sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Guné 63/74 - P15102: Convívios (706): O pessoal da Magnífica Tabanca da Linha vai encontrar-se no próximo dia 24 de Setembro, no sítio do costume (José Manuel Matos Dinis)



DIA 24 DE SETEMBRO 
PRÓXIMO ENCONTRO DA MAGNÍFICA TABANCA DA LINHA


1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), Amanuense da Magnífica Tabanca da Linha, em efectividade de serviço, com data de hoje, 10 de Setembro de 2015:

Meu amigo Carlos,
A malta da minha geração frequentou em grande número um lugar de diversão chamado Guiné, e de tal modo nos sentíamos felizes, que ainda hoje falamos do sítio com bastante frequência, e recordamos com nostalgia os bons momentos ali passados. Ora, o que agora trago ao conhecimento daqueles frequentadores, é que vai acontecer um encontro de camaradagem entre os resistentes agregados pela Magnífica Tabanca da Linha.

Já lá vão uns quantos encontros que o Manuel Resende vai registando à vez e, no geral, vai-se ampliando o gosto por novos aderentes, enquanto se cimenta a amizade junto dos mais antigos, de forma contagiante para os mais recentemente chegados. Geralmente, os nossos tertulianos contagiam-se pelas refeições que complementam as convocatórias. Já nos aconteceu fazer experiências de baixo custo com razoável qualidade em diferentes locais, mas, desde há cerca de dois anos que Oitavos, na Estrada do Guincho, pela beleza natural envolvente, pelo ar puro que proporciona durante as cavaqueiras no exterior, pela facilidade de acesso e estacionamento, e pela relação preço/qualidade da ementa tipo tornada prato oficial da Magnífica, consubstanciado em arroz de marisco acompanhado por vinho tinto Esteva, ou branco de Palmela, tem sido o lugar de destino para as confraternizações. A penúltima vez, como forma de penalização por um serviço indecoroso, demandámos outro lugar, mas desde logo se manifestaram desejos de, sob condição, regressarmos a Oitavos. E o regresso mostrou franca melhoria, e consubstanciou-se na melhor refeição na memória colectiva.

Assim, pela módica quantia de 18 euros, a título de pagamento pelo desfrute do ambiente e paisagem natural, convocam-se os estimados tertulianos, que poderão fazer as suas inscrições até ao próximo dia 21, para o encontro do dia 24, pelas 12H30, naquele local de Oitavos, que se situa no cume da estrada que deriva da do Guincho, sentido de Cascais para o Guincho, junto a um antigo forte da Guarda-Fiscal, apesar da presença de uma placa indicadora.

As inscrições poderão ser feitas através do blogue da Magnífica Tabanca da Linha, para mim pelo telemóvel 913 673 067, por telemóvel e por e-mail para o Manuel Resende ou para o Comandante Rosales, respectivamente com os números 914 421 882 e 919 458 210. Também estaremos ao dispor para qualquer esclarecimento.

Abraços fraternos
JD
____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 de setembro de 2015 > Guné 63/74 - P15088: Convívios (705): Encontro do pessoal do Hospital Militar 241 de Bissau (1966 a 1972), dia 3 de Outubro de 2015, na Covilhã (Manuel Freitas)

Guiné 63/74 - P15101: Notas de leitura (755): A revista Visão e a BD da guerra colonial (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Outubro de 2014:

Queridos amigos,
Foi graças ao Carlos Pedreño Ferreira que tive acesso a esta jóia da BD que se publicou em Portugal entre 1975 e 1976. Não escondia ser um projeto alternativo, alguns dos seus colaboradores eram ambientalistas antes do tempo, espadeirando contra as centrais nucleares, não esquecer que a opinião pública iria ser incendiada pelo projeto de Ferrel, morto no embrião.
Creio ter sido a primeira vez que a guerra colonial teve tratamento em BD. O pouco que se encontra na net sobre a revista “Visão” é de considerar a iniciativa como altamente meritória, foi um ponto de referência, talvez ingénua, assim passou à história.

Um abraço do
Mário


A revista Visão e a BD da guerra colonial

Beja Santos

Um esclarecimento prévio: a revista Visão de que vamos falar era um quinzenário surgido em Abril de 1975 e que se destinava a divulgar e promover uma nova banda desenhada portuguesa. Pretendiam os seus animadores aceitar o desafio para ultrapassar o derrotismo de que não era possível fazer e publicar banda desenhada em Portugal feita pelos portugueses. Escrevia-se mesmo em editorial: “Nós lançámo-nos na aventura da qualidade. Se já leste as histórias que publicamos neste 1º número reparaste com certeza que, quer no texto quer no desenho é lebre o que te estamos a dar e não gato mal disfarçado. A divulgação prioritária de autores portugueses é a nossa aventura. Fazer aparecer de repente argumentistas e desenhadores para suportar uma revista quinzenal num país onde se contam pelos dedos os autores de banda desenhada já publicados é um risco de vulto. No entanto, também o decidimos correr”. Anunciava-se como leitura no número seguinte a biografia de Amílcar Cabral. Aparecia uma BD intitulada “Matei-o a 24”, mostrando uma vítima de stress pós-traumático de guerra. No n.º 2 de “Visão” começava a publicação de Amílcar Cabral, trabalho de dois artistas cubanos argumento de Fidel Moralez e desenho de Vicente Sanchez, encetava-se assim a colaboração entre “Visão” e a Prensa Latina. Prosseguia a publicação de “Matei-o a 24”, seguramente o grafismo de maior qualidade até então dada a estampa de autores portugueses.

A revista era dirigida por Victor Mesquita e entre os seus colaboradores apareciam Machado da Graça, Artur Tomé e Mário Henrique Leiria. Estava instalada na avenida João Crisóstomo, n.º 79, 5º Esquerdo, Lisboa.

No n.º 7, primeira quinzena de Outubro de 1975, surge uma nova BD, “Angola 1971”, com inegável interesse. A cooperação com Cuba é uma constante e aos poucos apagam-se as referências à guerra colonial, outras guerras vão surgindo para delícia dos leitores. E um dia, após onze números publicados, extinguiu-se, não se sabe o que levou à dissolução do projeto, se as turbulências de 1975, se o preço da revista, se o desencontro dos leitores com o tipo de projeto alternativo em que se alcandorava a publicação. E dizemos projeto alternativo porque se fazia uma crítica severa à energia nuclear e claramente à sua rejeição em Portugal. Também alternativa ao acolher opiniões como as de Mário Henrique Leiria, um dos escritores mais irreverentes do seu tempo.

Aqui fica o registo de um projeto de vida efémera, mas foi provavelmente aqui que pela primeira vez se pôs a guerra colonial em BD, como se vai mostrar:





____________

Nota do editor

Último poste da série de 7 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15081: Notas de leitura (754): “Etnia, Estado e Relações de Poder na Guiné-Bissau”, por Carlos Lopes, Edições 70, 1982 (2) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15100: FAP (88): A propósito da Op Mar Verde, dos MiG e do artigo do José Matos: Labé ainda hoje não tem uma pista capaz de receber MiG, se eles existiam mesmo só podiam estar em Conacri...Será que a malta foi mesmo ao aeroporto ? (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

 
1. Comentário de António Martins de Matos ao poste P15092 (*):


[ex-tenente pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74), hoje ten gen pilav ref; membro da Tabanca Grande ]


Tenho que felicitar o José Matos pelo seu exaustivo trabalho de pesquisa, deu-nos a conhecer uma outra visão, a dos Altos Gabinetes e Estados Maiores, como a política e as chefias militares lidavam com os assuntos da distante (para eles) Guerra do Ultramar.

Constatei o que sempre tinha suspeitado, como assuntos importantes eram discutidos, avaliados e decididos por alguns “teóricos”, sem ouvirem a opinião dos “combatentes”, dou dois exemplos:

(i) quererem meter mísseis ar-ar num avião (FIAT G-91) que era concebido para missões ar-chão; mal comparado, seria o mesmo que meterem pneus de corrida num Smart;

(ii) não havendo uma cobertura eficaz de defesa aérea na Guiné, a compra dos Crotale era totalmente descabida, estes mísseis não podem (devem) actuar a solo mas sim englobados num sistema mais vasto de defesa aérea, por si só o operador de tão sofisticada bataria de mísseis nunca conseguiria destrinçar um G-91 de um MiG. (foi assim que os separatistas na Ucrânia deitaram abaixo um comercial, pensando que estavam a abater um bombardeiro ucraniano).

Só há pouco tempo constatei que havia um radar de defesa aérea na Guiné, até tenho uma foto onde o malfadado radar aparece em fundo, malfadado porque preciosa ajuda nos teria dado se estivesse a funcionar, essencialmente para nos guiar quando em missões de má visibilidade, o elemento que faltava para que se pudessem fazer missões de noite. Dois anos de comissão e … nunca mexeu!

Sobre as estórias dos MiG, já aqui no blogue e em tempos escrevi sobre o tema (**), penso que o texto do José Matos e o meu se complementam, apenas um comentário, contestar a afirmação de, na operação Mar Verde, ao não terem encontrado os MiG, “alguém” ter afirmado que eles estariam em Labé.

Labé ainda hoje não tem uma pista capaz de receber MiG, está situada num planalto a uma altitude de 3396 pés (1000 metros) e tem um comprimento de 6500 pés (2000 m), os MiG precisavam de uma pista asfaltada e com um comprimento mínimo de 8000 pés.

Aliás e se quisermos ser mais picuinhas, se hoje um qualquer MiG quiser aterrar na Guiné, tem de ser em Conacri, caso contrário … parte a cara.

Do acima escrito reafirmo as minhas conclusões, ou não havia MIG na Guiné, ou, se havia, estavam em Conacri!

A minha pergunta:
Será que os da missão Mar Verde foram ao aeroporto?

Abraços
AMM


PS - Quando digo que os MiG só podem aterrar em Conacri estou obviamente a referir-me à Guiné, não à Guiné-Bissau. Na Guiné-Bissau sempre houve 2 pistas aptas a aviões deste tipo, Bissalanca e Nova Lamego. [O MiG precisava de uma pista com comprimento relativamente grande (2,5 km), asfaltada, coisa que na vizinha Guiné apenas existia na capital, tudo o resto era curto e em terra batida] (**).

Era procedimento normal na aterragem do FIAT-G91 a utilização de um paraquedas para ajudar a travar o avião.

A pista de Nova Lamego não era de terra, era asfaltada (cimentada?), era uma alternativa a Bissau anda que, por algumas vezes, fosse utilizada como ponto de partida para missões.

Os aviões a jacto, Fiat, MiG, Boeing, Airbus..., não podem utilizar pistas de terra, as poeiras, pedras e outros detritos danificam os motores.



Recorte de imprensa > "Nouvelles de Guinée", s/d > Labé: o aeroporto à mercê dos animais domésticos... Foi recentemente atingido por um tornado e as suas seriamente danificadas, em 1/6/2015... Labé é a capita do Fouta Djallon.  [Fonte: Nouvelles de Guinée, com a devida vénia...] [Edição e legenda: LG]

______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15092: FAP (87): a ameaça dos MiG na guerra da Guiné (José Matos, Revista Militar, nº 2559, abril de 2015) - IV (e última) parte

(**) Vd. poste de 1 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 – P7366: FAP (56): MIGs, MIRAGEs e miragens (António Martins de Matos)

(...) No meio deste desconforto de nos podermos encontrar cara a cara com um MIG-17, o que nos tranquilizava era não haver qualquer confirmação fidedigna de que o país vizinho dispusesse de aviões daquele tipo.

Cá pela minha parte várias vezes fui incumbido de ir voar junto à fronteira, a ver se via algum, nunca os enxerguei.

E deixem-me dizer-vos “ainda bem”, porque tendo o péssimo hábito de fazer perguntas, uma vez calhei a perguntar aos meus superiores, o que deveria fazer caso os avistasse: abatê-los, assustá-los, pirar-me, assobiar para o lado, eventualmente cumprimentá-los ?

Resposta do meu superior, “depois logo se vê”, como se tal fosse possível, num minuto tudo estaria iniciado e concluído. (...)

Guiné 63/74 - P15099: Sondagem: os resultados preliminares (n=60) sugerem que um em cada dois de nós, no seu tempo, no CTIG, deve ter "ouvido falar" dos tais temíveis MiG russos, que nunca ninguém viu... mas que, tal como os irãs, as bruxas e os ovnis, não deixam de fazer parte do nosso imaginário...

O MiG 17, de origem russa, que deu que fazer aos caças norte-americanos
na guerra do Vietname... Tal como MiG 15, que se estreou na guerra
da Coreia...Fonte: Coertesia de Wikipedia
A. SONDAGEM: 

"NO MEU TEMPO, JÁ SE FALAVA DA EXISTÊNCIA DE AVIÕES INIMIGOS NOS CÉUS DA GUINÉ"


A 4 dias de encerrar a sondagem, esta manhã os resultados preliminares eram os seguintes (n=60)




1. Sim, já se falava  > 27 (45%)



2.. Não sei / não me lembro  > 8 (13,3%)


3. Não, não se falava  > 25 (41,7%)



Votos apurados: 60
Dias que restam para votar: 4


B. Comentário: Como se vê, os resultados parecem estar muito equilibrados. Um em cada dois de nós deve ter "ouvido falar" dos tais temíveis MiG russos, que nunca ninguém viu... Depois da morte do Amílcar Cabaral, dos Strela e da escalada da guerra, a boataria aumentou em Bissau, a partir de meados de 1973... 

Quer se goste ou não, ameaça, mais fictícia do que real, os MiG fazem parte do nosso imaginário, pelo menos daqueles que passaram pelo TO da Guiné nos últimos anos da guerra... 

Mas já desde o princípio (1963), que se falava em aeronaves estranhas que de tempos a tempo cruzavam, impunemenet, os céus da lusitana Guiné... Os valentes pilotos da nossa Tabanca Grande nunca os viram, mas já o mesmo  não se pode dizer dos Strela e das antiaéreas do inimigo de outrora... 

A sondagem, caríssimos,  é para responder até ao dia 14. 


C. O tema já não é virgem no nosso blogue... Aqui vão alguns postes em que a questão dos MiG e outras aeronaves potencialmente inimigas nos céus da Guiné,  é abordada, comentada, rebatida, repisada "ad nauseam"... 

Recorde-se que o assunto foi trazido aqui, recentemente, pelo novo grã-tabanqueiro José Matos, filho de um camarada nosso, e que é investigador independente no domíno da história militar. É um trabalho muito bem documentado e minucioso, o dele, aqui (re)publicado: "A ameaça dos MiG na guerra da Guiné" (Cortesia do autor e do editor, Revista Militar, nº 2559, abril 2015).

Enfim, há postes (e comentários) para todos os "gostos"... A lista a seguir é meramente exemplificativa:




(...) Chefe do Estado-Maior do Exército, afirmou que, não obstante ter dito a Marcelo Caetano que, se se modificasse o dispositivo e se o PAIGC não utilizasse os Mig que dizia possuir, a Guiné seria defensável, pelo que “ (…) 

6 de outubro de 2007 >  Guiné 63/74 - P2157: Álbum das Glórias (29): O misterioso avião IN que eu fotografei na Base Aérea nº 12, Bissalanca, em 1969 (A. Marques Lopes)


(…) Esta questão do heli e do bimotor capturados nos norte do território da Guiné, é interessante: O que nos teria acontecido se o PAIGC tivesse chegado a ter uma verdadeira força aérea ? Até onde nos teria levado a escalada da guerra ? Quem travou (ou tramou) os MIG russos, estacionados na Guiné-Conacri ? (.,.)

13 de maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)


(...) Um exemplar do caça MiG 15, de origem soviética. Em 22 de Novembro de 1970, um dos objectivos da Op Mar Verde, era a destrição dos MiG 15 e MiG 17 estacionados no aeroporto de Conacri. Era uma ameaça real para...

4 de dezembro de 2010  > Guiné 63/74 - P7381: (Ex)citações (114): Ainda os Mig... heróis e outras coisas (José Brás)


(...) Foi bom ler todos os comentários dos camaradas reconhecidamente de visões diferenciadas, deixaram, comungando da mesma opinião que eu tenho sobre o texto e Martins de Matos tem sobre a verdade dos MIG (...)
.
  1 de dezembro de  2010  > Guiné 63/74 – P7366: FAP (56): MIGs, MIRAGEs e miragens (António Martins de Matos)

(...) Lá concluímos que, a existirem, os aviões adversários deveriam ser uma das inúmeras variantes do MIG-17, de fabrico russo, de características semelhantes aos nossos F-86 e utilizados por praticamente todos os países sob ...

16 de março de  2011  > Guiné 63/74 - P7952: Notas de leitura (219): A PIDE/DGS na Guerra Colonial 1961-1974 (2) (Mário Beja Santos)

(...) A PIDE também informa que o PAIGC tencionava utilizar em breve pistas de aviação em Madina de Boé para os aviões MIG que possuía em Conacri. E afirma que o PAIGC pretendia efectuar bombardeamentos aos ...

4 de fevereiro de 2012  > Guiné 63/74 - P9443: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte V): pp. 10/21


(...) Na operação mar-verde, foram sobrevoados a grande altitude, quando retiravam, por um um jacto provavelmente mig mas que não fez qualquer manobra de ataque,porque provavelmente o piloto tinha pouca experiência.


12 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9475: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (8): Boatos, em Lisboa, de ameaças de ataques a aviões da TAP... e de bombardeamentos aéreos aos nossos aquartelamentos 


(...) "Do mesmo modo o contingente de pilotos que o PAIGC tinha mandado para formação na URSS chegara juntamente com os aviões Mig já depois do 25 de Abril" Embora a Guiné-Conakry possuísse Migs, e se verificassem ...

21 de fevereiro de 2012  > Guiné 63/74 - P9513: FAP (66): Buruntuma: lá no cu de Judas... o famoso ataque de 13 horas (em 27/2/1970), as represálias aéreas de Spínola (27 /11/1971 ) e a caça aos MIG imaginários (1973) (António Martins Matos / Luis Borrega / José Manuel M. Dinis)

(...) Andei várias vezes por ali à procura de Migs imaginários, nunca os vi!!!...


24 de fevereiro de 2012 >  Guiné 63/74 - P9527: FAP (65): Mísseis Strela, a viragem na guerra... (António J. Pereira da Costa)

(...) O passo seguinte seria algo que se previa, também de há muito: o “fornecimento” de aviões MIG 17 ao PAIGC, operados por pilotos estrangeiros. Nunca chegou a ser dado, mas o “número de sobrevoos não autorizados” ...

8 de março de 2012 > Guiné 63/74 – P9584: (Ex)citações (176): Aristides Pereira e os MIGs - revelações ineditas (Nelson Herbert)

 (...) O livro (em estilo de entrevista àquele líder nacionalista) resulta de meses de conversa entre o autor e Aristides Pereira, versando por assim dizer praticamente todas as zonas, até há bem pouco, "sombras", da luta pela independência e pela afirmação da Guiné e Cabo Verde como estados soberanos... nomeadamente das contradições internas do PAIGC, do assassinato de Amílcar Cabral a ruptura do processo de Unidade entre os dois países. (...)



22 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9639: Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 (Luís Vaz Gonçalves)

(...) A recente chegada de 6 pilotos estrangeiros (líbios e argelinos) à REP GUINE para substituir, nos MIG-15 e MIG-17, os pilotos guineanos cuja imperícia se revelou em alguns acidentes. - A chegada à REP GUINE de 2 ...

(...) Eu pensava que essa estória dos aviões do PAIGC, MIG´s ao que parece, estava só no âmbito das anedotas. Mas ontem li um Doc de dois ilustres guerreiros historiadores, que escrevem que sim. E hoje mais este brinde, ...

4 de junho de 2012  > Guiné 63/74 - P9993: Notas de leitura (366): "Portugal´s Guerrilla War - The Campaign For Africa" por Al J. Venter (Mário Beja Santos)

(...) Descreve cuidadosamente o armamento de ambas as partes e revela que os MIG 17 estacionados em Conacri eram pilotados por nigerianos, havia a previsão, ainda sem data, de entrarem no conflito. Descreve a evolução ...

21 de fevereiro de 2014  >  Guiné 63/74 - P12751: Notas de leitura (566): A descolonização da Guiné: Depoimentos de protagonistas - Parte 4 de 4 (Mário Beja Santos)


(...) A partir do momento em que não foram destruídos os MIG, havia que regressar o mais cedo possível a casa. Critica a má qualidade das informações da PIDE/DGS. E a seguir a conversa centrou-se nos acontecimentos a ...

27 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13804: (Ex)citações (243): Comentário ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado em O Adamastor (1) (Coutinho e Lima)

(...) "A recente chegada de 6 pilotos estrangeiros (líbios e argelinos) à REP GUINE para substituir, nos MIG-15 e MIG-17, os pilotos guineanos cuja imperícia se revelou em alguns acidentes.
- A chegada à REP GUINE de 2 helicópteros MI-8 em fins de Abril.
- A promessa da REP GUINE ceder uma pista ao PAIGC para manobra dos seus aviões.”


29 de outubro de 2014  > Guiiné 63/74 - P13820: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XV: abril de 1973: depois de, em 25/3/1973, entrarem em cena, para surpresa das NT, os mísseis Strela, outros factos dignos de registo no setor L1: (i) presença de cubanos em Ponta Varela; (ii) Mansambo é flagelado ao fim de 8 meses; e (iii) a tabanca abandonada de Sinchã Bambe é reocupada e passa a chamar-se... Santa Cruz da Trapa, em homenagem à terra natal do cmdt do batalhão...

(...) Por várias vezes se falava (boatos) e até informações vindas do QG que iríamos ser atacados por cubanos o que nunca se concretizou... mitos..como os aviões Mig.. Posteriormente soube que nunca houve nenhuma força de ...

Guiné 63/74 - P15098: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (XIII Parte): Conversa em Brá e Nunca digas adeus a Cuntima

1. Parte XIII de "Guiné, Ir e Voltar", enviado no dia 1 de Setembro de 2015, pelo nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489, Cuntima e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67.


GUINÉ, IR E VOLTAR - XIII

Conversas em Brá

A nossa função é militar, os nossos objectivos são militares, repor a ordem na província. A política não é connosco, reafirmava, convicto, o capitão responsável pelo serviço de informações do batalhão.

Querem a independência, dizem que querem ser livres, que querem ser eles a traçar os destinos da pátria deles, é por isso que dizem que lutam, insistia um dos alferes. Se estivéssemos no lugar deles, se calhar fazíamos o mesmo!

O que faria o nosso alferes é consigo, o que eu faria no lugar deles não vem para aqui chamado. Foi o PAIGC que começou com o terrorismo, todos os dias desencadeiam acções terroristas, nem as populações indefesas poupam e ainda dizem que é por elas que lutam! E nós vamos deixar? Temos armas suficientes para combater, vamos deixar que eles continuem a matar pessoas?
Armas para combater? 

Ó meu capitão, temos G3, Fox e Daimlers compradas em Inglaterra, dizem que foram todas as que estavam num canto, arrumadas desde a 2.ª Guerra. Parece que o Estado Português até nem queria tantas, os ingleses é que insistiram, levem-nas todas! Parece que nenhuma estava operacional, tiram peças de uma para se meterem noutras. E, certamente, acontece o mesmo com os T-6 e com as Dorniers, tudo material da década de 40! A arma mais recente que temos ainda é a G3!

É o que o alferes tem e tem muita sorte porque dispõe dos melhores soldados do mundo. Olhe para os soldados do seu pelotão, do que eles são capazes, a troco de quê, dinheiro não é! Sempre prontos para arrancar, sempre dispostos para tudo. Alferes, se perdermos a guerra, que só acontecerá se houver uma catástrofe, não vai ser devido ao armamento, nem às praças. Seja o nosso alferes digno deles e os saiba comandar. Para o bem do País e para o seu. Boa noite a todos!
Sabiam, continuava o mesmo alferes, que os F-861 tiveram que ser retirados? E sabem por quê? Um avião qualquer pediu licença para aterrar, em Bissalanca, a torre deu-lhe o ok, fez-se à pista, não aterrou, uns dias depois apareceram fotos nas Nações Unidas, uma esquadrilha de F-86 da NATO, alinhada em Bissalanca. A NATO a colaborar na guerra colonial dos portugueses? Um escândalo, os F-86 tiveram que retirar para o Sal. É por isso que estão lá, não é por questões logísticas. E há quem diga que vêm aqui de vez em quando, fazem o que têm a fazer e depois regressam ao Sal.


Na messe dos oficiais em Brá.

Todas as noites, no fim do jantar, a messe de oficiais do aquartelamento de Brá transformava-se num centro de conversa sobre os assuntos mais variados. O ar que se respirava, no que à guerra dizia respeito, não era realmente muito animador. Dispersos em pequenos grupos falavam de futebol, do que se passava em Lisboa e um grupo ou outro de política.

Alguns oficiais, subalternos quase sempre, sobretudo quando havia notícias de baixas das NT numa acção qualquer, por regra começavam a falar da qualidade ou da falta de material, da impreparação para esta guerra e inevitavelmente acabavam por vir à tona as razões da luta de um lado e do outro e a justiça ou a falta dela da guerra em que estávamos a participar.

Os alferes milicianos, os que diziam alguma coisa em voz alta e os que por ali ficavam sentados a seguir as conversas, eram quase todos contra a guerra, os poucos oficiais do quadro que se manifestavam eram invariavelmente a favor, mas os outros, a maioria, os que se mantinham calados ninguém sabia ao certo o que pensavam. Uma coisa parecia uni-los, o regresso à metrópole, às terras e às ocupações deles, e que os 24 meses de comissão voassem.

Este batalhão tinha chegado há cerca de três meses. Primeiro, fez algum treino operacional, depois as companhias rodaram pelo norte e pelo leste, em acções de reforço a unidades em quadrícula. Coabitavam com os Adidos e com a companhia de comandos, em Brá.

Com tão pouco tempo de comissão já se notava, entre eles, a falta de convicção na luta contra a guerrilha. Alguns admitiam publicamente estarem numa guerra injusta, uma guerra dirigida contra um povo que se queria libertar.

Em frente, num dos quartos dos comandos, um, deitado na cama, folhava uma revista que tinha apanhado no QG, a "U. S. News & World Report" quando parou para ler uma entrevista com um coronel americano no Vietname. Ouçam esta!

"A arma individual é a AR-15, da Colt, em Hartford, no Connecticut. Uma espingarda ponto 22 com um impacto tremendo, destrói e mata onde quer que acerte. Se acertar na mão parte os ossos do braço todo. Apesar disso é muito leve. Transportamos 400 balas no cinto quase sem sentirmos o peso. Temos um novo lança-granadas, o M-79, a arma de elefante. Lança uma granada a cerca de 200 jardas, parece uma caçadeira, a granada introduz-se pela culatra, como qualquer cartucho, liquidando 8 a 10 onde cair!”

Nem com material deste conseguem travar os norte-vietnamitas! Quando cá cheguei, há um ano, o armamento ligeiro da guerrilha era bom, é o que eles têm agora, só que agora têm muitas mais Simonovs, Kalashs, Degtyarevs, PPSHs, canhões sem recuo, antiaéreas quádruplas, morteiros 82… Uma manhã em Cuntima, estava o meu pelotão com as milícias a capinar a estrada para Jumbembem, um soldado veio com um papel. “Obrigado tropa, estrada capinada fica melhor para bazucada”.

Guerrilheiro do PAIGC com RPG2. Foto na net.

Só ameaçavam naquela altura. Agora, RPGs e morteiros aparecem em todo o lado, qualquer dia, pelos vistos, temos aí foguetes, artilharia, blindados, aviões, helis. Ainda vamos assistir a muitas inaugurações.

Para já, malta, o que está em causa é a nossa capacidade e motivação, se a temos ou não. Queremos ganhar a merda desta guerra ou queremos que a comissão acabe depressa, desafia outro.

Há unidades junto às fronteiras que se fecham nos abrigos, fazem umas fosquinhas à volta do arame farpado, a guerrilha não os incomoda muito porque precisa de passagem para o Cantanhez ou para o Oio. Outras não trabalham a zona como devem, o PAIGC a minar, de um momento para o outro, ataques, emboscadas, minas, mortos, feridos. E depois reclamam reforços, somos poucos, não temos condições, gritam contra os gajos do ar condicionado.

E quando por qualquer motivo, cunha ou outro não interessa, os capitães dessas companhias vão para o QG, no dia seguinte já não se lembram de nada, esquecem tudo.

Quem está a aguentar isto somos nós, pá, os milicianos, essa é que é essa! Alferes, furriéis e soldados! E alguns capitães, que se contam pelos dedos, o tipo da varinha de Tite3, o Tomé Pinto que foi da 675 de Binta, um grande capitão, o Osório, o Calvão dos fuzos, que também já acabou a comissão, não são precisas as duas mãos para os contar, acrescenta outro.

Claro, muitos deles já vão na 2.ª comissão, alguns até a caminho da terceira, a família na metrópole, a filharada a crescer, quando vão de férias, os filhos encontram um estranho em casa, a mãe casou com este tipo? Cansa, claro que cansa. Mas não acham que se nota demais, que muitos deles fogem do mato, encostam-se ao ar condicionado do QG a dar palpites, a ver o tempo a passar e a guerra dos alferes, dos furriéis e dos soldados. Ofereceram-se voluntários, não foram obrigados, frequentaram cursos, o Estado investiu neles! As condições de vida é que os obrigaram? Que tivessem ido para padres! Se não têm competência operacional, ao menos que não atrapalhem, que porra!

O problema não está nos capitães, pá, é daí para cima. É nos comandantes de batalhão que está o problema, aprenderam em livros ninguém sabe de que guerras. Até agora só vi um comandante4 de batalhão que falava de bolanhas com o conhecimento de quem as tinha atravessado, que falava de barracas de mato porque entrou nelas de G3 nas mãos, em Farim até diziam que era o melhor alferes do batalhão!

A malta vem da metrópole com a preparação básica, cortam-nos o cabelo, mandam-nos tomar banho, farda em cima, passam-nos a G-3 para as mãos quando cá chegamos, ainda não nos habituamos ao clima e já estamos a levar no toutiço! E quando já estamos aclimatados, ao clima e à guerra, a comissão está no fim. E recomeça a história com mais maçaricada5 a desembarcar em Bissau para outros dois anos. Os turras não fazem comissões, não perdem experiência, ganham-na todos os dias a toda a hora!

Uma guerra destas não se ganha só com armas. Se é que alguma guerra deste tipo pode ser ganha! Os franceses perderam na Indochina e na Argélia, os americanos estão atolados no Vietname!

E são bons exemplos os franceses e os americanos? Há quantos anos a França não ganha uma guerra? Já ninguém se lembra, não? E os americanos? Atenção, aqui em Brá, enquanto estamos a discutir as razões da guerra, se se deve ou não participar, o PAIGC está neste momento a montar minas, a preparar emboscadas, a atacar aquartelamentos, essa é que é essa!


Coluna de guerrilheiros do PAIGC. Foto na net.

Não falavam muito nos dias que faltavam para o fim, nem perdiam tempo com as dificuldades da guerra, ocupavam-se com a vida deles, os treinos diários, as preparações para as saídas. Todas as semanas havia grupos no mato, à caça da guerrilha, embora muitas vezes não os encontrassem. Sentiam que o IN estava cada vez menos ingénuo, melhor preparado e mais atrevido. Mas eles também estavam e não devia ser por eles que a guerra se iria perder.

Nas apreciações que, entre eles, faziam sobre algumas unidades dispersas pelo mato, custava-lhes ver o ar crítico com que frequentemente eram recebidos por alguns profissionais do quadro, do género, lá vêm estes tipos complicar-me a vida. E, quase sempre, eram eles que os chamavam. Diziam que tinham informações novas de um acampamento, guia para os levar, que tinham tudo, era só irem lá e apanhavam-nos logo.

Estavam habituados a testemunhar cenas caricatas. Quando os comandos chegavam ao local, a primeira tarefa era falar com o tal guia e, quase sempre, a história não fora bem contada, nem era assim tão raro concluir-se que não havia qualquer dado concreto. Que havia lá guerrilha nem se discutia. E guia havia, da zona, o que já não era nada mau! Caçador quase sempre, acampamento, sim, ouvira contar que estava na mata de Buba Tombó, em Morés, no corredor de Sitató, com manga de turra e manga de armas.

São muitos? Sim, manga de pessoal bandido! Quantos pessoal? 10? Sim, são! 50? Sim, são! Tem armas? Tem! Muitas? Muitas, sim! Blindados também? Sim, tem também! E mais uma saída para o galheiro, curvas e mais curvas na mata e nas bolanhas, é já ali e nunca mais era. Mais uma noite às voltas, com muita atenção para não acabarem embrulhados. Percorreram quilómetros e quilómetros em saídas abortadas.

A partir de certa altura, com a experiência ganha, os comandantes de grupo desconfiavam quando viam tanta informação. E, por vezes, surgiam problemas, quando reparavam que os estavam a querer levar. Diziam que assim não, não era missão para comandos. Só que já estavam no local e, embora defraudados, custava-lhes virar a cara.

Os comandantes dessas companhias, o que queriam era dar ronco6 à tropa deles, a parte melhor destinavam-na para a tropa que comandavam. Lógico, se estivessem tão seguros da informação é claro que não chamavam os comandos, o ronco era para a unidade deles. Pediam-lhes para executarem um golpe de mão a um acampamento inimigo e, depois de os terem na zona, utilizavam-nos como elemento de dispersão, pondo-os a trilharem carreiros que desconfiavam estar armadilhados, a servirem de rebenta-minas, ou, na melhor das hipóteses, há muito abandonados. E quando acontecia, e aconteceu mais que uma vez, que, apesar da pouca informação, por uma execução feliz, apanhavam guerrilheiros desprevenidos, quando regressavam à base com o material capturado já não davam importância ao facto de serem recebidos com frieza pelos comandos da companhia ou do batalhão. Interessava-lhes muito mais terem tido sucesso e ficavam satisfeitos pela forma calorosa com que geralmente eram recebidos pelos soldados, sargentos e alferes.

O Comandante Militar, especialmente depois do caso de Teixeira Pinto, viu-se na necessidade de elaborar uma directiva esclarecendo as condições da utilização dos grupos de comandos tal era a resistência das chefias das unidades espalhadas pelo mato. E este foi um factor com que os grupos tiveram sempre de lidar até ao final da comissão e que só terminou com a chegada das companhias formadas em Lamego, que vinham já com um estatuto melhor definido. De resto, esta foi esta uma das razões que levou o Capitão Rubim a bater com a porta e a dizer ao Comandante Militar, venha outro que eu prefiro comandar uma companhia no mato, nem que seja em Guilege!

A vida no mato era difícil para as NT, as instalações eram precárias, muitas vezes não eram reabastecidos a tempo, estavam fartos de viverem dentro do arame farpado. Era o que acontecia a praticamente todas as unidades que estavam sediadas fora de Bissau, de Bolama, de Bafatá, de Farim, de Teixeira Pinto, dos centros de decisão onde normalmente estavam sediados os comandos de batalhão. E naturalmente estavam ansiosos de saírem dali.

Claro, o pessoal dos comandos também ansiava por uns dias na metrópole, uns abraços à família, passear com a namorada, ir até à praia, apanhar um ar mais fresco. Um ou dois dias depois do regresso a Brá, ainda com o cheiro de Lisboa no nariz, já estavam no Oio, no Cantanhez, em Guilege, em qualquer lado, G-3 na mão, T-6 no ar, manga de chocolate7, água dos charcos das últimas chuvas para matar a sede.

Ainda a semana passada... A semana passada? Anteontem, porra! Anteontem então, o bife no Toni dos bifes, no Saldanha, a ida até ao Ritz, ao Comodoro, ao Fontória da Praça da Alegria, o twist, o rock!
____________

Notas:
1 - Oito F-86F foram para a Guiné em 9 de Julho de 1961, no início mais como efeito dissuasor. Com o agravamento da situação acabaram por desenvolver várias acções de combate a partir de Julho de 1963. Entre Agosto de 63 e Outubro de 1964, os F-86 voaram 577 missões, a maioria das quais de ataque ao solo ou apoio aéreo próximo. Dos oito aviões destacados, sete foram atingidos por fogo inimigo, conseguindo todos regressar a Bissalanca, à BA 12. Dois foram destruídos, um a 17 de Agosto de 1962 numa aterragem de emergência, ainda com as bombas nos suportes externos e o outro a 31 de Maio de 1963 abatido por fogo antiaéreo inimigo. Em ambos os casos os pilotos foram recuperados. Pressões políticas da Administração Norte-Americana obrigaram ao regresso dos aviões a Portugal, já que os mesmos tinham sido fornecidos no âmbito da NATO, com a missão de proteger o flanco Sul.
 
2 - Lança-granadas foguete, “Rocket-propelled grenade”.
 
3 - Capitão Carlos Fabião
 
4 - Tenente-Coronel Fernando Cavaleiro 

5 - Militares recém-chegados
 
6 - Festa
 
7 - Confusão, em dialecto local

************

Nunca digas adeus a Cuntima

28 Março, 06H00, céu limpo na Base Aérea de Bissalanca.


Esquadrilha dos Alouettes III, alinhados na BA 12, em Bissalanca. Imagem da net.

30 comandos recebem ordem de embarque nos 6 Allouettes III, motores a trabalhar, formados em 2 colunas.

Ganham altura, rumam a Norte, fumos aqui e além sobem das matas. Às 06h30 desviam-se para leste, baixam a altitude e, alguns minutos depois muda o tempo. O nevoeiro cobre a zona a norte de Farim. Que estavam na zona da fronteira os pilotos não tinham dúvidas, tinham era sobre que território estavam a sobrevoar e o local previsto para a largada não o conseguiam ver. O comandante da esquadrilha, Major Mendonça, decide recuar para a área de Jumbemebem e, depois, voltam para nordeste, a rapar as copas das árvores, directos até ao local previsto.
Frente à larga bolanha que procuravam, abrandam e aproximam-se em linha da orla da mata. Recebida a indicação para abrir portas preparam-se para saltar. Aos pares, um por cada porta, saltam para a bolanha com mais água do que aparentava, enterram-se no lodo com água pela cintura e era uma vez o pão com chouriço que levavam nas calças. Internam-se na mata, enquanto vêem os helis, graciosos, virarem à esquerda, a recuperarem altitude, de regresso a Bissau. De joelhos, aguardam instruções enquanto os dois chefes de grupo consultam o mapa e verificam os rádios.


Estavam na fronteira com o Senegal a cerca de uma quinzena de quilómetros de Cuntima, aquartelamento das NT flagelado diversas vezes nos últimos meses. Nos trilhos de acesso à povoação minas anti-carro e anti-pessoal tinham causado estragos.

O grupo helitransportado tinha recebido a missão para nomadizar na zona durante dois dias, procurando o IN e dando-lhe caça, posto o que se deveria dirigir pelos seus meios para Cuntima, onde aguardaria o regresso a Farim em coluna auto.

Regressaria a Bissau, logo se via se por via aérea ou marítima. Previsto um único contacto visual e rádio pelo sobrevoo de uma Dornier-27 para as 11h00 do dia seguinte. Montada a segurança, dispostos em círculo, ouvem as indicações específicas da missão. Alguns aproveitam para ficarem mais leves, comem os pães encharcados em molho de água da bolanha. Em coluna por um, bem separados uns dos outros, como estavam habituados durante o dia, iniciam a marcha sem pressas.
Arbustos intercalados por árvores de algum porte, montes de baga-baga aqui e além. Procuram trilhos. Na maior parte conseguem andar fora deles e progridem sem dificuldade. Pesquisam-nos, vêem pegadas, sinais de movimento recente. Decidem-se por um, metem-se por ele, pelas margens, rumo a noroeste, em direcção a Cuntima.

Estavam claramente na fronteira e em dúvida se já não estariam mesmo em território senegalês. Por volta das 10h00 atingem o final da mata com nova bolanha, com pouca água, pareceu-lhes, em frente. Dispõem-se em linha na orla da mata e, sem pressas, instalam-se ali a observar o movimento.

Decidem atravessá-la e entrar na mata. É uma bolanha larga. Começam a travessia, cada homem separado uns 3 a 4 metros da sua parelha, em linha, vista e ouvidos alerta para a floresta em frente.

Mais de metade da travessia feita, um tiro. Instintivamente param e ajoelham. A bala não lhes pareceu ser de pistola, não lhes tinha sido dirigida, mas naquele momento não têm dúvidas, tinham sido detectados. Ali é que não podiam ficar. Cautelas reforçadas, retomam a travessia. Minutos depois, começam a chegar à orla da mata de onde foi feito o disparo. Abrigam-se, à escuta, quietos.

Uma rajada curta, três ou quatro tiros. Surpresos, ouvem conversas e gargalhadas muito perto. Estão à porta de um acampamento IN. Não perdem tempo. Por sinais, são dadas indicações a três equipas para progredirem pelo trilho, enquanto as outras três se mantiveram em linha, abrigadas.

Vagarosamente, passo a passo, dão com uma das entradas da base inimiga. As outras três equipas chegam-se à frente e vêem a cerca de cinco metros, no máximo, o interior do acampamento com alguns guerrilheiros lá dentro.

Guerrilheiros em limpezas dentro de um acampamento. Imagem da net. Com a devida vénia ao autor.

Cinco, segundo uns, seis, viram outros, estão sentados, armas desmontadas, na limpeza. Voz de fogo, rajadas curtas à queima-roupa. Não há qualquer hipótese de reacção, há gritaria, tentativas de fuga, um salve-se quem puder, uns pelo meio de outros. Um guerrilheiro com um lança-roquetes numa mão escapa-se entre eles, dois no encalço dele. Dentro do acampamento começa a caça às armas, às granadas de mão e de roquete, munições, documentação, material diverso. Casas de mata vasculhadas, lançam granadas incendiárias. Seriam mesmo? Só fumo!

O golpe de mão8 dura pouco mais de meia hora. Os homens da equipa do Black, os últimos do grupo, saem do acampamento a tossir, no meio da fumarada. A corta mato, fora dos trilhos, pisgam-se em corrida da zona. Minutos depois, ouvem rajadas e alguns rebentamentos de granadas de morteiro no acampamento assaltado. Riram-se para dentro quando viram que o fogo IN não tinha nada a ver com eles.

Bem lhes parecia. No regresso, no trilho que julgavam ser para Cuntima, os primeiros homens do grupo avistam, a cerca de uma centena de metros, junto a uma mangueira, dois guardas fronteiriços senegaleses, as armas encostadas à árvore. Abrigam-se e ficam uns momentos a observá-los. Depois, conforme o ajustado na altura, um dos chefes do grupo, cano da arma para o ar, começa a caminhar em direcção aos guardas. A meia dúzia de metros, bonjour, os senegaleses surpreendidos, levantam-se. Olham para todos os lados, desconfiados.

Guardas fronteiriços senegaleses na zona de Cuntima

Nous nous sommes perdus! Nous cherchons le chemin pour Cuntima!
Mais, Cuntima, c’est lá!
É em frente, então. Pouvons-nous passer par ici, non?
Mais oui, certainement!
Excusez-nous, bonjour!
Çá va, bonjour!

Com os últimos homens do grupo a olhar para trás, o sol a cair, o pessoal acantonado em Cuntima viu-os chegar do lado do Senegal.

O capitão Leandro estivera no final da manhã no aeroporto a informar-se das condições em que o grupo tinha sido largado lá em cima na fronteira e pelas indicações do comandante da esquadrilha correra tudo sem problemas. Agora, restava-lhe aguardar o dia seguinte. Logo pela manhã apanharia uma Dornier e lá para as 11, 11 e 30 estaria em cima da zona, a inteirar-se do decorrer da acção. Em Brá, dentro do gabinete a pôr a papelada em dia, vê o soldado Napier bater à porta. Uma mensagem para o meu capitão.

“De Cmdt CArt 732 para Cmdt BArt 733, com inf. a CEM, Cmdt Agr 16 e Cmdt Comandos Vamp terminada(.) Armamento capturado Faquina Fula(.) 2 met ligeiras Degtyarev 1 PPSH 1 Thompson 1 Beretta 1 Mauser 2 carabinas e mais material(.) Grupos recolhidos em Cuntima.”
____________

Nota:
8 - Assalto a acampamento inimigo

(Continua)
____________

Nota do editor

Poste anterior da série de 27 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15044: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (XII Parte): Guia em fuga; Um descapotável em Bissau e Entram os Alouettes

Guiné 63/74 - P15097: Parabéns a você (962): Rui Baptista, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3489 (Guiné, 1971/74) e Tony Grilo, ex-Soldado Ap Artilharia do BAC 1 (Guiné, 1966/68)


____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 de Setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15091: Parabéns a você (961): Filomena Sampaio, Amiga Grã-Tabanqueira de Guimarães e Raul Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 2.ª C.ª/BART 6522 (Guiné, 1972/74)

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15096: (Ex)citações (292): Cruzei-me, por certo, com o José Matos, pai, entre março e maio de 1964, no RC 7, e depois no sul da Guiné... E aviões estranhos, só vi os das rotas aéreas internacionais (Manuel Lomba, ex-fur mil, CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66; autor do livro "Guerra da Guiné: a batalha de Cufar Nalu", Faria, Barcelos, 2012)

1. Mensagem de hoje que nos chega do Manuel Lomba e que reencaminhámos para o José Matos, com o seguinte comentário: "Zé: como vês o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é Grande... Ab. Luis".

[Manuel Lomba, ex-fur mil da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufare Buruntuma, 1964/66; autor do livro "Guerra da Guiné: a batalha de Cufar Nalu". Faria, Barcelos, Terras de Faria, Lda: 2012, 314 pp.]


O camarigo José Matos acaba de nos facultar um notável trabalho específico e histórico e aproveito para referir haver privado com um cabo miliciano Matos, na messe do acanhado RC 7 (mas que comportava o refeitório de rancho geral e três messes, de oficiais, sargentos e cabos milicianos...), entre Março e Maio de 1964.  Seguramente que me cruzei com o seu pai [, José Matos].

José Matos, filho
Em finais de 1964 fomos lançados, como força de intervenção, numa operação creio que à mata de Cafine, com a missão de "emboscar" um reabastecimento de armas e munições ao PAIGC por helicóptero.

Ao fim de dois dias e duas noites emboscados em torno de uma clareira, nem turras nem helicóptero compareceram e, no reconhecimento que precedeu a retirada, topámos vestígios dos seus patins e uma granada de RPG espoletada, que teria sido largada pelo seu carregador...

Em sequela da Operação Tridente, o general Schulz levou o ferro e o fogo ao sul da Guiné: fomos recorrentes nos matos de  Fulacunda, Buba, Cantanhez, Cafine e, depois, Cufar.

Na nomadização em Cufar, de Janeiro a Março de de 1965, víamos passar aviões e dizia-se que estávamos sob as rotas aéreas, nomeadamente de Angola. Tínhamos as aludidas metralhadoras ligeiras Dreyse e nunca lhe aplicamos as miras anti-aéreas.

No seu conhecido livro "Crónica da Libertação", Luís Cabral não só não refere a sua aviação turra como desdenha da eficácia da nossa, enquanto Nino Vieira dizia ter tido muito medo e muitas cautelas em relação à mesma.

Abraço
Manuel Luís Lomba
_____________

Notas

Último poste da série > 9 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15095: (Ex)citações (291) Os célebres MiG russos que o PAIGG nunca teve mas que foram uma ameaça percebida no final da guerra... (José Matos / Luís Gonçalves Vaz / Manuel Lomba)

Guiné 63/74 - P15095: (Ex)citações (291): Os célebres MiG russos que o PAIGG nunca teve mas que foram uma ameaça percebida no final da guerra... (José Matos / Luís Gonçalves Vaz / Manuel Lomba)

1. Comentário de José Matos ao poste P15090 (*):

[José Matos, membro recente da nossa Tabanca Grande; investigador independente, especialista em história militar]


Olá Luís e restantes amigos

Agradeço os vossos comentários, que acrescentam sempre novos dados à discussão.

Começando pelo Augusto Silva Santos,  tem toda a razão no comentário que faz, de facto circularam informações entre a tropa quanto à possibilidade de um ataque aéreo a Bissalanca. Falava-se mesmo na possibilidade de esse ataque acontecer em janeiro de 1974. Como se viu, esses receios eram exagerados. O que descobri é que nem os cubanos, nem os guineanos, estavam interessados em atacar Bissalanca ou qualquer outro ponto na Guiné.

O comentário do Henrique Cerqueira também é interessante, pois as autoridades portuguesas pensavam mesmo que os guineanos tinham MiG 19 e até 21, quando na verdade não tinham nada disso, apenas o MiG 17. Também há alguma razão no comentário sobre a aselhice dos guineanos no uso dos MiG, basta dizer que praticamente só voavam com os cubanos e habitualmente a asa, tendo tudo o que dizia respeito à manutenção dos aviões numa lástima. Se não fossem os cubanos, os MiG nem levantavam.

O grau de operacionalidade dos MiG sempre foi baixo e só melhorou com os cubanos.

Quanto aos pilotos do PAIGC que o Luís refere, de facto estavam a ser treinados na URSS para pilotar MiG, mas com a independência voltaram à Guiné, sem aviões. Provavelmente a ideia, no tempo da guerra, seria usarem os MiG guineanos enquadrados pelos pilotos cubanos, no mesmo tipo de missões que os cubanos já faziam, ou seja, patrulha e vigilância da fronteira. Não estou a ver que os guineanos os deixassem usar os MiG para um ataque a posições na Guiné. Outra hipótese eram os russos forneceram dois ou três MiG para o PAIGC usar, mas não estou a ver isso a acontecer.

O relato do Marinho também é muito interessante, pois está de acordo com os avistamentos e mesmo detecções que a malta fazia na altura. O problema é que não sabemos se eram ou não helicópteros ao serviço do PAIGC, pelo menos não há informação nenhuma segura sobre isso. Quanto a incursão de um jacto também nada se sabe sobre a sua origem. Seria guineano? É possível, mas não me parece que tivesse intenções ofensivas.

Ab, José Matos

2. Comentário de Luís Gonçalves Vaz 
ao poste P15090 (*):

[Membro da nossa Tabanca Grande, filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74), e que tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo]


Caros Amigos:

Lembro-me muito bem que em finais do ano de 1973, eu próprio (com 13 anos) e um irmão mais velho com 15 anos,  construimos um "abrigo antiaéreo" em pleno quintal da casa onde vivíamos,  na Base Militar de Santa Luzia, com abastecimentos e tudo ....... 

Enfim era sem dúvida um entretimento de jovens adolescentes, mas fruto também do "clima psicológico" da altura e dos tais "boatos" sobre um eventual ataque aéreo a Bissau que se esperava a qualquer altura.

Em plenas férias escolares do Natal de 1973, os "boatos de um ataque aéreo" intensificaram-se ao ponto da minha mãe, que na altura era professora na Escola Comercial em Bissau, ter entrado em casa com uma colega professora, toda preocupada que se esperava o "dito ataque" a qualquer momento! 

Eu não altura não me preocupei muito, pois como já referi, tinha um abrigo antiaéreo (por mim construido e pelo meu mano mais velho) e nesse mesmo dia resolvi melhorá-lo. 

De facto nós sabíamos que se realmente houvesse "o dito ataque aéreo", as instalações do QG de Santa Luzia seriam logo dos primeiros alvos a atingir, para conseguirem comprometer todo o tipo de logística das diversas operações militares em curso na altura ...

Lembro-me muito bem que nesse Natal de 1973, o meu falecido Pai (CEM/CTIG) saiu cedo de casa (logo a seguir à ceia de Natal que foi realizada muito cedo) para se deslocar para o QG onde passou toda a noite a desempenhar as suas funções, já que nessa noite os militares estiveram de Pprevenção... Seria fruto desses "boatos" ou de "informações mais credíveis" dos Serviços de Inteligência Militar ? Não sei,  só me lembro destes factos!

Grande Abraço
Luís Gonçalves Vaz


Guiné > Arquipélago dos Bijagós > lha de Buibaque > "A esposa do coronel Henrique Gonçalves Vaz, os três filhos mais novos e o capitão Pombo, na pista de Bubaque na Páscoa de 1974... Fotografia de Henrique G. Vaz. [O Luís é o da esquerda].

Foto (e legenda): © Luís Gonçalves Vaz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



3.  Comentário de Manuel Luís Lomba (*) [ex-fur mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66; autor do livro "Guerra da Guiné: a batalha de Cufar Nalu". Faria, Barcelos, Terras de Faria, Lda: 2012, 314 pp. [Capa, imagem à direita, em baixo]

Reitero as minhas saudações ao "mestre" José Matos, ora valioso activo corpóreo e incorpóreo da tertúlia Tabanca Grande.

Em 1981, com o B 707 Combi (passageiros e carga) da carreira TAP a percorrer a pista de Bissalanca, eu fixar-me nas metralhadoras enferrujadas jazidas nas valas ao longo dela e acabei a contemplar 4 MiG  negros na placa, qual palco de um Dakota, mais quatro ou cinco T 6 e DO, cobertos de pó e muito degradados, mas em que sobressaía a cruz de Cristo, tendo por pano de fundo um grande letreiro "Presas capturadas ao Inimigo".

Então "os meus olhos ficaram mar"...

Ao voltar ao aeroporto, no âmbito do exercício profissional, perguntei ao meu dedicado anfitrião, alto quadro do partido e do governo, esforçado em convocar o sentido de humor:
- Foram aqueles MiG que caçaram aqueles aviões tugas?
- Não, eles é que deixaram. Na guerra russos não deram aviões. Vieram depois da independência.(Para a generalidade dos guineenses, a independência era contada a partir da entrega das chaves de Bissau ao PAIGC, em 10 de Setembro de 1974 e não a independência do Boé, em Setembro de 1973).

Quanto à veracidade do corpo de pilotos guineenses, o testemunho do comandante Pombo constituirá suficiente meio de prova.

Com perguntas directas, em regra obtinha-se respostas líquidas ora de ardor revolucionário ora evasivas; mas a revelação pelos nossos interlocutores do seu verdadeiro conhecimento dos factos não resistia à "bebida gelado" franqueda - o verde branco Gatão ou Aveleda.

Relativamente à ameaça dos MiG  na guerra da Guiné, fiquei com a ideia e adquiri relativa certeza de que Sekou Touré não os aceitava "graciosamente" no seu território e a Rússia exigia parqueá-los em base nos dois terços do território libertado pelo PAIGC - Cufar ou Nova Lamego! - enquanto o ocupante, Portugal,  não desamparasse a sua loja, em  Bissau... Dialéctica interessante.

Como nossa inimiga, a Rússia não permitia que cooperante seu pusesse o pé por terra, mar ou ar na Guiné Portuguesa, sub-empreitava tal empresa aos seus dominados na Europa de Leste e a Cuba. 

Quanto aos nossos aliados, suecos, noruegueses, holandeses, filandeses, americanos - temos dito.
A Operação Mar Verde legou à História a coragem e valentia dos portugueses ao serviço da sua pátria e e a graduação da ousadia das suas elites investidas no mando. Se quem mandou fazer aquilo ousasse arriscar a cobertura de uma esquadrilha de F86 ou coisa parecida, poderia ter sido outra a História da catastrófica descolonização. (**)

Um abraço a todos os comentaristas.
Manuel Luís Lomba

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15086: Sondagem: "No meu tempo já se falava da existência de aviões inimigos sob os céus da Guiné"... Primeiro comentário: "Quando estive no Depósito de Adidos, em Brá, na secção de justiça, em finais de novembro de 1973, lembro-me de chegarmos a receber informação para estarmos preparados para a eventualidade de um ataque aéreo"... (Augusto Silva Santos, ex-fur mil, CCAÇ 3306 / BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971

Guiné 63/74 - P15094: Tabanca Grande (474): Joaquim dos Santos Ascenção, ex-Fur Mil AP Inf da CCAÇ 3460/BCAÇ 3863 (Cacheu, 1971/73)

1. Mensagem do nosso camarada, e novo tertuliano, Joaquim dos Santos Ascenção (ex-Fur Mil de Armas Pesadas de Infantaria da CCAÇ 3460/BCAÇ 3863, Cacheu, 1971/73), com data de 16 de Agosto de 2015:

Amigo Luís:
Tenho adiado este momento muitas vezes. Não me é fácil mexer na caixa de recordações, mas eis que chegou o dia.

Aqui partilho os meus dados para ser mais um elemento da tabanca.

Eu de nome Joaquim dos Santos Ascenção, nascido em 19 de outubro de 1949, natural da Freguesia de S. Pedro Fins, Concelho da Maia, também estive na Guiné.

Assentei tropa no dia 7 de outubro de 1970, embarquei para a Guiné em 16 de Setembro de 1971 e regressei a 22 de Dezembro de 1973.

Estive em Bolama a fazer o IAO e depois fui para Cacheu.
Pertenci ao Batalhão de Caçadores 3863 e Companhia de Caçadores 3460.
Fui Furriel Miliciano com a especialidade de Armas Pesadas de Infantaria.

Não vou falar do inferno que era a Guiné porque este assunto já está amplamente divulgado. Das melhores recordações que tenho são o grande espírito de solidariedade e amizade que tínhamos para ir vivendo um dia de cada vez e profundas amizades que perduram há mais de 40 anos nos 4 cantos do mundo.

Seguem em anexo 1 foto actual e 3 do tempo da Guiné.

Um abraço
Joaquim Ascenção




2. Comentário do editor

Amigo e camarada Ascenção, muito bem-vindo à nossa tertúlia.
É forçoso que comece por te pedir desculpa pela demora na tua apresentação, mas se pensarmos que em Agosto estamos todos a meio gás, Setembro até nem é pior mês para a apresentação de novos camaradas.

Pelo que pude constatar consultando o Blogue, não temos nenhum representante da 3460 na tertúlia, logo, ficas com a responsabilidade de nos dar a conhecer a actividade da tua Companhia no Cacheu. Foste, pela certa, operacional, pelo que terás participado em muitas operações, colunas e outras acções.
Quando nos mandares os teus textos acompanhados de fotos, por favor manda as legendas já que nem sempre as fotos são "falantes". Datas, locais e fotografados são importantes conhecer.

Ficamos desde já ao teu dispor para qualquer esclarecimento adicional.

Antes de terminar, não posso esquecer de te endereçar o tradicional abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 7 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15082: Tabanca Grande (473): José Vargues, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BART 733 (Bissau e Farim, 1964/66), tertuliano 702

Guiné 63/74 - P15093: Os nossos seres, saberes e lazeres (114): Un viaggio nel sud Italia (5): Em Tivoli, passeio alucinatório em Villa d’Este (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Agosto de 2015:

Queridos amigos,
As pessoas abonadas do século XVIII faziam o Grand Tour, e a Itália era visita obrigatória para quem vinha das Prússias, Polónias ou Inglaterras.
Tivoli era um pólo magnético, foi aqui que o imperador Adriano mandou construir uma vila luxuosa neste local de clima privilegiado e recantos panorâmicos dramáticos. Um cardeal filho de Lucrécia Bórgia mandou construir uma vila imponente, mas o turista vem fundamentalmente atraído pelos jogos de água, água é coisa que aqui não falta e as canalizações fazem o resto, a água jorra das fontes e bicas, é uma melodia orquestral permanente.
E temos a Villa Gregoriana, aqui a natureza transcende-se com o famoso Vale do Inferno e cascatas com uma envolvente romântica, quando por aqui passou Goethe escreveu nos seus apontamentos que ver esta paisagem enriquece-nos o mais profundo da alma. É melhor ver para crer.
Hoje falamos só de Villa d'Este, no seu todo Tivoli precisa de pelo menos dois dias inteiros só para ver o essencial.

Um abraço do
Mário


Un viaggio nel sud Italia (5)

Beja Santos

Em Tivoli, passeio alucinatório em Villa d’Este


Três monumentos espetaculares, reconhecidos pela UNESCO, trazem-me a Tivoli, o Palácio e os jardins de Villa d’Este, Villa Adriana e Villa Gregoriana. Tivoli fica a pouco mais de 30 quilómetros de Roma, nos Montes Tiburtinos, é famosa desde a antiguidade pela sua riqueza em águas e pelos locais idílicos graças ao clima e à posição estratégica. A água corre por toda a parte, atravessa-se uma ponte e apanha-se logo este espetáculo, vou com o estômago a dar horas, qualquer coisa me serve para trincar, desde um esparguete a uma boa salada, mas não resisto a ficar especado e agradecer à mãe natureza o idílio que proporciona.


É a procurar um sítio onde se coma que deparo com mais esta reciclagem, tudo o que veio do império romano se aproveita, e Tivoli subsistiu a várias decadências, teve a sua posição na Idade Média, voltou a impor-se no Renascimento e ressuscitou no século XIX. Já tem nome feito no século IV antes de Cristo e é hoje um sítio arqueológico de primeiríssimo nível graças a uma construção monumental que atrai o turista: a Villa Adriana, em primeiro lugar. Agora vou comer e depois parto para o Renascimento, quero ir até aos jogos de água de Villa d’Este.


Cá estamos, ainda não desembolsei 12 euros (aliás, não pagaram a compensação que por aí vem) e já estou a ver maravilhas, é um espantoso trabalho em pedra no átrio da esplêndida vila que o Cardeal Hipólito II d’Este, filho de Lucrécia Bórgia e de Alfonse d’Este, governador do Tivoli aqui construiu e que irá desencadear um desenvolvimento urbanístico e o aparecimento de palácios patrícios.


Primeiro, a visita à vila, debruçada sobre Tivoli e com os Abruzos ao fundo, peço desculpa pela neblina, mas o inacreditável aconteceu, levo estes dias a suar a cerca de 40 graus, o céu turvou-se, a seguir vai chuviscar e teremos depois uma carga de água aliviadora. Aproveito para ver alguns aspetos que muito me interessam.




Já caem grossas bátegas, mas não me importo. Visito primeiro uma exposição dedicada a esse génio que foi Franco Zeffirelli, fez tudo muito bem como encenador, realizador, decorador, figurinista, aderecista, tocou em todas estas teclas primorosamente, e assim deliciou os seus aficionados e alguns dos maiores cantores de ópera e do cinema de todos os tempos. Captei uma imagem na capela da família d´Este e depois este fresco num dos enormes corredores que atravessam a vila. O cardeal devia ter dinheiro a rodos, construiu a sua vila num antigo bairro medieval e aproveitou um mosteiro beneditino, tudo somado temos um edifício monumental a beijar o mais espantoso jardim que vi em toda a minha vida, tipicamente italiano, só visto, neste resumo não dá para acreditar.


Oh, capricho dos deuses, os céus revoltados vão sendo conquistados pela luz. Não resisti a este feitiço, tivesse aqui o pintor Turner e teríamos um dos seus magníficos quadros. Como é que eu me posso esquecer deste céu magnífico?


Antes de descer para os jardins, não resisto a este plano, todo o verde estabelece um diálogo permanente com a arquitetura, sejam fontes, grutas, bicas a escorrer, água não falta, como se pode ver.




Na receção de Villa d’Este entregam ao turista uma folhinha com rosto e verso, as salas que se vão visitar e identificam-se os lugares do jardim. Obediente procurei as fontes mais importantes, mas cedo consenti em deixar-me confundir quanto a estes nomes que se leem uma vez e só se rememoram a título excecional quando o turista volta a pegar nestes materiais. Estou triste, tirei algumas dezenas de imagens, importa selecionar, alguns destes recantos têm aparecido em filmes, depois da chuva veio imensa luz, eu estava extasiado.




Não digam que eu não falo verdade a propósito da esplêndida encenação que a arquitetura empresta a este jardim inesquecível. Faltam minutos para fechar Villa d’Este, toda a minha fadiga está bem compensada. À saída, não me surpreendeu esta lápide evocativa de Liszt, um dos compositores pianísticos de que mais gosto. Recomendo aliás ao leitor que vá ao Youtube e escreva “Jogos de água em Villa d’Este”, aparecerão nomes reputadíssimos do piano a interpretar esta peça de uma quase execução transcendente, permite pensar quanto Liszt gostou de por aqui deambular nos seus anos de peregrinação em Itália.

(Continua)

Texto e fotos: © Mário Beja Santos
____________

Nota do editor

Poste anterior da série de 1 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15063: Os nossos seres, saberes e lazeres (113): Un viaggio nel sud Italia (4): Ver Nápoles por um canudo (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15092: FAP (87): a ameaça dos MiG na guerra da Guiné (José Matos, Revista Militar, nº 2559, abril de 2015) - IV (e última) parte




1. Continuação da publicação do artigo do José Matos, "A ameaça dos MiG na guerra da Guiné", Revista Militar, nº 2559, abril de 2015, pp. 327-352 > (*)

por José Matos

[, membro da nossa Tabanca Grande, nº 701; investigador independente em história militar,com particuolar interesse pela guerrano TO da Guiné]


(IV e última parte, com o nosso muito obrigado ao autor e editor por nos disponibilizarem o artigo. Fixação de texto: LG) 


Míssil antiaéreo Crotale que equipa a Força Aérea Francesa...
Cortesia de Wikipedia.

O Crotale

Em 1974, chegam informações ao comando militar em Bissau de voos de aeronaves a mais de 1000 km/h, o que aponta claramente para aviões do tipo caça, provavelmente, os MiG da FAG. Os relatórios periódicos de informação registam 32 voos de origem desconhecida nos primeiros quatro meses do ano, alguns com velocidades demasiado elevadas para serem aviões comerciais [91].

Entretanto, a DGS na Guiné produz vários relatórios, informando que o PAIGC está a construir uma base aérea em Kambera, na Guiné-Conakry. No entanto, um voo de reconhecimento fotográfico levado a cabo por um Fiat G-91, em meados de Fevereiro de 1974, não detecta qualquer base aérea em Kambera [92].

Nessa altura, o governo em Lisboa tinha já em curso a aquisição de dois pelotões de mísseis Crotale R440, um deles para a defesa de Bissau, ficando inicialmente prevista a entrega do primeiro para Maio de 1974 e a do segundo dezoito meses depois [93]. Cada pelotão de Crotale é formado por duas unidades de tiro e uma unidade de aquisição e vigilância, num total de três viaturas.

Em finais de Dezembro de 1973, o 2.º Comandante do Regimento de Artilharia Antiaérea Fixa (RAAF), Tenente-Coronel de Artilharia Luiz Corte Real, juntamente com o Major da FAP, Mário Silva, deslocam-se a Paris, à Thomson CSF, para uma reunião de trabalho, provavelmente para acertar os pormenores do contrato de aquisição [94].

Finalmente, a 24 de Janeiro de 1974, é firmado o contrato para a aquisição do Crotale pelo montante global de 134 milhões de francos franceses [95], um valor a ser coberto pelas verbas do empréstimo sul-africano. Entretanto, o Tenente-Coronel Corte Real cria um grupo de trabalho constituído por cinco oficiais e nove sargentos para frequentar o curso de preparação do Crotale, em França.

O grupo parte para Paris, em Maio de 1974, onde durante quatro meses toma contacto com este novo sistema de defesa antiaérea [96]. O sistema funciona com base na identificação de aeronaves por interrogação dos seus equipamentos IFF (Identificação Amiga ou Inimiga), em áreas de mínima actividade aérea amiga, o que não era o caso da Guiné, onde o Crotale exigia um dispositivo de defesa aérea mais complexo.

Míssil antiaéreo Crotale NG [Nova Geração], uma
versão mais avançada do originalo R440.
Paris, Air Show, 2007. Fonte: Cortesia de Wikipedia
Em resposta a esta necessidade, o CEMFA, General Correia Mera, informa, em Fevereiro de 1974, o CEMGFA, General Costa Gomes, de que a Força Aérea pretende equipar com IFF, numa primeira fase, “todos os aviões Fiat G-91, NORD, C-47 e B-26, com prioridade para os pertencentes à ZACVG, seguindo-se os das Regiões Aéreas”.

O CEMFA refere ainda que “os aviões T-6 e DO 27 só serão considerados numa segunda fase, pois exigem como condição de montagem do sistema IFF a substituição do gerador e inversor de corrente próprios (…) sendo a mudança demorada” [97].


Os radares de defesa aérea

No início de Fevereiro de 1974, o General Bethencourt Rodrigues escreve ao CEMGFA queixando-se que,“dos 4 radares AN/TPS-1D cedidos pelo Exército, só um poderá vir a ser colocado em funcionamento, mas em condições deficientes. Mesmo admitindo que este radar viesse a trabalhar em boas condições, as suas características técnicas não satisfazem as necessidades de cobertura de radar do T.O., porquanto não fornece dados altimétricos, necessários à Força Aérea, e tem fracas possibilidades de detecção a baixas alturas, característica essencial para a defesa antiaérea”.

Bethencourt Rodrigues refere ainda que teve conhecimento de “haver um estudo para a aquisição de meios electrónicos de detecção no SGDN, para finalidades antiaéreas, conjugado com um trabalho idêntico no EMFA” e pede que “o problema seja encarado com a urgência possível atendendo à situação crítica” que se vive na Guiné [98]. No quartel-general em Bissau existe o receio de uma intervenção aérea apoiada por países africanos, o que tornaria a situação militar no terreno muito complicada.

Nessa altura, o SGDN tinha já constituído um grupo de trabalho com o objectivo de estudar e recomendar um radar móvel para a Guiné. O radar escolhido tinha sido o AN/APR-41 (XE-2), da Dalmo Victor Division, de fabrico norte-americano, um sistema leve e compacto facilmente transportável em aviões e helicópteros, sendo possível adaptá-lo também a veículos e posições fixas [99].

Por seu turno, a Força Aérea tinha estudado o TRS 2200 (Picador), da Thomson-CSF, e o S600 (sistema 2), da Marconi, tendo preferência pelo radar da Marconi [100]. No entanto, quando este estudo comparativo chega ao conhecimento da 1ª Repartição do SGDN, são detectadas várias imprecisões no estudo da FAP, o que leva o SGDN a propor “a criação de uma comissão ao nível da Defesa Nacional a fim de equacionar devidamente o problema” [101].

A referida comissão é criada ainda durante o mês de Abril, mas com a mudança do regime a 25 de Abril e o fim da guerra colonial algum tempo depois, nenhuma destas aquisições se concretiza. Sabemos, no entanto, por uma nota da Direcção dos Assuntos Económicos e Financeiros (DAEF) do Ministério dos Estrangeiros francês, que, a 5 de Abril, Paris tinha autorizado a venda de cinco radares Picador pelo valor de 75 milhões de francos [102].

Mas, nessa altura, Portugal não tinha ainda tomado qualquer decisão sobre o assunto. Na mesma nota da DAEF é também referido que o Primeiro-Ministro francês tinha autorizado a venda a Portugal de 32 Mirage IIIE pelo valor de 750 milhões de francos, mas com a ressalva dos aviões não serem deslocados, nem para a Guiné-Bissau nem para as ilhas de Cabo Verde. O valor indicado ronda 4,2 milhões de contos, o que significa que 70% do empréstimo sul-africano seria para pagar os Mirage.

Apesar do fim da guerra, um pelotão de mísseis Crotale ainda chega a Lisboa, em Setembro de 1974, e segue para as instalações do Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea e Costa (CIAAC), em Cascais [103]. Porém, em 1976, é vendido à África do Sul com a mediação da Thomson e as verbas já pagas são devolvidas a Portugal [104].

______________

O autor agradece aos arquivos do Exército, da Força Aérea e da Defesa Nacional, as facilidades concedidas para esta investigação. Igualmente, a Manuel Couto, Tenente-general José Nico, Coronel Pereira da Costa, Tenente-coronel Luís Barroso e Capitão Alberto Cruz, os comentários e informações transmitidas e ao Casimiro Serra a ajuda na pesquisa de informação cubana.

______________

 Notas do autor:

[91] Diversos PERINTREP da Guiné, ADN/F2/SSR.002


[92] Nota n.º 324 (folha de circulação) do Secretariado-Geral da Defesa Nacional, 2 de Março de 1974, ADN/SGDN 3556.1.


[93] Cunha, Silva, O Ultramar, a Nação e o 25 de Abril, Atlântida Editora, Coimbra, 1977, p. 318.


[94] Informação nº 36232/GC do Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Assunto: Mísseis Crotale, Secretariado Geral da Defesa Nacional, Lisboa, 28 de Dezembro de 1973, ADN/F3/4/8/39.


[95] Protocolo para a negociação da devolução à firma Thomson CSF de um sistema de armas “Crotale”, 2 de Julho de 1975, ADN Fundo geral 833/7.


[96] Maurício, Henrique, Testemunho in Boletim da Artilharia Antiaérea Especial “60 anos da Artilharia Antiaérea em Portugal”, nº 3, II Série, Outubro de 2003, pp. 112-113.


[97] Nota n.º 78-P-4.1.5 do Chefe de Estado-Maior da Força Aérea para o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Assunto: Defesa aérea da Guiné (Bissalanca), 11 de Fevereiro de 1974, SDFA/AH, 1.ª Região Aérea, Cx. 102, Processo 430.201.


[98] Carta do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné para o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Assunto: Defesa Aérea, Bissau, 4 de Fevereiro de 1974, ADN/F3/17/37/51.


[99] Informação n.º 1/74 do Grupo de Trabalho para Adopção de Radares de Vigilância Próxima, Secretariado-Geral da Defesa Nacional, 9 de Janeiro de 1974, SDFA/AH, 1.ª Região Aérea, Cx. 102, Processo 430.201.


[100] Informação nº 4/74 da Secretaria de Estado da Aeronáutica, Assunto: Estudo comparativo dos radares de Defesa Aérea Picador e Marconi S600, 3 de Abril de 1974, ADN Fundo Geral SGDN 6836/1.


[101] Informação n.º 77/RA da 1ª Repartição do Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Assunto: Estudo comparativo dos radares de Defesa Aérea Picador e Marconi S600, 9 de Abril de 1974, ADN Fundo Geral SGDN 6861/1.


[102] Nota da Direcção dos Assuntos Económicos e Financeiros, Assunto: Venda de armamento a Portugal, 31 de Maio de 1974, Archive du Ministère des Affaires Estrangères (AMAE), Europe 1971-1976 – Portugal – Caixa 3501.


[103] Maurício, op. cit., p. 113.


[104] Memorando sobre o Crotale, 31 de Dezembro de 1975, ADN Fundo Geral Cx. 833/7.

____________

Nota do editor:

Postes anteriores da série >

6 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15077: FAP (84): a ameaça dos MiG na guerra da Guiné (José Matos, Revista Militar, nº 2559, abril de 2015) - Parte I