quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7328: Kalashnikovmania (2): AK 47 versus G3 (Luís Dias)







Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > CCAÇ 3491 (1971/74) > "Chegada a Galomaro da CCAÇ 3491 [, pertencente ao BCAÇ 3872,]  no dia 9 de Março de 1973. No jipe podemos ver o Alf  Luís Dias, atrás o Fur Baptista,  do 1º Gr Comb,  e ao lado, a sorrir, um guerrilheiro do PAIGC que, no dia anterior, se tinha entregado a uma patrulha nossa na área do Dulombi. A arma é uma Shpagin PPSH 41, no calibre 7,62 mm Tokarev, mais conhecida por "costureirinha" e com a particularidade de ter um carregador curvo de 35 munições, em vez do habitual tambor de 71". (Foto do Luís Dias, reproduzida com a devida vénia, do seu blogue, Histórias da Guiné, 71-74:  A CCAÇ 3491, Dulombi.




1. Texto do nosso camarada  Luís Dias (ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e  Galomaro, 1971/74) que, na vida civil, é  Consultor/Formador em Ciências Criminais e de Segurança (Texto organizado a partir de um comentário ao poste P7322) (*):




Caro Luís Graça


Em primeiro lugar os meu parabéns pelo artigo sobre o armamento (*).


Em relação ao diferendo entre a Kalash (**) e a G3,  devo dizer-te o seguinte: 


(i) A Kalash tem uma ergonomia fantástica e nisso bate a G3;


(ii) É uma arma simples, barata, que trabalha em más condições, possivelmente devido às folgas propositadas no material com que é feita;


(iii) Leva mais munições no carregador, como dizes (30 para 20);


(iv) Mas a cadência de tiro é semelhante (sensivelmente 600 tpm para a Kala e 600 a 700 tpm para a G3);


(v) É uma arma mais curta e portanto mais manobrável;


(vi) Não é tão fiável no tiro de precisão como a G3;


(vii) E no tiro automático (rajada) não é tão equilibrada como a G3 (isto nos modelos AK-47 e AKM, porque a partir do Modelo AK-74, a situação mudou);


(viii) A HkG3A3 era uma arma cara, de mecanismo elaborado, embora também trabalhasse em condições de pouca limpeza e muito comprida para o nosso tipo de guerra;


(ix) A nossa munição era mais poderosa, mas o 7,62mm M43 soviético possuía um filamento 
de aço no núcleo do projéctil que o tornava terrível ao entrar no corpo humano;


(x) Por fim e não menos importante, um dos pontos a favor da HK-G3, em relação à Kalash era a passagem da patilha da posição de segurança, para tiro a tiro: enquanto na G3 o movimento era de um clique (silencioso), da arma dos guerrilheiros era dois cliques (a primeira posição era a de fogo automático e só depois se passava para a posição de tiro a tiro) que não eram silenciosos,  o que na mata podia fazer toda a diferença.

No caso dos dilagramas e no meu tempo, os nossos Gr Comb  usavam-no muito porque percebemos que os rebentamentos eram mais eficazes numa reacção a uma emboscada do que propriamente os tiros de G3. 


Os elementos que transportavam os dilagramas usavam um carregador só com munições apropriadas, devidamente identificado com uma fita de cor berrante (amarelo ou vermelho) e nunca, nunca, usavam só uma munição para atirar um dila e depois tinham a seguir bala real. 


Os lançamentos eram efectuados ao ombro, com arma a 45%, e depois do disparo, contando rapidamente até 12/15, dava-se o rebentamento.


Sobre a bazooka, que nós deixámos de usar no mato (só em colunas e em defesa do aquartelamento), já tínhamos granadas energa (de ponta de mola) que eram anti-pessoaL e que davam um coice terrível, sendo normalmente atiradas com a arma apoiada à anca.


Fiquei muito satisfeito de saber que o meu poste sobre armamento foi muito lido.


Um abraço


Luís Dias


[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
___________


Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 23 de Novembro de 2010 >Guiné 63/74 - P7322: A minha CCAÇ 12 (8): O armamento do PAIGC no meu sector L1 (Bambadinca, 1969/71)


(**) Vd. poste anterior desta série > 29 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6909: Kalashnikovmania (1): Foi o Alf Graduado Comando João Uloma quem me emprestou uma Kalash (António Inverno)

Guiné 63/74 - P7327: Facebook...ando (1): O aerograma traçado de balas ou estilhaços na emboscada de 26/10/1971, na estrada Piche-Nova Lamego, e em que morreram 4 camaradas da CART 3332 (Carlos Carvalho)


O nosso camarada Carlos Carvalho, que ingressou recentemente na nossa Tabanca Grande, publicou,  no mural da nossa conta no Facebook, a seguinte mensagem que nos fez arrepiar a espinha... Achei que devia partilhar isto com o resto dos nossos amigos e camaradas da Tabanca Grande, inaugurando uma nova série, a que chamarei Facebook...ando

Este Aerograma foi-me devolvido tal como está, traçado de balas ou  estilhaços na emboscada de 26/10/1971, efectuada à Coluna  Piche-Nova Lamego, em que faleceram o Alf Mil Soares, o 1º. Cabo Cruz, o  Sold Cond Ferreira e o Sold Manuel Pereira, todos da CART 3332.

Guardo-o religiosamente comigo...

Ele, porém, não diz onde ia o aerograma... Muito provavelmente no saco do correio... Pelo que se depreende, o destinatário era um seu familiar, possivelmente a sua mãe (Rosa Maria Silva Simão Melo Rodrigues de Carvalho), que vivia em Lamego. 

Recorde-se que o Carlos Alberto Rodrigues Carvalho foi Fur Mil da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche e Ponte Caium, 1970/72, é irmão da nossa amiga Júlia Neto e, portanto, cunhado do nosso saudoso Zé Neto (*). 
_______

Nota de L.G.:

(*) 5 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7227: Tabanca Grande (253): Carlos Carvalho, ex-Fur Mil da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche e Ponte Caium, 1970/72, residente em Fânzeres, Gondomar, irmão da nossa querida Júlia Neto

Guiné 63/74 - P7326: Notas de leitura (176): Tempo Africano, de Manuel Barão da Cunha (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Novembro de 2010:

Queridos amigos,
Estou na 23.ª hora.
Depois ficam as saudades.
Prometo contar tudo o que vou ver e sentir.

Um abraço do
Mário


Tempo Africano: aquelas longas horas em 8 andamentos

Beja Santos

O lançamento da 4.ª edição de “Tempo Africano”, de Manuel Barão da Cunha realizou-se em 16 de Novembro, na Livraria Galeria Municipal Verney, em Oeiras.

Imagem alusiva à sessão de lançamento


Casa cheia, vários oradores intervieram para saudar o que há de novo nesta revisitação de Barão da Cunha às suas comissões em Angola e na Guiné, de 1960 a 1962 e de 1964 a 1966, respectivamente. A matriz é sempre a mesma: solidariedade com a gesta do soldado anónimo, o primeiro intento que o moveu é que esses soldados (que tanto pode ser o capelão, o enfermeiro, o ordenança ou o radiotelegrafista) saiam do anonimato neste seu registo de admiração e gratificação. Fala de guerras num tempo ainda que se combatia com catanas e espingarda Mauser. À semelhança da edição anterior, a obra aparece dividida em andamentos, momentos cronológicos estruturados em diálogos entre um veterano da guerra e um jovem ávido em perceber as experiências vividas pelo primeiro. A nova edição junta documentos e testemunhos e traz anexos sobre as diferentes operações em que Barão da Cunha participou. O autor recorre a um alter-ego, Pedro Cid, um quase mancebo que vai comandar dragões em Angola. Descrevem-se os acontecimentos de Fevereiro de 1961, depois Nambuangongo. Pedro Cid não se cansa de elogiar esses seus soldados que participam no contra-ataque na região dos Dembos. Vem depois para Portugal, tira em Lamego a Especialidade em Operações Especiais e parte para a Guiné na CCav 704. Vai ao Morés e combate na região Sul. Na documentação que anexa referente à Guiné fala de duas operações: a operação “Tornado”, que se realizou de 19 a 21 de Setembro 1964 e a operação “Base”, que teve como palco o Oio, entre 4 e 7 de Outubro de 1964.

No tocante à operação “Tornado”, o autor extrai alguns elementos da história do Batalhão de Cavalaria 705:

“A área do Cantanhez não era percorrida desde o início de 1963, pelo que as forças terrestres de Cabedu foram forçadas a limitar muito as suas surtidas, em virtude da força e organização do inimigo na região.

Esta está centrada na principal linha de reabastecimento do inimigo que daí se bifurca em direcção ao Como e a todo o resto da Província.

A população de toda a área colaborava abertamente com o IN, pelo que convinha que as nossas tropas marcassem presença na área, a fim de atingir o IN no seu percurso e permitir às forças de Cabedu um alargamento da sua zona de acção. O IN está comandado por João Bernardo Vieira, “Nino”. Como armamento, dispõe de metralhadoras pesadas e ligeiras, morteiros 82 e eventualmente lança-granadas foguete. (…)

(…) O comando do agrupamento W deslocou-se, durante a operação junto da CCav 707 (…) o major de Infantaria Vitorino Azevedo Coutinho, Oficial de Operações do Agrupamento 17 e Comandante do Agrupamento W, foi do seguinte parecer que dá bem a ideia da satisfação e entusiasmo que este oficial sentiu ao comandar forças do BCav 705:

“(…) A disciplina do seu fogo foi sempre de molde a satisfazer os seus chefes e ainda mais notável foi a sua disciplina de baixo de fogo inimigo, nomeadamente durante o desembarque da CCav 704 (…)”.

O desembarque em Catesse realizou-se pelas 7 horas do dia 20, após a Força Aérea ter comunicado que não era possível dar apoio, em virtude do “tecto” estar muito baixo. Este local de desembarque, por se encontrar a cerca de 120 metros da orla da mata mais próxima e permitir uma actuação eficaz do IN após a acostagem da lancha de desembarque, foi o único em que se previa apoio aéreo (…).

A LDM (Lancha de Desembarque Médio) 301, que transportava o Comando e os dois Grupos de Combate da CCav 707, juntamente com o Comando do Agrupamento W, encostou a um caminho que conduzia a uma mata cerrada. O caminho subia, oferecendo comandamento a quem estivesse instalado naquela, e toda a orla era constituída por tarrafo alagado.

O primeiro Grupo de Combate, que recebera a missão de estabelecer uma testa de praia, desembarcou rapidamente, tendo o resto do pessoal aguardado na LDM. A cerca de 50 metros da orla da mata, rebentou enorme tiroteio de metralhadoras, espingardas e pistolas-metralhadoras, para além de granadas de mão. O sinal que desencadeou a acção foi um tiro de pistola, o que permitiu que, quando a metralhadora abriu fogo, já todo o pessoal se encontrasse no chão. Este Grupo de Combate ficou detido pelo fogo intenso, vindo da mata, e sem possibilidades de manobra…

Conseguiu-se abater um elemento inimigo que fazia fogo em cima duma árvore e criou-se uma base de fogos na posição onde ficou detido o primeiro Grupo de Combate… em lanços sucessivos, a força de manobra conseguiu atingir a orla da mata, expulsando o inimigo (…)”.

A operação “Base” também é registada neste livro, foi uma investida à base de Mansodé, na região do Morés. Estimava-se na época que o inimigo tivesse ali mais de 650 homens. As forças saíram de Bissorã, foi violentamente atacada em Iaron por um enxame de abelhas e durante a evacuação de um sinistrado o inimigo revelou-se.

Encontrou-se um acampamento com cerca de 15 casas de mato, que foi destruído. O contingente do BCav 705 pernoitou na mata de IaronCambaju, foi emboscado, mas o inimigo foi obrigado a retirar. Mais adiante, a CCav 704 foi alvejada e registou-se um ferido. Durante a segunda noite da operação, o inimigo flagelou a força estacionada, tentou assaltá-la mas foi repelido.

“Tempo Africano” foi editado por DG Edições com o patrocínio da Câmara Municipal de Oeiras, Comissão Portuguesa de História Militar e Liga dos Combatentes.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7316: Notas de leitura (175): África Dentro, de Maria João Avillez (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7325: Parabéns a você (177): Tony Levezinho, um grande camarada, um amigo do peito (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Santa Margarida, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) (Luís Graça)

Tavira > CISMI > Almoço do dia do Juramento de Bandeira > Tony Levezinho de lado (elipse encarnada) e César Dias de frente (elipse azul).
Foto de César Dias


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > CCAÇ 12 (Julho de 1969/Março de 1971) 

Foto nº 1 > Saltinho, época das chuvas, 1969 > O Tony Levezinho na Ponte General Craveiro Lopes, inaugurada em 1955.

Foto nº 2 > Eu (de costas) e o Tony Levezinho na margem direita do Rio Corubal, no Saltinho, época das chuvas, 1969


Foto nº 3 > O Rio Corubal, magnífico, com os seus rápidos, visto da ponte do Saltinho, 1970 (?)


Foto nº 4 > Xitole,  Meados de 1970 >  O Fur Mil Enf Coelho, José Alberto Coelho, da CCS/BART 2917, mais o Arlindo Roda, o Tony Levezinho e o António Branquinho (três  Fur Mil At Inf, da CCAÇ 12),  por ocasião de mais uma coluna logística. Foto tirada junto ao monumento aos mortos da CART 2413.

Foto nº 5 > O Tony Levezinho observa o Arlindo Tê Roda a segurar um pequeno jacaré pelo rabo.... Não tenho a certeza onde foto foi tirada: em princípio num aquartelamento ou destacamento junto ao Rio Corubal (Saltinho) ou ao Geba (Xime)...



Foto nº 6 > A estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá... Em pleno coração fula (regulado de Badora),  um rebanho de vacas atravessam pachorrentamente a estrada...


 Foto nº 7 > 1970 (?) > Foto tirada nas proximidades de Bambadinca, com um bando de miúdas


Foto nº 8 > Quartel e vila de Bambadinca > População local passeando junto aos edifícios do comando e instalações de oficiais e sargentos (lado esdquerdo); capela e secretaria da CCAÇ 12, do lado direito


Foto nº 9 > Bambadinca, 1970, ao te,po do BART 2917 (1970/72) > O edifício das messes e quartos de oficiais (à esquerda) e sargentos (à direita). Em dia de chuva, meados de 1970.


Foto nº 10 > Bambadinca > Messe de sargentos > A> malta da CCAÇ 12... O Levezinho está de pé, junto ao bar; à sua frente, e sentados da direita para a esquerda, 1º Srgt Cav Fernando Aires Fragata (deixou-nos ao fim de algum tempo, para seguir o curso de oficias, em Águeda); o Joaquim A. M. Fernandes; o Arlindo Teixeira Roda;  o 2º sargento Conceição, da CCS do BCAÇ 2852 (diz o Almeida);  2º sargento Inf José Martins Rosado Piça; eu, Henriques, atrás de mim, o Fur Mil Trms, José Fernando Gonçalves Almeida Almeida; os outros dois, da ponta, não são reconhecíveis... 

Créditos fotográficos: Arlindo Teixeira Roda (Fotos nº 1, 2, 3, 4, 5 e 10) e Benjamim Durães (Fotos nº 6, 7, 8 e 9)




Algarve > Vila do Bispo > Sagres, Martinhal  > 11 de Junho de 2010 > O Tony Levezinho e o neto ... Foi uma visita tipo rapidinha que eu e a Alice fizemos ao Tony e à Isabel,  na sua acolhedora casa no barlavento algarvio. Como já aqui referi, deu apenas para matar saudades, beber um café e um digestivo e celebrar a nossa velha amizade que teve a Guiné como berço. Com promessas (e sobretudo ameaças) de lá voltar, com tempo e vagar (que é uma coisa que a gente hoje não tem e que pensa que vá ter quando se reformar...)(LG)

Foto: © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados



1. Para o Tony com um xicoração, meu, muito especial; um Alfa Bravo, também especial, do resto da malta da CCAÇ 12 que por aqui pára na Tabanca Grande; votos de parabéns dos meus co-editores e dos demais camaradas que te conhecem ou conheceram no TO da Guiné... 63 aninhos é obra, mas seis e três são nove, e fora nada ?!... Qual quê! É já uma  vida, dois terços de uma vida, bem puxada mas bem vivida...(*)

Os teus anos (cuja data que eu nunca esqueço, por razões que tu sabes e que eu já publicitei, aqui, no nosso blogue, em 24 de Novembro de 2006, quando fizeste 59...) (**) são apenas um pretexto para:  (i) reavivar as nossas memórias dos bons e maus momentos de Santa Margarida, Contuboel e Bambadinca, (ii) reforçar a nossa bela camaradagem e amizade (que já tem mais de 40 anos, e começou no Campo Militar de Santa Margarida) e, enfim, (iii) celebrar a vida e a esperança no futuro (dos nossos filhos e netos, do nosso povo, do nosso país, do nosso planeta)... 

Sei que és um "tabanqueiro" pouco assíduo, mas hoje quis-te fazer um surpresa com um conjunto de dez imagens retirados dos velhos diapositivos dos nossos camaradas Arlindo Roda (CCAÇ 12) e Benjamin Duarães (CCS/BART 2917),  convertidos para formato digital e editados por mim... É a nossa prenda, minha, do Roda  (que não vejo desde o nosso 1º encontro, em  Fão, Esposende, 1994) e do Durães (com quem tenho estado mais frequentemente, nos últimos encontros da malta de Bambadinca). E, claro, é também uma prenda do nosso blogue. 

A  última imagem (foto nº 10) está desfocada, mas também não temos muitas fotos em grupo... Naquela época, o flash era um luxo...Muitas das fotas de interiores são de má qualidade... Não quis, no entanto, de seleccionar esta imagem do nosso "bar e messe", em Bambadinca, onde dávamos de "beber" à dor, à saudade, à irreverência e à rebeldia... Voltei lá, a Bambadinca, em Março de 2008: não tive "coragem" de revisitar as nossas antigas instalações, fiquei à entrada, na parada, mas lembrei-te de ti e dos nossos restantes camaradas de Bambadinca (da CCAÇ 12, do BCAÇ 2852, do BART 2917, e subunidades adidas que lá estiverem connosco: Pel Rec Inf, Pel Rec Daimler, Pel Mort, Pel Caç Nat, Intendência, Engenharia ...).

Uma outra pequena prenda: eu sei que a nossa memória já não é o que era... Mas, mesmo assim, já reconstituímos a letra, de que tu foste o principal autor, e em que gozávamos com o 1º Sargento Brito, da CCS/BART 2917 (hoje, major, reformado, vivendo em Coimbra), e com os nossos Baldés... Aqui vão os versinhos, reconstituídos,  com a ajuda do Humberto Reis e do Gabriel Gonçalves.

Espero que gostes das nossas prendas. Que passes um belo dia com a tua Isabel, os teus filhos e o teu neto. Até à próxima, por aqui, em Lisboa, ou em Martinhal.

Brito... que és militar!

Letra: Tony Levezinho
Música: Fado "Povo que lavas no rio" 
[Música: Fado Victória; Letra: Pedro Homem de Melo; criação de Amália Rodrigues, 1961]



Brito, que és militar,
Que vieste p'rá Guiné,
Em mais uma comissão,
(Bis)
Na CCS ficaste,
Para aturar o Baldé,
A pedir-te patacão.
(Bis)

Fui ver à secretaria,
Por ouvir a gritaria
Que fazia confusão:
(Bis)
- Mim quer saco de bianda!
- Põe-te nas putas, desanda,
Que a mim cá têm patacão!
(Bis)

Filho da puta e sacana
É o que eles te chamam,
Tenho a mesma condição
(Bis).
- Mim quer saco de bianda!
- Põe-te nas putas, desanda,
Que a mim cá têm patacão.
(Bis)

Mamadús,  eu vos adoro,
se for preciso eu choro,
mas Patacão... é que não!
(Bis)

________


Notas de L.G.:


(**) Vd. também  poste de 
24 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5332: Álbum fotográfico de Vitor Raposeiro (Bambadinca, 1970/71) (1): Em dia de anos do Tony Levezinho, lembrando o nosso Novembro negro (CCAÇ 12, 1969/71)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7324: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina (8): Dia de Aniversário

1. O nosso Camarada Manuel Traquina, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, enviou-nos, com data de 21 de Novembro de 2010, a seguinte mensagem:

Camaradas,

Para que possa constar no blogue o meu dia de aniversário é o dia 5 de Junho. Aproveito para enviar este texto que consta no meu livro “Os Tempos de Guerra”que relata um “equívoco” passado na messe de Buba naquele dia 5 de Junho de 1969.
Dia de Aniversário
Naquele dia o jantar tinha terminado, a messe de sargentos de Buba estava em “festa”. Normalmente era assim, quando alguém fazia anos.
Era a minha vez, era o dia 5 de Junho de 1969, dia do meu aniversário. Completava 24 anos de idade, contava já cerca de dois anos e meio de serviço militar e, para regressar a Portugal calculava que me faltava à volta de um ano. Tinham-se bebido umas frescas cervejas e, animadamente cantava-se a canção, Senhor de Matosinhos/ Senhor da Boa hora/ Ensinai-nos o Caminho/ Para sairmos daqui para fora. Além de outras esta, pela sua letra, era a preferida.
A música vinha da viola do Cardoso da 15ª Companhia de Comandos, e do acordeon do Gonçalves da CCS do Batalhão 2834. O Furriel Henrique, (mais conhecido pelo Henrique da Burra) com a sua habitual actuação teatral, punha todos a rir. Aquela alcunha ao que parece tinha sido herdada do seu pai, que lá para os lados de Cascais, era bastante conhecido pelo “Chico da Burra”.
Naquele dia o Henrique da Burra, descalço, e com uma toalha atada á cintura, simulando uma mini-saia, tentava imitar a bonita e popular cantora inglesa Sandiechow, que tinha sido concorrente ao festival da Eurovisão.
Assistindo a esta festa estava o Dr. Franco, médico do aquartelamento de Buba, acabado de chegar de Bissau, estava visivelmente desambientado, apenas abanava a cabeça, enquanto dizia “ estão todos apanhados”, assim achou melhor retirar-se. Mas quando a “festa” atingia o seu auge, eis que se gera o pânico. Atropelando-se, todos largam a correr porta fora em busca de abrigo. Ouvira-se o que se julgou ser a “saída” de um morteiro iniciando mais um ataque. Afinal tudo não passara do bater da porta do frigorífico do bar que produzia o ruído semelhante à saída da granada do morteiro.
O Simplício, encarregado do bar, foi repreendido para não voltar a bater assim com a porta do frigorífico. É que, naquela situação de guerra em que se vivia, qualquer barulho do género era suspeito. Bem, depois de tudo acalmar beberam-se mais umas cervejas, e a festa continuou embora tivesse perdido um pouco o seu ritmo. Foi esta a festa do meu 24º aniversário que ficou para não mais ser esquecida.

Um abraço,
Manuel Traquina,
Fur Mil At Inf da CCAÇ 2382
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4327: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (7): O saxofone que não tinha sapatilhas

Guiné 63/74 - P7323: Agenda Cultural (90): Lançamento do livro A Última Missão, de José de Moura Calheiros, dia 29 de Novembro de 2010, no Aquartelamento da Academia Militar (António Dâmaso)

1. Mensagem de António Dâmaso*, Sargento-Mor na situação de Reforma Extraordinária, com data de 23 de Novembro de 2010:

Caro amigo,

O Coronel Pára-quedista Moura Calheiros vai lançar o livro em referência. Esta obra narra a actividade das Tropas Pára-quedistas nos três teatros de operações. É baseada em relatórios de operações e depoimentos, faz um enfoque especial aos três camaradas que ficaram para trás no cemitério de Guidage.


Um abraço
Dâmaso



AGENDA CULTURAL

CONVITE


__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6733: Parabéns a você (132): Recordando outros aniversários (António Dâmaso)

Vd. último poste da série de 2 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7209: Agenda Cultural (89): Lançamento dos livros Estranha Noiva de Guerra, de Armor Pires Mota e Tempo Africano, de Manuel Barão da Cunha (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7322: A minha CCAÇ 12 (8): O armamento do PAIGC no meu sector L1 (Bambadinca, 1969/71)





Um curioso manuscrito de Amílcar Cabral, com o croquis da Frente Leste, Sector 2, Área de Xime.  S/d. Arquivo Amílcar Cabral. Fundação Mário Soares... Clicar aqui para aceder à explicar deste documento.

Imagem digitalizada e reproduzida com a devida vénia...

Fonte: Fundação Mário Soares: Arquivo Amílcar Cabral. Bissau, Cidade da Praia, Lisboa. Lisboa: Fundação Mário Soares. 2005. p. 13.







Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) >  Cambança de uma bolanha, na região do Xime... Foto possivelmente tirada ainda em 1969, no final da época das chuva, que foi também de intensa actividade operacional... Infelizmente não tenho as legendas das magníficas imagens (originalmente diapositivos convertidos para formato digital) que o Arlindo Roda teve a gentileza de me mandar, através do Benjamim Durães (CCS / BART 2917, 1970/72). Em primeiro plano, o Fur Mil At Inf Roda, o Alf Mil Op Esp Francisco Moreia (comandante do 1º Gr Comb) e, senão me engano, o Sold nº 82105369 Mamadu Silá, Ap LGFog 3.7, que pertencia à 2ª secção do 1º Gr Comb, comandada pelo Fur Mil At Inf, Joaquim João dos Santos Pina, ilusionista, acordeonista, algarvio de Silves (mais tarde, dois ou três depois, ferido em combate).


Foto: © Arlindo T. Roda  (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




1. No Sector L1, na Zona Leste da Guiné, ao tempo da 1ª comissão da CCAÇ 12 (Maio de 1969/Março de 1971) (*), o armamento utilizado pela guerrilha do PAIGC (o IN, para abreviar e em linguagem dos nossos relatóriso) era equivalente (ou até ligeiramente superior) ao nosso.


Esse armamento era praticamente todo de origem soviética, produzido na ex-URSS ou noutros países do então bloco soviético. Mas também de origem chinesa. De facto, recordo-me de termos também apreendido material de fabrico chinês (por exemplo, granadas de RPG).


Na época, e pelo menos na Zona Leste, o IN não dispunha, naturalmente, de meios aéreos ou navais (para além de botes de borracha, no Rio Corubal) nem de artilharia pesada. Não me consta, por exemplo, que tivesse antiaéreas, apenas referenciadas no meu tempo nas zonas fronteiriças, no norte e no sul (Parece que a metralhadora mais usada pelo PAIGC era a ZPU-4, uma arma de quatro canos, de calibre 14.5, de fabrico soviético, instalada em reboque).


De uma maneira geral, um bigrupo (40 a 50 guerrilheiros) estava equipado com o seguinte armamento ligeiro:


(i) pistolas-metralhadoras PPSH, de calibre 7.62, de origem russa (as famosas e enervantes costureirinhas): não tinha equivalente nas NT, já que no mato não usávamos a pistola-metralhadora fabricada na FBP; a PPSH (ou Shpagin) tinha uma cadência de tiro 700/900 por minuto, e usava dois tipos de carregadores: um circular (tambor) e outro curvo [, imagem à esquerda, crédito fotográfico: Nordik Institute of Africa, Suécia];


(ii) espingardas automáticas Kalashnikov , dotadas de carregadores curvos de 30 munições de 7.62 (com uma cadência de tiro, portanto, superior à nossa G-3, que dispunha de carregadores de 20 munições, de 7.62); era considerada uma arma de elite, pelo que nem todos os combatentes do PAIG a podiam usar;


(iii) espingarda semiautomática Simonov, também de origem russa e do mesmo calibre, dotada de uma baioneta extensível (era vulgar encontrar-se nos acampamentos do IN, sendo mais utilizada por elementos da população em autodefesa, nas áeras controladas pela guerrilha);


(iv) metralhadoras ligeiras Degtyarev, também de calibre 7.62, com tambor (não sei se eram melhores ou piores que a nossa HK-21, de fita, que encravava com alguma facilidade, nas difíceis condições do mato, debaixo de fogo, com o calor, com a chuva, com o pó...);


(v) 2 morteiros 60;


(v) vários RPG-2 ou RPG-7 (O RPG é um lança-granadas-foguete equivalente à bazuca, mas mais flexível e mais leve).






A Kalash, a famosa AK-47, desenhada pelo russo Mikhail Timofeevich Kalashnikov (nascido em 1919) equipava na altura todos os exércitos de guerrilha do mundo, além dos exércitos do Pacto de Varsóvia. Até meados dos anos 90 calcula-se que se tenham fabricado mais de 70 milhões de AK-47, de acordo com o modelo oficial ou em versões pirateadas.


Esta arma, a AK-47,  continua no imaginário de todos os ex-combatentes da Guiné. Recordo-me de em Bambadinca, no regresso da operação de invasão a Conakry (Op Mar Verde, 22 de Novembro de 1970), alguns graduados da 1ª Companhia de Comandos Africanos, sediada em Fá Mandinga (de que era régulo o tuga Jorge Cabral, entretanto já en Missirá, se não me engano) andarem a oferecer-nos kalash, que faziam parte parte dos seus roncos, pelo preço de três ou quatro garrafas de uísque velho ou dez de uísque novo (500 pesos). No entanto, no confronto com a kalash, um experimentado combatente, comando, como o nosso camarada Mário Dias não tinha dúvidas em escolher a nossa G-3 [, imagem acima].




2. Segundo informações de um prisioneiro feito pelas NT, na região do Xime, já aqui referido várias vezes, de seu nome Malan Mané,  em Julho de 1969 o grupo especial de roqueteiros da zona do Poidon que se deslocavam todas as manhãs para Ponta Varela a fim de atacar as embarcações em circulação no Rio Geba e/ou defender a entrada do Rio Corubal, dispunham de seis lança-granadas RPG-2 (, o que quer dizer que o RGP-7 ainda não tinha chegado à Frente Leste, ou pelo menos ao chamado sector 2).


O RPG (em inglês, rocket-propelled grenade launcher), e sobretudo o RPG-7, era a arma mais temida pelos nossos soldados não só nas emboscadas, nas estradas e picadas, como sobretudo no mato, nas emboscadas em L.


O RPG-2 (, imagem à direita,] era uma arma anticarro, de fabrico soviético. O carregamento da granada, de formato cónico, era feito pela boca. O calibre do tubo, era de 40 mm. E o da granada, 82 mm. O seu alcance, contra pessoal, não ia além dos 150 metros. O RPG-7 era já mais sofisticado do ponto de vista tecnológico: o seu sistema de autodestruição da granada permitia que fosse disparada para o ar, tal como o nosso dilagrama, provocando uma chuva de terríveis estilhaços.


As mortíferas lâminas de aço dos rockets foram responsáveis pela maior parte das 15 baixas (6 mortos e 9 nove feridos) sofridas pelas NT no decurso da Operação Abencerragem Candente, que sofremos a caminho da Ponta do Inglês, em 26 de Novembro de 1970, vai agora fazer 40 anos (!),


Tanto o RPG-2 como o RPG-7 também eram muito eficazes contra as nossas viaturas, embora  não tivessemos viaturas blindas de jeito (No Sector L1, havia apenas um Pel Rec Daimler, praticamente inoperacional: desculpa, Jaime Machado, desculpa, Zé Luís Vacas de Carvalho, vocês fizeram das tripas da coração ...). 


Contra alvos fixos o RPG era eficaz até 50/100 metros (O RPG-7 tinha mais alcance: 500 metros). Muito certeiro e de fácil manejo, o RPG era muito mais adequado àquele tipo de terreno (floresta tropical e savana arbustiva, de capim alto e denso) e de guerra (de guerrilha) do que o nosso lança-granadas, a pesada bazuca americana de 8.9, uma clássica arma anti-tanque... O mais caricato é que as NT só dispunham de munições anti-carro (!). Devido ao seu peso, o transporte das granadas de bazuca, sobretudo em operações no mato, eram um problema, pelo que era frequente recorrer-se a carregadores nativos. A CCAÇ 12, logo em 1969 (no 2º semestre), passou a usar o lança-granadas dos pára-quedistas, de calibre 3.7, conforme documenta a imagem, do Arlindo Tê Roda.


Em cada um dos grupos de combate da CCAÇ 12 havia pelo menos um ou dois apontadores de dilagrama (dispositivo de lançamento de granadas de mão). Mas esta arma não gozava das nossas simpatias, por ser perigosa e embora muito eficaz: a primeira morte a que assisti, a meu lado, a do Ieró Jaló, do 1º Grupo de Combate foi causada por um dilagrama (Região do Xime, Op Pato Rufia, 7 de Setembro de 1969, como já aqui descrevi). [Imagem à esquerda, o nosso querido amigo e camarada Torcato Mendonça, em Mansambo, 1968, com a G3 pronta a disparar um dilagrama, e à cintura, com uma granada de mão defensiva].


A granada do dilagrama era uma granada de mão defensiva, m/963, sendo montada em suporte com um encaixe oco que se adaptava no cano da espingarda automática G-3. No seu lançamento usava-se um cartucho de salva (sem bala). Para o disparo tirava-se o carregador e introduzia-se manualmente o cartucho de salva. Este compasso de espera, aliado à impossibilidade temporária do uso da G-3 e ao risco do seu manuseamento, tornaram o dilagrama uma arma muito impopular entre as NT.


Nos ataques e flagelações às nossas posições fixas (aquartelamentos do exército, destacamentos de milícia, tabancas em autodefesa), os guerrilheiros utilizavam frequentemente o não menos temível canhão sem recuo (75, de origem chinesa, e 82, de origem soviética). Por razões logísticas e de transporte, era armas sobretudo utilizadas em ataques planeados (por exemplo, contra Bambadinca, em 28 de Maio de 1969). Tal como o morteiro 82, com um alcance de 3 km. Estas armas pesadas equipavam os grupos de artilharia, referenciados em Mangai, junto ao Rio Corubal, e Madina/Belel, no regulado do Cuor, a norte do Geba. (Vd. mapa do Sector L1, Bambadinca).


Os grupos especiais do IN, quer de artilharia (canhão sem recuo e morteiro 82) quer de RPG, eram extremamente móveis. Em contrapartida, as NT praticamente não usavam (ou usavam pouco) o canhão sem recuo (pelo menos no meu sector: havia um referenciado no Saltinho, que causaria a morte do Sargento Parente).


Por vezes o IN utilizava também a metralhadora pesada Goryunov, de calibre 7.62, que também podia ser usada como antiaérea. E sobretudo a Degtyarev, de origem russa, mas de calibre 12.7, equivalente à nossa Breda ou à nossa Browning (que estava instalada nalguns aquartelamentos: em Bambadinca, por exemplo, varria a pista de aviação). Pelo menos num dos ataques uma tabanca em autodefesa,  em Candamã, em 30 de Julho de 1969,  foram encontrados invólucros de 12.7 (portanto, da Degtyarev).


Ainda no nosso tempo apareceram, na Guiné, os primeiros foguetões Katiusha, de 122 mm, inicialmente pouco certeiros, é certo, mas com grande poder de destruição e não menos impacto psicológico junto das NT e populações. De fácil manejo e de relativamente fácil transporte (às costas, no interior do território), seriam utilizados preferencialmente contra os grandes alvos militares (aeroporto de Bissalanca…) e concentrações urbanas (Bolama, Bissau...). As granadas, com um peso de 18 kg. (dos quais 6.5 de explosivo), tinha um raio de morte de 160 m2, e ao explodir produzir cerca de 15 mil estilhaços.


Segundo informação recolhida pelo meu querido camarada, amigo e co-editor Virgínio Briote, a antiga URSS foi o primeiro país a utilizar os lançadores múltiplos de foguetes durante a Segunda Guerra Mundial. Foram utilizados pela primeira vez em Smolensk, em 1941, durante a invasão alemã. A este sistema foi dado o nome de Katiusha. Os soldados soviéticos chamavam-lhe os "órgãos de Estaline". O Paulo Santiago terá dos primeiros a vê-los nos céus da Guiné, na segunda-feira de Carnaval de 1971, lá para os lados do Saltinho. Eu confesso que os nunca vi (nem senti) lá para os meus lados (nessa altura ainda estava em Bambadinca, Sector L1)...


Só mais tarde, já em Março de 1973, apareceriam os mísseis terra-ar que os egípcios também utilizaram contra os tanques israelitas na guerra do Kippour.  Recorde-se que a utilização dos mísseis terra-ar Strela (SA-7 Grail-Strela) pelo IN, pela primeira vez em 25 de Março de 1973, sob os céus de Guileje, foi responsável pela queda de um Fiat G-91 (pilotado pelo tenente pilav Miguel Pessoa que, felizmente, está vivo da costa e faz parte orgulhosamente da nossa Tabanca Grande: foto à esquerda, em Bissalanca, em 1974, de novo no activo, depois de alguns meses no "estaleiro", em Lisboa).


Não se pode-se dizer que esta arma antiaérea fosse terrivelmente  eficaz contra as nossas aeronaves (helicópteros, avionetas, bombadeiros T-6, caças Fiat G-91, estes últimos aviões a jacto subsónicos): em 60 lançamentos (estimativa) o Strela derrubou 5 aeronaves (taxa de eficácia de 8,3%). Possivelmente foi mais psicológico o seu efeito, ao aumentar o moral da guerrilha e deixar as NT inicialmente confusas e até em estado choque com a morte de vários pilotos, incluindo


Este míssil era dotado de uma cabeça com detector de infravermelhos, sendo por isso atraído pela fonte de calor emitida pelos motores das aerobnaves. A sua velocidade era impressionante (mach 1,5 ou 1600 km/hora). O seu alcance era contudo muito limitado: pouco mais de 3 km. Os nossos helicópteros e restantes aeronaves, para não serem atingidos, tinham que passar a rasar a copa das árvores ou voar acima dos 1500 metros de altitude.


O Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra, tem uma boa página em que se compara os armamentos das duas partes em conflito. Sobre a artilharia onde, aparentemente, as NT levavam vantagem, o documento diz que "na Guiné, a situação em 1966 era a utilização dos obuses 8,8 cm por pequenas unidades (nove pelotões a duas bocas de fogo cada), mas a partir de 1968 passaram a existir meios mais modernos e mais potentes", a saber: (i) 19 obuses de 10.5 cm, correspondendo a três baterias; (ii) seis obuses de 14 cm, correspondendo a uma bateria; (iii) seis peças de 11.4 cm, correspondendo a uma bateria. "Estes últimos materiais, dado o seu alcance, já permitiam o apoio a vários aquartelamentos a partir de uma posição central, mas a falta de meios de aquisição de objectivos impedia uma contrabateria eficaz. As dificuldades apontadas para os morteiros eram semelhantes às da artilharia, se bem que na Guiné, dada a sua menor extensão e a quadrícula mais apertada das unidades, os problemas fossem menores", pode-se ler-se ainda no documento em referência.


Convém não esquecer as minas, as terríveis minas A/P e A/C... Há camaradas que sabem disto a potes, já que têm/tinham a especialidade de minas e armadilhas, a começar pelo meu querido co-editor, Carlos Vinhal [, aqui na foto, à esquerda].


Sobre este tópico pode ler-se na página Centro de Documentação, acimna citado: (...) "As MINAS foram as mais temidas de todas as armas que os nossos militares enfrentaram nos três teatros de operações. Utilizadas de forma isolada, ou conjugadas com emboscadas, limitaram fortemente a mobilidade das forças portuguesas em acções tácticas e logísticas, apeadas ou em viatura, sendo também responsáveis por atrasos nos reabastecimentos, por destruições em veículos e, acima de tudo, por elevada percentagem de baixas. 


"Embora a estatística não esteja feita, amostragens dos três teatros de operações permitem considerar que, no mínimo, 50 por cento das baixas portuguesas (mortos e feridos) foram provocadas por engenhos explosivos. Um tipo de guerra altamente compensador para os movimentos de libertação, cujos objectivos eram apresentados do seguinte modo, nos apontamentos de um curso frequentado na Argélia por quadros do PAIGC: 'Realiza-se a guerra de destruição e de minas para fazer obstáculo atrás dos inimigos, para aniquilar as suas armas modernas, ameaçá-los e paralisá-los'. (...)


" Na Guiné, a primeira mina referenciada era anticarro, colocada na estrada Fulacunda-São João, em Julho de 1963, tendo sido aqui também utilizadas minas aquáticas nos rios, que chegaram a inutilizar lanchas". (...)


O nosso camarada Luís Dias, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74, tem igualmente uma série de postes sobre armamento jutilizado no TO da Guiné quer pelo PAIGC quer pelas NT. Refira-se, a título de mera curiosidade, que o seu poste P5690 [:Armamento (2): Pistolas, Pistolas-Metralhadoras, Espingardas, Espingardas Automáticas e Metralhadoras Ligeiras] é o mais visto de  todos os postes do nosso blogue, com mais de 600 visualizações, no período que vai de Julho de 2010 até hoje (só temos estatísticas desde então).


De qualquer modo, da comparação do IN e das NT, poder-se-ia tirar a conclusão da "equivalência" do armamento entre as partes em conflito: "se exceptuarmos a artilharia (com as limitações já apontadas) e as viaturas blindadas (de emprego também limitado), pode dizer-se que o combate terrestre se travou, salvaguardando os efectivos, entre iguais " (Centro de Documentação 25 de Abril). 


Ainda sobre as limitações do nosso armamento, vd o portal Guerra Colonial, da A25A.


Não se pode, todavia, menosprezar o potencial de fogo de uma unidade de intervenção como a CCAÇ 12, cuja orgânica (e armamento) já aqui foi apresentada (vd. poste P6647)(*):  


(i) 4 Grupos de Combate, cada um com 28 homens, 3 secções; 
(ii) em cada Gr Comb, havia 3 ou 4   apontadores de dilagrama; 
(iii) mais 2 apontadores de LGFog 8,9 ou 3,7; 
(iv) mais 1 apontador de Met Lig HK 21; 
(v) e mais 1 apontador de Morteiro 60 (mais os respectivos municiadores)... 


No total cerca de 90 espingardas automáticas G3, cada uma com 5 a 6 carregadores (100/120 munições)... e muitas granadas defensivas.
____________


Nota de L.G.:


Último poste desta série > 

28 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7048: A minha CCAÇ 12 (7): Op Pato Rufia, 7 de Setembro de 1969: golpe de mão a um acampamento IN, perto da antiga estrada Xime-Ponta do Inglês, morte do Sold Iero Jaló, e ferimentos graves no prisioneiro-guia Malan Mané e no 1º Cabo António Braga Rodrigues Mateus (Luís Graça)

(*) Vd. poste > 21 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6447: A minha CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971) (1): Composição orgânica (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P7321: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (10): As desilusões históricas ou Portugal não é para levar a sério?

1. Texto do nosso camarada António Rosinha enviado em mensagem do dia 19 de Novembro de 2010:


Caderno de notas de um Mais Velho (10)

As desilusões históricas ou Portugal não é para levar a sério?

Quando um país tem uma luta diplomática e militar para formar a união do maior território geográfico jamais imaginado que é o Brasil, esse mesmo país perdia pelas armas e pela diplomacia aquele apêndice alentejano que é Olivença.

Contraste que parece uma anedota.

Mais tarde arrancámos cabelos, fizemos um hino nacional, e matámos o rei eterno com 800 anos de idade por causa da subtração aos nossos territórios africanos do tal mapa cor-de-rosa. Se por Olivença não acabámos com o Rei, porque o havíamos de fazer por causa de um território que só conhecíamos no papel?

Mais tarde o país zangou-se com o homem que nos pôs em guerra para lutar por uma ideia lusíada imperial. E, apesar de zangado, só depôs Salazar, o tal homem, 6 anos depois de ele cair da cadeira e este ficar arrumado, porque? Demorámos 6 anos porque os capitães ainda eram apenas alferes? E tinha que ser a revolta dos Capitães de Abril de 1974?

Esta análise também não é para levar a sério, porque se fosse já historiadores tinham analisado. Mas, pelos vistos, deixamos para amanhã o que podemos fazer hoje, quando talvez fosse melhor de outra maneira.

Mas se o segredo para sobrevivermos é andar contra a lógica, que muitas vezes é andar "contra os ventos da história", não vamos desvendar o segredo a ninguém, porque já consta que há por aí uns bascos que vêm cá para aprender como é. Mas o segredo vai morrer connosco.

É o meu ponto de vista. Só e apenas meu, porque não seríamos nós, se cada português não tiver o seu próprio ponto de vista.

E quando se fala de guerras perdidas ou ganhas, connosco pode ser o contrário. Porque nestas coisas, a nossa lógica não é igual à de outros povos.

Os políticos em Portugal ainda hoje discutem se havíamos de entrar na I Grande Guerra ou não.

Um abraço,
Antº Rosinha.

P.S. - Não sei se é possível adaptar para o blogue por causa dos mapas, pode ser complicado.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7271: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (8): A Suíça de África, o narcotráfico, a justiça e a falta que faz o Luís Cabral