terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10864: Efemérides (114): 22 de dezembro de 1971, partida para o CTIG do BART 3873, no N/M Niassa (António Bonito)

Niassa > Navio misto (carga e passageiros), de 1 hélice, construído em 1955, na Bélgica, registado no Porto de Lisboa, e abatido em 1979; com  mais de 151 metros de comprimento, tinha arqueação bruta de c. 10.700 toneladas, uma potência de 6.800 cavalos e uma velocidade normal de 16,2 nós. Dispunha dos seguintes alojamentos: 22 em primeira classe, e 300 em classe turística, num total de 322 passageiros. (Quando transportavam tropas, a sua lotação quadruplicava...). O número de tripulantes era de 132. Armador: Companhia Nacional de Navegação, Lisboa. Quantas viagens e quantas centenas de milhares de homens terá este navio, tão familiar para tantos de nós ? (LG)

Crédito fotográfico: Navios Mercantes Portugueses  (2004) (Foto aqui reproduzida com a devida vénia...)


1. Efeméride:  22 de Dezembro de 2012 fez 41 anos que o BART 3873, composto pelas CART 3492, Cart 3493, CART 3494 e a companhia independente CART 3521 zarpou de Lisboa rumo à Guiné, no N/M Niassa.

Mensagem recebida no dia 22 de Dezembro de 2012 do nosso amigo e camarada d’armas,  ex-Fur Mil António Bonito, da CART 3494, evocando precisamente o aniversário (41 anos) em que o BART 3873 zarpou de Lisboa com destino à Guiné.

 Boa tarde Companheiros

Acabei de chegar a casa vindo de Aveiro onde tenho familiares. Durante todo o dia o meu pensamento lembrava que a 22 de Dezembro de 1971 embarcámos no Niassa para a Guiné. Neste momento recordo, com saudade, todos os nossos Companheiros que partilharam aqueles tempos. 
Para todos um grande abraço, não esquecendo os amigos que já partiram, e que continuam nos nossos corações para sempre.

Um Santo Natal
António Bonito


[Comentário do editor:  O ex-Fur Mil António Sousa Bonito também passou pelo  Pel Caç N 52, que esteve no Mato Cão, com o Joaquim Mexia Alves...  Mas originalmente pertenceu à CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo (1971/74), companhia de que fez parte  ao nosso grã-tabanqueiro nº 2, o Sousa de Castro... O Bonito vive em Montemor-O-Velho.]


Guiné > Bissau > 29 de dezembro de 1971 > Chegada a Bissau do N/M  Niassa. Foto do álbum de António Sá Fernandes ex-Alf Mil CART 3521 e Pel Caç Nat 52, Guiné 1971/73.

Foto ©: António Sá Fernandes (2012).


2. A história da Unidade reza o seguinte [elementos recolhidos pelo Sousa de Castro]:

1. MOBILIZAÇÃO (…) 

- Despedida

A cerimónia de despedida constou da Missa celebrada pelo Capelão da Unidade no Mosteiro da Serra do Pilar; alocução de um Oficial Superior, representante do Exmo. Governador da Região Militar do Porto ao que se seguiu desfile das tropas em parada e almoço de confraternização na Messe dos Oficiais do RAP-2 (…)

3. DESLOCAMENTO PARA O CTIG 

(...) Vila Nova de Gaia – Lisboa

Com as cerimónias de despedida a 21 de dezembro (...),  o Batalhão de Artilharia 3873 deslocou-se a 22, por caminho-de-ferro, de Vila Nova de Gaia  para Lisboa (Santa Apolónia). Daqui viaturas militares transportaram-no para o cais de Alcântara, onde por volta do meio-dia, a bordo do N/M Niassa largou rumo à GUINÉ.

(...) Lisboa-Bissau-Bolama

Corridos 6 dias, atracou-se às vistas de Bissau e logo de seguida tomou-se uma LDG para BOLAMA. Desembarcaram no próprio dia a CCS, CART 3492 e CART 3493, enquanto ao outro dia desembarcaram as CART 3494 e 3521.

(...) Recepção

Em 2 de janeiro de 1972, pelas 11H00, Sua Exa. O Governador e Comandante-Chefe, General António de Spínola, passou revista às tropas em parada no CIM, acompanhado pelo Exmo Comandante do BART 3873, pronunciando então alocução.

Escutaram-se palavras de boas-vindas e exortação perante aos obstáculos a vencer. Sucedeu-se uma reunião de trabalhos com Oficiais e Sargentos em conjunto primeiro, separadamente depois.

(...)  Rumo aos destinos

Ultimado o período final da instrução, foi o Contingente conduzido, novamente em LDG até ao XIME, localidade onde aportou a 28 de janeiro de 1972. Ali repartiram-se as Companhias, em coluna-auto, pelos respectivos Aquartelamentos:

CCS – Bambadinca
CART 3492 – Xitole;
CART 3493 – Mansambo;
CART 3494 - Xime (...)
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10852: Efemérides (113): Lembrando o ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (José António Viegas)

Guiné 63/74 - P10863: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (11): Mensagens de Natal da Tertúlia (4)

MENSAGENS DE NATAL DA TERTÚLIA (4)


Mensagem do nosso camarada Francisco Henriques da Silva, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, Mansabá e Olossato, 1968/70:

Para todos os amigos e ex-camaradas de armas,
FELIZ NATAL E OS NOSSOS MELHORES VOTOS PARA 2013

Francisco Henriques da Silva


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Mensagem do nosso camarada João Parreira, ex-Fur Mil Op Esp / RANGER / COMANDO da CART 730 / BART 733 e do Grupo “Fantasmas”, Bissorã e Brá, 1964/66:

Caro amigo e camarada editor Luís Graça,
Votos de Santo Natal e Ano Novo em Paz, num curiosíssimo presépio feito de sal, existente na Mina de Sal-gema de Rio Maior.
Votos de Santo Natal e Ano Novo possível, pelo menos em Paz!

Com um abraço do
João Parreira


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Mensagem do nosso camarada e amigo Armor Pires Mota, ex-Alf Mil da CCAV 488/BCAV 490, Guiné, 1963/65:

Meu caro Amigo:
Obrigado pelo espaço dado ao meu conto. Foram generosos comigo. Era bom que o papagaio voasse naquelas terras da Guiné, nas brisas da esperança de um país melhor.

Agradeço-lhe os desejos de boas festas e retribuo em dobro a todos os tertulianos.
Um bom Natal e um 2013 o melhor possível, dentro das condicionantes que nos tolhem os sonhos e o futuro dos nossos filhos e netos.

Um abraço de apreço e gratidão.
Armor Pires Mota

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Mensagem do nosso Camarada Fernando Costa, ex-Fur Mil Trms da CCS/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, 1973/74:

Que o presépio que construí em minha casa, vos dê um Natal muito Feliz. Votos para todos os ex-combatentes da Guiné.
Fernando Costa




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Do nosso amigo Patrício Ribeiro, gerente da firma Impar de Bissau, recebemos este curioso postal de Boas Festas:


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Mensagem do nosso camarada Carlos Nery, ex-Cap Mil, Comandante da CCAÇ 2382, Buba, 1968 a 1970:

Caros camaradas e amigos,
Um abraço forte, desejos de o melhor Natal possível e de um ano de 2013 com trabalho gratificante!

 Carlos Nery

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Mensagem do nosso camarada José Colaço, ex-Soldado Trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65:

Agradeço a toda a equipa do blogue a paciência e o trabalho por vezes extenuante que teve ao longo do ano um feliz Natal e um 2013 novamente cheio de paciência para aguentar o trabalho e as burrices que por vezes enviamos para o blogue.

Um abraço a todos
José Colaço.

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Finalmente, do nosso camarada da primeira hora deste Blogue, Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74, o seu Postal de Boas Festas


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Mensagem do nosso camarada Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art, CART 2412, Bigene - Guidage e Barro, 1968/70: 

Amigo e camarada Carlos.
Da maneira que isto está, as "festas" ainda não acabaram. Há sempre os atrasados.

Continuação de Boas Festas.
cumprim/jteix


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Mensagem da nossa amiga Felismina Costa:

Feliz Natal para o criador e editores do grande blogue "luísgraçaecamaradasdaguine"!
Que o Natal a terminar, tenha sido para todos alegre e Feliz.
Que tenham podido esquecer as coisas menos agradáveis e que estejam dispostos a continuar sem desânimo na grande e meritória tarefa a que se propuseram!

Obrigada pela vossa disponibilidade, pela vossa persistência, pelo vosso carisma.
Obrigada pelos conhecimentos que me tem proporcionado, tanto no conhecimento dessa realidade vivida por tantos de vós no passado, como pelas amizades feitas no presente.

Envio um abraço colectivo a todos quantos fazem deste "sítio," o sítio da amizade e de grandes valores humanos que vale a pena preservar.

Felismina mealha

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1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires, ex-Alf Mil, CMDT do 23.º Pel Art.ª, Gadamael, 1970/72:

Caro Luis,
É de gratidão, contigo e a tua equipe de editores, a minha mensagem de fim de ano.
Mais um ano de gigantescos trabalhos, resgatando as memórias e dando voz a uma geração, que deixou parte da sua juventude nas bolanhas da África Atlântica.

Os meus votos de um ano com bastante saúde e sorte para ti, equipa de editores e todos os abrigados à sombra desta GRANDE TABANCA, que espero continues regendo com a Maestria que te é peculiar.

Forte abraço
Vasco Pires

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Comentário de CV:

Cabe aqui e agora uma palavra de agradecimento aos camaradas que se nos dirigiram com os seus votos de Boas Festas e palavras elogiosas aos editores. Pela minha parte julgo ter respondido às largas dezenas de mensagens que me foram dirigidas particularmente, que como é lógico não tinham cabimento aqui. Optamos por publicar só as dirigidas ao Blogue e/ou à tertúlia.
Se aconteceu alguma falha, por favor interpretem como uma casualidade e não como uma premeditação.

A poucos dias da entrada de 2013, o tal ano que não será o pior das nossas vidas, esperamos continuar a trabalhar como até aqui. Como dizem alguns camaradas, o nosso Blogue é uma espécie de jornal diário que se consulta para se ficar a par das novidades. Para isso, contamos com a vossa colaboração.

Recebam um abraço e s nossos votos de continuação de Boas Festas. E Bom 2013.
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10862: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (10): A "Pedra da Odete" ou onde se fala do nosso Blogue (Hélder Sousa)

Guiné 63/74 - P10862: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (10): A "Pedra da Odete" ou onde se fala do nosso Blogue (Hélder Sousa)

1. Mensagem de Natal do nosso camarada Hélder Sousa, ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche eBissau, 1970/72:

Caros amigos Editores
Em anexo envio-vos um texto diferente do costume mas que pretende, ao meu modo, comemorar a 'época festiva' que vivemos e, ao mesmo tempo, referir-me à vida do nosso Blogue.

Desejo, muito sinceramente, que consigamos resistir ao temporal que se avizinha ameaçador e que se ganhem forças para enfrentar os próximos tempos.
Por isso, apenas deixo aqui expresso o meu desejo que se tenham umas "Festas Felizes".

Abraços
Hélder Sousa


Mercado do Livramento em Setúbal


“A PEDRA DA ODETE”

Nesta época é costume enviar-se votos de “Bom Natal”, “Festas Felizes” e desejar um “Bom Ano Novo”. Mas, sinceramente, dadas as circunstâncias e os tempos que se vivem, não me sinto muito identificado com esse ‘espírito’, pelo que então resolvi fazê-lo à minha maneira, ao mesmo tempo que procurarei reportar-me ao nosso Blogue e às coisas que lhe estão inerentes.

“Está bem” - dirão alguns dos atentos vigilantes da estrita observância dos ‘pressupostos’ do Blogue – “mas o que é que isso tem a ver com o título? Certamente que não terá nada a ver”…

Bem, entre o “não ter nada a ver” e o ter “tudo a ver” há um vasto terreno onde as coisas se podem encaixar e com certeza que alguma coisa se arranjará. Comecemos então por explicar o que é isso da “Pedra da Odete”.

Acho que será comum aos vários Mercados existentes nas nossas povoações que os espaços em que se apresentam os artigos para venda estejam organizados, normalmente divididos nos locais de venda de carne e derivados (os talhos, charcutarias e similares), os espaços para venda de frutas e legumes, genericamente referidos como ‘bancas’ e os locais de venda de peixe, que aqui em Setúbal se chamam de ‘pedras’ tendo como referência o facto de ser em pedra mármore ou outra do género que os diferentes vendedores utilizam para a exposição dos seus produtos.

À data da minha vinda para Setúbal e até finais dos anos 90 ensinaram-me que o melhor local para comprar peixe, sempre de qualidade garantida, era numa banca de venda de peixe, uma “pedra”, que era dum casal simpático, o Reinaldo, que tratava de comprar o melhor, e a Odete, que tratava de nos vender. Se se queria bom goraz, peixe-espada, pescada, sargo, sardinha, besugo, ‘massacote’, carapau-manteiga, etc., era certo e sabido que se ia à “Pedra da Odete”.

E tanto assim era que se chegavam a fazer 5 linhas de fila a seguir à frente da ‘pedra’, o que representava uma pequena multidão de, às vezes, 20 a 25 pessoas. Nessas circunstâncias gastava-se algum tempo (compensado pela qualidade) e, ou se conversava com o vizinho de ocasião que se encontrava ao lado (conhecido ou não), ou se ia ouvindo (sem querer, ou por distração) as conversas que outros iam fazendo atrás de nós. Conversas sobre a vida, das empresas, da política, do Governo, do Mundo. Manda o decoro que não se seja bisbilhoteiro e por isso raramente se olhava para trás e deste modo quase sempre se ignorava a identificação de quem falava ou dizia o quê.

Tendo isto em atenção era perfeitamente corrente que quando na empresa onde trabalhava se ‘ouvia dizer’ que ia acontecer ‘isto e aquilo’, que já se sabia o patrão preparava ‘esta ou aquela acção’, se alguém perguntava, ‘como é que soubeste?’ a resposta invariável era “ouvi na Pedra da Odete” e, já se sabe, era impossível descortinar o autor da ‘informação’.

"Pedra" de venda de peixe no Mercado do Livramento em Setúbal

Pois, nestes dias, ocorreu uma coisa interessante: voltei à “Pedra da Odete” (agora explorada pela filha do casal) e voltaram a acontecer conversas significativas…. Então não é que havia atrás de mim quem estivesse a conversar, coisa que ao princípio não liguei mas depois fiquei atento, porque falavam do Blogue?!

Eram talvez três, ou mais, que falavam. Dois deles, um com voz cavernosa e outro com uma voz melíflua, sibilina, diziam, ditavam, sentenciavam, à vez, que o “Blogue do Graça”, o “foranada”, “tinha os dias contados”, que “estava a definhar”, que “estava ferido por dentro”, que “as intrigas tinham surtido efeito”, que “as campanhas de intimidação, de maledicência, de deturpação de conteúdos, de processos de intenção, tinham minado o suficiente para afastar contributos”. Diziam que “havia menos comentários” (como se isso tivesse sido um critério desde sempre), diziam que “havia abandonos, deserções, afastamentos ostensivos”, que “o tema estava esgotado”.

Parecia até que aquilo tudo, mais do que uma sentença, correspondia a um desejo… Um outro, um terceiro personagem, lá foi argumentando que “não senhor, o tema não está esgotado, as memórias da guerra vão perdurar”, que “o espólio já conseguido vai permitir recuperar essa memória mas que ainda há bastante para aparecer”. Que “se alguns dos contributores iniciais não se têm feito notar, apareceram mais uns quantos com novos relatos, novas memórias, casos por exemplo das “histórias do Cifra” e dos relatos dos “melhores 40 meses da vida” de um jovem militar português”. E que o Vasco da Gama e o Mexia Alves tomaram a iniciativa de remeter para o Blogue, para publicação, textos, com reflexões suas, bastante oportunos. Que os comentários de apoio surgiram em grande número e até de leitores que normalmente não são interventores.

Fiquei muito satisfeito! Foi uma boa “prenda de Natal”! Afinal, os detractores tiveram o tiro pelo culatra, o ‘povo do Blogue’ uniu-se mais e certamente irá fortalecer-se.

E mais satisfeito ainda fiquei quando ouvi ‘outro alguém’ dizer que para o ano é capaz de haver uma ou duas conferências geradas a partir do Blogue sobre o alegado “esgotado” tema da guerra de África.

Não sei se será verdade ou não, mas lá que ouvi na “Pedra da Odete”, isso sim e costumava ‘bater certo’!

Portanto, caros amigos, aqui está como a “Pedra da Odete” tem a ver com a época pois foi lá, agora, por estes dias, que ouvi o que ouvi e tem a ver com o Blogue, com todo o assunto acima indicado. Tinha ou não razão quando escrevi que haveria de se encaixar?...

Um abraço para toda a Tabanca!
 E “Festas Felizes”

Hélder Sousa
Fur. Mil. Transmissões TSF
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10861: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (9): Mensagens de Natal da Tertúlia (3)

Guiné 63/74 - P10861: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (9): Mensagens de Natal da Tertúlia (3)

MENSAGENS DA TERTÚLIA (3)


Mensagem do nosso camarada Artur da Conceição, ex-Soldado de Transmissões da CART 730, BissorãFarim e Jumbembem1965 a 1967:

Para todos os “Grã Tabanqueiros” e suas famílias, votos de um Feliz Natal e um Novo Ano com muita Paz e Saúde.
Um abraço
Artur Conceição




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Do nosso camarada Torcato Mendonça, ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69: 


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Do nosso camarada Afonso Sousa, ex-Fur Mil Trms, CART 2412, BigeneGuidage e Barro, 1968/70

Ilustrado com algumas imagens da paradisíaca Madeira (algumas das quais fazendo lembrar o presépio), envio-vos o meu desejo de Santo Natal, com paz, saúde, harmonia e esperança.

Boas Festas.
Afonso Manuel Sousa


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Mensagem do nosso camarada Rui Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67: 


Para a grande família do Blogue composta por camaradas ex-Combatentes da Guiné e outros amigos(as) que se nos juntaram, hoje todos tidos como camarigos, venho expressar o maior desejo de que este Natal o passem com muita felicidade, e que o Novo Ano vos traga muita saúde, bem-estar e paz de espírito.
E, se me permitem, envio-vos o “postal” seguinte, que simboliza também paz e amor e que se trata de um presépio feito em barro por mim (coisas de reformado)

Um abraço para todos.
Rui Silva

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Mensagem do nosso camarada Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74:

Camarada Carlos Vinhal,
Envio em anexo o meu velhinho postal de Natal.
O mesmo já foi publicado no ano passado portanto não tem nada de novo a não ser o facto de termos sobrevivido mais um ano. Daí eu o repetir com votos de Boas Festas e Um Bom Ano Novo, dirigido a todos os Camaradas do blogue “Luís Graça e Camaradas da Guiné” e uma saudação muito especial aos Editores deste blogue, porque mais que nunca provaram que criaram um espaço que no mínimo nos deu a possibilidade de nos comunicarmos e principalmente “Vivermos” neste mundo que ultimamente tem criado uma sociedade que só olha para o próprio “Umbigo” e caminha drasticamente para o isolamento social.

Um Santo Natal para todos.
Henrique Cerqueira e NI


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Mensagem do nosso tertuliano e amigo Carlos Manuel Valentim, Oficial da Marinha, licenciado em História Moderna e Director da Biblioteca da Escola Naval


Boas Festa e um Feliz Ano de 2013
Carlos Manuel Baptista Valentim

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Mensagem do nosso camarada Ernesto Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67:

Caro Camarada Carlos Vinhal Homem Grande da Tabanca
Com alegria desejo para ti e para os teus
Um bom Natal e
Um Bom Ano novo
Com Muita Alegria
Muita Paz
Muita Saúde
Muito Amor e
Guerra Nunca Mais

Igualmente os meus desejos de Bom Natal a todos os que fazem o grande favor de manterem o blogue de pé a funcionar. Era impensável um espaço a onde os abandonados, ou esquecidos, pudessem pensar em voz alta livremente, encontrar amigos de há 50 anos.
Isto não tem preço, para um antigo militar, foi uma dávida muito grande e generosa.
O generoso tem uma importância muito grande e estou certo tem a gratidão de todos nós.
O serviço que o blogue nos prestou, livre e sem qualquer encargo era impensável.

Mais uma vez obrigado Carlos
Um muito Grande abraço e tudo de bom
Ernesto Duarte
1965 / 1967
BC 1857 CC 1421
Mansabá – Oio – Morés

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Mensagem do nosso camarada Idálio Reis, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 2317 / BCAÇ 2835 (Gandembel e Ponte Balana, Nova Lamego, 1968/69: 

Caro Vinhal
Os meus mais veementes desejos de Boas-Festas a todos os membros da Tertúlia, assim como a todos os seus mais queridos.

Um afectivo abraço do
Idálio Reis


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Mensagem do nosso camarada António Vaz, ex-Cap Mil da CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69:

Desejo a todos os Tabanqueiros e em especial aos Editores do Blogue, um Feliz Natal com saúde na companhia de quem mais gostarem e uma boa passagem para 2013, apesar do bombardeamento diário das morteiradas que teem vindo a cair no nosso quotidiano.

Um grande abraço do
Antóvio Vaz
Ex- CMDT da CART 1746

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Mensagem do nosso camarada Victor Garcia,  ex-1º Cabo da CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71:

Para vós amigos Luís e Carlos, e para todos os Tabanqueiros.
Victor Garcia e família desejam-vos um Santo Natal cheio de harmonia e felicidade.
Que o próximo ano não seja tão doloroso.

Um abraço
Victor Garcia

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10856: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (8): Mensagens de Natal da Tertúlia (2)

Guiné 63/74 - P10860: Blogpoesia (311): Natal, Bambadinca, 24/25 de dezembro de 1969 (Luís Graça)


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Miúdos católicos de Bambadinca, na parada do quartel, frente à igreja, em dia de cerimónia religiosa (possivelmente, crisma ou primeria comunhão...). Foto álbum de José Carlos Lopes,  furriel mil amanuense da CCS/BBCAÇ 2852.

Fotos: © José Carlos Lopes (2012). Todos os direitos reservados.


Bambadinca, 24 de Dezembro de 1969.
Natal nos trópicos!
Não consigo imaginá-lo sem aquela ambiência mágica
que me vem do fundo da memória.
Do meu cristianismo de infância terei apenas captado
o sentido encantatório do Natal
e a sua antítese,
que é o universo maniqueísta da Paixão.
Mas decididamente não vou fazer flash-back.
Cortei o cordão umbilical a frio
e da infância resta-me apenas 
a sensação do salto mortal.
Há, porém, certas imagens poéticas, 
recalcadas no subconsciente
ou guardadas no baú da memória,
que hoje vêm ao de cima. 
Por um qualquer automatismo.
Ou talvez por ser Natal algures,
far from the Vietnam,
longe da Guiné,
e eu passar esta noite emboscado.
O que não tem nada de insólito:
é uma actividade de rotina.
Mas é terrivelmente cruel a solidão deste tempo
em que os homens se esperam uns aos outros
nas encruzilhadas da morte,
os dentes cerrados
e as armas aperradas.

Em constraste, 
um bando alegre de crianças cabo-verdianas
não longe daqui, da Missão do Sono,
entoam alegres cânticos do Natal crioulo
ao som do batuque pagão.
No aquartelamanto, 
de que eu vejo apenas as luzes ao fundo,
ninguém se desejou boas festas
porque também ninguém tem sentido de humor.

Nem por isso se deixou de celebrar a Consoada da nossa terra: 
um pretexto para se comer, pouco,
o tradicional prato de bacalhau
com batatas e grelhos...desidratados
e sobretudo para se beber, muito.

Hoji, festa di brancu,
noite di Natal,
manga di sabe!,
 lembra-me um dos meus soldados africanos,
enquanto ao longe a artilharia do Xime e de Massambo
faz fogo de reconhecimento.

E eu fiquei a pensar neste tempo de silêncio, 
de coragem,
de cobardia
e de cumplicidade.
Mas também de raiva.

Bambadinca, 25 de dezembro de 1969.
Revisto, hoje,  Madalena, V. N. Gaia, 25 de dezembro de 2012
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10859: Blogpoesia (310): Em dezembro (Luís Graça)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10859: Blogpoesia (310): Em dezembro (Luís Graça)













Fotos de © Luís Graça: Candoz, 22 de dezembro de2012


em dezembro
não fazia frio
em dezembro
não fazia ainda neve
em dezembro era natal
e comiam-se rabanadas

em janeiro
cantavam-se as janeiras
e bebia-se o vinho novo

em dezembro
ainda não havia neve
pra cozer as pencas pró natal

não havia neve
à porta dos camponeses pobres do norte
nem as peugadas dos pés descalços
das criancinhas do augusto gil

batem leve levemente
como quem chama por mim...
ah onde está o tipicismo da miséria rural
que os escritores burgueses descobriram antes de nós
o camilo o eça o ramalho o aquilino

em dezembro
o pai natal já não descia pelo fumeiro
por entre os salpicões e os presuntos
vinha de peugeot pelas estradas de frança
e trazia tiparrillos pra malta fumar
à lareira

em dezembro
a maria do norte cortava erva pró gado
e cantava a plenos pulmões
uma canção do sul

candoz. natal de 1976


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Nota do editor:

Último poste da série >  15 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10804: Blogpoesia (309): Vem aí retoma... (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P10858: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte VII): Subsetor de Empada: atividade operacional em julho e agosto de 1968




Guiné > Região de > Empada > julho de 1968 >  Material apreendido ao IN no decurso da op Quidação.

Fotos: © Manuel Serôdio (2012). Todos os direitos reservados.


1. Continuação da série do Manuel Serôdio (, camarada que vive em Rennes, Bretanha, França), sobre a história da sua companhia, a CCAÇ 1787 (*)

Julho de 1968

Operação Quidação

Situação:

A região definida pelo entroncamento das estradas de Buba-Catió, Empada, rio Arijô, Saucunda, e Batambali Balanta, são percorridos por grupos inimigos. Em tempos, haviam sido referenciados acampamentos inimigos em Saucunda Balanta, destruidos pelas nossas tropas, e em Bissete, próximo da bolanha, destruido pelos parauedistas.

O inimigo encontra-se organizado em força, na região de Aidará e Cã, tendo já por diversas vezes flagelado com morteiros de 82, e metralhadoras pesadas, as nossas tropas que atuavam na zona.

É provável que o inimigo ali possua um acampamento secundário, funcionando como posto avançado, em relação à área de que detém o controle, praticamente desde o início do terrorismo.

Missão:

Bater a área anteriormente referida, destruindo os acampamentos que fossem detetados, e aniquilar ou aprisionar os elementos inimigos que se revelassem.

Forças executantes: (i) 4 grupos de combate da Companhia 1787; (ii) 3 grupos de combate da Companhia de Milícias n° 6

As nossas tropas sairam de Empada cerca das 21 horas, prosseguindo até Batambali Balanta. Neste local, as forças irradiaram para os locais onde se tinha préviamente estabelecido a montagem das três emboscadas. O dispositivo estava montado pelas 5,30 horas. À medida que o dia clareava, começam-se a ouvir bastante perto, tiros isolados, parecendo provenientes de elementos inimigos a caçar. Cerca das 6,30 horas, um grupo inimigo passou conversando a cerca de 500 metros de uma das emboscadas. Às 6,40 horas um grupo inimigo de cerca de 15 elementos que seguia pela estrada de Catió, provavelmente o anterior referido, caíu na emboscada das nossas tropas, na área de Saucunda Beafada.

O inimigo caminhava com três elementos à frente, e os restantes em fila indiana. As nossas tropas deixaram-nos entrar na zona de morte e iniciaram a emboscada com fogo de bazooka, que imediatamente pôs fora de combate dois elementos inimigos. As nossas tropas desencadearam fogo rápido e brutal, que só não foi mais eficaz  por os elementos inimigos terem a mata cerrada, onde se refugiaram a dois passos. Efetuado o assalto, capturou-se o seguinte material.

1 Pistola Metralhadora Sudayev
141 Cartuchos para Pistola Metralhadora 7,62
4 Carregadores para Pistola Metralhadora
1 Almotolia para Óleo
1 Porta Carregadores de Pistola Metralhadora
Vários objetos de uso pessoal

O inimigo sofreu 3 mortos, 1 ferido grave, 1 ferido ligeiro

As nossas tropas não sofreram baixas

Para além das baixas inflingidas ao inimigo, o facto de pela primaira vez, a Companhia de Empada ter capturado uma arma na área de Aidará, o que ainda não tinha acontecido desde o início do terrorismo, causou extraordinário regozijo entre os elementos da Companhia de Milícias e da população, e contribuiu para elevar o moral das nossas tropas.
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Cartão de Boas Festas do tempo de Guiné... O Mamuel Serôdio mandou-nos também as boas festas de França, onde vive desde 1972


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Operação Queiroz

Situação:

A região de Caur de Baixo Balanta é frequentemente percorrida e patrulhada por grupos inimigos mais ou menos numerosos, que também com muita frequência cambam a bolanha de Cancumba, e vêm flagelar Empada e Ualada, ou arruinar as culturas da população de Empada. Há muito estão referenciados acampamentos inimigos em Iangqê, e de um modo geral, o inimigo possui vários acampamentos secundários, mais ou menos dispersos em toda a península da Pobreza. Esta península, por assim dizer, é controlada pelo inimigo desde o início do terrorismo.

Missão:

Patrulhar ofensivamente a área de Cancumba Beafada e Caur de Baixo Balanta, montando neste último local, uma rede de emboscadas.

Forças executantes: (i) 3 grupos de combate da Companhia 1787; (ii) 3 grupos de combate da Companhia de Milícias n° 6

Sem contato. Detetados vários vestígios de passagem do inimigo

Durante este período, regressou à Unidade o grupo de combate da Companhia 1791, que se encontrava a reforçar o sub-setor de Empada.

Agosto de 1968

Atividade operacional. (i) Patrulhamentos e picagem diários às estradas para o Cais e Ualada, e à pista de aterragem; (ii) Segurança aos barcos e aviões que demandaram Empada; conjugados com emboscadas (4) (iii) Segurança aos trabalhos agrícolas

Operação Naipe

Situação:

A península de S. Miguel Balanta, hà muito tempo que não é patrulhada pelas nossas tropas. Nela, parecem existir algumas cambanças de canos, que os grupos inimigos vindos de Cã e Aidará, utilizam, embora não muito frequentemente.

Antes da evacuação de Ualada, o inimigo desta zona costumava flagelar o destacamento.

Missão:

Bater a área anteriormente mencionada, montar uma rede de emboscadas, aprisionando ou aniquilando os elementos inimigos que se revelassem às nossas tropas, quer durante a batida ,quer durante as emboscadas.

Forças executantes: (i) 2 grupos de combate da Companhia 1787; (ii) 2 grupos de combate da Companhia de Milícias n° 6

Sem contato nem vestígios.

Operação Quarentão

Situação:

A região de Caur de Cima, Beja e Bijante, embora não seja direta e frequentemente atingida pela atividade inimiga, desde Março último que não é patrulhada pelas nossas tropas. O inimigo desenvolve intensa atividade, patrulhando constantemente a região (um pouco mais ao sul) do cruzamento da estrada Empada-Buba, com a estrada de Caur de Cima.

Missão:

Bater a área acima referida, montar uma rede de emboscadas, aprisionar ou aniquilar os elementos inimigos que se revelassem às nossas tropas, quer durante a batida quer durante as emboscadas

Forças executantes; (i) 2 grupos de combate da Companhia 1787; (ii) 2 grupos de combate da Companhia de Milícias n° 6

Sem contato nem vestígios.

(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10758: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte VI): Subsetor de Empada: atividade operacional em junho e julho de 1968

Guiné 63/74 - P10857: Notas de leitura (442): Três estudos sobre a Guiné Portuguesa: A população de Cacine, a cestaria e o totemismo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Outubro de 2012:

Queridos amigos,
António Carreira e Fernando Rogado Quintino foram dois estudiosos da Guiné-Bissau e o seu trabalho mantém-se de leitura obrigatória.
As minhas idas à Feira da Ladra, o gosto em vasculhar nas caixas onde se amontoam papéis em absoluta desordem, permitem estas descobertas por vezes ao preço de 1 euro.
Se na nossa augusta tertúlia alguém dispuser de papéis deste jaez e não sentir entusiasmo em comentá-lo para dentro da nossa sala de conversa, contem comigo, só exceciono aqueles trabalhos à volta dos vírus, outros que metam cobras ou estudos dos solos, sinto-me desapaixonado, acho que tão nobre missão deve recair nas mãos do veterinários e engenheiros especializados.

Um abraço do
Mário


Três estudos sobre a Guiné Portuguesa: A população de Cacine, a cestaria e o totemismo

Beja Santos

António Carreira e Rogado Quintino foram dois estudiosos incontornáveis da historiografia, etnografia e antropologia da Guiné Portuguesa. Deixaram uma enorme bibliografia, basta que o leitor navegue no Google, encontrará estudos surpreendentes, alguns deles há mesmo a possibilidade de serem descarregados. Encontrei três pequenos estudos cuja utilidade pretendo partilhar com os confrades. O primeiro intitula-se “Guiné – A população do posto de Cacine no decénio 1950-1960”, por António Carreira. Ele vai seguramente ao encontro da curiosidade de quem, por qualquer razão, viveu ou combateu nos regulados de Gadamael, Quitafine ou Cacine. Carreira lembra-nos que este território entrou na posse de Portugal depois de 1886, houve retificação de fronteiras até 1929. Deplora a troca do Casamansa pela região de Cacine, dizendo que o primeiro servia de via de escoamento enquanto os cursos de água de Cacine, sinuosos e pouco profundos, não permitem a afluência do comércio do interior. Para que o leitor entenda como o território até ao início da luta armada tinha predominantemente Balantas, Nalus e Fulas, é importante compreender que a prolongada guerra de 1863-1888, travada entre Fulas e Beafadas e Mandingas, fez aproximar da região de Cacine grupos étnicos que até então viviam em outras áreas. Deu-se uma migração de Fulas que passaram a influenciar os Nalus. De acordo com o estudo do recenseamento, encontravam-se presentes quase todas as etnias, com raras exceções importantes, como os Bijagós. Depois o autor debruça-se sobre a estrutura familiar dos Nalus, eram profundamente animistas e, tal como os Bagas e os Landumás foram sujeitos à islamização. Possuíram, até à islamização, uma arte excecional, marcada por máscaras e tambores. De acordo com o trabalho de Carreira, dos anos 50 para os anos 60 do século passado deu-se uma evolução demográfica impressionante, ultrapassou os 50 %, os animistas foram predominantes neste crescimento (Balantas, Nalus, Beafadas e Sossos).

Quanto aos dados demográficos, no regulado de Cacine, a povoação de Cacine tinha uma população inferior a 500 habitantes, seguia-se Cassacá, depois Cacoca, Cabaz e Cabochanquezinho no regulado de Gadamael, havia mais população em Sanconhá (Sangonhá), Ganturé, Bricama, Jabicunda. Quanto ao regulado de Quitafine, o maior núcleo populacional era Cassebeche, seguindo-se Canefaque e Calaque. O autor discreteia ainda sobre a estrutura familiar, as ocupações por etnias e deplora que o recenseamento não contemple o grau de instrução das populações autóctones e apela a que se venha a conhecer em novos censos dados relevantes sobre as confrarias islâmicas. Este estudo apareceu publicado na revista do Centro de Estudos Demográficos, em 1972.

Como eram os três regulados da região de Cacine, antes da luta armada (1963)

Fernando Rogado Quintino apresentou uma comunicação no Congresso Internacional de Etnografia, que se realizou em Santo Tirso, em 1963, e intitulada “O Totemismo na Guiné Portuguesa”. Depois de analisar este fenómeno que passou a ser estudado a partir dos finais do século XVIII, escreve o seguinte: ”Os povos da Guiné Portuguesa, que conservam a sua estruturam tradicional, são animistas. Os seus feitiços nada mais são do que suportes das almas dos antepassados, verdadeiros tótemes dos parentes vivos. Os “USSAIS” dos Manjacos, Brames e Papéis, os “AULES” dos Balantas, os “TCHINAS” dos Felupes, os “ORREBUKES” e “IRANDES” dos Bijagós, quer sejam simples estacas de madeira, manipansos ou “CANSARÉS” quer pedras, farrapos, amuletos, cobras, crocodilos ou poilões, assumem carácter sacro, não pela natureza da sua matéria, pelo aspeto físico da sua constituição, mas porque se tornam depositários dos antepassados mortos”. E refere que determinados mamíferos, felinos, répteis, pássaros, plantas, no fundo, nada mais são do que verdadeiros tótemes locais, seres considerados protetores de determinado grupo, e este, por sua vez tributa-lhes respeito e veneração: não os mata, não os come, não os destrói. E consulta-os a cada passo. Cada grupo identifica-se com o seu tóteme em cerimónias festivas. Alguns grupos, como os Manjacos, os Brames, os Papéis e os Bijagós, estão organizados em clãs, regem-se por uma regulamentação por vezes complexa em matéria de sucessões, de praxes, de interdições, de tabus, de obrigações sociais. E analisa em profundidade vários conceitos totémicos e o nome dos animais para concluir que na Guiné Portuguesa os povos que conservam a sua estrutura tradicional vivem ainda impregnados de conceitos totémicos, que se manifestam através de uma multiplicidade de práticas, de ritos e de tabus, destacando o grupo Papel, que habita a ilha de Bissau, esse tem uma organização social do tipo nitidamente totémico.

Fernando Rogado Quintino escreveu nas Publicações do Centro de Estudos Africanos do Instituto de Antropologia da Universidade de Coimbra, 1988, a “Cestaria na Guiné Portuguesa”. Refere em primeiro lugar as espécies fornecedoras de matéria-prima para cestaria e tece considerações sobre a sua confecção, aludindo à forma como se obtém o contraste pelas cores e à operação (raríssima) do polimento a verniz. O cesteiro dispõe de equipamento modesto, o terçado; aprecia os vários métodos de fabrico e elenca as diferentes etnias que se distinguem no fabrico da cestaria. E observa que os povos do interior, particularmente Fulas e Mandingas fabricam cestos especiais altos com o fundo de igual largura da boca, destinados à recolha e guarda de géneros, funcionam como silos, substituindo os potes de barro cru.

Nas conclusões, Rogado Quintino diz que “Não atingiu a cestaria na Guiné aquele grau de desenvolvimento que suscita nos artífices vocações para trabalhos finos: cestos de costura, corbelhas, açafates, etc. As espécies fabricadas não vão além do estritamente necessário à vida doméstica. É esta a razão por que não existem ali profissionais consagrados da especialidade. De todos os grupos, aquele que mais se tem distinguido neste particular é o brame (também conhecido por mancanha). As suas criações denotam já um sentido artístico apurado; pelo menos fogem da vulgaridade”.

Cesto brame, com tampa, para guarda de panos e roupas interiores, fabricado com fechos de capim. Peça do Museu Nacional de Etnologia

Chapéu de fabrique brame, peça que demonstra as vocações artísticas desta etnia em matéria de entrançados. Peça do Museu Nacional de Etnologia
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10835: Notas de leitura (441): "Prece de um Combatente Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial", por Manuel Luís Rodrigues Sousa (2) (Mário Beja Santos)