sexta-feira, 27 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4085: O trauma da notícia da mobilização (4): Ir em rendição individual e, para mais, 'substituir um morto'... (Henrique Matos)



Fotos: Henrique Matos (2009)

1. Mensagem do Henrique Matos, o primeiro comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé e Porto Gole, 1966/68), açoriano de São Jorge, que vive hoje em Olhão (*):

Caro Luís e co-editores:

Se achares que tem interesse para a série "O trauma da noticia da mobilização" talvez com o subtítulo: a rendição individual...


2. O trauma da notícia da mobilização (**): Ir em rendição individual...


Da inspecção apenas lembro de estarmos em pelota com cara de parvos, pois não era coisa vulgar naquele tempo, e do exame médico que foi super rápido.

Já a mobilização ficou bem marcada. Data: Julho de 1966. Local: Batalhão Independente de Infantaria 17 (BII17) em Angra do Heroísmo (foto anexa retirada da Wikipedia).

Tinha acabado de dar uma recruta e já sabia que seria mobilizado mais dia menos dia. Conservava porém alguma esperança de ir para Angola, uma vez que tinha feito um requerimento nesse sentido por ter lá a minha família e tinha uma boa classificação.

Erro meu. Chegou a dita e logo para a Guiné que já se sabia não era pera doce. Para piorar as coisas era uma rendição individual, o que significava avançar sem que fosse com alguém conhecido (faz sempre falta nem que seja para desabafar), e começou logo a falar-se que seria para substituir algum camarada morto.

Refira-se que só soube que ia para um Pelotão de Caçadores Nativos quando já estava em Bissau. Ainda no BII17, uns dias antes de ser mobilizado, chegou àquela unidade um tenente regressado duma comissão na Guiné e que mostrou a toda agente uma série de fotografias escabrosas.

Claro que isto deixa um cidadão pouco tranquilo e escusado será dizer que os dez dias de férias que me deram antes de embarcar foram passados em estado etílico.

A viagem para Lisboa foi no velho Lima (foto retirada do site Ships Insulana) e demorou três dias e três noites, o que deu para passar no BII18 em Ponta Delgada (foto anexa em que estou de casaco branco) e no BII 19 no Funchal para rever e despedir de camaradas.

Abraço grande,

Henrique Matos

3. Comentário de L.G.:

Já tinha dito ao Carlos (que hoje tem o dia livre porque faz anos, 61 se não me engano)... Vamos insistir no tema, que tem sumo (e muito álcool...) para dar. Também gostara de escrever sob esse famigerado dia, em que apanhei a minha primeira cadela da vida...

De facto, bebi não sei quantas 'moscas' (lembra-se na 'mosca' com o cafezinho ?) num botequim qualquer, parecia que o mundo ia desabar quando me atirei para cima da cama... E ia desabar mesmo: nessa noite, de 28 de Fevereiro de 1969, houve um forte abalo sísmico...

Eu estava em Castelo Branco, onde era 1º cabo miliciano e instrutor militar (passara lá um cruel inverno, com tanto frio que tive comprar ceroulas, como aquelas que usavam os nossos avós)... Pois eu, nessa tenebrosa noite, dormia que nem um justo... Houve alguns estragos no quartel, armários que caíram na nossa camarata, etc. ...Só soube no dia seguinte, já a manhã ia alta...

Quando tiver tempo, hei-de escrever sobre esse episódio. De qualquer modo, eu estou como o escritor norte-americano Mark Twain, ao comentar a notícia da sua morte...Disse ele que a notícia fora um bocado exagerada. O mesmo se podia dizer do "trauma"... da notícia da nossa mobilização.

O que quer dizer trauma ?

Do do grego traûma, ferimento, a palavra portuguesa trauma é um s.m. [Leia-se: substantivo masculino).

Em termos médicos, é sinónimo de traumatismo; contusão; lesão local devida a um agente exterior accionado por uma força; para os psicólogos, trauma quer dizer "choque emocional violento que modifica a personalidade de um sujeito, sensibilizando-a em relação a emoções da mesma natureza e podendo desencadear problemas psíquicos" (Dicionário de Português Priberam).

Em suma, parece-me ser forte o termo trauma usado no título desta série. De qualquer modo, toda a gente tem hsitórias para contar desse dia (ou dia da inspecção, o ir ás sortes...). São essas histórias que a gente quer ver no blogue. E se houve alguns excessos etílicos, tanto melhor. Quem não bebeu uns copos nesse dia, que atire a minha pedra, perdão, garrafa.

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste do Henrique Matos > 13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4023: Memória dos lugares (19): Porto Gole, 1966, muito antes das tristes valas comuns... (Henrique Matos)


(**) Vd. postes anteriores desta série:

26 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4079: O trauma da notícia da mobilização (3): Calma rapaz, nem tudo há-de ser mau (Carlos Vinhal)

24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4075: O trauma da notícia da mobilização (2): No dia da minha inspecção, ali estava eu, em pelota... (Joaquim Mexia Alves)

24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4072: O trauma da notícia da mobilização (1): A minha mobilização para a Guiné acagaçou-me (Magalhães Ribeiro)

Guiné 63/74 - P4084: Parabéns a você (2): Carlos Vinhal, nosso co-editor, um rapaz de Leça, que desmontava minas em Mansabá (Luís Graça)

Guiné > Região do Oio > Mansabá > CART 2732 (1970/72) > Vista aérea da tabanca e aquartelamento.

Foto: © Carlos Vinhal (2006). Direitos reservados


1. O Carlos Vinhal, ex-Fur Mil At, com a especialidade de Minas e Armadilhas, numa companhia de madeirenses, a CART 2732, aquartelada na Região do Oio (Mansabá, 1970/72), está connosco desde 25 de Março de 2006, fez anteontem precisamente três anos (*)...

Foi o primeiro co-editor que eu fui buscar à Tabanca Grande, 'voluntário à força', co-optado por mim por altura da realização do nosso II Encontro Nacional, Pombal, 28 de Abril de 2007 (foto à esquerda, com a esposa Dina). Forma juntamente comigo e com o Virgínio Briote o trio que tem pilotado, na blogosfera, o nosso blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné... Trabalhador, disciplinado, leal, dedicado, discreto, competente, dotado de um fino humor, o Carlos é hoje mais do que um simples camarada, é um amigo com que contacto amiuadas vezes, por mail e por telefone... À distância, ele em Leça, Matosinhos, o Virgínio em Lisboa, eu em Alfragide, Amadora, temos dado conta deste recado e levado a nossa carta a Garcia...


Acontece que o Carlos hoje faz anos (soube por acaso..), é já um sexagenário como eu. E a ocasião merece ser celebrada. Eu tenho uma dívida de agradecimento, de camaradagem e de amizade para com ele... Acho que a Pátria também lhe deve qualquer coisinha, mas essas são outras contas... Recordo, por outro lado, que ele é, em geral, o elemento da equipa que recebe, acolhe e saúda os novos membros da nossa Tabanca Grande... É o primeiro elemento de contacto do blogue.

Para além disso, tem outras valiosíssimas mas discretas tarefas (como, por exemplo, manter actualizado o ficheiro de contactos da nossa Tabanca Grande). Com todo o trabalho que o blogue lhe exige, ele hoje mal tem tempo para falar das peripécias da sua vida militar, em Mansabá.

Quis-lhe fazer uma pequena surpresa, listando os links do seus primeiros postes, publicados na I Série do nosso blogue (**). Por outro lado, e enquanto fui ao cinema (vd. a Valquíria, com o Tom Crusie, um bom filme (que recomendo) sobre os valores militares em Estados Totalitários, como era o caso da Alemanha Nazi) (***) e depois enquanto esperava o meu filho, à meia noite, à porta do Hiospital Francisco Xavier, onde ele trabalha como médico, fui escrevendo umas quadras para hoje publicar em honra do nosso Carlos.

Como também somos um blogue de afectos, niguém me levará a mal esta manifestação pública de sentimentos pessoais. O tom é ligeiro, mas o meu apeço e admiração pelo Carlos são profundos. Naturalmente que os votos de parabéns são também do Virgínio Briote e do resto da Tabanca Grande. Espero poder estar com ele e com a malta da Tabanca de Matosinhos, no dia 8 de Abril, 4ª feira, altura em que estarei de férias no Norte. Um grande dia para ti, Carlos, bem como para a tua Dina. LG

2. Parabéns a você (***) > Carlos Vinhal, nosso co-editor, um rapaz de Leça


De Leça p’ra Mansabá,
Passando pelo Funchal,
Até nem foi nada má
A viagem do Vinhal.

Foram férias prolongadas,
Com direito a rancho e tudo,
Tirando as morteiradas,
O Carlos foi um sortudo.

O destino marca a hora,
Para quê tanta aflição ?
No fim vais-te embora
E até levas patacão.

Nunca pensou em lerpar,
Nem na Guiné pôr-se a milhas,
Foi perito em desmontar
As minas e armadilhas.

Tipo de boas maneiras,
Não era de se queixar,
Tirando as sexta-feiras,
Treze, dias de azar.

Era carne p'ra canhão
O soldado madeirense,
Explorado até mais não
Pela máquina castrense.

Abelhas e foguetões,
Manga deles, a dar com um pau,
E capitães foliões,
Desenfiados em Bissau.

Em Leça deixou bajuda,
Prometendo-lhe casório,
Mal ele fosse p’rá peluda,
Acabado o foguetório.

Nem herói nem desertor,
Foi cumprindo a sua parte,
Hoje dum blogue é editor
Que da guerra faz a arte.

Bendita sejas tu, Dina,
Entre as nossas tabanqueiras,
Já não és uma menina,
Nem elas são carpideiras.

Viva a vida, viva o Norte,
Viva o nosso camarada,
Saúde e muita sorte,
Para o resto da caminhada.

C/ um Alfa Bravo para o Carlos Vinhal, no seu dia de aniversário,
Do Luís, do Virgínio e dos demais amigos e camaradas da Guiné

__________

Notas de L.G.:

(*) 25 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLI: A madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)

(...) "Amigos e camaradas de tertúlia: Abram aulas para receber mais um camarada da Guiné. Aqui vai o testemunho do Carlos Vinhal, ex-furriel miliciano da CART 2732 (Mansabá, 1970/72):
Caro Luis Graça:

Entrei recentemente no seu site e, como antigo combatente da Guiné, queria deixar o meu modesto contributo para aumentar o número daqueles que não têm complexos em assumir-se como antigos combatentes de uma guerra que, a não querendo, dela não fugiram. (...)

Como se tratava de uma Companhia independente, ficámos dependentes administrativa e operacionalmente ao BCAÇ 2885, sediado em Mansoa. Os Oficiais, Sargentos, Cabos e Soldados especialistas eram todos continentais. Os madeirenses, homens de comprovada bravura, eram aquilo que poderíamos chamar a 'carne para canhão'. A verdade é que muitos deles foram feridos em combate mais de uma vez e nunca viraram a cara à luta. Verdadeiros heróis anónimos, embora alguns reconhecidos e louvados até pelo General e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné. (...)


25 de Março de 2005 > Guiné 63/74 - DCLI: A madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)

(**) Outros postes do Carlos Vinhal, publicados na I Série do Blogue (Abril de 2005 a Maio de 2006), e pouco conhecidos dos nossos amigos e camararadas que só frequentam a II Série:

26 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCC: O colaboracionismo sempre teve uma paga ( 5) (Carlos Vinhal)

5 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXVI: Em 22 de Novembro de 1970 eu estava em Mansabá (Carlos Vinhal)

4 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIV: Na guerra (não) se limpam armas (Carlos Vinhal)

18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXI: Breve historial da CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)

(...) No dia 22 de Abril de 1970 assumiu o Comando da CART 2732 o Capitão de Inf Carreto Maia, ex-comandante da CCAÇ 2403, em substituição do Capitão Prego Gamado que tinha dado baixa ao HMP [Hospital Militar Principal] antes do embarque no Funchal.

No dia 20 de Junho de 1970 a CART passou a ser comandada pelo Capitão de Art José Maria Belo para substituir o Capitão Carreto Maia que tinha terminado a sua Comissão de Serviço na Guiné.

Em Setembro de 1970 o Capitão José Maria Belo deu baixa ao HMP. Em Outubro de 1970 assumiu o comando da Companhia o Capitão de Art Domingos Alberto Pinto Catalão que por sua vez baixou ao HM241 em Fevereiro, Março e Junho de 1971 . Em Agosto de 1971 foi evacuado definitivamente para o HMP. (...).

(... É minha obrigação lembrar a memória daqueles que partiram do Funchal e que, por morrerem, não regressaram connosco. São eles:
- Alf Mil Art MA Couto que em 6 de Outubro de 1970 foi vítima do rebentamento de 1 mina A/P;
- Soldado Malcata que em 16 de Maio de 1971 faleceu por motivo de doença;
- Soldado Silvestre que em 17 de Maio de 1971 faleceu por motivo de acidente;
- Soldado Vieira que em 6 de Dezembro de 1971 foi morto numa emboscada;
- e, por fim, Soldado Barbosa que foi ferido na mesma emboscada, acabando por morrer no HM 241 em 17 de Dezembro de 1971.

Por eles direi sempre PRESENTE.


14 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCVI: Força, Zé, contra o tabaco marchar, marchar (4) (Carlos Vinhal)

(...) Caro Luis, parabéns pela luta contra o tabaco.

Fundamentalismos à parte, esclarecimentos quantos mais melhor. Aqui vai o meu testemunho.

Iniciei aos 16 anos quando comecei a ter algum dinheirito para investir. A média era um maço por semana.

Aos 18 era já um fumador profissional porque, como trabalhava, tinha dinheiro para fumar um maço por dia.

Na tropa já era licenciado na matéria, maço e meio por dia era a média.

Na Guiné a média subiu ligeiramente. Como eu não era 100% operacional, de três em três dias fazia sargento de ronda (voluntariamente) pelo que estes dias tinham exactamente 24 horas de actividade. Logo a média subia para os TRÊS maços. Nos outros dias a média era quase dois.

Voltando à vida civil a dose diária era de quase dois maços. Aos 30 anos tive um problema num restaurante. Enquanto esperava pelo almoço tomei um aperitivo e fumei um cigarro. Antes de começar a refeição, senti-me mal, desmaiando duas vezes em escassos segundos. A minha mulher ficou assustadíssima, foi uma confusão total à minha volta e eu muito envergonhado no meio daquilo tudo.

Nessa hora decidi que iria deixar de fumar. Fora precisos cerca de 15 a 20 dias até deixar abandonar definitivamente. Não fumo há cerca de 28 anos. Nos primeiros tempos tinha pesadelos comigo a fumar. Cafezinho sem cigarro era um verdadeiro martírio. Os primeiros anos de abstinência foram muito difíceis. Ninguém me diga que é fácil deixar de fumar. Disso percebo eu.

Já agora, para ser honesto, fiz duas tentativas anteriores para deixar de fumar. Na primeira tive 1 ano de abstinência e na segunda 2 anos, mas acabei vencido pelo vício.

Há uma ideia de que quando se deixa de fumar há tendência para engordar um pouco. Comigo não aconteceu isso. Mantenho ainda hoje o peso dos meus 20 anos. (...)


30 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLX: À sexta-feira, dia 13, o melhor era ficar na cama (Carlos Vinhal)

(***) Valquíria (Título original: Valkyrie )
De: Bryan Singer / Com: Tom Cruise, Kenneth Branagh, Bill Nighy / Género: Drama, Thriller

Classificação: M/12

ALE/EUA, 2008, Cores, 123 min.

Sinopse > "O coronel Stauffenberg (Tom Cruise) sempre foi fiel ao seu país, o qual serviu com orgulho. Mas ao ver Hitler precipitar a Alemanha e a Europa no caos, começa a acreditar que é preciso passar à acção e travar o líder da Nacional Socialista. Em 1942, tenta conduzir vários oficiais superiores à rebelião, mas será em 1943, quando recupera de ferimentos sofridos em combate, que reúne forças junto da Resistência Alemã e organiza uma conspiração para matar o Führer. O plano, a operação Valquíria, é astuciosamente desenhado, e a missão de matar Hitler entregue ao próprio Stauffenberg".

CineCartaz / Público (com a devida vénia...)


(****) Vd. primeiro poste desta série > 20 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2367: Parabéns a você (1): Humberto Reis, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71): born in Portugal, December 19th, 1946 (Luís Graça)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4083: Memória dos lugares (21): Hospital Militar 241 de Bissau (Carlos Cardoso)

1. Mensagem da Carlos Cardoso, 1.º Cabo Radiologista dos Serviços de Saúde Militar, (HM 241, 1972/74), com data de 24 de Março de 2009:

REPOR A VERDADE
Resposta ao camarada Paiva
Post 4058
(*)

Caro Luis, Carlos e Virginio

A verdade é só uma, efectivamente o heliporto era em frente ao hospital militar. Quando eu cheguei a Bissau em 18/11/72 o heliporto já tinha sido mudado como exemplifico na imagem aérea, já em relação à evacuação do Zé de Guidage, a foto do Canal História é de arquivo e não conrresponde à data de Abril de 73, visto o heliporto já não ser nesse local ou seja em frente ao hospital, daí a confusão.

Confirmei o que não precisava de confirmar com o camarada Albano que esteve na mesma altura no hospital para reforçar a minha verdade.

O camarada Paiva tem a sua, mas o heliporto mudou, confirmo que anteriormente era em frente ao hospital, porque no video da viagem à Guine do Albano, o camarada Casimiro fala que o heliporto era em frente ao edifício e que o posto de socorros era no 1.º andar e dois anos depois no meu tempo de serviço era no r/c.

Espero que tudo esteja esclarecido, mas se existirem dúvidas, o camarada Paiva que me telefone, porque perdi o contacto. Visto estarmos tão perto, podíamos tirar qualquer dúvida antes de ir para o blog.

Sem mais um abraço para todos.
Cardoso RX
Hospital Militar de Bissau

Obs: Um abraço ao ex-Pilav Miguel Pessoa do radiologista que o recebeu naquele dia fatídico




Fotos: © Carlos Américo Rosa Cardoso (2009). Direitos reservados
__________

Nota de CV:

Vd. poste de 20 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4058: Memória dos lugares (20): Hospital Militar 241 de Bissau (António Paiva)

Guiné 63/74 - P4082: Ser solidário (30): Reportagem da Horta de Cabedú (Carlos Silva)

1. Mensagem de Carlos Silva, Presidente da Assembleia Geral da Associação Ajuda Amiga, com data de 23 de Março de 2009:

Amigos "Triunvirato"

Aqui vai uma reportagem da famosa horta de Cabedu em homenagem aos nossos camaradas das sementes.
Fogo à peça, pois as sementes também não caíram em saco roto.
Há mais para enviar. A seguir vai o corredor de Guileje e o famoso museu já em construção.

Com um abraço
Carlos Silva

Horta de Cabedú

Guiné-Bissau
Região do Tombali>Sector de Cabedu, 11-03-2009


No âmbito de mais uma visita de natureza humanitária à Guiné-Bissau para onde a nossa ONGD Ajuda-Amiga Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento enviou um contentor de bens para distribuir pela população guineense e por algumas instituições, apesar de a Guiné atravessar um período menos bom, como é do conhecimento público, nós estivemos lá para acompanhar o descarregamento do contentor e respectiva distribuição dos bens.

No âmbito desta deslocação, fizemos o percurso de ano passado por altura do Simpósio de Guilege, desde Bissau até Iemberem onde acampamos 3 dias e onde a AD desenvolve um excelente trabalho de apoio social, educacional às populações e ao desenvolvimento daquela região, percorrendo algumas localidades, Mata do Cantanhez, Canamina, Cacine, Ilha de Melo, Cabedu e Cadique, já conhecidas dos nossos camaradas, pelo menos, fotograficamente, através do Blogue.

Ano passado não integrei o grupo que foi a Cabedu inaugurar um furo para fornecimento de água potável à população, pois fui integrado no grupo que visitou Cacine.

Este ano tive a oportunidade de visitar Cabedu e em homenagem ao grupo que prometeu as sementes àquela população, dos quais fez, faz parte o nosso camarada José Carioca, o qual juntamente com outros camaradas enviaram sementes de diversas culturas através do “Pepito”, para a Associação de Mulheres CôbocoCôboco, presidida pela “Mulher Grande” Beti Touré, coadjuvada pela animadora Siabato de Carvalho, aqui vai a prova de que as sementes não caíram em saco roto e que estas mulheres cheias de boa vontade conseguiram fazer crescer a horta mais linda da região.


Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu

Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu 11-03-2009 > Furo que foi inaugurado em Março de 2008, depósito e casa do gerador > António Soares do Porto que prestou serviço na BA12 Bissalanca

Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu, 11-03-2009 – Entrada da horta

Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu, 11-03-2009 > Aspecto das diferentes culturas semeadas na horta

Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu, 11-03-2009 > Uma das associadas regando a alface

Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu, 11-03-2009 > Outra das associadas regando os pimentos e as cebolas

Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu, 11-03-2009 > Troca de impressões entre os visitantes, associadas e animadora Siabato de Carvalho

Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu, 11-03-2009 > Mulheres da Associação CôbocoCôboco, ao centro Carlos Silva, em frente a Presidente Beti Touré, à direita a animadora Siabato de Carvalho e à esquerda o motorista da AD Samba Caiote
__________

Notas de CV:

Vd. postes de:

7 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2816: Simpósio de Guileje: Notas Soltas (José Teixeira) (5): Água, fonte de vida para as gentes de Cabedu

11 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2834: Ser solidário (9): Sementes para a população de Cabedu, Cantanhez, Região de Tombali (Zé Carioca)

16 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2849: Ser solidário (10): Campanha Sementes para as Mulheres Grandes de Cabedu (José Teixeira)

23 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2975: Ser Solidário (11): Sugestões de colaboração (José Teixeira)

17 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3069: Ser solidário (13): Projecto de angariação de sementes (APAG / Zé Carioca)

1 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3159: Ser solidário (18): Projecto Sementes: Com o Pepito, na sua casa de São Martinho do Porto, em 19 de Agosto passado (Zé Carioca)

11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3295: Ser solidário (21): Do Projecto Sementes ao Museu de Guiledje (Pepito)

Vd. último poste da série de 12 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4016: Ser solidário (29): Unidos no passado, unidos no presente (Pepito / Carlos Fortunato)

Guiné 63/74 - P4081: De regresso a Mampatá (Zé Manel Lopes) (4): Senegal e Guiné-Bissau

1. Fotos enviadas pelo nosso camarada e amigo José Manuel Lopes, ex- Fur Mil, CART 6250, Os Unidos de Mampatá, (Mampatá, 1972/74), que ilustram a sua recente viagem à Guiné com visita particularmente sentida a Mampatá.

Mercado do Peixe em St Louis

Ponte do Eiffel

Carros puxados a burros o maior meio de transporte do interior do Senegal

Fronteira Senegal/Guine Bissau

Guiné

Festa na aldeia

A Guiné é indiscutivelmente uma terra fertil

Palácio do Governador em mjuito mau estado

A vaca no tejadilho nestes carros tudo se transporta

De boleia e à sombra

Fotos: © José Manuel Lopes (2009). Direitos reservados

__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4061: De regresso a Mampatá (Zé Manel Lopes) (3): Do Trópico de Câncer à Mauritânia (2.ª Parte)

Guiné 63/74 - P4080: Tabanca Grande (127): Manuel Resende, ex-Alf Mil, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1969/71): como o mundo é pequeno e o nosso blogue é grande

Guiné > Região do Oio > Jolmete > 1971 > O António Dias Barros, da CCAÇ 3306, junto ao memorial da CCAÇ 2585 (1969/71)... Obrigado, António, pela foto que te 'roubo', mas estávamos mesmo a precisar de alguns sinais de vida da rapaziada da CCAÇ 2585... Tu também te podes juntar a este "maravilhoso espaço da Internet". Encontrei fotos tuas de Jolmete, mas não o teu endereço de mail... Se nos estiveres a ver, dá uma apitadela... Gostava de te agradecer a gentileza...

Foto: Cortesia de António Dias Barros (2009)


1. Ao fim de dois anos (!), tivémos resposta a um apelo do médico estomalogista Raul Nobre, que chegou a integrar a CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, mas que não chegou a embarcar, no T/T Niassa com destino à Guiné (*). A mensagem é do Manuel Resende:

Olá, Luís Graça

Só há dois dias é que descobri este maravilhoso espaço na Internet, onde se pode falar e desabafar de factos que recalcamos há 40 anos.

Sou ex-Alf Mil da CCaç 2585 / BCaç 2884.

Já li tudo o que está neste espaço e quero contribuir, para já, com uma informação para o nosso médico Raul Nobre, de que me lembro perfeitamente, pois era meu camarada de Companhia (CCaç 2585). Foi substituído pelo médico Alf Mil Diniz Martins Calado.

Já agora, também para informação do camarada Raúl Nobre, aqui vão os nomes dos 4 alferes da Companhia:

- António Camilo Almendra (mais tarde comandante da companhia por graduação em Capitão),

- Manuel Charraz Godinho,

- António Alberto Miguéis Marques Pereira,

- e eu, Manuel Cármine Resende Ferreira.


Tenho muitas fotos que irei partilhar em outra altura. Também tenho algo a dizer em relação à morte dos MAJORES.

Um abraço

Manuel Resende

manuel.resende@clix.pt

2. Comentário de L.G.:

Manuel Resende:

Como eu costumo dizer em casos destes, o mundo é pequeno e o nosso blogue é grande...

Não, não é vaidade, imodéstia, megalomania, arrogância, demência, voyeurismo... Estou só a falar em voz alta e a congratular-me por, quase todos os dias, conhecer gente fixe como tu, que gosta de ajudar e de ser ajudado. E que não quer ficar gagá tão cedo. E que ainda tempo tripas, tomates e coração. E que se recusa a pagar as suas memórias, o seu passado. E que até é capaz de blogar na Internet. E que se junta com os seus antigos camaradas da tropa e da guerra, para dar dois dedos de conversa, beber um copo, bater uma chapa, recordar os bons e os maus velhos tempos...

Obrigado, em meu nome e dos demais tabanqueiros, pela referência que fazes a "este maravilhoso espaço da Internet" que é, para ti, o nosso blogue, que acabas de descobrir. O que é importante é que ele, o blogue, vá cumprindo a missão para que foi criado, que é a de reunir debaixo do grande poilão a rapaziada que andou pela Guiné nos idos tempos de 60/70, na guerra e na paz. E que continua a lá ir e a sentir saudades de (e afecto por) aquela gente e os seus lugares...

Obrigado por quereres partilhar connosco a história dos três majores do chão manjaco, tema doloroso da guerra da Guiné, e sobre o qual já publicamos aqui um extenso dossiê, incluindo o depoimento de um antigo camarada teu, o ex-Fur Mil Lino, que vive hoje em Braga. Mas o Lino não mais deu sinais de vida. Em contrapartida, temos aqui, com lugar cativo na Tabanca Grande, o José Rodrigues Firmino, que foi soldado atirador da tua companhia, "casado, 60 anos de idade, natural de Armamar, Distrito de Viseu, residente em Paredes, Distrito do Porto". Também anda à procura de malta da CCAÇ 2585.

E porque "amor com amor se paga", ficas desde já convidado a integrar a nossa Tabanca Grande, a mandar as duas fotos da praxe (um de menino e moço, e outra mais recente), a contar a(s) tuas(s) história(s), tuas e da CCAÇ 2585 sobre a qual ainda sabemos pouco (**)... Até lá, um Alfa Bravo. Luís Graça.

PS - Vou dar notícias tuas ao Raul Nobre.

_____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 27 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1629: Lendo os vossos depoimentos com um nó na garganta... O que é feito da CCAÇ 2585 ? (Raul Nobre, ex-Alf Mil Médico)

Mensagem de Raul Nobre, médico:

Meu Caro Luís Graça: Tenho lido estes depoimentos com um nó na garganta. É muito importante em todos os sentidos, quer histórica quer emocionalmente. Em 1969 fui incorporado como médico na CCAÇ 2585, comandada pelo Capitão Tomaz da Costa.

Ainda fiz o IAO na Arrábida e gozei os 10 dias de licença antes do embarque. Entretanto deu-se o "atentado" ao Niassa e o embarque do Batalhão fez-se com atraso. Eu não cheguei a embarcar, pois deferiram-me o requerimento que fizera para poder terminar a especialidade de Estomatologia e em 1971 mandaram-me para Timor donde regressei em 1973.

Nunca mais tive notícias de ninguém. Recordo-me que havia um Alferes chamado Almendra, creio que natural de Trás-os Montes. O meu contacto com os camaradas foi de curta duraçáo, pois tinha sido reinspeccionado, fizera uma recruta de um mês em Santarém e tinham-me colocado naquela Companhia que, por sua vez, tinha sido constituída a toda a pressa. Gostava de ter notícias daqueles rapazes.

Um abraço e a minha admiração pelo trabalho que estás a fazer.

Raul Nobre


(**) Sobre a CCAÇ 2585, continuamos a ter ainda pouca informação... Há referências a esta companhia que esteve em Jolmete (vd. mapa de Pelundo), nos postes de:


17 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2275: Estórias avulsas (11): Saídas frequentes para o mato (Albino Silva)

14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2106: Tabanca Grande (33): Apresenta-se José Rodrigues Firmino, ex-Soldado Atirador (CCAÇ 2585 / BCAÇ 2884, Jolmete, 1969/71)

27 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2004: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (Anexo A): Depoimento de Fur Mil Lino, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1970)

Guiné 63/74 - P4079: O trauma da notícia da mobilização (3): Calma rapaz, nem tudo há-de ser mau (Carlos Vinhal)

1. Calma rapaz, nem tudo há-de ser mau

Carlos Vinhal

Quanto ao dia da minha inspecção militar em Matosinhos, no dia 21 de Junho de 1968, de pouco me lembro, a não ser do meu amigo Arménio Lucas que ficou livre por ser deficiente de um pé. Tirando este, grandes, pequenos, gordos e magros, foram todos apurados para servirem a Pátria.
Claro que me lembro de andarmos todos à pai Adão, sem parra, num edifício devoluto, de sala em sala, curiosamente contíguo à Escola Secundária que tinha frequentado uns anos antes, destinado temporariamente às Inspecções Militares.
Também me lembro da famosa pergunta de alguém que deveria ser médico ou afim:
- Sofre de alguma coisa?

Como na altura não percebia nada de postos militares, respondi em termos mais ou menos provocatórios:
- O senhor acha que eu com este corpo, sofro de alguma coisa?
Ao tempo eu era um pouco para o anafado.

Quem se lembra da célebre saquinha de onde se tirava o número mecanográfico? 19551569 tocou-me em sorte. Virá daí o ir às sortes?

Fui ainda cravado por um militar que deambulava por lá e se aprontou a vender-me uma fitinha horrorosa onde se lia APURADO.

Não sendo um homem de fortes convicções religiosas, logo portador de pouca fé, entreguei-me sempre ao destino, coisa em que acredito, esperando sempre o pior, para receber com alegria o que de melhor vier.

Nas Caldas da Rainha (ABR a JUL1969), nos últimos dias da Recruta, houve formatura geral na Companhia para chamar o povo, separando-o por Especialidades. Logo pensei - Carlos, presta atenção quando chamarem para Tavira para o curso de Atirador, não escaparás.
Não podia ser, não é que não fui para Atirador? Já estavam a chamar para uma outra Especialidade qualquer.

Mas, oh cruel destino, a tal coisa em que acredito, começaram a chamar, desta feita, para a Especialidade de Atirador de Artilharia, EPA/Vendas Novas. Não tardou muito... Soldado Instruendo 19551569 – Carlos Esteves Vinhal...
Pensei - mais uma vez fui beneficiado, não fui para o Algarve, o Alentejo sempre é mais perto do Porto.

Se bem se lembram, no final da Especialidade davam uma espécie de inquérito onde cada um podia escolher (santa inocência) três quartéis. Sendo eu um militar da Arma de Artilharia, escolhi as três Unidades mais próximas do Porto, a saber: Espinho (GACA 3), Gaia (RAP 2) e Penafiel (RAL 4).

Em meados de Setembro, acabada a Especialidade, concederam-nos uns dias de licença. Tinham-nos dito que receberíamos em casa a indicação do local e dia para nos apresentarmos. Esperei que o correio trouxesse o meu destino e um dia chega o veredicto: Colocado no BAG 2, em diligência no GACA 2, onde se deve apresentar no dia 13 de Outubro.

Como naquele tempo não havia internete, fui ao local onde se aprendia tudo, o Café. Perguntei a este e àquele, mas ninguém sabia onde era o BAG 2. O GACA 2 era em Torres Novas, mas o BAG 2...?

Lembrei-me de um amigo que era Furriel Miliciano e que estava colocado no QG da RMP, sito ainda hoje na Praça da República da Cidade Invicta, pessoa à partida conhecedora destas coisas. Nem ele, mas de repente fez-se luz. Um seu amigo, também Furriel Miliciano, estava colocado no BAG 1 e isso era... nos Açores. Seria o BAG 2 na Madeira?

Optimista como sou, pensei - qual quê, estes gajos para me serem agradáveis colocaram-me em Torres Novas, bem “pertinho” de casa, afinal. Nunca irei parar a esse tal BAG 2.
No aprazado dia 13 de Outubro (Segunda-feira), apresentei-me em Torres Novas, disposto a montar o acampamento pelo maior espaço de tempo possível. Qual quê? No dia 20, passada apenas uma semana, estava já a caminho de Tancos para tirar aquela Especialidade que qualquer militar anseia, Minas e Armadilhas. São mais conhecimentos adquiridos e mais uma estadia em Quartel com tudo incluído.

Ainda em Tancos, certo dia, constou que havia saído as mobilizações. Juntámo-nos uns quantos e fomos à Formação ter com o Sargento para que nos dissesse de sua justiça. O sistema era... nome, procurar em Angola, se não estava, procurar na Guiné, se não estava, procurar em Moçambique, está aqui, felicidades, outro...
Chegada a minha vez, acho que fiquei para último, disse ao Sargento para não perder tempo e procurar na lista da Guiné. Tiro e melro abatido... O 1.º Cabo Miliciano 19551569 - Carlos Esteves Vinhal, constava daquela lista.

Como se depreende, fiquei na maior, Especialidade de Atirador, Curso de Minas e Armadilhas e mobilizado para a Guiné. Como se costuma dizer, ninguém morre de véspera, só o peru. Calma rapaz, nem tudo há-de ser mau.

Para compor o ramalhete, nos últimos dias de Curso de Minas, já tinha na mão a Guia de Marcha e o Bilhete de Embarque, para no dia 8 de Dezembro, no navio Funchal, rumar com destino ao... Funchal. Afinal sempre iria conhecer o BAG 2.

Com a anuência do Comandante do BAG 2, viemos, desenfiados, ao Continente passar o Natal de 1969 e a passagem de ano para 1970. De avião, às nossas custas, claro.
A expensas do erário público, viemos em Março ao Continente passar os 10 dias de mobilização, a viagem do Funchal para Lisboa foi feita a bordo do navio Angra do Heroísmo e regresso no Funchal, por avaria no primeiro.

O pior de tudo foi convencer a minha mãe destas viagens todas, sendo que a derradeira seria um dia para a... Guiné.
- Oh mãe, temos tantos vizinhos por aqui que foram para a Guiné e já estão cá, casados e tudo, limpe as lágrimas. Nem sei quando embarco. Mentira.

O meu pobre pai, já bastante debilitado pela doença que o vitimou anos mais tarde, aguentou estoicamente sem demonstrar o mais pequeno sinal de fraqueza. Homem não chora, nem pelo filho único que vai para a guerra, que eu visse, claro. A ele disse-lhe que não viria mais a casa uma vez que se embarcaria na Madeira para a Guiné.

Após cerca de quatro meses no Funchal, com tempo para dar uma Especialidade aos homens que haviam de integrar as CART 2731 (Angola) e CART 2732 (Guiné), formar Companhia, fazer IAO na Ilha, despejando carregadores de G3 para o mar, chegou o dia 13 de Abril, já no Ano da Graça de 1970, quando finalmente fomos do Funchal para o nosso derradeiro destino enquanto militares. A viagem desta vez foi no navio Ana Mafalda para variar.

Aquela coisa em que acredito, o destino, levou-me para a Guiné, trouxe-me para casa, deu mais uns anos de vida a meu pai e há-de ter-me por cá até a factura estar saldada.


Porto do Funchal, 13 de Abril de 1970. A CART 2732 desfila antes de embarcar no Ana Mafalda


Carlos Vinhal
Ex-Fur Mil Art MA
CART 2732
Mansabá, 1970/72
__________

Nota de CV

Vd. último poste da série de 24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4075: O trauma da notícia da mobilização (2): No dia da minha inspecção, ali estava eu, em pelota... (Joaquim Mexia Alves)

quarta-feira, 25 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4078: Blogpoesia (32): João, 20 anos, apto para todo o serviço... (José Brás)

1. Texto enviado por José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, autor do romance Vindimas no Capim, Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura.


Dedicatória: ao meu (nosso) amigo Mexia Alves (*) com um abraço


OUTRA FACE DO "DIA DAS INSPECÇÕES" (**)

Tinha no olhar
sinais seguros de esperança
quando
numa quente segunda-feira
de verão
em 64
eles vieram à vila
tomar-te o peso
o pulso
a medida do peito
o sonho
-o sonho não!
à tarde
quando partiram
a tua ficha dizia apenas
-João
20 anos
apto para todo o serviço



in Vindimas no Capim (1986)
José Brás


[Título do poste / fixação / revisão de texto / itálicos e bold: L.G.]

___________


Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4075: O trauma da notícia da mobilização (2): No dia da minha inspecção, ali estava eu, em pelota... (Joaquim Mexia Alves)

(**) Vd. último poste da série Blogpoesia > 15 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4037: Blogpoesia (31): Quando eu era menino e moço... (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P4077: FAP (19): Efeméride: há 36 anos sob os céus de Guileje 'Batata' procura e localiza 'Kurika' (António Martins de Matos)

Guiné > Região de Tombali > Corredor de Guileje > 25 de Março de 1973 > Faz hoje 36 anos que o Fiat G-91 pilotado pelo 'Kurika' (ex-Ten Pilav Pessoa) foi abatido por um Strela. O piloto foi localizado pelo 'Batata' (ex-Ten Pilav Matos), graças ao uso de um very light. Cada piloto tinha um conjunto de very lights e respectivo equipamento de disparo, semelhantes ao das fotos acima.

Fotos: © António Martins de Matos (2009). Direitos reservados
1. Mensagem do António Martins de Matos, membro nossa Tabanca Grande, ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74 (hoje Ten Gen Pilav Res)

Caro amigo

Faz hoje 36 anos que o meu amigo “Kurica” resolveu ir passar a noite no Corredor do Guileje, sem autorização, sem passaporte nem 'Guia de marcha'.

Tal ousadia fez-nos passar mal a noite.

Felizmente que amanhã o vamos recuperar e .... finalmente vamos beber o champanhe que nos está prometido há tanto tempo.

Um abraço

António Martins de Matos



2. FAP > Alertas (*)
por António Martins de Matos

[Fixação / revisão de texto / subtítulos / bold: LG]


(i) 'Quem não tem cão, caça com gato'

Já por diversas vezes tem vindo à baila a razão pela qual em 25 de Março de 1973 só um dos aviões de alerta foi socorrer o Guileje, o que terá contribuído para uma recuperação lenta do piloto, o meu amigo Miguel Pessoa.

A reunião de Comandos de 15 de Maio de 1973 também refere o tema e, na sua douta sapiência, afirma que os aviões têm de voar “no mínimo em parelha”.

E no entanto há um ditado popular que diz “Quem não tem cão ... caça com gato”.

Passo a explicar:

A guerra colonial arrastou-se por 13 anos. Inexplicavelmente o Estado Maior da Força Aérea em Lisboa nunca produziu uma doutrina de emprego dos meios que pudesse ser usada nas três frentes.

Na ausência desta uniformização, cada província limitava-se a adaptar os seus parâmetros de voo em função do saber e da experiência local.

O avião Fiat G-91 possuía quatro “extensões” debaixo das asas, para levar armamento e/ou depósitos de combustível.

Na chamada configuração de alerta, as 2 extensões interiores estavam ocupadas com depósitos de combustível, o que permitia uma autonomia de voo de cerca de hora e meia. As extensões exteriores estavam equipadas com 2 ninhos de foguetes, cada ninho transportava 4 foguetes de 2,75 polegadas.

A somar ao equipamento transportado nas asas, o Fiat G-91 possuía 4 metralhadoras no nariz, cada uma delas municiada com 200 balas de calibre 12,7 mm.

Era esta a configuração normalmente usada nos apoios de fogo.

Já em posts anteriores referi que o armamento que equipava os aviões de alerta era totalmente inadequado, pelas seguintes razões:

- Em relação às metralhadoras e dado que as munições não eram explosivas, bastava o inimigo abrigar-se junto de uma árvore de porte “normal” para ficar a salvo.

- Os foguetes podiam derrubar uma árvore, mas também eles não eram anti-pessoal, pelo que só um impacto directo poderia ter algum sucesso.

Eram estas missões inúteis? Penso que não.

Bastava o ruído da aeronave para se obter um efeito dissuasor no PAIGC e moralizador nas nossas tropas.

O ver surgir o Fiat G-91 fazia com que o pessoal saísse das valas e abrigos e viesse para o centro do quartel, para nos acenarem, esquecidos que ainda há pouco estavam sob fogo inimigo.

À despedida, o “tonneau” executado a baixa altitude sobre o quartel era a cereja no bolo.


(ii) As três configurações do Fiat G-91

Nas configurações usadas em missões pré-planeadas, os depósitos de combustível e foguetes eram retirados, dando origem a duas novas versões, a primeira com 6 bombas de 50 kilos, a segunda com 2 bombas de 200 kilos e 4 de 50 kilos.

A autonomia da aeronave ficava reduzida a 55 minutos.

A partir do verão de 1973, passou a haver uma terceira configuração, 2 bombas de 750 libras, versão que, dado o seu poder destrutivo, só podia ser empregue a mais de 1 quilómetro das nossas forças.

Foi esta a versão mais utilizada quando se tratou de repelir os ataques a Gadamael.


(iii) Uma simples substituição do armamento: era a reivindicação maior dos pilotos

Todos os pilotos de Fiat G-91 tinham consciência das limitações do armamento e, através dos canais competentes já tinham pedido a sua melhoria.

O pedido apresentado na Reunião de Comandos do QG Bissau de 15 de Maio de 1973, onde se preconizava a substituição dos Fiat G-91 por aviões Mirage, felizmente que não foi do conhecimento dos pilotos da Esquadra.

No meu entender tal pedido só revelava a falta de sensibilidade de quem geria os destinos da FAP, pois o que os pilotos na altura necessitavam não era a substituição da aeronave, algo que levaria anos a ser efectuada, mas sim a substituição imediata do armamento, foguetes anti-pessoal e 2 canhões 20 mmm semelhantes ao usado no Heli-canhão, alterações que poderiam ser concretizadas em curto espaço de tempo.

Tais pedidos devem ter caído em saco roto pois nada foi melhorado. (1)


(iv) Dois pilotos de alerta e quatro aviões preparados para sair em 10 minutos

Com o não melhoramento do armamento e o aumento de actividade do PAIGC houve necessidade de procurar um novo modo de apoiar os quartéis.

A solução encontrada foi a dos dois pilotos de alerta passarem a dispor de quatro aviões preparados para saírem em 10 minutos, dois na versão original, foguetes e depósitos de combustível, e dois com bombas.

Desta maneira e em função da ameaça esperada e partindo do pressuposto de que o pedido era claro e preciso, os pilotos escolhiam quais os aviões a voar, com a configuração mais adequada.

Em casos omissos ou pouco claros, um dos pilotos seguia no avião com depósitos de combustível, avaliava a situação e, via rádio, dizia qual o tipo de aeronave que o segundo piloto deveria operar.

O segundo avião chegava à área cerca de 10 minutos depois e podia largar de imediato o seu armamento.

Esta “técnica” revelou-se extremamente eficaz contra as equipas que operavam os Strelas.

(v) Três voos para localizar o 'Kurika' no corredor de Guileje em 25 de Março de 1973

Não foi isso o que se passou no dia 25 de Março 1973.

O pedido não era claro, descolou um avião (o “Kurica”), o outro piloto (o “Batata”) aguardou junto das aeronaves.

O piloto contactou o quartel mas não chegou a transmitir para Bissalanca o resultado da sua avaliação, tendo sido abatido.

Face a não obter qualquer feedback o segundo piloto descolou no avião de maior autonomia em direcção ao Guileje.

Na tentativa de encontrar algo (o avião, o pára-quedas, o piloto, ...) sobrevoou toda a zona do corredor do Guileje, o Mejo, de Gandembel, à fronteira, sem nada encontrar.

O facto de não ter sentido qualquer reacção hostil vinda da mata, fez-lhe pensar que o Pessoa teria tido uma falha mecânica.

Um segundo voo revelou-se igualmente infrutífero.

O terceiro voo revelou-se mais gratificante quando um dos pilotos (Ten Cor Brito) localizou um very-light a sair da mata. (2)

Enquanto ele subiu a fim de referenciar a localização exacta na carta, eu desci e voei em círculos junto do local de onde tinha partido o very light a fim de alertar o Pessoa que tinha sido localizado.

Na manhã seguinte procedeu-se à operação de resgate.

O resto está descrito no poste do Kurica da Mata (*).
_____________

Notas de AMM

(1) A partir de 1975 a FAP acabou por receber aviões FIAT G-91 R3, equipados com 2 canhões de 30mmm, bom jeito teriam feito, mas a guerra já tinha terminado.

(2) Cada piloto tinha um conjunto de very-lights e respectivo equipamento de disparo, semelhante ao da foto.

3. Comentário de L.G.:

O champagne é uma bebida para as grandes ocasiões. Para os dias de festa. Para celebrar a festa da vida e da amizade e da camaradagem. Esta efeméride deve ser comemorada. Antes de mais, pelos amigos, o 'Kurica' e o 'Batata'. Não sei se o conteúdo da garrafa está ainda em boas condições. É de todo improvável, admitindo-se que o dito champagne não passasse de um sofrível espumante... português. Mas era o que havia lá no cú do mundo e foi oferecido com muita gratidão ao Miguel Pessoa pelos Piratas de Guileje. E isso merece ser sublinhado.

Haveremos de nos encontrar, Miguel, António e o resto da nossa Tabanca Grande, e beber uma taça de um bom espumante português, à vossa saúde, à malta da FAP que fez a Guiné 1965/74, à malta de Guileje, a todos os camaradas da Guiné, ao nosso blogue, à nossa vontade de estarmos aqui e agora, a contar as nossas histórias e a partilhar os nossos afectos. Um Alfa Bravo, 'Kurika'. Um Oscar Bravo, 'Batata'.

____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série FAP > 19 de Março de 2009 Guiné 63/74 - P4051: FAP (18): Kurika da Mata (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

Guiné 63/74 - P4076: Os nossos camaradas guineenses (4): Amadu Djaló, com marcas no corpo e na alma (Virgínio Briote)


Guiné > Brá > 29 de Junho de 1973, o Dia do Comando > Cerimónia de imposição de crachás aos novos comandos do Batalhão de Comandos  da Guiné (mais conhecido como Batalhão de Coamndos Africanos=, na presença do General Spínola. 

Foto de Voz da Guiné, nº 203, Separata, 30 de Junho de 1973, dedicada ao Dia do Comando > Legenda: "O Major Almeida Bruno, manifestamente satisfeito, ao impor novas divisas um dos seus 'comandos' Nesse dia, o Batalhão de Comandos da Guiné passou a ter mais 2 Tenentes, 1 Alferes, 12 Primeiro-Sargentos, 3 Segundo-Sargentos e 24 Furriéis. Foto da autoria do fotógrafo Álvaro Geraldo.

 Imagem gentilmente cedida por Magalhães Ribeiro (2006), nosso camarada e amigo da Tabanca de Matosinhos. 

 Guiné > Bissau > Voz da Guiné > Separata do nº 203, de 30 de Junho de 1973, dedicada ao Dia dos Comandos (1). 

  1. Comentário, com data de ontem, de Virgínio Briote, nosso co-editor, ao poste P4607 (*) 

 Caros Carlos Marques dos Santos, Torcato, Artur Conceição, Jorge Picado e mais Camaradas: 

 Obrigado pelo vosso incentivo. Hoje passei a tarde com o Amadu. Soube mais dele, vou-o sabendo aos poucos.É uma alma muito grande. Nasceu oficialmente em 1940. Mas, na verdade, veio ao mundo de Bafatá, em 1938, filho de pai de Fulamori e de mãe de Boké, ambos da Guiné-Conacri. 

 Tem duas mulheres a viver em Bafatá e dez filhos ao todo. Como foi preso e sujeito a sevícias três vezes, tem receio de regressar à cidade natal. Aqui, não lhe reconhecem o posto de Alferes que usou, vezes e vezes, durante a guerra, como soldado ou comandando grupos nas matas de Madina, do Oio, da Coboiana, até na cidade de Conacri e nas matas de Kumbamory. 

 Três marcas no corpo e muitas feridas na alma. Nada de reconhecimentos, nem um pão para a boca, vive do trabalho das duas filhas, aqui, em Odivelas, onde vivem quase todos os nossos Camaradas africanos. É um homem desiludido e amargurado. Não pode deixar de o ser. Portugal recusa-o a aceitar. Nem o considera militar português, e temente da instabilidade na terra dele, Amadu receia regressar. Os comandos africanos ainda não são bem vistos, ao contrário de nós, europeus, que nos recebem [,os guineenses], pelos vistos, de braços abertos. 

Vou levar o trabalho até ao fim (**). Depois, reformo-me também da guerra. Um muito obrigado a todos. vb 

  2. Comentário de L.G.: 

 Há tempos (**), o vb mandou-nos, a título informativo, uma amostra (ou um excerto) do índice (provisório) do livro que tomamos a liberdade de reproduzir, para informação do dos leitores... Os amigos e camaradas da Guiné serão seguramente dos primeiros a comparecer ao lançamento do livro do nosso camarada guineense Amadu Djaló, um homem abandonado e amargurado que precisa da nossa solidariedade (que já lhe está ser dada, na pessoa do vb, o nosso querido co-editor que está praticamente a 100% a trabalhar na  revisão e ficação do texto manuscrito do Amadu e que já nos prometeu, para tristeza nossa, que depois disso se vai "reformar também da guerra"... Tristeza por que aquela expressão pode ter também um outro significado, o da despedida do nosso blogue... Ou pode pura e simplesmente querer dizer: estou em paz com a Guiné, saldei as minhas contas, exorcizei os meus fantasmas, fiz o luto... Um dia vai acontecer-nos isso a todos nós: afinal, já andamos a fazer 'blogoterapia' há quatro anos, desde Abril de 2005... 

  LIVRO 1 Libertação Grupo  | Fantasmas 

  Índice ou Temas Traços Gerais  ! Carta de condução  | Reunião de ajudantes condutores  | Contacto com o Governador-Geral da Guiné  ! Audiência com Sua Excelência  | Concentração na Administração do Conselho  | 

1ª Incorporação no Exército Português - Ano de 1959 | Viagens ao Senegal |NTerminadas as viagens ao Senegal | Circuncisão " 

Incorporação no Exército Português - Ano 1960/61 |   Meu tio-avô | Tratamento medicamentoso | O Mercado Municipal |  Ida à Administração Civil | Regresso da Administração Civil ! Dia seguinte e intervenção do Tenente Carrasquinha 

 A minha incorporação no Exército Português – Ano de 1962 | O 9 de Janeiro de 1962 | O tocar da corneta | 1º Contacto com o quartel | Escola de condução em Bissau | O 1º contacto com o capitão Simões | O 2º contacto com o capitão Simões | Correria do QG para o refeitório da B.A.C. ! Concentração de todos os adidos | Passagem por porto de Inchudé | Porto de …  | Bedanda  ! A 1ª saída em Bedanda | Uma granada espanhola | A ida para Cacine | Bedanda, nosso poiso | O meu destacamento para Cacine | A minha actividade em Cacine | A morte prematura de …  | As minhas férias  | Terminadas as férias em Bafatá e embarque para Bissau | Bolama à vista | Regresso de férias, partida de Catió para o porto de … | Novamente em Bedanda | Adeus Bedanda | Finalmente em Bissau | Farim, o meu destino |   Regresso inesperado | A minha 1ª saída em Farim | A minha ocupação | A recolha de pelotões | A tabanca de Bricama | Atitude sensata do Comandante | Nova ida à tabanca de Bricama | O 1º ataque do PAIGC (...) 

 ______ 

 Nota de L.G.: 


Em 13 de Fevereiro último, o vb explicou-nos como lhe chegou às mãos este manuscrito: 

  "Fui contactado há tempos pelo Lobo do Amaral, Presidente da Associação de Comandos, para colaborar na revisão das memórias de um comando, natural de Bafatá. Na altura, embora no íntimo muito interessado, respondi que não me sentia em condições para tal projecto.

"Ontem, voltou à carga. Que a Associação de Comandos quer publicar em livro as memórias de um guineense que viveu os anos todos da guerra e que na Guiné conheceu os governos de Silva Tavares até Spínola. 

"Eu quero fechar a minha vida na Guiné e não posso. Estive hoje na Associação de Comandos com o Presidente. Passou-me para as mãos as memórias do Amadú Djaló. Desde 1958 até 1974. Desde soldado até alferes. Toda uma vida de um guineense qque se afirma tão português como muitos de nós. Que escreve em crioulo, ou melhor num misto que ainda não consegui perceber bem. E de que vos mando uma amostra, uma primeira abordagem que comecei esta tarde a fazer. 

"Os olhos doem-me de perceber a escrita manual do Amadú e de escrever para um português perceptível, respeitando o estilo da escrita do autor. Foi meu camarada nos comandos [,em Brá, 1965/67,], embora nunca no grupo a que pertenci. Pertenceu ao grupo do Saraiva, depois ao do Luís Rainha. Mais tarde esteve em Fá Mandinga, na formação dos comandos africanos. 

"Cumbamori e Conacri fizeram parte do itinerário de vida do Amadú. Penso que vamos ter aqui uma obra que vai abrir o blogue aos combatentes africanos que estiveram do nosso lado. 

"Um abraço do vb".

terça-feira, 24 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4075: O trauma da notícia da mobilização (2): No dia da minha inspecção, ali estava eu, em pelota... (Joaquim Mexia Alves)

Leiria > Monte Real >Termas de Monte Real > O Joaquim Mexia Alves junto ao busto do fundador das termas, Olímpio Duarte Alves, que foi também governador civil de Leiria (1959-68). Na base do monumento lê-se: "A Olympio Duarte Alves, uma vida ao serviço destas termas que fundou e do termalismo nacional".

Foto: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados

1. Mensagem do camarigo Joaquim Mexia Alves:

Assunto - O dia da minha inspecção

Meus caros camarigos Luis, Virgínio, Carlos e restantes Atabancados

Nem só de guerra e de tristezas vivem os antigos combatentes, por isso aqui vai uma história para rir, que se passou comigo no dia da minha inspecção.

Alguém se lembra da inspecção e de alguma coisa especial que tenha acontecido durante a dita cuja, para além de ser dia obrigatório de copos?

Pois no dia aprazado, lá compareci no DRM [- Distrito de Recrutamento e Mobilização Militar],em Leiria, que ficava naquela altura junto ao Convento de Santo Agostinho, em frente do antigo Liceu Rodrigues Lobo, (o tal das Éclogas), o que para o caso não interessa nada, mas sempre ficam a conhecer um pouco mais de Leiria.

À data o meu pai era o Governador Civil de Leiria, e como tal, figura bastante conhecida na cidade e no Distrito, obviamente. Isso não impediu, (nem o meu pai era pessoa de permitir excepções), que esta praça lá tivesse de se despir e permanecer em fila para as medições, pesagem e demais exigências de que agora não me lembro.

Passei então à fase de me encontrar todo nu, frente a uma mesa com três ou quatro indivíduos, à qual que presidia um Coronel que me lembrava de já ter visto na casa dos meus pais em Monte Real.

Então não é que o senhor decidiu fazer conversa de circunstância, perguntando pelo paizinho e pela mãezinha, como estavam todos, etc., etc., e eu ia tapando as partes conforme podia, sem saber muito bem o que fazer da minha vida.

Quando começava a entrar em desespero perante a situação, o senhor perguntou-me se eu me queixava de alguma coisa, ao que respondi a correr que não senhor, que era são como um “pero”, e que se não se importasse muito gostaria de me ir vestir e “pôr-me na alheta”.

Ainda esboçou um qualquer gesto de despedida, mas não teve tempo, porque eu apressadamente me baldei para fora da sala, sob os olhares trocistas do resto do pessoal que estava na mesa, e dos outros “mancebos” que assistiam ao acontecido.

Apenas valeu, porque foi motivo para beber mais umas “cervejolas” do que o habitual.

Aqui fica para a posteridade, um relato da minha inspecção, que se calhar os psiquiatras de hoje em dia, (não tenho nada contra os psiquiatras), diriam que me poderia ter traumatizado para a vida inteira....

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. primeiro poste desta série > 24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4072: O trauma da notícia da mobilização (1): A minha mobilização para a Guiné acagaçou-me (Magalhães Ribeiro)

Guiné 63/74 - P4074: O Nosso Livro de Visitas (58): Carlos Ventura, ex-combatente da Guiné da CCAV 3406/BCAV 3854 (Nova Lamego, 1972/74)

1. Mensagem de Carlos Ventura com data de 23 de Março de 2009:

Prezado Luis Graça,

Despertado por um amigo ex-combatente em Angola, acedi ao teu blogue, que me surpreendeu pela positiva.

Lamento só hoje a ele ter acedido! Todavia, na vida "é sempre tempo"!

Fui militar miliciano na zona de Nova Lamego (Gabu Sara) entre 1972/74, na CCAV 3406/BCAV 3854. Com pena minha, apenas vi no blogue uma referência ao meu batalhão, referente a um convívio da CCS.

Facto é que, os ex-militares da CCAV 3406 (Cavleiros de Madina) se reúnem anualmente em convívio ininterrupto desde 1980.

Seria para mim um previlégio poder colaborar no teu blogue, através de textos e fotos que fizessem eco da minha unidade.

Todavia não sei como aceder, pelo que agradeço informação nesse.

Parabéns pela iniciativa

Um grande e caloroso Abraço
Carlos Ventura
Coimbra


2. Mensagem de CV com data de 23 de Março, com resposta a Carlos Ventura

Caro Carlos Ventura
Obrigado por teres contactado connosco.
Lamentas que não haja no nosso Blogue nada sobre a história da tua Unidade. A partir de hoje está nas tuas mãos dá-la a conhecer aos tertulianos e leitores do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Para começar, deves enviar uma foto do teu tempo de militar e outra actual, tipo passe de preferência e em JPEG, que irão encimar os teus futuros trabalhos publicados.

Diz-nos qual foi o teu posto militar, tempo de comissão e tudo o que julgues útil para te conhecermos e à tua Unidade.

Podes mandar já uma história e fazê-la acompanhar de fotos devidamente legendadas.

Quando mandares fotos sem texto, fá-las acompanhar sempre de legendas, já que fotos mudas nem sempre dizem alguma coisa. Locais e datas dos acontecimentos são muito importantes.

Pode e deves ler o lado esquerdo da nossa página onde te podes informar dos objectivos do nosso trabalho e das regras elementares de convivência entre os tertulianos.

Toda a correspondência com trabalhos e fotos deve ser enviada para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com.

Por favor não utilizes este endereço para outro fim que não sejam assuntos relacionados com o Blogue.

Este meu endereço (carlos.vinhal@gmail.com) fica também ao teu dispor para assuntos relacionados com o Blogue.

Aguardando notícias tuas, deixo-te um abraço

Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
__________

Nota de CV

Vd. último poste da série de 5 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3986: O Nosso Livro de Visitas (57): Tony Grilo, Canadá: Artilheiro, apontador de obus 8,8 (Bissau, Cabedu, Cacine, Cameconde,1966/68)

Guiné 63/74 - P4073: Tabanca Grande (126): Tony Grilo, Artilheiro, Apontador de obús 8,8 (Guiné, 1966/68)

1. Mensagem de Tony Grilo(*), Apontador de obús 8,8, Cabedu, Cacine e Cameconde, 1966/68, com data de 23 de Março de 2009:

Amigo Graça e todos os camaradas da tabanca grande:
Cá estou a dar resposta ao teu e-mail, embora um pouco atrasado, mas não esquecido dos camaradas.

Agora vou dar resposta às tuas perguntas.

Sou natural do Alto Alentejo, duma terra chamada Barbacena a 15km de Elvas.
Vivi e cresci em Belém, Cascais, Cabo Espichel e por último na Rua Lopes Alto S. João - Lisboa.

Emigrei para o Canadá em 1972, onde tenho residido atá hoje.

A pouco e pouco tenho já contacto com alguns camaradas da 1427 e 1614.
Obrigado à TABANCA GRANDE.

Por hoje é tudo. Aí vão umas fotos, depois mando a história, pois estou indo através do meu diário, pois já são muitos anos, quero e tenho que ler. Tudo o que tenho escrito, dava para fazer um livro.

Um forte abraço para todos os camaradas.
Para ti um forte abraço.
Tony Grilo










2. Comentário de CV

Caro Tony Grilo
Muito obrigado pelo teu contacto.

Estás oficialmente apresentado à tertúlia, faltando apenas uma foto tua antiga.
Vê se nos arranjas uma foto das antigas onde estejas em grande plano para que possamos fazer uma foto tipo passe, como a que editei para a tua actual.

Quando nos enviares fotos, por favor manda sempre as respectivas legendas com a data, local e acontecimento para as podermos enquadrar nas histórias enviadas.

As que foram hoje publicadas vinham com pouca qualidade e sem acompanhamento das respectivas legendas.

Aguardamos próximas notícias tuas. Até lá recebe um abraço de boas-vindas da tertúlia.

Votos de boa saúde por essas lindas terras do Canadá.

Carlos Vinhal
__________

Nota de CV

(*) Vd. poste de 5 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3986: O Nosso Livro de Visitas (57): Tony Grilo, Canadá: Artilheiro, apontador de obus 8,8 (Bissau, Cabedu, Cacine, Cameconde,1966/68)

Vd. último poste da série de 9 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4003: Tabanca Grande (125): Júlio Pinto, ex-2.º Srgt Mil da CART 1769/BART 1926 (Angola, 1967/69)

Guiné 63/74 - P4072: O trauma da notícia da mobilização (1): A minha mobilização para a Guiné acagaçou-me (Magalhães Ribeiro)

1. Mensagem de Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil de Operações Especiais, CCS do BCAÇ 4612/74, 1974, com data de 19 de Março de 2009:

Boa noite amigos tertulianos,

Acabo de inserir o seguinte comentário, que abaixo anexo, no post P4053(*) do José Silva, e gostava que quem quisesse comentar o fizesse à vontade para este meu mail, nomeadamente se se lembrarem do trauma do dia da mobilização, obrigados!

Já sei que alguns se embriagaram.
Um abraço amigo do MR

"Não sei o José Silva é associado da Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra, cuja Delegação do Porto tem morada em Miragaia.

Em caso afirmativo aconselho-o a deslocar-se lá, e marcar consulta com o psicólogo que ali atende semanalmente ex-Combatentes com stress pós-traumático de guerra, a fim de entregar cópia do seu processo clínico, para que o seu problema seja levado a outras instâncias.

Também me parece que existe no Hospital Militar do Porto, possibilidade de marcação de consulta para ex-Combatentes com stress pós-traumático de guerra, onde o José deve apresentar o historial das suas doenças e perguntar o que deve fazer para o tratarem como deve ser.

Tem sido fácil desmascarar alguns oportunistas dos tais a que o J.S. se refere, desde logo por não possuírem passado clínico devidamente comprovado nos últimos 30/40 anos, pois quem sofre desta doença não pode ser desde ontem apenas.

Ao falar-se de doentes com stress, eu tenho a minha opinião pessoal perfeitamente formada e passo a contar-vos.

Eduardo Magalhães Ribeiro, Pira de Mansoa, arreando pela última vez a Bandeira de Portugal em Mansoa

2. Afinal onde se iniciava o tão doentio stress pós-traumático?

Era só quando o pessoal caía debaixo de fogo?

Tinha 21 anos (penso que hoje a maioria dos putos com 21 anos tem a mentalidade que nós tínhamos com 12/13 no nosso tempo), quando acabei a Especialidade em fins de 1973 segui para o RI16 em Évora.

Ali se foram juntando centenas de outros camaradas oriundos das mais diversas Unidades, com as mais diversas Especialidades.

Para quê todos nós sabemos. Serem mobilizados (carne para canhão como se dizia à boca cheia). Alguns para dar/receber mais alguma instrução.
Formar Batalhões. Guia de marcha: Ultramar (sendo os mais temidas mobilizações para Angola, Moçambique e Guiné).

E se uns eram mais fortes que outros e aparentavam serenidade nestes períodos, outros haviam que nem queriam ouvir nada, para não se sentirem mal. Quando saiu a mobilização do meu Batalhão houveram alguns que me pediram para eu ir ver se o nome deles constava da lista. Por medo ou superstição? Não lhes perguntei!

Mas a grande maioria consciente dos riscos que envolvia a guerra, entre eles malta já casada e com filhos como eu, devorava e espalhava as notícias que chegavam ao quartel, por cartas ou por telefonemas.

As notícias ÚNICAS que nos interessavam e OBCECAVAM, todos os dias, horas e momentos, eram as que nos chegavam das diversas frentes de guerra: - Anteontem morreram mais 2 em Moçambique, ontem morreram mais 3 em combate na Guiné e hoje morreu mais um na Angola. Este mês já morreram 60.

Doentio não é!

Então meus amigos permitam-me concluir, porque disso sou testemunha viva, que, desde logo, para muitos dos mobilizados, foi aí que se iniciou o stress-traumático, como é lógico, de intensidade pessoal variável. Era bem patente em alguns que algo não estava bem, quer através das conversas, quer através da mudança de atitudes e hábitos como a súbita procura de isolamento, a perda de comunicação e a busca de silêncio.

Outros exteriorizavam terríveis crises de ansiedade, por vezes denunciadas pelo choro e, ou, por lancinantes e dolorosas lamentações.

Outros ainda confessavam tímida e envergonhadamente que durante as tentativas para dormir, eram assolados por terríveis pesadelos.

Enfim, talvez por ser filho de tropa e ter visto o meu falecido pai ser mobilizado e preparar os tarecos umas 5 vezes (3 em Angola e 2 em Moçambique), não me custou por aí além.

Mas como não sou de ferro, é claro que a mobilização para a Guiné acagaçou-me, até que aconteceu o 25 de Abril. Mas não fugi e fui para Cumeré, Mansoa e Brá.
Tive sorte, mas cumpri a minha parte!

Para dizer a verdade, não há dia que não fale na Guiné e na guerra.

Se isto não é stress pós-traumático, é pelo menos um sintoma que me incomoda e incomoda os que me rodeiam, fartos de ouvirem falar desta tara!

Magalhães Ribeiro"


3. Comentário de CV

Por sugestão do nosso camarada Magalhães Ribeiro e até por sua iniciativa, porque nos mandou um artigo com as suas próprias impressões, inauguramos uma série destinada a um momento muito importante das nossas vidas de militares, aquele em que ficámos a conhecer o TO que nos estava destinado.

Quem quiser, pode desde já enviar trabalhos traduzindo aquilo que foi para si o momento em que soube que ia para a Guiné. Como encarou a situação, como deu conhecimento à família, como viveu esses tempos até ao embarque, etc.

Muito importante era a Especialidade e o Posto de cada um, situações estas que determinavam, e de que maneira, o modo como se via a situação.

Os nossos Cap Mil têm mais uma vez a hipótese de se fazerem ouvir, uma vez que foram dos homens mais sacrificados entre os milicianos, tendo sido literalmente arrebatados à família, já constituída, para irem, com um mínimo de preparação, assumirem a responsabilidade de conduzirem a vida de mais de centena e meia de vidas, durante bastante tempo, numa guerra que desconheciam, debaixo das mais adversas condições de terreno, clima, carência e muito mais.

Esperamos a colaboração de todos para que nos possamos ficar a conhecer um pouco melhor.
__________

Nota de CV

(*) Vd. poste de 19 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4053: Blogoterapia (98): José Silva, um camarada com muita falta de sorte

segunda-feira, 23 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4071: Historiografia da presença portuguesa em África (18): Lembram-se deste(s) mapa(s) escolar(es) ? (Magalhães Ribeiro)





Mapa de Portugal Insular e Ultramarino, edição de 1939. (Em cim, três pormenores: os mapas de Moçambique, Angola e Guiné). Este material cartográfico equipava as salas de aula das nossas escolas primárias. Lembro-me que havia um destes, na Escola Conde de Ferreira, na minha terra, Lourinhã, onde recebi a instrução primária (1954/58). Como eu fazia anos em Janeiro, só pude matricular-me no ano lectivo de 1954/55...

Mas lembro-me do mapa e da lição do Livro de Leitura da 3ª Classe... E lembro-me do crucifixo, por detrás e por cima da cadeira da Profª Dona Helena, tendo do lado direito um enorme quadro preto e um não menos enorme estrado de madeira... Vigilantes e severos, entre o crucifixo, os retratos, a preto e branco, dos mais altos magistrados da Nação: Salazar e Carmona... E lembro-me ainda da menina dos cinco olhinhos e do temível ponteiro que caía, implacavel sobre a cabeça do pobre ignorante, que não sabia qual das cidades era a capital da Guiné: Bolama ? Bissau ?


Livro de Leitura da 3ª Classe > Portugal é grande (pp. 17-18)

(...) Se observarmos num mapa a situação de tudo o que é nosso, reconheceremos logo que Portugal tem possessões em quase todas as partes di mundo.

A língua portuguesa é falada em todas esses vastos territórios e também no Brasil, que, descoberto e colonizado por nós, se tornou nação independente no século XIX.

Ao vermos a enorme extensão do Império Português, admiramos o heroísmo com que os nossos antepassados, - sábios, marinheiros, soldados e missionários -, engrandeceram a Pátria. Por ela atrvessaram mares desconhecidos, sofreram as inclemências de climas insalubres e travaram lutas cruéis em paragens longínquas.

Aprendamos a lição do seu esforço para amar e servir, como eles, a nossa querida Pátria.

Lá aprendi , pelo menos, a localizar, no mapa da África negra, misteriosa e imensa, terra de leoões, de canibais e do Tarzan, o minúsculo território da Guiné (a par de outras "possessões ultramarinas", mais suculentas, como a Angola, em que as pedras se chamavam diamantes)...

Mas estava longe de imaginar, no ano lectivo de 1956/57, que doze anos depois, em meados de 1969, eu iria também seguir as peugadas dos meus ilustres antepassados, "atravessar mares desconhecidos, sofrer as inclemências de um clima insalubre e travar lutas cruéis em paragens longínquas" - a 5 mil quilómetros de casa...

Mais cruel, para mim, foi chegar a Contuboel, e porem-me a dar instrução militar a uns pobres fulas que não falavam a minha língua materna e que, por sua vez, nos chamavam tugas, quando se zangavam a sério connosco. Também não foi lá muito divertido mandarem-me, a seguir, para Bambadinca para fazer a guerra com estes tipos (nharros, rosnavam alguns de nós por entre dentes) que nem sequer sabiam onde ficava Lisboa, Coimbra ou Porto... No final, fiquei amigo deles e a temer pelo seu futuro... LG

Imagem: Cortesia do nosso camarada Magalhães Ribeiro (2009). Copyleft

Ficha Bibliográfica (visualização ISBD)

[533284] PORTUGAL INSULAR E ULTRAMARINO
Portugal insular e ultramarino [Material cartográfico]. - Escalas 1:165000 - 1:20000000. - Gaia : Lito. Lusitana, [1939]. - 1 mapa : color. ; 99,00x72,50 cm, em folha de 104,00x77,00 cm http://purl.pt/11441.

- O documento contém os seguintes mapas: Mapa 1: "Açores" - Escala 1:2500000. - Mapa 2: "Possessões da Índia" - Escala 1:20000000. - Mapa 3: "Damão" - Escala 1:600000 . - Mapa 4: "Goa" - Escala 1:400000. - Mapa 5: "Madeira" - Escala 1:650000 . - Mapa 6: "Cabo Verde" - Escala 1:2400000 . - Mapa 7: "Diu" - Escala 1:185000. - Mapa 8: "Guiné" - Escala 1:340000. - Mapa 9: "S. Tomé e Priíncipe" - Escala 1:800000. - Mapa 10: "Macau" - Escala 1:165000. - Mapa 11: "Timor" - Escala 1:5000000. - Mapa 12: "Angola" - Escala 1:6000000. - Mapa 13: "Moçambique" - Escala 1:6000000

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior desta série > 12 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3878: Historiografia da presença portuguesa (18): O sítio Memória de África ® (Afonso Sousa)