segunda-feira, 26 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18461: Tabanca Grande (458): António Joaquim Alves, natural da Malveira, Mafra, a viver no Carregado, Alenquer: ex-sold at cav, CCAV 8351, "Os Tigres de Cumbijã", destacado no COMBIS, Bissau, 1972/74... Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 767


António Joaquim Alves (nascido na Malveira, Mafra, em 1951; residente em Alenquer).

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Ex-sold António Joaquim Alves: mobilizado pela CPM 88251/74, acabou por ficar no COMBIS, Bissau.

Foto (e legenda): ©  António Joaquim Alves (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > Magnífica Tabanca da Linha > 32.º almoço-convívio > 20 de julho de 2017 > O António Joaquim Alves, que veio do Carregado, Alenquer, com a família; a filha e os netos. Da nossa base de dados, já constava que pertencera à CCAV 8351 Tigres de Cumbijã (Cumbijã, 1972/74, companhia que foi comandada pelo cap mil  cav Vasco da Gama, membro da nossa Tabanca Grande, natural de Buarcos, Figueira da Foz). É também amigo do J. Casimiro Carvalho, régulo da Tabanca da Maia.

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Manuel Resende, régulo adjunto da Tabanca Grande:

Data: 24 de março de 2018 às 15:12

Assunto: Inscrições

Caro Luís, falei agora com o Alves (que esteve contigo, à conversa, no nosso 36.º  convívio) e confirmou-me que:


(ii) e quer ir ao convívio da Tabanca Grande,  5 de Maio em Monte Real.

Os elementos pessoais são os seguintes:

Nome: António Joaquim Alves, ex-sold atirador de cavalaria.

Nascimento: 10 de Junho de 1951

Naturalidade: Malveira, concelho de Mafra

Residência: Carregado, Alenquer

Telefone: (...)

Endereço de email: (...)

Companhia: CCAV 8351, 1972/74;  mas esteve sempre no COMBIS (Comando Operacional de Bissau). Em Estremoz teve um acidente, pelo que não pôde acompanhar a sua unidade. Seguiu mais tarde de avião para Bissau, sendo colocado no COMBIS em rendição individual.

Junto as duas fotos da praxe.

Amigo Luís, isto vai só para ti e para ele.
Agradeço que depois da inscrição no blog, ele seja inscrito para o Convívio.

Abraço amigo,
Manuel Resende

(Elemento fornecido pelo José Martins, nosso colaborador permanente)

2. Comentário do editor Luís Graça:

Já sabia, por conversa com o António Joaquim Alves, no penúltimo encontro da Tabanca da Linha, que o nosso camarada tinha sido um amigo leal e solidário do comandante Pombo... "Morreu-me nos braços", confidenciou-me ele. A amizade vem do tempo do COMBIS, em Bissau. E acompanhou-o no final de vida, depois do seu regresso do Brasil.  Tem histórias (ora divertidas ora tristes) do comandante Pombo [, José Luís Pombo Rodrigues], para um dia contar no blogue da Tabanca Grande.

Pareceu-me um camarada são e honesto, mas de olho vivo e com um grande coração. ("Sou um saloio da Malveira", diz ele).

Passa a figurar na lista dos membros da nossa Tabanca Grande, sentando-se sob o nosso poilão com o n.º 767. Obrigado ao "padrinho" Manuel Resende.  E, para o António Joaquim Alves, vai um grande "alfabravo" de toda a Tabanca Grande.

Fica também, desde já, inscrito no XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, a realizar em 5 de maio de 2018, em Monte Real.
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Nota do editor:

Último poste da série >  22 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18238: Tabanca Grande (457): Manuel Cibrão Guimarães, ex-fur mil, CCAÇ 1620 (Cameconde, Sangonhá, Cachil, Cacine, Cacoca, Gadamael, 1966/68)... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 766.

Guiné 61/74 - P18460: Notas de leitura (1052): “Guiné-Bolama, História e Memórias”, por Fernando Tabanez Ribeiro; Âncora Editora, 2018 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Março de 2018:

Queridos amigos,
O memorável quadro de recordações de infância em Bolama não salvaguarda o leitor de perceber que o empreendimento de Tabanez Ribeiro não chegou a bom porto, havendo hoje vasta bibliografia sobre tudo o que ele escreve desde navegações atlânticas até às amarguras de um Estado independente que não consegue dar ao mundo uma imagem de governação responsável, onde a classe política prima pelo seu poder autofágico, porquê discorrer longamente sobre matéria consabida, porquê mais do mesmo, porquê não ter carimbado umas memórias únicas partindo da peculiar circunstância do que viu na sua infância e juventude e experimentou na sua comissão militar? É mistério insolúvel, e assim se escrevem livros com elevada carga dececionante.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bolama, História e Memórias, por Fernando Tabanez Ribeiro (2)

Beja Santos

“Guiné-Bolama, História e Memórias” por Fernando Tabanez Ribeiro, Âncora Editora, 2018, despertava a curiosidade atendendo à circunstância de que o autor vivera uma parte da sua juventude na Guiné, a ela regressando como oficial da Armada. Mas o relato das suas memórias não resistiu à tentação de respigar um elenco de dados históricos sobre as navegações atlânticas portuguesas, a questão da escravatura na área da Senegâmbia, a figura dos lançados, a questão de Bolama no século XIX, o relevante papel histórico do Honório Pereira Barreto, as guerras da pacificação lideradas pelo Capitão João Teixeira Pinto, a questão da religiosidade na colónia da Guiné e depois Bolama, tão carinhosamente recordada, não hesito em dizer que é o ponto alto do seu registo do que viu e sentiu e agora passa a escrito.

Nada ficaremos a saber sobre a sua comissão militar, era compreensível a expetativa, foi oficial imediato de uma Lancha de Fiscalização Grande, impossível não haver recordações que possibilitassem um arco entre o passado da sua mocidade e a prova de armas.

Entendeu o autor que se devia debruçar sobre a problemática da independência, o papel de Amílcar Cabral, o seu assassinato, o projeto de união política entre Guiné e Cabo-Verde, deplorar como a República da Guiné-Bissau se mantém um país adiado, e fazer um balanço da historiografia da Guiné e da colonização.

Começa por conjeturar o que seria o resultado que teria hoje uma sondagem à população guineense no sentido de avaliar o respetivo grau de satisfação. Para surpresa de muitos, têm sido feitos trabalhos neste domínio, aguarda-se que a antropóloga alemã Tina Kramer consiga fazer um resumo em língua portuguesa da sua tese de doutoramento sobre a reconciliação dos guineenses quarenta anos após a independência. Num resumo já publicado no blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné a cientista deixou perfeitamente claro o desapontamento de vencedores e vencidos, se estivermos a falar dos que militaram ativamente nas fileiras do PAIGC e daqueles que apoiaram a soberania portuguesa. Ninguém pode esperar regozijo dos brutais ajustes de contas, do esbanjamento e pilhagem de recursos, da má utilização dos financiamentos da cooperação e dádivas para projetos de desenvolvimento, o compadrio étnico na assunção dos cargos públicos e parcialmente nas Forças Armadas, nas execuções sumárias, na indignidade à testa dos assuntos públicos, para já não falar do acinte entre forças partidárias que põe em primeiro lugar a cupidez no exercício do mando, relegando para as calendas o bem-estar das populações. Ninguém desconhece esta situação calamitosa, Carlos Schwarz da Silva, à frente da AD, que foi uma das mais influentes ONG guineenses, contou tudo nos seus relatórios, como são exemplares os relatórios da Liga Guineense dos Direitos do Homem, basta ir ao seu site e ler o relatório Quarenta anos de impunidade na Guiné Bissau. E a própria literatura não ilude toda esta conflitualidade, basta ler o grande escritor Abdulai Silá.

A história de Amílcar Cabral, até à biografia incontornável que lhe dedicou Julião Soares Sousa, tinha uma componente mítica onde não faltavam lendas descaradas. O historiador interroga frontalmente a questão da fundação do PAI em 19 de setembro de 1956, sabendo-se, como a documentação atesta, que Amílcar Cabral nunca falou do PAI antes de 1959, mais concretamente depois de ter ido a Bissau e dividido tarefas com Rafael Barbosa. Nunca o governador da Guiné expulsou Amílcar Cabral, ele regressou a Portugal com a mulher muito combalidos com malária, não foi forçado a ir trabalhar para Angola, foi um antigo professor do Instituto Superior de Agronomia que o indicou para o projeto angolano onde trabalhou em Cassaquel, com resultados brilhantes. Um dos seus hagiógrafos, Oleg Ignatiev, pôs a circular a lenda, continua a render. Não houve fuzilamentos no congresso de Cassacá (fevereiro de 1964) por divergências ideológicas, convergem os testemunhos de que se tratava de um conjunto de guerrilheiros que procediam selvaticamente com as populações, forjando até episódios de feitiçaria para matar pessoas. Ter, como aconteceu durante décadas, acusado a PIDE de estar associada à conjura do assassinato de Amílcar Cabral, hoje é manobra completamente desacreditada. O que os arquivos da PIDE mostram e o próprio Fragoso Allas, ao tempo seu dirigente confirma, é que tinha sido montada uma rede de informação ao mais alto nível em Conacri, Dakar e Ziguinchor, sobretudo, os comerciantes deslocavam-se nesses círculos e colhiam informações valiosas, transmitiam com regularidade as notícias do acréscimo de tensões entre guineenses e cabo-verdianos. É chão que deu uvas incriminar a PIDE, como as coisas são nunca aparecerão as peças fundamentais do processo e temos que acreditar no que escreveram Óscar Oramas, Bobo Keita e Aristides Pereira, este na última fase da sua vida. A lenda do assassinato ainda faz o seu percurso, continua-se a falar em Sekou Touré como instigador do assassinato, ele que no início da manhã daquele dia 20 de janeiro de 1973 enviou um embaixador até Amílcar Cabral avisando-o que estava iminente um golpe, Cabral desvalorizou. Quanto ao significado do ditador da Guiné Conacri ter recebido, a altas horas da noite, os conjurados, como poderia ser de outra maneira? O complô ocorre em território estrangeiro, basta ter dois dedos de testa para perceber que os conjurados precisavam de se legitimar, saiu-lhes o tiro pela culatra. O resto é lenda.

E quanto a um outro tipo de solução que conduzisse a uma transição mais frutuosa para a Guiné, é esquecer que Salazar e Caetano recusaram qualquer entendimento com os dirigentes do PAIGC, está tudo escrito, é comovente responsabilizar a forma insensata como se deu a transferência de soberania, os próprios dirigentes do PAIGC lembram que foram instigados pelos dirigentes do MPLA e da FRELIMO, tinham que ser completamente independentes já para que os processos de descolonização não entravassem em delongas neocoloniais, os dirigentes do PAIGC aceitaram a governação do país sem dinheiro nem quadros, vinham encadeados pelo sonho da ajuda socialista, o sonho caiu na água. Tudo isto é já conhecido, questiona-se o que leva Tabanez Ribeiro a recuperar a história devidamente anotada.

Não se pode deixar de saudar o ato de coragem do autor no enaltecimento que faz de René Pélissier, é de facto o mais influente historiador de língua francesa sobre os acontecimentos coloniais portugueses, a despeito de verrinas e de algumas injustiças que comete, uma das quais o autor recorda pela sua gravidade, a maneira como Pélissier desconsidera Marcelino Marques de Barros, um pioneiro da cultura, da língua, da etnografia e da etnologia guineenses. Concorda-se com a sua opinião quanto à importância do levantamento documental feito por Hermano Tavares da Silva quanto à presença portuguesa na Guiné, história política e militar entre 1878 e 1926. É um grande trabalho, de facto, mas onde há dois erros palmares, inacreditáveis, ao dizer que se constata neste período ter havido uma espécie de luta de classes entre o Governo/administração e os comerciantes e de que alguns levantamentos deste período preludiam o que vem a acontecer com a luta armada, não há qualquer sintonia possível entre guerras localizadas e o projeto de independência de que Amílcar Cabral foi a bandeira. Mas também os grandes estudiosos cometem os seus dislates, é preciso é não os aplaudir…
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Notas do editor

Poste anterior de 19 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18434: Notas de leitura (1050): “Guiné-Bolama, História e Memórias”, por Fernando Tabanez Ribeiro; Âncora Editora, 2018 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 23 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18451: Notas de leitura (1051): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (27) (Mário Beja Santos)

domingo, 25 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18459: Convívios (847): Esteve magnífica a Tabanca da Linha: na 5ª feira, dia 22, no restaurante "Caravela de Ouro", em Algés, com a presença de 63 convivas, entre amigos/as e camaradas, uns periquitos, outros maçaricos e, a maior parte, vê-cê-cês... (Fotos de Manuel Resende) - Parte II: Quem vê caras, não vê corações... Mas estes ainda batem forte... Podem não ser os melhores, mas são magníficos... e juntam-se, de quando em quando, na Tabanca da Linha, filial da Tabanca Grande, que é a mãe de todas as tabancas... (sem esquecer todas as nossas demais tabancas, magníficas)


Foto nº 1 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > Jorge Rosales (à esquerda) e Mário Magalhães, dois veteranos da guerra da Guiné:


Foto nº 2 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > António Joaquim Alves: nasceu em 10 de junho de 1951, é natural da Malveira, Mafra; reside em Alenquer; pertenceu à Companhia de Polícia Militar 8251/74 (COMBIS, Bissau)... Pediu para ingressar na Tabanca Grande.


Foto nº 3 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > O Zé Carioca, que pertenceu à unidade quadrícula de Guileje, a CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972), comandada pelo cap mil Abílio Delgado (que mora na Ericeira).


Foto nº 4 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro > 36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > Um dos mais assíduos da Tabanca da Linha, o António Maria Silva (que vem sempre munido da sua aguardente de zimbro, feita no seu alambique,  para a malta provar).


Foto nº 5 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro > 36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  A esposa do Carlos Silva, Germana, mais o João Rebelo.


Foto nº 6 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > À direita, o ten gen pilav ref José [Francisco Fernando] Nico a quem enderecei mais uma vez o convite para ingressar na nossa Tabanca Grande. Em breve conversa com ele, reconheceu que os editores fazem uma boa e equilibrada moderação do blogue. À esquerda, o José Diniz de Sousa Faro.



Foto nº 7 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > O casal Fitas, Mário e Helena.


Foto nº 8 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  O António Gomes Veloso, se não erro, e o Mário Fitas.



Foto nº 9 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  O Hipólito Barros (à esquerda) e o António Duque Marques (à direita)



Foto nº 10 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > Da esquerda para a direita, o João Sacôto, o Francisco Henriques da Silva (que era o embaixador de Portugal da Guiné-Bissau durante a guerra civil de 1998/99) e o João Pereira da Costa.




Foto nº 11 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  O Daniel Gonçalves, à direita; o João Rosa 2º Gr Comb., CCaç 2465,  Bissum-Naga 1969/1970, à esquerda.


Foto nº 12 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  O Henrique Leite.



Foto nº 13 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > Luís Paulino (à esquerda) e João Rosa (à direita).



Foto nº 14 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > Joaquim Grilo e Armando Pires


Foto nº 15 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > Francisco Palma e António Joaquim Alves


Foto nº 16 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > Da esquerda para a direita: Jorge Ferreira, Paraíso Pinto (ex-cmdt da CCS / BART 1914, Tite, 1967/69), Mário Magalhães e Carlos Carrondo. Voltei a convidar o Paraíso Pinto para ingressar na Tabanca Grande.


Foto nº 17 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  O José Jesus, o José Horta Bastos e o José Fernando Delgado Mendonça.



Foto nº 18 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > César Pacheco,  Carlos António Rodrigues e Joaquim Nunes Sequeira (o "Sintra")



Foto nº 19 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  O Manuel Joaquim e o José Martins.



Foto nº 20 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  O Jorge Araújo, nosso coeditor, e o José Botelho Colaço, um dos membros séniores da Tabanca Grande.



Foto nº 21 > Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro >36º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  O nosso editor Luís Grala, com a Alice Carneiro e a Maria do Céu Pinto Carvalho.

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação de de um seleção de fotos do álbum do Manuel Resende, respeitante ao 36º convívio da Magnífica Tabanca da Linha, em Algés, no passado dia 22 de março (*).



Recorde-se que o adjunto de régulo e fotógrafo oficial da Tabanca Grande, o Manuel Resende, foi alf mil da CCaç 2585 / BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71.

Quanto ao repasto, pode-se dizer que primou pela fartura (os comes & bebes), como sempre... Mas, segundo o exigente palato de alguns dos amigos e camaradas, o cabrito não esteve tão bom como da penúltima vez: era cabritinho, não era cabrito-pé-de-rocha, não senhor... Mas também não era cabrito da serra de Montemuro ou da Serra da Estrela... Devia ser australiano ou de origem asiática, congelado... Estava mais para o guisado do que  para o assado (no forno como a malta gosta)...

Para a próxima, já houve quem pedisse bacalhau à lagareiro... Tudo bem, desde que não nos sirvam paloco em vez de bacalhau... Há por aí muita falcatrua com certos produtos alimentares: por exemplo, a pota vendida por polvo, o paloco em vez do bacalhau...
(LG)
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18458: Blogpoesia (560): "De mim ao infinito...", "As ladeiras...", e "A Praça do Giraldo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


De mim ao infinito…

Vejo tão alto as estrelas brilhantes,
Parecem distantes,
Pertinho dos céus.
Tão pequeno eu sou.
Que sabem de mim?
 Olho o mar, de olhos fechados,
Imenso e profundo,
Parece sem fim.
À sua beira o que sou.
Que sabe de mim?
Me banho ao sol, ao nascer da manhã.
Fico pensando na hora, quem é que mo dá.
Por vezes, me sinto aflito,
Morrendo de sede.
Absorto comigo, não vejo
Um rio correndo, diante de mim.
Perdido no mundo,
Me vejo sozinho.
Tão surdo e tão cego,
Não oiço nem vejo:
Quem tudo criou
Habita em mim.

Berlim, 23 de Março de 2018
11h1m
Jlmg

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As ladeiras…

Gostava das ladeiras de barro.
Das mais longas.
Expostas ao sol.
As havia na minha aldeia.
Escorregava nelas.
Com vertigem.
Corpo estreme,
Cara ao vento,
Rente ao chão.
Até que a pele
Sangrasse ao sol.
Sensação bem cara,
Quando chegava a casa
E prestava contas,
Mais uns calções…
Bastava a noite.
Tudo esquecia.
No outro dia,
De novo a farra,
Depois da escola.
Mas agora,
Lição sabida,
Sobre uma tábua.
Na barroca funda
Que lá havia.

Berlim, 24 de Março de 2018
8h47m
Jlmg

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A Praça do Giraldo

Me parecia bela
aquela praça ampla,
vetusta em Évora,
pelas tardes quentes de Agosto livre.
Naquela esplanada à sombra,
Nos anos verdes da minha juventude.
Muito finas, de porte fino,
Cirandavam moças, sob as arcadas velhas.
Buscando adornos,
Aquelas penas de anjo
Que nos faziam sonhar,
Tão puras.
Era linda a vida a desabrochar em força.
Que lindo céu, na terra doce.
Quimera azul dum futuro negro.
Só a esperança em réstea,
Nos acalorava a alma.
Qual caravela livre,
Que só a brisa beija.
Ficaram só saudades ao findar da vida
Que só a morte apaga…

Berlim, 24 de Março de 2018
12h31m
Ouvindo Kaufmann
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18431: Blogpoesia (559): "As cores da verdade", "Folha seca...", e "As lágrimas...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18457: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXII: Phuket, Tailândia, 12-13 de novembro de 2016


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Tailândia > Phuket > 12 e 13 de novembro de 2016

Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, 

Escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 200 referências, é casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.

2. Sinopse da série "Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias"

(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016; [não sabemos quanto despenderam, mas o "barco do amor" deve-lhes cobrado uma nota preta: c. 40 mil euros, estimanos nós];

(ii) três semanas depois de o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);

(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017); no dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano; navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;

(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga; 

(vi) visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016;

(vii) volta pela Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016);

(viii) o navio "Costa Luminosa" chega, pela manhã de 29710/2016, à cidade de Melbourne, Austrália;

(ix) visita à Austrália Ocidental, enquanto o navio segue depois para Singapura; o Graça de Abreu e esposa alugam um carro e percorrem grande parte da costa seguindo depois em 8 de novembro, de avião para Singapura, e voltando a "apanhar" o seu barco do amor...

(x) de 8 a 10 de novembro. o casal está de visita a Singapura, seguindo depois o cruzeiro para Kuala Lumpur, Malásia (11 de novembro); 

(xi) Phuket, Tailândia (12-13 de novembro).

3. Viagem de volta ao mundo em 100 dias > Phuket, Tailândia,  12-13 de novembro de 2016 (pp. 48-53, da Parte II)


Imaginava Phuket como uma praia, ou uma sucessão de praias bordejadas por hotéis e resorts para turista abancar e mergulhar em mares de tom azul turquesa. Afinal trata-se de uma ilha grande com 600 mil habitantes e 580 quilómetros quadrados, quase o dobro de Malta, no Mediterrâneo.

Chegámos à baía de Chalong, com a cidadezinha e a praia do mesmo nome, ao fundo. Não existe cais para a acostagem de navios de cruzeiro e o Costa ficou a descansar aí a uns dois quilómetros de terra, tendo o transfer dos passageiros sido feito por lanchas, tipo mini-cacilheiro.

Passeio por Chalong. Hotéis baratos, restaurantes de estranhas comidas e uma praia com água nem sempre limpa a que não dou mais de três estrelas. Sentados em bancos altos, em cafés e esplanadas na avenida à beira mar, há uns tantos travestis, homens façanhudos transformados por mil artifícios em esbeltas damas, de grossos lábios vermelhos, seios protuberantes e rabos empinados. São as, ou os ladyboys que sorriem até às orelhas, até à nuca, na procura simpática de clientes. Centros de massagens também enxameiam a malha urbana de Chalong. Dizem-me que se a massagista não estiver pintada, trata-se de massagem de verdade, se a rapariga ou o travesti aparecer para o trabalho decorado a preceito, haverá massagem e depois um final feliz.

De autocarro, passo para o outro lado da ilha para assistir a um nada entusiasmante espectáculo de música e dança à moda da Tailândia. Os bailarinos são desconchavados e feios – por onde andarão as tailandesas bonitas?  –, as marcações do bailado são elementares, a música é para ouvir e esquecer. Ao sair do teatro, há um grande grupo de turistas chineses à porta da sala aguardando a entrada. Não lhes gabo o gosto. Penso que a pesadona dança tailandesa, a funcionar em sessões contínuas, não agradará aos filhos do dragão que vão levar outra vez com aquelas figuras de pechisbeque, meio coloridas, tipo bonecos de cera em movimento. Jamais se devem tirar conclusões apressadas, sobretudo numa aproximação célere a realidades que desconhecemos. Alguém me explica que os turistas chineses vão assistir a algo completamente diferente, um show erótico apresentado por travestis, esfuziante de ritmo e movimento, a culminar com nus integrais e talvez sexo ao vivo, coisa nunca vista nos teatros em terras da China.

Mudando completamente de objectivo, o nosso destino é agora o templo budista de Chaithararam ou Wat Chalong, nos arredores sul da cidade de Phuket [Foto nº 1]. Os cinco pavilhões que constituem o âmago do templo são todos do início do século XIX e foram recentemente restaurados. Aqui venho encontrar, creio, o que de melhor identifica a arquitectura budista tailandesa. Os pavilhões estilizados, impecavelmente trabalhados, com colunas brancas ou creme sustentando os telhados sobrepostos, muito inclinados e levemente revirados, os budas dourados em oração em nichos e balaustradas no frontispício dos edifícios, a harmonia das cores no equilíbrio da brisa, tudo no fundo de um vale verdejante. Um fim de tarde mágico. Dentro do pavilhão principal, há mais budas e arhats, estes os discípulos de Sakyamuni, e guerreiros, e mestres sábios, divindades femininas de mãos postas em oração. Quatro budas jazentes aguardam, à beira da morte, a iluminação suprema. As figuras estão pintadas em dourado forte contrastando com as paredes brancas onde aparecem painéis multicoloridos com figuras associadas à vida de Buda, com os fundos verdes e azuis de florestas, rios e lagos.

No segundo dia, a Haiyuan quis ficar na praia de Chalong e para mim é tempo de partir à desfilada, cavalgando os mares da Tailândia.

Quase uma hora de autocarro, de novo para o outro lado da ilha até chegar a uma cuidada marina onde nos esperam lanchas rápidas que nos vão levar oceano fora até prodigiosos destinos. A barca está pronta para partir, leva quinze passageiros todos espanhóis, excepto eu, companheiros do cruzeiro, e conta com três motores Honda de 225 cavalos cada um [Foto nº 2].

Saímos da marina e logo estamos em pleno mar. Vou sentado na popa da lancha junto aos três motores que trabalham quase na rotação máxima. A barulheira dos hélices mais a larga esteira de espuma branca levantada pelo barco fazem-me pensar que participo, por especial graça, num grande prémio de motonáutica. A lancha salta e voa sobre as ondas a uns setenta quilómetros por hora. Que sensação boa, galopar um rapidíssimo corcel do mar sobre a prata e turquesa das águas, depuradas e limpas! Rodeamos ilhas rochosas plantadas ao acaso por deuses de tempos imemoriais, por certo em dia de grande desorientação. Há ilhas espalhadas por tudo quanto é horizonte. Numa delas, a lancha abranda, quase pára, para nos mostrarem a erosão do mar e uma espécie de estalactites gigantes caindo sobre as águas.

 Mais alguns quilómetros, ou milhas marítimas, e estamos ao lado de outra ilha em volta da qual passeiam turistas em pirogas manobradas por um seguro remador tailandês. Algumas canoas desaparecem ao entrar por grutas escavadas pela natureza no interior do monolito calcário.

Os motores aceleram de novo, mais uns dez quilómetros desembestados pelo mar e chegamos à ilha de Panyee, motivo para alguns assombros e uma bonita fotografia de uma avó com a sua neta [Foto nº 3]. 

Há mais de duzentos anos, algumas famílias muçulmanas abandonaram a ilha de Java, num barco, e acabaram por se fixar neste lugar, na pequena enseada onde decidiram continuar as suas vidas. Porque o terreno de Panyee era quase inexistente, construíram um amontoado de casas sobre plataformas de madeira apoiadas em troncos a funcionar como pilares cravados no fundo do mar, uma espécie de sistema de palafitas. A aldeia cresceu, os muçulmanos, quase todos pescadores, multiplicaram-se. Serão hoje umas centenas largas de pessoas, têm escola, uma clínica, até um pequeno campo de futebol e, claro, uma mesquita porque todas as pessoas que habitam na ilha são muçulmanas. Jamais havia visto um aldeia assim, mas creio que existem pequenas povoações semelhantes na baía de Halong, no Vietname. De resto, estas ilhas tailandesas têm parecenças com as que enxameiam Halong.

Partimos céleres para outra ilha, de nome Kao Tapoo mas conhecida, para entreter o turista, como “James Bond Island.” O nome advém-lhe de aqui ter sido rodado, em 1975, parte do filme “O Homem das Pistolas de Ouro”, com o então, ainda em bom estado, Roger Moore a fingir de James Bond. A ilha, muito visitada, é um lugar sombreado por algumas magias, tudo meio surreal, a vegetação trepando pelo alcantilado das encostas, pedra e grutas recortadas no interior da falésia. Diante da pequena praia, com águas cristalinamente verdes, há um enorme rochedo que parece crescer no mar, na base gasto pela erosão dos séculos, encalhado na luminosidade de terra, água e céu. Muita gente aproveita para o banho, para caminhar pelas veredas pedregosas que circundam a ilha, para tirar fotografia [Foto nº 4].

Partimos outra vez no desenfreado galope pelas águas. Mais umas dezenas de quilómetros e estamos na ilha de Lawa. Há um almoço buffet de razoável comida tailandesa à nossa espera num improvisado restaurante com cadeiras e mesas que quase entram pelo mar. Um banho, umas braçadas valentes na leve ondulação do oceano azul. Petisco as iguarias numa mesa na companhia de dois casais de Valhadolid e Madrid que argumentam bem sobre a qualidade de vida em cada uma das cidades. Olham para mim, esperam a minha opinião mas eu sorrio e permaneço calado quase até ao fim da conversa. Para espanto dos quatro que quase caem das cadeiras, de surpresa, digo que sou português, não entendo tudo o que dizem mas que “me gusta las dos ciudades.”.

Depois de almoço, dou um passeio ao longo da praia. Poucos turistas, a imensidão do céu estendendo-se triunfante sobre o verde do mar, o branquear das nuvens, um pobre português que às vezes quase fala espanhol, feliz, de passagem.

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Guiné 61/74 - P18456: Parabéns a você (1408): Rui Silva, ex-2.º Sarg Mil Inf, CCAÇ 816 (Guiné, 1965/67)

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Março de 2018 > Guiné 61/74 - P18453: Parabéns a você (1407): Braima Djaura, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 19 (Guiné, 1972/74)

sábado, 24 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18455: Os nossos seres, saberes e lazeres (259): Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 22 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,
Assim acabou a tournée, 10 dias repimpados, rodeado de amigos do coração.
Tratava-se de um acontecimento singular, uma amizade que fazia 40 anos. E sem qualquer sopro de melancolia percorreu-se o que tinham sido os primeiros percursos, 40 anos atrás havia o edifício icónico da Comissão Europeia (que depois foi sujeito a obras de fundo para remover o amianto), o Parlamento Europeu tinha então instalações minguadas, saía-se na Gare Central e em frente deparava-se um descampado. Tudo mudou mas ficou o culto dos parques e jardins, e há bairros que conservam um enorme caráter, hoje já não se pode destruir à toa como no passado recente.
É esta a cidade que me continua a enfeitiçar, suspiro sempre por ali regressar.

Um abraço do
Mário


Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (8)

Beja Santos

Tudo o que é bom tem o seu epílogo ou compasso de espera, abre caminho a outras espectativas, até a outros programas de viagem, mesmo que a viagem se volte a centrar nesta cidade, tão pomposamente tratada como a capital do coração da Europa. O que agora finda nada teve a ver com o que se chama turismo, foi uma combinação entre dois amigos, em nome de um encontro que ocorreu exatamente 40 anos antes, bem perto do Palácio da Justiça, que se vê nesta imagem, em pleno bairro de Marolles, estava o viandante longe de saber que cada vez que chega a Bruxelas há um íman que o atrai para as velharias da Place du Jeu de Balle, percorre de alma lavada esses bairros de pujante arquitetura entre a Arte Nova e a Arte Deco, é o que está a fazer exatamente neste momento, na hora da despedida.



Uma das atrações de sempre, e que leva o viandante a ficar especado diante destas fachadas, são os pormenores, o entrosamento entre o azulejo, o ferro e o vidro, as proporções, o equilíbrio dos volumes. E volta-se à litania de que estas fachadas, não sendo propriamente chocantes, contrastam e devia haver uma entidade que fizesse uma paleta de sugestões em conformidade com os estilos desta bela arquitetura. Um dia há de acontecer.



Já que se falou em contraste, vindo do bairro de Ixelles, daquelas artérias onde se misturam as comunidades oriundas do Congo e de outros povos de África Central com classes médias, não resistiu o viandante a tirar esta imagem de um estabelecimento de frutas e legumes, é outra forma de harmonia, trata-se de um escaparate que leva o passante a deter-se perante tanta ordem, tanta cor convidativa. E dali se passou para um outro mundo, a muito chique Avenida Louise, estas formas são pouco frequentes na cidade, mas são seguramente impressionantes, e por estas lojas vende-se ourivesaria, alta costura, pelaria e sapatos ao sabor de milhões e milhões (euros, entenda-se).




Não é a primeira vez que aqui se cantam hossanas a estes parques forjados entre o século XIX e o início do século XX. Certamente que a arquitetura era outra mas estamos em território bilionário, por aqui se espalham escritórios, estamos nos bairros Leopold e Europeu. Oiçamos o que se escreve no livro sobre os percursos de Bruxelas, aqui amplamente citado: “Na Primavera, Verão, Outono, Inverno, percorremos o Parque Leopold embalados pelas variações íntimas dos seus contornos. As árvores altas enxameiam as suas silhuetas pelas encostas de plantas rasas, ligeiramente escarpadas deste território restrito, no interior do qual se repartem diferentes edifícios”. E, mais adiante: “Quando percorremos Bruxelas a pé, acabamos por nos habituar: poucas indicações fora do Centro e, ainda menos, nas cercanias do Bairro Europeu… Siga pelos passeios desta artéria perfeitamente ordenada numa série de blocos de escritórios impecavelmente vestidos de cinzento-escuro. Olhe as montras como se abordasse uma cidade nova… O Bairro Leopoldo perdeu 50% da sua superfície dedicada à habitação entre 1960 e 1981, e mais de 60% do seu comércio a retalho, cafés, restaurantes, para as atividades administrativas e instituições europeias”. Restam os parques para falar desse tempo glorioso do poderoso senhor do Congo, o rei dos Belgas.



Parques formosos, jardins elegantes, uma espantosa serenidade no meio deste bulício das instituições europeias e dos escritórios de advogados e altas representações de interesses. Os que dizem que Bruxelas é uma cidade monótona deviam munir-se do mapa dos parques e jardins, teriam surpresas. A família real vive nos arredores de Bruxelas em Laeken, um subúrbio que não se limita ao castelo da família real e às suas estufas, de renome universal. Os jardins são primorosos, e há curiosidades orientais, trazidas por Leopoldo II, da Exposição Universal de Paris de 1900. Duvido que exista outra cidade europeia com tantos parques e jardins, tanto relvado e arvoredo, isto para já não falar na majestosa cintura da floresta de Soignes.




É o derradeiro passeio, aos jardins que circundam o Museu Real da África Central. O viandante foi lá a primeira vez vai para 30 anos, encantou-se com o acervo, está ali a maior coleção do mundo de objetos e arte africana fora de África. Digamos sem mais delongas: “A maior parte das obras foram pilhadas durante a colonização do Congo por Leopoldo II no século XIX, uma questão incómoda. Este museu é pretexto para um passeio de meio-dia, começando pela própria viagem, pelos trilhos bordejados de árvores do velho elétrico 44, do metro Montgoméry até à vila flamenga de Tervuren, a 14 quilómetros de Bruxelas”. As imagens falam por si, não podia ter o viandante melhor programa naquele dia frio mas devidamente iluminado, agora só resta ir comer uma sopa e uma massa com salmão a Watermael-Boisfort, e seguir dali diretamente para Zaventem, Lisboa já está no horizonte.


Até à próxima, André, foi muito bom conhecer-te vai para 40 anos, tenho para contigo uma dívida impagável do que e ensinaste na profissão, despeço-me calorosamente até ao próximo encontro, estava longe de suspeitar, nesses anos em que Portugal batia à porta da CEE que os grandes espaços também criam grandes amizades. E assim será até ao último dia das nossas vidas.
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Notas do editor

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Último poste da série de 23 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18449: Os nossos seres, saberes e lazeres (258): Uma viagem a Veneza (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)