terça-feira, 9 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4487: Agenda Cultural (16): Do Rui Gonçalves (Gravura, Lisboa, hoje ) aos Melech Mechaya (Música klezmer, Porto, 11 e 12, e Lisboa, 13)

Crónica´, de Salomé Paiva e Rui Gonçalves > Exposição de gravura > Inauguração hoje, 9 de Junho, às 1hh30, na Biblioteca Municipal Camões, Largo do Calhariz,. 17, 2º Esq. De 12 a 30 de Junho, sábado 27. Das 10h30 às 18h.


1. Amigos e camaradas:

Apontem na vossa Agenda (Cultural)... É inaugurada hoje, às 16h30, uma exposição de gravura em madeira, na Biblioteca Municipal Camões, em Lisboa, ao Chiado, que integra trabalhos do nosso Rui Gonçalves, estudante de Belas Artes, filho do nosso camarada GG, Gabriel Gonçalves, o Arcanjo, o tocador de viola, o cripto da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)...

E digo nosso, por que os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são... Além disso, o Rui é também, de longa data, um colaborador do nosso blogue, a quem recorro, através do pai, quando preciso de alguns truques (por ex., transformar ficheiros áudio em vídeo)...

Vamos desejar-lhe bom sucesso para a exposição e passar por lá, quem puder...(malta de Lisboa, espero uma foto e uma legenda, no mínimo). Luís Graça

PS - GG, dá um Alfa Bravo especial, bem atabancado, ao teu rapaz... Espero poder passar por lá... e conhecê-lo pessoalmente (*).


2. Melech Mechaya, no Porto (11 e 12 de Junho) e em Lisboa (13)






Depois de 60 concertos em 2 anos, e após uma paragem de 5 meses para preparar o seu primeiro registo de longa duração, os Melech Mechaya são anfitriões de uma enorme festa mechaya, dia 13 de Junho, no carismático teatro A Comuna, em Lisboa , à Praça de Espanha,], que se prolongará com o dj set da DJ Raquel Bulha. Este regresso aos palcos celebra o lançamento de Budja Ba e assinala o arranque da digressão de apresentação do disco, que inclui palcos como o emblemático Festival de Músicas do Mundo de Sines e o Festival Spancirfest na Croácia. Dias 11 e 12 estarão no Porto (às 21h30, no Coliseu).

O disco tem o selo da Ovação e contém, entre várias novidades, alguns dos momentos fortes do espectáculo ao vivo, como a "Dança do Desprazer" (o primeiro single extraído do disco), o tema-título "Budja Ba", e o "Bulgar de Almada", tema que conta com a participação das Tucanas.

Depois de quase meio-ano em retiro criativo, os Melech Mechaya regressam com fome de palco e prometem muita festa, num novo espectáculo mais divertido e interactivo que nunca!


3. Em especial, para os amigos e camaradas do Grande Porto e da Grande Lisboa:

Os Melech Mechaya (grupo de música klezmer de que faz parte o João Graça, violino) estão a lançar o seu novo CD (Budja Ba - Deusa da festa, em hebreu)... Eles já têm, na nossa Tabanca Grande, alguns fãs e ao vivo ainda são muito mais divertidos (**)...

Na sua página na Net poderão ver a sua já sobrecarregada agenda, e em especial os próximos concertos em Junho e Julho, nomeadamente em Lisboa e no Porto... Apareçam, se estiverem por perto! No de Lisboa (13), pelo menos estarei... Nos do Porto, em especial no Coliseu (12), ainda não sei se posso... (11 e 12, nas FNAC; 12, às 21h30, no Palácio de Cristal).

Atenção, a hora de abertura de portas no concerto do teatro da Comuna, em Lisboa, dia 13, é às 23h30...

O vídeo do concerto de lançamento está diponível em http://www.youtube.com/watch?v=SKK6B_gelA4

Para mais detalhes, vd. a página do grupo em http://www.myspace.com/melechmechaya

... Isto também faz parte dos nossos Seres, Saberes e Lazeres!

Felizmente que os nossos filhos têm tido, pelo menos até agora, a sorte de terem o tempo certo para fazerem o que devem fazer, nnos seus verdes anos (estudar, viajar, viver, aprender música, fazer arte,divertir-se... ). Tudo, menos a guerra que nos calhou na rifa, a todos nós!

Um Alfa Bravo. Bons feriados, bons santos, viva a preguiça (ds outros).

Luís Graça
__________

Notas de L.G.

(*) Há um ano e tal atrás (16/3/2008), recebemos a seguinte:

Caro Luís Graça: sou Rui Gonçalves, filho de Gabriel Gonçalves, seu camarada da Guiné. Estou a realizar um trabalho académico com um grupo de colegas para a disciplina de sociologia artística na Faculdade de Belas artes da Universidade de Lisboa, subordinado ao tema do monumento e a questão pós-colonial Portuguesa.

Pensamos em realizar um estudo sobre os memoriais feitos por soldados durante a guerra colonial (neste caso específico na Guiné-Bissau). Para isso precisamos da colaboração dos intervenientes, informações sobre a natureza dos memoriais, a história (como se criou essa tradição), os materiais, a função de memória/homenagem, quem os construía e questões estéticas.

Gostariamos de poder contar com a sua ajuda, assim como de todos os participantes do blog que nos possam fornecer informações relevantes, relatos e fotografias dos memoriais, assim como a possibilidade de contactar alguém que tenha feito parte da criação dos mesmos.

Muito obrigado, com os melhores cumprimentos

Rui Gonçalves

Um dia depois, eis a minha resposta:


Rui: Vamos ajudar-te... Essa questão também interessa-nos, a todos, mas também aos nossos amigos guineenses, e em especial à ONG AD, que está interessada em identificar, restaurar, preservar, conservar, estudar e divulgar esses memoriais, sobretudo no sul do país (Região de Tombali, sectores de Bedanda e Cacine).

Vou pôr o teu apelo no nosso blogue e pedir toda a colaboração possível... No nosso blogue (1ª e 2ª série) há já várias fotos de memoriais: pesquisa também em brazões... Vou passar a incluir a palavara-chave Memoriais.


O Rui não nos chegou a dizer se este trabalho foi bem sucedido, como eu esperava, e se teve alguma apoio por parte da nossa malta...

(**) Vd. 7 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3028: Eu, o Jorge Cabral, o António Graça de Abreu e... o Levezinho, no velho/novo Maxime, com os Melech Mechaya (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P4486: Vindimas e Vindimados (José Brás (2): Coágulos

1. Segunda história da série Vindimas e Vindimados do nosso camarada José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, baseada no seu livro "Vindimas no Capim"


COÁGULOS

Ninguém é novo demais, ou velho, para morrer.
Morre-se, simplesmente, na hora certa, no fim da vida, tenha-se ou não vivido muito, esteja-se ou não cansado disto e pronto para partir.

Morre-se de imprevisto, sem ninguém esperar, às vezes por uma coisinha insignificante, um momento de distracção, até parece.

A vida toda a correr bem, vendendo saúde, amigos no convívio, afectos... e, pumba. Uma escorregadela, um parafuso que salta, um travão que falha, uma curva apertada... uma veia, uma artéria que ninguém tinha visto apertada, uma gota de sangue, um coágulo que se intromete no fluir corrente... uma bala perdida.

Ou se morre, simplesmente, quando todos já o esperam, de doença descoberta e prolongada, acompanhada por médicos e tratamentos, o corpo exaurido, a alma esfrangalhada, sem forças nem vontade para continuar.

Ninguém é novo demais para morrer, repito.
A vida chega-nos sem que nada tivéssemos feito antes para a ter, oferecida, em berço d'ouro ou enxerga, e respirámo-la, sorvemo-la, agarramo-nos como náufragos desde o primeiro momento, incrédulos ainda de aqui estarmos, tão perto do nada do minuto precedente, do vazio que era o não ser... e enchemo-nos dela, ávidos, por um temor qualquer, imediato e instintivo, de regressarmos ao nada, ao limbo, à outra zona do não conhecer e do onde viemos.

Mais tarde julgámo-nos os donos do mundo!
Mamamos na teta, na da mãe e na da cabra. Trambolhões, escapamos duma, escapamos de outra. A vida corre e engrossa-nos a confiança, a certeza de que tudo corre sobre rodas, o sentimento de que o mundo é justo ou injusto; a convicção de que a água, correndo sempre para baixo, num sítio qualquer da corrente, podemos pará-la, podemos contê-la por momentos, inverter-lhe o fluir, levá-la de novo à nascente.

Ninguém é novo demais para morrer, trerepito!
A vida não se mede aos quilos, bem ou mal pesados, excessivos ou roubados no peso, nem nos anos que se contam na cédula pessoal, no B.I., no processo individual da empresa que nos paga os dias de trabalho, no caderno de recenseamento eleitoral, na ficha da polícia se já nos convocaram para entrevista em esquadra, ou mesmo que não.

Morre-se, simplesmente, quando Deus quer, dizia na minha aldeia o Manuel da Cruz, ou um tio se distrai, acrescento eu.

Como no caso da Guerra.

Dizem-nos: - A Pátria está em perigo! Tens de a defender até ao sacrifício da própria vida - e lá vamos nós cumprir a sina, de saco na mão e arma ao ombro da coragem ou do medo, da sorte ou do azar, às vezes morrendo ou vivendo por pequenas coisas, por um quase nada.

Como aconteceu com o Dias, Soldado de Transmissões da minha Companhia de Infantaria, destacada na zona de Guiledje, numa terrinha chamada Medjo, rodeada de mata densa, bicharada, aquartelamentos do IN tão próximos que quase nos podíamos ofender de voz, pessoalmente gritada, de cá para lá e de lá para cá.

Ao Dias disseram que estava no tempo certo de largar a aldeia, o ofício de mecânico que começara a aprender mal saíra da primária, de agarrar no bornal e se fazer ao caminho da tropa.

Foi a primeira vez que largou a asa da mãe, passou a Serra da Neve e se afastou a Sul do mapa pendurado na escola do Caldeira.

Havia de lhe calhar, mais tarde, depois de andanças pela geografia do País, fechado nos muros altos de dois ou três quartéis, ordem unida, Mauser, AN-GRC9, o PRC-10, os Alfa, Bravo, Charlie, Delta, embarcar na Rocha do Conde de Óbidos, despejado, por assim dizer, cinco dias depois, em cascos de rolha.

Não vamos falar aqui das coisas interiores do Dias, das suas esperanças, do modo de ver a vida, do convívio com o anarca do Arnaldo, e com o outro, o da PSP que queria ser da PIDE e prender comunas, coisa que nunca chegou a saber o que era.

Nem falaremos da sua figura física de portuga das Beiras, aldeão, fazendo diariamente o caminho da aldeia à vila, e vice-versa, pendurado numa bicicleta de segunda ou terceira mão, para ir aprendendo sobre cárteres, pistons, velas, bobines e o diabo a sete dos motores de explosão.

Não falaremos destas coisas, embora eu lhas conheça bem, para não perdermos tempo com desimportâncias, porque importante mesmo seria ver-lhe a qualidade de soldado, no número de identificação que lhe gravaram na chapa dependurada do pescoço, picotada a meio para os fins que sabemos, na devoção com que se entregava ao saber sobre os emissores/receptores, no ar de submissão que trazia da aldeia e se acentuara sob as ordens dos senhores sargentos e oficiais.

Provavelmente porque a Guiné cansava mais do que outros lugares da nossa guerra, e talvez porque de Super-constelation se fazia em pouco mais de sete horas (mais tarde, em cerca de metade no Boing 727-100) quase todos os que conseguiam reunir meios para passar um mês de férias na terra, compravam o bilhete da TAP e faziam o seu baptismo de voo.

Cheguei à minha aldeia, no início de Julho, de gravador Sony nas mãos queimadas dos canos da G3 que no escuro da noite, soldados me passavam à vez, na boca de um abrigo feito de cibos, lata e terra (preferia morrer a céu aberto) e eu despejava por cima da paliçada, em inimigos que não via mas adivinhava pelo rastro das rastejante e pelas saídas de morteiros e canhões sem recuo.

Fim de Julho, festa de Verão na aldeia, banda de música no coreto, bailaricos, gado bravo no cercado, o forcado que era antes da partida, estão a ver a felicidade quase sólida ali nas mãos, mesmo que faltassem apenas dois dias para voltar a Mejo.

Na Segunda-Feira da festa, entre umas imperiais e uns tremoços, o carteiro entrega-me um telegrama que havia chegado da Guiné, curto, seco, violento.

"Dias morreu Xinxi-Dari. Ponto. Outro morto feridos outras secções. Ponto. Oliveira ferido grave Hospital Estrela. Ponto. Dá apoio antes voltares. Ponto. Loja".

Grande murro no estômago!

De repente desabou tudo sobre mim.

Olhava, tanto quanto me lembro e os amigos diziam depois, olhava de olhar parado, a gente à volta, falando comigo "o que é que foi pá diz lá porra" e, nada, niqueles, perdera a palavra.

O meu pai tirou-me o telegrama da mão e leu. Ficou parvo também mas não perdeu nem a fala, nem a ternura. Tirou-me da cadeira já as lágrimas me corriam abundantes.

O Dias era Soldado da minha Secção e morrera sem mim.
O Oliveira era da minha Secção e jorrara o seu sangue em Xinxi-Dari sem mim.
E os outros de quem não constava nome no telegrama, que eram da minha Companhia, haviam morrido sem mim.

Logo ali, à frente de todos, o meu pai garantia:

- Agora é que vais mesmo para fora. Já não voltas a essa terra de doidos. O Salazar que se f...

Naquele momento nem ripostei. No dia seguinte, bem cedo, autocarro da Bucelence, Lisboa, voltas e mais voltas na Estrela, um mundo de mortos-vivos, até que encontrei o Oliveira. Não iria morrer, pareceu-me, embora me tivesse afiançado que alguém na mata lhe apanhara intestinos. De mais importante para lhe dizer apenas a merda de um consolo vazio no estado de alma que tinha de lhe esconder. "Olha, Oliveira, daquilo estás safo!"

À noite, de novo em casa, poucas falas para trocar, o meu pai seguro de que me poria na fronteira e eu remoía ainda os pequenos nadas da tragédia.

Antes da cama tudo ficou claro entre nós. Medjo iria continuar a ser a minha Pátria por mais alguns meses. A mala já estava feita. O meu pai iniciou ainda a argumentação, mas calou-se com as lágrimas que me haviam rebentado de novo.

E nem precisei de dizer-lhe que me sentia miserável por ter deixado morrer aqueles amigos sem a minha presença de arma na mão.
__________

Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 2 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4453: Vindimas e Vindimados (José Brás) (1): O Correio da Malta... e o enfermeiro, herói do dia

Guiné 63/74 - P4485: Memória dos lugares (29): Beli e Madina do Boé, CCAÇ 1589, 1966/68 (Armandino Alves)


Caro amigo Luís Graça,

Na apresentação do Poste 4468, dava como anos de intervenção da minha Companhia na Guiné, 1968/70, quando na verdade é 1966/68.

Não me admiro do lapso, pois, pelo que tenho lido, parece que todos os camaradas que estiveram lá nestes anos, 1966/68, já morreram. Eu já estive quase, mas cá me vou aguentando.

Quanto ao tempo que passei na Guiné não é muito o que tenho para contar. Logo a seguir ao desembarque, em 5 de Outubro de 1966 e depois de me apresentar na minha Companhia estacionada em Stª Luzia (600), fomos fazer uma incursão para os lados de Nhacra.

Depois de muito andar e nem sequer o IN cheirar, quando chegámos ao local onde as viaturas nos deviam ir recolher, deparámos com um Unimog que tinha caído do pontão de troncos ao rio que, felizmente, nessa altura do ano, só levava água que nos dava pelo peito.

Ora toda a gente foi para dentro do rio incluindo o Cmdt da Companhia e, à força de braços, lá conseguimos recolocar o “bicho” na estrada.

Depois seguimos para o aquartelamento de Nhacra, que estava sobre o comando do Capitão Carlos Fabião. Era um dos oficiais de que se falava nessa altura pois, quando era atacado pelo IN, ia às tabancas que circundavam o quartel e, se não lhe dissessem de onde tinha vindo o IN, ele, ou os seus oficiais, não tinham problemas em disparar sobre o pessoal, para eles falarem.
Se era para o ar ou para as pessoas, é que eu não sei.

Ali descansamos uns dias tendo voltado a Bissau.

Passados mais uns dias fomos destacados para fazer segurança a uma coluna que ia partir do Batalhão de Engenharia, com destino a Mansoa. Quando a coluna arrancou em marcha lenta pela estrada, que levava a Mansoa, uma das viaturas da frente avariou.

Num dos Unimogs da coluna seguiam vários colegas da companhia, indo dois deles sentados no banco atrás e levando como habitualmente o taipal deitado para baixo, prontos para saltarem para o chão o mais rapidamente possível, em caso de ataque do IN. Só que tiveram azar, pois o veículo que seguia atrás, era um auto-tanque de água e, como o condutor ia a conversar com o Alferes sentado a seu lado, quando deu fé da paragem, devido ao veículo avariado, travou a fundo, mas o balanço da água impulsionou-o para a frente e, este por sua vez, foi bater nas traseiras do Unimog.

Disto resultou que um dos soldados ficasse logo sem uma das pernas e, outro soldado, ficou com as pernas partidas, sendo de imediato evacuados para o HM 231, em Bissau. O primeiro depois de socorrido, foi evacuado para o Hospital da Estrela, em Lisboa, e nunca mais soube nada dele. O segundo voltou, passado algum tempo, à Companhia.

Passados uns meses, em Fá Mandinga, apareceu um Médico que vinha fazer a avaliação do estado físico deste último soldado. Como o nosso Furrel Enfermeiro tinha saído da Companhia, por ter sido castigado, tive de ser eu a confirmar o veredicto do Médico, que me disse que o ia passar para os serviços auxiliares do exército.

Foi então que eu disse, para o médico, que isso era o mesmo que o mandar passar a operacional, obrigando-o a participar em todas as operações que houvessem na Companhia. Ele perguntou-me porquê. E eu expliquei-lhe, que eu tinha sido apurado para os Serviços Auxiliares do Exército, e ali estava a fazer a mesma coisa, que os outros camaradas-de-armas faziam nas operações.

Ele ripostou logo, que não podia ser, e eu disse-lhe para dizer isso ao meu Capitão. Foi o que ele fez e, por esse motivo, nunca mais fui escalado para fazer patrulhas sequer.

De pouco me valeu, pois eu fui para Béli e a restante Companhia para Madina.

Felizmente que Béli só foi atacada 4 vezes (era atacada de 3 em 3 meses), e só numa delas com forte intensidade de tiroteio de armas ligeiras.

Não sei como era o caminho para a fronteira, mas não devia ser bom, pois nunca ouvimos armas pesadas.

Sabíamos que o PAIGC tinha um acampamento muito perto, pois de madrugada víamos o helicóptero deles. Além de silencioso só lhe víamos a luz que ele projectava para o solo onde ia aterrar. Nunca o vimos de dia.

Mas como eles não se metiam connosco, nós também não nos metíamos com eles.

O pior de Béli era a época das chuvas, pois durante esse tempo nenhuma DO lá aterrava e, quando os mantimentos acabavam, tínhamos que “improvisar” alimentos.

Fora disso nem me queixo muito.

Um abraço para todos do,

Armandino Alves
Ex 1º Cabo Enf da CCaç 1589 (1966/68)
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P4484: Fauna & flora (20): Histórias de grandes serpentes: da jibóia de 7 metros (Paulo Raposo) ao irã-cego (Clara Amante)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > 1968 > O Alf Mil Raposo, de óculos escuros, com o Furriel Ribas, à sua esquerda, e alguns soldados, observando uma jibóia morta pelas NT... "De sete metros!"...

Foto: © Paulo Raposo (2006). Direitos reservados




1. Havia jibóias na Guiné, no nosso tempo ? Assunto controverso, avaliar pelos comentários que já suscitou o poste do Miguel Pessoa (*). Pelo menos, não voavam, isso garante o nosso piloto, mas que se atravessavam no caminho dos bissalanquenses da BA 12, isso garante-nos a também strelada sargento pára-quedista Giselda Antunes Pessoa... 

O Paulo Raposo, por sua vez, conta-nos que matou uma, medonha, com sete metros de comprimento... O Mário Fitas também viu serpentes gigantes lá para os lados de Cufar... A Clara Amante, que viveu na Guiné, em criança, fala-nos com magia do irã-cego... E muitos de nós têm histórias de cobras, pequenas e grandes, venenosas e não venenosas, para contar...Com tudo isto, vamos aumentando o bestiário da Guiné... (LG)



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66), Os Lassas > "Foto que me foi concedida pelo Manuel Brita, condutor das Fox, e que esteve em Cufar no tempo do António Graça de Abreu" [1973/74].
Foto (e legenda): © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.


1. Mansoa: Baptismo de fogo

por Paulo Raposo

Excerto de um livro, policopiado, do nosso camarada de Montemor-O-Novo, Paulo Raposo (ex-Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, da CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852, Galomaro e Dulombi (1968/70).

Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997 (**)

O sacrifício era muito. Vou contar uns episódios dos muitos que por lá passàmos:
Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66), Os Lassas > "Da esquerda para a direita: Soldado que não recordo o nome, de camuflado o Fur Mil Enf Juvenal, o Fernando que nos acompanhou desde Bissau, Mário Fitas, Fur Mil Op Esp, e Olindo, apontador de bazuca da minha secção".
Foto (e legenda): © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.
O sacrifício era muito. Vou contar uns episódios dos muitos que por lá passamos:


(i) Após a nossa chegada a Mansoa, foi-nos distribuído o material de guerra. Já armados, fomos para uma bolanha, nome que se dava a um grande charco de água, que enchia com a chuva.

Esta bolanha ficava para além de uma companhia de balantas, que fazia a protecção do nosso quartel. Naquela zona de Mansoa, sair fora do arame farpado tinha riscos.Este exercício tinha como objectivo habituarmo-nos a estar debaixo de fogo. Deita-se um grupo de combate, e por cima deste, faz-se fogo. Aconteceu que logo no primeiro exercício, quando estava o primeiro grupo de combate deitado, há um disparo que sai mais baixo e vai ferir em ambas as pernas um soldado. Depressa foi chamada uma viatura, para o levar rapidamente para o Hospital. Para aquele rapaz, a comissão terminou ali.

Este acidente foi muito desmoralizante para os restantes e mais nenhum outro exercício foi feito. Perguntei-me nessa altura como iria sair dali.

(ii) Um belo dia o meu grupo de combate estava encarregue de levar e proteger os homens que iam limpar do capim uma faixa grande de ambos os lados da estrada. Assim evitávamos que tivessemos emboscadas coladas à picada.Dirigimo-nos para o local de trabalho em duas viaturas. Parámos precisamente no sítio aonde tínhamos terminado o trabalho no dia anterior, ou seja ainda na zona já descapinada.

Quando parámos, saltaram do capim alguns elementos IN para a estrada. Fizemos fogo, eles fugiram e não responderam. Se tivéssemos parado 50 metros mais à frente, tínhamos caído na emboscada.

Recuperados da emoção, os homens começaram o seu trabalho e eu dirijo-me para um tronco de árvore, que estava caído, para me sentar. Ao aproximar-me do tronco, este mexe-se. Era uma jibóia, com sete metros de comprido. Enfiei-lhe um carregador em cima e ela continuava bem viva.

O Cabo enfermeiro Luís agarra num tronco de um ramo verde, e, pondo-se à frente dela, bate-lhe continuamente na cabeça, até a cobra se ver perdida.Uma vez perdida, morde-se a ela própria, para não se humilhar à mão do enfermeiro Luís. (...)


2. O irã-cego
por Clara Amante


Amante da Rosa > "Meu Cabo Verde. História e Estórias. Minhas raízes, família e recordações. A Guiné. Pensamentos e Imagens. Sem ordem cronológica". Um blogue no feminino. Carla. Cabo Verde. Ilha de Santiago. Praia... A Carla é filha do nosso amigo e camarada Manuel Amante, membro da nossa Tabanca Grande.... Já aqui transcrevemos um poste, desse blogue, em que se falava de nós, do nosso blogue (***) . Infelizmente, o blogue Amante da Rosa deixou de estar activo, embora continue em linha... Tomo a liberdade de recuperar uma belíssima história ali publicada, com recordações de infância da Guiné (****).

Acordou alagada da sesta… maldita humidade. Abriu os olhos ainda tempo de ver o Irã que deslizava, entre uma trave e outra, no tecto do quarto, para desaparecer no escuro da telha enegrecida. Em que buraco se metia? Lembrou-se…

“- Matem a cobra!
- Não. Senhora…
- Mata a cobra… Anselmo?! Há uma cobra no tecto da casa!
- Senhora é o guardião… não.
- Guardião…?
- Sim, Senhora, guarda a casa.
- Anselmo… É uma cobra branca.
- Não… É Irã Cego… é poderoso e vai protegê-la a si e aos meninos.”


A humidade… nem sabia se estava acordada. Nunca a tinha visto assim… Gorda e branca. Ela… O Guardião. O Irã Cego. A cobra albina que vivia no telhado da casa. Foi regressando devagar daquela letargia do sono. Como foi que vim parar neste fim de mundo? O mato, os bichos, o raio das cobras e o bucho cheio ano sim ano… Não, nada de lástimas! Calor… parece que o diabo se entretêm a chupar ar. Ai Guiné! Ai Mindelo... Irã Cego… as minhas crianças aqui em baixo deste tecto. Ninguém num raio de quilómetros e ele que se mete no mato dias a fio. Deve estar nalguma tabanka. Um banho... preciso de um banho. Mãe… e tu que nunca mais chegas. O Nhelas, lá para o Sul sem conseguir fugir - do contrato da roça.

Nando, embarcado sabe-se lá onde. Os meus irmãos espalhados em tudo o que é fim de mundo. A onça… é preciso ver se os meninos estão cá dentro… a onça que quase leva o Canelito. Bendito cachorro... e ele ainda a gritar pelo pobre do bicho... sozinho em frente da casa. Isto é o fim do mundo. Irã… que me vale Deus aqui. Irã Cego! O guardião da casa que engole os ovos das galinhas é quem nos protege. E a minha terra lá tão longe. O vento… que falta faz o vento, Mãe. Banho… aquele banho semanal que nos davas com a água que trazias de casa d’inglês. Anselmo… é preciso ir ao poço... A onça que deve andar à caça… E ele que não chega metido nesse mato sem ninguém. Como foi… ah… Dava tudo para sentir aquele cheiro de colónia inglesa do Nana... Cheiro nauseabundo com que ele chega… Meu Nana… como fui acabar tudo com ele. Lembranças não levam a nada e o que foi foi… deve ser do calor, estás a enlouquecer, Vinda. Valha-me a cobra para nos proteger e…
- Dona Vinda…? - o chamado urgente sacudiu-a.
- Sim, Anselmo...
- É o Irã... Irã Cego fugiu para o mato.
- ...
- Senhora… não é bom.

[Revisão / fixação de texto: L.G.] (*****)________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 7 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4477: FAP (29): Encontros imprevistos (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

(**) Vd. poste de 8 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXXIII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (6); Mansoa, baptismo de fogo

(***) Vd. poste de 27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...

Vd. também 28 de Maio de 2007> Guiné 63/74 - P1789: Blogues que nos citam (2): Amante da Rosa ou a Geração das Flores da Revolução de Bissau

(****) Vd. poste de 14 de Novembro de 2006 > O despertar de uma sesta, no fim do mundo dos anos 50, visto num quadro de Paulo Rego (Clara Amante)


(*****) Vd. último poste desta série > 16 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4038: Fauna & flora (19): Também os babuínos dizem Nós na pidi paz, ka misti guerra (Joana Silva)

Vd. também poste de 25 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3793: Fauna & flora (16): Relações amistosas com o Macaco-cão na zona de Cufar (Mário Fitas)

Escreve o L.G., em comentário ao poste do Miguel Pessoa:

(....) Há uma diferença (até no comprimento) entre a jibóia (nome científico, Boa constrictor) e a pitão, jibóia africana ou irã cego (na Guiné-Bissau) (nome científico, Python sebae)... Esta última, sim, é a maior cobra da África subsahariana. Quando adulta, pode atingir os 6 metros e ultrapassar os 100 quilos de peso... Habita a floresta-galeria, as matas e só ocasionalmente a savana. A sua dieta é constituída por aves, pequenos roedores e ainda mamíferos de média dimensão. Pode viver trinta anos e não está em risco de desaparecer.

Já a jibóia p.d. (que está no nosso imaginário, pela pomada jibóia e não só...) é centro e sulamericana.Boa constrictor deve o seu nome à forma como mata as suas vítimas, por constrição, sufocando a presa, técnica usada pelas cobras não venenosas.Contrariamente a muitos mitos populares, é pacífica e fugidia, evita sempre o contacto com animais de grande porte, incluindo o homem... Em média anda nos três metros...É sobretudo caçadora nocturna, alimentando-se de roedores e aves...

Por sua vez, o nosso amigo Nelson Herbert, hoje cidadão norte-americana, mas born in Bissau, acrescenta o seguinte:


(...) Tem razão o Luís Graça. O familiar mais próximo da jiboia sul americana, na Guiné é o Irã Cego. De criança,sempre ouvi dizer que o unico Ser que esse tal de Irã Cego de facto temia, imaginem!, eram aItálicos formigas...(qual quê: formiguinhas). Aquelas típicas da Guiné, conhecidas pela sincronização das dolorosas dentadas e a acrobática posição de pino. Melhor, aquelas que mordem a vítima, de pernas pro ar ! Curioso, né ! Mas existe uma explicação lógica ! É que engolida uma ave, um réptil ou atéum cabrito (a lenda fala de bois), o bicharoco necessita de algumas espaçosas horas para a digestão da presa...tanta é a languidez ...

É pois nesses momentos que o bicho, ele mesmo, torna-se presa fácil das formigas. Aliás, não é por acaso que na Guiné, em tudo que seja , terreno por excelência de pastagens, por perto existe sempre um "morro de baga baga"...não vá pois o Irã Cego tecer das suas !

Ainda relativamente a esse bicharoco, baptizado de Irã Cego, por conseguinte, à luz de algumas crenças e crendices, nossas ( guineenses), um animal outrora venerado, senão temido, Amílcar Cabral faz referência, em alguns dos seus escritos, às dificuldades enfrentadas no início da guerrilha, no aliciamento de alguns guerrilheiros para operações, que tivessem por cenário...qualquer mata cerrada, tida por santuario dos Irãs Cegos. Cabral mobiliza esse exemplo, para exemplificar o quanto o obscurantismo poderia em certa medida comprometer o avanço da guerrilha nas matas da Guiné. (...)


segunda-feira, 8 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4483: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (11): Macau: A. Graça Abreu com José Martins, ex-Cap CCAÇ 16 (Bachile, 1971)


China > Macau > Ruínas da Igreja de São Paulo, uma das 27 maravilhas do mundo, de origem portuguesa
Fonte: Wikipédia (2009). Copyleft
1. O nosso Camarada Jorge Picado em 13 de Maio de 2009, enviou o seguinte e-mail ao Luís Graça, sob o título: Reencontro telefónico com o Cmdt. da CCaç. 16:

Luís,

Acabo de falar com o José Martins.

Era de facto o Cap da CCaç 16 e terminou essa comissão uns meses depois de eu ter regressado ao Continente.
É espantoso, pois disse-me que me reconheceu logo que viu a foto no Blogue e daí o ter procurado nas listas o meu contacto telefónico, mas foi parar à Costa Nova.
Falou-me nos nomes da maioria dos Oficiais do CAOP 1.
Possivelmente o Graça de Abreu já não o terá de facto encontrado.
Lê sempre o Blogue. Por isso já sabia do comentário e quando acabou de falar comigo disse que ia tentar ligar para o Abreu.
Também é casado com uma chinesa, médica se percebi bem e vive em Macau.
Era Miliciano e seguiu a carreira, sendo do CPC do Rui Alexandrino que o deve conhecer.

Antes do CPC fez a 1.ª comissão em Angola e depois dessa, na Guiné, voltou a ir outra vez para Angola.

É portanto Tenente Coronel se bem entendi, mas já está reformado, depois de ter ido para Macau onde esteve em algo de Segurança.

Perguntei-lhe se não tinha endereço da Net, com o intuito de o "aliciar" para o Blogue, mas respondeu-me que não está familiarizado com a "máquina".

Talvez o Graça de Abreu consiga saber mais.

Abraço,

Jorge Picado

2. No mesmo dia, Luís Graça respondeu ao Jorge Picado, com o mesmo título: Reencontro telefónico com o Cmdt da CCaç 16:

António,

Aqui tens... a resposta do outro lado do mundo.

Amazing,

Luís

3. Ao que o António Graça de Abreu, em 05 de Junho de 2009, também via e-mail, ripostou ao Luís Graça, Cc ao Jorge Picado, com o título: Encontro com o Cmdt. da CCaç. 16:
Voltei ontem de Macau.
Estive lá com o José Martins, Cap da CCaç 16, no Bachile.
Graças ao blogue fui encontrar em Macau um nosso camarada da Guiné (há 23 anos em Macau!), com mais mil estórias para contar.
O Martins lê o blogue mas creio que não sabe como aderir como “tertuliano”.
Está reformado e comprou agora uma casa na ilha de Hainan, no sul da China, perto do Vietname, e vai para lá passar largas temporadas.
Estive quase 15 dias em Macau e almoçámos e jantámos umas cinco ou seis vezes.
O Martins esteve também na apresentação do meu novo livro, a minha tradução dos Poemas de Han Shan (séc. VIII) no auditório da Livraria Portuguesa, em Macau.
Foi um gosto enorme ter conhecido o José Martins, camarada da Guiné.
Luís, vê as maravilhas que o teu blogue provoca.
Um abraço,
António Graça de Abreu
__________

Notas de M.R.:

Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4482: O Nosso IV Encontro Nacional, Ortigosa, Monte Real, 20 de Junho de 2009 (6): As inscrições terminam a 15 de Junho (A Organização)

Distribuição dos participantes no IV Encontro, por região (local de residência)... Os mouros, até ao momento, levam uma alguma vantagem (n=44) contra os morcões (n=31)... Os lusitanos do centro são o fiel da balança (n=20)... É claro que o critério étnico é enganador: há mouros a morar no norte, e morcões que emigraram para o sul... Feitas as contas, Na Quinta do Paul, só há o verde e o azul...

Para que ninguém se tresmalhe, e qualquer morcão possa reconhecer (e ser reconhecido por) um mouro, o strelado do Miguel Pessoa fez uns cartanitos à manêra, que já devem ser chegado à caixa do correio electrónico de cada inscrito... Há pelo menos 24 participantes, membros ou não da nossa Tabanca Grande, que estão emparelhados... Ou, por outras palavras, vamos ter outras tantas bajudas... (LG)



IV ENCONTRO NACIONAL DA TERTÚLIA DO BLOGUE LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ, DIA 20 DE JUNHO DE 2009, QUINTA DO PAÚL, ORTIGOSA, MONTE REAL, LEIRIA

A Operação Ortigosa 2009, em termos de inscrições, está na fase final.

Vamos relembrar neste poste o mais importante do Encontro.


(i) Comecemos pela Ementa (que nem só de memórias, histórias e emoções vive o homem...)

APERITIVOS/ENTRADAS

Martinis; Porto sêco; Moscatel;
Vinho Tinto; Vinho Branco;
Vinho Verde; Vinho Rosé;
Aguas; Refrigerantes; Cervejas;
Espumante Natural

Mimos de Bacalhau;
Rissois;
Croquetes;
Chamussas;
Moelas de frango campestre;
Tacho de Entrecosto regional c/ Castanhas;
Espetadinhas de Morcela e chouriço
Grelhados à Camponês
Leitão assado à Bairrada
Presunto fatiado c/nacos de frutas;
Fritada à moda da região;
Azeitonas
Queijos de várias regiões de Portugal
Paios de Lamego
Pãezinhos Regionias; Pão integral; Broa; Pãezinhos c/ frutos secos
Miniaturas de Pastelaria

AGORA À MESA

SOPA
Sopa de Legumes ou...

CARNE
Assado de Novilho com molho do assado e cogumelos frescos

SOBREMESAS
Cabaz c/6 Doces Tradicionais
Frutas Laminadas

BEBIDAS
Vinhos DOC/Vinho Verde em Buffet
Águas
Refrigerantes
Café c/bombom
Centro de Miniaturas

LANCHE
Caldo Verde
Frutas Laminadas
Pastelaria Variada
Mesa de Queijos
Franguinhos churrasco
Picanha Churrasco
Fritas/Saladas
Presunto Laminado
Pãezinhos Regionais/Broa


(ii) Preço do Almoço

Com o Lanche incluído é de 30,50 €uros

(iii) Dormida(s)

Para quem optar por ficar em Monte Real para o outro dia, os preços são: 35 e 45 €uros, respectivamente para single e duplo, na Pensão Santa Rita.

(iv) Local do Encontro e como chegar

Local do Encontro

Quinta do Paúl, Ortigosa, Estrada Nacional 109, entre Monte Real e Leiria.

Coordenadas Geográficas: 39º 50' 27" Norte - 8º 50' 24" Oeste.


Quinta do Paúl, Actividades TurísticasMail: info@quintadopaul.com
TEL 244 613 438 - FAX 244 613 703 - Telemovel 917 210 432
Sítio na Net: http://www.quintadopaul.com/

Como chegar

Para quem vai do Sul pela A8, continuar pela A17 e abandonar a auto-estrada na saída para Monte Real. Chegados à rotunda da EN 109 virar à esquerda em direcção a Leiria. Passados 2 a 3 Km encontra a Quinta do Paúl.

Para quem vai do Norte, circular na A1 até à saída para Albergaria, aceder à A25 em direcção a Aveiro, entrar na A17 para Leiria, seguir até encontrar a saída para Monte Real, ou seja, desde que se entra na A1, nunca se sai da auto-estrada. Chegando à rotunda da EN 109, virar à esquerda em direção a Leiria. Passados os 2 a 3 Km aparce a Quinta do Paul.

(v) Eis o quadro de honra com os nomes dos 95 magníficos, inscritos até ao momento, de A a V:

Abel Rei e Maria Elisete (Marinha Grande)
Agostinho Carreira Gaspar (Leiria)
Álvaro Basto e Fernanda (Leça do Balio / Matosinhos)
Amadu Bailo Djaló (Lisboa)
António Fernando R. Marques e esposa (Cascais)
António Graça de Abreu (Cascais)
António J. Pereira da Costa e Isabel (Mem Martins / Sintra)
António M. Sucena Rodrigues (Oliveira do Hospital)
António Martins de Matos (Lisboa)
António Paiva (Lisboa)
António Pimentel (Porto)
António Santos e Graciela (Loures)
Artur Soares (Figueira da Foz)
Belarmino Sardinha e Antonieta (Odivelas)
Benjamim Durães (Palmela)
Carlos Marques Santos (Coimbra)
Carlos Silva e Germana (Lisboa)
Carlos Valentim e Margarida (Proença-a-Nova)
Carlos Vinhal e Dina (Leça da Palmeira / Matosinhos)
Constantino Neves e Judite (Almada)
Coutinho e Lima (Lisboa)
David Guimarães e Lígia (Espinho)
Delfim Rodrigues (Coimbra)
Eduardo Magalhães Ribeiro e Fernanda (Porto)
Fernando Calado (Lisboa)
Fernando Franco e Margarida (Amadora)
Fernando Gouveia (Porto)
Fernando Oliveira e Maria Manuela (Porto)
Henrique Matos (Olhão)
Hernâni Acácio Figueiredo (Ovar)
Idálio Reis (Cantanhede)
Jaime Machado e Maria de Fátima (Lavra / Matosinhos)
João Carlos Silva (Almada)
João Lourenço (Figueira da Foz)
João Seabra (Lisboa)
Joaquim Mexia Alves (Monte Real / Leiria)
Jorge Cabral (Lisboa)
Jorge Canhão (Oeiras)
Jorge Picado (Ílhavo)
José Brás (Montemor-o-Novo)
José Carlos Neves (Leça da Palmeira / Matosinhos)
José Casimiro Carvalho e Ana (Maia)
José Eduardo Alves e Maria da Conceição (Leça da Palmeira / Matosinhos)
José Fernando Almeida e Suzel (Óbidos)
José Manuel Lopes e Luísa (Régua)
José Manuel M. Dinis (Cascais)
José Marcelino Martins e Maria Manuela (Odivelas)
José Pedro Neves e Ana Maria (Lisboa)
José Zeferino (Loures)
Juvenal Amado (Fátima)
Luís Graça e Alice Carneiro (Alfragide / Amadora)
Luís R. Moreira (Lisboa)
Luís Rainha (Figueira da Foz)
Manuel Amaro (Amadora)
Manuel António Rodrigues (Mortágua)
Manuel Augusto Reis (Aveiro)
Miguel e Giselda Pessoa (Lisboa)
Pedro Lauret (Lisboa)
Raul Albino e Rolina (Vila Nova de Azeitão / Setúbal)
Ribeiro Agostinho e Elisabete (Leça da Palmeira / Matosinhos)
Rui Alexandrino Ferreira (Viseu)
Santos Oliveira (V. N. de Gaia)
Semião Ferreira (Monte Real)
Valentim Oliveira e Maria (Viseu)
Vasco da Gama (Figueira da Foz)
Vasco Ferreira e Margarida (V. N. de Gaia)
Victor Barata (Vouzela)
Virgínio Briote (Lisboa)

(vi) Inscrições:

- O prazo para as inscrições termina no próximo dia 15, 2ª feira (inclusive).

- No acto da inscrição devem indicar o nome da(o) acompanhante, se for o caso.

- Se quiserem pernoitar em Monte Real, terão que fazer menção para que o Mexia Alves possa fazer a respectiva reserva.

- Devem também dizer de onde se deslocam (ou onde residem).

- O nosso camarada Miguel Pessoa enviará, em ficheiro, a cada inscrito, um cartão que deverão imprimir, para usar no Encontro.


Estamos quase a atingir a meta dos 100, mas podemos vir a ultrapassá-la.

Um abraço
Até ao dia 20

A Comissão Organizadora,

Carlos Vinhal
Joaquim Mexia Alves
Luís Graça
Miguel Pessoa
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4365: O Nosso IV Encontro Nacional, Ortigosa, Monte Real, 20 de Junho de 2009 (5): As inscrições continuam a bom ritmo (A Organização)

Guiné 63/74 - P4481: Os bu...rakos em que vivemos (12): Cafal Balanta contribui para o desenvolvimento nacional (Manuel Maia)

1. Mensagem da Manuel Maia (*), ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74, com data de 7 de Junho de 2009:

Caro Carlos,
Com o pedido de colocação logo que possível, claro está, na secção de Bu...rakos, segue o texto anexo onde tentarei colocar a fotografia .
Agradecia que me informasses se recebeste com a dita (continuo desajeitado a este nível).


Um Bu...rako para tapar o buraco do desenvolvimento

Manuel Maia no seu bu...rako de Cafal Balanta

Depois dum breefing de apresentação formal à nata de arquitectos portugueses, onde nomes como Siza Vieira, Alcino Soutinho, Tomáz Taveira e tantos outros tomaram assento, a palavra (e até aquela pinga de Borba que guardava religiosamente para um destes eventos – definitivamente, gosto desta palavra, tem estatuto, tem... boa leitura como a pinga tinha boa bebida...) enchendo de adjectivação elogiosa o fautor destas linhas, um arquitecto naif de gosto requintado (as palavras são deles...), foi com inusitado prazer que ouvi da boca do nosso Primeiro, ele também um conceituado homem do risco com obra feita, nessa bela cidade da Guarda, onde ressaltam as cortes dum traço enérgico, seguro, insinuante, só ao alcance de grandes mestres, um rasgado elogio sobre o design, o aproveitamento dos materiais, o seu enquadramento no resto da paisagem, e ainda a decoração dum estilo informal para quem não dispunha de tempo face aos seus afazeres profissionais...

Severiano, o Ministro da Defesa, guinéu como sabemos, exultou face ao quadro exposto, e claro a tradicional maquete de esferovite (de qualidade superior à que o Frank Gary fez para o Santana Lopes, relativa ao Parque Mayer e onde abichou um milhãozito...) o pormenor soberbo (Ministro dixit) das clarabóias que lhe emprestam uma luminosidade fabulosa evidenciada do lado direito da foto.

Evidentemente que pedimos desculpa pelo ar um pouco desarrumado da Câmara mas isso deveu-se à inoportuna doença da engomadeira...

Os presentes (tudo gente fina, atrever-me-ia mesmo a chamar-lhes a nata deste belo recanto tão cantado por poetas avoengos) denotando uma educação rafinée, ignorou a nossa preocupada explicação não fazendo nota de... devo dizer-vos que nada recebi nem tão pouco pensei fazê-lo, mas... ó Maia, tem paciência pá, tens de pereceber que deste modo até parece mal, tens de te cobrar pelo teu serviço... (aquelas tretas do costume...) mas como sou homem de ideias fixas e não queria ter depois à perna o Fernando brincalhão, meu ex-colega de liceu, e hoje Ministro das Finanças, que não enjeitaria a oportunidade para se vingar da alcunha que lhe pusemos na altura, mantive-me firme como uma rocha e fiz mais este sacrificiozito pelo país...

Entretanto, o próprio Presidente da República, que como sabemos, por inerência de funções é em ultima instância o Chefe Supremo das Forças Armadas (há quem goste de pronunciar ármádas, mas ele há gostos p´ra tudo...), ao que me disseram esteve largo tempo à conversa com o Severiano para pensarem na introdução de casernas pequenas deste tipo, para albergarem uma meia dúzia de soldados ao invés daqueles inestéticos armazéns pejados de camas do tipo hospitalar encavalitadas - salvo seja - umas nas outras...

Ora assim sendo, cá voltaremos a ter mais um desígnio nacional cumprido, ou seja, o da criação de postos de trabalho.

Vai ser uma lufa-lufa para as bandas da empresa onde aquele rapaz, Jorge Coelho, é manda-chuva, com intermináveis filas de desempregados a preencherem ficha para tomarem parte nesses trabalhos de feitura de novos quartéis, que tanta falta fazem agora para estas guerras de alecrim e manjerona... (que até já à porta desta nossa Tabanca bateram...)

A ser verdade, será provável uma remodelação geral nas ditas Forças Armadas, que a acrescentar ao regime de self-service, implementando restaurants em vez de cantinas, com serviço à la carte servido em porcelana Vista Alegre, apoiando dessa forma a indústria nacional, ao invés do prato único em disco de alumínio, como era apanágio no nosso tempo, e acabando também, definitivamente, a chamada marmita, (que ainda se usou na campanha de África) por obsoleta e inestética...

Como vêem, uma pequena coisa pode despoletar uma bolha (não a do jogo em que estão a pensar que essa é assim mais ou menos proibida, embora vá funcionando com alguma regularidade), mas sim uma bolha de desenvolvimento que aportará postos de trabalho, criação de riqueza (enfim, já sabeis a restante terminologia...)

Quem diria, à la longue que aquele meu (e dos colegas de apartamento, que não quero os louros só para mim...) projecto poderia redundar, a modos que, factor primordial de desenvolvimento do país.

Se porventura algum dos camaradas tabanqueiros puder informar das démarches nécèssaires para registar patentes, agradecemos.

Agora, posto isto, digam-me francamente:

- Haverá algum bu...rako mais bu...rako que este?

Venha de lá o prémio...

Um abraço para ti, extensivo a toda a Tabanca
Manuel Maia

Guiné > Região de Tombali > Cantanhez > Cafal Balanta > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74)

__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 3 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4456: Blogpoesia (48): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (V Parte): III Dinastia (Filipina)

Vd. último poste da série de 18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4369: Os bu...rakos em que vivemos (11): Banjara City, capital do Oio (Fernando Chapouto, CCaç 1426, 1965/66)

Guiné 63/74 - P4480: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (3): Partida para a Guiné

1. Mensagem de José Câmara (*), ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73, com data de 6 de Junho de 2009:

Assunto: Memórias e histórias minhas (**)

Olá Carlos,
Junto encontrarás mais um pouco da história. Como sempre, para bem do blog, faz com ela o que muito bem entenderes.

Daqui do outro lado do oceano, um abraço amigo
José Câmara


Partida para a Guiné

Ali, em frente dos meus olhos, estava o n/m Angra do Heroísmo. Muitas vezes o vira ao largo da cidade da Horta. Em desafio ao povo faialense nunca amarrara à doca. Entrar nele só mesmo aqueles que fizeram viagem. E era isso que eu ía fazer: uma viagem que não tinha requisitado. Tal como todos os outros militares que iriam encher os seus camarotes e porões.

O Angra do Heroísmo, no Cais de Alcantra, em Lisboa, espera que os seus porões se encham de militares com destino à Guiné

Foto: © Juvenal Afonso (2009). Direitos reservados.


Da vistoria ao navio fiquei com uma sensação amarga que, ainda hoje, perdura: a visão dos porões preparados para cargas de toda a espécie, e que agora serviriam para o transporte de carga humana. Tinham sido limpos, mas continuavam mal cheirosos e a ventilação era paupérrima. Aqueles porões iriam servir de camarata a tropas que dariam o melhor de si mesmas nas matas e bolanhas da Guiné.

Nos Açores, vezes sem conta, tinha visto as vacas serem embarcadas e arrumadas nos porões dos barcos que, ao tempo, demandavam as terras açorianas. Agora, em plena Lisboa, apercebia-me que os nossos soldados iriam ter idêntico tratamento, e serem, assim, reduzidos à condição animalesca.

A bestialidade e baixeza de instintos das chefias militares e dos responsáveis pela governação no Portugal de então, estavam ali, na visão daqueles porões. Muito baixo tinham descido no conceito e respeito pela pessoa, pelo militar, pelo cidadão e pelo mártir da Pátria. A prova estava ali. Para ser vista e sentida pelos cerca de seiscentos militares que faziam parte daquela viagem. Uma situação que foi vivida e sentida por muitos outros, antes e depois de nós.

Pelas 8:00 horas da manhã, do dia 21 de Janeiro de 1971, começaram a chegar as primeiras tropas. Sem desfiles e sem discursos de ocasião o embarque foi acontecendo. Pouca gente a observar este embarque. Sem grandes despediadas. Compreensível. A maioria do contingente militar era formado por açorianos e madeirenses. Aqui e ali um outro lenço abanava. Pelos militares continentais que faziam parte dessas Companhias e pelos militares de um Pelotão de Artilharia. Um grupo de cães e respectivos tratadores também faziam parte do contingente.

Cerca das 13:00 o navio começou a afastar-se da doca. Aos poucos foi descendo o Tejo, rumo ao Atlântico, cujas águas encapeladas provocadas pelo tempo invernoso que então se fazia sentir, deixava antever uma viagem pouco agradável. Como se isso fosse possível naquelas circunstáncias. Para trás ficava a linda Lisboa. Por todos um aceno de esperança. Para alguns o seu último adeus!

O silêncio entre os militares era tão cortante como o frio que então se fazia sentir, aqui e ali quebrado pelas rajadas do vento forte que fazia, e pelo navio a cortar as águas do estuário do Tejo. Cada um embrenhado nos seus pensamentos.

O dia tinha sido longo e a noite já ía avançada. As emoções tinham sido muitas. Restava-me mais uma: o dia da minha partida para a Guiné coincidia com o dia de aniversário natalício de minha mãe. No meu pensamento e no meu coração dei-lhe os parabéns.

Naquele momento a escuridão da noite era a luz do vazio que me ia na alma.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4424: (Ex)citações (30): O meu pai só aprendeu as letras que o trabalho lhe ensinou (José da Câmara)

(**) Vd. último poste da série de 27 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4421: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (2): O IAO em Santa Margarida

Guiné 63/74 - P4479: História da CCAÇ 2679 (19): O adeus a Piche (José Manuel M. Dinis)

1. José Manuel M. Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, em 4 de Junho de 2009 enviou-nos o 19.º episódio da História da sua Unidade.


O adeus a Piche

No regresso a Piche encontrámos o Alferes Lopes, rendição individual com destino ao Foxtrot, em substituição do Guerra. A primeira impressão revelou um individúo humilde, nervoso, fraca figura. O conhecimento seguinte foi o de um jovem com formação seminarista e recém-casado. Nas conversas denunciava nervosismo e receios, que a falta de voz mais acentuava. O pessoal vinha com larachas sobre o novo alferes, comentando o aspecto e o comportamento, estabelecendo as diferenças, inevitavelmente, com o Eduardo Guerra, mas logo lhes chamei a atenção, que fossem respeitadores e não se armassem em espertos, feitos veteranos, pois também já os vira acagaçados. A relativa veterania, uma ou outra mina detectada, as flagelações sofridas e o relativo àvontade que tínhamos atingido, não eram uma mais-valia de destaque.

Quando saímos para o mato, perguntei ao Alferes onde queria colocar-se. Perguntou a minha opinião e dei-lha, que se mantivesse perto de mim. Achei que se ele quisesse trocar alguma impressão, seria melhor andarmos perto um do outro. Chovia, e a capa desmesurada acentuava-lhe a pequena estatura.

No mato quase não falara, mas no aquartelamento manifestava a grande apreensão e o azar por ter ido dar à Guiné. Procurava desabafar. Bem, desse azar queixam-se milhares, devo ter respondido para não alimentar queixumes.

Entretanto, em Piche a vida prosseguia com eventos. Foi inaugurada a piscina, ou melhor, no dia aprazado para a inauguração, não foi possível por falta de água, mas o problema foi resolvido e o evento terá acontecido pouco depois. Refiro-me assim, pois não tive ocasião de ir a banhos, na medida em que estava quase a partir para férias e mantive actividade operacional intensa. Mas participei na futebolada de inauguração prévia do campo de futebol de salão.

Terá sido iniciativa do Drácula? Ou do Major, Segundo Comandante, esse praticante de desportos? Ambas as obras foram executadas pelo pessoal do BArt e desejo que tenham proporcionado bons momentos de descontração e camaradagem.

Nesta foto, distinguem-se em baixo: de tronco nú, o Zé Rocha, no 5.º lugar o Nogueira, e a antecedê-lo, parece-me o Águas. Em pé, do lado direito, Dinis e Costa.


Férias

E aconteceu. Com cinco meses de comissão, antes que fosse tarde, parti para Bissau. Instalei-me no Grande Hotel. Dirigi-me à delegação da companhia aérea para levantar o bilhete. E deambulei durante dois dias, à civil.

O hotel, o melhor de Bissau, tinha um preço aproximado do praticado pelo Tivoli, em Lisboa, pouco mais de duzentos escudos, o que achei fantástico. E eram tão diferentes, se eram! Lá, no calor abafado dos trópicos, não havia ar condicionado. Suspensas do tecto, as ventoínhas redemoinhavam na tentativa de refrescar corpos e almas. Com algum insucesso. No quarto, modestíssimo e de parca dimensão, havia outra ventoínha de pé alto, com diferentes velocidades, luxo dos luxos, que fustigava o corpo para amenizar a canícula e impedia a entrada de mosquitos. Qualquer papel voava. Parecia o Guincho em dia de vento.

A arquitectura reflectia um estilo colonial de meados do século, uma disposição periférica em quadrado, por onde se distrubuíam, a recepção os quartos e a sala de refeições. À frente, ladeando a entrada sob a cobertura, havia duas varandas que lhe marcavam a imagem da fachada principal. No espaço interior do quadrado em pátio, situavam-se as casas de banho, a cozinha, a lavandaria e dependências. Não havia casas de banho privativas. Em redor do edíficio, de rés-do-chão, um jardim relvado, com arbustos e árvores tropicais, constituía uma bonita moldura. Boa nota era para o serviço de bar nas varandas-esplanadas, onde as coronelas poisavam durante as tardes..

A primeira saída em Bissau surpreendeu-me pela minha reacção à observação de mulheres brancas, em geral jovens, as mulheres dos militares. Logo às primeiras, dei comigo a parar diante de um casal de braço dado, a olhar para a senhora como um patarata.

Fui a uma loja comprar uma camisa, e também me surpreendi à vista das Lacoste, um avanço da civilização burguesa a dois passos do fim do mundo. E regalei-me a comer peixe e marisco nas esplanadas da cidade, ornadas de acácias, acentuadas com as cores verde e vermelho. Nas montras de estabelecimentos como o Pintosinho e Tau Fiksad, olhei os produtos da civilização que respondiam às solicitações dos endinheirados militares. Militares que andavam por todo o lado, e que faziam alardes nas esplanadas, de que a 5.ª Rep era o símbolo máximo. Na cidade molengava-se. Os pretos, de mão dada, com todos os vagares do mundo, já não me chocavam como da primeira vez que os vi, que me pareciam mariconsos. As pretas cirandavam com vistosas vestes, todas garridas de colorido, ora carregavam filhos e compras para casa, ora corriam para diferentes destinos, ou bamboleavam-se em grupos de duas ou três, num linguajar cheio de interjeições e risos. No geral, parava-se, falava-se, e o tempo ia passando devagarinho.

Ao fim da tarde, antes do jantar no hotel, serviço de travessa a possibilitar todos os excessos, sentava-me na esplanada, junto das coronelas, umas notoriamente fúteis, outras mais resguardadas de comprtamento, bonitas ou feias, mas diferentes do que era usual ver-se nas mulheres do puto. Enquanto me deliciava com um cinta preta em aguada Perrier fresquinha, apreciava-as.

À noite fui a um bar de alguma nomeada, quase ou exclusivamente frequentado pela tropa, A Meta, atraído por uma pista de mini-carros de comando elétrico. Num espaço folgado, acumulavam-se matulões que conversavam e emborcavam bebidas frescas, como que a compensar a actividade sudorífera. Abafava-se. Sentei-me numa mesa onde estava um gajo conhecido. Pedi um Monks com gêlo, (dez paus). Depressa descobri um divertido espectáculo: o serviço era garantido por uma corpolenta preta, rapariga bem disposta e afável, e à medida que se deslocava por entre as mesas, era ver mãos de um lado e outro a poisarem-lhe na imensa bunda. Bamboleando-se, imperturbável, ia servindo aqui e ali, acorrendo aos chamamentos familiares dos estranhos faunos que lhe percorriam as coxas. Estranhos?

Viajei com um Sargento e um Furriel do esquadrão de Bafatá. O Sargento, que tirava do bolso um volumoso molho de notas, pagava sucessivos whiskies para termos a esbelta hospedeira junto de nós.

À minha espera as pessoas queridas. Depois da alegria de reencontrar a namorada, a família e os amigos, ou o que restava do grupo de amigos, já que na generalidade estávamos dispersos pelos caminhos da tropa, nos primeiros dias, acordava e, antes de qualquer compromisso, dava um passeio pela localidade, observava alterações urbanas, novas lojas em substituição de algumas a que me habituara desde menino, reparava em novos modelos de automóveis, num relativo bem estar geral que se evidenciava em pouco tempo, nas alterações da moda feminina, um sem número de diferenças. Nem se pressentia que a nação estivesse em guerra.

Um dos meus desejos foi comer uma sardinhada no António da Mata, uma tasca de justa nomeada.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4409: História da CCAÇ 2679 (18): Deslocação a Bajocunda (José Manuel M. Dinis)

Guiné 63/74 – P4478: Iniciativas da ADFA em Lisboa (3): Almoço/Convívio do pessoal da BA 12 (Pilotos, Mecânicos e Enf Pára-quedistas (Luís Nabais)

1. Promovendo uma das iniciativas da ADFA (Associação dos Deficientes da Forças Armadas), recebemos esta mensagem do nosso camarada Luís Nabais, ex-Alf Mil da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa 1969/71, com data de 6 de Junho de 2009:

Caros Eduardo e Carlos,

Como vos havia já dito e vocês tão amavelmente haviam publicado, quando esta ideia era ainda era apenas uma intenção, gostaria de vos pedir agora a publicação, no blogue, do almoço/convívio do pessoal da BA 12 (Pilotos, Mecânicos e Enfermeiras Pára-quedistas) que, enfim, conseguimos agendar.

Este evento está já publicitado, também, no blogue da malta da BA 12 e, definitivamente, terá lugar no próximo dia 27 de Junho, na sede da ADFA.

Será uma homenagem, onde recordaremos todos aqueles que não conseguimos, nem queremos esquecer.

Alguns fazem questão de cá estar deslocando-se de bem longe, em cadeiras de rodas e, outros, ainda, comparecerão com as suas próteses, mas não querem deixar passar em branco esta homenagem.

São DFA’s, que querem dizer também: EU ESTOU PRESENTE!

As esposas podem e devem participar também.

A cada uma das pessoas inscritas, além da festa e do convívio, será entregue uma medalha comemorativa do evento.

O preço será de 20 €!

NOTAS:
Aquando da publicação do texto inicial, fomos questionados sobre a eventual presença, ou não, nesta confraternização, das “nossas” enfermeiras Paraquedistas!

Estamos à espera que, entre todos os “tertulianos”, muitos as conheçam e as contactem. Peçam-lhes, por favor, para elas marcarem a sua indispensável e tão desejada presença também.

ATENÇÃO: INSCREVAM-SE JÁ… SÓ DISPOMOS DE 15O LUGARES (o espaço não dá para mais).

Localização e estacionamento há e vocês conhecem.

Agradecendo a publicação desta convocatória, bem hajam e um abraço,

Luís Nabais
(Sócio efectivo da ADFA, nº 9724)

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Notas de M.R.:

As inscrições podem ser feitas directamente para aquele blogue (especialistasdaba12@gmail.com) ou para a ADFA, ao cuidado da Dª Conceição Valente, nº Tel-217 512 600. Já agora, a ADFA localiza-se entre a Av Padre Cruz e Av Rainha D.Leonor, no Lumiar. Perto tem o Instituto Ricardo Jorge, e é perto do Estádio do Sporting, parecendo não haver problemas de estacionamento.