sexta-feira, 13 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14355: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXIX: Quando falhava o abastecimento, ainda havia o recurso à "bianda com marmelada"...


Beldade... de Canjambari [Fotógrafo desconhecido]


Canjambari... Um bar ou cantina onde podia faltar muita coisa, até o feijão mas não a cerveja... "estupidamente gelada", como na letra da célebre canção de Chico Buarque, de 1977 (*) [Fotógrafo desconhecido]


1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (**)

Hoje reproduz-se  mais dois textos deliciosos, da autoria do ex-alf mil Timóteo Rosa, do 4º pelotão : (i) o cardápio do rancho da CCAÇ 2533, planeado para o mês de jullho de 1969 (p, 94); e (ii) o "apicultor" da companhia, o srgt Félix (p. 97)...

Quem disse que a malta rapava fome no CTIG e não tinha sentido de humor ?... Por outro lado, nunca será de mais recordar, como facto digno de nota, que esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares da CCAÇ 2533 (oficiais, sargentos e praças), num louvável esforço  de partilha de memórias comuns...

A brochura, com cerca de 6 dezenas de curtas histórias, de uma a duas páginas, e profusamente ilustrada (cerca de meia centena de fotos), chegou  às mãos dos nossos editores, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel. para consulta. Até ao momento, e com muita pena nossa, ele é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande, apesar dos convites, públicos, que temos feito aos autores cujas histórias vamos publicando.

Temos autorização dos responsáveis pela edição e pelos  autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as aventuras e as desventuras vividas pelo pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71). O primeiro excerto destas histórias foi publicado em 16 de abril de 2014, com um texto do ex-comandante da companhia, o cap inf Silvino R. Silva, hoje cor ref.


P. 94

p. 97

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Notas do editor:

(*) Feijoada completa 
Chico Buarque/1977
Para o filme Se segura malandro de Hugo Carvana

[Letra, reproduzida aqui, com a devida venia... da página oficial do cantor]


Mulher
Você vai gostar
Tô levando uns amigos pra conversar
Eles vão com uma fome que nem me contem
Eles vão com uma sede de anteontem
Salta cerveja estupidamente gelada prum batalhão
E vamos botar água no feijão

Mulher
Não vá se afobar
Não tem que pôr a mesa, nem dá lugar
Ponha os pratos no chão, e o chão tá posto
E prepare as linguiças pro tiragosto
Uca, açúcar, cumbuca de gelo, limão
E vamos botar água no feijão

Mulher
Você vai fritar
Um montão de torresmo pra acompanhar
Arroz branco, farofa e a malagueta
A laranja-bahia ou da seleta
Joga o paio, carne-seca, toucinho no caldeirão
E vamos botar água no feijão

Mulher
Depois de salgar
Faça um bom refogado, que é pra engrossar
Aproveite a gordura da frigideira
Pra melhor temperar a couve mineira
Diz que tá dura, pendura a fatura no nosso irmão
E vamos botar água no feijão


1977 © Marola Edições Musicais
Todos os direitos reservados. Copyright Internacional Assegurado. Impresso no Brasil


14 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13893: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXVI: O finório e o 1º sargento (José Luís Sousa, ex-fur mil, 1º pelotão)

6 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13854: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXV: (i) o final da comissão em Farim, com os últimos mortos e feridos na zona de Lamel;: (ii) humilhados e ofendidos: regressados á Pátria, somos obrigados a ir a Chaves, num comboio ronceiro, entregar meia dúzia de trapos desfeitos, os restos das nossas fardas ! (Agostinho Evangelista, 1º pelotão)

8 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13709: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXIV: o Artur, que arranjava sempre desculpas para se baldar... ao mato. Porque, afinal, na guerra e noutras situações-limite em que se arrisca a vida, "quem tem cu tem medo"... (Agostinho Evangelista, ex-sold inf, 1º pelotão)

24 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13642: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXIII: O quotidiano em Canjambari...(Agostinho Evangelista, 1º pelotão)

16 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13614: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXII: No T/T Niassa,, em 24/5/1969, a caminho do "desterro"... (Agostinho Evangelista, 1º pelotão)

28 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13542: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXI: Lembranças de Chaves (Agostinho Evangelista, 1º pelotão)

10 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13481: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XX: a festa dos meus 25 anos, em Farim (Carlos Simões, ex-fur mil op esp. 1º pelotão)

quinta-feira, 12 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14354: Meu pai, meu velho, meu camarada (42): 1.º Cabo Manuel de Assunção Peres (1912-1997), meu sogro, que fez tropa em Elvas... Um dia, quando teve uma curta licença para férias, foi a pé até Castro Verde (, o que em linha reta são mais de 200 km)... (José Colaço)

1. Mensagem do nosso camarada José Colaço (ex-Soldado TRMS da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), com data de 4 de Março de 2015:

O meu pai, meu velho, na inspecção saiu-lhe a fita vermelha. Mas,  como os pais das nossas mulheres nossos pais são, apresento-lhes o meu sogro, meu camarada, pai da  mulher com a qual casei em 1973 e que tem tido a paciência de me aturar e desculpar desde essa data até aos dias presentes.

José Colaço



Manuel de Assunção Peres


2. Este nosso camarada Manuel de Assunção Peres, nasceu em 17 de Abril de 1912  e faleceu em 29 de Dezembro de 1997, vítima de cancro pulmonar, talvez devido ao tabaco pois era um fumador viciado desde os bancos da escola primária. Quando morreu, tinha uma memória perfeita tanto em matemática como em português, disciplinas que gostava e que dominava com alguma facilidade.

Fez a tropa no quartel de Elvas, tendo sido promovido a 1.º Cabo.

Histórias da sua vida militar não as registei em papel nem em memória, culpa minha porque ele falou várias vezes no assunto, mas uma que me chamou a atenção e que registei em parte, foi quando lhe foi concedido um curto período de férias.

Ele  mais um camarada do concelho de Odemira  deram corda aos cordões das botas e marcharam a pé,  de Elvas...  até Castro Verde [, são mais de 200 km em linha reta!].

Um abraço
Colaço
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14353: Meu pai, meu velho, meu camarada (41): Jorge Manuel Augusto da Silva, o "binte oito", era um orgulhoso sapador de assalto, da arma de engenharia... Fez a tropa em Tancos, em 1947, ainda chegou a jogar futebol e era amigo do histórico guarda-redes do Porto, o Barrigana (Henrique Cerqueira)

Postes anteriores (desde o nº 30 da série):

3 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14316: Meu pai, meu velho, meu camarada (40): Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) faria 100 anos no passado dia 28 de fevereiro...Na tropa (entre 1936/37 e 1943), foi da arma de artilharia, como o filho que o recorda hoje com muita saudade (Torcato Mendonça, ex-alf mil art, CART 2339, Mansambo, 1968/69)

4 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11803: Meu pai, meu velho meu camarada (39): Amadeu Simões Picado, ilhavense, 1º cabo quarteleiro, da arma de engenharia, integrou o corpo expedicionário português, em França, na I Guerra Mundial (1917/18), e emigrou depois para os EUA onde trabalhou quase sempre como pescador... Só o conheci aos 9 anos, em 1946... (Jorge Picado)

8 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11358: Meu pai, meu velho, meu camarada (38): Evocando a figura de Luís Henriques (1920-2012) que há precisamente um ano se despedia da terra da alegria (Luís Graça / Pedro Martins)

19 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11275: Meu pai, meu velho, meu camarada (37): Memórias do Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, no dia do pai...

11 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10924: Meu pai, meu velho, meu camarada (36): Fotos recentes do Mindelo, em memória do meu avô Luís Henriques (1920-2012) (João Graça)

13 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10793: Meu pai, meu velho, meu camarada (35b): José Baptista de Sousa (1904-1967), capitão médico-cirurgião, expedicionário, um 'anjo di céu', em São Vicente, fev 1942/ set 1944 - Parte II (Adriano Miranda Lima)

12 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10790: Meu pai, meu velho, meu camarada (35a): José Baptista de Sousa (1904-1967), capitão médico-cirurgião, expedicionário, um 'anjo di céu', em São Vicente, fev 1942/ set 1944 - Parte I (Adriano Miranda Lima)

23 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10712: Meu pai, meu velho, meu camarada (34): Tropas expedicionárias portuguesas, em São Vicente, Cabo Verde, 1941/45, mostram solidariedade com o povo sofrido da ilha (Adriano Miranda Lima, cor inf ref, Tomar; cortesia de Praia de Bote)

7 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10496 Meu pai, meu velho, meu camarada (33): Mais notícias das forças expedicionárias da ilha de São Vicente, Cabo Verde (1941/45) (Adriano Miranda Lima, cor inf ref)

Guiné 63/74 - P14353: Meu pai, meu velho, meu camarada (41): Jorge Manuel Augusto da Silva, o "binte oito", era um orgulhoso sapador de assalto, da arma de engenharia... Fez a tropa em Tancos, em 1947, ainda chegou a jogar futebol e era amigo do histórico guarda-redes do Porto, o Barrigana (Henrique Cerqueira)


Jorge Manuel Augusto da Silva, natural do Porto, fez a tropa em 1947... 
Era soldado sapador de assalto... e conhecido pelo "Binte Oito"


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Henrique Cerqueira [ [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, e CCAÇ 13, Bissorã, 1972/74; casado com a Maria Dulcinea (NI), também nossa grã-tabanqueira]


Data: 8 de março de 2015 às 11:32
Assunto: Meu pai,meu velho , meu camarada


Caro Camarada Luís Graça:

Há muito tempo, mais precisamente a partir da altura em que publicaste um dos primeiros postes sobre o tema " Meu pai, meu velho, meu camarada " (*),  que senti um grande carinho pelo tema. No entanto não ganhava coragem para escrever sobre o pai do qual passei quase toda a minha vida a ouvir as suas estórias de quando esteve na tropa (hoje são os nossos filhos e netos a ouvir as nossas).

Bom,  e vai daí, tu relanças novamente o tema e então lá fui procurar no meu "baú" das recordações e encontrei a caderneta militar do meu pai . E assim sendo vou tentar escrever algo que homenageie a memória do meu e de todos os nossos pais que são: "O Meu Pai , Meu Velho, Meu Camarada ". Espero não ser muito aborrecido mas vou escrever principalmente com o coração e amor pelo meu pai já retirado desta vida terrena.

Apresento o Meu pai, Jorge Manuel, que  foi Sapador de Assalto em Tancos [em 1947].

Sempre ouvi falar o meu pai e muitos dos seus amigos da altura que ele era um pouco irrascível na sua vida militar, mas sempre que era necessária aplicação da sua especialidade,  ele então tinha que ser o melhor. Era com muito orgulho que me contava a vitória obtida numa competição (???) entre vários países da NATO, numas provas militares . E como ele era Sapador de Assalto, orgulhava-se de ser bom a lidar com explosivos.

Uma outra estória muito engraçada (para mim,  claro) foi a sua narrativa de uma célebre "fuga" de que foi protagonista precisamente do interior do Castelo de Almourol. Segundo ele a tropa de Tancos na altura fazia serviço nesse famoso Castelo. Pelos vistos,  o meu pai era um "bom Casanova" e nem as muralhas de um Castelo o detinham quando havia "rabo de saia" nas redondezas.

Já agora o meu pai também foi um excelente jogador de futebol mas, que também acabou por ser irradiado dessa atividade por ter "acertado o passo" a um árbitro e a um polícia. Não pensem que o meu pai era um violento, era sim um rebelde e talvez em demasia para a época.

Estou aqui a pensar que tinha tanto, mas tanto para contar sobre o meu pai, mas não sai... não sai mesmo e por isso vou ficar por aqui e até vou pensar ainda se mando ou não este escrito para a malta ler.

Ah!,  é verdade,  o meu pai era conhecido na tropa pelo "Binte Oito" (28),  á moda do Porto,  já se vê. Era eu miúdo e conheci um famoso jogador da altura que era o saudoso Barrigana [, Frederico Barrigana, 1922-2007], penso que jogava no Salgueiros ou Porto. Estava ele junto do meu pai e só falavam da tropa e era então "Binte oito prá qui....binte oito prá acolá"....

Meu Pai, Meu Amigo, Meu Camarada,  que saudades tenho de ti. Dá um beijo à Mãe e aguarda por mim.

Um grande abraço a todos os Pais, Amigos e Camaradas da nossa Tabanca Grande.
Henrique Cerqueira

PS  - Envio em anexo algumas imagens possíveis da Caderneta militar do meu pai, achei particular graça às páginas descritivas do material  recebido para uso pessoal.












Folhas da caderneta militar de Jorge Manuel Augusto da Silva, pai do nosso camarada Henrique Cerqueira


Fotos : © Henrique Cerqueira (2015). Todos os direitos reservados.

Guiné 63/74 - P14352: Convívios (656): IX Encontro dos Combatentes do Ultramar do Concelho de Matosinhos, levado a efeito no passado dia 7 de Março de 2015, em Leça da Palmeira (Carlos Vinhal)

IX ENCONTRO DOS COMBATENTES DO ULTRAMAR 
DO CONCELHO DE MATOSINHOS

DIA 7 DE MARÇO DE 2015

Foto de família, com alguns dos participantes no IX Encontro dos Combatentes da Guerra do Ultramar do Concelho de Matosinhos, tirada na marginal de Leça da Palmeira

No passado sábado, dia 7 de Março de 2015, cumpriu-se o IX Convívio dos Combatentes do Ultramar do Concelho de Matosinhos, assim designado agora por se estenderem estes Encontros aos camaradas de Angola e Moçambique.
Modéstia à parte, os Organizadores do evento consideram que foi um êxito, não só pelo número de participantes, 110, mas pelo recorde de presença de senhoras.

Conforme o programa estabelecido, pelas 11 horas foi celebrada uma Missa de Sufrágio pelos camaradas caídos em campanha e já durante a vida civil, presidida pelo, já nosso amigo, Padre Marcelino da Capela do Espírito Santo de Leça da Palmeira.
 
Exterior da Capela do Sagrado Coração de Jesus, em Leça da Palmeira

 O senhor Padre Marcelino durante a celebração da Missa

O Padre Marcelino realçou a presença dos muitos combatentes e familiares nesta celebração. Lembrou o sacrifício que foi imposto a uma geração e o sentido de união que persiste, volvidos já mais de 50 anos desde o início da guerra. Disponibilizou-se a receber-nos sempre que queiramos a sua colaboração espiritual. Agradeceu e declinou, por motivos de saúde, o convite que lhe formulámos para almoçar connosco. 

Tirada a foto de família com alguns dos participantes no Encontro, o destino foi o Tryp Porto Expo Hotel onde iria decorrer o almoço.

Após a recepção aos participantes pelo camarada Ribeiro Agostinho, a "alma" destes Convívios, foi dado o tiro de partida para a mesa das "entradas". 

O primeiro obstáculo a vencer foi a mesa dos frios

A Mesa VIP, com: Abel Santos, à esquerda; Dr. Eduardo Nuno, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos; camaradas Francisco Oliveira, António Maria, António Vieira e Dr. Pedro Sousa, Presidente da União de Freguesias Matosinhos/Leça da Palmeira.

Nesta perspectiva da Mesa: O TCor Armando Costa, Presidente da Direcção do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes; Dr. Eduardo Nuno e o camarada Francisco Oliveira.

Vista parcial da sala de jantar

Ex-Combatentes dos três teatros de operações: António Coelho, Moçambique; António Silva, Angola e António Sampaio, Guiné.

No decorrer do almoço houve lugar às habituais, e sempre desejadas, alocuções por parte das personalidades presentes. Abriu as hostilidades o senhor TCor Armando Costa da Liga dos Combatentes que salientou o papel desta instituição ao serviço de todos os combatentes, particularmente o Núcleo de Matosinhos que se tem empenhado na concretização dos projectos levados a cabo neste Concelho.

TCor Armando Costa no uso da palavra

O senhor Dr. Pedro Sousa, Presidente da União das Freguesias Matosinhos/Leça da Palmeira, apesar de por motivos oficiais não poder estar presente no almoço, não deixou de comparecer para cumprimentar os combatentes e deixar algumas palavras de apreço.

O senhor Dr. Eduardo Nuno, Vice-Presidente da Edilidade, também deixou algumas palavras de simpatia por mais esta manifestação de camaradagem e união entre quem lutou há tantos anos numa guerra que ninguém quis e que felizmente já acabou.

O camarada Ribeiro Agostinho, o principal impulsionador destes convívios, deixou uma palavra de agradecimento aos combatentes e familiares presentes e às personalidades que ali representavam a Edilidade e a Liga dos Combatentes.

Nesta foto, atrás, de pé: O combatente Ribeiro Agostinho, TCor Armando Costa, Dr. Pedro Sousa, Dr. Eduardo Nuno e os combatentes Francisco Oliveira, António Maria e Carlos Vinhal. Falta o camarada Abel Santos que estava do lado contrário da objectiva.

Um dos momentos de animação protagonizado pelo nosso velho amigo Victor

O Coro do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, com algumas ausências, actou interpretando alguns trechos da Música Popular Portuguesa. Finalizou a sua actução com o Hino da Liga dos Combatentes...

...ouvido de pé e em silêncio por todos os presentes.

Cerca das 18 horas o pessoal começou a retirar. Tenhamos força e engenho para voltar a reunir as hostes no próximo ano.

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Texto e edição de fotos: Carlos Vinhal
Fotos: Abel Santos, Carlos Vinhal, Ribeiro Agostinho e Raul Ramos
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14348: Convívios (655): Encontro Pré-Primaveril da Magnífica Tabanca da Linha, dia 19 de Março de 2015, no sítio do costume (José Manuel Matos Dinis / Jorge Rosales)

Guiné 63/74 - P14351: Blogoterapia (266): O Senhor M. Proust escreveu milhares de páginas "À la recherche du temps perdu"... Será que nós estamos escrevendo milhares de postes, à procura da juventude "perdida" na guerra? (Vasco Pires, ex-alf mil art. cmdt do 23º Pel Art. Gadamael, 1970/72)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 11 de Março de 2015:

Pois é Luis, como dizia o meu avô, do alto da sua "sabedoria Bairradina": pela boca, morre o peixe, e tu "implacável" editor, te encarregaste da cobrança.

Vamos lá tentar então, mesmo sabendo que estou entrando "numa rua escura" ou ao menos mal iluminada.

Nós, da nossa geração, nascemos numa "ilha ".

Ao passo que no resto da Europa, tudo tinha sido destruído pela Segunda Guerra, - infra-estruturas, estruturas e superestruturas - neste nosso "Jardim à beira mar plantado" tudo continuava de pé.

Éramos também filhos da "Guerra fria", bombardeados pela propaganda dos dois lados.

Sabemos hoje que o nosso "Último Imperador ", tinha a "certeza" que Portugal não sobreviveria sem o "Império", a máquina de propaganda, alardeava que éramos um País multirracial e pluricontinental.

E lá fomos nós para outro Continente "dilatar a fé e o Império", erámos jovens inocentes na maioria, alguns de nós, nunca tínha visto o mar nem um comboio.

Alguns outros se achavam bem informados, porque ouviam a BBC ou a Rádio Moscovo.

Sei, havia também os "filhos" da República Velha, o meu avô era um deles, culpando os "Jesuítas" de todos os males da Nação.

Também não éramos (somos) Europeus, nem antropológica nem culturalmente, mais tarde nos convenceram do contrário, e vimos no que deu!

Enquanto todos os países coloniais negociavam a transição, nós fomos à guerra, guerra politicamente perdida "ab initio".

Pergunto eu então, o que eu tenho a ver com esse soldado largado nas "bolanhas" Africanas?

Ah, sim, entre eu hoje, e o jovem Soldado de Artilharia, há as memórias.

O Senhor M. Proust escreveu milhares de páginas "À la recherche du  temps perdu", será que nós estamos escrevendo milhares de postes, à procura da juventude "perdida" na guerra?

E as memórias, serão reprodução de vivências, ou construções mentais? Memória involuntária ou memória voluntária?

Nesta hora lembro a frase afixada na fachada da República Praquistão, na Coimbra de então: "Não sou eu nem o outro, sou algo de intermédio..." Mário de Sá-Carneiro.

Há sim muitas perguntas, mas (felizmente) temos o Blog à procura das respostas!

Forte abraço
VP
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Guiné 63/74 - P14350: Parabéns a você (873): Manuel Luís R. Sousa, Sargento Ajudante Ref, ex-Soldado At Inf do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Março de 2015 > Guiné 63/74 - P14346: Parabéns a você (872): Artur Soares, ex-Fur Mil Mec Auto da CART 3492 (Guiné, 1972/74) e Joaquim Sequeira, ex-1.º Cabo Canalizador do BENG 447 (Guiné, 1965/67)

quarta-feira, 11 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14349: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (22): Procura-se letra e/ou registo sonoro de "Djiu di Galinha" [Ilha das Galinhas], canção de José Carlos Schwarz, imortalizada por ele e por Miriam Makeba, a 'Mama Africa' (Helena Pinto Janeiro, investigadora, FCSH / Universidade NOVA de Lisboa)

1. Mensagem da doutoranda Helena Pinto Janeiro, e investigadora no Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade NOVA de Lisboa:


De: Helena Pinto Janeiro [hjaneiro@gmail.com]
Enviado: terça-feira, 6 de Janeiro de 2015 18:07
Para: Luís Graça
Assunto: Registo sonoro (ou letra) de "Djiu di Galiña", de José Carlos Schwarz

Caro Professor Luís Graça

Antes de mais, os meus parabéns pelo seu magnífico blogue.

Vi lá uma referência a uma música sobre o campo de trabalho da ilha das Galinhas, escrita e cantada por um preso ("Djiu di Galiña", de José Carlos Schwarz) e gostaria de saber se tem ideia (ou se alguém do seu grupo alargado de seguidores na blogosfera) de quem poderá ter o disco, ou uma gravação áudio, ou ao menos da letra da canção, ou quaisquer outros elementos sobre a canção (data, editora, etc.) ou sobre o autor (datas exactas em que esteve preso, etc.)...

Muito obrigada e votos de bom ano

Helena Pinto Janeiro
Instituto de História Contemporânea da FCSH da UNL

2. Comentário dos editores:

Não encontramos na Net a letra da célebre canção do malogrado José Carlos Schwarz (1949-1977),  mas cujo registo áudio pode ser ouvido aqui, na página de Fernando Casimiro (Didinho): Memorável José Carlos Schwarz.

A canção de Djiu di Galinha (aqui na versão do autor, poeta e músico, 3' 26'') ficou celebrizada pela Miriam Makeba, a "Mama Africa" (1932-2008).  O "Djiu de Galinha, de J. C. Schwarz (e não Schwartz), faz parte do álbum "Welela" (1989).
C apa do álbum "Welela" (1989). Cortesia da
página oficial de Miriam  Makeba (1932-2009)
interpretação, em 1989,  da grande cantora sul-africana.

O nosso grã-tabanqueiro António Estácio, guineense e transmontano, do chão de papel, grande apaixonada das coisas da sua terra (tem um livro de 400 páginas sober Bolama e precisa de patacão para o lançar...) traduziu-nos o título dessa canção que em crioulo quer dizer muito simplemente "Ilha das Galinhas".

E a propósito, temos 6 referências sobre este topónimo, Ilha das Galinhas, no arquipélago dos Bijagós, onde foi criada, em 1934, uma "colónia penal e agrícola", e onde em 1973/74 estiveram detidos guineenses como o Norberto Tavares de Carvalho, o "o Cote", e o José Carlos Scwharz.

José Carlos Schwarz nasceu em Bissau a 6 de Dezembro de 1949. Era fillho de Carlos Hans Schwarz, funcionário público (, eletricista, diz-nos o Estácio) e de Justina Schwarz, caboverdiana, doméstica.  O avô paterno era alemão (,e provavelmente, de origem judia, pelo apelido), que terá andado por Bolama, Farim e Bissau (não se sabendo ao certo quando emigrou para a Guiné, talvez nos finais do séc. XIX ou na altura da 1 Guerra Mundial). O Estácio já não o conheceu, conheceu conheceu o filho e o neto.

Dele, José Carlos Schwarz,  escreveu o Norberto Tavares de Carvalho, o "Cote". que também esteve deportado na  Ilha das Galinhas:

(...) "José Carlos, como se sabe, nasceu na Guiné. De pai guineense de origem alemã e de mãe caboverdiana, fez os seus estudos primários e secundários em Bissau, Dakar e Mindelo. Fã de Kanté Manfila, fundou a orquestra «'Cobiana Jazz' com o Aliu Barri e opôs-se abertamente à opressão colonial portuguesa. A voz do José Carlos, incontestavelmente bela, explorando inteligentemente o verbo crioulo, elevou o 'Cobiana Jazz'  ao mais alto pedestal da cultura musical guineense. Preso pela Pide/Dgs, foi libertado após o golpe de estado ocorrido em Portugal em 25 de Abril de 1974. No pós libertação, optou também, como o Jim Morrison nos seus tempos, pela canção de protesto (Protest-song) contra os desvios à moral social e à linha ideológica de Amilcar Cabral, líder da revolução guineense-caboverdiana, assassinado em Conacri em Janeiro de 1973.(...)

"Quando circularam boatos em Bissau de que as canções do José Carlos iam ser censuradas pelas autoridades, Myriam Makeba apregoou de que se a « Apili », o best seller do José, fosse censurada em Bissau, ela mesma cantá-la-ia em todos os Palácios de África. O aviso foi eficaz." (...)

Pelas notas biográficas que estão disponíveis na Net (e em especial o texto do Norberto Tavares de Crarvalho, o "Cote", já aqui reproduzido pelo Virgínio Briote no nosso blogue) (*), o José Carlos Schwarz fez o ensino primário em Bissau, frequentou o liceu de Bissau, e terá prosseguido os estudos liceais em Dakar e Nindelo (aqui, em 1966).

O Estácio ainda se lembra bem dele: morava em Santa Luzia e ia a cavalo (!) para o liceu. Nessa altura ainda não era conhecido como músico. No então liceu Honório Barreto terá tido a nossa dra. Clara Schwarz como sua professora de francês... Apesar do apelido comum, não eram família... (Como se sabe, pelo lado paterno, a Clara é de origem polaca).

Em 1967 o José Carlos parte com a mãe para Portugal onde o pai estava em tratamento por motivos de saúde. E aqui tem o seu primeiro contacto a música "soul" e "jazz", ao mesmo tempo que  começa a despertar  a sua consciência nacionalista.

No princípio de 1970, funda com Ali Bari e outros o mítico grupo musical 'Cobiana Djazz' (que tem gravados dois discos). Gravou com a Miriam Makeba o seu Lp "Djiu di Galinha", editado postumamente.

Morreu prematuramente aos 27 anos, em 1977, quando desempenhava o cargo de Encarregado de Negócios da Guiné-Bissau em Cuba, num acidente aéreo: o avião da Aeroflot que vinha de Lisboa, despenhou-se, ao aterrar no aeroporto de Havana. Ainda hoje subsiste a dúvida se foi acidente ou sabotagem. (**)

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Notas do editor:

(*) 22 de outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2203: Artistas guineenses (2): José Carlos Schwartz (Didinho/V.Briote)


(...) Com o "Cobiana Jazz", o José Carlos Schwarz, o Aliu Barry e as suas retaguardas musicais, entram de rompante no conflito colonial, mudando forçosa e radicalmente uma parte dos peões avançados pelo Spínola, que constituiam, em grande parte, os alicerces da nova política colonial de alienação e submissão da juventude e da massa popular.

Confiantes nas suas acções mobilizadoras, os dois líderes resolvem participar, de maneira frontal, nas actividades da "Zona Zero", a principal antena do PAIGC em Bissau, dirigida por Rafael Barbosa.
No auge das suas actividades contra o Governo Colonial, José Carlos e Aliu Barry decidiram colocar uma bomba na própria delegação da PIDE/DGS em Bissau. Partiram de motorizada que deixaram banalizada nos arredores, atravessaram o portão principal e foram depositar o engenho na porta de grelhas, envidraçada do lado de dentro. Tratava-se de um potente explosivo de comando por relógio. Uma bomba-relógio!

Seguiu-se depois uma violenta explosão que fez voar em pedaços as grelhas e os vidros da porta da PIDE. José Carlos e Aliu tinham ousado desafiar o inimigo numa das suas mais protegidas fortalezas.
A fama do "Cobiana Jazz" percorrera praticamente toda a Guiné. José Carlos que entretanto fora chamado à tropa, bem como o Aliu Barry, viu-se afectado como condutor de camião em Fá Mandinga onde os Comandos Africanos recebiam preparação. Poucos meses depois seria o José Carlos convocado a Bissau onde receberia a ordem de prisão da PIDE. Aliu Barry teria a mesma sorte.

Deportados para a Colónia Penal da Ilha das Galinhas, Aliu cumpriu aí a sua sentença de dois anos. José Carlos só passou três meses na Ilha, tendo sido retornado ao Pavilhão de isolamento da Segunda Esquadra em Bissau para aí concluir o resto da sua pena fixada em três anos.

Esta dupla sanção dever-se-ia aos seus presumíveis contactos com a população da Ilha das Galinhas ou ao facto de que, entretanto, a PIDE teria descoberto outros casos em que estaria implicado e o teria reconvocado a Bissau. José Carlos defendia a segunda hipótese. Mas o afecto que dedicava aos Bijagós que constituíam a população da Ilha das Galinhas, era eloquente. Aliás, chegou a reivindicar essa paixão no seu famoso "djiu di Galinha"(...)


Foi quando a PIDE o transferiu da Ilha das Galinhas para Bissau, que o conheci de perto. Pois em Novembro de 1972, na sequência de uma greve de estudantes, precedida de manifestação no Palácio do Governo, tinha sido detido pela PIDE, por ordem do General Spínola.

Ocupei momentaneamente a cela n° 12 do Pavilhão de isolamento. O José Carlos encontrava-se na cela n° 16, a última do corredor. Quando lhe expliquei que fazia parte de um grupo de estudantes que fora reivindincar um tratamento mais condigno no plano dos estudos, entusiasmou-se tanto que pronunciou a frase : "É o segundo Pindjiguiti !"

Fui libertado algumas horas mais tarde em troca duma advertência pronunciada pelo Inspector-Adjunto da PIDE, Raimundo Alas, que não tinha matéria suficiente para me prender: "Não é porque o vizinho quer aumentar o seu terreno que vai estendê-lo sobre as margens do outro vizinho." Confesso que até hoje, não percebi o sentido desta frase.

A sentença caiu sobre mim em Maio de 1973. Quando me empurraram na cela n° 6 e fecharam a porta, senti umas batidas na parede, lembrei-me logo da técnica e respondi batendo na mesma. Uma voz vinda do fundo do corredor inquiriu: "Quem é?" O José Carlos Schwarz encontrava-se ainda na mesma cela de há seis meses atrás !

Estivemos juntos, eu na minha cela e ele na sua, durante cerca de quatro meses. Falamos de tudo e de nada. Fiquei desiludido ao saber que, afinal, havia traição na "Zona Zero". (..:)

Durante esse periodo tive o grande privilégio de ser um dos primeiros padrinhos das belas e salientes canções que o José Carlos compôs durante o seu cativeiro. "Minino de criaçon", "Muscuta", "Quê qui minino na tchôra", "Djénabu", "N’djanga" e toda a série que se lhes seguiu. Realizávamos até sessões de discos pedidos: eu animava e ele cantava." (...)

Guiné 63/74 - P14348: Convívios (655): Encontro Pré-Primaveril da Magnífica Tabanca da Linha, dia 19 de Março de 2015, no sítio do costume (José Manuel Matos Dinis / Jorge Rosales)

S. Ex.ª O Senhor Comandante Jorge Rosales


1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71 e actual Amanuense da Magnífica Tabanca da Linha:

Carlos,
Por ordem de S. Exa. venho submeter ao teu cuidado a publicação da seguinte convocatória. Desenrasca-me, que o Comandante anda fera.

Com um abraço
JD


Camaradas,
Encarregou-me S. Exa. o Senhor Comandante de convocar a tertúlia para um encontro que ele chama de pré-primaveril, no próximo dia 19 de Março, e para o efeito do costume.

Como habitualmente, só se paga o desfrute da paisagem magnifica, que mantém os 15 aéreos, talvez mais 1 de gratificação.
Como podem notar com facilidade, o governo parece que tem dificuldades em aumentar a inflação, mas S. Exa., com aquele saber adquirido em Porto Gole, fá-lo com a agilidade de um Cisco Kid.

Para não causar perturbação durante a actividade manducante, a ementa repete-se com aquele cimento de bianda com marisco, acompanhado pelo instrumento tinto da marca Esteva. Mas também há brancos, entradas, sobremesas e café, conformemente tem sido do agrado geral.

As inscrições são aceites até à próxima segunda-feira, dia 16, e não são admitidas rebaldarias, nem que o José de Sousa chegue da Jamaica.

Eu já cumpri a primeira parte da minha obrigação, comunicar. A outra parte espero resolver no dia citado, quinta-feira, em Oitavos.

JD
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14347: Convívios (654): XXXII Encontro Nacional dos Oficiais, Sargentos e Praças do BENG 447, dia 9 de Maio de 2015, na Tornada, Caldas da Rainha

Guiné 63/74 - P14347: Convívios (654): XXXII Encontro Nacional dos Oficiais, Sargentos e Praças do BENG 447, dia 9 de Maio de 2015, na Tornada, Caldas da Rainha

Conforme solicitado pelo nosso camarada Lima Ferreira, ex-Fur Mil TRMS que serviu no BENG 447, estamos a dar conhecimento do 32.º Encontro Nacional dos Oficiais, Sargentos e Praças que prestaram serviço no BENG 447.

O Convívio será no dia 9 de Maio de 2015 no Restaurante "O Cortiço", na Tornada, Caldas da Rainha.


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Nota do editor

Último poste da série de 24 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14294: Convívios (653): Dia do Combatente de Gondomar, Sábado dia 7 de Março de 2015, Fânzeres (Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P14346: Parabéns a você (872): Artur Soares, ex-Fur Mil Mec Auto da CART 3492 (Guiné, 1972/74) e Joaquim Sequeira, ex-1.º Cabo Canalizador do BENG 447 (Guiné, 1965/67)


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Nota do editor

Último poste da série de 10 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14338: Parabéns a você (871): Joaquim Cruz, ex-Soldado Condutor Auto Rodas do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 10 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14345: Efemérides (184): Rescaldo do Dia do Combatente de Gondomar, levado a efeito no passado dia 7 de Março de 2015 (Carlos Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71), com data de hoje 10 de Março de 2015:

Olá Carlos
Boa saúde
Junto um resumo da comemoração do dia do combatente de Gondomar Agradeço que publiques no blogue

Um abraço
Carlos


Comemoração do “Dia do Combatente de Gondomar” 7 de Março de 2015

Homenagem aos Combatentes Gondomarenses Mortos na Guerra em África 1961-1974

O evento teve o apoio da Câmara Municipal de Gondomar e da União de Freguesias de Fânzeres e de S. Pedro da Cova, foi promovido por um grupo de ex-combatentes gondomarenses, contou com a presença de muitos ex-combatentes e seus familiares, bem como de entidades públicas e privadas, e com o seguinte programa:

10H30 – Concentração junto da igreja matriz de Fânzeres.

11H00 – Na paróquia de Fânzeres, missa de acção de graças e de sufrágio em memória dos ex-combatentes gondomarenses falecidos.

12H00 - Após a Missa seguiu-se em romagem até ao Monumento “Aos Heróis de Ultramar”, situado na Praceta Heróis de Ultramar, para prestar homenagem aos 83 combatentes gondomarenses que tombaram por PORTUGAL em África, cujos nomes constam no Memorial, existente no mesmo local.

Gondomar – Fânzeres, Praça e Monumento aos Heróis de Ultramar 

Aqui as cerimónias contaram com a presença de muitos ex-combatentes e seus familiares, entidades públicas e privadas e iniciaram-se com a apresentação de cumprimentos às entidades convidadas, seguindo com:

- Alocução proferida por um ex-combatente sobre o objectivo do evento e da homenagem aos combatentes gondomarenses mortos em África;

Da esqª para a dta: Apresentadora, ex-combatentes Mário Guimarães; Carlos Silva; Dr. Marco Martins, Presidente da Câmara e Dr. Daniel Vieira, Presidente da União de Freguesias de Fânzeres e S. Pedro da Cova 

- Alocução proferida pelo Dr. Daniel Vieira, Presidente da União de Freguesias de Fânzeres e S. Pedro da Cova;

- Alocução proferida pelo Dr. Marco Martins, Presidente da Câmara Municipal de Gondomar;

Dr. Marco Martins, Presidente da Câmara Municipal de Gondomar no uso da palavra 

- Apresentação de armas por um Pelotão do Comando Operacional do Porto em honra dos combatentes mortos e um minuto de silêncio [não houve toque a mortos, porque o militar clarim não integrou esta unidade]

Memorial 

13H00 - No final das comemorações seguiu-se o almoço de confraternização na (Tabanca dos Melros) - Quinta dos Choupos-Restaurante Choupal dos Melros, em Fânzeres

O Grupo da "Metralha"

Vamos conversando, enquanto se espera pelas entradas
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14325: Efemérides (183): 5 de março de 1973, Guileje: a morte de um mártir/herói da guerra, o alf mil Vitor Lourenço, da CCAV 8350 (J. Casimiro Carvalho)

Guiné 63/74 - P14344: Blogpoesia (403): o meu mar da Ericeira (J. L. Mendes Gomes)


queria ir ver o mar...

por J. L. Mendes Gomes



ai meu mar da Ericeira 
como te queria tanto ver
e sentir dançar.

estou longe...
tenho serras e muita estrada
entre mim e ti.


saudade de te ver ao longe,
donde quer que eu fosse,
ao sair de casa.
por aqueles campos
e colinas verdes
que te cercam.


ver aquelas escarpas e falésias,
ora a prumo,
ora docemente inclinadas,
que me levavam junto de ti.

das tuas ondas brandas,
a beijar meus pés.

o cheiro verde e acre
do sargaço com que os envolves.

e das gaivotas mansas
que te adoram,

planando ao vento,
sem bater as asas...

e das caravelas brancas e dos veleiros que te sulcam lá longe,
na linha do horizonte,
mirando a terra.

tenho vontade de me banhar em ti,
chapinhar na areia branca
que molhas de amor.


ouvindo "nocturnos completos" de chopin
Berlin, 12 de Janeiro de 2015
23h53m

Joaquim Luís Mendes Gomes
[ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66]

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14332: Blogpoesia (402): Um haiku à moda do Japão, em Dia Internacional da Mulher (António Graça de Abreu)

Guiné 63/74 - P14343: Notas de leitura (690): "Neste mar é sempre inverno", romance de Tibério Paradela (edição de autor, 2014) (Parte I): a epopeia da pesca do bacalhau à linha, em plena guerra colonial (Luís Graça)


Capa do livro de Tibério Paradela, "Neste mar é sempre inverno" > Ficha técnica: ed. autor, agosto de 2014 (Execução gráfica: Oficina Digital -. Impressão e Artes Gráficas Lda, Aveiro). Depósito legal: 379001/14. Tiragem: 500 ex. 262 pp. Capa de José A. Paradela. O livro pode ser pedido através do mail: paradela.tiberio@gmail.com



1. Comecemos pelo autor, Tibério Paradela [à esquerda, foto de perfil da sua página no Facebook. com a devida vénia]

Tibério Paradela: é o seu primeiro livro. E é um romance (ou obra de ficção) que tem como horizonte temporal a campanha de bacalhau na Terra Nova e na Groenlândia, entre abril de 1965 e abril de 1966.

A capa é do irmão, José António Paradela, arquiteto. meu amigo e vizinho (*) [, Ábio de Lapara, no Facebook]. 

Tibério Paradela, capitão da marinha mercante, é ilhavense, concluiu o curso de pilotagem da Escola Náutica, em Lisboa, em 1960. Embarcou como  praticante de piloto em 1961, no arrastão  "Santa Mafalda" e, no ano seguinte, como imediato no navio bacalhoeiro à linha "Novos Mares" [o último bacalhoeiro em madeira, construído na Gafanha da Nazaré, fez parte da Frota Branca até 1986, data em que foi abatido à frota  por ordem do Secratário de Estado das Pescas; em 1991 foi oferecido para se transformar em museu, o que nunca se concretizou; por incúria, deleixo ou crime, acabou por se afundar no porto de Aveiro].

Entre 1962 e 1964,  entre os 21 e os 24 anos,  Tibério Paradela andou na pesca do bacalhau, tendo passado depois para a marinha mercante. Fez as rotas comerciais do Índico (Moçambique e África do Sul), do Atlântico (países da África Ocidental, norte da Europa, Açores, Madeira e Canárias) e Mediterrâneo. 

Foi ainda piloto de barra no porto da Beira, Moçambique, entre outras atividades profissionais. Vive na Costa Nova, concelho de Ílhavo, tal como o nosso camarada Jorge Picado (de quem, de resto, os irmãos Paradela são amigos).(**)


2. Romance > Contexto:

Se o livro tivesse sido escrito (e publicado) ainda no tempo do Estado Novo, teria pela certa um título mais prosaico e pitoresco: "Cenas da vida da pesca do bacalhau". Mas não, não de trata de um livro de memórias, muito menos de registo etnográfico das campanhas do bacalhau e da vida a bordo nos últimos barcos da pesca à linha da nossa "frota branca". 

Não é sequer um simples diário de bordo duma viagem, de seis meses, aos bancos de pesca da Terra Nova e da Groenlândia. O que não quer dizer que o livro não tenha uma grande riqueza de informação etnográfica, recomendando-se a sua leitura também por essa razão adicional.

"Neste mar é sempre inverno" é um título de homenagem aos homens do mar. Na pág. 105,  percebe-se melhor a escolha do título. O autor atribui ao filósofo grego Platão a afirmação segundo a qual haveria 3 espécies de homens: "os vivos, os mortos e os  homens que andam no mar"...

Mas por que é que os homens do mar teimam em sê-lo pela vida fora, de modo contínuo ? Para Tibério Paradela, há uma razão, "talvez a única", para explicar por que é que o homem do mar o é para toda a vida: seria o "esquecimento". E esclarece o autor:

"Não o varrimento da memória, mas o alijamento das agruras e amarguras para o sótão das lembranças indesejadas numa sucessão infalível, porque no mar é sempre inverno" (p. 105).

Poderia tresler-se: "neste mar é sempre inferno"... Neste mar, e na frota branca do bacalhau!

É esta epopeia, já esquecida pelos portugueses nascido no pós-25 de abril, que prende o leitor ao longo das mais de 260 páginas do romance. Li e reli o livro e tirei inúmeras notas de leitura, algumas das quais vou aqui partilhar, com todo o gosto,  com os leitores do nosso blogue. (***)

Confesso que o meu convívio e amizade com o arquiteto José António Paradela e outros ilhavenses me têm levado a desenvolver um crescente interesse e viva curiosidade  pela história e pela socioantropologia da pesca do bacalhau, sem de modo algum me poder arrogar o título de especialista. 

É um tópico (a pesca do bacalhau à linha, com botes, com os célebres dóris) que me apaixona. Já aqui, no nosso blogue, fizemos de resto referência a dois livros do capitão Aveiro (****), outro ilhavense que deve ter inspirado o nosso romancista: a figura do capitão Valério tem alguns traços autobiográficos mas também terá algumas semelhanças com o mítico capitão Aveiro, um lobo do mar, ilhavense, pois claro...

Por outro lado, tenho ainda bem presentes as imagens dos anos 60, da benção dos bacalhoeiros, ancorados frente ao Mosteiro dos Jerónimos. De as ver ao vivo, mesmo a uma ceta distância. Era, de resto, uma das imagens recorrentes da Radiodifusão Portuguesa, ainda a preto e branco. Era uma das imagens de marca do regime de Salazar. Portugal era então o único país que ainda mantinha a longa tradição da pesca do bacalhau à linha.

Ora o romance de Tibério Paradela começa justamente em abril de 1965, com a benção e a partida dos bacalhoeiros, "todos eles brancos, talvez por serem negros alguns dos seus destinos" (p. 5). 

Na praça do Império, frente aos Jerónimos, amontavan-se os tripulantes da frota (pescadores e marinheiros) e as respetivas mulheres. É poderosa a imagem desses "cepos axadrezados" que íam partir para um viagem de seis meses., deixando em terra as suas mulheres, nalguns casos já grávidas:

"Mulheres soluçantes apoiavam-se nos ombros daqueles que eram os seus homens, cepos axadrezados, inseguros nas botas de borracha pretas de cano alto, dobradas abaixo dos joelhos, homens desengonçados  de postura inacabada, em dança algo frequente herdada do mar (...)". (p. 6).

O que tinha de especial aquele dia em que o povo humilde do mar, gente recrutada ao longo da costa, de norte a sul (de Viana do Castelo a Olhão, passando por Ílhavo, Aveiro, Figueira da Foz, Nazaré, Peniche, Setúbal). se misturava com os "grandes" da Nação (bispos, cónegos, ministros, armadores,  militares de alta patenta...) ?

A resposta, épica,  vem nas páginas 7/8:

"Naquele dia eles eram os Grandes, os Ínclitos, a Raça. Neles se projectava toda uma história marítima riquíssima nos dons que imortalizam os heróis - a abnegação e  a coragem! Era a eles - sem excepção de classe - dos capitães aos moços de convés -  que se atribuia a capacidade restante de continuarmos a nossa saga de marinheiros galgandos mares, desafiando o ignoto, descobrindo riquezas"... 

A cerimónia  terminava com o bispo, de hissope em punho, benzando barcos e homens e arrematando:

"Eu vos abençoo e aos vossos barcos também! Ide com Deus!...

E lá parte o barco, o "Nova Esperança", para a sua viagem de 2 mil milhas até aos bancos de pesca do bacalhau, a atingir em 10 dias (à velocidade de 200 milhas por dia),  com a sua tripulação de oitenta homens:

"Os pescadores, os moços do convés,  os maquinistas, o imediato e o capitão" (p. 18), com "os paióis carregados de víveres para seis meses, câmaras friogoríficas atulhadas de blocos de lula congelada, para isco, milhares de linhas de pesca e anzóis, muitos cestos de vime, um para cada pescador (...); selhas enormes para lavagem do peixe, baldes  de madeira individuais, para o isco,  garfos de dois dentes finamente acerados com cabo quase do tamanho dum homem para a remoção do bacalhau, muitas pás para a remoção do sal no porão; facas para fins distintos, pedras de afiar; cordas (...), enfim, um sem número de aprestos e parlamentas. Nos tanques duplos-fundos cinquenta toneladas de água potável e outras tantas de gasóleo. E no porão, que é a barriga dos navios, oitocentas toneladas de sal carregadas em terras saleiras" (p. 13).

3. Legislação de 1927: dispensa do serviço militar aos mancebos com seis campanhas ou temporadas na pesca do bacalhau, desde que matriculados em navios nacionais 

O romance tem como personagem principal o "Nova Esperança" e gira à volta de 4 ou cinco figuras da tripulação: 

  • o capitão Valério, comandante do navio, 
  • o seu velho imediato (que foi o único sobrevivente do naufrágio do "São Cristóvão", em finais dos  anos 20), 
  • o Tio Quico (velho pescador que tem um filho a fazer a guerra em Angola), 
  • o Atílio (um homem revoltado contra a sua dura condição proletária) 
  • e o "Serranito" (moço de convés, beirão, que se alistou para fugir à guerra de África)...

Recorde-se que a pesca do bacalhau na Terra Nova e na Groenlândia era, então, uma alternativa à guerra colonial: eu ainda  não vi isso escrito preto no branco, no Diário do Governo, mas devia haver um acordo de cavalheiros entre o governo, as autoridades militares e o grémio dos armadores dos navios da pesca do bacalhau e, proventura, os sindicatos (corporativos) dos pescadores, no que diz respeito à isenção do serviço militar dos mancebos, ao tempo da guerra colonial (1961/74)... 

No romance, o "Serranito", a conselho do abade da aldeia, e da sua madrinha,  professora, está convencido de que se fizer 7 (sete) campanhas da pesca do bacalhau está safo da tropa e da guerra... 

Ao que parece, já havia legislação nesse sentido, remetendo aos tempos da Ditadura Militar (vd. Diário do Governo, 1.ª série, Decreto n.º 13441, de 8 de Abril de 1927), como forma de responder às dificuldades de recrutamento de pessoal e às duras condições de trabalho, segundo o historiador Álvaro Garrido (em artigo sobre a revolta dos bacalhoeiros de 1937):

(...) "Entretanto, mantinha-se o incentivo ao recrutamento previsto na legislação de Abril de 1927: os pescadores que tivessem cumprido um mínimo de seis campanhas de pesca consecutivas eram dispensados do serviço militar, sendo transferidos para a 'reserva naval' " (...) (Fonte: Garrido, Álvaro - Os bacalhoeiros em revolta: a «greve» de 1937. Análise Social, vol. XXXVII (165), 2003, 1191-1211, disponível aaqui em formato pdf).

Sobre a pesca do bacalhau vd. entrada da Wikipédia > Pesca do bacalhau pelos portugueses... Recorde-se que durante a II Guerra Mundial foram afundados,  por submarinos alemães, dois lugres da frota do bacalhau  o Delães e o Maria da Glória, o que custou a vida a 36 pescadores (do segundo). No total, a marinha alemã afundou 11 navios de bandeira portuguesa durante a II Guerra Mundial, facto que é desconhecido pelos portugueses mais jovens.










(Continua)

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Notas do editor

(*) Vd. poste de 30 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10596: Memória dos lugares (194): Ilhavo, Costa Nova... a terra do meu amigo e irmão mais velho e, porque não ?, meu camarada, o arquitecto Zé António Paradela, que hoje celebra 3/4 de século de existência, antigo marinheiro da pesca do bacalhau, último representante de um povo que tem o mar no ADN!... (Luís Graça)

(**)  Vd. poste de 28 de setembro de  2008 > Guiné 63/74 - P3248: Eu, capitão miliciano, me confesso (1): Engenheiro agrónomo, ilhavense, 32 anos, casado, pai de 4 filhos... (Jorge Picado)

(***) Último poste da série > 9 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14337: Notas de leitura (688): A minha querida Aldeia do Cuor! (Mário Beja Santos)

(****) Vd postes de:

24 de novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2300: Memórias de outra tropa, de outra guerra, a da pesca do bacalhau: escovar a história a contra pêlo (José A. Boia Paradela)

17 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7137: Agenda Cultural (86): DocLisboa2010, 14-24 de Outubro de 2010: a pesca do bacalhau na Terra Nova como alternativa à guerra colonial (Luís Graça)