quinta-feira, 28 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16339: Convívios (762): Tabanca da Linha, 21 de julho de 2016: Parte I - Grandes corredores d'Algés & Dafundo e d'Além-Mar em África (Texto de José Manuel Matos Dinis; fotos de Manuel Resende)


Foto nº 1  >  A nova "sala de pasto", agora em Algés, o restaurante Caravela de Ouro


Foto nº 2 >  O "camisola amarela" é um português da Linha, pois claro, ex-Diamang... Nem tudo se perdeu no retorno ao "Puto"... A pele e a alma e o resto do corpinho vieram com o nosso Zé (Manel Matos Dinis), aqui no exercício das suas funções de (e)terno adjunto do Comandante Rosales. Ainda na foto: António Castanheira e Carlos Santa.


Foto nº 3 > Um foragido que à  Tabanca da Linha retorna: o Humberto Reis, o "camisola vermelha" que, tal como os seus régios antepassados, escolheu as terras da Lourinhã, refúgio de Pedro e de Inês, para refrigerar o coração com as brisas matinais. Com ele, António Maria Silva.


Foto nº 4 > O veteraníssimo Rui Santos, o "camisola azul"... Outro grande corredor de fundo... Com António Alves Alves.


Foto nº 5 > Um "bedandense" entre as gentes da Linha: o Hugo Moura Ferreira, ex-camisola amarela... Com José de Jesus da CCAÇ 2585 (Jolmete)


Foto nº 6 >  O fadista de Bissorã, o rapaz da "camisola verde às riscas"... Está nostálgico, o nosso Armando Pires, why? why?...


Foto nº 7 > O Zé Dinis de Souza Faro, numa pose luminosa...


Foto nº 8 >  "Manuel Joaquim, à minha direita, um grande senhor", diz o Souza Faro... Ainda na foto, António Gil das Caldas da Rainha.


Foto nº 9 >  Do outro lado a Linha... do Estoril, em Algés... Manuel Joaquim, Diniz Souza E Faro, António Gil, José António Chaves, Joaquim Nunes Sequeira (o Sintra), e António Souto Mouro (de costas).


Foto nº 10 > Um ribatejano, régulo da Tabanca de Setúbal, em visita de cortesia à Tabanca da Linha onde se come sempre bem e se recebe melhor...


Foto nº 11 > Manuel Resende, o fotógrafo de serviço que tem fixado, para a eternidade, os melhores momentos conviviais da Magnífica Tabanca da Linha



Foto nº 12 > Da esquerda para a  direita: Manuel Lema Santos, lídimo representante da Reserva Naval (e Moral da Nação) mais o Zé Rodrigues, que vive em Belas (que a nossa base de dados não mente)


Foto nº 13 > Fernando Sousa, "outro bedandense", escritor, autor de "Quatro Rios e um Destino", que se prepara no final do ano para lançar o seu primeiro livro de poesia...


Foto nº 14 > Por fim, mas não menos importante, o comandante Jorge Rosales, tendo a seu lado o José Colaço, dois dos nossos grã-tabanqueiros sempre nobres e leais... 14 fotos de uma difícil seleção num lote de 60, enviadas pelo Manuel Resende... Mas há mais, na parte II...

Oeiras > Algés > 21 de julho de 2016 > Restaurante Caravela de Ouro,  Alameda Hermano Patrone, 1495 ALGÉS (Jardim de Algés) > 26º convívio da Magnífica Tabanca da Linha (*)

Fotos: © Manuel Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Bloghue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Manuel Matos Dinis, com data de 21 do corrente:

Assunto - O Último encontro da Magnífica Tabanca da Linha

Foi hoje.

Conforme ampla divulgação feita pelos instrumentos do costume, foi hoje o último encontro da Magnífica Tabanca da Linha.

Foi o último realizado, mas vão continuar. Que ninguém se assuste, que o génio desta tabanca está para durar. A realização começou no final do mês passado. Alguns dos magníficos da região de Algés, há muito tempo que propunham a realização de um encontro lá para aquelas bandas. 

Nesse pressuposto, S. Exa., acompanhado do ministro privado das tecnologias, Manuel Resende; do impoluto repórter reformado, Armando Pires, e de alguns dos elementos daquela região, marcaram almoço no previsto local do acontecimento. Parece que S. Exa. ficou estragado de mimos, bebeu uns copos, e deu luz verde à realização. Fixou-se a ementa e o preço, mostraram-se retratos do edifício, e vai de anunciar às gentes interessadas a próxima realização do evento. Que foi hoje. Colocaram-se as moedas nos parquímetros, e ala, que tocou a reunir.

Compareceu um bom número de tertulianos, animados de boa disposição, e do bom apetite que a escada até ao segundo andar proporciona. Calma, deixem-me contar: claro que não morreu ninguém com o esforço, ou insuficiências potenciadas pela contagem dos degraus. Nada disso. Para esses, a organização dispõe de um elevador. E foi o que aconteceu, a malta atafulhou o cubículo elevatório de cada vez que se passava da rua para a sala sacrificial. 

E logo à entrada, emboscados, mas suficientemente à vista para não falharem pontarias, dois elementos procediam à recolha do dinheiro: um estendia a mão onde se colocavam os valiosos euros, enquanto o outro rabiscava num papel marcado com manchas de azeite, ou manteiga, mas ainda com aromas de outros temperos, os nomes dos pagantes. Nesta parte a coisa correu bem, pois não se registaram desacatos como vinha sendo costume, quando havia o hábito de pagar no fim. Parabéns à organização que acabou com as confianças malévolas.

A localização permite uma vista para a Marginal, depois para a linha, onde passa o comboio sem custos acrescidos, a seguir pode ver-se o bocado de terra destinado aos concertos barulhentos, e, finalmente, lobriga-se o rio, que dali parece ribeiro. O pessoal já não via nada, e alguns tiveram a sorte de descobrir uns fritos e rodelas de paio que não saciaram as fomes. Provaram-se vinhos, da terra do senhor doutor, e ouvi alguém soletrar Esteva, que logo percebi, não havia Esteva. Isto, na parte dos tintos, porque os brancos eram da mesma proveniência e não havia da D. Ermelinda. Ninguém morreu de sede. Aliás, havia água com excessiva fartura, e uma espécie de laranjada, certamente da mais qualificada indústria sumarenta. Nem lhe toquei, livra!

Aproximou-se a hora de refeiçoar, e o pessoal compôs-se nas mesas para o diligente serviço de caldos, um elaborado a partir das melhores espécies vegetais, outro com um acentuado palato a marisco, com escassas farripas de camarão a comprovar a sapidez, ambos com dotações suficientes de Maggi, que lhes davam carácter e autenticidade. Bebe mais um copo, Zé! Era a voz da consciência a apaziguar o estômago.

E logo veio a grande atraqueção culinária, o prato de bianda com garoupa, a que se acrescentaram gambas. Nada a dizer, pois o cozinheiro, à semelhança do defesa da selecção de futebol que ganhou o europeu, não inventou nada, e o conduto correu previsivelmente bem. Óspois, como seria escrito pelo camarada Veríssimo, podíamos escolher entre salada de frutas e pudim. A salada estava boa, e do pudim ouvi rumores de que não ia além da mediania.

Mas foi bom. No final correram umas garrafas de magníficos alcoóis que fizeram acentuar a necessidade de frescura para enfrentar a digestão, e que facilitaram a algazarra seguinte, que hoje ganhou méritos de amplificação, ou por causa da concentração do pessoal, ou por causa do tamanho da sala que não permitiu mais largueza na distribuição.

Conforme é do conhecimento geral, importante, importante, é a possibilidade para confraternizarmos, para nos expressarmos com alegrias e risadas, e gritos, se alguém, algum dia, alguém se lembrar disso. Foram várias as caras novas, malta que pareceu integrar-se com facilidade, o que vem provar que há coisas importantes que nos unem. Por mim, regressei a casa com a noção do dever cumprido. Para todos vai o meu abraço fraterno. Isto, se S. Exa. o Senhor Comandante, não achar necessário exercer o seu exclusivo direito de censura. (**)

Inté! JD
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16273: Convívios (759): Mais um Encontro da Magnífica Tabanca da Linha, no próximo dia 21 de Julho, em Algés (Manuel Resende)

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16338: Os nossos seres, saberes e lazeres (165): Ai, se Bocage soubesse ou visse… (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,
Asseguro-vos que estes setubalenses são afáveis, e quem veio de outras procedências e aqui assentou praça está contente e promete ficar.
É um espaço amplamente voltado para o rio e ensimesmado em ruas, ruelas e pracetas. Assomam monumentos que evocam tempos faustos, havia uma rica lavoura, os medievos fizeram do sal uma das suas principais riquezas; e há o entorno da Arrábida, as praias paradisíacas e a gastronomia tem os seus pergaminhos.
O pretexto era uma exposição de Júlio Pomar, com derriço fiquei mais tempo e não me arrependi.

Um abraço do
Mário


Ai, se Bocage soubesse ou visse… (2)

Beja Santos

Pois bem, atraído pelas entranhas de Setúbal, trajetos que escapam ao turista que vem à procura de praias, petiscos ou os monumentos consagrados, aproveitei a deixa de passear pelo mais vetusto, a Setúbal que teve muralhas, palácios e sede de bispado, aqui começou a cidade virada para o mar.


Já se falou de que Setúbal teve muralhas, hoje derruídas, praticamente esquecidas. O que aqui vemos, manifestamente desprezado, é uma entrada à volta de um pano de muralha, e lá ao fundo houve quartel de infantaria, o 11, hoje escola de hotelaria, dispõe de uma galeria municipal e consta que para breve ali aparecerá hotel onde no passado se erguiam as casernas dos soldados.


E não digam que não somos um povo divertido, estamos no Beco dos Proletários, em palácio da velha fidalguia, mas a desgraça maior são aqueles cabos que desfeiam o que nos devia merecer muito respeito. O que pensaria o senhor conde se por aqui passasse e visse o desaforo destes proletários na vizinhança?




Disse para comigo: olha, entraste a preceito na Idade Média, ou tempo muito parecido. A rua é elegante no seu enviesamento, prédios restaurados olham para prédios decrépitos, mas a inversa é verdadeira. E há estes arcos, felizmente bem integrados e condizentes do respeito pelo património histórico. O viajante mete conversa, há gente que veio do Norte e que arrumou a sua vida em Setúbal, andam contentes com a afabilidade setubalense; há mesmo quem tenha dito que nas últimas décadas o que era ruína pura se transformou em edifício com enlevo, há quem diga com o peito cheio de orgulho que Setúbal vai ser, nas próximas décadas, uma das cidades mais lindas do mundo. E di-lo com convicção, com a mesma convicção se regista tão bons sentimentos.


A época do Entrudo presta-se a atividades económicas muito dignas, este senhor está à espera da clientela, ainda lhe perguntei se era um negócio de aluguer, foi perentório – aqui é só para vender. Já me cruzei com espadachins, gatos e gatas, super-homens e rapaziada tirada da guerra das estrelas, acreditem que a curiosidade foi acicatada pelo turbilhão da cor, com esta garridice ninguém se irá disfarçar de Conde Drácula.



Há sempre um refrescamento de olhar quando se vem ao Museu do Trabalho, aproveitou-se lindamente uma fábrica ao abandono, o visitante tem ao seu dispor manifestações laborais da mais diversa índole. Desta vez, quedei-me frente à mercearia de outras eras, há mais de 60 anos frequentei uma parecida, no termo da Rua de Entrecampos, numa altura em que ainda não sonhávamos que ia aparecer a Avenida dos Estados Unidos da América, vendia-se arroz em cartuchos, azeite a granel, uma quarta de banha em papel manteiga, o milho tinha as suas medidas e havia a rasoira, móveis imponentes, o livro para registar as vendas a fiado. Tenho quase a certeza que todos vós têm lembranças deste mundo passado, agora peça de museu.



Um dos propósitos que me trouxe a Setúbal foi ver estes desenhos de Pomar, a exposição terminava nesse dia, sempre tinha perdido a ocasião de conhecer tão belas obras. Estava interdito tirar imagens, limitei-me ao que reza na brochura. Convidado pelo Metropolitano de Lisboa, nos anos 80, a desenvolver um projeto plástico para o revestimento azulejar das paredes da estação do Alto dos Moinhos, Pomar tomou como tema quatro grandes poetas – Camões, Pessoa, Bocage e Almada. Sensível à especificidade do espaço da estação de metropolitano, o artista inspirou-se na técnica cursiva e caligráfica dos grafitis e nas pinturas parietais das grutas de Altamira e de Lascaux, como ponto de partida para um intenso olhar pessoal. Esses desenhos foram depois expostos na Gulbenkian, mais tarde em Setúbal, no que toca a Bocage. E o poeta regressou 30 anos mais tarde, nas comemorações que a autarquia lhe preparou.



Aqui houve quartel, mesmo em frente ao Sado. Daqui saíram infantes para a guerra, veio a paz e foi reciclado, deu em galeria municipal, escola de hotelaria e turismo, e vai ter hotel, aqui ficam as imagens para desfazer equívocos, tudo quanto é quartel pode ser convertível.

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 20 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16320: Os nossos seres, saberes e lazeres (164): Ai, se Bocage soubesse ou visse… (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16337: Inquérito 'on line' (62): Para que servia a faca de mato ? Em 80 respostas (provisórias), 31% diz que nunca teve faca de mato; para 41% era um objeto multiuso, para 33% um abre-latas e para 25% uma ferramenta de sapador... O prazo de resposta termina amanhã, 28, às 20h38... Mesmo em férias, esperamos chegar às 100 respostas

Foto de José Colaço (2016)
I. INQUÉRITO DE OPINIÃO:

"PARA QUE SERVIA A FACA DE MATO ?" 

(PODES DAR MAIS DO QUE UMA RESPOSTA)...

RESULTADOS PRELIMINARES (n=80)

7. Outros usos (mato/quartel) > 33 (41%)

3. Abre-latas > 27 (33%)


10. Nunca tive faca de mato > 25 (31%)

5. Ferramenta de sapador (MA) > 20 (25%)



4. Talher 3 em 1 (faca, garfo, colher) > 14 (17%)
1. Arma de defesa > 13 (16%)
6. Adereço / ronco > 11 (13%)
8. "A minha amiga inseparável" > 7 (8%)
2. Limpar o sebo ao IN > 2 (2%)
9. Objeto completamente inútil > 0 (0%)
11. Não sei / não me lembro > 0 (0%)

Votos apurados às 00h00 de 27/7/2016 >  80
Dias que restam para votar:  até 28/7/2016, às 20h38



Foto à esquerda:

Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > 1972 > CART 3492 > "Eu e o Furriel Nunes, do 4º pelotão, se não me engano" 

[, A faca de mato podia ser usada com a baínha presa ao cinturão ou presa na farda ou camuflada, abaixo do ombro esquerdo, à "ranger", como documenta etsa foto com o nosso grtã-tabanqueiro Joaquim Mexia Alves, ex-alf mil op esp CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73].

Foto (e legenda): © Joaquim Mexia Alves (2006). Todos os direitos reservados.



25 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16328: Inquérito 'on line' (59) A minha faca de mato ficará associada para sempre a um acontecimento doloroso: a morte do soldado da minha secção, Aladje Silá, em 20/7/1970 (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)

22 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16324: Inquérito 'on line' (58): A minha faca de mato ? Era quase um canivete suíço e 'vestia' com manga de ronco!... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

Guiné 63/74 - P16336: (Ex)citações (313): A minha faca de mato, de aço temperado mas não de inox, "made in Portugal", velhinha de 45 anos, amiga inseparável, ainda hoje nas jornadas de caça... (Augusto Silva Santos, ex-fur mil, CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Fotos: © Augusto Silva Santos (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de Augusto Silva Santos, com data de 26 do corrente:

Augusto Silva Santos 
(ex-fur mil, CCAÇ 3306/BCAÇ 3833,



Olá,  Carlos Vinhal, boa tarde!
Espero que esteja tudo bem contigo.

Relativamente ao assunto em referência, estou a juntar a minha modesta colaboração, com um pequeno texto e algumas fotos para ilustrar que, caso assim o entendas, agradeço publicação.

Um Grande e Forte Abraço
Augusto Silva Santos


2. A minha Faca de Mato

Esta é a minha faca de mato, velhinha de 45 anos, que sempre me acompanhou durante toda a minha comissão na Guiné, conforme fotos [4] que o confirmam. Foi uma amiga inseparável, tal como a G3, e que muita utilidade teve em diversas situações, umas mais agradáveis que outras.

Sempre a usei no cinturão. Foi com ela que abri latas de conserva e ostras, que fiz petiscos, que amanhei peixe da bolanha, que colhi ramos de palmeira para fazer abrigos ou camas improvisadas, que tentei detectar minas, mas também para infelizmente ter de abrir a camisa de um camarada ferido por estilhaços de uma roquetada.

Também me lembro de com ela ter gravado,  numa árvore junto ao rio Cacheu, o meu nome e da minha namorada, e agora minha mulher.

Será sempre um objecto muito versátil e de muita importância no campo militar. Sendo caçador, confesso que algumas vezes (será por nostalgia?) já a levei comigo nalgumas jornadas de caça.

No meu caso, julgo tratar-se de uma faca de aço temperado, mas não de aço inox, até porque já apresenta alguns pontos de ferrugem, apesar dos cuidados que ao longo destes anos lhe tenho dispensado. Não tem qualquer designação ou marca para saber onde foi produzida, mas penso tratar-se de cutelaria nacional, pois foi por mim adquirida numa feira / mercado antes do meu embarque para a Guiné. Portanto, não me foi distribuída, era e é de minha propriedade.
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terça-feira, 26 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16335: Tabanca Grande (491): Adão Pinho da Cruz, Médico Cardiologista, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Adão Pinho da Cruz(*), Médico Cardiologista, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com data de 22 de Julho de 2016:

Amigo Carlos Vinhal

Obrigado pelas vossas palavras.

Aí vai a informação que pedem:

Adão Cruz
Alferes miliciano médico na Guiné, de 1966 a fim de 1968.
Companhia 1547 do Batalhão 1887, salvo erro.
Locais onde estive com maior permanência: Canquelifá e Bigene.
Outros locais: Bissau, Bafatá, Gabu-Sará, Piche, Farim, K3, Binta, Guidage, Jumbembem, Cuntima, Barro e… Bijagós.

No início da minha carreira de médico fiz clínica geral em Vale de Cambra, três anos antes de ir para a Guiné e mais três depois de vir.

Fiz a especialidade de Cardiologia, com sub-especialização em ecocardiografia, tendo sido um dos pioneiros desta técnica em Portugal.

Exerci clínica privada no Porto e S. João da Madeira. Fui médico do quadro de cardiologia do Hospital de Santo António durante duas décadas, acabando a carreira hospitalar no Hospital de Gaia como assistente hospitalar graduado.

Ainda hoje, já bem velho, tenho a honra de ir semanalmente à reunião do prestigiado Serviço de Cardiologia deste hospital. Ainda vou ao consultório dois dias por semana.

Escrevo desde jovem e pinto desde a década de oitenta. Tenho onze livros publicados, entre pintura e literatura, especialmente poesia.

Vivo no Porto. Tenho três filhos e quatro netos.

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 2. Apontamento do editor:

Lembramos que o nosso camarada Adão Cruz chegou ao conhecimento do Blogue, e vice-versa, porque o seu filho Marcos é amigo da Joana, que por sua vez é filha do nosso camarada tertuliano Francisco Baptista. Sendo o mundo pequeno e a nossa Tabanca (tão) grande, natural esta aproximação. Há já duas entradas de Adão Cruz no nosso Blogue, textos enviados por Francisco Baptista.

Do muito que encontrei na Net sobre o nosso novo camarada, aqui fica:

I - Biografia transcrita, com a devida vénia, publicada na página "A Viagem dos Argonautas":

APRESENTAÇÃO DO ARGONAUTA ADÃO CRUZ

Adão Pinho da Cruz nasceu no lugar de Figueiras, freguesia de Castelões, concelho de Vale de Cambra, em 1937.

Licenciado em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, especializado em Cardiologia e sub-especializado em ecocardiografia.

Prestou serviço militar na Guiné, entre 1966 e 1967, como alferes médico. Usando palavras suas: «a profunda vivência da guerra e o profundo contacto com uma população miserável, constituíram uma das mais ricas e marcantes experiências da sua vida».

Apanhado pela explosão do 25 de Abril, não fugiu ao novos deveres de cidadania criados pela Revolução e, nomeado pelo Governador Civil de Aveiro, exerceu durante um ano as funções de Presidente da Comissão Administrativa da Câmara municipal de Vale de Cambra.

É membro da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, da Sociedade Europeia de Cardiologia, da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos e foi também membro da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos.

Para além da sua actividade como médico, é escritor e pintor, com diversos livros publicados, de contos, poemas e pinturas. Fez várias exposições, individuais e colectivas, realizadas em Portugal e no estrangeiro.

Principais obras publicadas: Esta Água Que Aqui Vem Dar (poemas e pinturas-1993), Vem Comigo Comer Amendoim (contos, ilustrados por Manuel Cruz-1994), Palavras e Cores (prosa poética e álbum de pinturas-1995), Adão Cruz – Tempo, Sonho e Razão (álbum de pinturas e textos de Albano Martins e César Príncipe-2003), Nova Ponte Sobre um Velho Rio (conjunto de três pequenos volumes de poesia, com capas sobre pinturas do autor-2006), Adão Cruz – Hora a hora rente ao tempo (álbum de pinturas e texto do autor-2007), Adão Cruz – Um gesto de silêncio (álbum de pinturas e poemas, com texto do autor -2010), VAI O RIO NO ESTUÁRIO, poemas de braços abertos (poesia e textos) e VAI O RIO NO ESTUÁRIO, cores de braços abertos (pintura e texto do autor).


II - Vídeo no Youtube referente a uma Exposição de pintura de Adão Cruz, inaugurada em 14 de Maio de 2011, na galeria Zeller, Rua 14 nº 750 - 4500 ESPINHO - onde se pode ficar com uma ideia do seu trabalho.

Ver aqui  
Com a devida vénia a Carlos Wanzeller


III - No Jornal Labor, Secção Sociedade

Com a devida à autora do texto, Anabela S. Carvalho

Adão Cruz, poeta da natureza, pintor da liberdade

Médico, poeta e pintor, Adão Cruz exibe na biblioteca um excerto da sua intimidade. Razão para uma conversa que começou nas artes e atravessou, de forma ligeira, uma vida que se cruza com a história recente do país


O cardiologista Adão Cruz tem na biblioteca municipal uma exposição de quadros e poemas, inaugurada em clima de “Poesia à Mesa”. É uma das raras oportunidades para ver em S. João da Madeira o trabalho do médico, que já publicou sete livros de poesia e nove de pintura. E motivo de conversa com o labor sobre a poesia, a arte e a vida.

Adão Cruz cresceu no lugar de Figueiras, freguesia de São Pedro de Castelões, Vale de Cambra, em completa harmonia com a natureza. Essa infância, que tanta nostalgia lhe traz, transborda facilmente para os versos, que escreve desde catraio. É talvez o único tema, por assim dizer, da poesia de Adão Cruz, que, na verdade, não tem tema nenhum.

Já a pintura surgiu mais tarde. O médico tentou transpor os mesmos sentimentos para a tela e saiu-lhe uma espécie de “expressionismo ficcionista do sentimento”. Um figurativo à sua maneira, ou seja, “rude” e “espontâneo”, sem regras ou preocupações técnicas e académicas que, como disse Júlio Pomar, “é a doença congénita das artes”. Uma espontaneidade e liberdade que o médico mantém também quando escreve e que, na sua opinião, mais fielmente respeita o sentimento que o move.

Falar com Adão Cruz sobre poesia e arte é falar sobre o próprio conceito de uma e de outra. A questão tem-no ocupado nos últimos anos. “Qualquer expressão artística tem na sua essência o sentimento poético”, afirma. O que é o mesmo que dizer que a poesia está em todas as formas artísticas. O que é a poesia? Defini-la é como tentar definir o próprio amor, exemplifica. “O sentimento poético e o sentimento artístico não nascem do dia para a noite. Pode haver algum componente genético mas têm de ser vividos, esculpidos pela vida”, explica. E essa depuração só se faz através daquela que para o médico de 77 anos é a maior riqueza dos homens: o pensamento e a razão. Depois o desafio é expressar esse sentimento, sem tender para o sentimental. “Costumo dizer que somos uma espécie de garimpeiros a peneirar o cascalho das palavras”, afirma.

Para Adão Cruz, na poesia e na pintura, de pouco vale a forma. É no efeito das suas palavras ou traços em quem os observa que está o real valor da obra. Por isso não dá nomes aos quadros, por exemplo. “Essa coisa da obra ser nossa, é de facto. Mas depois é de toda a gente que a vê”, revela. Essa gente verá no poema ou no quadro algo que não estaria na sua origem mas é uma interpretação válida porque gerada através dos estímulos que o artista criou. A consciência disto alicia Adão Cruz, avesso a descodificações que muitas vezes “empobrecem a obra e as capacidades de interpretação” da mesma.

O seminário, a guerra e o 25 de Abril

A vida do médico cardiologista está repleta de episódios que marcam e definem um rumo de vida. Aos 11 anos, depois de uma infância em total “ordenação com a natureza”, foi internado num seminário jesuíta, donde fugiu três anos depois. “Aquilo foi a trucidação da minha vida de infância. Foi um corte radical que me marcou a vida toda. Até hoje!”, revela. Na hora de rezar o jovem Adão brincava com o terço e na hora de meditar olhava irrequieto em volta. Estava entre os piores comportados do seminário e o reitor, resignado, até já tinha concluído pela ausência de vocação no jovem. Numa manhã, Adão pirou-se.

Daí foi para Colégio de Vale de Cambra mas as boas vindas do reitor - outro padre que, numa das primeiras abordagens ao novo aluno, deu-lhe uma chapada - não o convenceram. Acabou por mudar-se para o Colégio de Oliveira de Azeméis, que frequentava com a irmã, a professora Eva Cruz.

Fez-se médico e andou seis anos a calcorrear montes e vales de Vale de Cambra e da região, numa altura em que a medicina transitava para a era moderna. “Foi a minha grande escola de medicina”, comenta. Chamado para a guerra colonial, esteve destacado na Guiné durante dois anos. Nesse período, o jovem médico, que já levava de Portugal sentimentos antifascistas e anticolonialistas, despertou a consciência social e política. Assistiu à exploração dos agricultores, fez-se amigo dos nativos e até hoje troca correspondência com alguns.

Quando voltou, foi recebido em apoteose. Os habitantes de Vale de Cambra receberam o médico com a pompa e circunstância da época: banda de música e missa solene. Mas o 25 de Abril virou o bico ao prego. A oposição de Adão Cruz ao regime fascista e os ideais de esquerda empurraram-no para a presidência da comissão administrativa da câmara de Vale de Cambra, período do qual não guarda especial saudade. Em pleno PREC, os ânimos estavam acerbados e o extremismo eclodia. A população estranhou ver o médico ao lado dos comunistas e, estimulada pelos líderes de direita, começou a contestá-lo. Adão Cruz chegou a correr para Vale de Cambra a meio da noite porque uma multidão de 300 pessoas ameaçava invadir a câmara. Quando lá chegou, nenhum dos contestatários o olhava de frente. O episódio não deu em nada porque o respeito que granjeou no passado acabou por falar mais alto.

A ruína dos sonhos

Desiludido, um ano depois de tomar posse, candidatou-se à Assembleia Constituinte. Era a única forma de abandonar o cargo e o médico estava decidido a fazê-lo. “Fiquei muito magoado porque dei tudo para dar alguma dignidade àquela gente”, recorda. Lembra nomeadamente as reuniões de câmara com representantes das freguesias e com quem mais quisesse aparecer, em oposição ao que acontecia durante o fascismo. “O nosso empenho era democratizar”, conclui, ainda com mágoa.

Por esta altura, o médico já vivia em S. João da Madeira, onde até hoje mantém um consultório modesto e discreto na Rua do Visconde. Desde que se mudou para o Porto, é o consultório com 40 anos que o traz à cidade duas vezes por semana.

Aposentou-se há anos mas esporadicamente ainda volta ao Hospital Santo António, onde fez o grosso da carreira. Olha com muito desalento para a evolução do Serviço Nacional de Saúde em particular e do país em geral. “Estou convencido que qualquer pessoa vê que isto é a destruição de tudo o que se adquiriu até aqui”, lamenta, convencido de que só muito mais tarde se voltará a adquirir tudo o que se perder agora. Teme que a ganância, a escassez e a pressão sobre a população façam emergir uma sociedade pobre e individualista onde os seus filhos e netos viverão. “Dos direitos mais importantes do homem é o direito ao trabalho. Qualquer sociedade devia tê-lo como prioritário”, comenta, lembrando que o SNS chegou a estar na 12.ª posição mundial mas hoje não dá resposta a quem precisa. “Nunca pensei que os meus sonhos ruíssem desta forma”, confessa.

A conversa com Adão Cruz esteve para terminar neste tom mas a fotografia dos netos e o regresso à poesia rapidamente lhe mudaram a expressão.

Por: Anabela S. Carvalho


IV - No Blogue Jardim das Delícias, estão publicados alguns textos e reproduções de trabalhos de pintura do camarada Adão Cruz, do qual extraímos, com a devida vénia ao autor da obra e ao editor do Blogue, esta bela pintura intitulada "Mãe".



3. Ficam agora algumas fotos enviadas por Adão Cruz que o remetem para a Guiné e para a sua nobre função de médico militar.








O nosso camarada Adão Cruz actualmente

OBS: - As fotos não vieram legendadas, só com a indicação de que eram de Bigene e Canquelifá. Se a todo o tempo o camarada Adão Cruz quiser identificar os seus companheiros, proceder-se-á à inclusão das respectivas legendas.


4. Era suposto agora publicar uma pequena história, habitual no postes de apresentação, mas como este já vai longo, e porque temos já dois belíssimos textos em carteira, estes serão publicados brevemente.

Ao nosso novo amigo e tertuliano Adão Cruz, um dos médicos militares, aos quais, assim como a todo o pessoal do serviço de saúde, tanto devemos, damos as boas-vindas e convidamo-lo a sentar-se à sombra do nosso poilão, não para descansar, mas para nos falar da sua experiência como médico em teatro de guerra, cuja missão era salvar vidas, amigas ou não, ao contrário de nós tínhamos de defender, a todo o custo, as populações amigas e as zonas de acção que nos estavam confiadas.

Correndo risco de esquecer algum, aqui ficam os camaradas médicos militares que fazem parte da nossa tertúlia:

Amaral Bernardo (BCAÇ 2930)

José Pardete Ferreira (CAOP 1 e HM 241)

Manuel Valente Fernandes (BCAV 8323)

Mário Silva Bravo (CCAÇ 6)
e
Rui Vieira Coelho (BCAÇ 3872 e 4518).

CV
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

25 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16134: (In)citações (91): "Um gajo não sabe o que foi a guerra colonial", diz Marcos Cruz, filho do Dr. Adão Cruz, um dos médicos do BCAÇ 1887 (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)
e
25 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16235: Os nossos médicos (86): O Parto - ou o nascimento do Adão Doutor em Bigene (Adão Cruz / Francisco Baptista)

Último poste da série de 11 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16294: Tabanca Grande (490): Adelaide Barata Carrêlo, filha do ten SGE Barata, CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71)... Com sete anos apenas, sofreu a brutal flagelação do IN ao quartel e vila do Gabu, em 15/11/1970, que causou 3 mortos e 4 feridos graves entre as NT e 8 mortos e 80 feridos (graves e ligeiros) entre a população... Passou a ser a nossa grã-tabanqueira nº 721

Guiné 63/74 - P16334: (Ex)citações (312): O que nós (não) sabíamos sobre a nossa faca de mato... Tal como a G3, veio da Alemanha, e não de Guimarães, capital da cutelaria portuguesa... O fornecedor da lâmina de aço inoxidável era, passe a publicidade, a Solingen! (José Colaço / António J. Pereira da Costa / Henrique Cerqueira / Sousa e Faro / Hélder Sousa / Manuel Carvalho)




A faca de mato do nosso camarada José Colaço  (ex-soldado trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), membro da nossa Tabanca Grande desde 2 de junho de 2008 com 70 referência no nosso blogue....

Sobreviveu a uma incêndio, no paiol, em Camamude, setor de Bafatá, por volta  de 1965 (*)... Emopra "destempertada",  a lâmina aguentou... O dono pôs-lhe um novo cabo, de madeira, A lâmina, da aço inoxidável ("stainless"), era alemã, da célebre marca de cutelaria SOLINGEN. Aqui tem o leitor o sítio oficial do fabricante, passe a indevida publicidade.  O negócio é chorudo, continuam a fabricar "military knifes"...

Foto: © José Colaço (2016). Todos os direitos reservados. [Edição:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continua em curso, até quinta-feira, dia 28, um inquérito "on line" (, visível no canto superior esquerdo do nosso blogue)  sobre as nossas facas de mato (**) que, afinal, não eram nossas, "made in Portugal", tal como a G3 não era nossa,  tal como a Kalash não era do PAIGC, era russa...

Enfim, e a talhe de foice, pergunto-me o que é que andámos a fazer naquela p... de guerra, com material  que nem sequer era nosso, da bazuca ao Fiat G-91, do obus à faca de mato... Que raio de imperialistas e colonialistas eram nós ?!... Não admira que a lâmina da faca de mata fosse importada da Alemanha... A nossa Siderurgia Nacional só foi inaugurada em 1961... Em suma, era a carne para canhão é que era nossa!...Valha-nos o bom humor (negro)...


 2. Mensagem do José Colaço, de ontem:

Escreveu o camarada António J. Pereira da Costa: "As facas de mato eram um utensílio de boa qualidade. Ainda gostava de saber onde eram feitas. Não sei se as OGFE [Oficinas Gerais de Fardamento do Exército] ou alguma fábrica de armamento as produzisse. Ou então algum cuteleiro da área de Guimarães (capital da cutelaria, naquele tempo...)" (*9[poste P16332}.

Pequena dica: por curiosidade, estive a fazer uma pequena limpeza à minha faca de mato e notei a sua origem que se pode comprovar na foto que envio aos nossos editores: SOLIGEN STAINLESS GERMANY.

Por este motivo, além das dos artesãos, a sua maioria teria origem na importação da Alemanha, Solingen Stadt Messer, tal como por cá Guimarães cidade das facas.

Um abraço,
Colaço.


3. Comentário do editor:

O que sabemos (ou não sabemos) mais sobre a nossa faca de mato ? 

Eis alguns contributos, generosos, de camaradas nossos que nos têm escrito sobre o tema (por email ou na caixa de comentários):

(i) António J. Pereira da Costa (27/7/2016):

Agradecido pela dica. Embora a maioria usasse a faca no cinturão, existiam no ombro dos camuflados debaixo da platina do lado esquerdo, duas pequenas "meias-platinas": uma implanta à esquerda e outra à direita e onde era possível colocar a bainha da faca que ficava pendente no ombro. Era uma maneira de a ter à mão, dispersando a carga de equipamento pelo corpo do militar. Vejam o desenho da bainha.

(ii) Henrique Cerqueira (25/7/2016):

A minha faca de mato era um sabre baioneta da espingarda Mauser ou Mannlicher. Era uma faca com uma bainha executada em pele por um soldado milícia Mandinga que ma ofereceu em troca de algo que já não me lembro. Essa faca na altura eu a usava àcinta pois que,  estando eu numa CCAÇ Africana [, CCAÇ 13]  dava um certo ar de valentia, pois que era muito importante nós darmos esse ar junto das tropas africanas que chefiávamos. De resto,  a faca era tendencialmente usada para abrir as latas de conserva que compunham a ração de combate. Mas que dava um certo ronco,  lá isso dava. Enfim,  velhos tempos...

Já agora,  e segundo me lembro,  a faca de mato não fazia parte do equipamento obrigatório da nossa tropa. Mas também pode ser que em algumas unidades tenha sido diferente.

(iii) José Colaço (25/7/2016):

Henrique,  penso ter sido o primeiro a contestar e afirmar que a faca de mato no meu tempo, 1963/65, não fazia parte do equipamento militar, mas podia ser adquirida/comprada em Bissau. O sabre baioneta, esse, sim, no meu tempo era parte integrante do equipamento militar embora a minha companhia tenha recebido a G3 e não a Mauser a que o sabre se adaptava, mas tinha que ser 
devolvido no espólio no final da campanha militar obrigatória. 

Em resposta passo o termo de um comentário de um camarada que disse que a faca de mato fazia parte do equipamento militar.

Um abraço
Colaço

PS - Resumindo a história do meu sabre baioneta que foi utilizado como ferramenta de sapador para abrir um caixote de um camarada em Catió: com a azáfama na partida da saída para o mato (Operação tridente),  ficou lá esquecido e eu se há coisas que a memória não guarda essa foi uma delas, já tinha falado com o capitão e uma das hipóteses possíveis era o desaparecimento numa nas passagem de um dos muitos canais existentes na Ilha para evitar o levantamento de um auto,  caso o mesmo não aparecesse.
Mas eis que um dia,  em conversa com um camarada,  ele me disse que dentro do caixote dele vindo de Catió tinham-lhe roubado a colher, mas em contrapartida tinham lá deixado um sabre baioneta e aí se fez luz sobre a minha memória,  contei-lhe a história e pelo número, verificou-se que o sabre era o meu, tudo ficou resolvido sem processo disciplinar auto de guerra sei lá mais quê e só com umas "bejecas" na cantina que nessa altura já contemplava o aquartelamento do Cachil. 

(iv) Henrique Cerquerias (25/7/2016)

Camarada José Colaço: eu, na realidade,  sou um periquito á tua beira pois que estive na Guiné em 72/74. Isto porque eu não tive a Mauser mas sim a G3. Quem ainda tinha essas armas e até sem controlo rigoroso eram alguns milícias mais antigos e certamente o dito sabre baioneta era de uma dessas armas.E como saberás não era muito difícil,  a troco de umas bebidas ou uns patacões,  comprar esses artefactos que foi esse o meu caso. Inclusivamente e como quase toda a gente comprei outras facas artesanais e embelezadas com a arte Mandinga ou Bijagó. Que serviram mais tarde para pendurar na parede.Hoje já lhes perdi o rasto.

Também é certo que as armas, facas ou não,  nunca foram o meu forte. Mas quando deram jeito lá se foram usando conforme as situações.

(v) Manuel  Carvalho (25/7/2016)

Tinha uma faca de mato Solingen que comprei no Niassa. No pelotão julgo que era o único que tinha e na companhia penso que haviam mais algumas mas poucas.Naqueles lugares era usada para muitas tarefas.No mato pediam-ma muitas vezes e eu nem sempre sabia muito bem para quê. Havia quem levasse catanas normais e algumas mais pequenas e afiadas e de bom aço. Numa operação abatemos uma vaca,  já não me lembro muito bem em que circunstancias, que retalhamos e veio para o quartel toda,  até as tripas.

(vi) Hélder Sousa (22/7/2016):

Ao inquérito respondi que "nunca tive" mas isso é uma verdade relativa. De facto não a tive para uso pessoal ou de serviço mas recordo de ter adquirido uma que veio comigo no final, só que com as mudanças de casa perdi-lhe a pista e não sei onde possa estar. Recordei-me disso ao ver as fotos do Valdemar Queiroz e tenho ideia que a decoração da minha era semelhante.


(vii) José Diniz Carneiro de Sousa e Faro (22/7/2016):

A minha faca/punhal foi feita por um artesão de Cacine em 1968 com o cartucho da granada do obus. Andava sempre comigo. Foi feito uma mézinha pelo Homem Grande da tabanca. Acredito, ão sei, mas que cheguei são e salvo, cheguei e ainda cá estou com o meu Ronco.

(viii) António J. Pereira da Costa (22/7/2016):

Creio que as últimas unidades recebiam uma faca de mato por homem. Não fazia parte do equipamento individual.

O artesão de que o Brito e Faro fala deve ser o "Ferreiro de Cacoca". Veio de lá e fixou-se em casa de familiares, na altura em que a tabanca foi abandonada. Era hemiplégico e tinha a oficina "adapatada". A saber: deslocava-se à força de braços, arrastando-se, sentado numa almofade de cabedal; as ferramentas estavam dispersas pelo chão; a bigorna era pequena e estava solidamente cravada no chão; a fornalha era aquecida por um daqueles dispositivos que havia nas oficinas para o mesmo efeito, só que quase enterrado no chão e o ar que soprava as brasas corria por uma espécie de tubo cavado no chão.

Guine 63/74 - P16333: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte II: Bissau Velho



Guiné-Bissau >  Bissau > Foto nº 1 > 3/11/2015 > Praça dos Mártires de Pindjiguiti (que foi inaugurada há um ano,m em 3/8/2015)


Guiné-Bissau > Bissau > Foto nº 2 > 3/11/2015 > Praça Che Guevara (antiga Praça Honório Barreto, onde ficava o Hotel Portugal)


Guiné-Bissau >  Bissau > Foto nº 3 > 3/11/2015 >  Aspeto parcial de uma das praças de Bissau Velho


Guiné-Bissau >  Bissau > Foto nº 4 > 3/11/2015 > Avenida marginal e cais do Pindjiguiti (ou Pidjiguiti, no nosso tempo)


Guiné-Bissau > Bissau > Foto nº 5 > 3/11/2015 > Café Império. e ao fundo vê-se a o edifício da UDIB




Guiné-Bissau > Bissau > Foto nº 6 > 3/11/2015 > O edifício da UDIB -União Desportiva Internacional de Bissau, na atual av Amílcar Cabral.


Fotos (e legendas): © Adelaide Barata Carrêlo (2016). Todos os direitos reservados



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico da nossa grã-tabanqueira Adelaide Barata Carrêlo, filha do tenente SGE Barata, da CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71), que esteve com a família (pai, mãe, irmã gémea e e irmão mais velho) em Nova Lamego na altura da segunda parte da comissão de serviço do pai (1970/71), entretanto falecido, em 1979, com o posto de capitão. 

Voltou à Guiné 40 e tal anos depois, em novembro de 2015.

[Foto à esquerda: na inauguração de uma nova escola em Nova Lamego, na qual a Adelaide foi a menina branca a pegar na fita, segura do outro lado por uma menina preta, que se vê perto de dela, para o gen António Spínola cortar]

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