sábado, 25 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11626: In Memoriam (151): À memória do meu companheiro ex-combatente José Carvalho de Sousa do 4.º Pelotão/2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 (Manuel Luís R. Sousa)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Sousa (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74, actualmente Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma), com data de 21 de Maio de 2013:

Amigo e camarada Carlos Vinhal:
Envio-te em anexo um texto, destinado ao nosso blogue, em homenagem a um companheiro de luta de Jumbembém José Carvalho de Sousa (4.º pelotão).

Gostaria que este mesmo texto tratasse de outro assunto mais alegre como forma de fazer a minha "prova de vida" no blogue, visto que, como sabes, e desde que comecei a escrever o livro "PRECE DE UM COMBATENTE", não tenho enviado "material", embora acompanhe de forma mais ou menos assídua a "literatura" dos nossos camaradas. Porém a vida,ou a morte neste caso, principalmente a partir da nossa idade, prega-nos estas partidas.

Enviando-te este texto, de que darei conta este ano no convívio, dia 1 de Junho em Fátima, aos meus companheiros de campanha, foi a forma que encontrei para exteriorizar o que me vai na alma pela perda deste nosso saudoso companheiro.

Um abraço
Manuel Sousa


À MEMÓRIA DE UM COMPANHEIRO EX-COMBATENTE

No dia 26 de Maio de 2012, teve lugar o último encontro de ex-combatentes, relacionado com a minha 2.ª Companhia do Batalhão 4512, cuja comissão decorreu nos anos de 1973 e 1974 em Jumbembém, Farim, na Guiné.

O evento teve lugar na freguesia de Ruivães, Vila Nova de Famalicão.
O ponto marcado para a concentração da maior parte do pessoal, para seguir depois todo junto até Ruivães, foi no parque de estacionamento do Jumbo da Maia.

À medida que uns e outros iam chegando, sucediam-se os efusivos cumprimentos entre todos os companheiros de luta, uns pela saudade acumulada durante o último ano, outros, pelo menos um, por ter sido a primeira vez que se juntavam a nós.

Nestas alturas é incontornável falar-se de episódios de guerra, e não só, que nos marcaram durante a nossa comissão em campanha durante dois anos da nossa juventude.

Nestas recordações entre todos, fui ficando atento à descrição do Pinto, o padeiro, e o Libânio, o fiel do depósito de géneros, da forma subtil e ardilosa com que apanhavam uns cabritos da população que deambulavam pelas instalações do quartel, para umas “tainadas”, cujo método também era adoptado, segundo me apercebi também no local, pelo nosso “mata e rouba”, o Miranda do 4.º pelotão.

Como parte de vós já sabe, editei o livro “PRECE DE UM COMBATENTE”, que retrata precisamente essa nossa vivência em campanha, que inclui um texto relacionado com outro método de apanhar os cabritos por parte do meu pelotão e pelos condutores, a que dei o título de “O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO DOS CABRITOS”.

Naquela data já o livro estava na fase de edição em Lisboa, o que me levou a telefonar para a editora nos dias imediatos, logo que pude, para ser incluído no livro mais um texto de última hora, com o consequente aditamento que tive de fazer no registo da obra no IGAC (Inspecção Geral das Actividades Culturais.

Precisamente o texto do irresistível relato que decidi fazer destes deliciosos detalhes, do Pinto e do Libânio, com que os bichos, num ápice, desapareciam.
Daí que no mesmo livro eu descreva dois episódios que envolvem os cabritinhos, como, aliás, parte de vós, quem já o leu, se deve ter apercebido disso.

Portanto, para quem não conhece o livro, aí vai este episódio, o último texto que ali escrevi:

“CABRITO À PADEIRO" 
UMA ESPECIALIDADE GASTRONÓMICA EM JUMBEMBÉM

Uma das principais actividades na economia de subsistência da Guiné, entre a produção de arroz, mancarra, milho, extracção de alguma madeira, pesca artesanal etc., era a pastorícia de animais das espécies bovina e caprina.
Era o principal suporte alimentar da população, e refiro-me particularmente à de Jumbembém, já que lhe proporcionava o abastecimento diário de leite e de alguma carne.

Além disso, como já referi no “MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO DOS CABRITOS”, a posse do maior número possível de cabeças de gado conferia aos seus detentores um destacado estatuto de poder económico.
Constituía, pois, o pecúlio dos “homens grandes” da tabanca, não só na área da alimentação, como servia também de moeda de troca nas suas transacções comerciais.
Eram também esses animais utilizados, em número negociado, como dote a entregar aos pais das bajudas que os referidos “homens grandes” adquiriam até disporem das sete mulheres que a sua cultura lhes permite.
Todo este gado era ciosamente preservado pelos seus proprietários que, por muito que se lhes pedisse, dificilmente alienavam um animal aos militares ali estacionados, um cabrito, por exemplo, para fazer parte da ementa numa festança de aniversário, de qualquer outra comemoração ou mesmo para suprir a fome nos dias em que o rancho não era substancial.

Como já tenho referido, muito a custo vendiam um bovino ou outro ao vagomestre responsável pela logística alimentar da companhia para o rancho geral.
Só cediam porque tinham necessidade que este lhes fornecesse alguns produtos alimentares, nomeadamente, entre outros, arroz, farinha, feijão, óleo.
Assim, diariamente, manadas e rebanhos destes animais eram vistos em liberdade na periferia do quartel e da tabanca da população anexa, a alimentarem-se no abundante pasto que lhes proporcionava a época das chuvas.
No tempo da seca, com mais escassez de pasto, entravam no interior do quartel, principalmente as cabras e os cabritos, à procura de restos da nossa alimentação.

A actividade dos padeiros da companhia, o Nicha, o Brito e o Pinto, desenvolvia-se, normalmente, durante a noite a cozerem o pão para o dia seguinte. Porém, algumas vezes, em circunstâncias excepcionais, durante o dia coziam algumas fornadas lá no forno rudimentar, instalado num rústico barraco coberto de chapas de zinco, aliás, era a cobertura comum a todas as instalações.
Quando os mesmos padeiros decidiam comemorar entre si fosse o que fosse, e porque, como já referi, havia dificuldade em que lhes fosse vendido um cabrito para o efeito, punham em prática um método muito peculiar e eficaz para suprirem esta contrariedade.

Uma estratégia muito mais avançada do que o amadorismo que foi utilizado pelo meu pelotão e pelos condutores a que já me referi no “MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO DOS CABRITOS”.

Os cabritos, juntamente com as cabras, diariamente deambulavam ali pelo quartel.
Para os atraírem ao forno, colocavam pedacinhos de pão, como isco, alinhados ao longo de alguns metros para o exterior, a partir do interior das instalações do forno, cuja porta ficava aberta e atrás da qual ficavam os mesmos padeiros de vigia pelas frinchas a aguardarem pelo momento certo. Os cabritos, uma vez atraídos pelo cheiro, ávidos, em competição uns com os outros, rapidamente abocanhavam a enfiada dos pedaços de pão, o que os levava a precipitarem-se no interior das instalações do forno.

Era-lhes fatal!
Rapidamente a porta se fechava.
Num ápice o animal seleccionado, visto que às vezes entrava mais do que um, era sacrificado e preparado, cujas vísceras e a pele, para não ficarem visíveis os vestígios do “crime”, eram incinerados nas chamas de aquecimento do forno.
O resto, ou seja, o fornecimento das batatas, dos temperos e dos condimentos, era “requisitado”, à socapa, ao fiel do depósito de géneros, ao Libânio, que, claro, também participava depois no festim.

Cerca de quarenta anos depois, em 2004, eis o que resta das instalações do forno, invadidas pelo mato, um dos palcos do “extremínio” dos cabritos aqui relatado. 
Foto: © José da Rocha Sousa (ex-combatente)

À parte a macabra sorte dos animais, convenhamos que era notável a estratégia destes militares, cuja especialização não se limitava à de padeiros.
Atentos os contornos desta história, a sua especialidade era muito mais abrangente!
Porém, a mesma técnica era também posta em prática pelo 4.º pelotão ao fazer desaparecer igualmente alguns cabritos, que tinha como executante, entre outros, o Miranda, “ternamente” apelidado, talvez por isso, por “Mata e Rouba”, ficando assim a dúvida a quem pertenciam os direitos de autor de tão avançado método de apanhar cabritos.
Acredito que esses direitos de autor pertenceriam aos padeiros, dado que não deixavam sinais dos despojos dos cabritos ao serem incinerados no forno.

Enquanto que o 4.º pelotão, ao enterrá-los ali próximo da caserna, um dia em que o quartel foi atacado com foguetões, um deles, por coincidência, abriu uma cratera com a explosão precisamente onde os restos dos cabritos foram enterrados, deixando-os a descoberto.
Estava assim, por azar, desvendada a autoria do “crime”.
Todavia, os “acusados”, mesmo perante esta evidência, apresentaram os seus argumentos de defesa, de tal forma eloquentes e convincentes, que nem da cartola de um ilustre e sagaz advogado seria de esperar tão brilhante alegação: 
- Foi o foguetão que fulminou os cabritos!

Com o amadorismo do 3.º pelotão e dos condutores a que antes fiz referência, com o “profissionalismo” e sofisticação dos padeiros e do 4.º pelotão ora relatados e na eventualidade dos 1.º e 2.º pelotões terem feito também a sua parte, dá para perceber que grande parte da população de cabritos de Jumbembém foi dizimada.

Era a irreverência de jovens de 22 anos de idade, associada muitas vezes à fome que se passava, principalmente à noite em que o jantar era invariavelmente arroz com salsichas, que nós passámos a designar ironicamente por “arroz com p… de macaco”.

A necessidade aguçava o engenho. Faziam jus à máxima da época de que “a tropa manda desenrascar".

(Pág. 271/276 do livro "Prece de Um Combatente - Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial" - Edição de Autor - 1.ª Edição-Julho de 2012)

******

Depois da concentração, à hora marcada, partimos para Ruivães, onde fomos recebidos pelo anfitrião organizador da festa, na sua própria vivenda, o também ex-combatente, nosso companheiro, José Carvalho de Sousa.

Este nosso companheiro era emigrante na Suíça que, juntamente com a esposa e a filha, D. Goretti e Alzira, respectivamente, ao longo de vários anos em que estes encontros se têm vindo a suceder, viajava expressamente daquele pais para Portugal e vice-versa para se juntar a nós nestes dias.
Era um companheiro alegre e bem disposto que nos brindava e mimava com os chocolates da Suíça que com satisfação nos distribuía, ora no autocarro em viagem para o local previamente estabelecido, ora já no restaurante da festa.

No ano anterior, em 2011, no decorrer do encontro na Mealhada, o nosso amigo José Carvalho de Sousa manifestou o desejo de ser ele o organizador da festa de 2012.
E assim foi.
Esperava-nos então em Ruivães um encontro inesquecível:

A recepção aos ex-combatentes foi feita com a contagiante alegria deste nosso anfitrião na sua bonita vivenda que construíra com as suas poupanças de emigrante em local nobre da freguesia de Ruivães, ali junto ao adro da igreja paroquial.

Fotografia dos ex-combatentes junto à vivenda do anfitrião José Carvalho de Sousa, assinalado pela seta.

Seguiu-se a homilia habitual naquela igreja em homenagem aos nossos companheiros já falecidos e, à saída, para nossa surpresa, assistimos à exibição da fanfarra dos Bombeiros Voluntários locais.

Entrámos depois no salão paroquial, paredes-meias com a mesma vivenda, onde nos foi fornecido um lauto banquete por uma empresa de restauração, abrilhantado, para mais uma surpresa nossa, por um conjunto musical lá da terra.
Seguiram-se algumas intervenções de camaradas que, invariavelmente, aludiam à excepcional organização da festa por este nosso companheiro, perante a sua esfuziante alegria e alguma emoção que nos contagiou a todos.
Eu próprio intervim, revelando a todos o projecto em curso do meu livro, prestes a ser concluída a sua edição, cujas histórias ali relatadas eram comuns a todos nós.

O nosso amigo anfitrião comeu, falou, dançou, transpirou, emocionou-se, distribuiu os habituais chocolates, ofereceu lembranças, entre as quais umas garrafas de bom vinho.
Enfim, era manifesta a felicidade que lhe ia na alma pela festa que nos proporcionou, totalmente a expensas suas, pois não aceitou um cêntimo que fosse de ninguém.

Terminada a festa, nos dias imediatos, regressou à Suíça com a família de onde tinha vindo propositadamente para organizar a festa, embora com o apoio de dois camaradas, o Bastos e o Carneiro.

Volvidos cerca de dois meses, nos primeiros dias do mês de Agosto, voltávamos a Ruivães em circunstâncias bem diferentes!:
Fomos despedir-nos do nosso inesquecível camarada José Carvalho de Sousa que acabava de ser “mobilizado”, desta vez para integrar o exército de Deus lá no Céu.

Ele tinha-se despedido de nós, de facto, conscientemente ou não, há dois meses atrás quando, rejubilando de alegria, nos recebeu.

Já não tive oportunidade de lhe oferecer um livro, visto que o primeiro que recebi foi precisamente no dia do seu funeral, quando regressei a casa.
Fiz questão de o oferecer mais tarde à família.

A sua figura ficará gravada de forma indelével nas nossas memórias enquanto por cá andarmos.

Até um dia companheiro.
Maio de 2013
Manuel Luís Rodrigues Sousa
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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11578: In Memoriam (150): Henrique Rosa (1946-2013), ex-fur mil inf, Op Esp., CCAÇ 2614 / BCAÇ 2892 (Nhala e Qubeo, 1969/71), e ex-presidente da República da Guiné-Bissau, interino (2003/05) (Francisco Barroqueiro / Manuel Amaro)

Guiné 63/74 - P11625: Agenda cultural (275): O livro "Guiné - Terra que aprendemos a amar", de Manuel Maia foi lançado no passado dia 22 de Maio em Monte Real (Miguel Pessoa)

1. No passado dia 22 de Maio foi apresentado, em Monte Real, o livro "Guiné - Terra que aprendemos a amar" de autoria do nosso camarada Manuel Maia, (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum NagaCafal Balanta e Cafine, 1972/74), escrito em sextilhas, como ele tão bem se expressa.

O evento decorreu durante o habitual almoço mensal da Tabanca do Centro.

Aproveitando o trabalho do nosso camarada Miguel Pessoa (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Pilav Reformado) [foto à direira], aqui fica a sua reportagem, já publicada no sítio da Tabanca do Centro.

Guiné 63/74 - P11624: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (56): Convite aos membros da nossa Tabanca Grande e demais leitores do blogue para nos responderem

1. Como é sabido, o nosso editor Luís Graça elaborou um questionário a que poderão responder todos os nossos leitores, façam parte ou não da tertúlia do Blogue.

Até ao momento recebemos 124 respostas, ainda uma percentagem pouco significativa, cerca de 21%, tendo em conta que só na tertúlia somos 593. 
Entre os 312 seguidores (membros) haverá muita gente que não participando activamente, poderia também emitir a sua opinião.

Vamos recuperar parte da mensagem que o nosso editor Luís Graça fez circular entre a tertúlia no passado dia 15:

[...]Estamos a comemorar os 9 anos de existência. 
A vossa resposta é a melhor prenda que podemos receber. 
Até ao dia 8 de junho, data do nosso VIII Encontro Nacional, em Monte Real, ainda queremos publicar as respostas em atraso... 
Arranjem 5 minutinhos para nós... E devolvam-nos por email as vossas opiniões e sugestões. 
São apenas 15 perguntinhas simples. 
A quem já respondeu, a nossa gratidão. 

Um Alfa Bravo
Luís Graça 
_______________

 Questionário ao leitor do blogue: 

(1) Quando é que descobriste o blogue? 
(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando?  
(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)? 
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]?   
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 
(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook? 
(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook? 
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)  
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje para ti? E a nossa página no Facebook? 
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais? 
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real? 
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar?
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Responder por email para: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

Lista dos camaradas que já responderam ao questionário:

Abel Santos; Abílio Magro; Adriano Moreira; Agostinho Jesus; Aires Ferreira; Albano Costa; Alberto Antunes; Alcides Silva; António Barbosa; António Branco; António Eduardo Carvalho; António Eduardo Ferreira; António Estácio; António José Pereira da Costa; António M. Sucena Rodrigues; António Matos; António Melo; António Rosinha; António Sampaio; António Vaz; Armando Faria; Armando Fonseca; Armando Pires; Augusto Silva Santos

Belarmino Sardinha; Bernardino Parreira

Cândido Morais; Carlos Fraga; Carlos Pedreño Ferreira; Carlos Pinheiro; Carlos Sousa; Carlos Vinhal; César Dias; Constantino Neves

Delfim Rodrigues

Eduardo Campos;  Eduardo Estrela; Ernestino Caniço

Fernando Chapouto; Fernando Costa; Fernando Gouveia; Fernando Macedo; Fernando Súcio; Ferreira Neto; Filomena Sampaio; Francisco Gomes; Francisco Henriques da Silva; Francisco Palma

George Freire; Gilda Brandão; Gumerzindo Silva

Hélder Sousa; Henrique Cerqueira; Henrique Matos

J. Casimiro Carvalho; J. Crisóstomo Lucas; J.L. Vacas de Carvalho; JL Mendes Gomes; João Lourenço; João Martins; João Melo; João Paulo Diniz; João Rebola; Joaquim Carlos Peixoto; Joaquim Cruz; Jorge Cabral; Jorge Coutinho; Jorge Picado; Jorge Pinto; Jorge Teixeira (Portojo); José Alberto Pinto; José Augusto Ribeiro; José Barros Rocha; José Carlos Neves; José Carlos Pimentel; José Colaço; José da Câmara; José Eduardo Oliveira; José Ferraz; José Figueiral; José Firmino; José Francisco Borrego; José Manuel Cancela; José Manuel Carvalho; José Manuel Matos Dinis; José Marques Ferreira; José Martins: José Martins Rodrigues; José Ruivo Fernandes; José Santos; José Teixeira; José Zeferino; Juvenal Amado; Juvenal Candeias

Luís Borrega; Luís Fonseca

Manuel Carvalho; Manuel Castro; Manuel Dias Pinheiro Gomes; Manuel Joaquim; Manuel Luís Lomba; Manuel Luís N. Sousa; Manuel Maia; Manuel Marinho; Manuel Moreira; Manuel Reis; Mário Beja Santos; Mário Bravo; Mário Pinto; Mário Serra de Oliveira

Paulo Salgado; Paulo Santiago; Pepito

Raul Albino; Ricardo Almeida; Rogério Freire; Rui Felício; Rui Santos; Rui Silva

Sousa de Castro

Tony Borié; Torcato Mendonça

Veríssimo Ferreira; Victor Garcia
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11623: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (55): Respostas (nºs 122/123/124): José Carlos Pimentel (CCAÇ 2401, Pirada, Paunca e Buruntuma, 1968/70); Agostinho Jesus (CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74); e Manuel Castro/Arminda Castro (CART 6254, Olossato, 1973/74)

Guiné 63/74 - P11623: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (55): Respostas (nºs 122/123/124): José Carlos Pimentel (CCAÇ 2401, Pirada, Paunca e Buruntuma, 1968/70); Agostinho Jesus (CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74); e Manuel Castro/Arminda Castro (CART 6254, Olossato, 1973/74)

Resposta nº 122 > José Carlos Pimentel  [,ex-Soldado
de Transmissões da CCAÇ 2401/BCAÇ 2851,
Pirada, Paunca e Buruntuma, 1968/70]

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

31/03/2012

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

Pesquisa

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

31/03/2012 [3 de abril de 2012

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

De tempos a tempos.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

Tenho e algum ainda não foi publicado.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

Não.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

Não.

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

Conhecer camaradas. Mas da minha Companhia tenho azar.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

Está tudo O.K.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Não.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

Lembrar aos jovens o que nós passámos.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

Não.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Não.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

Acho que sim.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Não


Resposta nº 123 > Agostinho Jesus [, ex-1.º Cabo Mecânico Auto da CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74]

Bom dia camaradas e amigos.

(1) Há cerca de 3/4 anos.

(2) Pesquisa ocasional.

(3) Sim,  com cerca de três meses [, desde 23 de abril de 2013]

(4) Um vez por semana,  no mínimo.

(5) Não tenho mandado, mas vou reunir material para envio.

(6) Sim,  conheço [a nossa página no Facebook].

(7) Vou mais vezes ao FB

(8) Novidades, surpresas, etc.

(9) Sem opinião formada.

(10) Alguma dificuldade( muito lento, o sistema fica parado,  bloqueado).

(11) O blogue e o FB ajudam a recordar velhos, bons e maus tempos.

(12) Ainda não.

(13) Não me é possível,  por estar de férias fora de Portugal.

(14) Para mim,  que sou um novato,  penso que sim, Mas para isso tem que existir um Luis Graça, e outros carolas.

(15) Não tenho criticas, nem sugestões. O comentário é este CONTINUEM.

Agostinho Valentim Sousa Jesus
Nascimento 15/05/1950 (dados em falta )
Para todos um forte abraço.A. J.

Resposta nº 124 > Manuel Castro (através da filha, 
Arminda Castro) [, ex-Fur Mil Mec da CART 6254 - Os Presentes do Olossato, Olossato, 1973/74]

Arminda Castro, filha do camarada Manuel Castro CCAÇ 2315.

Como solicitado, venho por este meio responder ás questões apresentadas.

(1) Quando é que descobriste o blogue ? 

Agosto de 2010

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada):

Através de pesquisa de informação de camaradas do meu pai.
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? 

Sim, o meu pai, desde 13 Maio 2011.

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 

Diariamente.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ? 

Não, tenho ficado apenas pela leitura dos textos e comentários. 

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ? 

Não sou adepta do Facebook.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ? 

Sempre ao Blogue.
(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ? 

Do Blogue, porque sou filha de um ex-combatente e sempre tive vontade de saber mais do que se passou naqueles 13 anos de guerra Colonial. 

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ? 

Dos testemunhos dos horrores por o qual muitos passaram, mas infelizmente foi a realidade!
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 

Não.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ? 

O blogue representa uma oportunidade de exposição de sentimentos vividos outrora difíceis, como também de amizades que se solidificaram ao longo de muitos anos. E sendo também uma oportunidade de reencontro de "velhos" amigos, etc. (falo em nome do meu pai).

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ? 

Não.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ? 

Não posso.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ? 

Muito fôlego !!!!!!!!!!! E que nunca acabe!

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11622: (Ex)citações (221): O comandante do Comando de Agrupamento nº 2957, cor inf Hélio Felgas, o cérebro da Op Lança Afiada (8-19 de março de 1969) (Fernando Gouveia)


Guiné > Zona leste > Comando de Agrupamento 2957 (Bafatá, 1968/70) > Guião. O Cmd Agr 2957 esteve em Bafatá, no período de Novembro de 1968 a Setembro de 1970. Os seus elementos metropolitanos sairam do ex-RAL 1 e embarcaram no T/T Uíge, em 9 de Novembro de 1968. O comandante do Cmd Agrup 2957 era o então Cor Hélio Felgas [, 1920-2008], mais tarde substituído pelo Cor Neves Cardoso. Na Tabanca Grande, temos pelo menios dois camaradas que pertenceram ao Cmd Agr 2957: António Azevedo Rodrigues e o Fernando Gouveia.

Foto: © António Azevedo Rodrtigues (2011). Todos os direitos reservados

1. Comentário do Fernando Gouveia ao poste P11575:

Caro Luís Graça, caros camaradas:

Sobre a nossa Guiné gosto muito de contar estórias mas não histórias. Sobre a Op Lança Afiada, no entanto, como a vivi intensamente, na retaguarda, vou contar algumas coisas.

As minhas funções no Comando de Agrupamento de Bafata [, Cmd Agr 2957]  eram de oficial de informações, mas como o major que tinha as funções de oficial de operações esteve de baixa muitos meses, acabei por acumular as duas valências. 

Foi assim que “ajudei” o cor  {Hélio] Felgas  [, foto à direita,] a planear a operação. A minha ajuda resumiu-se a estar sempre com ele, normalmente sentados em frente ao grande mapa escala 1/50000, ele a congeminar as posições a assumir pelas NT e suas movimentações e eu praticamente a chegar-lhe os lápis dermatográficos com que ele ia marcando na mica, que cobria os mapas, setas e ovais, que depois eram copiadas e posteriormente enviadas para as tropas intervenientes.

O cor Felgas era 100% militarista mas demasiado individualista. Com ou sem razão só acreditava nele próprio. Talvez tenha sido por isso que o major de operações [, do Cmd Agr 2957,] tenha apanhado uma depressão, pois o coronel nunca o incumbiu de qualquer assunto ligado a operações. O senhor major andou por lá muitos meses só a organizar os arquivos.

Sentado à sua beira, aquando da programação da operação, seria impensável sugerir ao cor Felgas que, sem uma operação em simultâneo na margem sul do Corubal,  a Lança Afiada não teria sucesso. Lembro-me, a propósito, que um camarada que esteve na operação me contou que, durante a operação, se ouvia toda a noite o barulho de motores de barcos a cambar o Corubal.

De qualquer maneira o cor Felgas demonstrou sempre muita preocupação com o bem estar dos soldados durante a operação. Recordo de o ter ajudado (sem aspas) a conceber uma rede mosquiteira individual para ser distribuída a cada soldado. 

Recordo ainda que andou dias a magicar um substituto para as tradicionais rações de combate e aí também ele me veio perguntar se achava que a inclusão de fruta em calda estaria correcta em vez de outros produtos que faziam parte das rações mas muito mais açucarados.

Para terminar, penso que foi nesta altura que o cor Felgas ficou com uma Kalash novinha, a estrear. Nas paredes da minha casa tenho várias peças desse espólio, mas de menor importância.

Um grande abraço a todos.

Fernando Gouveia

[ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70; 
foto à esquerda, na LDG que o levou de regresso a Bissau, 
no final da comissão]

Guiné 63/74 - P11621: Op Lança Afiada (Setor L1, Bambadinca, 8 a 19 de Março de 1969): II Parte: Desenrolar da ação: o planeado e o realizado. As primeiras dificuldades da ação: dias D, D+1, D+2, D+3



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Fotos do álbum do 1º cabo bate chapas Otacílio Luz Henriques, do Pelotãod e  Manutenção (, que era comandado pelo alf mil Ismael Augusto, membro da nossa Tabanca Grande)  >  Foto nº 185 > O dono das fotos...


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Fotos do álbum do 1º cabo bate chapas Otacílio Luz Henriques, do Pel Manut > Foto nº 197 > O espaldão do morteiro 81...



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Fotos do álbum do 1º cabo bate chapas Otacílio Luz Henriques, do Pel Manut  > Foto nº 266 > O morteiro 81... Estva então em Bambadinca o Pel Mort 2106, comandando pelo fur mil ap armas pes Lopes, com secções ou esquadras espalhadas por Xime, Mansambo e Xitole, Saltinho (abril de 1969). [O que será feito de ti, camarada e amigo Lopes, três meses mais velho do que a malta da CCAÇ 12 ?].



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Fotos do álbum do 1º cabo bate chapas Otacílio Luz Henriques, do Pel Manut > Foto nº 196 > Uma Daimler destruída... (possivelmente por mina; deveria pertencer ao Pel Rec Daimler 2046, que era comandando pelo Jaime Machado, nosso tabanqueiro).



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Fotos do álbum do 1º cabo bate chapas Otacílio Luz Henriques, do Pel Manut > Foto nº 260 > A autometralhadora Daimler, vista de outro ângulo...

Fotos: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)


A. A Op Lança Afiada foi talvez uma das maiores e mais dramáticas operações terrestres que se realizou na Guiné, ou pelo menos na Zona Leste, quer pelo número de efectivos envolvidos (cerca de 1300 homens, sendo cerca de 800 militares mais 380 carregadores, enquadrados por 100 milícias), quer pelo número elevado de heli-evacuações (cerca de 120), devido não tanto a baixas provocadas pelo IN como sobretudo a casos de fadiga extrema, insolação, doença e ataque de abelhas.

Esta operação, em que as NT varreram toda a região da margem direita do Rio Corubal, entre este rio e a linha Xime-Xitole, durante 11 dias (de 8 a 19 de Março de 1969), teve um impacto mais psicológico do que militar, apesar da destruição de importantes meios de vida e infraestruturas, necessários à guerrilha e às populações sob o seu controlo (animais domésticos, arroz, casas, escolas, instalações sanitárias...).

Esta operação pôs à prova (e revelou) os limites de resistência, física e psicológica, dos militares portugueses, num terreno e num clima duríssimos. Basta citar uma das conclusões do relatório, que temos vindo a publicar:

"A Op Lança Afiada decorreu durante 11 dias. As temperaturas verificadas neste período foram as seguintes: Máxima à sombra – Entre 39 e 43,6 graus centígrados; Máxima ao sol – Entre 70 e 74,5 graus centígrados. Estes números são elucidativos. Por um lado justificam que um homem necessite muita água (entre 8 a 10 litros por dia). Por outro lado aconselham as NT a deslocarem-se e a actuarem ou de noite ou ao amanhecer. Entre as 11 e as 16h, o melhor é parar, se possível à sombra".

O próprio autor do relatório não se coíbe de comentar:

"(...) processava-se a selecção natural: os mais fracos não resistiam à fadiga, ao calor e à deficientíssima alimentação proporcionada pelas rações de combate tipo normal. Por outro lado a falta de água era um tormento que só quem já sofreu pode avaliar".

Damos continuação à publicação do respetivo relatório. (*)

Op Lança Afiada (8 a 19 de Março de 1969) - II parte

(...) Áreas principais de concentração IN:

1 – Poindon;
2 - Baio-Buruntoni;
3 - Gã Garnes (Ponta do Inglês);
4 - Ponta Luís Dias (Calága) – Gã João;
5 - Mangai -Tubacuta;
6 - Madina Tenhegi;
7 - Fiofioli;
8 - Cancodeas;
9 – Mina – Gã Júlio;
10 – Galo Corubal – Satecuta;
11- Galoiel.


Guiné > Zona Leste > Croquis do Sector L1 (Bambadinca) > 1969/71 (vd. Sinais e legendas).


4. Desenrolar da Acção [, segundo o planeamento]










5. Desenrolar da acção [, o occorrido]:

A acção desenrolou-se durante cerca de 11 dias, mais ou menos como fora planeada. Para o final houve algumas alterações determinadas superiormente.

Dia D (8 de Março de 1968)

Neste dia e no seguinte actuaram apenas os Dest do Agrupamento Tático Norte. Fizeram-no de acordo com as Directivas do Anexo H da OOP.

Os Destacamentos [abrevidadamente, Dest] A e B atacaram a área 1 (Poindon) e os seus acampamentos. Um dos destacamentos ficou emboscado enquanto o outro procurava acampamentos. Havia vestígios de a área ter sido bombardeada pela aviação várias semanas antes.

Cerca das 7h30 o Dest B foi emboscado por grupo IN, de 15 a 20 elementos. Da reacção resultaram baixas para o IN [inimigo]que perdeu também diverso material. As NT [nossas tropas] capturaram ainda três nativos que depois foram indicar vários acampamentos onde foi apreendido mais material e muito arroz. A área foi depois batida pelos dois Dest das 8h00 às 12h00, tendo o IN realizado duas flagelações às 10h00 e às 10h30.

Os Dest C e D, partindo também do Xime, passaram o Rio Buruntoni mas, em vez de baterem a área 2 (Baio-Buruntoni), desorientaram-se por ela e indo bater a área 3 (Gã Garnes). Com o PCV [posto de comando móvel] foram orientados para a área 2 quando se encontravam no extremo Oeste da área 3 e quando o Dest C já desembarcara em Ponta do Inglês (às 1h20).

Ao fim da tarde pernoitaram próximos uns dos outros, no extremo Oeste da área 2. Os Dest C e D tiveram diversos contactos ligeiros, em especial na área de Buruntoni e um na orla Oeste da área 3, tendo destruído acampamentos IN e completada a destruição de alguns anteriormente atingidos pela FA [Força Aérea].

Dia D + 1 (9 de Março de 1969)


Os Dest A e B deslocaram-se de manhã da área 1 para a 2 sendo protegidos durante a travessia da larga bolanha do Rio Buruntoni pelos Dest C, D e E instalados na orla da mata oposta (área 2).

A primeira alteração consistiu em reforçar os Dest A e B com o Dest E. Assim, a área 2 passou a ser batida simultaneamente por 3 Dest em vez de 2. A área 3 (que os Dest C e D haviam achado com pouco interesse) voltou a ser batida por aqueles Dest.

As batidas foram iniciadas ainda esta tarde. Às 16h00 os Dest E e B foram à procura do acampamento de Baio (que se julgava próximo), detectando e destruindo um, com 13 casas, recentemente abandonado. Regressaram depois ao local de reabastecimento (junto à bolanha do Rio Buruntoni), onde ficara o Dest A. Às 17h30, o Dest B saiu novamente e detectou mais dois acampamentos, um deles com escola.

O IN continuou a aparecer disseminado em pequenos grupos, um dos quais às 07h00 flagelou os Dest C, D e E com LGRFog e Mort 82, de longe e sem consequências.


Dia D + 2 (10 de Março de 1969)


Os Dest A, B e E bateram minuciosamente a área 2 enquanto os C e D batiam a área 3. Ao fim da tarde o Dest E largou os A e B, guiado pelo PCV, voltou a juntar-se aos C e D conforme fora previsto inicialmente.

A batida da área 2 pareceu bastante eficiente tendo todos os Dest destruído diversos acampamentos e uma grande escola, denominada "escola do Baio". Os B e E capturaram também material de guerra IN.

Começou nesse dia a actuação dos Dest F e G (saídos de Mansambo) e H e I (saídos do Xitole), todos pertencentes ao Agrupamento Táctico Sul.  Esta actuação foi feita de acordo com a Directiva do Anexo H da OOP.

Os Dest F e G bateram a área 11 (Galoiel-Bissari), descendo pela margem direita do Rio Samba Uriel sem nada detectarem. Dirigiram-se para junto da foz do Rio Bissari tendo o Dest F ficado emboscado enquanto o G passava à área 10 (Galo Corubal – Satecuta) em reforço dos Dest H e I que batiam a zona de Galo-Corubal.

A missão do Dest F era, por um lado, impedir qualquer reforço do IN vindo de Mina e Gã Júlio e, por outro, impedir a fuga do IN ou de população da área 10 para a área 9 (Mina-Gã Júlio).

Neste dia o IN fez uma pequena flagelação ao Dest F, cerca das 20H00, em (XIME 5D1) (margem do Rio Samba Uriel).

Dia D+3 (11 de Março de 1969)

Partidos da área 2, os Dest A e B chegaram a Madina Tenhegi (área 6) às 13h00, sem novidade e sem nada terem encontrado.

Os Dest C, D e E, partidos da área 3, chegaram à área 4 (Ponta Luís Dias), à mesma hora. O Dest D teve dois contactos ligeiros com pequenos grupos IN, fazendo 1 prisioneiro. Juntamente com o C, destruíram um acampamento IN em (Xime 3B6) com cerca de 100 casas, além de muito arroz.

Outros dois acampamentos forma destruídos em (Fulacunda 8I5) e (Fulacunda 8I6), um deles dotado de abrigos acimentados recém-iniciados. O Dest D capturou material de guerra IN.

Às 9h00, o Dest F foi emboscado junto à foz do Rio Bissari, sofrendo seis feridos mas fazendo baixas confirmadas ao IN. Durante a evacuação dos feridos, pelas 11H25, o IN fez uma morteirada sem consequências.

Os Dest G, H e I continuaram a batida à área 10. O Dest H que seguia junto ao tarrafo do Corubal capturou uns 1500 sacos com material de guerra que o IN se preparava para passar para a outra margem durante a noite (ou lá deixara na noite anterior). Este Dest e o I foram flagelados às 16h30 próximo de Dando sofrendo um ferido grave (milícia).

Tornou-se evidente neste dia que, tal como se previra, o IN estava aproveitando as noites para passar o [Rio] Corubal com armas, bagagens e população válida.

A inexistência de tropas nossas montando emboscadas na outra margem facilitava esta manobra do IN, manobra que foi objecto de um comentário especial no RELIM deste dia.

Também neste dia o número de evacuações das NT atingia o auge pois só o Agrupamento Sul evacuou 24 homens, na maior parte insolados e doentes. Por um lado, processava-se a selecção natural: os mais fracos não resistiam à fadiga, ao calor e à deficientíssima alimentação proporcionada pelas rações de combate tipo normal. Por outro lado, a falta de água era um tormento que só quem já sofreu pode avaliar.

Verificava-se também um deficiente apoio aéreo pois os reabastecimentos não se faziam e obrigavam as FT [Forças Terrestres] a aguardar horas seguidas. Além disso os meios aéreos existentes não davam vazão aos recomplementos, tornados frequentes dado o grande número de evacuados. Notava-se também falta de "rodagem" e coordenação, como depois se verificou. Estas demoras fizeram com que se previsse que a Operação tivesse que demorar mais um dia do que o planeado.

(Continua)

Fonte: Guiné 68-70. Bambadinca: Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. 30 de Abril de 1970. c. 200 pp. Cap. 55-61. Classificação: Reservado [Agradeço ao Humberto Reis ter-me facultado uma cópia deste valioso documento em papel e em formato.pdf].

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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11575: Op Lança Afiada (Setor L1, Bambadinca, 8 a 19 de Março de 1969): I Parte: Cerca de 1300 efetivos: 36 oficiais, 71 sargentos, 699 praças, 106 milícias e 379 carregadores

Guiné 63/74 - P11620: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (70): A Tabanca da Lapónia... em festa: o régulo José Belo, anfitrião e guia do João Graça (nosso tabanqueiro e músico da banda Melech Mechaya), na delegação de Estocolmo, hoje e amanhã...

ao 

A banda portuguesa Meleech Mechaya  vai estar em Helsínquia, no dia 26 de maio, domingo, 15h45/16h30,  no World Village Festival. 


No sábado, dia 25, os Melech Mechaya vão animar as Festas dos Santos Populares dos Portugueses de Estocolomo!...


1. No próximo fim de semana, a banda portuguesa Melech Mechaya, de que faz parte o nosso tabanqueiro João Graça, vai atuar na Suécia (Estocolmo, 25) e na Finlândia (Helsínquia, 26). É a primeira incursão desta conhecida banda de música klezmer (, a primeira em Portugal,) por terras escandinavas.

O primeiro concerto é já no sábado, 25, às 20h00, em Estocolomo, no famoso Stallet Folkmusik, e organizado pela Lusitânia - Associação de Portugueses de Estocolmo que celebra, antecipadamente, os Santos Populares Portugueses. Como se pode ler na página do Facebook da Lusitânia:

(...) Marque na agenda o próximo dia 25 de maio. Vamos celebrar os Santos Populares Portugueses com muita música, decoração e festa!  O Stallet decorado com balões e arcos de papel às cores, bailarico musical com os portugueses Melech Mechaya e altares para os santos a pedir sorte". (...)

O segundo concerto é no país ao lado, a Finlândia, no âmbito do World Village Festival... Para a banda (, formada em 2006, com João Graça no violino, Miguel Veríssimo no clarinete, André Santos na guitarra e sanfona, João Novais no contrabaixo e Francisco Caiado na percussão) é mais um passo na sua crescente internacionalização, depois da Espanha, Croácia, Cabo Verde e Brasil.

Em Outubro de 2011, a banda portuguesa lançou o seu terceiro trabalho, o álbum “Aqui Em Baixo Tudo É Simples", que contou com a participação da fadísta Mísia e do trompetista norte-americano Frank London (, líder e fundador dos Klezmatics, vencedores de um Grammy em 2006). Referido pela revista Blitz como um dos melhores álbuns do ano, “Aqui Em Baixo Tudo É Simples” foi editado internacionalmente em Maio de 2012 e conquistou a crítica europeia com “a sua identidade musical própria” (Eelco Schilder, da prestigiada revista alemã FolkWorld). Deles disse o crítico musical Miguel Lopes (Feedback Música): "se conseguirem estar totalmente imóveis durante um concerto inteiro dos Melech Mechaya é porque estarão mortos! E provavelmente os Melech Mechaya estarão a tocar no vosso funeral. "

2. A ida, à Suécia, do nosso tabanqueiro João Graça, motivou o envio de um lembrete ao José Belo, o nosso "lusolapão", que é simultaneamenmte régulo e único habitante da Tabanca da Lapónia, uma das muitas tabancas espalhadas pela diáspora portuguesa, afiliadas na Tabanca Grande...  (Tem a sede em Kiruna, e delegações em Estocolmo e em Key West, Flórida; a última notícia, como sempre exagerada que ouvi, é que tinha sido encerrado para obras, devido a problemas com a calota polar; fico feliz por saber que a Tabanca da Lapónia continua de pé, de pedra e cal, discreta, às vezes esquiva, mas sempre surpreendente, bem humorada e solidária).

Logo em 20 de maio último, o José Belo (cuja ocupação principal é, conforme a época do ano a de "contador de renas ao luar" e especialista em direito consuetudinário)  abriu os braços, generosos e acolhedores, à minha sugestão de poder conhecer (e estar com) o João Graça e o resto dos Melech Mechaya, lídimos representantes da lusa gente:

(...) Caro Luís: apesar de ser período de saltadas frequentes entre as casas sueca (Estocolmo e Kiruna) e americana, em Key West [, Flórida, EUA] ,não só pelos 'daiquiris'  mas também porque ainda trabalho... (Por gosto profissional, ou será, como dizem alguns mais cínicos, os bons pagamentos?)... De qualquer modo, a conseguir estar em Estocolmo no dia 25 é mais do que 'claro' que lá estarei no concerto, acompanhado por uma manada (não de renas,mas de SUECAS!) para darmos ao teu filho....aquele Abraço! O e-mail a funcionar na Suécia e nos States é [...]

Entretanto, a 23 mandou um mail ao João, com conhecimento ao nosso blogue:

(...) Bem vindo a Estocolmo,  caro Amigo. Estou em Estocolmo até sábado de manhã, partindo depois para o extremo do extremo norte, onde vivo,"SÓ" a 1.400 quilómetros ao norte da capital. Se tiveres tempo (e vamos tratarmos-nos por tu, como bons tabanqueiros que somos), terei imenso gosto em beber um copo (ou um jantar na "Trindade" cá do burgo), e dar uma volta pela cidade velha que vale mais do que a pena visitar. Como calculo,  o tempo que dispões não será muito,daí tudo estar dependente desse tempo livre. De qualquer modo aqui segue o meu telefone sueco [...]. Qualquer hora é totalmente OK para mim. Um grande abraço. (o tempo em Estocolmo está com temperaturas de verdadeiro Veräo local(!),+/-16 graus,mas nublado e com aguaceiros). (...)

  
Da minha parte, disse o seguinte ao João:

(...) João: Toma boa nota. É um tuga de alma e coração,  o nosso José Belo. Arranja tempo para estares com ele, é um privilégio, não podias encontrar melhor guia e mestre em toda a Escandinávia. É um homem sábio. Como eu te disse, ele, que é um verdadeiro cidadão do mundo, vive (ou refugia-se, de vez em quando), na "colónia" sueca, a norte da Suécia, chamada Lapónia, em Kiruna, já bem dentro do círculo polar ártico.. Tem lá um "iglô"... Um dia temos que lá ir visitá-lo. Dá-lhe saudades nossas. E não te esqueças de lhe oferecer o vosso último CD, "Cá em baixo tudo é simples", autografado. È pena que ele não vos possa ver atuar ao vivo em Estocolmo... Um xicoração. (...)

Sei que existem fãs  dos Melech Mechaya na Tabanca Grande. Para esses, e demais leitores interessados,  aqui fica o calendário de concertos até final de julho de 2013...  Em Portugal os concertos mais próximos serão em Mirandela (8 de junho), Fundão (9 de junho), Odivelas (10 de julho), Lisboa (14 de julho), Funchal (18 de julho), Ponte da Barca (27 de julho) e Lavre  (29 de julho). 

Guiné 63/74 - P11619: Tabanca Grande (398): João Vaz, ex-1.º Cabo Apontador de obus do BAC 1 (Guiné, 1968/70)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano João Vaz, ex-1.º Cabo Apontador de obus do BAC 1, Cameconde, Buba, Jumbembem e Cuntima, 1968/70, com data de 7 de Maio de 2013:

Caro camarada Carlos Vinhal
Obrigado pela resposta do meu pedido para pertencer a TABANCA GRANDE e aqui vou enviar-te o que é preciso para o efeito.

Nome: João Vaz
Posto: 1.º Cabo;
Especialidade: Apontador de Artilharia de Campanha 8,8 que mais tarde foram substituídos em Cuntima, por obuses 14.
A minha unidade era a BAC 1 ou seja (Bateria de Artilharia de Campanha, baseada em Bissau.
Andei por Cameconde, Buba, Jumbembem e Cuntima.
A minha chegada a Bissau foi a 24 de Janeiro 1968 e o regresso a Lisboa em Fevereiro 1970.

Se conseguir digitalizar as fotos, vai uma do tempo de Guiné e outra onde já tenho 67anos.
Também te envio uma com o meu pelotão de artilharia e uma jibóia que o Furriel Meneses matou quando cortávamos árvores para fazermos um abrigo para os obuses 14. Como poderás ver eu sou o único branco.
A jibóia tinha engolido uma gazela e depois descansou.

Historias para contar, tenho algumas verdadeiras, umas tristes, como a morte do furriel Videira em Cuntima e outras para rir, como a da Companhia de piriquitos que chegou a Cuntima que quando tiveram o primeiro ataque quiseram responder com o morteiro mas não lhe puseram o prato e ao fim de algumas morteiradas o morteiro enterrou-se e só ficou com dez centímetros de fora.

Eu conto isto porque estava lá. Eu dormia no abrigo com eles pois era de rendição individual logo não pertencia à companhia. O comandante do aquartelamento era o capitão Vasco Lourenço.

Se eu dominasse bem o computador e fosse mais rápido a escrever contava mais historias que se passaram comigo mas para escrever estas linhas passo muito tempo.

Gostava muito de encontrar antigos militares que estiveram comigo na BAC em BISSAU.

Amigo Carlos vou deixar-te, já são duas da manhã e já começo a piscar os olhos.

Um grande abraço para ti e saúde para toda a tua família e para todos os ex-Combatentes
João Vaz


2 - Dizia-nos o nosso camarada João Vaz numa mensagem datada de 22 de Março de 2013:

Caro Luís Graça
Obrigado por ter exposto o meu telefonema no vosso Blogue.
Eu penso que isso vai ajudar a encontrar ex-combatentes da minha unidade BAC 1 - Guiné que lá estiveram de 24 de Janeiro de 1968 a Fevereiro de 1970.

Como já disse pelo telefone, cheguei dia 24 Janeiro 1968 e passados poucos dias fui logo para Cameconde onde estive mais ou menos 5 a 6 meses.
O meu alferes de artilharia chamava-se Ferreira.
O nome do alferes que comandava os pelotões de atiradores não me lembro mas sei que ele era de perto de Famalicão da Serra.

Também passei por Buba e, de Junho a Dezembro de 1969 passei por Jumbembem algum tempo. O resto foi passado em Cuntima onde tive como comandante do aquartelamento o capitão VASCO LOURENÇO.

Um grande abraço a todos os ex-combatentes e digam-me o que é preciso para pertencer à TABANCA GRANDE.

Desculpem os meus erros mas eu sou um zero em informática.

Um grande obrigado ao Luís e a todos aqueles que trabalham no Blogue.
João Vaz



3. Comentário do editor CV

Caro camarada João
Começo por te pedir desculpa pelo tempo que demorei a dar-te esta resposta. Costumo ser mais rápido mas desta vez descuidei-me um pouco.

Sê bem-vindo à nossa Tabanca. És mais um dos camaradas da diáspora, pelos quais temos muita admiração e uma estima especial. Pelo teu endereço suponho que estás em França, embora o teu português traga uns toques de espanhol. Se estás em França, em que zona trabalhaste e onde assentaste arraiais? Tencionas um dia voltar a Portugal ou o sangue dos filhos e netos vai fazer com que nunca mais voltes a Portugal?

Falando do teu passado militar, foste então apontador de obus em Cameconde, Buba, Jumbembem e Cuntima. Fizeste manga de barulho pelas bolanhas da Guiné.

Para evitar que demores muito tempo a escreveres os textos no computador, tens que treinar muito e fixar a posição das teclas. Pedes por aí umas ajudas aos filhos e aos netos e vais ver que ao fim de uns meses estás apto à licenciatura em informática.
Gostávamos que nos escrevesses algumas das tuas memórias mas não queremos que apanhes uma doença nervosa por nossa causa.

Oxalá que por nosso intermédio encontres alguns dos teus camaradas do BAC 1 e outros que não pertencendo à tua unidade foram teus contemporâneos nos quartéis por onde penaste.

Caro João, resta-me deixar-te o habitual abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores Luís Graça e Eduardo Magalhães.
Se precisares de alguma ajuda é só falares connosco.

Para ti, algures em França, segue um abraço do teu novo camarada e amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11526: Tabanca Grande (397): Luciana Saraiva, sobrinha do ex-cap comando Maurício Leonel de Sousa Saraiva, nova tabanqueira, nº 616 (a viver em Floripa, Brasil)

Guiné 63/74 - P11618: Notas de leitura (485): Tarrafo, segunda edição fac-similada, por Armor Pires Mota (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Maio de 2013:

Queridos amigos,
“Tarrafo” foi o primeiro dos diários da Guiné, é contemporâneo do Diário de JERO, curiosamente, é recomendável lê-los um a seguir ao outro, de Binta a Jumbembem a distância é curta.
Armor Pires Mota fez bem em apostar nesta edição fac-similada, dá para esclarecer quais os fantasmas da censura, é bom não esquecer que oficialmente as forças armadas exerciam atos de polícia, aquelas emboscadas, assaltos a bases, recuperação de populações, etc. eram pura ficção.
Lê-se “Tarrafo” e fica-nos a convicção de que o texto é perene, está lá quase tudo e estamos lá quase todos.

Um abraço do
Mário


Tarrafo, segunda edição fac-similada, por Armor Pires Mota

Beja Santos

Impunha-se esta reedição de uma obra que se pode classificar como um diário da Guiné. Com efeito, as crónicas que Armor Pires Mota publicou no Jornal da Bairrada, foram escritas a quente, estão cronologicamente organizadas, a tal ponto emerge o entusiasmo entremeado de desfalecimento, o ímpeto dos primeiros tempos até se chegar ao último texto, em que ele escreve: “dias feitos de nada, inúteis; dias impossíveis de construir, em atiramos a alma para trás das costas porque era grande o peso das sombras que lhe iam por baixo”.

Publicado em 1965, posto timidamente à venda numa livraria de Aveiro, foi imediatamente retirado. É por isso que vale a pena ver cuidadosamente as considerações do censor, do princípio ao fim, o que podia ser dito enquanto prosopopeia enaltecedora da presença portuguesa em África e que estava interdito escrever-se ou supor-se na cabeça de um combatente.

Há três momentos chave neste diário: as primeiras operações, presume-se que à volta de Bissorã; a participação na operação Tridente, de Janeiro a Março de 1964; a vivência na região de Jumbembem, um tempo sem parança, fica-se com a ideia de aquele Batalhão de Cavalaria amargou do princípio ao fim: “Tarrafo, crónicas de um alferes na Guiné”, por Armor Pires Mota, Palimage, 2013.

O que torna este livro uma obra completa é a sinceridade, os altos e baixos de um diário, intercalando-se elogios, vibrações heroicas, cuidados de um olhar etnográfico e antropológico e, gradualmente, uma canseira irremediável, um anseio em voltar para a família, em fazer família. E sempre atravessado por uma certa solenidade, temores, calafrios, a guerra não poupa ninguém. No Como, no auge dos combates, ele escreverá: “Não contarei nada com as cores carregadas. Cada palavra será tão real como a morte ou sofrimento. Não quero que ninguém fique com a impressão que este diário é pura ficção, nem, tão pouco, que me mascarem de valente. Faço tudo por vencer, cumpro e é tudo. Sei mesmo que poderia nem ter começado. Mas hoje senti uma coragem de vencer o silêncio das minhas próprias palavras. Escreverei para mim e não para a eternidade. E aqui estarei para chegar até ao fim”.

Acresce que o diário de Armor Pires Mota acaba por ficar ao dispor do historiador da guerra: nestes relatos é visível ainda um PAIGC militarmente difuso, servindo-se de abatises para emboscar, deficientemente armado, as forças portuguesas combatem de capacete, estão a abrir caminhos que se fecharam logo em 1963; temos aqui a batalha do Como desde os primeiros desembarques, as primeiras trocas de tiros, os ataques e os recuos, a valentia de ir buscar debaixo de fogo o camarada morto, passam-se todas as dificuldades, as mais indescritíveis, mas mesmo assim, o autor pode escrever: “Tivemos missa, como antigamente nas manhãs das grandes batalhas. O altar era feito com duas caixas de cervejas e montado por detrás da velha casa a ruir. De tronco nu ou descalços, mas alma cheia de esperança nos desígnios eternos, todos quanto ali estavam confiavam ao Senhor dos Exércitos as suas angústias, as horas más, as vitórias e derrotas, as saudades da terra e da família, da noiva…”; e temos também aquele norte da Guiné onde ainda tudo é tão confuso na região fronteiriça, com milhares e milhares de deslocados, o PAIGC ainda não tem liberdade de ação, move-se graças a bases que se montam e desmontam, consolidam-se posições como em Cuntima ou em Canjambari, parece que Jumbembem renasce das cinzas, por ali houve abandono, fuga de muitas populações, com ocupação efetiva do território, muitas perderam o medo, acolhem-se à sombra da bandeira portuguesa.

Mal começam as operações, entram numa casa de mato e depara-se-lhe uma situação insólita, com a população em fuga: “Quem não fugiu foi uma velhinha de faces corridas em sulcos pela vida e seios caídos. Sentada dentro de um tufo de bananeiras, a chorar, estava ali, de olhos baixos, como se alguém a tivesse condenado. Mas não. Ninguém a condenou. Tive um momento de espanto, mas não lhe perguntei nada”. Contém-se perante os primeiros mortos e feridos, trata-se de uma guerra cuja dimensão não lhe foi dada na formação para oficial, há para ali bombardeiros, o troar da artilharia, há agentes duplos, aparecem burros carregados de mantimentos, visitam-se tabancas com enfermeiros que levam mezinho.

O Armor Pires Mota que se revela no Como é do combatente que atende ao estado de espírito dos seus homens, que regista os desembarques, os acidentes estúpidos como o do Quítalo que se deixou trair por uma armadilha por ele montada e que explodiu e que apareceu gemendo, rosto mascarado se sangue e lama, peito ensanguentado e sem uma das mãos. Ele escreve no Como, a 24 de Fevereiro: “Há 40 dias que o mundo para nós é a incerteza da hora seguinte. O mundo para nós é de luta, uma terra de sangue e fogo”. E acrescenta: “Uma grande parte da tropa está já inoperacional” e dias depois reza uma oração inesquecível:
“Só Tu sabes, Senhor, a minha hora.
Mas tenho medo porque sou homem e tenho o destino de mãos vazias.
Que as minhas mãos não façam correr sangue inocente, mas que não sejam cobardes se for preciso castigar, matar ou morrer.
Mas tenho medo, Senhor!
Tu bem sabes que eu tenho uma mãe que chora e reza a minha ausência e que a saudade chora dentro de mim como uma criança longe dos braços maternos.
Tu sabes que eu tenho sonhos de ouro e espero de olhos azuis no futuro”.

A ida para Jumbembem significa uma nova etapa, juntar populações, viver dentro do arame farpado, calcorrear tabancas, registar abandonos: “Chegámos a Jumbembem, à serração. A aldeia estava queimada, destruída e a serração tinha um ar de completo abandono. A máquina e as serras haviam gelado. Casas vazias, camionetas desmanteladas como ossos perdidos de uma vida que parou, milhentos bidões e tanto ferro velho que era dinheiro no lixo”. São tempos duríssimos, apanha-se um ciclista em fuga, toca de se disparar, descreve-se a vida na caserna, os perigos na noite, as flagelações, as emboscadas. Há a imensa curiosidade por perceber pelo conteúdo das festas até, porque é que se mata um carneiro em sacrifício, qual a essência de um batuque. Em Jumbembem escreve-se uma carta de amor: “Sei que, além do mar, pensas em mim a estas horas e, talvez, colhas a primeira flor de primavera. Falas-me de ti, de mim, da nossa rua que está mais bonita. Compreendemo-nos muito bem e de tal modo que sou capaz de acabar uma frase que tu deixes incompleta, sei que eu traia a tua maneira de pensar” e regista-se o que diz um soldado ferido a um companheiro: “Quando regressar à metrópole, se eu morrer, peço-lhe que vá a casa dos meus pais e lhes diga que nunca os esquecerei”.

Tenho muito orgulho em ter escrito quando há anos descobri “Tarrafo”: “Outro valor histórico não tivesse e ficariam parágrafos indesmentíveis, solenes, melancólicos, pensamentos que ocorreram a qualquer um de nós”.
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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11600: Notas de leitura (484): Os Portugueses nos Rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11617: Parabéns a você (579): Rui G. Santos, ex-Alf Mil da 4.ª CCAÇ (Guiné, 1963/65)

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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11598: Parabéns a você (578): Mário Pinto, ex-Fur Mil da CART 2519 (Guiné, 1969/71)

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11616: Bibliografia de uma guerra (69): "Guiné - Terra que aprendemos a amar", mais um livro em sextilhas do nosso camarada Manuel Maia



1. Mensagem do nosso camarada Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum NagaCafal Balanta e Cafine, 1972/74) com data de 11 de Maio de 2013:

O blogue como sabeis, teve para mim o condão de me fazer conhecer espantosos amigos que me possibilitaram aceder à publicação da "História de Portugal em Sextilhas", obra em que tive o subido prazer de ver o prefácio assinado pelo prof. doutor Luís Graça, bem como do inexcedível trabalho de afã e empenho a que o incansável Carlos Vinhal deu corpo...

Sem o vosso estímulo e carinho, bem como obviamente do grupo do Cadaval, capitaneado pelo nosso "Almirante" Vasco da Gama, com uma "tripulação" que envolveu mais alguns "camarigos" a quem agradeço reconhecidamente, para além do editor Adelino Fernandes, para quem vai também a minha gratidão pelo esforço, dedicação e capacidade técnica postas ao dispor.

Sem este grupo desinteressadas e solidárias gentes, o desiderato de colocar o livro, não nas bancas ou escaparates das livrarias, mas nas "tabancas" e nas estantes de cada um de nós, nunca teria sido conseguido...

De novo, Vasco da Gama o empreendedor e realizador de sonhos, a quem devo o penhor de uma amizade, "pondo pés ao caminho", como soe dizer-se, em estreita colaboração com os "camarigos" Joaquim Mexia Alves, Miguel Pessoa e José Eduardo Oliveira (Jero) e a sua "Tabanca do Centro", estribados no apoio técnico qualificado e imprescindível de Adelino Fernandes, criaram as condições conducentes ao surgimento deste meu segundo trabalho, num misto de prosa e poesia onde a sextilha é de novo a aposta, voltado mais para o coração dos ex-combatentes Guinéus, a que dei o título de "Guiné terra que aprendemos a amar", prefaciado desta feita pelo nosso camarada e amigo Zé Dinis, da tabanca da Linha, a quem aproveito para agradecer.

Quem quiser adquirir o livro "Guiné - Terra que aprendemos a amar" poderá fazê-lo através do meu endereço: oliveiramaiajun50@gmail.com ou ainda para o meu telemóvel 937 574 140.

No próximo dia 8 de Junho estarei no VIII Encontro da Tabanca Grande em Monte Real, onde poderão também adquirir o meu livro que autografarei com muito gosto se assim o desejarem.

obrigado
mm

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Pesadelo

De um e outro lado da refrega,
em sofrimento atroz, ninguém o nega,
famílias "vivem" esta guerra horrenda...
P`ra história da Guiné foi contributo,
de esposas, pais, irmãos, pesado luto,
milhares em onze anos de contenda...

A vós, familiares de contendores,
dum lado e doutro, todos sofredores,
pergunto, como estais do vosso luto?
A vós a quem roubaram entes queridos
na flor da idade, jovens destemidos
perdidas vidas em fatal minuto...

Tamanho do vazio que sentis
convosco, nós a quem destino quis,
do inferno regressados, partilhamos...
Em quantas noites pesadelo empurra,
de volta à luta tuga versus turra,
e em sofrimento horrível acordamos?

Estou certo, ser visita, a panaceia
p`ra cura destes males "cá na ideia",
que todos nós sentimos, muito ou pouco...
De "vacas magras" tempo não ajuda,
prioritária a vida, cá não muda
e a infindável espera, põe-me louco...
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Nota do editor:

Último poste da série de 28 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11173: Bibliografia de uma guerra (68): Alguns comentários sobre a guerra na Guiné e a sua literatura (2) (René Pélissier / Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11615: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (54): Respostas (nºs 119/120/121): J. L. Vacas de Carvalho (Pel Rec Daimler 2206, Bambadinca, 1970/72); J. Casimiro Carvalho (CCAV 8350, “Piratas de Guileje”, Guileje, 1972/73; CCAÇ 19, "Lacraus de Paunca", Paunca, 1974); e Bernardino Parreira (CCAV 3365, São Domingos, 1971/72; e CCAÇ 16, Bachile, 1972/73)

Resposta > J. L. Vacas de Carvalho [. ex-alf mil cav, comandante do Pel Rec Daimler 2206, Bambadinca, 1970/72]

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

Devo ter sido dos primeiros.

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 

Através do Humberto Reis. 

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? 

Desde sempre [, pelo menos desde 23 de novembro de 2005]

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 

Às vezes.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ? 

Já mandei. Ultimamente não.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ? 

Sim.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ? 

Facebook

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ? 

Dos dois.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ? 

N/R.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Não.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ? 

Contacto com vários amigos.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ? 

Já.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ? 

Sim.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ? 

Claro,  porque é que havia de acabar ?... Nós se calhar é que acabamos primeiro!


(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.
Abraços Tertulianos do Zé Luis


Resposta nº 120  J. Casimiro Carvalho [,  ex-fur mil op esp, CCAV 8350,  “Piratas de Guileje”, Guileje; CCAÇ 19, "Lacraus de Paunca", Paunca, 1972/74]



(1/2)  Descobri o blogue, por indicação do Magalhães Ribeiro (a data ele sabe)

 (3) Sim,  não sei a data mas o MR sabe [, 2 de dezembro de 2005]

(4) Actualmente visito o blogue de tempos a tempos, ou quando recebo e-mails.

(5) O que tinha,  já mandei.

(6) Sim, conheço a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça].

 (7) Vou mais vezes ao Facebook.

(8/9) O que gosto mais e o que gosto menos... Gosto do Facebook. Do Blogue, falta de interatividade. Do Facebook,  a total interatividade em tempo real.

(10), Sim , embora já tenha sido bem pior [o acesso ao blogue]

(11) O blogue representou uns despoletar de emoções e ajudou-me a exorcizar más memórias e a reencontrar e conhecer novos guerreiros do Império. A Página [no Facebook] é a sua sucessão/extensão no mundo virtual.

(12) Participei em todos, menos um (coincidente com convívio dos Piratas de Guileje, mas passei por lá, no fim. Este ano é ao contrário, os Piratas reúnem no mesmo dia e vou à Tabanca. Tive que tomar uma decisão dolorosa.

(13)  Sim, vou a Monte Real.

(14) Acho que sim, [tem condições para continuar]...  pois embora com menos “velocidade”,  há sempre o efeito “Bola de Neve”. Como diria Galileo Galilei,  “no entanto ele move-se”…
(15) Força…continuem até só existir 2 ex-combatentes, um editor e um leitor. Vosso "Herói" Tigre/Pirata/Lacrau


Resposta nº 121 >  Bernardino Parreira [ex-fur mil, CCAV 3365/BCAV 3846, São Domingos, 1971/72;  e CCAÇ 16, Bachile, 1972/73].

Bom dia, caro camarada e amigo Luis Graça. Peço desculpa de só hoje responder, mas tenho andado muito arredado do computador. Vou agora tentar fazê-lo.


1 - Julgo ter descoberto o Blogue em 2010.

2 - Através da minha mulher, que o encontrou numa pesquisa no Google.

3 - Sim. Desde 20 de  agosto de  2010.

4 - Já o fiz diariamente mas, agora, é de tempos a tempos.

5 - Já o tenho feito, mas, agora, não têm surgido ideias ou recordações que valham a pena ser relatadas.

6/7 - Não tenho Facebook

8/9 -  Como não tenho Facebook, não posso fazer comparações.

10 - Não.

11 - [O blogue é]  uma parte da História da Guerra Colonial.

12/13 - Não.

14 - Sim.

15 - Os meus sinceros parabéns ao Luís Graça e a todos os editores e colaboradores deste precioso Blogue.Um abraço