terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17030: Estórias avulsas (87): Tudo começou a 9 de Janeiro de 1967 (Abel Santos, ex-Soldado Atirador Art.ª)

GACA 3 - Companhia de Instrução


1. Em mensagem do dia 2 de Fevereiro de 2017, o nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) fala-nos do seu começo nas fileiras no Exército Português.


Tudo começou a 9 de Janeiro de 1967 

A cidade de Espinho era detentora de uma unidade militar denominada Grupo de Artilharia Contra Aeronaves, (GACA3) unidade na qual me apresentei para começar a cumprir o serviço militar, ficando adstrito à 1.ª companhia.

Na minha passagem pelo GACA3, ficou na minha memória um episódio entre mim e um Tenente,  por uma suposta falta de respeito, segundo ele por não fazer a continência que lhe era devida, onde mostrou todo o "poder" dos galões que usava, obrigando-me a fazer flexões sobre uma poça de água, ficando eu todo encharcado, pois chovia imenso nesse dia, e sem farda para continuar a instrução já que tinha utilizado a outra durante a manhã, que estava molhada e a secar. O dito oficial ainda não estava satisfeito com o castigo aplicado e, vai daí cortou-me o fim-de-semana, o que me provocou uma certa revolta interior.

Mas, com atitude deste oficial, comecei a aprender o que era a imposição do serviço militar obrigatório e tudo o que lhe estava subjacente, porque queiramos ou não, havia oficiais naquela época que abusavam da patente para enxovalhar e espezinhar o seu semelhante, dando assim prazer ao seu ego.

 Abel Santos no GACA 3, é o terceiro a partir da direita na fila de baixo.

Abel Santos no RAP 2, é o primeiro à direita.

Passado o tempo de recruta, fui colocado no Regimento de Artilharia Pesada 2, ao tempo sediado em Vila Nova de Gaia, onde me apresentei a 28 de Abril de 1967, para me especializar em atirador, sendo colocado na 3.ª companhia - 3.º pelotão.

Durante o tempo passado no RAP2 analisei que as chefias tinham uma postura diferente em relação aos seus subordinados, em relação ao que se passou comigo no GACA3, talvez por serem milicianos, ou tinham mandado às malvas a educação nacionalista. O que sei, é que souberam reunir à sua volta aqueles rapazes incutindo nas suas mentes o sentido da amizade e solidariedade, construindo assim uma família de grande fervor castrense.

O Batalhão que estava a ser formado, do qual não me recordo do número, foi mobilizado para Angola, tendo eu ficado no RAP2, e adstrito à Companhia de Comandos e Serviços (CCS) até ser mobilizado para a Guiné. Apesar da instrução ministrada durante a especialidade ser dura, não dando tréguas ao pessoal, mas que aproveitei ao máximo, pois mais tarde usufrui dessa preparação na frente de combate.

No dia 20 de Junho de 1967 estando eu na formatura para o almoço, o comandante da CCS, Tenente Campos, convocou-me para uma reunião no seu gabinete pelas 14 horas, o que me levou a ficar desconfiado que algo se estava a passar, e coloquei a pergunta; estou mobilizado? Respondendo com um gesto de cabeça que sim, e após insistência minha me diz que o meu destino era a Guiné.

A cidade de Penafiel no distrito do Porto era ao tempo detentora de uma unidade militar denominada Regimento de Artilharia Ligeira n.º 5, (RAL5) na qual me apresentei, ido do RAP2, no dia 21 de Junho de 1967, sendo colocado na CART 1742 “ Os Panteras” sob o comando do saudoso capitão Álvaro Lereno Cohen.

 Antigo RAL 5 de Penafiel

Chegado a Penafiel, a CART já lá não se encontrava, estando a aguardar embarque no Regimento de Infantaria n.º 6 na cidade do Porto, para onde me dirigi, apresentando-me a 22 de Junho, sendo incorporado no 4.º grupo de combate - 3.ª secção do Alferes Magalhães.

Caros camaradas, assim foi o meu começo nas fileiras do Exército Português, ao qual ainda hoje me orgulho de ter pertencido.

Abel Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16643: Estórias avulsas (86): O velho problema da falta de meios nas Transmissões (José Luís Gonçalves, ex-Soldado Radiotelegrafista, 2ª CCAV/BCAV 8320/73, Olossato, 1974)

Guiné 61/74 - P17029: Estórias do Juvenal Amado (55): O Dia da Defesa Nacional



1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data de 2 de Fevereiro de 2017:

Meus caros,
Vamos misturando o passado com presente, salvo as devidas diferenças e vamos mesmo assim saboreando a vida.

Um abraço para todos
Juvenal Amado


ESTÓRIAS DO JUVENAL AMADO

55 - O DIA DA DEFESA NACIONAL

A minha neta telefonou-me a pedir se ia levá-la a Queluz, pois tinha que ir ao R.A. Antiaérea para estar presente no Dia de Defesa Nacional, que era obrigatório. Que chatice, pensaram os garotos e garotas por terem que ir gramar esta pastilha, ainda por cima num dia com aviso meteorológico amarelo a poder passar a laranja. Mas de que raio se haviam de lembrar eles?

Bem, quando lá chegámos vimos vários grupos dispersos, que com ar pouco animado esperavam pelas 9 horas da manhã, para assim ficarem a saber o que se ia passar.

A minha Luana ficou dentro do carro até ao último momento. Estava visivelmente enervada e dizia-me que não conhecia ali ninguém. Eu tentei sossegá-la dizendo-lhe que logo se ia sentir integrada entre aqueles rapazes e raparigas com ar de estudantes, roupas à moda, etc. Lembrei-lhe que quando foi para universidade também se tinha sentido assim, pois tinha ido para uma terra estranha, com colegas de casa que não conhecia e agora, dois anos depois, encara a aventura do Erasmo em terra de costumes e língua estranha .


Era impossível não me vir à memória e também acabei por lembrar o dia da minha inspecção.

Nasci na localidade de Fervença, porque a minha mãe tinha ido visitar a irmã e por isso fiquei para sempre ligado a uma terra e uma freguesia onde nunca vivi.
No dia da inspecção lá estava eu. Também não conhecia ninguém pois não tinha frequentado escola e embora alguns trabalhassem na mesma empresa que eu, não os conhecia, nem eles a mim.
Mas que diferença. Em 1969 os jovens na província eram duros, curtidos pelo o trabalho nos campos e nas fábricas, ou dos dois. Falavam com uma irreverência, ao verem-se nus, gozavam uns com os outros mau grado e mau olhado dos militares recrutadores, que faziam a parte que inspeccionavam alguém. Só cegos, ou sem uma perna, ou sem um braço eram rejeitados. Se tivessem outro problema escondido, a seu tempo ele viria a lume e se veria o que fazer.

Ainda tenho na memória a cena na Junta de Freguesia. Despíamos-nos numa sala e lá íamos em fila, todos como viemos ao mundo, uns mais tímidos, outros mais descarados, as bocas, os dichotes e as risadas sucediam-se.

Três militares já com alguma idade, tentavam impor a ordem ameaçando já com porradas, etc. Mas aquilo ainda eram frangos do campo e ia ser difícil metê-los na capoeira. Não perdíamos pela demora, pensavam os examinadores e com razão.

Na verdade, pese o problema da guerra, ninguém queria ficar livre, pela carga negativa que isso acarretava, pois ficar livre era ficar à parte, era ter qualquer coisa grave, enfim era uma grande porra.

O dia da inspecção era pois transformada numa grande festa, era chegar à idade adulta, éramos uns homens a partir dali. A farra durava até às tantas, com copos e uma visita à Espinheira, onde éramos acolhidos por umas senhoras “benfeitoras”, que aviavam a malta à vez, com a certeza que a GNR não aparecia nesses dias para estragar um “convívio” tão salutar.

Era de praxe e foi ali na fresquidão dos pinheiros e eucaliptos, em locais criteriosamente “seleccionados”, que muitos de nós tiramos as dúvidas que nos assaltavam noite e dia. Se era a direito ou atravessado!

Às 17 horas lá estava eu no largo fronteiro ao quartel, quando vi os nossos jovens participantes neste dia, a saírem ordeiramente em duas filas perfilando-se com a Bandeira Nacional à sua direita, para assistir ao arrear da dita, com toda a cerimónia, pompa e circunstância, que o momento impõe. Com grande pena minha, do facto não tenho fotos, pois esqueci-me do telemóvel. Seguidamente destroçaram até porque começava a chover muito.

Hoje levantei-me bem cedo pois andar na IC19 não fácil. Olhei pela janela e vi gaivotas a sobrevoarem os prédios construídos pelo J. Pimenta nesta enorme urbe que é a Reboleira há quase cinquenta anos. Tão longe do mar denota o mau tempo que se lá faz sentir. Também me fizeram vir à memória de quando elas poisaram nos mastros do Niassa, dois dias antes de chegar a Lisboa, mas nessa altura não era o mar revolto que elas anunciavam, eram notícias de boas-novas.

Quanto ao Dia da Defesa Nacional já no carro, disse-me ela que tinha sido uma seca e eu acredito.

Um abraço
JA
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16711: Estórias do Juvenal Amado (54): Aida, lembras-te de quando eu quis ir a Huelva?

Guiné 61/74 - P17028: Efemérides (244): Zeca Afonso (Aveiro, 1929 - Lisboa, 1987)... 30 anos depois... Lembro-me do ex-fur mil Aurélio Duarte, que era de Coimbra, ouvir músicas dele, proibidas, num gravador a pilhas, em cima da caserna dos soldados, em Paunca... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)


Guiné-Bissau > Região de Gabu >  Dezembro de 2015 >  Paunca> Antigo quartel... Agora funciona aqui uma... discoteca.

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]


Guiné > Região de Bafatá  > Contuboel > Centro de Instrução Militar >  1969 > Da direita para a esquerda: "Eu, o Macias, o Pais, o Abílio Pinto, o Aurélio Duarte... Saudades desta rapaziada"...

Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Nelas > Canas de Senhorim > 31 de maio de 2014 > 24º convívio da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) >  ​"Da esquerda para a direita, o Valdemar Queiroz, eu, e o Aurélio Duarte,  de Coimbra. Grande seita!".

Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Valdemar Queiroz, com data de 4 do corrente:

Assunto - Efemérides: Zeca Afonso (1929-1987), 30 anos depois

[ Foto à esquerda, Valdemar Queiroz , ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, 

[Vai fazer 30 anos que morreu, em 18 de fevereiro de 1987, o  Zeca Afonso.] Lembro-me de, em Paunca, uns dias antes de virmos para Bissau, eu e outros,  para regressar à metrópole, o ex-fur mil Aurélio Duarte, da nossa CArt 11, estar em cima da caserna dos soldados, a ouvir num gravador a pilhas músicas do Zeca Afonso, ainda com um braço ao peito, por o ter partido em Canquelifá, quando eu e ele, teimosamente e com um grande 'bioxene' nos queixos, resolvemos o problema de 'ver quem ganha' aos matrecos, mas de joelhos e sem ver o jogadores e chegar ao 'eu ganhei' com discussão, sozinhos, já de noite, em plena via principal, com um 'combate' de judo que eu ganhei por ele ser mais pesado e quando cai  partiu um braço.

O  Aurélio Duarte, de Coimbra, era o que tinha os discos do Zeca, Fanhais e Adriano. Ainda me lembro de ouvirmos, com frequência: 'e os mortos apontam em frente, mais flores, mais flores', ou ' nunca mais acenderás no meu o teu cigarro'.

O Aurélio Duarte fez parte da Secção de Quarteis, parece que era assim que esse chamava, ele mais um oficial partiram de cá muito antes de nós chegarmos a Bissau, mas também regressaram depois
de nós.

Parece que o Aurélio Duarte, que tem um grande álbum fotográfico, está a arranjar um texto para enviar à Tabanca Grande. Estamos todos à espera.

Abraços
Valdemar Queiroz
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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17008: Efemérides (243): Acontecimentos no mês de Janeiro, entre 1963 e 1974, na Guiné (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17027: Notas de leitura (927): Fundação João XXIII - “Férias solidárias”: o espírito de cuidado com a Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)



Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Dezembro de 2015:

Queridos amigos,
Ao longo destas últimas duas décadas, um conjunto de voluntários decidiu fazer férias solidárias na Guiné, partiram com a ideia de cuidar dos outros, nomeadamente nos campos da educação, saúde e comunicação. Foram programas organizados pela Fundação João XXIII/Casa do Oeste. Lendo estes testemunhos, entende-se a aprendizagem deste voluntariado: a saber distinguir melhor as coisas que são essenciais à vida e as que são perfeitamente supérfluas; a tomar consciência de que tudo o que possuem não pode ser gasto de qualquer maneira, quando milhões de seres humanos, todos os dias lutam desesperadamente pela sobrevivência. Solidariedade na criação de clínicas, cooperativas, infantários, plantações, centros culturais, bibliotecas, até uma canoa para tirar Pecixe do isolamento. Projetos que tocam o coração e que ajudam um povo a crescer; gestos que são momentos únicos de felicidade.
É um livro que pode ajudar-nos a mudar a nossa vida.

Um abraço do
Mário


“Férias solidárias”: o espírito de cuidado com a Guiné-Bissau

Beja Santos

É um livro de testemunhos e memórias como não conhece igual. Durante anos, grupos solidários com impulso na Fundação João XXIII chegaram à Guiné-Bissau para fazer bem, ajudando jovens, pondo de pé estabelecimentos escolares, apoiando trabalho da maternidade, de pediatria, despistando tuberculose, assistindo centenas de pessoas com problemas de visão, erguendo uma biblioteca, um infantário, adquirindo um barco para chegar à Ilha de Pecixe, mas há muito mais.

É uma impressionante mobilização de cristãos, vemos católicos de mão dada com evangélicos, confrontados com a pobreza extrema e envolvidos em serviço voluntário, é difícil imaginar comoção maior daquela que é dada nestes testemunhos, nos olhos reparados, nas mães que puderam dar à luz em condições de higiene e segurança… E tudo começou no longínquo ano de 1990 em que um grupo de amigos quis fazer uma férias diferentes, umas férias pautadas pelo voluntariado e pela solidariedade. Bateram à porta dos padres franciscanos, assim começou este projeto maravilhoso de “férias solidárias”. Ao longo de anos, de colaboração com a Associação dos Guineenses em Portugal, foram construindo benfeitorias indispensáveis: o centro social de Ondame, pensado para dispor de um posto de saúde, uma biblioteca e uma escola para alfabetização de adultos, foi utopia a mais, puseram então de pé o centro materno-infantil de Ondame, hoje Clínica Bom Samaritano, espaço que havia sido criado, em 1957, por duas irmãs evangélicas inglesas; deu-se depois início a um apoio aos jovens quadros de Cachungo. O ativo destes grupos solidários é impressionante: reparação de casas da paróquia da Sé de Bissau, no bairro de Santa Luzia, e beneficiação das casas deste bairro; construção do primeiro pavilhão da Cooperativa Escolar de S. José de Mindará, em Bandim e reparações na Missão da Cumura; capacitação de animadores do mundo rural; construção do Centro Social de Ondame; formação de professores da Cooperativa Escolar de S. José de Mindará; início da cooperação com a Clínica Bom Samaritano; formação na área de Fisioterapia de Enfermeiros na região do Biombo; organização da farmácia da Clínica Bom Samaritano; entrega de um trator aos jovens da Cooperativa Agrícola de Cachungo; acabamento das instalações da rádio “Voz do Biombo”; chegada de um bloco operatório à Clínica Bom Samaritano e respetiva eletrificação da clínica; intervenções oftalmológicas, consultas de clínica geral e pediatria, entre outras iniciativas.

Biblioteca de Ondame


Seguem-se testemunhos de grande alegria, daqueles que apoiam a construção dos equipamentos, daqueles que põem as escolas a funcionar, daqueles que trabalham num pequeno jardim botânico, daqueles que reparam maquinaria. Há depoimentos que se constituem como verdadeiras exaltações à vida, este passou-se na Clínica Bom Samaritano:  
“Loida, a enfermeira responsável, estava atarefadíssima a meio de um parto difícil e com necessidade de uma evacuação para a maternidade de Bissau. Era urgente fazer uma cesariana. Questionada por que não ia respondeu que não havia dinheiro para o gasóleo e a família também não tinha meios. Olhámos uns para os outros e agimos dizendo que íamos levar a parturiente a Bissau. Depois de uma viagem alucinante dentro de uma ambulância a cair de velha, algumas paragens para tentar que o parto fosse feito, a chegada ao Hospital Central de Bissau não foi menos alucinante. Deparámo-nos com fatores nunca antes imaginados, as condições em que tinham e têm que parir as mulheres em Bissau. Depois da ajuda imediata que se converteu em mudança de espumas/colchões que fomos comprar a Bissau, pinturas com o pouco material que tínhamos em casa, forrar o chão com linóleo e limpeza em geral (…) participámos todos na aventura de comprar oito espumas/colchões e o linóleo. Quinze dias de trabalho, muita vontade de mudar”.


É muitíssimo tocante o projeto Visão Guiné. Só no início de 2011, um grupo de 32 voluntários operaram 142 pessoas, cirurgias oftalmológicas que privilegiaram pacientes com cataratas bilaterais em fases muito evoluídas e que se encontravam num estado de cegueira. Um dos solidários depõe de forma emocionante:  
“Descobri muitas coisas: que dez pessoas podem viver todas juntas em seis metros quadrados; que as casas não têm casa de banho; que as refeições são só uma por dia; que o chá príncipe é usado para combater o paludismo, que é muito fácil viver com o que temos; que é muito fácil fazer sorrir alguém; que tomar banho de púcara é fabuloso”.

 Mercado de Ondame

Há os perfilhamentos e os apadrinhamentos, há os casais que vão à Guiné para adotar crianças, muitos têm fé cristã, outros avançam para estas férias solidárias em nome do humanismo. Fica a lição das várias equipas que trabalharam em regime de voluntariado, costeando as despesas das suas deslocações. Cooperaram em diferentes áreas: da construção civil, da educação, da saúde, movidos pela promoção do desenvolvimento integral da pessoa humana. O cristianismo guineense não faz barreira com os outros credos, mormente o islamismo, há comprovadamente diálogo.

Em Abril de 2012, após um novo golpe de Estado capitaneado por António Indjai, os bispos da Guiné-Bissau lançaram um apelo aconselhando:
a) Que, antes de mais, façamos apelo à nossa fé comum, pois acreditamos no Deus Criador e Pai que intervém para proteger, ajudar e ensinar-nos a viver como irmãos. Também agora queremos elevar os nossos olhos para esse Deus providente e misericordioso; 
b) Que formemos corretamente a nossa consciência moral, de modo a promover a defender o bem-comum, e a evitar comportamentos negativos que têm prejudicado enormemente a nossa convivência pacífica, nomeadamente: a busca desenfreada e ilegal do poder e da riqueza; a corrupção, nas suas variadas formas, a impunidade perante os crimes cometidos, a falta de transparência na gestão dos bens públicos, a espiral de violência, que leva à morte de várias pessoas, o desleixo generalizado no exercício da própria profissão, etc.

Quem ouve o clamor desta igreja parte sem hesitação para ajudar aqueles que precisam na desventurada Guiné.

Fotos: Fundação João XXIII, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17018: Notas de leitura (926): "Diálogos Interditos, A Política Externa Portuguesa e a Guerra de África", II Volume, por Franco Nogueira, Editorial Intervenção, 1979 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17026: Parabéns a você (1205): Ana Duarte, amiga Grã-Tabanqueira; Fernando Franco, ex-1.º Cabo Caixeiro do PINT 9288 (Guiné, 1973/74); Hugo Moura Ferreira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1621 (Guiné, 1966/68) e José Teixeira, ex-1.~Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)




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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17020: Parabéns a você (1204): José Belo, Cap Inf Ref, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17025: Tabanca Grande (425): Evaristo Pereira Reis, ex-1º cabo condutor auto, colocado em rendição individual no QG, mas na prática trabalhou como mestre de obras da Câmara Municipal de Bissau... Reside em Setúbal, passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 735

 

T/T Angra do Heroísmo > 29 de novembro de 1971 > O 1º cabo Evaristo Pereira Reis, no convés do navio {Foto 1]


Guiné > Quartel General > Novembro de 1971 > O 1º cabo Evaristo Pereira Reis  (1) [Foto 2]





Guiné > Quartel General > Novembro de 1971 > O 1º cabo Evaristo Pereira Reis  (2) [Foto 3]


Guiné > C M Bissau > 1972 > O 1º cabo Evaristo Pereira Reis, destacado em comissão, como civil,  na Câmara Municipal de Bissau (onde permaneceu 23 meses, até novembro de 1973) [Foto 4]



Guiné >Bissau >  Novembro de 1973 > O 1º cabo Evaristo Pereira Reis  esperando o "dia final" da comissão [Foto 5]



Guiné >Bissau >  Novembro de 1973 > O 1º cabo Evaristo Pereira Reis, voltando a vestir a farda, 23 anos meses depois de trabalhar no serviço de obras da CMBissau,  e na véspera de regressar a casa. [Foto 6]



Guiné >Bissau >  Novembro de 1973 > Medalha municipal da cidade de Bissau, atribuída ao Evaristo Pereira dos Reis por serviços prestados [Foto 7]

Fotos (e legendas): © Evaristo Pereira Reis(2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso camarada Evaristo Pereira dos Reis  com data de 2 do corrente:

[foto à esquerda: ex-1º cabo condutor auto, de rendição individual, Bissau, QG, 1971/73; mestre de obras na CM Bissau, 1971/73; reside em Setúbal]

Olá, boa tarde

Como não consegui entrar directamente no blog, utilizo este meio para participar com algumas fotos da minha passagem, pela Guiné 71/73.

Já tive noutra oportunidade de participar anteriormente, comentando a minha participação como responsável pelas obras da Câmara Municipal de Bissau (*). Desempenhei  tais funções na qualidade de militar em comissão civil, durante 23 meses.

Ao abrir o blog da Tabanca Grande, já foram feitos alguns comentários de camaradas nossos manifestando-se sobre a sorte que tive naquela época, facto que não rejeito. Contudo, para tal também foram necessárias algumas capacidades que eu tinha adquirido como civil, as quais foram úteis para tal desempenho das funções naquele Município de Bissau .

Anexo algumas fotos da minha viagem e locais nessa época.
Um abraço a todos.

Cps
Evaristo Reis
(telemóvel: contactar os editores)



2. Comentário do editor:

Obrigado, Evaristo, por teres aceitado o nosso convite para te juntares a esta Tabanca Grande. Passas a ser o grã-tabanqueiro nº 735 (**). Podes sentar-te à vontade à sombra do nosso mágico poilão que acolhe os amigos e camaradas da Guiné. Como já te expliquei, o blogue não funciona como o Facebook, infelizmente só alguns de nós podem ser editores... Tens, de facto, de mandar os teus materiais (textos e fotos) para o nosso endereço de email. Só os editores é que podem publicar diretamente. Em contrapartida, qualquer leitor pode publicar um ou mais comentários a um poste; basta clicar, no fim do poste,  onde diz "comentários"...

Já falei ao Hélder Sousa, teu vizinho de Setúbal, para te ajudar a a enquadrar melhor.  Tens, por certo, histórias para contar dos tempos em que viveste em Bissau, praticamente como "civil", destacado no serviço de obras da Câmara Municipal de Bissau.  O teu testemunho é tão importante como o dos outros camaradas que foram operacionais. Desejo-te boa saúde, e está atento ao nosso encontro nacional, a realizar em 29 de abril de 2017, em Monte Real, Leiria... Só é obrigatório ir, mas se puderes aparecer serás bem vindo. Um abraço, Luís Graça
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de janeiro de  2017 > Guiné 61/74 - P16950: O nosso livro de visitas (190): Evaristo Pereira dos Reis, 66 anos de idade, residente em Setúbal... Ex-1º cabo condutor auto, de rendição individual, esteve no QG (1971/73), mas na maior parte da comissão foi mestre de obras da Câmara Municipal de Bissau, ao tempo do maj cav Eduardo Matos Guerra, como presidente

(**) Último poste da série >  25 de janeiro de  2017 > Guiné 61/74 - P16987: Tabanca Grande (424): Armando Tavares da Silva, nosso grã-tabanqueiro nº 734, autor de “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)” (Caminhos Romanos, 2016), livro galardoado com o prémio "Fundação Calouste Gulbenkian, História da Presença de Portugal no Mundo"

Guiné 61/74 - P17024: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (34): Correspondência do Ultramar: Ressurreição nas Matas da Guiné

Mata dos Madeiros
Foto: © José Câmara


1. Mensagem do nosso camarada José Câmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 31 de Janeiro de 2017:

Amigos e camaradas,
O tempo vai passando… A terra vermelha que impregnou os nossos corpos é a mesma, as recordações continuam bem vivas na nossa memória, as amizades que criámos ao longo dos tempos continuam.

Não me esqueci da sombra do Poilão que a todos refresca, nem dos belos artigos que animavam a tertúlia. Muito menos do respeito que havia na tertúlia e das discussões, por vezes mais acaloradas, que acabavam sempre num abraço. Nada substitui os afectos, o respeito, a amizade, porque no dia a dia esbarramos com situações que nos fazem acreditar que este mundo é bom, porque há pessoas que, não nos conhecendo de lado algum, têm o cuidado de nos presentear com emoções que um dia julgámos impossíveis.

Foi o que me aconteceu e jamais esquecerei esse momento. Agradecimentos sem fim que vão para todos os intervenientes desta bela jornada humana. O Sr. Coronel Hélder Vagos Lourenço, que fez comissão em Angola como Comandante de Companhia e mais tarde foi Comandante do BII17, hoje Regimento de Guarnição 1, em Angra do Heroísmo, com a colaboração do Sr. Major Costa e dos militares daquela Unidade Militar, presenteou-me com uma cópia de um pequeno artigo que então escrevi nas matas da Guiné e que foi publicado no jornal “O Castelo”, edição de 1 de Junho de 1971.

Passaram-se mais de quarenta anos sobre a minha primeira saída na Mata dos Madeiros e das emoções que me assolaram então e que a passagem do tempo ajudou a suavizar.
Hoje volto à Guiné.

Um abraço
José Câmara


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Nota do editor

Último poste da série de 24 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13792: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (33): Um bagabaga que serviu de altar num casamento

Guiné 61/74 - P17023: Blogpoesia (492): "Diviso as galáxias..."; "Da sombria madrugada..." e "Horas magnéticas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros durante a semana ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Diviso as galáxias…

Através das folhas do arvoredo,
As galáxias luminosas
Que fogem do infinito
Em fogosas cavalgadas.

Me embriago com as nuvens,
Aquelas vareiras lassas
Que despejam chuva com fartura.

Vejo fadas cirandando,
Escrevendo cartas lúdicas
Às sereias abandonadas.

Há carros, cavalgadas,
Em sinuosas espirais,
Escrevem elipses sinuosas,
Ora feias ora belas,
Deslumbrantes,
São varandas donde pendem
Ramagens verdes, majestosas
Ressumando a eternidade.

Me debruço e oiço lendas
Nunca ouvidas.
Me espraio, praia infinda,
Num regaço embalador.

Aí recolhi minhas memórias,
Folhas soltas,
Que o vento insidioso
Espalhou em tão loucas cavalgadas…

Berlim, 5 de Fevereiro de 2017
9h42m
Jlmg

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Da sombria madrugada…

Da sombria madrugada,
Espero que mais um dia nasça.
Não se augura luminoso,
Tal a escuridão tão baça.

Uma cidade imensa e um mundo
Acordam.
Mais um passo na caminhada.
Suas surpresas. Em variada escala.
As domésticas e as terrenas.
A saga humana.
Com seus negrumes e clarões.

Esta marcha infinda e enigmática,
Quer no seu começo
Quer no termo, se o tiver.

Os três elementos em movimento
Com os três estados,
Numa incerta sintonia.

De vez em quando há choque,
O mais normal,
Em harmonia esplendorosa.

E nela impera a humanidade…

Berlim, 5 de Fevereiro de 2017
7h14m
Está escuro ainda
Jlmg

************

Horas magnéticas...

No nosso dia-a-dia,
No festim das nossas passadas,
Há horas atróficas,
Toldadas de aridez
E horas magnéticas
Onde corre a exaltação.

Horas de inquietude.
Apoplécticas.
De negrume e solidão.
Onde a fome e a sede,
Vindas de onde,
Assentam arraiais.

Chovem ondas enigmáticas,
Das galáxias mais longínquas.
Nos perpassam, implacáveis,
Nos dominam e manietam.
São ascórbicas.

De tão cegas, tão astrais,
Nos devoram, são assépticas,
Dominantes,
Quase matam.
Imortais.

São furtivas.
Como a chuva,
Vão e voltam.
São banais.

De repente, o sol incandescente,
Como um milagre,
As derrete.
E, voláteis, se desprendem,
Se esvaem.

De novo o verde e a cor da luz,
O tom dos sons
Tudo reveste.

Refulge a esperança
E brilha o sonho.
Viver é festa.
A vida é assim...

Berlim, 3 de Fevereiro de 2017
10h20m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17001: Blogpoesia (491): "Horas pacíficas..."; "Me embalo no sonho..." e "Pedras adormecidas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17022: Lembrete (20): O lançamento do livro de João Freire, "A Colonização Portuguesa da Guiné: 1880-1960", é na Biblioteca Central da Marinha, em Belém (com entrada pela portal principal do mosteiro dos Jerónimos), nesta 4ª feira, dia 8, às 18h. Apresentadores: cmdt Luís Costa Correia e antropólogo Eduardo Costa Dias




1. Lembrete de João Freire, meu antigo colega do ISCTE-IUL,  e antigo oficial da marinha, autor de "A colonização portuguesa da Guiné: 1880-1960" (*):

Data: quarta-feira, 1 de Fevereiro de 2017 23:30

Assunto: livro Guiné

Teria gosto na vossa presença na sessão de lançamento do meu livro A Colonização Portuguesa da Guiné 1880-1960 que terá lugar na 

Biblioteca Central de Marinha (com entrada pela porta principal do mosteiro dos Jerónimos).

Serão apresentadores da obra: (i)  o comandante Luís Costa Correia; e (ii)  o antropólogo Eduardo Costa Dias, professor do ISCTE-IUL.(**)

João Freire
__________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17009: Agenda cultural (539): Lançamento do livro "A Colonização Portuguesa da Guiné", do prof João Freire, sociólogo (Lisboa, Comissão Cultural de Marinha, 2017), em Belém, na Biblioteca Central da Marinha, no próximo dia 8, 4ª feira, às 18h.

(**) Último poste da série > 6 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16806: Lembrete (19): Lançamento do livro "História(s) da Guiné-Bissau - Da luta de libertação aos nossos dias", da autoria do nosso camarada Mário Beja Santos, hoje, pelas 18 horas, no Auditório da Associação Nacional das Farmácias, em Lisboa

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17021: Inquérito 'online' (104): "Estás reformado? E sentes-te bem?"... As primeiras 54 respostas até hoje de manhã: mais de 90% do pessoal está reformado... 4 em cada 5 sente-se bem ou muito bem...


Os nossos veteranos da guerra da Guiné... estão bem e recomendam-se!



A. Inquérito 'on line' (vd. canto superior direito)::

"Estás reformado ? E sentes-te bem ?"


Respostas preliminares (até hoje de manhã) >54 (100%)



1. Estou reformado e sinto-me muito bem  > 16 (29%)

2. Estou reformado e sinto-me bem  > 27 (50%)

3. Estou reformado e sinto-me assim-assim, 
nem bem nem mal  > 3 (5%)

4. Estou reformado e sinto-me mal  3 (5%)

5. Estou reformado e sinto-me muito mal  > 1 (1%)

6. Ainda não estou reformado > 4 (7 %)



Responder ao inquérito até 5ª feira, dia 9, às 7h52



B. Comentário do editor:

54  respostas até hoje de manhã. é muito bom...  E os resultados apontam já tendências: mais de 90%  dos respondentes já está reformado... E 80% sente-se bem ou muito bem...

Eu suspeito que os antigos combatentes têm formas, mais ou menos engenhosas, de "sobreviver" à pancadona da reforma e à crise que também levou à quebra do poder de compra... Antigamente, os nossos pais, avós e bisavós (que não chegávamos a conhecer) diziam: "Teme a velhice, que ela nunca vem só"... Leia-se: com a velhice, vem a solidão, vem a doença vem o abandono, vem a demenência, vem a morte

O que faz hoje a maior parte dos antigos combatentes que andaram por bolanhas e matas da Guiné ?. Encontram-se, convivem, recordam, escrevem, animam blogues, vão ao Facebook.. O nº de "tabancas" têm proliferado por esse país fora, e organizam-se dezenas e dezenas de convívios anusus... 

O convívio, saudável, regular, é importante para todos nós... Bem como o exercício físico, todas as semanas, duas vezes por semana: não é preciso gastar muita guita, apenas "solas"... E, claro, a alimentação frugal, a dieta mediterrânica...

E depois há as viagens, cá dentro,  mais do que lá fora, que as reformas não permitem grandes luxos... Há ainda tanta coisa para ver, aprender, saborear, conhecer, fotografar, partilhar... Este país é como a sardinha, é lindo...

E há ainda os filhos e os netos e os bisnetos, o voluntariado, a solidariedade para com os outros que precisam de nós... Sem esquecer o Facebook e o Blogue... Escrever faz muito bem aos neurónios... Mas não basta  carregar na tecla "gosto/não gosto" do Facebook... De qualquer modo, é uma geração que está a ultrapassar, com sucesso,  a barreira da iliteracia informática...

Camaradas, amigos, respondam ao nosso inquérito e escrevam- nos, digam lá o é que é andar por essas picadas fora a partir dos 70, "fintando" as minas e as armadilhas da vida e do mundo... Digam lá como se sentem... E qual é vosso segredo para um envelhecimento ativo, produtivo e saudável... Vamos chegar às 100 respostas, até 5ª feira, dia 9. E não se esqueçam: até aos 100 anos é sempre em frente!
___________

Nota do editor:

Guiné 61/74 - P17020: Parabéns a você (1204): José Belo, Cap Inf Ref, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)


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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE FEVEREIRO DE 2017 > Guiné 61/74 - P17014: Parabéns a você (1203): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Guiné, 1970/73)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17019: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (40): 4 - O amigo Mohammed de Santa Maria da Feira

Vista aérea de Santa Maria da Feira
Com a devida vénia a Cultura Norte


1. Em mensagem do dia 29 de Janeiro de 2017, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), autor do Livro "Memórias Boas da Minha Guerra", dá por fim à sua mini-série "O meu amigo Mohammed", com o envio da quarta história: o seu amigo Mohammede de Santa Maria da Feira.

Caro amigo
Aí vai a história do 4.º Mohammed, o de Sta Maria da Feira.
Grato pela colaboração e apoio.
Abraço
JFSilva


Memórias boas da minha guerra

40 - O amigo Mohammed

4 - De Santa Maria da Feira

O Neca do Souto era mais um dos jovens do meu tempo, oriundos de família humilde, condenados ao trabalho precoce. Ainda experimentou o trabalho de moço no fabrico de calçado junto do pai, mas logo optou pelo sector corticeiro. Lembro-me dele jovem, com fama de “trabalhador desenvolvido”, o que lhe dava oportunidade de ganhar “mais que a tabela”. Conversámos em Bissau (1968), quando ele já estava de regresso (eu chegava das férias). Contou-me que tinha juntado umas “coroas” antes de ir para a tropa, pois não contava com o apoio familiar, para aquele período. Todavia, não queria continuar no mesmo trabalho, pelo que pensava emigrar, logo que chegasse à terra.

Pilha de cortiça no campo

Quando regressei ao sector da cortiça (1987), já o Neca se tinha estabelecido no negócio da venda de cortiça em prancha. Com o dinheiro amealhado como emigrante na Alemanha, e, ainda, conhecedor do ramo corticeiro, havia aproveitado o bom momento que esse sector atravessava e lançou-se. Desta forma, veio a ocupar uma certa importância social que antes nunca obtivera. Além disso, pusera cá o filho Américo, a estudar no Colégio dos Carvalhos, a quem esperava dar outro nível de formação escolar.
Porém, o Américo não aproveitou bem o tempo de estudo. Contrariamente, era bem conhecido pelo seu corpanzil dolente, pela sua sornice e pelas faltas às aulas. Quando o pai se apercebeu de que ele já não ia longe nos estudos, chamou-o para o integrar na empresa ainda antes de ele ter ido fazer 4 meses de serviço militar.

Regressado da tropa, o Américo passou a sócio do pai e encheu-se de voluntarismo no negócio. Remodelou a empresa que, agora, além da venda da cortiça, passara à produção de rolhas. Ora, esta evolução, coincidindo com a entrada do jovem naquele meio empresarial, deu-lhe um estatuto de admiração e respeito. Por sua vez, o Américo aproveitava o momento e retribuía com simpatia, aprumo, bons carros e melhor vida. Tivemos, então, uma ligação mais próxima, mesmo para além do negócio. Confesso que o rapaz me despertou alguma simpatia.

Foi nessa altura que ele começou a aproximar-se da Mari Carmen do senhor Fontes, que havia chegado recentemente da Venezuela, onde a vida lhe correra favoravelmente. Ela completara os 18 anos mas mantinha a sua inexperiência amorosa e um comportamento bastante introvertido. Loira e muito atraente, mostrava bem que não é por acaso que as venezuelanas vencem tantos concursos de beleza. Foi um casamento de arromba. Já há muito tempo que não se via uma grandeza daquelas. Tudo que era importante, foi convidado para o evento.

Agora, o Neca já não tinha controlo em tanto investimento. Aquele negócio simples de comprar por 10 e vender por 11, melhorado, ainda, com alguma percentagem de pronto pagamento, foi cilindrado pelas despesas ou inovações criadas pelo filho. Por outro lado, a vida folgada que levava, nada favorecia o necessário maneio financeiro para aquele negócio. Foi fácil a obtenção de crédito baseado nas boas contas do pai. Porém, agora já não era possível comprar matéria-prima com as mesmas vantagens de outrora. Se antes se beneficiava de descontos de pronto-pagamento, agora teria que se pagar os juros das letras ou dos créditos solicitados.
Os juros correm noite e dia e as receitas necessárias não chegavam para tantos compromissos. É nesta fase, que o Neca do Souto, habituado às compras no Alentejo e Estremadura espanhola, se aventurou na aquisição de cortiça em Marrocos, onde era de preço mais acessível.

Nessa altura, o Neca, sabendo da minha facilidade na exportação de rolhas aglomeradas, falou-me da possibilidade da aquisição de um bom stock disponível de bastões desse material, próximo de Rabat. Por várias vezes encontrei lá o Neca acompanhado de um empregado que o ajudava na preparação das cargas e na vigilância da cortiça adquirida. O filho Américo também lá ia e até chegou a levar a mulher.
Um dia fui convidado para o serão no Hotel Kasbah, onde aparecem os melhores artistas musicais. Embora a música me parecesse quase sempre igual, a verdade é que ela excitava a assistência, especialmente quando acompanhada de bailarinas rebolando os seios e remexendo o umbigo e o baixo-ventre.
https://www.youtube.com/watch?v=6W3krLcMwJ8

Ali encontrámos o Neca do Souto e o seu amigo Sousa de Lourosa, acompanhados de duas belas jovens. Segundo o meu amigo Takirene (futuro sócio), este tipo de comportamento era normal. Explicou que as miúdas se apegam ao “seu homem” e o respeitam integralmente enquanto a relação se mantivesse. Ora isso já vinha acontecendo com o Neca do Souto, uma vez que passava lá grande parte do tempo. Quanto ao seu amigo Sousa, o caso era diferente. Gostava de ir a Marrocos e quando levava a mulher fechava-a no quarto, “por segurança”, enquanto saía para tratar dos negócios. “Preocupado”, dizia-lhe para não abrir a porta a ninguém. Constava que, nos habituais engates, chegou a servir-se de um quarto encostado ao da sua mulher.

Hotel em Temara

Eram lindíssimas as raparigas que proliferavam por ali, pela zona de Temara. Como essa zona balnear era bastante frequentada pelo turismo de qualidade, elas disputavam-se pela sua formosura, beleza e juventude. Apareciam pelo hall de recepção nos vários hotéis locais. Quando o número delas se excedia, lá vinha a “ramona”, que as levava por uns tempos, dando lugar à aproximação de outras. Dizia-se que a prostituição era proibida e era preciso salvaguardar essa boa imagem.

LaPlage Sable D’or

Normalmente a história dessas miúdas passava pela mesma causa: fuga da família. Eram criadas como um bem material para ser vendido em casamento. Porém, perdiam todo o seu valor em caso de perda da virgindade. E quando elas, ao casar, escondiam a realidade, enfrentavam perigo de morte. Falava-se que elas chegavam a desaparecer devido a crime perpetrado pelos próprios familiares.
Como profissionais do sexo, manifestam-se muito mais amorosas que prostitutas. Fazem tudo para prolongar as ligações amorosas que conseguirem. Vivem no sonho de vir a ter um só homem (amante/companheiro).

Como era espectável, a empresa do Neca passou a ter dificuldades financeiras. A produção de rolha foi-se reduzindo, tal como o número de trabalhadores ao serviço. A aposta em Marrocos acentuava-se de tal maneira que o Neca já passava lá a maior parte do tempo e o filho Américo também parecia “fugir” para lá, sempre que podia, na esperança de alcançar algum negócio fácil e rentável.

Como a Mari Carmen se recusava a voltar a Marrocos, o Américo também aparece por ali numa situação tentadora, possivelmente estimulada pelo exemplo do pai. E quando ele apareceu exuberante e descontraído a marcar quarto (suite) no hotel, apercebeu-se logo do interesse de Fátima Fakih, que o estava a mirar por perto. A miúda era muito gira e parecia ser a preferida naquele tipo de conquistas. Ele pareceu ficar hipnotizado. Dali, ao convite para um passeio, foi um repente.

Deixei de o ver por cá. Encontrei-o em Skirat. Vestia um balandrau cinzento claro e cobria a cabeça com aquele chapéu avermelhado em forma de vaso - um marroquino a rigor. Perguntei-lhe:
-Como é rapaz, estás a emigrar?
Ele, que não contava comigo, respondeu-me:
- Olhe, não é bem isso, mas estou bastante entusiasmado por uma mudança.
- Mas não podes fugir. És um homem casado e tens também os compromissos empresariais de muita responsabilidade.
- Não estou a fugir Sr. José. Claro que estou a procurar forma de pagar os meus encargos e vou conseguir.
E continuou:
- Também espero resolver o problema da mulher. Eu não a quero abandonar. Ela compreenderá o esforço que estou a fazer. Alá é grande!

Falámos do negócio e das implicações sentidas com as dificuldades financeiras. Claro que ele se mostrou ciente e capaz de controlar a situação.
Por fim, abriu-se um pouco mais e confessou que estava convicto de ter encontrado o amor da sua vida. Inicialmente fora atraído pela beleza e pela entrega amorosa que a Fátima Fakih lhe proporcionara mas, à medida que o tempo passava, maior era a paixão que sentia por ela.
É evidente que para além do sucesso nas relações sexuais, ele lhe descobriu outros valores que o prenderam.

Nunca mais o vi. Soube mais tarde, pelo próprio pai que o Américo fizera um retiro para aprofundamento do conhecimento da religião islamita, à qual se convertera e que até mudara de nome. Agora chama-se Mohammed Adib e vai casar com a Fátima Fakih, de Casablanca.

Em forma de comentário, o Neca acrescentou:
- Estas miúdas parecem que têm feitiço. São tão giras e tão meigas, que derretem qualquer gajo.

A empresa do Neca abriu falência e foi liquidada por vários credores. Deixei de os ver e, como eu precisava de acertar uma questão financeira pendente, fui procurar o contacto deles, através do Sr. Fontes, pai da Mari Carmen. Mal referi o nome do genro, ele reagiu:
- Nem me fale nesse filho da puta. Olhe que ele teve a coragem de vir falar com a minha filha para a convencer a ir viver com ele, porque, na sua nova religião, ele pode ter as duas mulheres.

Silva da Cart 1689
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16983: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (39): 3 - O amigo Mohammed de Marrocos

Guiné 61/74 - P17018: Notas de leitura (926): "Diálogos Interditos, A Política Externa Portuguesa e a Guerra de África", II Volume, por Franco Nogueira, Editorial Intervenção, 1979 (Mário Beja Santos)

Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Novembro de 2015:

Queridos amigos,
Durante mais de oito anos, o ministro Franco Nogueira procurou, raramente com sucesso, defender a ideia imperial junto de aliados, como os EUA, a Grã-Bretanha, o Brasil e a França. Neste volume vemos como os EUA queriam fazer bons negócios a propósito de matérias-primas vitais como a tantalite, e Franco Nogueira diz que a China e a URSS pagam melhor; a tensão com a Santa Sé, que terá o seu pico alto com a audiência que Paulo VI concederá aos líderes dos movimentos independentistas, em pleno Vaticano; estes diálogos deixam bem claro como nos íamos aproximando e aprofundando relações com a África do Sul, como a NATO e os próprios Estados Unidos exigiram e conseguiram a retirada dos F 86 da Guiné.
Prosa magnífica, ficamos com a imagem de um lutador incansável que tem poucas ilusões quanto aos apoios dos países ocidentais perante a progressão inabalável da luta armada na África Portuguesa. Não poucas vezes nestas conversas vários diplomatas observam que aquele esforço de guerra não era eterno, haveria que encontrar outras soluções.

Um abraço do
Mário


A política externa portuguesa e a guerra de África: Franco Nogueira

Beja Santos

Não há ida à Feira da Ladra em que não traga uma novidade com incidências colaterais guineenses. Remexia livros numa larga bancada quando me chamou à atenção o título: "Diálogos Interditos, A política externa portuguesa e a guerra de África", II Volume, por Franco Nogueira, Editorial Intervenção, 1979. Franco Nogueira foi ministro dos Negócios Estrangeiros desde 4 de Maio de 1961 a 6 de Outubro de 1969, o mesmo é dizer que viveu os anos cruciais da evolução da guerra, depois afastou-se de Marcello Caetano. Este volume comporta os anos de 1964 a 1969, nele estão reunidos diálogos com embaixadores acreditados em Lisboa, desde o Núncio Apostólico até aos diplomatas da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, mas também com grandes do mundo, como Dean Rusk e até Nixon. Franco Nogueira escreve primorosamente, foi aliás um promissor crítico literário antes e depois de iniciar a sua carreira diplomática. Um volume desta natureza, por definição, não tem contraditório, são conversas em privado em que os diplomatas tomam notas que podem dar origem a relatórios canalizados para as vias competentes. Mas o que releva destas conversas, em que Franco Nogueira obviamente brilha, é a demonstração de que estamos perante um diplomata muito bem equipado e muito bem documentado. Os temas dominantes passam pela guerra de África, pelos negócios que certos aliados do Estado Novo pretendiam fazer em Angola e Moçambique, temos também a reação da política portuguesa ao progressivo isolamento internacional, ao protesto da diplomacia portuguesa pelo que se passava fundamentalmente em Londres, Washington e Nova Iorque, mas há largas referências ao azedume de Salazar face às mudanças políticas no Vaticano. E deposita-se muita esperança no Malawi e África do Sul, Salazar passava por cima do apartheid, queria aliados fortes na África Austral.

Em 1964, Franco Nogueira protesta porque Washington tem conversações com Holden Roberto, o embaixador dos EUA em Lisboa também protesta com as incursões das tropas portuguesas do Congo. As conversas com o Núncio Apostólico são pouco amáveis: o bispo do Porto não aceita lugares em qualquer parte do mundo, o que incomoda Salazar; o bispo da Beira, D. Sebastião Soares Resende é outro incómodo, Monsenhor Furstenberg, o Núncio, procura descansar o ministro, argumentando que a igreja portuguesa aceita o regime político português e aproveita a circunstância para dizer que há uma lacuna no Episcopado, não existe uma grande figura filosófica e doutrinal. Ficamos a saber que Monsenhor Furstenberg não gostava do General De Gaulle e perguntava-se se na realidade a política dos EUA não era já orientada por uma profunda embora disfarçada infiltração comunista na Administração norte-americana. O Estado Novo torcia o nariz ao trabalho apostólico de João XXIII e estava em rota de colisão com Paulo VI: “Falando de infiltração comunista, dirige a conversa sobre política de João XIII, e as suas encíclicas, e perguntei se Sua Santidade Paulo VI não estaria tentando travar os perigos sobrevindos”. Segue-se uma conversa de mercearia política e de negócios chorudos entre Franco Nogueira e o Almirante Anderson, embaixador dos EUA: “Alusão de Anderson ao caso da tantalite de Moçambique. Aleguei de novo as nossas razões e sublinhei a diferença de preços: os americanos pagam cerca de 4.500 dólares, os chineses e os russos cerca de 9.000. Anderson vincou a questão de princípio. Comentei que os princípios pareciam jogar sempre contra nós. Anderson falou de auxílios à metrópole, que poderiam ser anulados. Repliquei vivamente que não sabia de nenhuns, e além disso não podia admitir que o governo americano considerasse Moçambique parte integrante da nação portuguesa só quando lhe convinha”. Este ano de 1964 revela tensões agudíssimas entre o Estado Novo e a Santa Sé. A ser verdade tudo quanto Franco Nogueira escreve o regime manifesta permanentemente hostilidade ou desconfiança à política da Cúria.


Estamos em 1985, Franco Nogueira é recebido em Washington por Dean Rusk, está presente Robert MacNamara, Secretário da Defesa. Obviamente que é o continente africano que interessa ao todo poderoso Dean Rusk, questiona longamente Franco Nogueira, este replica queixando-se das pressões para retirada dos aviões F86 da Guiné, o ministro português fala da defesa do Ocidente e da política ambígua dos EUA que consente auxílios aos inimigos de Portugal e depois deseja instalações em Cabo Verde para o auxílio em voos especiais.

E no fim do ano começa o problema rodesiano, a Grã-Bretanha insiste no embargo de petróleo para a Rodésia. Nova queixa de Franco Nogueira, depois de apontar para a destruição do regime de Ian Smith, que seria muito vantajoso para os interesses portugueses: “Comentei que já estávamos um pouco fatigados com uma visão dos nossos interesses que consistia sempre em satisfazer os interesses ou as conveniências do atual governo britânico. Nós não aprovávamos nem reprovávamos o governo de Ian Smith: mas não estávamos convencidos de que Ian Smith fosse para nós um perigo. Dizia-lhe francamente o seguinte: em todo este problema da Rodésia nunca escutáramos do governo de Londres uma só palavra de preocupação, de salvaguarda dos interesses portugueses”. Começa aqui um formidável jogo do gato e do rato, vale a pena ler toda esta prosa para perceber como a diplomacia é também arte da dissimulação, era patente que o regime português apoiava aquele aliado racista que constituía um tampão contra infiltrações da guerrilha, anda tudo à volta do Porto da Beira, em Abril de 1966 a pressão vai crescer com a vinda de Lord Walston que pretende receber garantias formais do governo português de que não cede combustível a Ian Smith. São dezenas e dezenas de páginas e argumentos e contra-argumentos, é um prazer ler toda esta encenação da esgrima entre diplomatas.

Em 1967, Franco Nogueira recebe Botha, ministro da defesa da África do Sul, discute-se o bloqueio da Beira, a política soviética, o apoio incondicional da África do Sul à presença portuguesa. Nesse mesmo ano, Nogueira desloca-se a Pretória o primeiro-ministro é bem claro: “O combate que Angola e Moçambique travavam era parte do conjunto, e este era constituído por toda a África meridional. Não tinha a menor dúvida em o confessar e em o afirmar: a luta de Portugal em Angola e Moçambique era absolutamente vital para a República da África do Sul. A África do Sul não poderia permitir-se uma derrota portuguesa naqueles territórios. A África do Sul estava pronta a auxiliar-nos com quanto pudesse, logo e na medida que o solicitássemos. E mais: a África do Sul estava preparada a intervir militarmente, com forças sul-africanas, para restabelecer a situação, se esta se tornasse grave e nós o pedíssemos”. Franco Nogueira, na resposta, diz ser-nos desnecessário firmar uma aliança militar formal entre os dois governos.

Documento da maior importância para conhecer os bastidores da diplomacia portuguesa no momento em que a guerra de África era a prioridade das prioridades.
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Notas do editor

Último poste da série de 30 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17004: Notas de leitura (925): "Os Alferes", por Mário de Carvalho, Editorial Caminho, 1989; e Editores Reunidos, 1994 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17017: Inquérito 'online' (103): Um novo desafio aos nossos leitores: "Estás reformado? E sentes-te bem?"... Resposta até ao dia 9, às 7h52.. Precisamos de, pelo menos, 100 respostas... É para o nosso Livro Branco sobre a Reforma dos Ex-Combatentes....






Uma amiga minha, e minha doutoranda, que eu muito estimo, e com quem já trabalhei num projeto de investigação, ofereceu-me por ocasião dos meus 70 anos, um livro de atas com a seguinte etiqueta: "Sociologia da reforma"... A Rosa P (omito o apelido, por razões óbvias...) não só define o conceito de reforma, como me propõe um plano de trabalho, incluindo a exaustiva revisão de literatura, desenho metodológica e trabalho de campo, que seguramente me vai dar água pelas barbas: vou estar ocupado pelo menos durante três anos, que é o prazo normal que a universadade  dá para se realizar uma tese de doutoramento... O livro só tem duas folhas escritas... o resto é para o sociólogo da (e não na...) reforma.

Por se tratar de uma prenda muito original, bem humorada, inteligente e  irreverente, não posso deixar de partilhá-la aqui, com os nossos leitores do blogue... Acho que só vou conseguir  escrever esta "tese" com o contributo..., empenhado, ativo, produtivo e saudável de todos vocês, a começar pelos mais velhos, os veteranos... Acabo de chegar aos 70, ainda sou "perito"... 

Para a Rosa P vai um beijinho fraterno: adorei o desafio, a prov(oc)a(ção)... Daqui a até ao fim do verão, quero a sua (dela) tese de doutoramento pronta para eu a poder ler, rever, criticar e eventualmente melhorar...Afinal, estou jubilado, mas trouxe TPC (trabalho para casa)... Ainda tenho doutorandas para acompanhar, o que farei com todo o gosto... E uma delas é a Rosa P... Boa sorte, Rosa. (LG)

Infogravuras: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)


A.
Novo inquério 'on line', no nosso blogue 

(vd. canto superior direito)::

"Estás reformado ? E sentes-te bem ?"

6 hipóteses de resposta (escolher só uma)



1. Estou reformado e sinto-me muito bem 
2. Estou reformado e sinto-me bem
3. Estou reformado e sinto-me assim-assim,
nem bem nem mal
4. Estou reformado e sinto-me mal 
5. Estou reformado e sinto-me muito mal
6. Ainda não estou reformado

Resposta até ao dia 9, às 7h52



Agora aqui está uma pergunta a que toda gente, os nossos leitores (basicamente, os camaradas e amigos da Guiné), podem responder... Quase toda a gente, da nossa Tabanca Grande, pelo menos os ex-combatentes, já deve estar reformada, ou em vias de atingir  a idade da reforma...Também  quem que nos lê, está em condições de emitir a sua opinião sobre este tema (delicado)...

Precisamos, peço menos, de 100 (cem) respostas, nº redondo...


B. Reflexões/comentários sobre o tema da reforma



(i) Juvenal Amado (**):

Luís,  ninguém gosta de fazer 70 anos,  dizes a certa altura. Mas convirá que não os fazer será pior
Agora que os fizeste, estás melhor ou pior? Felizmente não somos como os iogurtes, que são retirados do consumo no dia que ultrapassam a data limite.


(ii) Joaquim Luís Mendes Gomes (**)

Luís, com muito gosto te dou as boas vindas ao meu clube de reformados. Acabaram-se as obrigações exógenas. As seguintes brotarão da tua vontade. Senhor total do teu tempo. Sei que não vais ter problema algum em gerir esta boa responsabilidade. Tens muitas capacidades. Nos diversos domínios. Agora é que vais poder chegar ao cume delas, conforme te aprouver. Quero desejar-te que os tempos que aí vêm sejam repletos de saúde e muita paz.

(iii) Jorge Picado (**)

Luís, com grande surpresa acabo de tomar conhecimento do teu aniversário, em que comemoraste a bonita soma de 70 anos e a consequente entrada para o Clube dos Aposentados. Espero que me perdoes esta falta, que não é de educação, mas apenas como refiro foi involuntária, já que desde uns certos tempos venho sendo um visitador menos assíduo da Nossa Tabanca. Não a abandonei, nem muito menos reneguei e não a esqueci, mas apenas outras ocupações diárias me roubaram algum tempo.

Desde que se me meteu na cabeça "conhecer as minhas origens", passo a maior parte do "tempo livre" a cansar a vista mergulhado nos registos paroquiais de Ílhavo existentes, referentes a baptismos,casamentos e óbitos, que anteriores a 31 de Março de 1911 já se encontram no Arquivo Distrital de Aveiro e a maioria de consulta até na Net. 

Esta a razão da minha passagem apenas, uma ou outra vez por semana, pelo Blogue. E assim me passou essa tua efeméride. Desejo-te as maiores felicidades nesta tua nova etapa da vida, mas sei que agora vais ter muito mais tempo para novos afazeres, sobre os quais até aqui não podias debruçar-te.

PS - Espero voltar a encontrarmo-nos primeiro em Monte Real. Quanto aos antepassados, já descobri até ao casamento do meu tetravô, mas isso agora já me obriga a deslocar-me ao Arquivo.

(iv) Luís Graça: 

(...) A reforma é, para muitos, também a perda de estatuto,
de referências, de colegas de trabalho,
e sobretudo de trabalho.
Em contrapartida, ganha-se a ilusão
de se ser dono do tempo,
das 24 hora do dia
a que se resume a nossa vida,
já que somos seres circadianos. (...)


(v) Tony Levezinho (***):

Quem assim ultrapassa o Km 70 só tem boas razões para continuar a viagem com aquele sorriso de quem sabe que não é viajante solitário.


(vi) Francisco Baptista (****);

Um abraço de parabéns, bem forte, grande camarada, e que a tua vida se prolongue por muitos e bons anos. Tu com a tua lucidez, a tua energia, a tua criatividade, a tua arte e a tua solidariedade nunca serás velho por muitos anos que vivas. Além da tua família próxima tens também esta grande família, fora de portas, de amigos e camaradas que tu criaste, a quem tens dado ânimo e voz que te estima muito e que não pode dispensar o calor da tua amizade e do teu incentivo. Ergo o meu copo à saúde do grande homem que tu és, Luís Graça!


(viii) Hélder Sousa (****)

Muitos comentários fazem referência à bondade da iniciativa que tiveste em criar condições para a existência e desenvolvimento do que chamamos a "Tabanca Grande". Com ela, e por ela, já milhares de fotos, de recordações, de memórias, de textos, de reconciliações, de conhecimentos foram feitos.
Dezenas, ou centenas, de amizades foram criadas. Reencontros foram possíveis. E isto não é de somenos. Isto é "obra"!