quarta-feira, 13 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10029: Fichas de Unidades (9): A CCAÇ 16, constituída no essencial por camaradas de etnia manjaca (Teixeira Pinto, Bachile e Churobrique, fevereiro de 1970/agosto de 1974) (José Martins)




Guiné > Região do Cacheu >  Bachilé > CCAÇ 16 (1972/74) > Foto de grupo [, pede-se ao António Branco, que parece ser o primeiro, da segunda fila, de pé, a contar da direita, para identificar os restantes elementos do grupo].

Foto:  
 © António Branco (2010). Todos os direitos reservados




Guiné > Região do Cacheu > Bachile > CCAÇ 16  (1972/74) >  Os fur mil José Romão (à direita) e Bernardino Parreira (à esquerda), dois algarvios de Vila Real de Santo António e Faro, respetivamente. Ao fundo, no memorial, lê-se: "Para uma Pátria una e indivisível, a Companhia Manjaca [,CCAÇ 16, constituída em 1970] está defendendo o seu chão da cobiça de estranhos, ainda que tenha de derramar o seu sangue".

Foto:  
© José Romão (2010). Todos os direitos reservados  

1. Notas sobre a Companhia de Caçadores n.º 16, compiladas pelo nosso colaborador permanente José Martins, ex-Fur Mil Trms,  CCAÇ 5, Os Gatos Pretos (Canjadude, 1968/70):


(i) A CCAÇ 16, subunidade do recrutamento local, foi organizada no Centro de Instrução Militar (CIM),  de Bolama, em 4 de Fevereiro de 1970;


(ii) À semelhança de outras, da chamada "nova força africana", era constituída por quadros (oficiais, sargentos e praças especialistas) de origem metropolitana e por praças guineenses, neste caso de etnia manjaca;


(iii) Colocada em Teixeira Pinto (ou Canchungo), em 4 de Março de 1970, destacou dois pelotões para Bachile, passando a estar integrada no dispositivo do BCAÇ n.º 1905, e substituindo a CCAÇ n.º 2658, que se encontrava em reforço no sector;


(iv) Em 30 de Abril de 1970, já com o quadro orgânico de pessoal completo, passa a ser a unidade de quadrícula de Bachile;


(v) Em 28 de Janeiro de 1971 passa a depender do CAOP 1 (com sede em Teixeira Pinto);


(vi) A partir de 1 de Fevereiro de 1973, fica na dependência do BCAÇ n.º 3863 e do BCAÇ n.º 4615/73, que assumiram, a seu tempo, a responsabilidade do sector em que aquela subunidade estava integrada;


(vii) Destacou forças para colaborar nos trabalhos de reordenamento de Churobrique;


(viii) Em 26 de Agosto de 1974, desactivou e entregou o quartel de Bachile ao PAIGC, recolhendo a Teixeira Pinto, onde foi extinta a 31 de Agosto desse ano;


(ix) Assumiram o comando desta subunidade os seguintes oficiais:

Cap Inf Rolando Xavier de Castro Guimarães
Cap Inf Luciano Ferreira Duarte
Cap Mil Inf José Maria Teixeira de Gouveia
Cap QEO [Quadro Especial de Oficiais] José Mendes Fernandes Martins
Cap Inf Abílio Dias Afonso [, foto à esquerda; hoje maj gen ref]
Cap Mil Art Luís Carlos Queiroz da Silva Fonseca
Cap Mil Inf Manuel Lopes Martins;

(x) Esta subunidade não tem História da Unidade: existem apenas alguns registos, muito incompletos, relativo aos períodos de 1 de Janeiro a 31 de Setembro de 1972 e de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro de 1973 (Vd. Arquivo Histórico Militar, caixa n.º 130 – 2.ª Divisão/4.ª Secção). 





(i) António Graça de Abreu (Estoril/Cascais): Creio que meu tempo no CAOP 1 em Teixeira Pinto,(Junho 1972 a Abril 1973,) a CCaç 16 era comandada pelo capitão Abílio Dias Afonso. O infatigável ratão de bibliotecas e arquivos, o nosso bom amigo José Martins, descobre sempre tudo.



(ii) Bernardino Parreira (Faro) [, foto atual à direita]: Caros Camaradas, estive em Bachile, como Furriel Mil na CCaç 16 de Jun/72 a Fev/73, sob o comando inicial do capitão Martins e posteriormente do capitão Afonso. 


Estive na situação de diligência visto que a minha companhia estava sediada em S. Domingos. Regressei à Metrópole em Março de 1973.


(iii) António Branco (Lisboa) [, foto atual à esquerda]: Estive no Bachile, de Junho de 1972 a Março de 1974, sou o ex-1.º cabo de reabastecimento de material e tinha a cargo a arrecadação de material e fardamento cujo chefe era o 2.º sargento Guerreiro.



Desde o meu regresso só tive oportunidade de contactar com um camarada que foi operador cripto, o 1.º cabo Miranda. Reconheço os nomes do furriel Parreira e do António Graça e era interessante que ao fim destes anos fosse possível reencontrar algum dos que durante algum tempo partilharam momentos muito interessantes. Um abraço a todos e o meu endereço é o seguinte
asdbranco@gmail.com

(iv) Bernardino Parreira:

Camarada António Branco: Graças a este blogue vamos tendo notícias dos amigos que fizemos e que pensávamos não mais encontrar. Pois de facto partilhamos bons momentos juntos, e longas conversas, eu tu e o sargento Guerreiro, de quem não tive mais notícias. Também me lembro do Miranda, também grande amigo. O António Graça a que te referes deve ser o Furriel mecânico, porque o Alferes António G. Abreu estava em Teixeira Pinto.

 Foi com grande emoção que vi a foto da Ponte Alferes Nunes e o Rio Costa, onde tantas vezes afoguei as minhas mágoas. Era com os banhos no Rio e com os jogos de futebol, que jogava pela companhia CCAÇ 16, em Teixeira Pinto, que aliviava o meu stress.




Também tenho saudades dos camaradas africanos, e foram tantos os amigos que lá deixei. Pode ser que um dia nós nos encontremos, ou nos contactemos, através de e-mail ou do blogue. Gostava de ver uma fotografia tua aqui publicada, que eu também vou providenciar a digitalização da minha, para ver se nos vamos recordando das caras que há 36-37 anos deixamos de ver.



(v) Miranda: Olá,  caros amigos e colegas de Teixeira Pinto... Tal como vocês, conheci muitos amigos. Sou o ex-1.º Cabo Enfermeiro Miranda e gostava de ter os vossos endereços de e-mail para contactar. O meu é: carlosrogeriomiranda@hotmail.com.

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 Notas do editor:

(*) Último poste da série > 24 de outubro de 2010 > 
Guiné 63/74 – P7169: Fichas de Unidades (8): Batalhão de Caçadores N.º 4514/72 (Guiné, 1973/74) (José Martins)


(**) Postes sobre a CCAÇ 16 (1970/74):

 25 de junho de 2010 > Guine 63/74 - P6643: Memória dos lugares (86): Bachile, chão manjacho (José Romão, ex-Fur Mil, CCAÇ 16, 1971/73 / António Graça de Abreu, ex-Alf Mil, CAOP1, 1972/74)
6 de julho de 2010> Guiné 63/74 - P6680: O Nosso Livro de Visitas (92): A. Branco, CCAÇ 16, Bachile, chão manjaco, 1971

10 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6709: Tabanca Grande (228): António Branco, ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74


13 de julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6726: Memórias do Bachile, chão manjaco (1): O que será feito do menino Augusto Martins Caboiana ? (António Branco, ex-1º Cabo Reab Mat, CCAÇ 16, 1972/74)

20 de agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6875: Tabanca Grande (236): Bernardino Rodrigues Parreira, ex-Fur Mil da CCAV 3365/BCAV 3846 e CCAÇ 16 (S. Domingos e Bachile, 1971/73)

Guiné 63/74 - P10028: Recordando aquele malfadado jogo de futebol, em 31 de janeiro ou 1 de fevereiro de 1973, entre a CCS/BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto) e a CCAÇ 16 (Bachile) (Bernardino Parreira)


Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do Rio Corubal > Gampará > 38º CCmds (1972/74) > 1972 > "Em Gampará com o meu grande amigo Furriel Cmd Ludgero dos Santos Sequeira, a quem mais tarde na picada do Cufeu (outra vez) numa mina iria ficar às portas da morte, ficando quase cego até aos dias de hoje. Continuamos grande amigos. Um abraço para ti, Sequeira!" (Amílcar Mendes, ex-1º cabo comando).


Foto (e legenda): © Amilcar Mendes (2007). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Bernardino Parreira, com data de 12 do corrente:

Caro amigo Luís Graça

A 39 anos de distância desta ocorrência (*) já há pormenores que me falham, sobre este acontecimento.  Mas ainda me lembro que por aquela altura - último dia do mês de Janeiro [, 4ª feira,] ou primeiro dia do mês de Fevereiro de 1973 [, 5ª feira] -  já não sei precisar a data -, encontrava-me com "ordem de marcha" para regressar a S. Domingos, à minha companhia de origem, a CCav 3365, para integrar o BCAV  3846, com vista ao nosso regresso à Metrópole, que ocorreu a dia 17 de Março de 1973.

E só não tinha ainda regressado a S. Domingos para poder disputar este jogo. Que era a final do campeonato entre companhias do CAOP1. O jogo que se realizou naquele fatídico dia foi entre a CCS/BCAÇ 3863 e a CCaç 16 à qual eu pertencia.

Devo dizer que o ambiente que normalmente se vivia no Bachile era calmo, os militares eram disciplinados e muito bons seres humanos. O nosso comandante era um Excelente Militar Operacional e uma Excelente pessoa. Havia um espírito de companheirismo e confraternização excepcionais entre todos os militares.

O futebol, no meio daquela guerra, aliviava-nos o stress e o orgulho de uma companhia africana poder ganhar o campeonato era enorme. O que aconteceu ali, naquele dia, em termos de jogo, acontece muitas vezes em estádios de futebol. Ao ser anulado um golo que dava a vitória à nossa CCaç 16, onde seríamos sagrados vencedores daquele campeonato, que tinha a maioria de jogadores africanos, os nossos camaradas africanos que estavam a assistir ao jogo invadiram de imediato o campo.

Julgo que naquele dia estávamos  apenas a jogar 2 brancos, eu e o Figueiredo.  A única diferença é que todos estavam armados, não com cadeiras, como normalmente acontece nos estádios de futebol, mas com armas reais, e álcool à mistura, e a situação só não teve consequências maiores dado o campo de futebol, onde isto aconteceu, estar situado próximo do CAOP1.

Tenho a ideia de que foram logo ali efectuadas algumas prisões e, serenados os ânimos,  regressámos todos ao nosso quartel no Bachile, nas viaturas  militares.

No mesmo dia, por volta da hora de jantar, estava eu na messe dos sargentos, tive conhecimento que a maioria dos militares africanos, revoltados e armados, tinham abandonado o quartel e se dirigiam para Teixeira Pinto no sentido de irem tentar a libertação dos camaradas presos. 

Escusado será dizer a preocupação que se generalizou entre os que ficaram, mas dada a pouca distância entre  o Bachile e a Ponte Alferes Nunes logo se ouviu dizer que tropas da CAOP1 tinham vindo ao encontro dos revoltosos e estes tinham sido obrigados a recuar para o Quartel.

O pior soube-se depois, que foi o acidente ocorrido com os militares  de Teixeira Pinto,[da 38ª CCmds,] no regresso ao seu quartel, com a deflagração de um dilagrama.(*)

Dois dias depois parti, triste, do Bachile, em direcção a S. Domingos, via Cacheu. Achei que não devia ter ficado para disputar aquele malfadado jogo de futebol. Ainda passei por Teixeira Pinto para visitar e despedir-me dos meus camaradas presos, entre eles o meu amigo Policarpo Gomes, que era do meu pelotão.

Por outro lado, S. Domingos continuava a ser atacado, do Senegal, e não sabia o que me poderia acontecer a poucos dias do meu regresso. Ainda retenho na memória a preocupação que os meus camaradas africanos manifestaram ao saberem que eu ia para S. Domingos antes do regresso. Só diziam:
- S. Domingos nega... manga de porrada...!

Graças a Deus cá estou!



Guiné > Região do Cacheu > Bachile > CCAÇ 16 (1972/74) >  Equipa de futebol de sete > Legenda do Bernardino Parreira: "Amigo Luis Graça, não consto dessa foto, editada no blogue, mas  julgo reconhecer, da direita para a esquerda, em cima, primeiro o meu amigo António Branco, e terceiro o Sr. Comandante, na altura capitão Abílio Afonso. Em baixo: Da direita para a esquerda, Pereira, Garcia e Miranda.

Fotos: © António Branco (2010). Todos os direitos reservados.

Tenho pena de não possuir fotografias da nossa equipa de futebol da CCaç 16. Foram bons tempos, de que  destaco um episódio agradável em tempo de guerra.  Num jogo disputado com uma companhia de comandos [, a 38ª CCmds,]  do CAOP1, em Teixeira Pinto, quando foram apresentados os capitães de equipa para a escolha de campo, perante o árbitro desse encontro, sendo eu o capitão de equipa da CCac 16, qual não foi meu agradável espanto ao ver que o capitão da outra equipa era o meu amigo Ludgero Sequeira, de Faro,  meu companheiro de escola, que eu desconhecia que se encontrava em Teixeira Pinto. Maior foi a admiração dele quando viu sair de uma equipa de africanos um único branco que era eu, nesse dia.

Um grande abraço


2. Esclarecimento posterior do José Romão, em mensagem enviada às 23h16:

Boa noite camarada e amigo Luís Graça:
O grave acidente, na sequência do desafio de futebol, entre as equipas de militares do CAOP 1 e do Bachile, deu-se junto à Ponte Alferes Nunes e era eu que estava a comandar um grupo de militares da CCAÇ 16 do Bachile, na referida Ponte. Quem acabou por resolver esse diferendo foi o Coronel Durão, comandante, nessa altura, do CAOP 1 em Teixeira Pinto. Nesse dia, perto da Ponte morreram alguns militares da Companhia de Comandos que estava sediada em Teixeira Pinto.

Um abraço para todos os camaradas,
José Quintino Travassos Romão,
ex Furriel Miliciano.
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Nota do editor:

(*) Vd. poste anterior, de 12 de junho de 2012> Guiné 63/74 - P10025: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (18): A ponte Alferes Nunes, a CCAÇ 16, o Bachile, a 38ª CCmds, o Canchungo, o cor pára Rafael Durão, o futebol, a violência, a morte...

Guiné 63/74 - P10027: Convívios (452): 27º Encontro/Convívio da CART 3494, em Ponte de Sor, 09 de JUNHO de 2012 (Sousa de Castro)



1. O nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos um pedido de publicação da seguinte mensagem.


XXVII encontro/convívio da CART 3494

Ponte de Sor - 09 de JUNHO de 2012

Dia escolhido para levar a efeito o XXVII encontro/convívio da CART 3494 (Fantasmas do Xime) do BART 3873 que esteve na Guiné nos anos DEC71/ABR74, desta feita em Ponte de Sor, a cargo do ex. fur. Milº António Espadinha Carda.

O ex. Fur. Milº Mendes Pinto teve a ideia genial de organizar uma excursão para o pessoal do Norte, a partir de Amarante. 

Foram 42 viajantes de várias zonas do Norte do País que rumaram a partir das 07,00 horas no Porto, com destino a Ponte de Sor. Na camioneta, muita conversa em dia e muita animação. 

De salientar a presença pela primeira vez, do ex. sol. Joaquim Moreira de Sousa, de Amarante, que quase, quarenta anos depois de ter sido gravemente ferido em combate na emboscada da Ponta-Coli, Xime, no dia 01 de Dezembro de 1972, foi um dos dois homens que tiveram de ser evacuados para Bissau e posteriormente para a Metrópole, terminando aí a sua comissão de serviço. O outro camarada chama-se: Mário Rodrigues da Silva do Nascimento, também ele deficiente das forças Armadas que curiosamente foi encontrado a vaguear pelas ruas de Figueira da Foz. (Quando lhe faziam perguntas!... Só sabia dizer que pertenceu à CART 3494, que esteve no Xime e que foi ferido). 

Foi um dia bem passado!... 

Houve um reviver de emoções, apareceram novas estórias com novos protagonistas, mas também aquelas, que têm sido contadas e recontadas ao longo dos 27 encontros já realizados.

Depois do repasto, guardou-se um minuto de silêncio pelos camaradas que já não pertencem ao mundo dos vivos, com especial relevo para o ex. fur. Milº Raul Magro de Sousa Pinto que faleceu no dia 01 de Abril de 2012, vítima de doença prolongada. Também tivemos momento especial para mostrar dotes vocais e declamar poesia. 


Joaquim M. Sousa (ferido grave em combate)

Foi um dia para mais tarde recordar, conforme as fotos documentam. 

Para o ano de 2013 o XXVIII encontro, irá ser realizado na zona de Felgueiras pelo camarigo Manuel Carvalho de Sousa

Ex. 1º cabo radiot. Trms - Sousa de Castro e ex. Fur. Milº Trms - Luís Domingues 




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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 

11 DE JUNHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10023: Convívios (451): Encontro Anual do pessoal da CART 6250 a realizar no dia 30 de Junho de 2012 em Perafita/Matosinhos (José Eduardo Alves)

terça-feira, 12 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10026: Efemérides (70): Leça da Palmeira homenageou os seus ex-combatentes no passado dia 10 de Junho (Carlos Vinhal)

Leça da Palmeira lembrou mais uma vez no dia 10 de Junho os seus ex-combatentes. 
Este ano com uma sessão solene no Salão Nobre da Junta de Freguesia onde, com a imposição de Medalhas Comemorativas das Campanhas e Comissões das Forças Armadas Portuguesas a dois ex-combatentes, simbolicamente se homenageou todos os leceiros que deixaram um pouco da sua juventude na Guerra do Ultramar.

A cerimónia mais tocante foi, como é já habitual neste dia, a homenagem aos nossos camaradas conterrâneos caídos em combate, no Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira.

Estiveram presente ao acto, além de alguns ex-combatentes e suas famílias, o Vice-Presidente da Junta de Freguesia, senhor Djalma Rodrigues que se fez acompanhar da senhora Dra. Ana Isabel Faria também pertencente ao executivo da edilidade, um representante da PSP de Matosinhos e o Comandante dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça que disponibilizou dois elementos da Fanfarra desta Corporação para proceder aos toques regulamentares.

Início da cerimónia com o hastear da Bandeira Nacional em frente ao edifício da Junta de Freguesia de Leça da Palmeira, a cargo do ex-Soldado Sapador Eng.ª José Oliveira (de costas) e do ex-Alf Mil Eng.ª Rocha dos Santos (de frente).

Foto de família, destacando-se em primeiro plano, à esquerda; Ten-Cor Armando Costa da Liga dos Combatentes; Ribeiro Agostinho, ex-combatente; senhor Djalma Rodrigues e Dra. Ana Isabel em representação da Junta de Freguesia de Leça da Palmeira. Em cima à esquerda, o representante da Polícia Segurança Pública de Matosinhos.

Aspecto da assistência na Sessão Solene que teve lugar no Salão Nobre da Junta de Freguesia

A primeira intervenção esteve a cargo do nosso camarada Ribeiro Agostinho (ex-Soldado que prestou serviço na CCS/QG/Bissau/CTIGuiné), que falou em nome dos ex-combatentes da Guerra do Ultramar, mas que não esqueceu os nossos antepassados que perderam a vida na I Grande Guerra (1914-1918).

No uso da palavra o Presidente do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, senhor Ten-Cor Armando Costa que se disponibilizou para ajudar os ex-combatentes nas dificuldades sentidas no campo da saúde e burocráticas, obtenção da Medalha a que têm direito, por exemplo.

O último dos oradores, o senhor Djalma Rodrigues, Vice-Presidente da Junta de Freguesia de Matosinhos que, num improviso, salientou o significado desta homenagem, por parte de Leça da Palmeira aos seus filhos ex-combatentes da Guerra do Ultramar, acontecida anualmente neste dia desde há já alguns anos.

Procedeu-se seguidamente à imposição das Medalhas Comemorativas das Campanhas e Comissões Especiais das Forças Armadas Portuguesas, pelos senhores Ten-Cor Armando Costa e Vice-Presidente da Junta de Freguesia Djalma Rodrigues, respectivamente, aos ex-combatentes ex-Fur Mil Art.ª Carlos Vinhal (Guiné, 1970/72) e ex-1.º Cabo Sapador Eng.ª José Oliveira (Guiné, 1967/68)

O reconhecimento oficial volvidos mais de 40 anos

Depois foi a romagem ao Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira onde foi depositada uma coroa de flores no Memorial da Liga dos Combatentes

Início da cerimónia com a declamação de um poema pelo seu autor, o nosso camarada Daniel Folha

Momento da deposição de uma coroa de flores no Memorial aos Combatentes pelos senhores Ten-Cor Armando Costa da Liga dos Combatentes e Djalma Rodrigues, Vice-Presidente da Junta de Freguesia de Leça da Palmeira

Nesta foto, da esquerda para a direita: Carlos Vinhal, Sargento-Chefe Neto, Sargento-Mor Naldinho, Sargento-Ajudante Oliveira e Ten-Cor Armando Costa. Em primeiro plano: José Oliveira e Ribeiro Agostinho. Lamento não saber o nome do nosso camarada porta-bandeira

Momento da Missa dominical, neste dia também celebrada por intenção dos nossos camaradas leceiros caídos em combate, presidida pelo Pe. João, natural desta freguesia.

Fotos de: Sargento-Ajudante Oliveira (Liga dos Combatentes), Dina Vinhal e Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10024: Efemérides (69): XIX Encontro Nacional de Combatentes: 10 de junho de 2012, Homenagem do Prof Doutor Manuel Antunes aos antigos combatentes da guerra do ultramar (Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P10025: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (18): A ponte Alferes Nunes, a CCAÇ 16, o Bachile, a 38ª CCmds, o Canchungo, o cor pára Rafael Durão, o futebol, a violência, a morte...


Guiné > Região do Cacheu > Bachile > CCAÇ 16 (1972/74) > Uma equipa de futebol de sete... O António Branco é o primeiro da direita, da 2ª fila (de pé)...







Guiné > Região do Cacheu > Bachile > CCAÇ 16 (1972/74) > Jogando matraquilhos... o António Branco, ex-1º Cabo Reab Mat CCAÇ 16, 1972/74, é o militar da esquerda.

Fotos: ©   António Branco (2010). Todos os direitos reservados. 



1. No Diário da Guiné, do António Graça de Abreu (AGA), há uma única referência à Ponte Alferes Nunes, que ficava na na estrada Canchungo - Bachile... No entanto, essa referência está associada a uma tragédia que devia (e podia) ter sido prevenida e evitada... Tudo começou com uma  partida de futebol entre os de Bachilé (CCAÇ 16) e os de Teixeira Pinto (CAOP1)... Aqui se reproduz essa parte do Diário do AGA, com a devida vénia... (LG):


(...) Canchungo, 1 de Fevereiro de 1973

É uma hora da manhã, escrevo sereno, lúcido, sem paixão, tudo de enfiada.

Ver viver, ver morrer, três homens mortos, sete feridos graves, quatro ligeiros. A causa próxima foi um desafio de futebol, a causa remota foi o destino e o facto de estarmos numa guerra.

Esta tarde houve um jogo de futebol entre o pessoal branco do Batalhão 3863 e a tropa branca e negra do aquartelamento do Bachile [, CCAÇ 16, constituida sobretudo por militares manjacos, do recrutamento local9. Não sei se por culpa dos brancos ou dos negros, decerto por culpa de ambos, o jogo descambou em grossa pancadaria o que levou o coronel [, pára, Rafael Durão, comandante do CAOP1,] a intervir, a assestar uns tantos socos em não sei quem e a dar voz de prisão a dois negros.

Cerca das oito da noite, foi recebida aqui uma comunicação rádio do capitão branco do Bachile, a braços com uma insubordinação dos militares negros. Quarenta africanos armados haviam saído do aquartelamento e marchavam a pé para Canchungo, a fim de tirarem da prisão os seus dois camaradas detidos. Aprontaram-se imediatamente cerca de cinquenta comandos da 38ª. Companhia e o coronel seguiu com eles. 

Na ponte Alferes Nunes, já próximo do Bachile, os Comandos ficaram e o coronel avançou sozinho, no jipe, ao encontro dos soldados africanos. Graças à sua coragem, ao respeito que impõe a toda a gente - é o “homem grande” branco -,  à promessa de libertar os presos, os soldados negros regressaram pacatamente ao Bachile.

Aqui em Teixeira Pinto estávamos na expectativa, não sabíamos o que ia acontecer. Em frente do edifício do CAOP, eu conversava com o major Malaquias, com um alferes da 38ª [CCmds] e outro do Batalhão quando ouvimos um grande rebentamento muito próximo. Que será? Um minuto depois chegou a informação, via rádio. Era preciso preparar imediatamente o hospital, havia mortos e feridos. 

No regresso dos comandos, à entrada da vila, rebentara uma caixa cheia de dilagramas – granadas disparadas pelas G 3 com um dispositivo especial – em cima de um Unimog onde vinham catorze homens. Dois mortos de imediato, os restantes feridos vinham a caminho. Corremos para o hospital. Os comandos chegaram. 

Como vinham, meu Deus! Um furriel morria na sala de operações. As suas últimas palavras para o Pio [de Abreu], o médico, foram: “Doutor, cuide dos outros, eu estou bem.” 

Nas macas, no chão de pedra do hospital jaziam feridos graves, corpos semi-desfeitos, barrigas, intestinos de fora e quatro rapazes só com alguns estilhaços. Não ouvi um queixume, mas havia muitos homens a chorar.

Era preciso evacuar os feridos para o hospital de Bissau. Onze horas da noite, iluminámos a pista com os faróis das viaturas e com as mechas acesas em muitas garrafas de cerveja cheias com petróleo, distribuídas aí de dez em dez metros ao longo do campo de aviação. Aterraram quatro DO. Ajudei a transportar feridos entre o hospital e as avionetas, num dos nossos Unimog. Dois deles iam muito mal, cravados de estilhaços, em estado de choque ou coma, não sei se escaparão.

O condutor do Unimog em cima do qual as granadas rebentaram é um dos meus soldados, do CAOP 1, Loureiro de seu nome,  com apenas oito dias de Guiné. Ia a conduzir, não sofreu uma beliscadura. Trouxeram-no cambaleando, o espanto, incapaz de falar. Evacuados os feridos, fui buscá-lo, abracei-o, sentei-o na minha cadeira na secretaria, animei-o, bebemos quatro águas Castelo.

Foi um acidente de guerra. Corpos ensanguentados, dilacerados, muitos homens destruídos, não apenas os mortos e os feridos. 

Reacções de alguns dos nossos soldados. “Tudo por culpa dos cabrões dos negros, filhos da puta, só fuzilados!”...

Quem resiste aos corpos esventrados dos companheiros de armas?!...As razões sem razão porque se avivam ódios, porque se morre! 

Não sei que horas são, deve ser tarde, não tenho ponta de sono. Já ouço os galos cantar. Um novo dia nasce.


Guiné > Teixeira Pinto (ou Canchungo) > CAOP 1 > Uma das raras fotos (e de fraca resolução) que temos, no nosso blogue, do Cor Pára Rafael Ferreira Durão, comandante do CAOP1, ao tempo do António Graça de Abreu. "A caminho do almoço de Natal de 1971. Da esquerda para a direita respectivamente, Cmdt do BCaç 3863 (?), Cmdt do CAOP  Cor Pára Rafael Durão e Ten Pára da CCP 122". 

Foto e legenda: © Jorge Picado (2008). Todos os direitos reservados


2. Comentário, posterior,  do nosso camarada Bernardino Parreira [, foto atual, à direita]:

Caros camaradas e amigos, tendo acabado de ler, pela primeira vez, este excerto do livro do nosso camarada Graça Abreu não posso deixar de referir que fui um dos jogadores da CCaç 16, do Bachile, nesse jogo de futebol, e que os incidentes desencadeados pelos camaradas africanos tiveram origem na anulação de um golo nosso... 

Daquilo que tenho conhecimento, corroboro o testemunho do nosso camarada Graça Abreu. Informo ainda que um dos militares detidos, da CCaç 16, foi o meu companheiro africano Policarpo Gomes, que ainda fui visitar à prisão. 

Gostaria de saber como posso adquirir o livro do nosso camarada Graça Abreu.
Um abraço a todos. Bernardino Parreira .

3. Comentário do editor:

O Bernardinmo Parreira foi Fur Mil da CCAV 3365/BCAV 3846 (Dão Domingos, 1971/72) e CCAÇ 16 (Bachile, 1972/73). Foi destacado para a CCAÇ 16 no "primeiro trimestre de 1972". Acabou em Bachile a sua comissão, tendo regressado à metrópole em 17 de março de 1973. 

É algarvio de Portimão, a residir em Faro. Tal como ele nos contou na sua apresentação à Tabanca Grande,  em 20 de agosto de 2010, a sua integração na CCAÇ 16 "foi fácil, ao fim de pouco tempo conhecia todos os camaradas africanos e metropolitanos, e parecia ter sido adoptado por uma nova família. O ambiente entre os militares era bom, tal como o que havia deixado em S. Domingos. Nos tempos livres, o que eu mais gostava de fazer era jogar à bola e depressa me integrei numa equipa de futebol, de maioria africana. Disputámos o torneio de futebol entre companhias militares pertencentes ao CAOP 1, entre 1972/1973". 

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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9943: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (17): Guidage (com g) foi há 39 anos...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10024: Efemérides (103): XIX Encontro Nacional de Combatentes: 10 de junho de 2012, Homenagem do Prof Doutor Manuel Antunes aos antigos combatentes da guerra do ultramar (Virgínio Briote)

PALAVRAS DO PROFESSOR DOUTOR MANUEL ANTUNES  DURANTE O XIX ENCONTRO NACIONAL DE HOMENAGEM AOS COMBATENTES

O discurso proferido, no passado 10 de junho,  pelo conhecido cardiologista Manuel Antunes, diretor do prestigiado Centro de Cirurgia Cardiotorácica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimra [, foto à esquerda, cortesia da página Ciência Hoje, poste de 26 de agosto de 2009], chegou-nos hoje ao nosso conhecimento através do correio do nosso co-editor Virgínio Briote:



Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
……
E aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando;




Estimados Combatentes,

Quero agradecer-vos a suprema honra de poder estar, aqui e hoje, convosco. Não me reconheço os dotes que presumivelmente estiveram na origem do convite que me foi feito pela Comissão Executiva deste Encontro e que outros, em anos anteriores, evidenciaram. No entanto, as palavras deste ilustre desconhecido que está perante vós, que não serão um modelo de retórica, são certamente sentidas. Como escreveu o poeta,

Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,
De vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado.


No 10 de Junho, celebramos o Dia de Portugal, Dia de Camões, o poeta da nossa epopeia ultramarina. Estamos todos aqui, neste local histórico, à sombra da Torre de Belém, que simboliza os descobrimentos portugueses, para celebrar Portugal e honrar os seus combatentes, os seus heróis.

Homenageamos os que combateram na guerra do Ultramar, a mais recente e que ainda está bem viva na memória de muitos, e em que pereceram quase nove mil portugueses europeus e africanos, cujos nomes estão para sempre gravados neste monumento. Tal como os navegadores de antanho, muitos destes deixaram as suas terras para defender a Pátria em terras longínquas, que a maior parte até desconhecia.

Homenageamos todos os outros que deram a vida pela Pátria ao longo da sua história, neste rol incluindo aqueles que, mais recentemente, o fizeram em missões de paz em que, como cidadãos do mundo, estivemos e continuamos a estar envolvidos em várias partes do planeta.

Todos merecem o nosso mais profundo reconhecimento. “Ditosa Pátria que tais filhos tem”. Não tenhamos medo desta frase, como não devemos ter medo de afirmar, como Vasco da Gama, “Ditosa Pátria minha amada”. Porque estes Homens só morrem quando a Pátria se esquece deles. E porque não nos esquecemos deles, aqui viemos hoje.

Mas não recordamos apenas os que perderam a sua vida na guerra, homenageamos também um enorme número de combatentes ainda vivos, a merecer reconhecimento, e de que há muitos, ainda, a sofrer as consequências de uma guerra por Portugal, com referência especial para os mais de 15.000 deficientes do ultramar. Os Portugueses homenageiam-vos a todos vós que aqui estais e os vossos camaradas que aqui não puderam vir.

É claro que há por aí quem não goste do que aqui estamos a fazer. Mas como disse, há pouco mais de um ano, o Senhor Presidente da República, por ocasião do 50º Aniversário do início da guerra em África, “…hoje aqui não homenageamos uma época, um regime ou uma guerra. Trata-se, simplesmente, de uma homenagem da Pátria àqueles que se encontram entre os seus melhores servidores”.

Ainda que algo se tenha progredido nos últimos anos, lamento a forma como os Antigos Combatentes da Guerra de Ultramar foram, e continuam a ser desconsiderados, mesmo maltratados, o que evidencia um triste retrato de Portugal.

Um retrato que se começa a fazer na escola. Escola de onde entretanto desapareceu o culto da Pátria, da bandeira, do hino. Escola onde, quase 4 décadas depois, ainda se escamoteia e até se deturpa uma parte importante da nossa história, mas a que a história um dia fará justiça.

Como também disse o nosso Presidente, “é importante transmitir às gerações mais novas, o testemunho de quem enfrentou a adversidade ombro a ombro com aqueles a quem confiava a vida e por quem a daria também; o testemunho de quem conhece a relevância de valores como a solidariedade, o profissionalismo, o mérito e a honra, a família e o País”.

De um Antigo Combatente li que, “só assim se pode incutir nos mais novos o sentimento de que pertencem a uma nação, com as suas vitórias e as suas derrotas, os seus momentos de glória e os seus períodos de desânimo. Não se pode compreender um país se não se conhecer o seu passado, com tudo o que teve de bom e de menos bom”.

Homenageamos hoje, pois, a entrega e o espírito de missão dos nossos combatentes, com o coração e a alma cheios de orgulho no que fizeram. Em combate e fora dele. Na integração com as populações locais, sem precedentes noutras guerras e entre outros povos, e que é amplamente reconhecida pelos próprios cidadãos desses hoje países independentes.

Estamos, nestes tempos, a virar a página. As nossas ligações com África são hoje mais fortes que nunca. A promoção da lusofonia africana, que nos pode ajudar a libertarmo-nos de alguns dos nossos problemas, é agora um dos nossos desígnios. A vossa luta também ajudou a criar um ambiente propício para este diálogo. Afinal, a história está, uma vez mais, a reescrever-se e a reencontrar-se consigo própria.

Nestes dias, o País atravessa, novamente, uma situação difícil. Todos nós sofremos as suas consequências. Contudo, comparados com as vicissitudes desse tempo, os problemas que o País enfrenta hoje até parecerão menores. Se os conseguimos resolver então, certamente os resolveremos hoje.

Caros combatentes,

Permitam-me, finalmente, que aproveite a minha presença aqui para destacar o pessoal da saúde das nossas Forças Armadas, médicos, enfermeiros, técnicos e outros que deram apoio médico-sanitário nos teatros de operações ultramarinos. Como médico, não podia deixar de aqui prestar homenagem a todos aqueles que, na frente de combate ou na retaguarda, resgataram da morte as vossas vidas. Alguns pagaram também com a própria vida essa sua dedicação à causa.

Mas não foi apenas na guerra que se destacaram. Eles ajudaram a estabelecer uma rede de centros de saúde de que resultou uma cobertura médico-sanitária efectiva onde antes não existia nada. As populações desses territórios foram os beneficiários directos dessa actuação e ainda hoje o recordam. Sou testemunha disso, como sou testemunha dessa actividade, porque por lá vivia então. Convivi com alguns, aprendi com alguns. É necessário não esquecer que 40% do orçamento das Forças Armadas no ultramar era dedicado à acção social. Também desta forma se contribuiu para a construção do futuro.

Queridos combatentes,

Termino, como comecei, citando Camões:

Em vós esperam ver-se renovada
Sua memória e obras valerosas;
E lá vos tem lugar, no fim da idade,
No templo da suprema Eternidade.


Os Portugueses não vos esquecem. Os Portugueses não esquecem o que vos devem.

Viva Portugal!

10 de Junho 2012

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9975: Efemérides (67): Ataque ao navio Patrulha Hidra, dia 20 de Maio de 1973 (António Dâmaso)

Guiné 63/74 - P10023: Convívios (451): Encontro Anual do pessoal da CART 6250 a realizar no dia 30 de Junho de 2012 em Perafita/Matosinhos (José Eduardo Alves)

1. O nosso camarada José Eduardo Alves, fez chegar ao nosso Blogue a convocatória para o Encontro Anual do Pessoal da CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74) que ele vai realizar na Rua do Padrão, 210, freguesia de Perafita, Concelho de Matosinhos, local que vai estar referenciado como MAMPATÁ a partir do Nó 9 da A28 (Porto-Viana do Castelo) .

O Convívio terá lugar no dia 30 de Junho de 2012 e, como habitualmente, cada camarada e respectivos acompanhantes terão de se munir da respectiva ração de combate.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10016: Convívios (450): Encontro do pessoal das CCAÇs 3326; 3327 e 3328, dia 21 de Julho de 2012 na Batalha (José da Câmara)

Guiné 63/74 - P10022: Memória dos lugares (186): Ainda sobre a "célebre ponte, em betão, inacabada", na estrada Cachungo-Cacheu, ao km 6 (Jorge Picado)



Guiné> Fortim e Ponte Alferes Nunes entre Teixeira Pinto e Bachile, sobre o Rio Costa (Pelundo). c. 1968/69.  Era uma ponte em madeira. Foto do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro, CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, Jolmete, Olossato, Bissorã,1968/70). (*)

Foto: © Albino Silva (2007). Todos os direitos reservados.



 Guiné-Bissau > Região do Cacheu > 2012 > A controversa ponte (inacabada, em betão) no lado direito da estrada Canchungo - Bachilé- Cacheu, ao km 6. Foto do eng agr Carlos Schwarz, Pepito.


Guiné-Bissau > Região do Cacheu > 2012 > A 600 metros, ao lado da antiga  ponte (inacabada, em betão), na estrada Canchungo - Bachilé - Cacheu, ao km 6, há uma nova ponte em ferro, construída pelos portugueses.  Foto do eng agr Carlos Schwarz, Pepito. (**)


Fotos: © Carlos Schwarz (Pepito) (2012). Todos os direitos reservados.



A. Mensagem de 21 de março último, enviado pelo Jorge Picado:

Caro Luís

Não ficaria de bem com a minha consciência se não esclarecesse alguns pontos acerca da "célebre Ponte Alferes Nunes em Betão", já que julgo ter sido eu o "pai da criança".

Assim, procurei o mais sinteticamente que me foi possível escrever o que se segue, que confrontarás com aquilo que o Carlos Silva j escreveu.

Abraços
Jorge Picado


1 – Ora bem, ao fim de tantos anos passado, sobre aqueles idos de 1971, sem qualquer apontamento escrito ou foto desses dias que possa precisar os fragmentos que se pescam dessas lembranças, acabamos por andar "às voltas" a tentar concretizar algo, se é que lá chegaremos, em que fui um dos "culpados", ao escrever num comentário ao poste P4350, sobre uma interrogação que o "Chefe da Tabanca" Luís Graça tinha feito sobre a Ponte Alferes Nunes.

Escrevi então em 16 de maio de 2009:


 "Muito sinceramente, eu que lá passei algumas vezes, que andei apeado pelo 'areal' até à célebre e verdadeira Ponte Alferes Nunes, em cimento e de um só arco, 'plantada'  em seco, por baixo da qual não corria uma gota de água…"

2 – O problema reside nas afirmações "verdadeira Ponte Alferes Nunes" e "um só arco".

3 – É pena que não possamos ter testemunhos de ex-camaradas que por lá andaram antes e mesmo no meu tempo ou posteriormente, como por exemplo o soldado (?) condutor do jeep que me transportava nesse dia e foi o responsável por me mostrar o dito cujo "exemplar da ponte" e fornecedor da informação que pelos vistos circularia no meio,  ou seja: "que aquilo tinha sido construído por um tal Alferes Nunes, daí o nome dado aquela passagem do rio, onde depois tinham construído aquela em madeira que se usava. Por a de cimento não servir, os naturais 'gozavam'  com a esperteza dos tugas" (...)

4 – Neste momento há as seguintes referências:

a) a minha, que me deixou espantado, não esqueci e tentei muitos anos depois tirar conclusões;

b) a do meu conterrâneo e condiscípulo, ex-alf eng do BENG de 1967/68 (***), que quando lá foi preparar a montagem de uma ponte metálica, por secções, feita nesse mesmo BENG para substituir a de madeira que tinha sido destruída pelo PAIGC, correria talvez o 2.º semestre de 1967 e viu da estrada aquela a que me referi e que ele também atribuía ao tal Alferes Nunes, por ouvir dizer;

c) um depoimento, que colhi acidentalmente, de um familiar do falecido oficial do Exército, cor Alcides José Sacramento Marques, oriundo de família de Ílhavo, que foi Cmdt da CCaç 74 (desembarque em Bissau em  18 de março de 1961) e também um dos Cmdt da 4.ª CCaç (Africana), que tinha referido … ter sido construída na Guiné uma Ponte, num rio que tinham aterrado e, no final, não terem desaterrado o rio… Claro que refutei a parte relativa ao "aterramento do rio", uma vez que admiti tratar-se da ponte que tinha visto;

d) a indicação do José Câmara, partindo do Fortim da Ponte: "de facto, para quem estava na ponte virado para o Bachile, e a uns metros acrescentados para a direita havia uma ruína daquilo que parecia ter sido uma ponte. Aí o rio era pouco largo e pouco profundo";

e) o testemunho do Paulo Basto, que disse ter visto ainda "essa ponte" em 1993, mas não a ter fotografado. Coloquei agora as aspas, uma vez que não sabemos se o camarada se refere a esta que o Pepito enviou.

5 - Transcrevo algo que escrevi quando ainda não tinha qualquer contacto com antigos camaradas, em fins de 2004 ou princípios de 2005 e apenas possuía como meios auxiliares, fotocópias das folhas da Carta (idênticas às do Blogue) de TEIXEIRA PINTO e PELUNDO e as reminiscências daquele episódio, um dos tais que não esqueci, talvez pela "irrealidade daquele cenário".

 "Antes de mais quero aqui dar conhecimento da 'célebre' Ponte de Alferes Nunes… Saindo de T. Pinto pela estrada para o Cacheu, meia dúzia de km à frente, se tanto, cruzava-se o Rio Costa (Pelundo),  numa ansa deste rio que quase formava um círculo completamente fechado, tal a proximidade das margens. Zona de bolanha, naturalmente, e formando o rio vários meandros, o terreno do lado S – lado de T. Pinto – tinha no entanto aí uma grande mancha de areias, até muito claras, o que não era muito normal por aquelas paragens. Assim, o tal Alf Nunes, já que não dmito ser este nome o de algum oficial da Arma de Engenharia que mandou ou executou os estudos para a construção de tal ponte, deve ter entendido que ficava mais económico e mais fácil construí-la em seco, isto é, no areal entre as tais duas pontas da ansa, em lugar de o fazer em pleno leito do rio. Depois era só unir essas pontas com um novo canal, ao mesmo tempo que se tapava o leito 'velho', eliminando-se a ansa. 


Este meu pensamento é lógico, uma vez que isto foi feito antes de se iniciar a revolta que deu origem à guerra de libertação e, nessa época, o trabalho nativo praticamente não representava quase qualquer custo. Era por assim dizer trabalho "escravo". Os nativos seriam "recrutados" pelo Administrador – de acordo com as regras da época – e
como pagamento receberiam umas malgas de arroz… só que veio a guerra e não pode concluir-se tal tarefa.


Resultado: Deixou-se como herança um "monumento" de cimento na forma duma ponte com um arco, no meio da areia e a poucos metros dum rio e, uma mão cheia de razões que foram logo exploradas pelo PAIGC, para mostrar aos indígenas a falta de inteligência dos "tugas" colonizadores, o que creio ser uma grande injustiça. 

Na época em que isto aconteceu, talvez ainda não fosse usual o procedimento de construção deste tipo de obras como descrevi, e que admito ter sido esse o entendimento do responsável por tal obra. Mas passados poucos anos começou-se a ver no nosso País – possivelmente por já ser muito antigo nos países mais evoluídos – esta maneira de construir pontes. Aterrar zonas do rio para aí trabalhar mais comodamente na construção dessas obras.

Logo nos primeiros dias depois de "aterrar" no CAOP, foi-me mostrado este "monumento".
Fui lá de jeep, andei por aquele areal a pé. Passei por debaixo da ponte, não o fazendo por cima por faltarem uns degraus para se poder subir. Deambulei pelas margens do rio e, quando prossegui para fazer a travessia, recusei-me a fazê-lo em cima do jeep, perante a
estupefacção do respectivo soldado condutor. 
Atravessei o rio, sim, mas percorrendo a ponte existente a pé, desculpando-me que queria admirar o percurso e observar o próprio rio.

6 – Foi portanto partindo daqueles pressupostos que marquei na Carta Militar e, já muito posteriormente em imagem Google, a possível localização dessa ponte.

7 – Fiz deduções e tirei conclusões partindo de premissas, em parte, não correctas, já que agora se sabe quem foi o Alferes Nunes – militar morto naquela zona nas Campanhas de Pacificação de Teixeira Pinto – portanto não tendo nada a ver com a construção da dita ponte em betão e a "obra", que estamos procurando identificar, foi construída antes
(quantos anos?) do início da Guerra e muito provavelmente pelos respectivos Serviços Provinciais de então. (****)

Abraços

Jorge Picado 


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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de março de 2010 > Guiné 63/74 - P6029: Memória dos lugares (76): Prestei o meu serviço na Guiné (Albino Silva)

(...) Prestei meu Serviço na Guiné, desde Maio de 1968 a Abril de 1970, e pertenci ao BCaç 2845, sediado em Teixeira Pinto. Pertenci à CCS, Armados para a Paz. (...). Considero bastante positivo o meu desempenho como Soldado Maqueiro (...). Passados treze meses de Guiné comecei a alinhar com os Sapadores da Companhia, na guarda à Ponte Alferes Nunes,  entre Teixeira Pinto e o Bachile, sobre o Rio Costa. Havia no lado esquerdo da Ponte um Fortim com 6 metros de altura, com cobertura com chapas zincadas onduladas, como se aquilo protegesse alguma coisa em caso de ataque.
A Ponte, de madeira, tinha sido reconstruída porque a primeira, também em madeira, tinha sido destruída. Nesse serviço nunca tive qualquer receio porque também estávamos bem armados e nunca tinha havido nada de anormal. Sei que após o Batalhão deixar a Guiné, algum tempo depois, a Ponte foi reconstruída novamente, desta feita em ferro, como aliás já a vi em fotos de outros camaradas. Entre a Ponte Alferes Nunes e o Bachile participei em picagens de estrada com um Pelotão da CCaç 2313, quando se faziam escoltas de reabastecimento ao Bachile, onde estava um Pelotão da Companhia 2368 do meu Batalhão. (...)


(**) Vd. poste e comentários diversos (António J. P. Costa, Carlos Silva, José Câmara, Jorge Picado, Salvador Nogueira) 
> 19 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9625: Memória dos lugares (178): Sobre a ponte da estrada Canchungo - Cacheu, ao Km 6 (Carlos Schwarz/Pepito)

(...) Em mail de 21 de março de 2012, que nos enviou, o Carlos Silva escreve o seguinte:

Amigos: Reitero o que disse na minha análise que vos enviei. A ponte "exótica", cognominada pelo Luís, para mim não tem nada a ver com a designada Pte Alf Nunes. A razão da sua construção, não sei. Só investigando os arquivos da mesma, que não sei onde param. O José Câmara, que já me respondeu à minha análise, também concorda com a mesma, face aos argumentos deduzidos e que são fáceis de compreender. Vd. resposta em baixo a azul. Com um abraço amigo. Carlos Silva (...).


(...) Mail de 20 de março de 2012, enviado pelo José Câmara:

Caro amigo Luís Graça,

Segundo a Carta Cartográfica de Teixeira Pinto (nosso tempo na Guiné) o rio era conhecido por Costa (Pelundo). Seria bom manter essa distinção para não confundir com a zona do Pelundo, sede de um Batalhão.

A ideia de desviar o curso do rio nem era assim tão disparatada. [como já referi, em minha opinião não exitiu qualquer ideia de desciar o rio] Vejamos no mesmo Mapa.

O rio naquela área tem a configuração de um polvo estrangulado. A ponte fantasma está localizada precisamente no estrangulamento [não está, como refere o Pepito e como resulta do recorte enviado pelo SNogueira e como já evidenciei o erro do Jorge Picado ao assinalar a posição da Pte no estrangulamento] e a Ponte Alferes Nunes no alto da cabeça. Tudo isso é bem visível nas fotos e no Mapa que estamos a seguir. [não é - ou melhor é em relação à análise que faço, no dito post que enviei... publiquem para todos verem e terem a possibilidade de chegarem à mesma conclusão]

No estrangulamento o rio era visível dos dois lados da estrada. Por isso mesmo não é de admirar que algum engenheiro tenha antecipado a possibilidade de um rompimento natural das margens e tenha tentado antecipar o evento desviando artificialmente o leito do rio. [ pois, mas a ponte não está situada no estranguamento, mas mto longe, portanto essa tese não passa de meras especulações].

Como sabemos, qualquer que tenha sido a ideia, o projecto foi posto de parte e a estrada nova aproveitou na íntegra o traçado da antiga picada (estrada) entre Teixeira Pinto e o Bachile. Só a partir daí foi alterado o traçado, na tal zona da Mata dos Madeiros.

O Carlos Silva certamente que irá clarificar tudo isso. [Como já referi ao Zé, o trabalho não vai clarificar nada. Pois apenas vai versar sobre a evolução história da Pte Alf Nunes, no entando poderemos fazer uma alusão a esta ponte exótica]

Um abraço amigo, José Câmara (...)

Outros mails que são contributos importantes para este dossiê:

(...) Salvador Nogueira, 19 de março de 2012:

Luis, se o P9625 trata da ponte de que te falei 'há anos' e que seria uma raridade
porque nem passava o rio por baixo, nem passava a estrada por cima,
então existe - vi-a do ar, claramente off side e com esta configuração aproximada
mas nunca consegui saber onde foi.

Quando se diz 'afamada ponte' é por essa inusitada razão, por não passar o rio por baixo nem a estrada por cima?

Se puderes confirmar, agradeço.Salvador


(...) Salvador Nogueira, 19 de março de 2012: 

Luís, aqui tens a localização da ponte sobre o Rio Pelundo, referida no P9625 e que, agora visto melhor e na carta, não sei se é a de que te falei. Julgo que a que vi era mais a sul e com menos pilares... já não sei mas seria curioso que na Guiné houvesse mais que uma ponte sem rio por baixo e estrada por cima! Naquela terra valia tudo...



Foto aérea do Google Earth. Infografia de SNogueira




Guiné > Região do Cacheu > Carta de Teixeira Pinto (1953) > Escala 1/50 mil > Pormenor: troço da estrada Teixeira Pinto/Bachilé... A meio, atravessando o Rio Costa (Pelundo),  há uma ponte (que devia ser a original ponte Alferes Nunes).



(...) Pepito, 20 de março de 2012:


Luis: Ouvi ao meu pai contar que esta ponte (que nunca chegou a ser usada) seria para substituir a outra de que te enviei foto e que na altura da independência era de madeira e muito rudimentar. Sucede que só depois de estar construída é que os engenheiros descobriram que a mesma ficava a uma cota mais elevada, quando tentaram desviar o rio para passar debaixo dela... e a água se recusou a subir...enfim, perversões da natureza.
abraços
pepito

(...) José Câmara, 20 de março de 2012:

Caro amigo Luís Graça,

Segundo a Carta Cartográfica de Teixeira Pinto (nosso tempo na Guiné) o rio era conhecido por Costa (Pelundo). Seria bom manter essa distinção para não confundir com a zona do Pelundo, sede de um Batalhão.

A ideia de desviar o curso do rio nem era assim tão disparatada. Vejamos no mesmo Mapa.

O rio naquela área tem a configuração de um polvo estrangulado. A ponte fantasma está localizada precisamente no estrangulamento e a Ponte Alferes Nunes no alto da cabeça. Tudo isso é bem visível nas fotos e no Mapa que estamos a seguir.

No estrangulamento o rio era visível dos dois lados da estrada. Por isso mesmo não é de admirar que algum engenheiro tenha antecipado a possibilidade de um rompimento natural das margens e tenha tentado antecipar o evento desviando artificialmente o leito do rio.

Como sabemos, qualquer que tenha sido a ideia, o projecto foi posto de parte e a estrada nova aproveitou na íntegra o traçado da antiga picada (estrada) entre Teixeira Pinto e o Bachile. Só a partir daí foi alterado o traçado, na tal zona da Mata dos Madeiros.

O Carlos Silva certamente que irá clarificar tudo isso.

Um abraço amigo, José Câmara (...)