quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17012: Facebook...ando (44): Quem não chora não mama e, para a tosse, um chazinho de cascas de cebola com limão, adoçado com um pouco de mel (Manuel Luís R. Sousa)

Vila do Conde
Com a devida vénia ao autor do desenho


1. Publicado no facebook pelo nosso camarada Manuel Luís R. Sousa, Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma, (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4512/72, Jumbembem, 1972/74), este texto com delicioso humor, só não nos conta se o petiz levou a sua avante, já que o ditado diz que quem não chora não mama. Quanto à tosse do nosso camarada Manuel Luís, nem com chá de cascas de cebola com limão, adoçado com mel, passava. O remédio era mesmo rir.


Quem não chora não mama e, para a tosse, um chazinho de cascas de cebola com limão, adoçado com um pouco de mel

E eu tossia.., tossia..., tossia... E que tosse!...
Não se preocupem, amigos, não apanhei nenhum resfriado ou constipação. A minha tosse era outra.

Todos nós conhecemos aqueles vocábulos de uma só palavra começados por "c" de cão e por "f" de facebook, que todos nós, do leigo ao intelectual, uns mais do que outros, como expressão libertadora, nas mais diversas circunstâncias, somos forçados a utilizá-los. No fundo, eles traduzem o que nos vai na alma num dado momento:
- De dor, quando o martelo que utilizamos falha a cabeça do prego e nos vai fazer mossa na mão que o segura, deixando-nos ali, de cara feia, a sacudir as falanges, falanginhas e falangetas, a ensaiar uns bons acordes de cavaquinho ou bandolim;
- De impaciência, quando estamos com pressa e a fila de trânsito que está à nossa frente teima em continuar parada e, como se isso não bastasse, o que vem atrás ainda nos azucrina com umas buzinadelas;
- De admiração, quando damos conta de que à nossa frente segue um elegante e "taquetaqueante" par de sapatos, normalmente de salto alto, ou até um bom par te ténis, que transportam uma escultural obra d'arte da natureza, de contornos curvilíneos, provocante e tentadora;
- De nervos, quando com um monte de embrulhos encastelados num dos braços até ao queixo, procuramos as chaves com a outra mão e não as encontramos no bolso desse lado, confirmando-se a teoria da irritante lei de Murphy;
- De stress e angústia, quando abrimos uma carta das finanças a massacrar-nos o "seixo" de que temos de pagar o IMI ou o imposto do monte de sucata com rodas que utilizamos no nosso transporte, entre outros, ou deparamos com uns cortes no vencimento ou na reforma, à Passos Coelho, ou até, como a perseguir-nos, esta abominável figura, depois de tudo o que fez, teima em aparecer no ecrã da televisão.

Enfim, muitos outros casos poderia aqui enumerar em que utilizamos estas reparadoras palavras, que contribuem, tantas vezes, para porem o nosso ego em alta.
Há outros vocábulos, similares, com mais palavras, com a mesma função terapêutica, que, aliás, bem conheceis. Porém, nem sempre exteriorizamos estes desabafos, guardando-os só para nós, dependendo sempre do lugar em que estamos, como manda a boa educação, como, por exemplo, quando nos fixamos naquele elegante par de sapatos a que me referi, orgulhoso por aquela escultura que transporta. Aquela do martelo que falha o prego, é difícil, quase impossível, segurá-la. Sai espontaneamente e a alta velocidade.

Há uns anos, durante alguns dias seguidos, utilizava como transporte, em direcção ao Porto, e vice-versa, o comboio da linha da Póvoa, recentemente substituído pelo metro do Porto. Entrava todos os dias aqui na estação de Árvore, Vila do Conde, por volta das sete e meia, acabando por verificar, dia após dia, que, àquela hora, naquela carruagem, os passageiros eram quase sempre os mesmos. Naquela rotina diária, e durante cerca de uma hora, até chegar ao Porto, assistia àquele ambiente que me envolvia na carruagem: grupos de companheiros de trabalho, quatro a quatro a disputarem umas boas partidas de sueca para matarem o tempo; outros desfolhavam o jornal a actualizarem-se nas últimas notícias; os estudantes, de semblante ensonado, reviam a matéria, abrindo os "canhenhos"; outros, pura e simplesmente, passavam pelas brasas, e depois o grosso dos passageiros discutia os temas em voga da actualidade. Hoje, inevitavelmente, esses temas passariam pelos vistosos golos do Cristiano Ronaldo, de levantar o estádio, no país de nuestros hermanos, e das bolas de ouro que ele monopoliza e chuta para o museu da Madeira; o calvário de Jesus lá para os lados de Alvalade; os avanços do recém-eleito Donald Trump no país do "Tio Sam", em relação às mulheres; e, por último, entre tantos outros do quotidiano, ainda bem fresquinho, o caso da TSU, a bola que o governo e a oposição jogam lá para os lados de S. Bento, a verem quem é que chuta mais alto até bater na abóbada do hemiciclo, porventura a fazer estragos nos pendentes lustres de cristal da chamada casa da democracia.

Num desses dias, ali pela estação de Mindelo ou Vilar do Pinheiro, fora da rotina habitual das pessoas que ali tomavam o transporte àquela hora, entrou uma jovem mãe com duas crianças de tenra idade. Com uma ao colo, aparentemente, de meia dúzia de meses, e outra pela mão, mais crescidinha, mas, seguramente, com menos de dois anos de idade. Porque os lugares iam todos ocupados naquele ponto do trajecto, foi-lhe cedido então um deles. Acomodados mãe e filhos, a progenitora, naquele sublime gesto materno, expôs o peito, no busto desabotoado, para amamentar o rebento mais novinho, enquanto o outro, traquina, ia brincando ali entre outros passageiros e a encavalitar-se na janela do comboio.
Momentos depois, por entre aquela teia das conversas que se cruzavam no espaço da carruagem que me chegavam aos ouvidos, os meus sentidos centraram-se na voz meiga do petiz mais velho, com dificuldade ainda em articular as palavras, mas que eu percebi muito bem, que decidiu reclamar, de forma insistente, a sua parte da mama a que o mais novinho continuava colado:
- Mãe, quero mama..., mãe, quero mama..., mãe, quero mama...

Perante a persistência tenaz do petiz, que não estava disposto a desistir do seu quinhão do leite materno perante a aparente indiferença da mãe, esta "passou-se dos carretos", puxou a culatra atrás e disparou:
- Queres mamar?..., vai mamar ao caralho..., foooda-se, ainda há pouco mamaste...

Perante esta atitude, podemos ter o preconceito de que aquela mãe "não batia bem da bola", que "era passada dos carretos", que "tinha uns parafusos a menos". Quem sou eu para a criticar por utilizar as ditas palavras "libertadoras" de que eu falava no início ainda encriptadas, e que ela aqui, a facilitar-me a vida em escancará-las neste texto, descodificou muito bem, alto e bom som, num português bem claro, desconhecendo-se o que estava por detrás de tudo aquilo. Eventualmente muitas dificuldades económicas ou outras, atenta, pelo aspecto, a sua condição humilde, com aqueles dois filhos tão pequeninos, quiçá o motivo principal das suas preocupações, por não ter o que lhes dar de comer, além das escassas gotas de leite que lhe brotavam do peito. Foi isso o que deixou transparecer.

Estas palavras de tal modo fizeram eco pela carruagem que toda a gente interrompeu as suas conversas e os jogos das cartas, tocada por este pungente quadro, não fizessem parte dele aquelas duas inocentes crianças, ficando tudo, momentaneamente, em silêncio, sem tecer qualquer espécie de censura. Chocado também pelo sucedido, ali, no meu lugar, instantes depois, verifiquei que tudo voltou ao normal.

Volvidos alguns momentos, ao "rebobinar" todo aquele filme, relembrando como aquelas palavras foram disparadas e, à velocidade da luz, como elas fizeram ricochete ali por todo o interior da carruagem, que puseram todos os presentes em sentido, e como somos, muitas vezes, tentados a rir também de coisas más, fui acometido de um ataque de riso que mal me podia conter. Que mau!...
- Vá lá, Manel, aguenta-te, não te desmanches. Não me vais agora deixar mal perante esta gente. Reprimia-me a mim próprio, ciente de que iria ser censurado por todos, que se mantiveram sempre naquela postura séria. Quanto mais o fazia, mais a besta me atacava, acabando por não resistir e rir alarvemente, dissimulando esta minha fraqueza através de um ataque de tosse convulsa fingida.

Mais uma e outra vez, e eu, desesperado, só já queria sair dali.
- Isso está muito mau..., faz muito bem um chazinho com casca de cebola e limão, adoçado com mel... Fez a observação e aconselhou uma senhora que estava a meu lado, compadecida comigo, pela maldita "tosse" que me atormentava.

Palavras que ela disse!... Ainda mais esta agora..., lamentava eu cá para mim. A tosse piorou. E a sua cura já lá não ia nem com o antibiótico de dose cavalar, quanto mais com a mezinha do chá.

Felizmente o comboio chegou ao fim da linha, à estação da Trindade, a porta abriu-se e eu, depois de agradecer, como pude, à senhora pela dica do chá, irrompi gare adiante a tentar libertar-me daquele colete de forças, e por ali fora, eu tossia..., tossia..., tossia..., não fossem os transeuntes chamar-me maluquinho por rir desalmadamente sozinho.

Aqueles meninos hoje, de certeza, que já não mamam, se o fizerem já será noutro contexto.
Só para dizer que já lá vão uns bons vinte e cinco anos desde que fiz aquela inesquecível viagem, o que não abona em nada o profissionalismo de um agente de autoridade minimamente responsável que, só hoje, passado todo este tempo, produziu este auto daquela ocorrência, correndo até o risco de vir ser acusado por "negação de justiça".

Para terminar, e já agora, lamento se porventura vos contagiei com o vírus da minha tosse. Se for o caso, sigam a dica daquela senhora: chá com casca de cebola e limão, adoçado com mel, nesta altura do ano, Janeiro de 2017, faz muito beeeem...

Só a mim é que isto acontece!...
E para que não fiquem dúvidas, vou assinar:
Manuel Sousa

OBS:- Título do poste da responsabilidade do editor
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 Nota do editor

Último poste da série de 1 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16904: Facebook...ando (43): Brindando ao futuro (Paulo e Conceição Salgado)

Guiné 61/74 - P17011: Os nossos seres, saberes e lazeres (197): Pelos caminhos de Trancoso até chegar a Foz Côa (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 15 de Setembro de 2016:


Queridos amigos,
Tratava-se de sair de Pedrógão Pequeno e viajar até aos castelos históricos da Beira Alta, primeira paragem em Trancoso para rever um grande amigo, a etapa seguinte era Foz Côa. Tudo na última semana de Julho de 2016, com temperaturas elevadíssimas e uma criança de 5 anos e meio a bordo, por sinal bem conformada.
Inesquecíveis castelos, inesquecível museu de Foz Côa, inesquecíveis trilhos do Alto Douro vinhateiro, com uma passagem muito feliz por esse esplêndido museu do Douro. E lá se apontou para o Porto, uma velha amizade, um antigo comandante da Guiné, fazia 90 anos, a família fez-lhe uma linda festa, almoçamos os dois e rememoramos, mais divertidos que agastados, aquelas ásperas experiências que tudo mudaram nas nossas vidas.

Um abraço do
Mário


Pelos caminhos de Trancoso até chegar a Foz Côa (2)

Beja Santos

A estadia em Foz Côa previa um passeio local, incluindo o Parque Arqueológico do Vale do Côa, o Castelo de Numão e de Freixo de Numão, o deslumbramento daquelas paisagens de montes pintados ou livros abertos e depois o Museu do Côa, remate antes da viagem até à Régua, a travessia do Douro, depois a cidade do Porto. A meteorologia alterou tudo, era um calor incendiário que nem a uma garrafa de litro e meio de água na mão de cada um apaziguava. Havia que tomar decisões, escolheu-se o Museu do Côa, ganhámos todos.



Viaja-se por uma paisagem árida, aterra-se num parque de estacionamento em frente a uma construção monumental, um bloco de linhas puras com uma frecha por onde o viajante entra e sai, faz parte de uma inserção paisagística a todos os títulos impressionante. O que aqui viemos visitar é o cadinho museológico e museográfico da arte rupestre do paleolítico superior que uns senhores da UNESCO exararam em acta: “A arte do vale do Côa é uma ilustração excecional do desenvolvimento repentino do génio criador, na alvorada do desenvolvimento cultural humano”. Aqui estamos, para exultar esse primeiro antepassado da humanidade".



Tem o viajante sido cumulado de benefícios espirituais em diferentes museus onde assenta os pés. Para que conste, este é um assombro que enche de orgulho a alma portuguesa. Tudo bem organizado em salas, gigantes, cavernosas, como se andássemos nas ramificações do parque, talvez mesmo na Canada do Inferno. Na sala que funciona como apresentação, somos informados das principais localizações desta arte no Côa, temos aqui o itinerário de 25 mil anos de iniciação estética.



O viajante obtém imensa informação, às vezes pensa que entrou num romance de ficção científica, fala-se da evolução do planeta Terra e da especificidade destes vales protegidos do Côa onde habitaram grandes herbívoros, auroques e cavalos, dão-se explicações para esta arte paleolítica, depois mergulhamos num género de santuário, assistimos a projeções de conjuntos magníficos entre a Penascosa e a Quinta da Barca, fazem-se comentários e a gente apreende: a invenção do movimento numa única figura; a sobreposição intencional de figuras, temos à vista réplicas, caso da cabra pirenaica com duas cabeças, aqui e acolá vemos placas de pedra decoradas com finas incisões de animais e até temos possibilidade de vermos indicados na Península Ibérica outros lugares aparentados, mas nada com este volume e com tanta direções da inspiração deste senhor, o tal primeiro antepassado da humanidade.


Tudo isto é uma história interminável, se estamos no paleolítico superior com milhares de manifestações daqui caminhamos para a Arte Pós-paleolítica, é uma caminhada até à arte das sociedades guerreiras da Idade do Ferro


Nem tudo fica dilucidado, há mistérios que enxameiam tudo este período da pré-história. E assim se acaba numa sala onde se celebra uma arte sem tempo. Por convite do museu do Côa, Alberto Carneiro expõe aqui uma escultura que se desenvolve como uma mandala sobre um castanheiro e cujos quadrantes correspondem a relações entre Arte-Vida/Natureza-Cultura. Sai-se do museu do Côa não às arrecuas mas impantes de orgulho como fazemos bem a preservação deste património mundial. Inesquecível.



De Foz Côa desce-se ao Pocinho, vamos apanhar o comboio para Peso da Régua, viagem deslumbrante, em paralelo com as sinuosidades do Douro, não fosse este calor sem trambelho e até se captaria umas imagens, optou-se por guardar na retina os socalcos, as reentrâncias, as penedias e penhascos. Chegou-se a Peso da Régua e até o chão fervia, lá se encontrou um tasco com refrigério, deu gosto ver a Benedita a derrubar a vitela estufada. E seguimos para o museu do Douro, outro relicário com muitas perdas preciosas. Não conheço maior hino à alegria da saga vinhateira do que esta mostra, exibem-se usos e costumes, as fainas de todo o ano, há fotografias comoventes de trabalhos épicos para que aquele vinho viaje para todas as partidas do mundo. Abençoada a ideia de aqui vir. É museu moderno que conserva os diferentes materiais desta economia, desta sociedade, desta cultura. E a loja do museu satisfaz o curioso mais exigente, parece que convocaram tudo o que de essencial tem sido escrito e publicado sobre o Douro.
A viagem prossegue, é um regresso até ao Pocinho, depois há que acalmar a fome, descansar e amanhã retomar a viagem, ver mais montes pintados e avançar garbosamente para a Invicta. Depois o viajante separa-se da sua comitiva, vai participar na festa de um seu antigo comandante na Guiné que festeja 90 anos. Outro dia memorável, e à noite regressa-se a Lisboa.
Até à próxima!
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16985: Os nossos seres, saberes e lazeres (196): Pelos caminhos de Trancoso até chegar a Foz Côa (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17010: Manuscrito(s) (Luís Graça) (111): O editor do blogue, artesão da palavra e da imagem, autor desta série, jubilou-se no dia 29 de janeiro de 2017, de tudo, exceto da vida, do amor, da amizade, da camaradagem... (Parte II)



Obrigado, a todos/as



por  Luís Graça (texto e fotos)



Tirando os narcísicos,
ninguém gosta de falar de si,
mas eu tenho a obrigação de dizer duas palavrinhas,
a quem teve a gentileza de me dar os parabéns
ao passar ao km 70 da minha autoestrada da vida.
Não só por educação, 
como sobretudo por amor, amizade ou camaradagem.


Todos gostam e não gostam de fazer anos.
No dia dos anos,
somos alvo de atenções, mimados, apaparicados, infantilizados,
voltamos a ser meninos…
Em contrapartida, é mais uma folha do calendário da vida
que, física e simbolicamente, arrancamos…
Setenta anos não é só um número redondo,
tem implicações na vida dos  aniversariantes, ou dos passantes.
O mais vulgar comentário que se ouve,
ao passar ao quilómetro 70, é:
“Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida”…





Diz a bioestatística 
que os felizardos, homens, com 70 anos,
a viver nesta parte do hemisfério norte,
têm ainda uns bons aninhos à sua frente…
Em Portugal, em 2014, a esperança média de vida, aos 65 anos,
era então de 17,3 e 20,7 anos,
para os homens e para as mulheres respetivamente…
Como a minha mulher, a "Chita",
é um pouco mais velha do que eu,
se as contas estiverem bem feitas,
podemos comprar o bilhete juntos,
para irmos juntos no barco de Caronte,
o tal que atravessa o rio na viagem sem regresso…
(Há uma exceção: os deuses e os heróis,
os tais que, não sendo deuses, são mais do que homens, 
podem comprar bilhete de ida e volta…)


A desvantagem de se fazer 70 anos 
é pensarmos mais vezes
no raio da viagem…
a que ninguém escapa.
Mas mais do que a morte física, é a "morte social"
que pode afligir quem faz 70 anos e se jubila…
A primeira vez que ouvi o termo, "morte social",
foi da boca de um saudoso amigo, psiquiatra,
meu companheiro da saúde pública, João Sennfelft.
A reforma é, para muitos, também a perda de estatuto,
de referências, de colegas de trabalho,
e sobretudo de trabalho. 
Em contrapartida, ganha-se a ilusão 
de se ser dono do tempo, 
das 24 hora do dia
a que se resume a nossa vida,
já que somos seres circadianos.
Na realidade, estamos a envelhecer
desde que nascemos: 
o relógio biológico está em nós, 
foi o que nos coube na lotaria genética,
já ao "relógio social", a esse, ainda lhe podemos dar alguma corda...








A minha querida Chita queixa-se 
de que está há 10 anos
à espera de mim…
para dar a volta ao mundo,
no tempo que nos resta.
Vamos lá a ver se o mundo, em contrapartida, 
não nos prega a partida
de fechar as portas aos “globetrotters”,
agora que os muros estão de volta,
para tentar travar, em vão, a globalização,
começada pelos portugueses há cerca de 600 anos…


Aos 70 anos os professores jubilam-se…
e vão para casa
(, tirando os heróis, que esses vão para o Olimpo).
Estranha ironia, a da origem etimológica da palavra:
Jubilar (-se) significa encher(-se) de júbilo ou de grande alegria.
Palavra que vem do latim “jubilaeus, jubilaei”, 
o ano do jubileu judaico...
E que era o jubileu entre os antigos hebreus ?
Era a remissão de servidão e e o perdão das dívidas,
que ocorria de 50 em 50 anos,
numa época em que a esperança média de vida deveria ser de 30,
na melhor das hipóteses.
Em suma, ao fim de 50 anos, eu deixava de ser escravo ou servo
e passava a ser um homem livre.
E, no caso de ainda estar endividado,
o usurário perdoava-me o resto da dívida e dos juros...
(Era bom que isto também se pudesse aplicar aos países, 
esmagados com a dívida pública...).


Por extensão, jubileu quer dizer: 
(i) quinquagésimo aniversário;
(ii) aniversário solene;
(iii) grande período de tempo;
e, entre os católicos, a (iv) indulgência plenária concedida pelo papa
em épocas fixas, e sob certas condições.



Querida Chita,
meus queridos filhos, 
meus irmãos, 
meus amigos, 
meus colegas,
meus camaradas:
reformado, jubilado, passo a estar perdoado,
de todos os meus pecados,
exceto do pecado original
de que carregarei a culpa, por toda a vida,
sendo também eu filho de Adão e Eva…
Jubilado, estou perdoado:
se fui mau pai ou amante, 
mau professor ou colega,
mau amigo ou camarada...
não me voltem, por favor, a relembrar o passado,
o meu cadastro hoje está limpo
e de certo modo posso pensar em começar
um outra vida, uma nova vida…
Por isso falamos hoje, na saúde pública,
no envelhecimento saudável,
e, mais do que ativo, proativo, produtivo…


Na véspera de fazer 70 anos,
podia dizer, com humor e propriedade,
que era o último dia da minha vida… profissional.
Hoje, jubilado, liberto do ónus da profissão,
posso descobrir que há mais vida
para além do que fazemos por obrigação
(e, nalguns casos, com satisfação)
que é trabalhar…
Se virmos a reforma por este prisma,
por esta janela larga (para outros, porta estreita),
então diremos que ela  é mais um tempo de oportunidade(s),
que não podemos desperdiçar…






Não basta dizer que passamos a ter mais tempo,
pelo contrário temos que aprender a saborear o tempo,
que é o único recurso que os seres humanos
não podem poupar, guardar, amealhar, mercantilizar…
Era bom que houvesse um disciplina de economia do tempo,
a par da economia da saúde,
para a gente, individual e socialmente, 
podermos dar mais valor ao único recurso que conta,
para quem, como nós, somos sermos finitos:
isto é, estamos aqui a prazo, 
e esta "terra da alegria", como diz o meu poeta Ruy Belo,
este planeta que habitamos,  não é nosso,
pertence aos nossos filhos e netos.


Aos 70 podemos acho que ganhamos o privilégio de poder dizer, 
como os velhos edonistas da antiguidade,
“carpe diem”, 
goza os dias…
Ora,  uma das coisas de que gosto, é, seguramente, escrever…
pois prometo escrever mais e melhor.
Gosto da vida... e das coisas boas da vida, 
pois prometo continuar a viver, e a gostar de viver,
e a transportar o fogo sagrado da vida...
Seguramente com outra filosofia de vida,
em que importa mais o ser do que o ter...
Prometo, enfim,  continuar a amar,
e a  tê-los/as, a vocês todos/as, no meu coração.



Não, não precisa, felizmente, 
de obras de remodelação e ampliação
este coração que ainda bate forte: 
tem assoalhadas para todos vocês,
meus amores, meus amigos, meus camaradas...
Está aberto para quem mais quiser entrar…


Last but not the least,
por fim e não menos importante,
deixem-me dizer-vos 
que a gratidão é das coisas mais belas no ser humano. 
E eu estou-vos grato,
comovidamente grato,
pelo amor, amizade, companheirismo 
que me têm manifestado
ao longo da minha vida,
nos bons e nos maus momentos da vida…








PS1 - Para os meus bravos camaradas de guerra,
permito-me acrescentar:
até ao fim da picada,
até ao quilómetro 100,
é sempre em frente,
só é preciso é ter  cuidado 
com as p... das minas e armadilhas da vida!


PS2 - Caros/as amigos/as da saúde pública:


No dia 29 de janeiro, atingi o km 70 km da minha autoestrada da vida...  Quiseram-me fazer uma festinha (a família e alguns amigos no próprio dia; uma boa parte de vocês, ontem, dia 31). Foi uma agradável surpresa, e eu fiquei feliz pela vossa manifestação de carinho e de amizade (, que é a melhor prenda que alguém me pode dar).


Do ponto de vista legal, deixo, a partir de agora, de ter um vínculo (laboral) à Escola, mas o mais importante é o património de memórias e de afetos que trago comigo (e que também fica convosco)... Sem nunca esquecer a missão principal dessa Escola, que é a de formar gente e produzir conhecimento no campo da arte e da ciência da saúde pública, permito-me chamar a atenção para aquilo que é (ou deve ser) o nosso traço de distinção na universidade: a educação (tal como a saúde) é uma coatividade relacional... E por isso que gostamos dizer: as pessoas, em primeiro lugar...


Um dia, um qualquer "Big Brother" vai ter a tentação (totalitária) de nos substituir por robôs, ou máquinas superinteligentes, a nós, professores, médicos, enfermeiros, e outros terapeutas... Quiçá mesmo, aos políticos, aos gestores, aos decisores, aos economistas... Nesse cenário (bastante verosímil), só restará fazer apelo à nossa condição de "homo sapiens sapiens" e lembrar-nos que só fomos bem sucedidos, enquanto espécie, porque tínhamos (temos tido) a enorme capacidade de aprender e sobretudo de aprender uns com os outros... Somos animais, primatas, terrivelmente territoriais e predadores, mas também, e sobretudo, sociais...

Não é um adeus, é um "até já"... Com um pé dentro e outro fora, continuaremos juntos a lutar para que a saúde pública não perca o "suplemento de alma" que faz toda a diferença.... Foi também a pensar em pessoas como vocês, mulheres e homens da saúde pública, generosos e talentosos, que me ajudaram a ser um melhor ser humano, que eu escrevi e publiquei, neste blogue, este texto singelo: "Obrigado, a todos/as". 

Luís Graça

Adapt. das palavras que disse em duas festinhas 
em que tive de apagar o bolo dos 70,
Hotel do Vimeiro, 29 de janeiro de 2017 / ENSP/NOVA, 31 de janeiro de 2017

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Nota do editor:

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P17009: Agenda cultural (539): Lançamento do livro "A Colonização Portuguesa da Guiné", do prof João Freire, sociólogo (Lisboa, Comissão Cultural de Marinha, 2017), em Belém, na Biblioteca Central da Marinha, no próximo dia 8, 4ª feira, às 18h



Capa e contracapa do livro do prof João Freire A Colonização Portuguesa da Guiné, edição da Comissão Cultural de Marinha, 2017.


1. Convite


No próximo dia 8 (4ª Feira) às 18h, terá lugar em Belém a sessão de lançamento do meu livro A Colonização Portuguesa da Guiné, pela Comissão Cultural de Marinha.

Serão apresentadores da obra o comandante Luís Costa Correia e o antropólogo Eduardo Costa Dias, professor do ISCTE-IUL.

Teria gosto e honra na vossa presença.

João Freire


2. Nota do editor

Comissão Cultural da Marinha, com sede em Belém, Lisboa,  tem página no Facebook

Notas sobre autor:

João [Carlos de Oliveira  Moreira] Freire

A, História administrativa/biográfica/familiar

João Freire, nasceu a 5 de novembro de 1942, emLisboa;  por influência familiar, mas também por escolha própria, entrou para o Colégio Militar de Lisboa, onde permaneceu como interno por sete anos.

Em 1960 entrou na Escola Naval. Guarda -marinha (da nova reforma) em 1964, aperfeiçoando-se em artilharia, onde foi oficial de guarnição no N.R.P "SAGRES", "CORTE REAL", "FAIAL", e "ÁLVARES CABRAL (Moçambique, 1966-1968)", expulso por deserção em 1968.

Amnistiado e passado à Reserva em 1974. Operário industrial metalúrgico entre 1970 e 1976 em França. Carreira universitária em Portugal. no ISCTE.

Em 1988 fez o Doutoramento em Sociologia, agregado, pelo ISCTE (1994). Domínio científico: sociologia (especialidade de sociologia do trabalho).

Publicou, entre outros livros; Anarquistas e Operários (1992), Sociologia do Trabalho: Uma Introdução (1993 e 2002), Homens em Fundo Azul Marinho (2003), Pessoa Comum no seu Tempo (2007), Economia e Sociedade (2008), A Marinha e o Poder Político em Portugal (2010), Moçambique Há Um Século Visto pelos Colonizadores (2009, compil.), Elementos de Cultura Militar (2011), Olhares Europeus sobre Angola (2011, compil.), Do Controlo do Mar ao Controlo da Terra (2013), Crónicas de um Tempo Sombrio (2013), Portugal Face à Guerra em 1914-1915 (2014), Sociologia do Trabalho: Um Aprofundamento (2014, com R. Rego e C. Rodrigues), Crónicas Desassom 2bradas e Ensaios Sócio-Lógicos (2015) e A Colonização Portuguesa da Guiné 1880-1960 (2017).


B. Outras Actividades


Campeão nacional de esgrima em 1965 e representante português nas Universidades de 1961, 1963 e 1965, e nos Campeonatos do mundo de 1965 e da Europa (veteranos) em 2008.

Fundador e director da Revista "A Ideia", 1974, co-fundador da secção portuguesa da Amnistia Internacional em 1981. Sócio correspondente do Clube Militar Naval (proposto por 32 sócios e aprovado por unanimidade e aclamação em assembleia geral realizada a 27 de Fevereiro de 2004). Mais de vinte livros e perto de centena e meia de artigos publicados em revistas científicas.

C. Prémios, Louvores e Condecorações:

- 1 louvor militar (Moçambique, 1966);

- 1º Prémio do 1º Certamen Internacional del Ateneu Enciclopedic Popular de Barcelona em 1983;

- Professor emérito do ISCTE (IUL) em 2008.

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Guiné 61/74 - P17008: Efemérides (243): Acontecimentos no mês de Janeiro, entre 1963 e 1974, na Guiné (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)



1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 30 de Janeiro de 2017:

Camarigos,
Neste Janeiro de 2017, recordemos

OS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS DE OUTROS JANEIROS, no Comando Territorial Independente da Guiné:

Em Janeiro de 1960 Amílcar Cabral abandona definitivamente Lisboa para encabeçar a luta de libertação nacional da Guiné.

1963.01.09 - Inauguração, no Centro Nacional de Transmissões, em Lisboa, da ligação pela rádio e teleimpressor com os Serviços Militares da Guiné.

1963.01.23 - Início da luta armada na Guiné, com um ataque ao quartel de Tite, no Sul da Guiné, pelo PAIGC.

1964.01.05 - Ataque do PAIGC a Mansabá, no Morés, com implantação de minas na estrada Mansabá-Mansoa, uma das quais foi accionada por uma autometralhadora Fox.

1964.01.14 - Início da Operação Tridente na ilha de Como, no Sul da Guiné, que se prolonga por mais de dois meses. Nesta operação, que durou 71 dias, Portugal mobilizou cerca de 1200 homens, do Exército, Marinha e Força Aérea.

1964.01.28 - O PAIGC implanta minas na estrada Mansabá-Bissorã e na estrada Bissorã-Olossato.

1965.01.01 - Primeira emissão de uma Emissora de Rádio do PAIGC. O PAIGC dispunha da Rádio Libertação, que era a emissora do partido e, a nível internacional, dispunha do apoio da Rádio Conacri, Rádio Pequim, Rádio Praga, Rádio Gana e Rádio Cairo, que emitiam várias horas em português.

1966.01.03 - Amílcar Cabral teve diversos encontros com Fidel Castro em Havana. Foi a partir desta data que se iniciou a ajuda cubana ao PAIGC, fornecendo assessoria militar e ajuda médica.

1966.01.04 - Criação do Serviço Postal Militar, através do Decreto-Lei n.º 46 826, constituído por um número com quatro algarismos. O oito (- - - 8) era o último número atribuído ao CTI da Guiné.

1966.01.22 - Ataque de guerrilheiros do PAIGC a Fulacunda, Sul de Bissau, apoiado com morteiros 82 mm e foguetes de 122 mm, causando 13 feridos.

1968.01.03 - A PIDE referia nos seus relatórios desinteligências graves entre Amílcar Cabral e Malam Sanhá, Mamadu Djassi e Oto, que se tinham recolhido a Conacri. A acusação que faziam a Cabral era a do favorecimento aos cabo-verdianos.

1968.01.10 - Ataque simultâneo do PAIGC à Lancha de Fiscalização Grande (LDG) Hydra e ao quartel de Cacine no rio Cacheu.

1968.01.11 - Emboscada a uma coluna portuguesa na estrada Guileje-Gadamael-Porto causando um morto e oito feridos à força portuguesa.

1968.01.24 - Ataque do PAIGC a aviões T-6 e Fiat G-91 com metralhadora antiaérea na região de Cafal Balanta – Cantanhez-Sul.

1968.01.31 - Ataque do PAIGC ao quartel de Buba, no Sul, provocando sete feridos e grandes destruições. O ataque foi acompanhado pelo capitão cubano Peralta. Este seria capturado em 16.11.1969  no corredor de Guileje por forças Paraquedistas, durante a operação Jove.

1969.01.21 - Operação Grande Colheita na zona de Bigene, nos “corredores” Talicó e Sambuiá.

1970.01.05 - Reunião entre o PAIGC e o Governo do Senegal para resolver a crise existente em Casamança.

1971.01.01 - O PAIGC entrega um cabo e três soldados desertores do Exército Português ao Crescente Vermelho da Argélia. O PAIGC encaminhava habitualmente os prisioneiros portugueses para Argel através do Crescente Vermelho.

1972.01.13 - Forças portuguesas capturaram duas rampas de foguetões do PAIGC, na região de Aldeia Formosa.

1972.01.24 - Golpe de mão de guerrilheiros do PAIGC, comandados por Queba Sambu, a Catió, fazendo prisioneiros dois militares portugueses.

1972.01.27 - Convite formal do PAIGC ao Conselho de Segurança da ONU para enviar uma delegação às “áreas libertadas da Guiné”.

1973.01.08 - Amílcar Cabral anunciou que o Estado da Guiné-Bissau seria proclamado em 1973. Esta promessa foi feita no final da mensagem de Ano Novo lida por Amílcar Cabral na rádio de Libertação, a emissora do PAIGC.

1973.01.20 - Assassínio de Amílcar Cabral, em Conacri.

1973.01.27 - Mensagem de exortação dos dirigentes do PAIGC aos combatentes, na sequência da morte de Amílcar Cabral, assinada por Aristides Pereira, Luís Cabral, Chico Mendes, Victor Saúde Maria, Silvino da Luz e Paulo Correia.

1973.01.28 – Continuação da reocupação do Cantanhez.

1974.01.01 - Fim da Operação Galáxia Vermelha no Cantanhez, a primeira grande operação do comando de Bettencourt Rodrigues.

1974.01.03 - Flagelação do PAIGC a Canquelifá com mais de 100 foguetões de 122mm e 50 granadas de morteiro durante mais de 10 horas.

1974.01.06 - Ataque do PAIGC a Canquelifá com 50 foguetões de 122mm durante três horas e a Buruntuma durante 50 minutos com 30 foguetões de 122 mm.

1974.01.07 - Emboscada do PAIGC na estrada Bajocunda-Copá.

1974.01.07 - Operação Minotauro, na zona de Canquelifá, tendo uma força do recrutamento local interceptado um grupo do PAIGC com 50 elementos, causando-lhe 22 mortos confirmados.

1974.01.07 - Disparos de mísseis Strela contra dois aviões Fiat G-91 em Bedanda.

1974.01.08 – O PAIGC destruiu com cargas explosivas o pontão na estrada Pirada-Bajocunda sobre o rio Mael Jaube.

1974.01.09 – O PAIGC atacou com RPG e armas automáticas quatro helicópteros e um heli-canhão em operações na região de Canquelifá.

1974.01.20 - Ataques do PAIGC a várias guarnições militares no Sul da Guiné para celebrar o 1.º aniversário da morte de Amílcar Cabral.

1974.01.21 - Primeira acção do PAIGC na cidade de Bissau, com lançamento de engenhos explosivos contra autocarros da Força Aérea.

1974.01.26 – Assinatura de um contrato para fornecimento a Portugal de mísseis Antiaéreos Crotale, destinados à defesa antiaérea dos pontos sensíveis na Guiné.

1974.01.28 – O PAIGC lança dois engenhos explosivos num café de Bissau frequentado por militares portugueses.

1974.01.31 - Novo ataque do PAIGC a Canquelifá, próximo da fronteira do Senegal com 50 foguetões de 122mm durante duas horas. Um avião militar português Fiat G-91 foi abatido com um míssil Strela a sul de Canquelifá. O piloto ejectou-se e foi recuperado na povoação de Dunane no dia seguinte.

Fonte:  Os Anos da Guerra Colonial, 1961-1975, de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes (Quidnovi II, Matosinhos, 2010, 832 pp.).

Abraço
António Tavares
Foz do Douro, Domingo 29 de Janeiro de 2017
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16938: Efemérides (242): Homenagem a Vitor Manuel Parreira Caetano (Mário Pinto, ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)

Guiné 61/74 - P17007: Memória dos lugares (358): 85 tabancas, essencialmente fulas e mandingas, do Norte e do Leste, com água de fontenário e bombas solares (Patrício Ribeiro, Impar Lda, Bissau)


Guiné- Bissau > Região de Gabu > Canjadude ou Candjadude (*)


Guiné- Bissau > Região de Mansoa > Gã Mamudo (*)

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem de Patrício Ribeiro, que deve estar de abalada para a Guiné-Bissau, depois de terminados os festejos de Feliz Natal e Ano Novo, em Lisboa e em Águeda...

De: IMPAR Lda Energia <impar_bissau@hotmail.com>
Data: 31 de janeiro de 2017 às 00:33
Assunto: 85 Tabancas com água, com bombas solares.

Luís,

Conforme me solicitaste pelo Natal, junto duas listas das 85  tabancas da Guiné, que beneficiam de água canalizada e distribuída através de diversos fontenários, normalmente um por rua, ou bairro (**).

Estes nossos trabalhos da montagem e reparações das bombas fotovoltaicas, decorreram no tempo seco, de novembro de 2015  até julho de 2016.

Levámos durante estes meses, diariamente com muito pó e,  no final,  muita lama. Em que percorremos 12 horas de viaturas todo o terreno, por dia...  Enfim, foi foram muitos milhares de quilómetros. Tirámos algumas centenas de fotos dos nossos trabalhos.

Vivemos,  neste período, com a população destas diversas tabancas que essencialmente são Fulas e Mandingas, são estes os maiores beneficiários destes sistemas de abastecimento de água.

São zonas muito secas, em que quase não há floresta,  que foi queimada, mas sim plantações de cajueiros por todo o lado, que praticamente é o sustento da população Mandinga.

Os Fulas ainda continuam a ter muitas vacas e a pastorear. Por este motivo, são obrigados a preservar alguns matos sem caju, para as "limárias" terem capim para comer, já que debaixo dos cajueiros nada se reproduz.

As tabancas,   nos últimos 8 anos, desde que por lá andamos, tiveram um grande aumento de população. São milhares de crianças, que agora tem água para beber, cozinhar e lavar o corpo.

Quase todas estas tabancas  têm novas mesquitas, que estão a ser financiadas por países árabes.

Abraço
Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Guiné Bissau
Tel,00245 966623168 / 955290250
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com
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Notas do editor:

(*) Último poste da série >  18 de janeiro de  2017 >  Guiné 61/74 - P16966: Memória dos lugares (357): Ilha de Orango, uma pérola do arquipélago dos Bijagós, num dos sítios mais ameaçados do mundo, devido às alterações climáticas (Foto e legendas: Patrício Ribeiro, Bissau)

(**) Anexos:

Lista, por região e sector, das tabancas (n=60) que beneficiam  de água canalizada, graças à energia solar (Fonte: Impar Lda)



Nr Nome RegiÃo Sector
1 Amedalai GABU PIRADA
2 Anambe BAFATA BAFATA
3 Badjucunda GABU PIRADA
4 Bafatá Oio OIO FARIM
5 Bagingara BAFATA CONTUBOEL
6 Bangacia BAFATA GALOMARO
7 Biribam OIO FARIM
8 Bricama BAFATA BAFATA
9 Cabelé GABU SONACO
10 Cambesse BAFATA XITOLE
11 Camboré GABU PITCHE
12 Campaté BAFATA GALOMARO
13 Cancubanhe BAFATA CONTUBOEL
14 Candama BAFATA XITOLE
15 Candemba Uri BAFATA BAFATA
16 Canhanque GABU GABU
17 Canquenha BAFATA CONTUBOEL
18 Cansamandje BAFATA XITOLE
19 Cansamba BAFATA GALOMARO
20 Cansonco BAFATA XITOLE
21 Carabina BAFATA BAFATA
22 Carantaba BAFATA CONTUBOEL
23 Caridade BAFATA CONTUBOEL
24 Caurba OIO FARIM
25 Cobeto BAFATA CONTUBOEL
26 Colibuia TOMBALI QUEBO
27 Cumbidja TOMBALI QUEBO
28 Dara GABU PITCHE
29 Deba BAFATA GALOMARO
30 Demba Tacoba BAFATA BAMBADINCA
31 Djaima GABU PITCHE
32 Djamboro GABU PITCHE
33 Fajonquito BAFATA CONTUBOEL
34 Fataco Mandinga BAFATA CONTUBOEL
35 Gã Garnês BAFATA BAMBADINCA
36 Gã Turé BAFATA BAMBADINCA
37 Galugada Mandinga BAFATA CONTUBOEL
38 Ginane BAFATA CONTUBOEL
39 Guidadje OIO FARIM
40 Irabato OIO FARIM
41 Lenqueto BAFATA CONTUBOEL
42 Lenqueto I GABU SONACO
43 Madina Fali BAFATA GALOMARO
44 Mampatá Corubali BAFATA XITOLE
45 Mampatá Forea TOMBALI QUEBO
46 Mansaine BAFATA GA MAMUDO
47 Mansidi BAFATA GA MAMUDO
48 Missira BAFATA GA MAMUDO
49 Norbantam Mandinga OIO FARIM
50 Pacua BAFATA GA MAMUDO
51 Sado BAFATA GA MAMUDO
52 Sansancutoto OIO FARIM
53 Sare Bacar BAFATA CONTUBOEL
54 Sintchã Sama GABU PITCHE
55 Sumbundo BAFATA CONTUBOEL
56 Tantan Cossé BAFATA BAFATA
57 Tchumael BAFATA XITOLE
58 Tendinto BAFATA CONTUBOEL
59 Uacaba GABU SONACO
60 Ufoia Ura GABU PITCHE
61 Umaru Cossé BAFATA GALOMARO
  
Sistemas mais antigos reparados em 31.12.16



Lista das tabancas recentes (n=25) que beneficiam de água nos fontanários, abastecidos com bombas solares (Fonte: Impar Lda)



Nome da Tabanca Sector
Norte
1 Mansodé   Mansabá  
2 Manhau   Mansabá  
3 Gã Mamudo  Mansoa 
 4
Cuntima   Farim 
5
Fambanta   Farim 
6 Bricama  Farim 
7 Cussaraba   Farim  
8 Morés   Mansabá  
Leste 
9
Ponhé Maunde  Gabu 
10
Candjufa   Pirada 
11
Coiada   Gabú 
12
Madina Braima Sori  Sonaco 
13
Sintchã Botché  Pirada 
14
Fasse  Sonaco 
15
Pirada  Pirada 
16
Pitche  Pitche 
17
Buruntuma  Pitche
18
Bambadinca  Gabú 
19
Canquelifá   Pitche 
20
Padjama   Gabú 
21
Saucunda  Sonaco 
22
Mafanco  Sonaco                
23
Cuntuba   Bafatá 
24
Candjadude   Gabú 
25
Bonco  Bafata                  
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