Cabo Manuel Xarepe (ex-“Fantasmas”, substituiu o Moreira)

9. 1º Cabo Carlos Alberto M. Messias

10. 1º Cabo Alberto Alves

11. Soldado Lifna Cumba (ex-“Camaleões”, morto em 19/10/66, ao serviço da 3ª CCmds)

12. Soldado Reinaldo Ângelo de Oliveira

13. Soldado Mário B. Henrique Dias

14. Soldado Rolando da Costa Martins

15. Soldado Jacinto da Conceição Venâncio

16. Soldado Sebastião Ramalho Lavado

17. Soldado Idílio Lourenço Filipe

18. Soldado José Alfredo Martins (ex-“Camaleões”)

19. Soldado Carlos Manuel Soares

20. Soldado Ilídio Manuel Faria Coelho


III.  O nosso editor Luís Graça deu, de imediato, em 31 de março,  conhecimento desta mensagem ao filho do Sebastião Ramalho Lavado e convidou o nosso camarada,  que reside em França,  a integrar o nosso blogue:

Cher ami: Voici des photos envoyées par le camarade Virginio Briote, commandant du groupe "Diabólicos" [Diaboliques], de la même compagnie des comandos de la Guinée portugaise (Brá, 1965/66)... Il est très heureux de savoir de nouvelles du camarade Sebastiao Ramalho Lavado, dont il se souvient bien!...

J'invite ton père à intégrer cette comunnauté virtuelle d' anciens combattants de la guerre en Guinée (1961/74)... J'ai besoin seulement de une photo actuelle de ton pére!...Je pense que ton père et ta famille vivent en France depuis beaucoup de temps... Et quelle est l' origine de ton père, au Portugal ? Tu pourrais nos renseigner un petit peut sur son histoire de vie... Bonne santé. Luis Graça


IV. O filho do Sebastião Ramalho Lavado respondeu-nos ontem, nestes termos:

Bonjour, monsieur, je vous envois une photo actuelle de mon pére,  monsieur Ramalho Lavado Sebastião. Mon père vive en France depuis 45 ans. Il est marié depuis 47 ans à Rosa Maria Saraiva Lavado. Nous sommes 4 enfants,  3 garçons qui ont 44 ans, 41  ans, 42ans, puis une fille de 29 ans de la même épouse. Il est à la retraite depuis 3 ans, il a été maçon à son compte durant 42 ans. Il a 6 petits enfants entre 18 ans et 2 ans pour le plus petit. Merci beaucoup bonne journée.

Ramalho Lavado Sebastiao








Duas fotos recentes do novo membro da Tabanca Grande, Sebastião Ramalho Lavado, ex- sold coamndo, da CCmds do CTIG (Brá, 1965/66). Foram enviadas por um dos seus filhos que já há dias nos tinha contactado (*). 

Vive em França há 45 anos., em Le Barcarès [ município situado no departemento dos Pirinéus Orientaos, região de Languedoc-Roussillon], ou seja, no sudeste, junto ao Mediterrâneo. Está reformado, foi pedreiro por conta própria durante 42 anos. É casado com Rosa Maria Saraiva Lavado. É pai de 3 rapazes e uma rapariga. Tem 6 netos. O contacto, por email,  é feito através de um dos filhos, que escreve em francês. Temos o endereço postal e o nº de telefone do nosso camarada. Só não sabemos em que parte do nosso país nasceu...

Em nome do nome editor Luís Graça e demais equipa desta blogue, saúdo o nosso novo grã-tabanqueiro, que passa a ser o nº 678 (**). Agradeço igualmente ao Virgínio Briote as preciosas fotos, que nos mandou, dos valorosos comandos do CTIG (Brá, 1965/66).

Sebastião, as regras do nosso blogue constam da coluna do lado esquerdo. Este é um blogue de partilha de memórias (e de afetos) à volta da guerra colonial na Guiné, entre 1961 e 1974. Desejo-te muita saúde e longa vida. E felizes reencontros através do nosso blogue. Felicidades para a família.

À bientôt!

Carlos Vinhal
________________

Notas do editor:

(*)  Vd. poste de 29 de março de  2015 >  Guiné 63/74 - P14413: Em busca de... (233): Ramalho Lavado Sebastião, comando da CCmds de Brá, grupo Apaches (1964-66) procura camaradas do seu tempo...

(**) Último poste da série > 15 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14260: Tabanca Grande (455): José Júlio Dores Nascimento, ex-Fur Mil Art da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo, Quinhamel, 1969/71)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3317: Em busca de ... (45): Inácio Semedo Jr, ex-guerrilheiro e quadro do PAIGC, de Bambadinca (Berry Lusher / L. Amado / L. Graça)

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambadinca > 3 de Março de 2008 > Passando por Bambadinca, no regresso de uma visita ao sul, ao Cantanhez, no âmbito do Seminário Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > O antigo campo de futebol, que ficava dentro do perímetro do aquartelamento de Bambadinca, no meu tempo (CCAÇ 12, 1969/71).


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambadinca > 3 de Março de 2008 > Passando por Bambadinca, no regresso de uma visita ao sul, ao Cantanhez, no âmbito do Seminário Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Dois antigos militares, fulas ou mandingas, naturais de Bambadinca, que terão feito parte de um Pel Caç Nat que, se bem me lembro, terá estado em Quebo, durante a guerra colonial.

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambadinca > 3 de Março de 2008 > À saída de Bambadinca, já na estrada para Bissau... Uma das muitas bolanhas da região, hoje abandonadas, servindo agora de campo de pasto para as vacas. O abandono das bolanhas (e, portanto, da cultura do arroz) leva também, provavelmente, ao assoreamento do Geba Estreito, que já não é navegável... Outrora ia-se até Bafatá!

Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.



1. Mensagem enviada por Luís Graça ao Doutor Inácio Semedo, com data de ontem:

Caro Doutor Inácio Semedo, meu caro amigo:

Conforme a nossa conversa telefónica de há hora e meia atrás, junto lhe dou conhecimento do pedido feito pelo seu amigo Berry Luscher, em francês, língua que seguramente você domina. De modo qualquer aqui fica um resumo, em tradução livre, da mensagem que me chegou à minha caixa de correio electrónico, no dia 10 de Outubro (*):

Trata-se de um antigo cooperante suíço, francófono (?), que foi delegado do Alto Comissário para os Refugiados nos anos de 1976 a 1978. Nessa altura supervisionou, na Guiné-Bissau, a construção de hospitais (sic) em Sonaco, Farim, São Domingos, Catió e Bubaque, bem como de um certo número de postos sanitários e de casas de habitação para médicos.

Em 1983, a Presidência do Conselho de Ministros, na pessoa do “meu amigo” (sic) Victor Saúde Maria (**), tinha proposto ao governo suíço a abertura de um consulado honorário “sob a minha direcção” (sic). No entanto, na sequência de um "golpe de Estado palaciano" [, o de Nino Vieira, em 1984], o assunto morreu. “Foi pena para o vosso país [ele julga que somos guineenses], já não tive mais oportunidade de vos ajudar através das minhas relações, ao mais alto nível, na Suíça”.

Encontrando-se a preparar uma pequena publicação sobre as suas actividades, no passado, na Guiné-Bissau, o Sr. Berry Lucher gostaria de poder entrar em contacto com representantes do Ministério com quem trabalhava, entre eles Inácio Semedo.

O seu pedido ao nosso blogue é o seguinte: “Ser-vos-ia possível informar-se sobre esta pessoa [, Inácio Semedo,] que, na época, era o meu contacto com as autoridades governamentais ? No caso de ainda estar vivo, gostaria muito de renovar e revitalizar laços que me são caros”.

O Sr. Berry Luscher descobriu, por acaso, o nosso blogue onde encontrou referência a Inácio Semedo e outros históricos do PAIGC (***). Daí a razão por que se dirigiu a nós, pedindo ajuda.


2. Pedi ajuda ao meu amigo e membro do nosso blogue, o Doutor Leopoldo Amado, historiador, luso-guineense, profundo conhecer do PAIGC e da luta de libertação, que me mandou a seguinte informação, por e-mail, relativamente a este assunto:

Caro Luís Graça,

Inácio Semedo Jr. foi dos grandes diplomatas guineenses e está presentemente na situação de reforma. Como embaixador, representou a Guiné-Bissau em muitos países, entre os quais Portugal e Suécia.

Ignoro se terá trabalhado antes na área da saúde em Bissau, mas é certo que é filho de Inácio Semedo, um histórico do PAIGC e contemporâneo de Amílcar e das lides da luta clandestina ainda antes do início da guerra.

Inácio Semedo Jr. é pois meu amigo e encontra-se em Lisboa. Eis as suas coordenadas [...].


Abraço. Leopoldo Amado



3. Mensagem que mandei, a seguir ao meu contacto telefónico, a Inácio Semedo:

Caro Inácio: Fiquei feliz por o encontrar e por saber que foi um antigo e valoroso Combatente da Liberdade da Pátria. E, para mais, com ligações a Bambadinca, terra onde passei bons e maus momentos, entre Julho de 1969 e Março de 1971, e que revisitei em Março de 2008, na sequência da minha participação, como conferencista, no Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008).

Espero poder conhecê-lo pessoalmente e dar-lhe conta do apreço e amizade que eu tenho pela Guiné e pelos guineenses, alguns dos quais têm sido meus alunos, nos últimos anos... Falar-lhe-ei também do blogue que criei e mantenho, Luís Graça & Camaradas da Guiné... Como combinado, procurarei contactá-lo a partir de finais de Novembro (****).

Entretanto, sinto-me autorizado por si a fornecer os seus elementos de contactos ao Sr. Berry Lusher, arquitecto, antigo cooperante suíço na Guiné-Bissau, e que quer retomar velhas relações de amizade consigo (*****).

Votos de sucesso para si e para os seus projectos.

Luís Graça


___________

Notas de L.G.:

(*) E-mail do Sr. Berry Lusher:

Subject - Adresse d'Inacio Semedo

Porrentruy, le 10 octobre 2008

Bonsoir Monsieur,

Je suis un coopérant suisse anciennement délégué auprès du Haut Commissaire au Réfugiés (HCR) pendant les année 76 à 78. A cette occasion j'ai supervisé la construction des hôpitaux de Sonaco, Farim, St. Domingos, Catio,et Bubaque, ainsi qu'un certain nombre de postes sanitaires et des maisons d'habitation pour les médecins.

En 1983, la Presidência do Conselho de Ministros, sous la signature de mon ami Victor Saûde Maria, avait proposé au gouvernement suisse l'ouverture d'un consulat honoraire sous ma direction; une révolution de palais avait opéré un changement à la tête de l'état et les nouveaux dirigeants n'ont point donné suite à cette question de consulat . Dommage pour votre pays que je n'avais ainsi plus l'occasion d'aider par mes relations au plus haut niveau suisse.

Aujourd'hui, je prépare une petite publication sur mes actiivités guinéennes et je cherche à entrer en contact avec certaines relations locales, entre autres Inacio Semedo.

Vous serait-il possible de me renseigner sur ce personnage qui à l'époque était mon contact avec les autorités gouvernementales, s'il est encore du monde des vivants j'aimerais beaucoup renouer et revitaliser des liens qui me sont chers.

C'est en découvrant par hasard votre blog et en relisant le nom de toutes ces personnes que j'ai fréquenté dans votre cher pays que je me permets de solliciter votre aide pour donner suite à ma requête qui doit bien vous surprendre.

Bien à vous Berry Luscher


(**) Victor Saúde Maria (1939-1999), militante, fundador e dirigente do PAIGC. Foi o primeiro Ministro dos Negócios Estrangeiros da jovem república da Guiné-Bissau (1974-1982), sob a presidência de Luís Cabral. Foi também 1º Ministro, depois do golpe de Estado de João 'Nino' Vieira, num período relativamente curto, de 14 de Maio de 1982 a 10 de Março de 1984. Esteve então preso por alegada conspiração contra o vencedor do golpe de Estado de 1980. Exilou-se entretanto em Portugal. Regressou à pátria já na década de 1990, tendo fundado em 1992 o Partido Unido Social Democrata (PUSD). Ainda concorreu às eleições presidenciais em 1994. Morreu, aparentemente de doença, em 25 de Outubro de 1999.


(***) Na verdade, as referências que temos, no nosso blogue, é a Inácio Semedo, pai... Vd. poste de 12 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXV: Antologia (24): Elisée Turpin, co-fundador do PAIGC (Élisée Turpin)

(...) "Para além das células, estabeleceram-se pontos focais, ou seja, elos de ligação no interior do País. Por exemplo, o elo de ligação em Farim era o Dionísio Dias Monteiro; em Bolama era Carlos Domingos Gomes (Cadogo Pai); em Catió era Manuel da Silva.

"Lembro-me de algumas pessoas que se movimentavam na altura como activistas políticos e muitos deles envolvidos na criação do Partido: Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Rafael Barbosa, Luís Cabral, Abílio Duarte, Fernando Fortes, João Rosa, Inácio Semedo, Victor Robalo, Júlio Almeida, João Vaz, Domingos Cristovão Gomes Lopes. [Negritos nossos].

"Contudo, no dia 19 de Setembro de 1956, na fundação (criação formal do Partido, denominado PAI - Partido Africano da Independência), compareceram apenas 6 pessoas: Amilcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, Fernando Fortes, Júlio Almeida, Elisée Turpin" (...).


Vd. também poste de poste de 14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXVIII: Memórias de Turpin e da Bissau do seu tempo (Mário Dias)

Sobre as pessoas referidas pelo Elisée Turpin, o nosso camarada Mário Dias (que foi para a Guiné, ainda adolescente no início dos anos 50), diz o seguinte:

(...) recordo-me perfeitamente de:

- Benjamim Correia, que tinha uma loja de bicicletas e acessórios e era um conceituado comerciante muito estimado e considerado entre a população da Guiné, 'colonos' incluídos;

- Rafael Barbosa, que era funcionário das Obras Públicas e tinha uma pequena deficiência numa perna que o obrigava a mancar;

- Quanto ao Inácio Semedo, o único Semedo de que me recordo era o guarda-redes do Sporting de Bissau, alcunhado de 'Swift'; talvez não seja o mesmo(Negritos nossos]

- Luís Cabral, irmão do Amílcar, trabalhava na Casa Gouveia.

Porém, aqueles de quem melhor me lembro - por com eles ter lidado mais de perto - são:

- Fernando Fortes, que era funcionário dos Correios em Bissau: tinha um irmão (Alfredo, salvo erro) que nos meus tempos de Farim (1953/55) era o Delegado Aduaneiro naquela localidade;

- João Rosa foi meu colega de trabalho na NOSOCO. Era o guarda-livros. Fui muitas vezes a casa dele no Chão Papel. Era muito meu amigo e fui visitá-lo ao hospital quando ali foi internado, já sob prisão da PIDE;

- João Vaz era o alfaiate dos serviços militares. A oficina era na Amura e era ele que fazia o fardamento para os recrutas e demais militares. Ainda tenho comigo um camuflado que ele me fez sob medida. (...).



(*****) Inácio Semedo Júnior: 65 anos, natural de Bambadinca, filho de Inácio Semedo. A família tinha propriedades na região, segundo ele mesmo me disse ao telefone. Nomeadamente o pai tinha uma destilaria de aguardente de cana. Costumava comprar arroz aos Brandão, de Catió, para alimentar os seus trabalhadores balantas (possivelmente de Nhabijões, Mero, Santa Helena...). Trocava aguardente por arroz. O arroz do sul, do celeiro da Guiné, era o melhor. A Guiné era pequena e todo o mundo se conhecia. A família Brandão, de Catió, também deu pelo menos um militante do PAIGC, que ele, Inácio, irá conhecer na luta de guerrilha, no sul. Em Bambadinca também havia uma família Brandão (com quem os Semedo seriam aparentados, se bem percebi...).

O pai, Semedo, agricultor, proprietário, foi um nacionalista, que andou a conspirar com o Amílcar Cabral e outros históricos do PAIGC, e que como tal foi preso e torturado pela PIDE e condenado a 2 anos de prisão. O filho, Inácio Semedo, está a ver se ainda hoje recupera parte do património da família em Bambadinca... (Não consigo localizar essa ponta, propriedade dos Semedo: vi uma referência a uma casa em Gã Beafada, não tenho a certeza onde seja...).

Aos 16/17 anos veio estudar para Portugal, onde fez o liceu. Deve ter aderido ao PAIGC nessa época e/ou saído de Portugal nessa época. (Segundo o Leopoldo Amado, o Amílcar Cabral foi padrinho de casamento do pai, numa cerimónia que se realizou em Bambadinca).

Em 1964 vamos encontrá-lo na guerrilha, no sul (Quitafine ?), sob as ordens do comandante Saturnino. Nunca andou na sua terra natal, a orientação do PAIGC era pôr os guerrilheiros em regiões diferentes daquelas onde tinham nascido e vivido.

Mais tarde (não percebi quando, exactamente) o jovem Inácio foi para a Hungria, onde tirou o curso de engenharia e fez o doutoramento em Ciências. A seguir à Independência trabalha no Ministério das Obras Públicas, cujo titular da pasta era o Arquitecto Alberto Lima Gomes, mais conhecido por Tino, e que viria a morrer, mais tarde, num acidente de caça, actividade de lazer de que era um apaixonado. É nesta época que o Inácio conhece o arquitecto suiço Berry Lusher, de quem se torna amigo. Uma das suaS funções era então receber, encaminhar, apoiar, acompanhar e tutelar centenas de cooperantes, estrangeiros, incluindo portugueses.

Vive hoje em Portugal, retirado da vida pública do seu país. Tem um filho bancário. Confessa que não conhece o nosso blogue, por não estar muito familiarizado com a Internet. Tem endereço de e-mail mas é o filho que o ajuda a gerir a caixa de correio.

Continua ligado ao seu partido de sempre, o PAIGC. Neste momento está a mobilizar e angariar apoios e contactos, tendo em vista as eleições do próximo mês de Novembro.
Prometemo-nos voltar a contactar lá para o final desse mês, quando haverá maior disponibilidade, de parte a parte. Para falarmos da nossa Bambadinca ("hoje tão decadente, tão triste, tão morta"...), do nosso Geba Estreito ("onde já não circulam os barcos que lhe deram vida, cor e movimento"...), enfim, da nossa Guiné (onde o Inácio Semedo continua a ir regularmente, a última vez em Junho passado...).

(*****) E-mail de resposta de L.G., enviado ontem ao Sr. Berry Lusher:

Monsieur Luscher:

(i) J'ai de bonnes nouvelles pour vous! Votre ami Inacio Semedo Jr est vivant, il est retiré de la vie diplomatique (aprés avoir representé son pays au Portugal et en Suède), et il demeure à Lisbonne. Nous avons un ami en commum, l'historien Leopoldo Amado. J'ai eu le plaisir de parler avec Mr. Semedo au téléphone. Je suis autorisé par lui a vous donner les contacts suivants [..]

(ii) Je ne suis pas guinéen. Je suis portugais, an ancient combattant pendant la guerre coloniale en Guinée (1963/74). Je suis le webmaster du blog Luis Graca et Camarades de la Guinée, le plus grand blog, en langue portugaise, sur l'expérience de la guerre coloniale / lutte de libération en Afrique... C'est un espace de partage, de connaissance, de recherche, d'échange, de solidarité, d'amitié et de camaraderie. Nous avons dix règles d'étique, incluant le respect pour la vérité et pour l'enemie du passé. Des portugais et des guinéens, on partage des histoires, récits, images, documents, etc.

Sur mois, je suis sociologue de la santé et du travail, à l' École Nationale de Santé Publique, Nouvelle Université de Lisbonne.

Bonne santé et bon travail à vous!

Luis Graca (...)