quarta-feira, 29 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11649: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (2): De Bissau até ao sul: Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane, Buba, Quebo...


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > Maio de 2013 > Restos do forte na Ponte dos Fulas

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > Maio de 2013 > A mesquita do Xitole


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 1 de Maio de 2013 > O Francisco Silva junto ao memorial (ou o que resta dele) aos mortos da CART 2413.

[ A CART 2413 (Xitole, 1968/70), uma companhia com quem a CCAÇ 12 fez diversas operações no seu sector Esta subunidade, que será substituída pela CART 2716 (1970/72), teve 4 mortos, a saber (e de acordo com a lápide constante da imagem acima):

(i) Sold At Manuel de Sousa Branco, natural de Areosa, Rio Tinto, Gondomar, CART 2413/BCAÇ 2852, morto em combate, 25/10/1968. Os restos mortais estão no cemitério da sua Freguesia Natal (segundo a completíssima lista publicada pelo portal Utramar Terraweb, relativa aos mortos da guerra do Ultramar do concelho de Gondomar; acrescente-se: não só a mais completa como a mais fiável da lista dos mortos da guerra do ultramar, disponível na Internet);

(ii) Sold At Joaquim Gomes Dias Vale de Ossos, natural de Fradelos, Vila Nova de Famalicão, morto por afogamento em 7/11/1968. Está sepultado no cemitério da sua Freguesia Natal (Fonte: Portal Ultramar Terraweb);

(iii) Sold At Crispim Almeida da Costa, natural de Monte Calvo, Romariz, Santa Maria da Feira, falecido por doença em 3/4/1969 doença, e sepultado no cemitério da sua Freguesia Natal (Fonte: Portal Ultramar Terraweb);

(iv) Sold At Mário Ferreira de Azevedo, nascido em Cavadas, Vermoim, Maia, falecido também por doença, em 22/12/1969, e sepultado no cemitério concelhio (Fonte: Portal Ultramar Terraweb).



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 1 de Maio de 1974 > O Francisco Silva (e em segundo plano a Armanda e a Elisabete) com habitantes do Xitole, falando do passado.



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho  > 1 de Maio de 2013 > O Rio Corubal... Ainda um "paraíso do Saltinho"...


Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Contabane > 1 de Maio de 2013 > O Régulo de Contabane, o Suleimane, com a sua família,  mais o  Zé Teixeira e esposa, Armanda:  amizades que perduram.


Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Quebo > 1 de Maio de 2013 > A feira semanal, sempre colorida e movimentada.



Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Buba > 1 de Maio de 2013  > Por aqui passou o Pel Mort  1242 (1967/69).


Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Buba > Maio de 2013  > Memorial do Pel Mort  1242 (1967/69). Ainda legíveis os nomes e quase todo os militares portugueses que o compunham. Era seu comandante o alf mil Clemente.

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  LG]


Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (28 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte II

por José Teixeira [, membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013]


Partimos de Bissau pela manhã do dia seguinte [, 1 de maio, 4ª feira],  bem cedinho, com destino à Pousado do Saltinho [, onde pernoitámos]. O nosso destino final era Iemberém. Por agora queríamos peregrinar pelo Xitole, terra que o Francisco Silva bem conhecia e da qual estava roído de saudades (1).

Depois continuaríamos por Quebo, Mampatá Forreá e Buba, atravessar o rio Balana, subir a Gandembel, apanhar o carreiro da morte ou estrada da liberdade e seguir até Guiledje para apreciar o museu que a AD Acção para o Desenvolvimento está a construir para memória futura dum tempo que foi de sangue suor e lágrimas, muitas lágrimas.

Pernoitámos no Saltinho, depois de uma tarde bem vivida no Xitole, onde o Francisco Silva poisou e viveu grande parte da "sua" guerra, mas antes atravessamos parte da Guiné profunda em que em cada canto há uma estória para contar. 

A pista de Amedalae, ou a estrada transformada em pista de aviação para descarga da mal fadada droga, o Matu Cão, do Alfero Cabral, a Ponte dos Fulas, ou o Sr. Manuel Simões.  do Jugudul, o senhor que geria a empresa, à qual o exército português fretava os barcos para levar os mantimentos às suas tropas no interior. Amigo do Amílcar Cabral, a cujo funeral foi, transportando a bandeira do clube onde ambos eram associados e não foi preso quando regressou a Bissau. No fim da guerra comprou ao Nino Vieira o quartel do Jugudul e montou um alambique de água ardente de cana.

O negócio está mau, também para o Sr. Manuel,  ou o Nelinho Simões,  como era conhecido nos seus tempos de menino em Bolama. Hoje o alambique está parado. Não há dinheiro para comprar aguardente. Até o "choro" aos mortos deixou de ser aquela festança de arromba. Vai-se servindo o vinho de palma e o vinho de cajú, à falta de melhor.

Esta paragem no Saltinho foi uma oportunidade para mim de visitar um velho amigo de Mampatá, o Suleimane, atual Régulo de Contabane e sua mulher,  a Náná. Companheiros da minha juventude no que foi o melhor tempo que vivi na guerra. Não, porque houvesse paz, mas porque o povo de Mampatá, melhor que ninguém soube acolher-me na juventude perdida na guerra em que não queria participar.

Saboroso acolhimento, na companhia da minha esposa, que desta vez aceitou o desafio de me acompanhar nesta peregrinação à Guiné que não me cansa. Em cada passagem ficam memórias que persistem e obrigam a repensar um regresso

Gente extremamente simpática que sabe receber com calor humano e carinho. Gosto de conversar com eles e aprendo sempre qualquer coisa de novo. Aguardo agora que venham a Portugal para os poder acolher em minha casa.

Aqui, no Saltinho,  houve tempo para dar um mergulho no Rio Corubal, com as suas margens que nos transportam ao paraíso pela verdejante beleza natural que nos permitem desfrutar e lá seguimos para Quebo à procura do Habibo, o chefe da polícia local, também ele companheiro de outros tempos. Foi só um abraço, uma passagem pela feira que decorria e partimos de novo até Mampatá, a minha segunda terra. Um saltinho a Buba para rever a bela paisagem, agora perdida numa extensa plantação de cajueiros e onde não se pode tirar uma foto, nem aos memoriais deixados pelos militares portugueses.

 Zé Teixeira

Continua)_______________

Nota do autor:

(1) Este reencontro do Francisco, no Xitole, vai merecer uma crónica especial.

Guiné 63/74 - P11648: Blogpoesia (342): Antologia: Poemas de Maio, de Ovar a Mafra, entre o céu e o inferno, com as bolanhas de Tombali ao fundo (J. L. Mendes Gomes)



Álbum do José Neto (1929-2007) > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1966/68) > Foto nº 8: fim de tarde


Álbum do José Neto (1929-2007) > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1966/68) > Foto nº 6: bando de jagudis 


Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

Lavo minha alma…

Encomendo minha alma a Deus,
Todas as noites,
Antes de dormir.
Pode ela não mais acordar. 
E subir ao céu.
Onde, perdidamente,
Para sempre, 
Restaria triste.
Como um anjo
Que voou da terra,
E apareceu a Deus,
Sem se lavar…

Ovar, 17 de Maio de 2013
16h37m

Subindo à montanha

Arregaço as mangas.
Pego na pena.
Lanço meus olhos
Para o infinito do céu.
Estremeço, de medo,
Na escuridão que o cobre.
Nem uma estrela sozinha aparece.
Tremente.
É o silêncio. 
E o ermo.
Ergo uma prece
Uma luz que rasgue e desfaça
Em pedaços as trevas
E negrumes de todas as serras.
Lanço no mar
Minhas cordas e amarras que prendem.
Levanto e bato as asas do sonho,
E parto à sorte e ao vento.
Atravesso as nuvens.
E eis que, num espanto,
Entro num céu vasto de luz.
Só o silêncio
Aqui reina, inunda e seduz.
Surgem flores de todas as cores.
Abro janelas em mim.
Entra uma aragem suave
Que inunda minha alma. 
Meus olhos cerrados voltam a ver.
Passam clarões pela frente.
Que me inundam de rastos.
Tento apanhar pedaços e restos
Como quem colhe flores.
Quando vou a tocar-lhes,
Desfazem-se em fumo,
E se escondem no espaço.
Mas parecem brincar,
Vão a sorrir. 
Corro no encalço,
Encantado e sedento.
Não desisto e tento.
E uma lufada de vento mais forte
Rasga as cortinas
E me mostra um jardim.
Fico suspenso.
Ressoam, cá dentro,
Ondas indizíveis,
Pintadas de tons
De todas as cores
Que me deixam feliz.
E começo a pintar e escrever…


Mafra, 23 de Maio de 2013
7h43m

Que grande estrumeira!

Eles entram-me em bando,
Pelas frestas da minha janela.
Como mosquitos.
Zumbem. Vêm vorazes.
Chupam-me o sangue.
Só me deixam os ossos.

Piores do que larvas.
Piores que serpentes.
Trazem lama nas patas.
Como lagartas.
Minhas escadas ficam sujas
De sangue e terra.
Estou desarmado.
Deixei minha G3,
Nas bolanhas da Guiné,
Tão longe.
Se não correria com eles
Com rajadas de os derreter.
Nem um só ficava.
Assim, só a pontapé.
Já me falta o sangue…
Já pedi socorro.
Ninguém atende.
Só um tornado gigante.
Do Oklahoma.
Que os meta em coma.
Depois o lixo.

Que grande estrumeira
Me restou em casa!...

Mafra, 21 de Maio de 2013
20h49m


Fecunda guerra...

Caem pedras no meu telhado.
Chovem na minha cama
Cinzas negras
Dum vendaval feroz.
Oiço cães na rua.
Vêm esfaimados
Das mansões de luz.
Passam os coveiros
De enxada nas mãos.
Querem enterrar-nos vivos.
Por ordem d’alguém.
Estilhaçaram tudo.
Com vestes de anjos.
Querem o meu sangue
Para o seu festim.
São canibais de fome...
Devoraram os pais.
Não poupam ninguém.
Deixei minha G-3
Nas bolanhas de África.
Minha cartucheira amada.
Agora é que eu a queria
Mesmo à cabeceira.
Nem um só escapava.
Mesmo sem pontaria.
Ia tudo a eito.
Até que, de novo, a paz
Voltasse a nascer...
E minha terra verde
Me visse a morrer.

Ovar, 27 de Maio de 2013
14h53m



Batuque no meu quintal

Armei uma tenda grande
No meu quintal.
De caqui da tropa.
Pequei num tambor
E pus-me a tocar.
Aquele batuque,
Soturno e longo,
Bem à moda da Guiné.
A passarada à volta,
Apardalada,
Foi a primeira.
Debandou em alvoroço.
Por momentos,
Fiquei só eu
E o agudo latir
Dos cães do povoado.
Foi só um pouco.
Um a um,
Depois em grupo,
Foram chegando,
Espavoridos,
Primeiro, os vizinhos,
Depois, de mais longe,
Os mais curiosos.
Ainda assim, eram vizinhos.
Não levou muito.

Uma magna assembleia,
Vinda de longe e perto,
Se prantou a ouvir
O trinado forte
E toques simples
Que não dizem nada...
São só batuque!

Ovar, 28 de Maio de 2013
8h12m

Serei feliz...

Custe o que custar,
Prometi a mim mesmo
Que serei feliz.
Tenho Fé!...
Não há vagas,
Não há rochedos
Que eu não escale
De olhos presos
E o coração livre.
Não preciso de asas.
Basta um balão
E uma chama a arder.
O vento me leva,
Rumo ao infinito.
Basta soltar amarras
E deixar-me ir.
É lá do alto,
Por cima das nuvens
Que se vê o céu.
Como é pequena e simples
Esta terra azul.
Nem os montes mais altos
Me conseguem tocar.
Quanto mais subir
Mais pequenos ficam.
Já não há impérios,
Nem coações ferozes
Que me prendam o leme.
É só neste mundo livre
Que eu quero florir.

Ovar, 28 de Maio de 2013
13h58m

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes

[ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66]

[Seleção dos poemas, enviados por email ao longo do mês de maio, e título da antologia: L.G.]

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Nota do editor:
Último poste da série > 27 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11638: Blogpoesia (341): Ainda o paludismo... (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P11647: Parabéns a você (582): António Vaz, ex-Cap Mil, CMDT da CART 1746 (Guiné, 1967/69)

Com um voto especial de rápidas e definitivas melhoras
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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11634: Parabéns a você (581): António Manuel Salvador, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 28 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11646: Bom ou mau tempo na bolanha (12): O meu 10 de Junho (Tony Borié)

Décimo segundo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.




Companheiros e amigos combatentes, no dia 10 de Junho, em Portugal, celebra-se o dia do combatente, e eu aqui, um pouco distante, é o único dia no ano que uso com muito orgulho as insígnias comemorativas das campanhas da Guiné, que me foram colocadas no peito, no Forte da Amura, em Bissau, em Maio de 1966, pouco tempo antes de ter embarcado no navio “Uíge”. E nesse dia devíamos ser nós os combatentes, tal como disse o nosso camarada combatente José Colaço, acompanhado por muitos, que sofreram no corpo aquela guerra, a falar e expressar o profundo sentimento que nos vai na alma. Eu, colocando-me numa hipotética personagem de um filho, cujo pai morreu nas bolanhas e savanas da Guiné, vou contar-vos este texto, que não é bem um texto, é um expressar de um sentimento profundo e quase real, de um filho que ainda chora o pai morto em combate, portanto tirem um minuto e leiam.

Claro que ele me disse, com os olhos chorosos, que é por profundo sentimento que faz isto. Fiquei tão impressionado quando ele falou e pediu a todos para serem atenciosos e lembrarem o que as vidas representadas por aquelas pedras, naquele cemitério de aldeia, significavam.


Quem estava na minha frente e falava era um antigo Combatente do Ultramar, tinha barba crescida, cara com rugas e uma boina muito velha, mas com um emblema muito brilhante. Depois de muito emocionado, ter falado que conheceu o meu pai, que lutou e sofreu junto a ele, que se riu e confraternizou com ele, que ambos viveram debaixo de um miserável abrigo, que eram como irmãos, sabiam segredos um do outro, ajudavam-se e repartiam as agruras de uma maldita guerra, e que um maldito dia, uma mina rebentou-lhe debaixo dos pés, mesmo debaixo daquelas botas já velhas, quase com vinte e dois meses, que conheciam o som dos tiros, o rebentamento de uma granada, as bolanhas e algum tarrafo que existiam na zona de combate onde estava estacionado, foi ele que recolheu o resto do seu corpo.


Esse combatente, limpando uma lágrima, agarrou ainda com alguma força numa coroa de flores, entregou essa mesma coroa de flores a mim. A minha mãe, mal se podendo erguer, limpando constantemente os olhos com um lenço branco, o mesmo que tinha acenado ao meu pai, na despedida, já grávida e trazendo-me na sua barriga, no cais de embarque em Lisboa, antes de ir para a Guiné, que o meu pai lhe tinha oferecido, escolheu a minha neta mais nova para colocar a coroa de flores no túmulo de meu pai, porque essa minha neta, ainda leva o seu nome, e via-se que estava muito orgulhosa. Mais tarde a minha mãe, mostrou-nos um livro com fotografias a preto e branco e estava lá na última página a legenda:

“NÓS, ORGULHOSOS DE TI, NUNCA TE VAMOS ESQUECER”


Isto significou muito para mim, e eu percebi que já fazia parte da minha dor, os meus filhos nunca o conheceram, os meus netos nunca irão encontrá-lo, e eu estava com medo que ele um dia, o meu querido pai, morto em combate nas bolanhas e savanas da Guiné, fosse esquecido.

E virando-me para esse antigo combatente, com a barba crescida, cara com rugas e uma boina muito velha, mas com um emblema muito brilhante, disse-lhe:

POR CAUSA DE TI, O MEU PAI NUNCA VAI SER ESQUECIDO


Tony Borie, 10 de Junho de 2013
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11628: Bom ou mau tempo na bolanha (11): Diz-me com quem andas... (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11645: Convívios (527): Convívio da CCAÇ 84 (Alberto Nascimento)


1. O nosso Camarada Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto da CCAÇ 84, Bambadinca, 1961/63., enviou-nos a seguinte mensagem:


Tomo a liberdade de enviar fotos do encontro da Companhia 50 anos depois da chegada.

Um abraço, 

Alberto Nascimento


CONVÍVIO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 84 (1961/63)

Realizou-se no passado dia 25 no hotel Pombalense, em Pombal, o habitual encontro dos camaradas da Companhia que querem e podem deslocar-se para almoçar e cavaquear sempre com muita animação e alegria. É pena que muitos não tenham possibilidade de participar por razões que temos dificuldade em aceitar mas que são naturais. 


No dia nove de Abril fez cinquenta anos que desembarcámos em Lisboa depois de dois anos em que a Companhia se dispersou pelos mais diversos pontos geográficos da Guiné. 

Nestes encontros recordam-se episódios menos bons mas rimos à farta quando relembramos outros, cómicos, de que ouvimos falar mas que julgámos tratar-se de brincadeira com o fim de “entrar” com determinado camarada. Isto é certamente o que se passa em todos os encontros doutras Companhias mas nós temos a razão do “meio século depois”. 







Um Abraço
Alberto Nascimento
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P11644: Quem dirigiu os destinos da Guiné (1/3): A descoberta da Guiné e de Cabo Verde; Governadores de Cabo Verde; Capitães-Mores e Governadores; Capitania-Mor do Cacheu e Capitania-Mor de Bissau (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 19 de Abril de 2013:

Caríssimos amigos
Em anexo podem encontrar um trabalho sobre quem dirigiu os destinos da Guiné. Inicialmente eram os Governadores de Cabo Verde e, posteriormente com a separação dos dois territórios, passaram a ser Governadores da Guiné.
O trabalho tem, em estilo de introito, uma passagem da carta de Gomos Eanes de Azurara. Depois um resumo sobre o descobrimento da Guiné e de Cabo Verde, seguida da lista dos governadores, resultante do cruzamento de várias fontes que, apesar de abreviada, tenta narrar factos ocorridos na governação de cada um deles.
Sempre que algum facto alterasse a forma de governação, é introduzido um texto sobre esse facto,datando e especificando o que se pretendia com esse facto, terminando com o Acordo de Argel, documento que estabelece o fim da dominação portuguesa naquelas paragens.
Quanto a imagens, seria o ideal colocar a gravura ou foto de cada uma das personalidades referidas, mas a tal não nos abalançamos.
Juntamos um outro anexo, em que são reproduzidas gravuras de mapas de diversas épocas, dando assim liberdade ao editor, não só de dividir o texto de forma a adapta-lo ao blogue, assim como introduzir, não só gravuras que agora enviamos, mas também a utilizar outras que ache mais oportuno para ilustrar o texto.

Como sempre, a opção de publicação, pertence aos editores.

Um abraço
Zé Martins
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"Mas, Senhor. Depois que o tive, conheci que errara em me entremeter no que bem não sabia, porque a fracos membros ligeira carga parece grande. Porém, senhor, esforçando-me com aquela vontade que aos bons servidores as coisas graves faz parecer ligeiras e boas de acabar, trabalhei-me de lhe dar fim o melhor que pude – ainda que eu vos confesso que em não o fazer não pus tamanha diligência como devera, por outras ocupações que, no prosseguimento da obra, se me recrescerem."

Extracto da “Carta [escrita em Lisboa em 23 de Fevereiro de 1453] que Gomes Eanes de Azurara, Comendador da Ordem de Cristo, escreveu ao Senhor Rei, quando lhe enviou este livro.”

In “Crónica dos Feitos da Guiné”

Mapa antigo da Guiné e Bijagós 
© Capa do livro “História da Guiné” de João Barreto


QUEM DIRIGIU OS DESTINOS DA GUINÉ

A DESCOBERTA DA GUINÉ E DE CABO VERDE

Acerca da descoberta da Guiné, dos textos consultados, apesar das datas se reportarem ao ano de 1446, encontramos duas personalidades a quem pode ser atribuída a sua descoberta:

• Álvaro [ou António] Fernandes, era sobrinho de João Gonçalves Zarco. Na expedição que partiu, sob o comando de Zarco para a África Ocidental em 1445, Fernandes teve o comando de uma caravela, tendo chegado, pelo menos, ao rio Senegal. Voltou aquelas paragens, no ano de 1446, chegando às vizinhanças de Conacri. Em 1461, perto da Serra Leoa, teve um ferimento, causado por uma seta envenenada, obrigando-o a regressar a Portugal.

• Nuno Tristão, Cavaleiro da Casa do Infante, em cuja Câmara foi criado desde menino, foi, nas palavras de Gomes Eanes de Azurara, “o primeiro fidalgo que viu terra de negros”. Chegou a cerca de 320 Kms do cabo Verde, ao rio do Ouro, onde foi morto pelos gentios, tendo esse rio passado a chamar-se Rio do Tristão. Sobre a descoberta do arquipélago de Cabo Verde, existem várias versões mas, dado tratar-se de um arquipélago, poderá haver alguma base que as sustente. No entanto qualquer das versões regista que, as ilhas, se encontravam desabitadas:

• Uma das fontes aponta para que a descoberta das ilhas tivessem começado em 1445, entre 1 e 3 de Maio, pelas ilhas de Boa Vista, Sal, Santiago e Fogo. A mesma fonte refere que, não é de desprezar a hipótese o ano de 1460, apontando a data de 1 de Maio desse ano, com a descoberta das ilhas de Maio, Santiago e Fogo, começando o seu povoamento em 1462, com casais de gentios trazidos da Guiné. Não indica quem fez a descoberta.

• Outra fonte indica que Diogo Gomes, que foi moço na Câmara do Infante D. Henrique, no ano de 1456, navegava pela costa da Guiné na busca de informações sobre o negócio do ouro, poderá no regresso ter encontrado uma ou mais ilhas do arquipélago, reclamando o feito para si e para António da Noli, não indicando as ilhas encontradas,

• Também António da Noli, provavelmente originário da cidade italiana de Noli, com treino em náutica, adquirido na Republica de Génova e exilado em Portugal, teria sido contratado como Capitão pelo Infante D. Henrique para trabalhos de exploração na costa africana. Terá descoberto algumas ilhas do arquipélago, durante essas viagens exploratórias, que estão referidas em cartas de doação datadas de 3 de Dezembro de 1460 e outra de 19 de Setembro de 1462. Foi Capitão Donatário entre 1460 e 1496 na Vila de Ribeira Grande, na Ilha de Santiago. Há fontes que referem António da Noli como António Usodimare.

• Outra fonte refere que Alvise Cadamosto, também mencionado como Alvide de Cá da Mosto ou Luís Cadamosto, acompanhado por Usodimare (António da Noli) voltou à costa de África, com a intenção de explorar a região do rio da Gâmbia. Refere a fonte consultada que Cadamosto, que capitaneava a expedição terá sido o primeiro europeu a entrar em contacto com aquelas ilhas, assim como os nomes das ilhas de Boavista e Santiago, foram por si atribuídos. Dali dirigiu-se para a costa africana, atingindo a foz do Rio Grande e o arquipélago dos Bijagós. Subiu o Rio Gâmbia para explorar o seu curso, mas dada a hostilidade do gentio, teve que retirar.

Com o início do povoamento do arquipélago de Cabo Verde, a jurisdição sobre a Guiné, passou a pertencer ao Capitão Donatário que, assim, inicia uma série de novos governadores, de nomeação régia, passando a parte continental a ser conhecida como Guiné de Cabo Verde, na dependência do governador de Cabo Verde.

Inicio dos descobrimentos em África 
© Atlas Histórico, edição em fascículos do Diário de Noticias


GOVERNADORES DE CABO VERDE

Capitães donatários

ANTÓNIO DA NOLA – Genovês, também conhecido como António Usodimare, foi um dos capitães que avistou a ilha de Santiago. Não é conhecida a data da carta de doação da capitania, que terá ocorrido por volta de 1460.

JORGE CORRÊA (DE SOUSA) – Era casado com D. Branca Aguiar, herdeira da capitania, filha de António da Nola. Nomeado por carta Régia de 8 de Abril de 1497.

BELCHIOR CORRÊA DE SOUSA – Filho do antecessor e casado com D. Isabel Botelho, não deixando descendência.

AFONSO DE ALBUQUERQUE – De 1526 a 1533, por transferência dos direitos do donatário, com assentimento real, em 27 de Outubro de 1526.

BELCHIOR CORRÊA DE SOUSA – De 1533 a 1536, readquirindo os seus antigos direitos em 22 de Dezembro de 1533. Falecendo sem filhos varões, a capitania passou para o irmão.

JOÃO CORRÊA DE SOUSA – Irmão do antecessor, filho segundo de D. Branca Aguiar, por carta de 16 de Agosto de 1536.

JORGE CORRÊA DE SOUSA – filho de João Corrêa, faleceu em 3 de Janeiro de 1564 sem deixar filhos varões, pelo que se extinguiu o privilégio da capitania.


Ouvidores gerais, acumulando as funções de capitão-mor

JORGE PIMENTEL - Foi nomeado em 20 de Março de 1550 por D, João III, ainda em vida do último donatário: Foi suspenso após um inquérito.

Dr. MANUEL DE ANDRADE – Era desembargador da Casa de Suplicação (Supremo Tribunal do Reino Português, até ao fim do século XVI), foi nomeado, em 15 de Novembro de 1555, corregedor, inspector e substituto de Jorge Pimentel. Tinha direito a uma guarda pessoal de 12 elementos, com vencimento de 15$000 reis, cada.

LUIS MARTINS DE EVANGELHO – Foi nomeado corregedor (magistrado administrativo e judicial) em 27 de Fevereiro de 1558, exercendo cumulativamente o cargo de capitão-mor, devido à suspensão do donatário Jorge Corrêa de Sousa.

BERNARDO DE ALPOIM – Licenciado em leis, foi nomeado corregedor em 17 de Julho de 1562.

Dr. MANUEL DE ANDRADE – Novamente nomeado em 1565.

ANTÓNIO VELHO TINOCO – Nomeado corregedor em 14 de Outubro de 1569, cumulativamente com o cargo de capitão-mor.

GASPAR DE ANDRADE – Nomeado corregedor e capitão em 30 de Janeiro de 1578.

DIOGO DIAS MAGRO - Nomeado em 13 de Março de 1583.

Mapa da Guiné, já rectificado depois da delimitação das fronteiras 
© Gravura do livro “História da Guiné” de João Barreto.


CAPITÃES-MORES E GOVERNADORES

Autonomia dos serviços de administração geral e militar e a sua entrega a governadores de nomeação régia. Separação dos serviços judiciais.

DUARTE LOBO DA GAMA – Fidalgo da Casa Real, é nomeado em 7 de Agosto de 1587 capitão geral de todas as ilhas, podendo acumular todos os cargos de justiça e de finanças que estivessem vagos, com um ordenado de 300$000 reis.

BRAZ SOARES DE MELO – Nomeado em 25 de Março de 1591 capitão geral, mantendo o vencimento de 300$00 reis. Tomou posse na Câmara de Ribeira Grande.

AMADOR GOMES RAPOSO - Sendo corregedor na ilha de Santiago, acumulou com o cargo de capitão geral, em 1595 com a retirado de Braz Soares de Melo.

FRANCISCO LOBO DA GAMA – Foi nomeado por carta de 15 de Maio de 1596. As atribuições, do capitão geral, foram alargadas por carta régia de 7 de Maio de 1596, sendo-lhe facultado prover os cargos vagos.

FERNANDO MESQUITA DE BRITO – Com o título de capitão governador, foi nomeado em 1 de Agosto de 1600, com o ordenado de 600$000 reis, mas só chegou à ilha de Santiago em 1603.

FRANCISCO CORRÊA DA SILVA - Nomeado em 4 de Abril de 1604, tomou posse em 12 de Janeiro de 1606.

FRANCISCO MARTINS SEQUEIRA – Só tomou posse em 1611, apesar de ter sido nomeado em 10 de Janeiro de 1609. Teve diversos conflitos com o ouvidor e a câmara de Ribeira Grande. Em 1612 foi interdito aos governadores coloniais levarem os seus filhos para as colónias para que foram nomeados.

NICOLAU DE CASTILHO – Foi nomeado em 6 de Outubro de 1613 mas só veio a tomar posse em Junho do ano de 1614. Assim como o seu antecessor, foi acusado de monopolizar o comércio da Guiné, com prejuízo para os moradores do arquipélago.

D. FRANCISCO DE MOURA – Nomeado por carta de 20 de Fevereiro de 1618, tendo sido considerado um dos governadores mais honestos e patriotas que serviram a colónia.

D. FRANCISCO ROLLIM – Foi nomeado a 22 de Janeiro de 1621, tomando posse a 3 de Abril do ano seguinte, mas por cerca de cinco meses, já que faleceu e 12 de Setembro de 1622.

Frei MANUEL AFONSO DE GUERRA – Sendo Bispo de Santiago, foi eleito pela Câmara para assumir o governo interinamente. Faleceu em 8 de Março de 1624, pelo que o governo esteve entregue à Câmara de Ribeira Grande durante 32 dias.

FRANCISCO VASCONCELOS DA CUNHA – Foi nomeado, com honras de conselheiro, a 3 de Junho de 1623, tendo tomado posse a 10 de Abril do ano de 1624.

JOÃO PEREIRA CORTE-REAL – Almirante, foi nomeado em 3 de Outubro de 1626, mas só tomou posse em 1628. Foi o primeiro governador a sair do arquipélago, tendo ida à Guiné e Serra Leoa, aprisionando navios que comerciavam irregularmente, Também expulsou os holandeses que se haviam instalado na ilha de Bezeguiche na Gorêa desde 1617.

Frei CRISTOVÃO DE CABRAL – Tomou posse em 1632, mas tinha sido nomeado em 19 de Novembro de 1630. Para tentar firmar a soberania portuguesa na Costa da Guiné, mandou construir um forte na embocadura do rio de Gâmbia.

JORGE DE CASTILHO – Foi nomeado em 5 de Janeiro de 1635, tomando posse no ano seguinte.

JERÓNOMO DE CAVALCANTE E ALBUQUERQUE – Nomeado em 24 de Abril de 1638 governador e capitão-mor, toma posse no ano seguinte.

JOÃO SERRÃO DA CUNHA – Como recompensa de empréstimos efectuados à família real de Castela, ainda estávamos sob domínio dos Filipes, foi nomeado por carta de 5 de Junho de 1640, vindo a falecer em 1645. Porém, por comércio abusivo de escravos e prática de arbitrariedades, foi substituído em Julho de 1644 por Rodrigo Miranda Henriques, que renunciou e, posteriormente por António de Sousa Meneses, que não tomou posse.

Representação da Costa da Guiné. 
© Gravura do livro “As Viagens do Bispo D. Frei Vitoriano Portuense” de Avelino Teixeira da Mota.


CAPITANIA-MOR DE CACHEU

Foi só após a restauração da independência de Portugal, face aos Espanhóis da Dinastia Filipina ou de Habsburgo, que foi criada a Capitania-mor de Cacheu. Foi nomeado, em 16 de Julho de 1641 o seu primeiro capitão-mor, Gonçalo de Gamboa Ayalla, a que se seguiram mais quarenta e duas nomeações, até que Honório Pereira Barreto, tendo estudado no reino, que foi nomeado em 1852, sendo o último capitão-mor desta praça.

Bispo Frei LOURENÇO GARRO – Eleito interinamente pela Câmara de Ribeira Grande. Em Abril de 1646 foi nomeado Gonçalo Barros da Silva e autorizado a levar 80 soldados para Cabo Verde, mas exigiu 400 que, não sendo aceite, renunciou ao cargo e foi alistar-se no exército espanhol. O Bispo, eleito interinamente, veio a falecer em 1 de Novembro de 1646, pelo que o governo foi entregue, provisoriamente, à Câmara e, mais tarde a Jorge de Araújo, que governou até 1648.

GONÇALO DE GAMBÔA AYALA – Depois de antigo capitão-mor do Cacheu, foi nomeado para Cabo Verde em 12 de Junho de 1649, vindo a tomar posse a 29 de Junho de 1650, não chegando a governar quatro meses, já que faleceu em 9 de Outubro desse mesmo ano.

PEDRO SEMEDO CARDOSO – Natural do arquipélago e desfrutando de grande prestigio local, foi nomeado governador interino em 15 de Outubro de 1650.

JORGE DE MESQUITA CASTELO BRANCO – Nomeado em 26 de Agosto de 1651, tomou posse a 24 de Dezembro desse ano. A 10 de Dezembro de 1651, antes da tomada de posse, foi regulamentada a administração da província, fixando as atribuições das diversas entidades oficiais. Porém, todos os esforços do governo do rei D. João IV para acudir a situação anormal de Cabo Verde, saiu frustrada, levando a que o governador não terminasse o mandato de três anos, tendo sido substituído. A 6 de Fevereiro de 1651 foi determinado que, alternadamente e por períodos de seis meses, o governador e o bispo fossem residir para a vila da Praia, com o objectivo de desenvolver aquela vila.

PEDRO FERRAZ BARRETO – Nomeado por carta de 18 de Outubro de 1652, toma posse no dia 21 de Abril seguinte. Tal como o seu antecessor, foi acusado de monopolizar o comércio e exercer represálias sobre os particulares e sobre as entidades oficiais. Foi enviado para proceder a uma sindicância, ao governador, o Dr. António Pereira da Silva, que concluiu pela confirmação das acusações, que não obstou a ter ficado no cargo até 1658.

FRANCISCO FIGUEIRÔA – Foi nomeado em 1 de Abril de 1656 mas, como tinha interesses em Pernambuco, deixou-se ficar por lá, vindo a tomar posse só em 31 de Julho de 1658. Com a sua governação arranjou vários conflitos, em especial com a Câmara, que o acusou de desonesto e de ter acumulado uma fortuna em pouco tempo, lembrando que quando o governador chegou a Santiago apenas trazia uma trouxa de roupa.

ANTÓNIO GALVÃO – Foi nomeado em 29 de Dezembro de 1661, mas só tomou posse em 16 de Maio de 1663, com o vencimento de 600$00 reis. Foi no seu período de governação que o papel selado foi introduzido em Cabo Verde e na Guiné.
[O papel selado foi instituído no reinado de D. Afonso VI em 1660 e abolido em 1668. Reintroduzido em 1797 durou até 1804. Regressou em 1797 e foi abolido definitivamente em 1986.]

MANUEL DA COSTA PESSOA – Conselheiro e Fidalgo da Casa Real, foi nomeado em 1 de Fevereiro de 1667, tendo tomado posse em 21 de Maio seguinte.

MANUEL PACHECO DE MELO – Foi nomeado por carta de 10 de Julho de 1670, tomando posse em 15 de Maio de 1671. Durante o período que decorreu entre a nomeação e a tomada de posse, a situação de Cabo Verde era tão precária que, tendo este recebido ordens para pagar, prioritariamente, a côngrua de 1.000$000 reis aos Bispo da Diocese, o governador (que recebia 600$000 reis) assim como os outros funcionários, ficaram sem vencimento naquele ano.

JOÃO CARDOSO PISSARRO – O período de governação resume-se ao ano de 1676. Nomeado a 30 de Abril, toma posse a 30 de Junho e morre a 10 de Agosto. Depois de acesa discussão, entre o Bispo e o Ouvidor, acerca da sucessão, ficou encarregada da governação o Senado da Câmara, sob a presidência do Ouvidor.

MANUEL DA COSTA PESSOA – Conselheiro e Fidalgo da Casa Real, foi nomeado a pedido da Câmara em 15 de Março de 1678, pela segunda vez. Apesar de não ter tomado posse, manteve-se nomeado até 1683, sendo Duarte Teixeira Chaves conduzido no cargo como substituto.
[No primeiro mandato foi nomeado em 1 de Fevereiro de 1667, tendo tomado posse em 21 de Maio seguinte].

INÁCIO DA FRANÇA BARBOSA – Foi nomeado governador por carta de 10 de Outubro de 1682, tomando posse no ano seguinte.

VERISSIMO CARVALHO DA COSTA – Nomeado em 5 de Março de 1686, na sua deslocação fez uma paragem em Cacheu, onde prendeu os chefes da revolta Bebiana Vaz, chegando a Cabo Verde no mês de Maio. Apesar de doente de hemiplegia [doença que paralisia toda uma metade do corpo], fez um trabalho notável, durante dez meses, na organização da defesa de Santiago, sendo, nessa altura, aconselhado pelo cirurgião a regressar ao reino, visto na província não haver nem médico nem medicamentos. Chega a Lisboa em 4 de Março de 1688, tendo ficado a governar, interinamente, o Bispo D. Frei Vitoriano da Costa que, com a conivência do ouvidor deram relevo, em relatório enviado ao rei, puseram em causa a honestidade no cargo, o que levou a que fosse mandado deter por D. Pedro II para apuramento da verdade. A comissão de inquérito, dirigida pelo ouvidor Delgarte da Costa, concluiu que o governador estava inocente.

Bispo D. Frei VITORIANO COSTA – Também conhecido como Frei Vitoriano Portuense, era bispo da Diocese de Cabo Verde, que incluía a Guiné, ficou no cargo interinamente, após a saída do governador, em Fevereiro de 1688. Tendo sido acusado de abuso de autoridade e intromissão nos serviços de justiça, em queixa apresentada pela Câmara de Ribeira Grande e pelo ouvidor Delgarte da Costa ao rei, o Concelho Ultramarino tomou a decisão de nomear, rapidamente, um governador para Cabo Verde.

DIOGO RAMIRES ESQUIVEL – Nomeado por carta de 19 de Janeiro de 1690, toma posse no dia 28 de Fevereiro seguinte. Esta nomeação marca alterações e restrições ao desempenho das funções. O vencimento anual de 600$000 reis, passa para 940$000 reis, acrescido de 260$000 reis, destinados ao pagamento da guarda de honra, constituída por um ajudante e doze soldados. Face às denúncias feitas aos governadores anteriores, na carta de nomeação foi consignada a proibição do exercício do comércio pelos titulares deste cargo. Faleceu em 16 de Setembro de 1690, tendo a governação sido entregue à Câmara, coadjuvada pelo ouvidor.

MANUEL ANTÓNIO PINHEIRO DA CÂMARA - Foi nomeado por carta de 9 de Fevereiro de 1691, e tomou posse no ano seguinte em Maio.

Forte de Bissau em 1864. 
© Ilustração do 3º volume da Nova História Militar de Portugal.


CAPITANIA-MOR DE BISSAU

Apesar da Capitania ter sido criada por alvará de 15 de Março de 1692, fica subordinada à capitania de Cacheu, que destacava oficiais para o comando da mesma. Só em 1696 foi nomeado, pelo Governo Central, o seu primeiro capitão-mor, tendo recaído a escolha em José Pinheiro da Câmara. Houve novo capitão-mor, que ocupou o cargo até Outubro de 1707, sendo a capitania extinta em 5 de Dezembro desse ano e a fortaleza demolida. Em 1753, a 9 de Fevereiro, é iniciada a construção de nova fortaleza, em Bissau que é restabelecida em 16 de Novembro de 1753, sendo nomeado seu Capitão-mor Nicolau Pina de Araújo e guarnecida por cinquenta soldados cabo-verdianos. No ano de 1761 já a fortaleza de Bissau se encontra em ruínas, pelo que a 26 de Dezembro de 1765, por ordem do rei de Portugal D. José I, chegam àquela possessão pessoal, mantimentos e materiais para a construção de uma nova fortaleza, que corresponde à actual Fortaleza da Amura.

ANTÓNIO GOMES MENA – Conselheiro, foi nomeado em 20 de Fevereiro de 1695, tomando posse em 21 de Abril do ano seguinte e morreu em 7 de Junho desse ano. No pouco tempo que esteve no lugar, sentindo-se doente, fez um acordo com a Câmara e com o ouvidor, a fim de tomarem conta da governação, afastando, assim, a possibilidade do regresso do Bispo, D. Frei Vitoriano da Costa, à governação.

D. ANTÓNIO SALGADO - Nomeado em 4 de Novembro de 1697, tomou posse em 13 de Abril de 1698. Dado que havia incompatibilidade entre o cargo e a actividade comercial, o governador solicitou ao rei, sob o pretexto de que a Companhia de Cacheu e Cabo Verde não satisfazia as necessidades da província, que fosse autorizado a negociar directamente com a Guiné. Ainda que o Conselho Ultramarino não se tenha oposto, o rei indeferiu o pedido, o que não impediu que o governador fosse um dos mais criteriosos, pondo cuidado na defesa das ilhas, mau grado dificuldades financeiras. Em 1702, quando terminou o seu mandato e regressou a Lisboa, trazia consigo plantas de anil, que se desenvolvia na ilha de Santiago, o que acabou por resultar no fabrico de tintas em Cabo Verde.

GONÇALO DE LEMOS MASCARENHAS – Nomeado em 12 de Abril de 1702, tomou posse em 25 de Maio. Faleceu em 4 de Dezembro de 1707.

RODRIGO DE OLIVEIRA FONSECA – Antigo Capitão-mor de Bissau, foi nomeado governador-geral em 17 de Maio de 1707, tomando posse em 26 de Outubro desse ano. O alvará de 1612, que vedava ao governador a actividade comercial, particular, durante o mandato, foi revogado em 26 de Novembro de 1708. Na realidade esta alteração apenas torna legal uma actividade que já era desenvolvida. Esta incompatibilidade foi reposta em 18 de Abril de 1720.

JOSÉ PINHEIRO DA CÂMARA – Também antigo capitão-mor de Bissau, foi nomeado conselheiro e governador de Cabo Verde em 12 de Fevereiro de 1710. Até ao segundo ano da sua governação, a vila da Praia e a vila de Ribeira Grande, foram alvo de ataques de uma esquadra francesa sob o comando de Jacques Cassard, com cerca de 2000 franceses, a quem as nossas forças não conseguiram fazer frente, acabando por saquear a cidade em 12 de Maio de 1712. Com receio de um contra ataque, os franceses deixaram a cidade, não sem terem incendiado os edifícios, móveis, arquivos e o forte. O ouvidor geral Miguel de Freitas Teixeira, foi nomeado para proceder a um inquérito, daí resultando a prisão do governador José Pinheiro da Câmara. O texto consultado dá a entender que o inquérito tenha sido “imparcial”, uma vez que o ouvidor escreve ao rei, em carta de 27 de Maio que "esta diligência era tão odiosa e a terra tão acostumada a venenos, que depois de averiguada a verdade corria o perigo de vida". Duas semanas depois o ouvidor sofre morte súbita, havendo suspeita de envenenamento. Em Novembro de 1715 inquérito foi suspenso e arquivada a acusação, por determinação régia. José Pinheiro viria a ser nomeado governador de São Tomé, em 1722.

MANUEL PEREIRA CALLEIROS DE ARAÚJO - Chegou a Santiago no dia 29 de Abril, tendo sido nomeado em 27 de Março de 1715. No mesmo transporte chegou, também, Miguel de Freitas Teixeira, ouvidor nomeado para o inquérito a José Pinheiro da Câmara, que fez embarcar sob prisão o antigo governador. O governador faleceu em 20 de Junho de 1715, dias depois do ouvidor geral, e em circunstâncias idênticas.

SERAFIM TEIXEIRA SARMENTO DE SÁ – Foi nomeado em 16 de Dezembro de 1715, vindo a tomar posse em 6 de Abril seguinte. Governador pouco enérgico, permitiu, involuntariamente, a constituição de bandos armados que criaram grande instabilidade na província, em especial em Santiago, onde se praticavam actos de banditismo. Baltasar de Sousa Coutinho, nomeado para o cargo em 9 de Abril de 1719, como recompensa de serviços prestados ao reino, não chegou a tomar posse.

ANTÓNIO VIEIRA – Nomeado a 11 de Março de 1720, tomou posse a 28 de Setembro seguinte. Foi na altura desta nomeação que foi restaurada a incompatibilidade da acumulação do comércio com o cargo de governador, desta vez extensível aos oficiais do exército e da marinha, assim como a oficiais de justiça e fazenda. A lei que foi publicada em 18 de Abril, aumentava o vencimento anual do governador de 800$000 reis para 1.200$000 e mais tarde, em 1724, para 1.600$000 reis. O governador faleceu a 4 de Janeiro de 1725, depois de ter sido atingido por uma pedrada, atirada por um dos seus inimigos. A governação ficou entregue ao senado, interinamente. Foi durante a governação de António Vieira que esteve em risco a domínio da coroa sobre o arquipélago, já que o donatário da ilha de Santo Antão, o Marquês de Gouveia, vendeu a ilha aos ingleses. O governador teve uma intervenção imediata, expulsando o feitor inglês já instalado e, em Novembro de 1727, organizou uma capitania com as ilhas de Santo Antão, S. Vicente e S. Nicolau.

FRANCISCO MIGUEL DA NÓBREGA VASCONCELOS – Nomeado em 7 de Maio de 1725, toma posse em 24 de Janeiro do ano seguinte. Os conflitos com o ouvidor Bravo Botelho, além de constantes e graves, vieram a ter um epílogo muito lamentável. Em 19 de Março de 1728, mandou uma força de 500 homens cercar a residência do ouvidor para o prender. Os homens, do ouvidor, deram combate as forças do governador, da qual resultaram a morte do ouvidor, do irmão deste, de um tio e de alguns empregados. Nóbrega Vasconcelos fugiu para a Guiné, receando as consequências.

FRANCISCO DE OLIVEIRA GRANS - Nomeado a 10 de Junho de 1728, tomou posse a 23 de Dezembro desse ano. Houve, em Janeiro de 1731, uma epidemia na Ribeira Grande que, dizimando a população, agravou a decadência da cidade. Em 30 de Março de 1733, deixa o governo, entregando-o à Câmara e ao ouvidor. Na apresentação de contas, a considerarem-se correctas, constata-se que o governador era credor da província, dado não ter recebido mais de metade dos seus vencimentos, devido à situação económica e financeira da província. Esta situação só em 1734 teve uma evolução favorável, devido ao rendimento da urzela.

BENTO GOMES COELHO – Nomeado por carta de 26 de Fevereiro de 1733, toma posse a 23 de Março seguinte. Por ter sido censurado asperamente pelo Bispo D. José Santa Maria de Jesus Azevedo Leal (O.F.M.), por viver escandalosamente com uma degradada de nome Maria Moniz, viu-se forçado a mandá-la regressar a Lisboa, sob prisão.

JOSÉ DA FONSECA BARBOSA – Nomeado em 1 de Maio de 1736, só veio a tomar posse no ano imediato a 28 de Fevereiro, vindo a falecer em 7 de Agosto de 1738. O governo foi entregue ao Senado e Câmara até 1741.

JOÃO ZUZARTE DE SANTA MARIA – Foi nomeado por carta régia de 15 de Setembro de 1741, com o vencimento anual de 2.400$000, anuais. Como primeiro objectivo, da sua governação, elegeu a obtenção de rendimentos particulares, pelo que não hesitou em vender patentes de oficiais milicianos, pelo que exonerava uns para nomear outros. Foi de tal forma longe esta prática, que Cabo Verde chegou a haver milicianos com 8 e 9 anos de idade. Para pôr cobro a esta situação, foi nomeado o desembargador Custódio Correia de Matos com a incumbência de inquirir os factos, tendo chegado a Santiago em 21 de Abril de 1752, mas o governador já tinha falecido em Janeiro.

D. ANTÓNIO DE EÇA FARIA – Foi promovido a Tenente-coronel e governador em 6 de Março de 1751, tomou posse a 23 de Abril e morre em 15 de Junho desse mesmo ano. O governo é assegurado pelo Senado da Câmara.

LUIS ANTÓNIO DA CUNHA d’EÇA – Capitão de Infantaria, é nomeado em Junho de 1752. Foi durante o seu governo que, devido à fome e ao temporal de 1755, a decadência de Cabo Verde se agravou significativamente.

ANTÓNIO MARIA DE SOUSA E MENESES – É nomeado a 21 de Junho de 1756, só tomando posse no ano imediato, em 3 de Abril. Foi durante o seu mandato, no ano de 1761, que se deu a erupção do vulcão da ilha do Fogo.

MARCELINO PEREIRA DE ÁVILA – Sendo Alferes de Granadeiros, é promovido a Tenente-coronel e nomeado governador em 5 de Março de 1761. Toma posse do cargo em 11 de Outubro e morre a 3 de Novembro desse ano. A governação é assumida pelo Senado da Câmara.

(Continua)
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Guiné 63/74 - P11643: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (59): Respostas (nºs 130/131/132): Albano Gomes (CART 2339, Fá Mandinga, Mansambo, 1968/69): João Nunes ( CCAÇ 4544, Cafal Balanta e Bolama, 1973/74); e Joaquim Sequeira (BENG 447, Bissau, 1965/67)


Mais respostas aos nosso questionário e mais três "provas de vida"... Obrigado, camaradas!

Resposta nº 130 >

 Albano Gomes [, ex- 1.º Cabo Op
Cripto, CART 2339, Fá Mandinga, Mansambo,
Bambadinca, 1968/1969; reside em :Chaves]


(1) Quando é que descobriste o blogue ?

Já há mais de 6 anos.

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 

Por intermédio do Carlos Marques dos Santos.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? 

Sim,  mas não me recordo [, 28 de dezembro de 2007].

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 

Semanalmente.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ? 

Já enviei algumas coisas.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ? Não.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ? Ao Blogue.

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

Do Blogue gosto de tudo um pouco, dá para reviver.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ? Não há nada que não goste.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) Por vezes, mas não sempre.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

  O reviver de toda uma época das nossas vidas.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ? Não,

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ? Não.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ? Sem duvida.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Apenas dar os parabéns a todos vocês que são formidáveis.



Resposta nº 131 > 


João Nunes [, ex-fur mil, CCAÇ 4544, Cafal Balanta e Bolama, 1973/74]


1. [Descobri o blogue] no ano passado

2. Informação de um camarada (António Antunes, Alferes)

3.Sim,  [sou membro da Tabanca Grande], desde Janeiro 2013

4. [Visito o blogue] semanalmente.

5. Já mandei [material], não tenho mais.

6. Não, [não conheço a página do Facebook,] mas vou procurar.

7. Como não conhecia, só vou ao blogue.

8. Está ótimo, desejo sempre encontrar camaradas da minha companhia.

9. Gosto de tudo

10. Não

11. Uma forma de reviver os tempos da Guiné

12. Não

13. Gostaria muito mas não posso prometer.

14. Sem dúvida [que o blogue tem condições para continuar].

15.Gostaria apenas que os encontros não fossem só no norte do país , pois para nós,  açorianos , é mais fácil na capital ou nas ilhas.


Resposta nº 132 >

Joaquim [Nunes] Sequeira [, ex-1.º Cabo Canalizador do BENG 447, Bissau, 1965/67]


(1) Quando é que descobriste o blogue ? Em 2005.

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

Através do camarada Francisco [Xico] Allen.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? 

Desde o final de 2012. [8 de março de 2013]

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

Quase diariamente.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

Já mandei mas pouco, ando a praticar no PC.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

Sim, de vez em quando vou lá dar uma vista de olhos.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ? Quase a mesma coisa

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ? Gosto dos dois.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ? Gosto dos dois.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Algumas vezes é lento mas não deixa de aparecer.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no
Facebook ?

Para mim é como ler o jornal, há sempre noticias que nos dizem respeito.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

Não, espero ir este ano.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Este ano irei certamente,  se Deus quiser lá nos encontraremos.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

Acho que sim, parar é morrer.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. Aproveito para marcar lugar também para a minha Mulher Mariete Sequeira.

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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de maio de 2013 >  Guiné 63/74 - P11636: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (58): Respostas (nºs 127/128/129): Carlos Fortunato (CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71); António Carvalho (CART 6250, Mampatá, 1972/74); e Braima Djaura (CCAÇ 19, Guidaje, 1972/74)

(...) Questionário ao leitor do blogue:

(1) Quando é que descobriste o blogue?
(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando?
(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)?
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]?
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue?
(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook?
(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook?
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje para ti? E a nossa página no Facebook?
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais?
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real?
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar?
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Quem não respondeu (e, portanto, não fez a "prova de vida"...), ainda vai a tempo. O blogue agradece.

Responder por email para: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com (...)

Guiné 63/74 - P11642: Agenda cultural (276): Lançamento do livro "Guiné-Bissau: As minhas memórias de Gabu, 1973/74", do nosso camarada José Saúde, em Monte Real, dia 8 de junho, no âmbito do VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande. Prefácio de Luis Graça




Capa e contracapa do livro do José Saúde, que vai ser lanaçdo no dia 8 de Junho de 2013

1. Aproveitando a realização do VIII Encontro Nacional da nossa Tabanca Grande, em Monte Real, 8 de junho, o nosso camarada e tabanqueiro José Saúde vai lançar a sua 5ª obra, Guiné-Bissau: As minhas memórias de Gabu, 1973/74. Segundo o autor, "é uma narrativa de um furriel miliciano ranger que cruzou a guerra com a paz". O prefácio é do Luís Graça. O liovro já está na gráfica. A editora é de Beja - CCA Cooperativa Cultural Alentejana. A gráfica é a BejaGráfica, "sendo que não posso, por enquanto, precisar os locais de venda".

O preço é de 10 euros.. Depois de “Glórias do passado", volumes I e II (livros que relatam a evolução do futebol na AF Beja ao longo do Séc. XX),  “AVC na primeira pessooa" e “O trilho”, este é o 5º livro do autor. Publica.se a seguir o texto que ele nos mandou hoje:


2.  Uma viagem pelas recordações guineenses

por José Saúde

Levou, logicamente, o seu tempo. Contudo, a força interior que permanece incólume no meu ego é superior a eventuais adversidades que teimam, a espaços, atormentar o meu normal quotidiano que por vezes não se apresenta fácil. Confesso que, amiúde, sinto o cheiro de uma nostalgia enorme que teima em dar-me forças para seguir a realidade num caminho sempre imaginado e jamais terminado. Estou cá e grito bem alto com um timbre de voz acalorado: PRESENTE!

O tempo, porém, fez o favor de me carimbar com um famigerado AVC quando o meu BI sinalizava 55 risonhas primaveras. É verdade que a maldita doença, que leva quase 7 anos (madrugada do dia 27 de julho de 2006), tentou arrastar-me desta vida terrena, mas fui mais forte, dei-lhe a volta e consegui redescobrir capacidades, talvez escondidas, que fortaleceram outras substancialmente por mim já conhecidas mas armazenadas no baú da saudade. Ficou a certeza de que nunca joguei “a toalha ao chão” e acreditei, incessantemente, num amanhã melhor.

Na tela do meu passado existem fatores que determinam a minha enorme vontade para um caminhar seguro neste cosmos terrestre. Militarmente falando, porque é disso que exatamente se trata, fui e serei eternamente um RANGER que prestei a minha comissão (13 meses) na Guiné. A Revolução dos Cravos – 25 abril de 1974 – antecipou o meu (nosso) regresso a terras lusitanas.

Na Guiné cruzei a guerra com a paz. Assisti a momentos dolorosos. Vivi tempos inesquecíveis. Tempos em que o conflito da guerrilha traçava horizontes deveras nebulosos. Momentos de uma permanente incerteza. Todavia, no palanque da guerra outros motivos me sussurravam aos ouvidos e me alertavam, também, para os fatores humanos visivelmente por mim observados.

Compreendi, afinal, que para além dos sons infernais emitidos pelos convencionais armamentos utilizados no palco da guerrilha, razões houve, e foram muitas, que não caíram definitivamente no limbo das trevas. Em meu entender a análise sucinta feita, e falo na primeira pessoa, levou-me a concluir que as imagens constatadas eram, apenas, montras onde o conflito no terreno camuflava, julgo, outros contratempos.

Neste contexto, procurei trazer à narrativa temáticas que nos foram comuns, mas raramente colocadas à estampa, sabendo-se, no entanto, que a nossa vivência guineense foi literalmente real. Fomos militares que cumprimos o serviço militar obrigatório numa terra distante onde o temor da guerra traçou destinos, alguns fatais, para jovens em plena idade de afirmação.

Mais: nesta obra relato estilos de gentes que sabiam viver na fronteira do imprevisto e de nativos já habituados ao sistema. Pessoas, simples, que coabitavam “encaixados” entre as duas frentes da guerrilha.

Subscrevo, igualmente, os tempos de paz. Momentos alguns difíceis, outros de plena felicidade.

O nosso camarada Luís Graça, autor do prefácio de “Guiné-Bissau, as minhas memórias de Gabu, 1973/74”, diz a determinada altura o seguinte: “O autor não poderia fazer melhor síntese ao dizer que são 'histórias que nos conduzem a uma viagem onde a Guerra se cruzou com a Paz'. Tudo poderia começar pela clássica frase 'Menino e moço, abalei da casa dos meus pais, que a Pátria me chama'… Aldeia Nova de S. Bento, Beja, Tavira, Lamego, Bissau, Nova Lamego… São memórias de pessoas e de lugares, que correm o risco de desaparecer no limbo do esquecimento.” (in Prefácio, Luís Graça, Fundador e editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).

A apresentação oficial da obra está agendada para o dia 8 de junho – no decorrer do almoço em Monte Real – onde marcarei presença. Um abraço camaradas deste alentejano de gema,

José Saúde,  Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

3. Prefácio
por Luís Graça

A guerra colonial (1961/75) terá sido possivelmente o acontecimento mais marcante da sociedade portuguesa do Séc. XX. Foi-o, pelo menos, para a nossa geração, a minha e a do José Saúde.

O seu desfecho levou não só à restauração da democracia em Portugal, com o 25 de Abril de 1974, mas também ao desmantelamento do nosso velho império colonial e ao nascimento de novos estados lusófonos, a começar pela Guiné-Bissau, mais de cento e cinquenta anos depois da independência do Brasil (em 1822).

Em contrapartida, não creio que Portugal tenha feito ainda o balanço (global) de uma guerra que, contrariamente a outras (por ex., invasões napoleónicas e guerras civis no Séc XIX) se passou a muitos milhares de quilómetros de distância da Pátria, na África tropical. Portugal nunca fez o luto da guerra colonial (ou está agora fazê-lo, lenta, tardia e patologicamente).

Cinquenta anos do seu início (em 1961, em Angola), tem vindo a aumentar o interesse pela guerra colonial (ou guerra do ultramar, como se queira): veja-se a literatura memorialística, a produção ficcional e poética, a animação bloguística, a investigação historiográfica e científica, a comunicação social, escrita e falada, etc.

É neste contexto que podemos situar este livro de memórias do José Saúde, o testemunho privilegiado de um português e militar que soube fazer tanto a guerra como a paz… Foi Furriel Miliciano de Operações Especiais (Ranger) na CCS – Companhia de Comandos e Serviços do BART– Batalhão de Artilharia nº 6523 (Guiné, Região de Gabu, Nova Lamego, Agosto de 1973/Setembro de 1974)… Na realidade não chegou a cumprir os esperados 21 meses de comissão militar, porquanto nove depois da sua chegada começou a desenhar-se, a partir de Abril de 1974, a tão ansiada solução política para aquele conflito armado que opunha as autoridades portugueses ao PAIGC, mas que também tinha muitos outros stakeholders, dada o seu contexto geoestratégico e os interesses em jogo.

Não é de jogos de guerra de que aqui se fala, nem sequer de grandes batalhas, mas de simples memórias… De que é que trata, afinal, este livro de 170 páginas ? O autor não poderia fazer melhor síntese ao dizer que são “histórias que nos conduzem a uma viagem onde a Guerra se cruzou com a Paz”. E justamente numa região da Guiné, o leste, o Gabu, o chão fula, onde se tinha verificado uma escala da guerra, desde pelo menos o meu tempo (Bambadinca, 1969/71).

Tudo poderia começar pela clássica frase “Menino e moço, abalei da casa dos meus pais, que a Pátria me chama”… Aldeia Nova de S. Bento, Beja, Tavira, Lamego, Bissau, Nova Lamego… São memórias de pessoas e de lugares, que correm o risco de desaparecer no limbo do esquecimento: a evocação da primeira viagem de LDG (, Lancha de Desembarque Grande), Rio Geba acima, de Bissau ao Xime, com o fantasma do inimigo em Ponta Varela, antes da chegada ao destino; a bela e acolhedora cidadezinha colonial, que dava pelo nome de Bafatá, a capital do leste; os periquitos e os seus rituais de iniciação e adaptação (ao clima, à guerra, às duras condições de vida nos quartéis e destacamentos); as colunas de reabastecimentos até a Bafatá, onde se ia buscar o pão para a boca e as bazucas (garrafas de 0,6 l de cerveja) do nosso contentamento… mas também a necessário provisão de caixões para os mortos; o privilégio de se ter um rádio que nos traz notícias do outro lado do mundo; o batismo de fogo; os dias de folga da guerra, em que o camuflado se trocava pela roupa civil; as tardes passadas nas tabancas, aprendendo com a sabedoria dos mais velhos, e deliciando-se com a alegria e a inocência dos mais novos, as encantadoras mas desprotegidas crianças da Guiné; o conhecimento, mesmo que superficial, de usos e costumes ancestrais como o batuque, o fanado, o trabalho no campo, a família, o patriarcado, a condição da mulher, entre os fulas; a ternura para com a “menina do Gabu”, loira e de olhos azuis, filha do vento, de amores em tempo de guerra… [, Foto à esquerda].

Sem esquecer outros temas incontornáveis como o comércio do sexo num país em guerra e num chão que era dos fulas, nossos aliados; a fonte do Alecrim ou a “aldeia da roupa branca” (neste caso, verde e castanha); a mascote, o benjamim da Companhia, como o havia em quase todas as companhias, o djubi que era protegido e acarinhado pelos tugas… Sem esquecer, obviamente, o primeiro e único Natal passado no mato, o Natal de 1973…

Mas onde se fala ainda de notícias de deserção (o amigo, ranger, caboverdiano que se pira para o PAIGC); a rotina da actividade operacional (incluindo a segurança à pista de aviação de Nova Lamego); a terrível experiência da sede e a importância vital da água; as alegrias da mesa e do convívio, à volta de um cabrito assado no forno; a continuação da militarização dos fulas, com a formação de novas companhias de milícias; as alegrias e as expetativas do 25 de Abril de 1974 (vividas em plenas férias, no Alentejo, ainda só com nove meses de Guiné); o regresso ao Gabu em Maio de 1974; os primeiros contactos com o inimigo de ontem; as tardes de domingo, as futeboladas, a alegria de ir visitar, desarmado, os camaradas de Madina Mandinga em tempo de paz ainda precária (mas já sem o temor das minas e das emboscadas)… E, por fim, a transferência de soberania (na noite de 3 para 4 de Setembro de 1974, “um momento inesquecível”), a despedida, o regresso a casa, o segundo regresso ao Gabu, 25 anos depois, através de fotos de 1999, a catarse vivida com “lágrimas (…) de saudade e de ternura”…

O José Saúde, desportista e jornalista, é também o exemplo de um grande lutador, de um grande sobrevivente e de um grande comunicador. Bastaria ler a sua história de vida e o seu livro “AVC  –Acidente Vascular Cerebral na Primeira Pessoa” (Estarreja: Mel Editores, 2009, 162 pp.).

Com o seu 5º livro, agora dado à estampa, ele não vem (nem precisa de) provar nada a si próprio nem aos outros: vem apenas confessar que viveu, que viveu momentos difíceis mas também bonitos e solidários no seu Gabu, na sua Guiné, naquela terra verde e vermelha, por cuja sorte o seu bom coração, de alentejano e português, ainda continua a bater.

Luís Graça

Fundador e editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11625: Agenda cultural (275): O livro "Guiné - Terra que aprendemos a amar", de Manuel Maia foi lançado no passado dia 22 de Maio em Monte Real (Miguel Pessoa)