sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22490: A galeria dos meus heróis (42): De companheiros de infortúnio a amigos para a vida - Parte II (Luís Graça)


Palácio Nacional de Mafra: uma visão romãntica, em litografia de 1853, da autoria de João MacPhail (que morreu em 1856). Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal: http://purl.pt/12043. Imagem do domínio público, Cortesia de Wikimedia Commons
 

A galeria dos meus heróis > De companheiros de infortúnio a amigos para a vida - Parte II 
(Luís Graça) (*)

 

3A. Ganhava-se mal na função pública, 
mas era um emprego certo, 
com cheque ao fim do mês e algumas pequenas regalias. 
Nas finanças, havia os “emolumentos”, 
que representavam mais uns tostões ao fim do mês. 
Eu teria preferido entrar para a banca, 
nessa altura tinha mais prestígio. 
Os bancos, privados, pagavam melhor e tinham melhores instalações. 
E já havia uma ou outra rapariga ao balcão…

 

Naquele tempo, com a economia a crescer a dois dígitos (como se diz hoje), e a máquina do Estado a expandir-se e modernizar-se não era difícil entrar para função pública, a banca, os seguros, as caixas de previdência, os escritórios, as fábricas… 

Não, não era o meu sonho seguir as peugadas do meu pai, um obscuro funcionário corporativo num Grémio da Lavoura. Tenho pena de o dizer, mas infelizmente, o meu pai era um fraco exemplo de ambição e liderança. De resto, lá em casa vigorava o matriarcado, a minha mãe era mestre-escola, tinha o curso do Magistério Primário, a primeira mulher da família a ir estudar. E sobretudo era minhota, e que em pequenino me contava a lenda da Deu-la-deu Martins. Os homens da casa e a criada chamavam-na a “generala”, com o devido respeito… E integrava a comissão local do Movimento Nacional Feminino. Sem favor, acho que fez um bom papel, ajudando muitas famílias pobres da região, com filhos no Ultramar.

Quando eu saí da tropa, apetecia-me era “correr mundo”, como alguns dos meus amigos do colégio dos jesuítas. E que, mais finos e expeditos do que eu, se safaram melhor, alguns, da tropa ou até do ultramar: um ficou em Luanda, outro ficou no Hospital da Estrela em Lisboa ...

Devo acrescentar que não meti nenhuma cunha para me livrar do Ultramar. O meu pai, que era da União Nacional (, tinha que ser, era funcionário corporativo), ainda esteve tentado a “mexer os seus pauzinhos”, como ele me confessou, eufemisticamente. Mas a minha mãe fuzilou-o com um olhar de reprovação. Era (ainda é) uma mulher de grande verticalidade. Uma senhora de grandes princípios, com um educação esmerada. E, ela, sim, de origem fidalga. O meu pai era um plebeu, um manga de alpaca que nunca passaria da cepa torta. Claro que o Ravasco não acreditaria nesta história, se eu caísse na patetice de lha contar.

Enfim, fui colocado, sem entusiasmo,  na repartição de finanças de Mafra, Mafra Dois, como dizia o Ravasco, num lugar do quadro de pessoal, como aspirante de finanças. Entrava numa carreira técnica. Passava a ser liquidador de impostos, como na Roma Antiga, como fantasiava o meu pai. No passado, era um lugar de prestígio, de nomeação régia. Na época ainda não havia computadores, liquidava-se os impostos à mão, de lápis na orelha. Quando muito havia já umas pesadas maquinetas, electro-mecânicas, que funcionavam como “calculadoras”. O mais importante era saber fazer contas de cabeça. Nisso eu era bom, melhor que o meu irmão que foi para o magistério primário, seguindo o exemplo da mãe (, enquanto o meu pai queria que ele fosse regente agrícola).

Já não me lembro das categorias, nem das letras de vencimento, mas estava cá para o fundo da tabela: começava-se como aspirante de finanças estagiário, depois aspirante concursado, depois aspirante do 2º grau e depois do 1º…

O Ravasco gozava comigo e perguntava-me com que idade é que eu me imaginaria chegar,  se não a diretor de finanças como o meu tio-avô, pelo menos a adjunto… Mas o que eu mais gostava era do meu cartão da DGCI, com uma barra na diagonal, a verde e a vermelho, as cores da República, que me dava acesso a quase tudo, com destaque para as casas de… “diversão noturna”. 

Passei a ser um gajo respeitado pelos “gorilas” que estavam à porta das “boîtes”, como então se dizia, “à francesa”...Quantas vezes não entrei no “Ouriço”, na Ericeira, que, ao que me dizem, ainda hoje existe… (Nunca mais lá voltei à Ericeira, depois de ter sido transferido para Braga.)


4. Vê-se que o Bacelar não nascera para isto, 
“manga de alpaca”, como ele dizia, com desdém, do pai. 
Eu chamava-lhe o “morgadinho”, com ironia. 
Tinha a mania que era de “sangue azul”. 
Mas a verdade é que ele tinha de fazer pela vida, tal como eu. 
Via-se que tinha “bons princípios”, 
tendo nascido, se não em berço de ouro, 
 pelo menos em cama com lençóis de linho. 
 Pois fora coisa que eu nunca tivera
 E a minha mãe, coitada, era analfabeta. 
E o meu pai, mineiro. E o meu avô, ganhão. 
E mais do que avô não conheci



Procurei consolá-lo, fomos petiscar, “jaquinzinhos fritos”, com arroz de tomate, ainda me recordo, numa tasca saloia, de um fulano da Malveira,  que ainda lá existia, quatro anos depois. Já estava mais “modernaça”, para o meu gosto, com mesas envernizadas e tampos de vidro… 

Depois procurei mentalizar o meu colega de “desterro”  (mas, no fundo estava a tentar arranjar algum consolo para o meu próprio infortúnio=: um gajo, na vida,  tem de começar por qualquer coisa, “estagiário” ou “aspirante” a qualquer coisa. A menos que se tenha um pai rico… Começáramos como “aspirantes estagiários”, muito bem… E um dia, se o convento não desabasse, haveríamos de subir mais um ou dois degraus… Pensava nisso quase todos os dias quando subia aquela maldita escadaria, de manhã, para chegar à repartição. Foi o que o “chefe” nos disse, incentivando-nos a estudar… “É uma carreira bonita mas dura”… E, aí, de repente, tive a intuição de que ele só poderia ter sido padre, há uns vinte e tal anos atrás… Os padres são marrões, conhecia-os de ginjeira.

 O grande chefe, Salazar, também ex-seminarista, esse, já tinha morrido, uns tempos antes, mas o seu regime sobrevivera, aparentemente incólume, reproduzindo-se o “mandarinato chinês”, como eu dizia depreciativamente. Era o que estávamos a viver, na época, a “mudança na continuidade”. O regime estava a chegar ao fim, mas eu não conseguia predizer quando…  E os “mandarins” começavam a andar nervosos, mas eu não sabia nada do que se passava por detrás dos muros da “Máfrica”, naquela época, em finais de 1973: conspirações, traições, alianças, vinganças, etc.

Tudo isto para dizer que fui completamente apanhado de surpresa pelo 25 de Abril. Nessa manhã eu estava na repartição, quando alguém, de fora, da nossa tertúlia, me veio dar a notícia, alvoraçado, ao balcão.  Mas ainda a medo, segredando-a ao meu ouvido. Eu próprio pensei logo que era um golpe da extrema-direita, orquestrado pelo Américo Tomás e o Kaulza de Arriaga. Mas de tarde já andava tudo nervoso, lá na repartição, a começar pelo "açoriano", que se trancou no gabinete.

Pessoalmente não tinha grandes ideias para o meu futuro pessoal. Queria poder equacioná-lo numa perspetiva de futuro… coletivo. Precisava de sentir que o meu país tinha futuro. Era uma dos chavões da época... Queria continuar a estudar, mas não tinha grande cabeça para o fazer. Faltava-me a disciplina mental. Ainda estava a fazer o “luto”: não já da morte do meu pai, mas da minha participação na guerra… Estranhamente, só depois de ter regressado, é que comecei a sentir “asco” por ter feito aquela guerra…

Não é que eu fosse muito “informado” quando parti para a Guiné… E, confesso até, não tinha “consciência política” na altura… Nem grande nem pequena… Não tenho hoje vergonha de o dizer, depois de passar à “peluda”… 

Quando fui mobilizado, não questionei a legitimidade da guerra… Aceitei a “canga” que me puseram em cima, como o burro que puxava a nora, lá no quintal de um dos vizinhos dos meus avós de São João dos Caldeireiros… Mas depois vi coisas, na tropa e na guerra, de que não gostei. E isso terá enviesado a maneira de ver o que se passava em Portugal, a partir de 1972. De resto, tinha tido uma educação, no mínimo, “religiosa e conservadora”, propícia à aceitação resignada da "ordem estabelecida", como então se dizia… O Vaticano II, o Concílio,  levara tempo a chegar a Portugal, mas começava a “fazer estragos”, e um deles foi o progressivo despovoamento dos seminários...



4 A. Fui, no domingo, à missa
e gostei de conhecer o padre cá da paróquia.
Pela idade, deve ser o coadjutor, 
mas irradia simpatia e inspira confiança. 
E rodeia-se de gente nova. 
Parece ser um padre “arejado de ideias”, 
como agora se diz. 
Tenho-o de o apresentar ao herege do Ravasco.


Suspeito que é um daqueles padres “progressistas”, que nem sempre sabem distinguir as coisas de Deus e os negócios dos homens. A linha de fronteira é ténue, é verdade. E eu próprio às vezes fico confuso sobre o teor dos sermões que agora ouço nas homilias. É um tipo que se aproxima das preocupações dos mais novos e, sem abordar diretamente as questões mais quentes da sexualidade, retira a carga de pecado que os padres mais tradicionalistas, associam aos nossos “pensamentos, palavras e obras"... Fala também de liberdade e justiça...

Talvez antes ir ao próximo Natal a casa, lhe peça para me ouvir em confissão. Há quase um ano que não me confesso nem comungo. Não sei o que dizer à minha mãezinha se ela, na Missa do Galo, vir que eu já não comungo… Acho que já não sou o mesmo, também não vim o mesmo de Angola onde a descristianização era já muito maior do que aqui. As pessoas estavam instaladas, viviam bem, os brancos, e tinham-se tornado cínicas… E sobretudo demasiado confiantes em relação ao futuro… Arrogantes, diria mesmo… Pertenciam a outro mundo, em acelerado desenvolvimento, e no fundo sentiam alguma sobranceiria  em relação  às gentes  do "Puto"... que nem todos conheciam. 

Em Luanda não havia guerra nem se falava da guerra, se não fora a presença de tropa fardada e o movimento de viaturas e aviões militares…Mas tenho saudades, de Luanda, onde ainda passei os últimos meses da minha comissão... Da ilha e da baía de Luanda, do Mussulo, da vida noturna… Ah” aquelas noites tropicais, com os pés dentro de água, e, na mão, um gin tónico com uma rodela de lima… 

 

5. Acho um ridículo atroz o Bacelar usar, 
no anelar esquerdo, um cachucho com brazão!...
Não esconde as suas simpatias monárquicas 
e é católico de ir à missa. 
Fazia questão de me dizer que não se interessava 
pela “política politiqueira”. 
 Onde é que eu já ouvira isso ? 
Nas “conversas em família”… 
do senhor professor doutor Marcello (com dois eles) Caetano


Gostava de gabar-se de que ainda tinha algumas boas relações, que vinham do tempo em que um dos antepassados, do lado do ramo materno, fora juiz-conselheiro e par do reino no tempo do senhor Dom Carlos. Não quis humilhá-lo perguntando-lhe o que era isso de ser “par do Reino”… e lembrando-lhe que em 1910, há mais de 70 anos, tinha caído a monarquia em Portugal… 

Para desgosto da mãe, que devia ser  uma pessoa intelectual e moralmente exigente, ele nunca fora bom aluno, tirara o quinto ano dos liceus, se calhar à rasquinha, pelo oque eu deduzi.  O que não era normal nos filhos dos professores primários, formatados para serem os primeiros da turma. Mas tinha jeito para línguas, mais do que eu, que era um cepo. Vá lá, eu safava-me no latinório, que era uma língua morta, e desenrascava-me no francês de praia…

O Bacelar era o que se podia dizer um sedutor nato, tinha sorte, garantia ele, junto do “sexo fraco”. Mas também fazia facilmente amigos de ocasião. Tinha olho azul e era alourado. Tinha uma bela cabeleira. Enfim, era bem “apessoado” e caprichava no vestir.  Mas eu não lhe dava grande trela, não tinha pachorra para lhe ouvir as aventuras amorosas desde o tempo do colégio dos jesuítas… Secretamente, invejava-lhe a sorte de ter tido, nessas matérias,  melhores professores do que os meus…

Ao Bacelar não era  totalmente estranha a “região saloia” (, como ele abusivamente dizia), já que tinha passado dois ou três meses, mais a norte, nas Caldas da Rainha como 1º cabo miliciano, monitor no Curso de Sargentos Milicianos, antes de ser mobilizado para Angola. Expliquei-lhe que a “região saloia” ia das muralhas de Lisboa até Mafra… O Dom Afonso Henriques poupara os mouros, não os passando pelo fio de espada, como era norma, bárbara,  em tempos de cruzadas,  mas mandara-os cultivar alfaces fora das muralhas. Enfim, esta era a historieta que me contara um dos meus instrutores, na “Máfrica", se calhar ele próprio ainda com sangue mouro  nas veias...

Quis o destino que fôssemos os dois parar àquele antro de públicas virtudes e vícios privados, desde o tempo do senhor Dom João V… O "cubículo" da repartição de finanças era, só por si, um casarão, onde apesar do eco, não se falava alto. O chefe impunha o seu tom de voz, mavioso, de ilhéu terceirense, se bem me lembro. Acho que ele era da terra do Vitorino Nemésio, Praia da Vitória. Raramente aparecia em público. Passava a maior parte do dia, no seu gabinete, a preparar-se para o “próximo concurso” que nunca mais chegava...

Ah!, também não gostava de ver o Bacelar a puxar do o “cartão da PIDE/DGS”, como eu lhe chamava com sarcasmo,  quando  íamos ao “Ouriço” ou atéao bar do hotel!... Ele tinha cá uma lata!... Eu, pelo contrário, recusava-me a fazer uso do cartão da DGCI. Penso que nunca puxei por ele para me impor a alguém ou entrar num estabelecimento da vida nortuna, que de resto só frequentava para fazer companhia ao Bacelar.

 

5 A. Na divisão de serviço, o Ravasco teve mais sorte do que eu: 
atribuíram-lhe o imposto de compensação e transações…. 
Fazia o mapa das empresas rodoviárias, 
de transportes de passageiros e mercadorias, 
a Mafrense, a Isidoro Duarte e outras…

 

A mim, pelo contrário, deram-me o trabalho de um reles escriturário: expediente, correio, diário do Governo, atendimento ao público, e pouco mais… Foi o sacana do adjunto que distribuiu o serviço, em nome do chefe “que nunca podia ser incomodado, a não ser por força maior”…

Desde o início que o gajo não simpatizou comigo, o adjunto, por alegadamente eu ser “filho de Ansião”. O homem devia ter tido algum conflito com o diretor-geral, no passado. E quem pagava, por tabela, eram os “afilhados”… 

Inconsolável, fui pôr o caso ao chefe da repartição e falei-lhe do meu tio-avô, diretor de finanças…. Enfim, para não se chatear com o seu adjunto, alargou a minha área de competência com a contribuição predial que era “muito trabalhosa”, e retirou-me o correio e o expediente, que era coisa de escriturário…

Em jeito de protesto, eu no dia seguinte pedi logo transferência para Viana do Castelo ou Braga, conforme as vagas…

O “serviço melhor” já tinha dono, três ou quatro funcionários do “grupinho do adjunto” controlavam as “principais áreas de poder”: contencioso, fiscalização externa, imposto sucessório, imposto profissional, imposto complementar, contribuição industrial… Eram todos da terra, quer dizer “saloios”, com exceção de um de fora, mas já com raízes familiares em Mafra.

Acabei por descobrir, por portas e travessas, que este era também o “grupinho das meninas”: uma vez por mês iam a Lisboa, a uma casa de passe clandestina, controlada por uma “madama” com muito boas relações com a hierarquia da DGCI… Creio que era à sexta-feira da última semana do mês… Percebia-se pelas conversinhas, entre eles, na segunda-feira de manhã, que a noitada tinha sido em grande, acabando numa conhecida marisqueira das Portas de Santo Antão…

Contei tudo isto ao Ravasco, que ficou indignado e mostrou-se solidário comigo. Afinal, quem paga tudo isso ?, interpelava-me ele.  A minha consideração pelo meu colega alenyejano aumentou mais um ponto ou dois. Mas não alterou nada da minha situação ali dentro. Sentia-me deslocado, infeliz, com saudades da minha gente e da minha terra.


6. Não posso jurar que havia aqui corrupção. 
 Corrupção ?!... Não se falava disso na época. 
Discutia-se o regime como um todo. 
E esperava-se, à boa maneira sebastiânica, 
que acabasse por cair um dia. De podre.

 

Eu tinha chegado há pouco e tencionava não demorar muito por lá, pela repartição de finanças de Mafra Dois. Mas não punha as mãos no fogo pelo adjunto e o seu “grupinho das meninas”, como lhe chamava o Bacelar. Quiseram ser simpáticos connosco e, no feriado do 1º de Dezembro, que calhava a um sábado, convidaram-nos para beber um copo, a seguir ao jantar e ver um "filme pornográfico sueco" (, na realidade, dinamarquês), em 8 mm, na quinta de uns amigalhaços, ali para os lados do Gradil.

O Bacelar levou o carro dele, eu fui num outro, não queria ser votado ao ostracismo logo nos primeiros dias. Percebia-se que cultivavam boas relações com alguns dos maiores contribuintes. Era costume, por exemplo, um deles, muito conhecido, ligado à indústria de alimentação e bebidas, oferecer, pelo Natal, uma lauta ceia aos funcionário da repartição de finanças. Era uma tradição já arreigada, não só nas contribuições e impostos,  como no restante funcionalismo da província, incluindo os tribunais. Noutras ocasiões  ia-se a uma marisqueira de Ribamar da Ericeira,

Nesse final de ano de 1972, eu e o Bacelar também fomos convidados. Parecia mal não alinhar, logo no nosso “primeiro ano”. Sabíamos que estávamos “à prova”, debaixo de escrutínio… O chefe, esse,  delegou no adjunto. Parecia-nos um homem decente, mas fraco em termos de autoridade… Chamavam-lhe o “açoriano”…

Nessa “ceia de Natal do fisco”, entre “charutos cubanos” e “conhaques franceses”, ouvi a história do fundador da empresa que, no tempo da guerra de Espanha, aprendera a fazer contrabando de “essência de laranja”, e acabara por abrir uma fabriqueta de “pirolitos”…O segredo do negócio ? A água, o acesso a água, “muita e de boa qualidade”… Percebi depois que, com a “guerra de África”, as exportações haviam aumentado em flecha…Era um dos fornecedores da Intendência Militar. Lembro-me de ter visto a marca, na Guiné… Mas eu não bebia refrigerantes, com carradas de acúcar, que só faziam aumentar a sede…

A minha santa ingenuidade, a minha crença, parva, na honestidade e bondade intrínsecas do ser humano, sofreu mais um duro golpe. Eu tinha idade para ficar de pé atrás contra certa gente. Afinal, aquilo de administração pública tinha pouco. O tal adjunto era apenas a ponta do iceberg. Entristecia-me ter colegas daqueles a trabalhar a meu lado. Infelizmente tinha que lhes sorrir e apertar a mão direita enquanto, com a mão esquerda, eles enfiavam no bolso o “santo antoninho”, a nota de vinte paus, que o pobre do contribuinte saloio lhes deixava debaixo da capa do “processo"... O  "processo”, o terror de qualquer pequeno contribuinte !!!...

Mas, adiante. O acontecimento mais marcante que vivi em Mafra Dois, no tempo em que lá estive, enquanto trabalhador dos impostos, foi o 25 de Abril de 1974. Não por nenhum acontecimento local, digno de especial nota: não vi movimentação de tropas, alvoroço de tropas,  viaturas,  chaimites, tiros para o ar, nada disso… Tudo se decidiu alguns quilómetros mais a sul, na capital. Mas antes tenho de recordar aqui uma cena, das minhas memórias de Mafra Dois,  que nunca mais esquecerei, enquanto pelo menos não apanhar o Alzheimer.

(Continua)



© Luís Graça (2021)

Nota do autor: Neste conto, os nomes são fictícios, mas os factos são verdadeiros. Acontece que este país é demasiado pequeno.

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Guiné 61/74 - P22489: A galeria dos meus heróis (41): De companheiros de infortúnio a amigos para a vida - Parte I (Luís Graça)


Mafra > Escola Prática de Infantaria (EPI) > 1968 > Cerimónia do Juramento de Bandeira > Desfile dos novos militares, onde se integrava o Paulo Raposo, frente ao Convento de Mafra. O Paulo Enes Lage Raposo, que nada tem a ver com a história que a seguir se conta (ficcionada, mas onde os factos são verdadeiros),  foi alf mil inf, MA, CAÇ 2405 / BCAÇ 2852 ( Mansoa, Galomaro e Dulombi, Guiné,1968/70), e o organizador  do histórico  I Encontro Nacional da Tabanca Grande (Ameira,  2006). A sua companhia perdeu 17 militares na travessia do Rio Corubal, na sequência da retirada de Madina do Boé, em 6 de fevereiro de 1969 (Op Mabecos Bravios). 


Foto (e legenda): © Paulo Raposo (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


A galeria dos meus heróis > De companheiros de infortúnio a amigos para a vida 

- Parte I (Luís Graça)



1. Conheci o Bacelar em Mafra. 
Em finais de novembro de 1972.
Um mês antes do Natal.
Numa tarde fria e chuvosa...
E logo em Mafra. Logo ali, na ”Máfrica”,
como eu e outros que por lá passámos na tropa,
chamávamos àquela terra desgraçada.
Tudo por causa da EPI, 
a Escola Prática de Infantaria,
que se tornara a principal fábrica
de oficiais milicianos, alferes e capitães,
comandantes operacionais
com destino à guerra de África.


Ainda me soava aos ouvidos a frase  de uma canção de protesto, de um gajo de Coimbra, estudante de medicina, que deve ter chumbado a meio do curso, e que era do “reviralho”, cantava bem e tocava viola sofrivelmente : “Muita chuva, muito vento, muita merda… e um convento!", cantarolava ele na caserna, enlameado e estafado, depois do crosse semanal...

Por aqui passara eu, cerca de quatro anos antes, como “feijão-verde”.  Eu, o meu antigo capitão miliciano e outros camaradas de que já havia perdido o rastro.  Para mim, "criminoso" contra a minha vontade, era como voltar ao “local do crime” Foi dos regressos ao passado mais penosos da minha vida. Ao sítio onde não fora feliz, nem nunca o poderia ter sido. Foi aqui que recebi a trágica notícia da morte do meu pai.  Prematura, sem ter completado os sessenta anos.

Não me autorizaram sequer a ir despedir-me dele. Morrera na véspera do meu juramento de bandeira. Mandaram-me, da agência funerária, um telegrama em cima da hora. O tenente da minha companhia de instrução chamou-me ao gabinete e disse-me, seco e perentório, em resposta ao meu pedido para ir a Mértola, ao funeral: “O senhor soldado-cadete pode ir, o pai é seu, mas perde o juramento de bandeira, chumba no COM, vai parar ao CSM, a Tavira, às Caldas ou a Santarém, atrasa o seu embarque para o Ultramar em mais alguns meses… Enfim, a escolha é sua!”…

Sim, o pai era meu, mas a pátria era deles... Enfrentei,  nesse fim de tarde, um terrível dilema, dividido entre o meu amor filial, o meu dever de ir prestar a última homenagem ao meu pai, e a tomada de consciência,  naquele preciso momento, de que passava a estar, doravante, na “linha a frente” e, ao mesmo tempo, a ser o sustento da minha família, da minha mãe e da minha irmã, mais pequena. Por outro lado,   dava-me conta da impossível escapatória  daquele sistema totalitário, que era a “Máfrica”, representado pela nudez e a cruza daquelas paredes que me encarceravam. Não ficara em França, não ía agora fugir do meu país...

Confesso que chorei lágrimas de sangue no dia seguinte, enquanto jurava bandeira, na praça frente ao palácio, com o povinho mudo e calado ao largo… Trágica ironia, jurava defender a minha Pátria (se necessário, “até à última gota do meu sangue”), no preciso momento que descia à terra o corpo do homem que me dera o ser.

Passado pouco tempo estava em Vendas Novas, na Escola Prática de Artilharia, a meio caminho de casa, e mais perto também da minha irmã mais velha, que vivia em Almada e cujo marido, soldador,  trabalhava na Lisnave. Fui lá fazer a instrução de especialidade. Aproveitei uma licença de alguns dias  para dar um salto à minha terra e depor um ramo de flores silvestres  na campa, rasa, do meu velhote, morto pela silicose que lhe destruíra os pulmões.

Mas o Bacelar não tinha nada a ver com isto, com o meu passado recente e muito menos com os meus dramas de consciência. Ele era apenas mais um “companheiro de infortúnio”  que eu tivera o azar de encontrar em Mafra, desta vez no mesmo emprego. Claro que eu não o conhecia de lado nenhum. E, muito provavelmente, não  iria voltar mais a vê-lo,  a partir do dia em que cada um de nós fosse à sua vida, uma vez colocados noutros sítios. 

 Por estranha coincidência (ou, supersticioso  como eu era,  seriam mesmo coisas do destino ?!), tínhamos chegado, eu e o Bacelar, no mesmo dia, ao fim da tarde, com uma hora de diferença. Numa tarde fria e chuvosa, anotara  na minha agenda. Ainda a tempo, contudo, de podermos “tomar posse” (era assim que se dizia na época) do lugar do quadro do pessoal  da repartição de finanças local. Como se o lugar fosse nosso, "de pedra e cal", e para o resto da vida...

Mas eu devia estar, se não feliz, pelo menos aliviado por arranjar um emprego na função pública, com as habilitações literárias que tinha, o 7º ano do seminário que só dava equivalência para a tropa e o funcionalismo público.  Mas não!... Logo por azar meu, as finanças estavam instaladas naquele pavoroso convento, o mesmo onde funcionava, nas traseiras,  a “Máfrica”, de triste memória para mim.

Eu tinha chegado em cima da hora. O chefe da repartição, que me pareceu, à primeira vista, boa pessoa, afável, educado, com sotaque açoriano, foi quem nos apresentou um ao outro, e ao restante funcionalismo.

Mas, dado o adiantado da hora, fez questão de deixar a cerimónia da tomada de posse para a manhã do dia seguinte, com a promessa de, no respetivo termo, constar a data da véspera. Ele era a amabilidade e a calma em pessoa. E fez questão de nos dizer, no seu saboroso sotaque, que não nos queria, em caso algum, prejudicar a “antiguidade”. E carregava na penúltima sílaba com evidente deleite.

Percebi logo que também aqui, tal como na tropa, a “antiguidade” era um posto. Lixei-me com essa da "antiguidade", tive de substituir o capitão, na Guiné,  depois de ele ter sido evacuado para a “metrópole”, por motivo de doença,  que, segundo suspeitávamos, seria do “foro mental”. 

Nunca fomos chegados, eu e o meu capitão, falávamos apenas das coisas estritamente indispensáveis de serviço. Ele também não era de grandes falas. Sei que tomava algumas drogas para o sistema nervoso, almoçávamos juntos na messe de oficiais. Tínhamos uma messe só para nós, o capitão e os quatro alferes milicianos. Na prática, a messe era igual, para oficiais e sargentos, mas havia uma divisória, uma espécie de biombo, a separar as duas classes.

Alguém da companhia ainda o encontrou em Bissau, no HM 241, na “psiquiatria”. Era um verdadeiro  labéu para a reputação de um militar uma baixa psiquiátrica. Um tipo podia ser “apanhado do clima”, que se lhe desculpava tudo (ou quase tudo). Um gajo podia apanhar uma borracheira, daquelas de caixão à cova, que logo lhe acrescentavam mais uns pontos no currículo de macho. Um gajo podia até ser "cornudo", coitado, que isso não acontecia só aos outros. Um gajo podia ser “maluco”, mas nunca podia dar “parte de fraco”, "dar baixa", neste caso ir parar à “psiquiatria”… Muito menos sendo um comandante operacional.

Antes de saírem para o conforto dos seus lares, os novos colegas das finanças, solícitos, se não mesmo afáveis mas algo premonitoriamente distantes, deram-nos  indicações sobre onde  jantar e pernoitar. Que no dia seguinte logo se arranjaria melhor sítio para se ficar por uns tempos, já que quartos para alugar não faltavam naquela terra "acolhedora e hospitaleira" (sic). Confesso que não gostei da cara de alguns, que pareciam os verdadeiros “donos da baiuca”.

 


1 A. Conheci hoje o Ravasco. “Ravasco, que raio de nome!”,
pensei eu quando ele me estendeu a mão,
rugosa, de cavador…
”Será nome ou alcunha ?”,
tive a indelicadeza de lhe perguntar.
”Apelido, de família”, respondeu-me,
secamente, com cara de poucos amigos.
Na minha terra, dizia-se 
de um homem libertino, "putanheiro"...


Dormimos, nessa noite, numa pensão, rasca, numa das  ruas que atravessavam o casario frente ao canvento,  e que o meu novo colega logo reconheceu. E que cheirava a grelhados, a serradura e a mijo de gato.  Ele fizera aqui a tropa há quatro anos atrás, segundo me confidenciou. E ficara, desde então,  com um asco a Mafra.

Em conversa com ele, ao jantar, descobrimos que ambos tínhamos regressado, ainda relativamente há pouco tempo, da guerra do Ultramar. Eu de Angola, ele da Guiné. Éramos da mesma colheita, 1947, embora eu fosse mais novo uns meses.  Mas cada um, afinal, com diferentes memórias, experiências e até expectativas. As recordações que eu trazia eram até boas, as dele nem por isso, segundo percebi logo de início. 

Eu evitei, deliberadamente, falar em demasia desse passado recente que nos aproximava. Talvez por pudor. E também porque não conhecia o Ravasco, ou melhor, tinha acabado de o conhecer  há umas escassas horas. E, em boa verdade, não tinha a certeza de poder confiar nele. Tive até o pressentimento que muitas coisas nos podiam separar. Nunca fui pessoa de fazer amizades logo à primeira vista. Sempre foi uma das recomendações da minha mãezinha que era uma mulher sábia e com um formidável sexto sentido: nunca se enganava no primeiro juízo que fazia dos estranhos. Tirava-lhes logo a "pinta", pelas primeiras frases e gestos...

Para começar, o Ravasco era, seguramente, de famílias humildes. Em contrapartida, era um antigo camarada de armas, se bem que eu ainda não valorizasse muito essa condição. Agora era meu colega de trabalho. Mas eu, ao princípio.  atrapalhava-me, tratava-o ora por colega ora por camarada. Com alguma cerimónia.

E apercebi-me logo que ele não gostava de tocar na tecla da Guiné. Eu pus-me então a imaginar que ele teria passado um tempo pior, na Guiné, do que o meu, em Angola. Talvez tivesse até apanhado uma porrada, ou coisa parecida. Toda a gente sabia que a Guiné era um duro osso de roer. Mas os gajos da Guiné também gostavam de cantar o "fado da desgraçadinha", como se em Angola e em Moçambique nós tivéssemos só andado a brincar aos índios e cobóis. 

Percebi logo, também, que éramos diferentes, se calhar irredutivelmente diferentes, oriundos de diferentes regiões do País, e até de meios sociais  distintos. Eu, do Norte, ele, do Sul.

O Ravasco era alentejano de Mértola, e eu minhoto de Ponte de Lima. Do Alentejo eu só conhecia meia dúzia de anedotas, estúpidas, direi hoje. E nenhum de nós conhecia a terra um do outro. O que não admirava: naquele tempo,  há meio século atrás, ainda era fraca a mobilidade espacial dos portugueses, viajávamos pouco, dentro (e fora) do País, embora eu já tivesse carro. Mas o mais longe aonde já tinha ido, a Sul,  era até Lisboa, quando prestei serviço no RI 5, nas Caldas da Rainha.

O Ravasco confessava que o mais a Norte aonde já tinha ido fora a Aveiro. Fora lá, de comboio, com uns camaradas, mobilizados para a Guiné, comer um ensopado de enguias. Um deles era da Murtosa ou coisa parecida.

Estivera menos de dois meses no Campo Militar de Santa Margarida, a formar companhia. Fora mobilizado para a Guiné pelo RI 2, o Regimento de Infantaria 2, em Abrantes. E não teve pejo em dizer-me que não sabia exatamente onde ficava Ponte de Lima, “lá no mapa do Minho”. O que para mim era imperdoável...

De facto, para mim, o Minho era a “joia da coroa” deste país à beira-mar plantado, o meu país. Era no Minho que começava Portugal, o Portugal do Minho a Timor, como havia aprendido na escola. Sempre tive muito orgulho no meu Minho e, claro, no meu torrão natal, Ponte de Lima, que, segundo me ensinaram os meus avoengos maternos,  era a terra, a vila,  mais antiga de Portugal.


2.Vi logo que o Bacelar era mais viajado do que eu. 
Viera de Mini, de Viana do Castelo até Mafra, 
um dia inteiro a conduzir. 
Tinha um Mini Morris 850,
com jantes especiais, em segunda mão. 
Mas também não fazia a mínima ideia 
onde ficava Mértola, a minha terra natal. 
Disse-lhe que ficava na margem direita do rio Guadiana, 
e que já vinha do tempo de fenícios, romanos, visigodos e mouros. 
Não mostrou curiosidade em saber mais.


Na primeira noite, em que nos conhecemos, por sinal desagradável por causa do frio e da chuva, falámos sobretudo do tempo- Falar do tempo é sempre uma solução airosa quando um gajo  não  tem assunto para conversa, ou não está afim de conversar, ou não quer mostrar logo o jogo, a sua maneira de ser e de estar, a sua história de vida, os seus pontos fortes e fracos… Falámos pouco das nossas terras e das nossas andanças pelo país que nos calhara na rifa.

Simpático, o Bacelar mandou vir duas aguardentes velhas de vinho verde, que fez questão de pôr na sua conta. E estivemos ali os dois a falar, afinal amenamente, evitando, todavia,  tocar  em assuntos da tropa  e da guerra. O que era dfícil, convenhamos...

Na realidade, era como se estivéssemos ainda em África, a resguardarmo-nos do paludismo e a contar as noites e os dias que nos faltavam para a “peluda”. Em geral, eu era muito reservado, nunca ou raramente falava da tropa e, muito menos, da Guiné. Por outro lado, sempre nos tratámos por você, até pelo menos até ao 25 de Abril de 1974. Ele também era cerimonioso, talvez mais por educação do que eu. 

Fiquei depois com a ideia de  que lhe ficara o "bichinho de África" e que hoje ainda estaria arrependido de não ter aceite uma boa oferta de trabalho em Luanda. No Banco de Angola, gabava-se ele.  De resto, não terão faltado outras propostas de emprego, menos aliciantes,  como por exemplo a de escriturário numa fazenda de café, em Camabatela, se não erro. 

Não me explicou as razões por que voltou para a santa terrinha, ele que se gabava de ter alguns “grandes africanistas” na sua ascendência, do lado materno, um dos quais, militar,  ainda conhecera o Zé do Telhado no exílio, em Luanda, a caminho de Malanje. 

Mas as saudades, às vezes, falam bem mais alto do que a razão. Disse-lhe que fizera bem, que haveria de continuar a fazer a sua vida na sua terra, e que o futuro de Angola era incerto, tal como o de toda a África Austral, últio reduto dos brancos, o mesmo era dizer, do colonialismo. E não me enganei, o velho “apartheid” branco haveria de ruir em 1994, tal como já tinha antes ruido o muro de Berlim  e tudo o que ele representava, dividindo o mundo em duas partes como uma laranja…

Deitámo-nos cedo, estávamos ambos cansados, o Bacelar tinha vindo a conduzir desde Viana do Castelo. Eu viera de mais perto, de Almada, onde pernoitara na casa da minha mana mais velha. (Era casada com um operário da Lisnave, como já atrás referi. Tinham-se casado há pouco, estavam a montar a casa, viviam com dignidade mas com muito aperto, como as famílias operárias da época.) Vim de cacilheiro para Lisboa para depois apanhar, na Rua da Palma, uma camioneta da Mafrense, se bem recordo, ao fim destes anos todos.

Tínhamos guia de marcha para nos apresentarmos até às cinco horas da tarde desse dia, para a “tomada de posse”. Reparei no olho azul do Bacelar. Soube, mais tarde,  que era oriundo de uma família de pequenos senhorios, donos de terras de um antigo morgadio com direito a brasão. 

(Sempre invejei, diga-se de passagem, quem tinha algo de seu, casas e/ou terras. O meu pai construíra uma casinha de paredes de tabique no couto mineiro. Nada a que ele pudesse chamar seu. Nós, os do Sul, não tínhamos raízes telúricas e muito menos “pedigree”, brasão, árvore genealógica... E quem não tem raízes na terra nem árvore genealógica para mostrar aos outros, é mais propenso às depressões, ouvi essa teoria ao alferes miliciano médico do meu batalhão, que deve ter seguido psiquiatria, era mais “apanhado do clima” do que nós, operacionais.)

O primeiro emprego que o Bacelar arranjara, depois do regresso de Angola, fora numa repartição de finanças do distrito de Viana do Castelo. Um tio (ou tio-avô, materno, não fixei o grau de parentesco) tinha (ou tivera) um cargo importante na Direção Distrital de Finanças do Porto. Teria sido, ao que parece, condiscípulo de diretor-geral das contribuições e impostos, o dr. Vitor Duarte Faveiro. Por isso, no gozo, eu chamava-lhe  “filho de Ansião”… E o apodo ficou, quando os outros sacanas dos colegas mafrenses descobriram… “Dor de corno!”, pensei eu. Quem tinha “cunhas” para entrar na DGCI, era logo apodado de “filho de Ansião”, a terra do director-geral que toda a gente reverenciava e temia, sendo tido como um grande fiscalista. 

Eu não lhe disse, por vergonha,  que também tivera uma cunha, essa eclesiástica. De um cónego do cabido da sé-catedral de Beja. Meu antigo professor. De qualquer modo, tanto eu como o Bacelar, havíamos feito, com sucesso, um concurso de provas públicas, como era norma do Estado Novo.  Éramos já “concursados”… Consolava-me a ideia de ter entrado, por mérito, não tendo roubado o lugar a ninguém. (Ou roubara ?... É uma dúvida que, então, se não me dilacerava, pelo menos me incomodava um pouco.)

O Bacelar tinha a secreta esperança de ainda poder ser chamado para o Banco Nacional Ultramarino ou para o Banco de Portugal, se bem percebi. Ou de vir a ficar mais perto de casa, no caso de  continuar nas finanças.

Se ele tinha defeitos que saltassem logo à vista, era essa de se gabar do seu “capital de relações sociais”, como se diz hoje…. A matriz  da sociedade portuguesa era ainda na época muito clientelar, nada se conseguia (empregos, negócios, casamentos, tropa, etc., ou um simples internamento nos Hospitais Civis de Lisboa…) sem “conhecimentos”, o mesmo era dizer, sem “cunhas”. Mas não precisava de ser “cunha” de gente muito importante, às vezes até parecia que quem mandava mais neste país era a criada, o motorista, a amante, o sargento, o sacristão, o caseiro, o feitor, o maioral, enfim o chefe do pessoal menor… Nas zonas rurais, o feitor era um tipo poderoso, tal como o sargento na tropa… Eu via por Mértola e Beja, onde os latifundiários, a viver na capital, raramente lá punham os pés, a não ser na época  das colheitas e da caça.

Ambos arranjámos um quarto, amplo, com duas camas, numa casa sita no centro da vila deMafra. Vivia-se, naquele tempo, do aluguer de quartos a professores primários, funcionários públicos e militares da Escola Prática de Infantaria, incluindo soldados-cadetes que tinham algum poder de compra. Era simpática, a velhota, a dona da casa, viúva de um sargento, se bem me lembro ainda.

Os quartos já não eram baratos na época e eu, tanto como o Bacelar, nos convencemos, estupidamente, que estávamos ali de passagem. Mais ele do que eu. A nossa ideia era, logo depois da tomada de posse do lugar do quadro, pedir  de imediato transferência. Eu, para Beja ou para Almada (estava indeciso), o Bacelar para Braga ou Viana do Castelo. Acabaríamos por ficar mais de 21 meses naquela "vida de ciganos", a que passei a chamar Máfrica Dois.

Confesso que detestava a Máfrica, como eu chamava  àquela terra, tomando a parte pelo todo. Estava farto da tropa. E se calhar as pessoas  de Máfrica Dois também estavam, tirando as velhotas simpáticas que viviam do aluguer de quartos. 

 O meu tenente-coronel, comandante do meu batalhão,  na Guiné, ainda me fez a cabeça para meter o chico. Deu-me um louvor, imaginem! 

(E se eu tivesse metido o chico ? Não me livraria de voltar à Guiné, agora como capitão. Secretamente, a ideia não me desagradava de todo, teria hoje um melhor pé de meia. Mas também lá podia ter deixado a meia, o pé ou até a vida. Mas os galões dourados de capitão não me deixavam indiferente, a mim que, não passando de um simples alferes miliciano,  experimentara, por breves meses, a secreta  volúpia do poder, que tinha como contrapartida o angustiante desafio de comandar 150 homens num teatro de guerra, e o risco de perder alguns. Eu que antes nunca estivera à frente de nada, nunca fora ninguém, nem sequer chefe de turma ou capitão de equipa de futebol!...)

Tínhamos apenas um reposteiro a separar as duas camas, como nos quartos de hospital. A minha cama tinha um colchão de palha (!) onde me afundava com os meus 90 quilos. (Engordei, estupidamente, depois que passara à peluda.)


2A. Para o meu gosto, feitio e educação, 
o Ravasco tinha um tipo de humor um pouco brusco e mordaz. 
Não sei se era um humor tipicamente alentejano. 
Afinal ele era o primeiro alentejano com quem eu ia trabalhar. 
E não me lembrava de ter lidado na tropa 
com alentejanos ou algarvios. 
Nós, os do Norte, já na altura os tratávamos por “mouros”. 
Por sorte, a minha companhia em Angola 
só tinha angolanos, minhotos e durienses. 
E demo-nos todos bem.


Não me importei de partilhar um quarto, com o Ravasco, afinal ainda estávamos habituados, tanto um como o outro,  ao ambiente de caserna, aos seus maus cheiros, à sua bagunça, ao seu ar opressivo, à sua promiscuidade... O meu quartel no leste de Angola também era uma espelunca, dormíamos com cobras e ratos....Sempre poupávamos algum dinheiro e, dentro em breve,  estaríamos de volta a casa. Ou, pelo menos, era essa a minha  secreta esperança. 

Vi que o Ravasco era poupado, se não mesmo forreta. Usava roupa fora de moda. O seu único luxo eram os jornais e um ou outro livro. Percebi que andava a preparar-se para fazer o exame do 7º ano do  liceu. O 7º ano do seminário não lhe valia de nada. Queria seguir letras, julgo que direito. Tinha uma obsessão pelo direito. Se calhar, era-lhe mais fácil por causa do latim. Queria aproximar-se de Lisboa para poder entrar na universidade.

Acabámos também por tornarmo-nos, se não íntimos, pelo menos mais próximos, por força das circunstâncias, como os prisioneiros que estão na mesma cela e estão condenados a, minimamente, entenderem-se. Fiquei a saber que ele tinha deixado noiva em Beja. Ora eu, nesse aspecto, estava mais à vontade, era livre como um passarinho.

Fui conhecendo-o, a pouco e pouco. Fomo-nos conhecendo. Dei conta de que, debaixo da sua aparente bonomia, e do seu verbo fácil, fluente, alegre e até folgazão, havia um homem reservado, subtilmente amargo e revoltado com a vida e com a sorte que lhe coubera a ele e à sua família e à gente da sua terra. Não esquecia a injustiça da doença e da morte do pai. E tivera uma infância difícil, segundo percebi. “Criado a migas, a toucinho de porco e a ervas do campo que agora vão à mesa do rico”, rosnava ele, mal humorado.

Tanto quanto pude apurar das nossas conversas em Mafra, onde ambos estávamos “desterrados” (a expressão era dele),  o Ravasco era neto de ganhões, e filho de mineiro, e que tirara o 7º ano do seminário, graças a uma bolsa de estudo da diocese de Beja. Julgo que por detrás dessa obra benemérita haveria uma senhora devota, de uma família de grandes proprietários agrícolas, muito conceituados na região. Foi o que ele me deu a entender, sem entrar em pormenores. Era uma bolsa para estudantes pobres, oriundos do Baixo Alentejo. 

Quiseram-no encaminhar para o sacerdócio, mas ele terá percebido, quando acabou filosofia, o 7º ano, que “não tinha vocação”. Ou talvez pior, para um cristão: terá perdido a fé ao lidar (mal) com as injustiças de que o pai fora  vítima, ainda em vida, nunca lhe tendo ocorrido que Deus poderia estar a  pô-lo à prova. Como me pôs á prova a mim, quando deixei pai e mãe e fui para Angola, não para o “bem-bom”, mas para a guerra.

No verão, o Ravasco ia sempre para França, para a região de Bordéus, fazer a campanha  das vindimas. Entretanto dera  o nome para a tropa, mas beneficiava de uma licença militar para se poder ausentar temporariamente do país. Nunca lhe passou pela cabeça não voltar a casa e ficar em França, tornando-se refratário.  Sempre se considerou um homem de palavra. E patriota. E aí a minha consideração por ele aumentou, apesar de eu o continuar a chamar “mouro”. Não levava a mal. Tal como eu, também não, quando no gozo me chamava “morgadinho” e, depois do 25 de Abril, "pequeno-burguês". 

Ainda chegou a ser “aliciado” por um comité luso-francês, católico, contra a “guerra colonial” que dava apoio a desertores e refratários portugueses na região de Bordéus. Mas ele nessa altura não queria saber nada de “política”. E era agarrado à família. E, em boa verdade, temia represálias contra o pai, já doente, se ele  não regressasse de França. O que, sabendo o que sabemos hoje, não houve represálias contra as famílias de exilados, desertores e refratários. 

Segundo ele me contará, mais tarde, o pai tinha sido mineiro nas minas de São Domingos, entretanto definitivamente encerradas  em meados dos anos 60. Vem a morrer quando ele estava aqui, em Mafra, a fazer o COM. De silicose, ao que parece, uma doença  então muito comum entre os mineiros. Mas só tardiamente fora diagnosticada e reconhecida, ao pai, essa doença profissional, com direito a reparação médico-legal, segundo ele me explicou.  De pouco lhe terá valido a “miserável pensão de invalidez” que lhe fora atribuída, a expressão era do Ravasco.

Eu ainda comentei que no Norte ainda era pior, os rendeiros e os pequenos lavradores, ao fim de um vida dura de trabalho, morriam de miséria num catre, numa cabana de madeira,  só com a ajuda da família, quando a tinham.  E chamavam o médico só na hora da morte. Ele endureceu a expressão do rosto e respondei-me com veemência: “É porque você não sabe o que é um ganhão nem nunca engoliu o pó de uma mina!”… E eu aí tive que reconhecer que ele tinha razão, eu sabia lá o que era um ganhão e muito menos uma mina ou um mineiro e essa coisa da silicose. Nalgumas coisas eu tinha sido um privilegiado da sorte, embora nunca tendo sido rico, fiz questão de lhe frisar. 

O Ravasco tinha ajudado a família com o vencimento de alferes miliciano de artilharia, enquanto estivera na Guiné. Era frugal, não se metia em tainadas. Bebia  de vez em quando o seu uísque. Não fumava. Nem sequer veio de férias para poupar o dinheiro da passagem. Saberei mais tarde, quando ganhámos mais confiança, que terá optado por ir uma semana a Bubaque, nos Bijagós.  Tencionava arranjar um pé de meia para se poder casar. Mostrara-me, ao fim de uns meses,  uma fotografia da rapariga que lá deixara em Beja. Não fixei o nome. Só reparei que não era lá muito bonita: era trigueira, de olhos de cor de azeitona, não fazendo o meu género. 

Senti, isso sim, que a morte prematura do pai, antes dos sessenta  anos, deixara-o muito abalado e revoltado. Percebi logo que ele era do “contra”, como diria o senhor meu pai. Não gostava de Salazar nem de Caetano. E referia-se à guerra do Ultramar como “guerra colonial”, expressão que era então proibida nos jornais. E, pior,  também não frequentava a igreja. Fazia-me confusão, sendo ele um ex-seminarista.

Depois de vir da guerra, começou a interessar-se pela política e lia o “Diário de Lisboa”, além do “Comércio do Funchal”, de que eu nunca tinha ouvido falar antes. Era um jornal cor de rosa. Cheguei a dar uma vista de olhos, mas não me despertou a curiosidade.

Em suma, as nossas afinidades eram puramente acidentais ou circunstanciais. Fôramos parar àquela terra que, tal como a conhecemos hoje,  não existiria se o nosso  Dom João V, para mim de boa memória,  não mandasse ali construir aquele monumental palácio e convento, um dos mais grandiosos da Europa,  que o Ravasco teimava em qualificar de “monstruoso”. 

A repartição de finanças estava lá instalada, tal como a EPI, e julgo que mais repartições públicas, já não me lembro ao certo, até por que convivia com pouca gente da terra, sempre que podia dava uma escapadela pelos arredores, sobretudo ao fim de semana.  

No inverno rapava-se frio de rachar. Eu, que vinha do Norte, onde também faz frio, lembro-me de ter de usar ceroulas no inverno e grossas camisolas de lã em Mafra. Eu e o Ravasco dávamo-nos mal com aquela humidade marítima que nos chegava do Atlântico e se entranhava nos ossos. Não havia aquecimento central, nem uns simples aquecedores a gás.  Mas Mafra tinha belas praias, com destaque para a Ericeira. Comecei a gostar da Ericeira, e da Foz do Lisandro, e sobretudo das miúdas estrangeiras que começavam a parar por lá.


3. Bom, lá fomos tomar posse no dia seguinte, logo de manhã. 
No gabinete do chefe, que mandou chamar o resto do pessoal 
para assistir à cerimónia. 
Ficou só um funcionário, ao balcão. 
Para o caso de chegar algum contribuinte por causa da “décima”... 
Mas nessa manhã estava tudo muito calmo.

 

O termo de posse já estava pré-preenchido, com os dados de cada um de nós, era só precisa a nossa assinatura, no final,  depois de lido o famigerado juramento de lealdade ao Estado Novo.

 Repeti mecanicamente a fórmula, como quem rezava o Padre Nosso, no último ano do seminário, depois de ter perdido a fé e a vocação. Olhei, com um misto de temor e de desdém, para os retratos,  pendurados na parede, dos três mais altos magistrados da Nação (os vivos, Américo Tomaz e Marcelo Caetano; e o morto, Salazar, o “pai da Pátria”, ou o “refundador da Nação”, que ainda ninguém tivera a coragem de mandar retirar) e disse, firme e em voz bem alta:

 “Declaro por minha honra que estou integrado na ordem social estabelecida pela constituição de 1933, com ativo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas”. (Dizem-me que o juramento dos funcionários públicos fora  aprovado pelo decreto-lei nº 27 033, de 14 de Setembro de 1936, mas eu nunca chegara a ler esse diploma, tal como nunca lera a Constituição de 1933.)

E, de repente, lembrei-me do meu juramento de bandeira na “Máfrica”  e indignei-me por, na altura, nem sequer ter questionado as palavras que, mesmo em voz baixa, atabalhoadamente e a medo, proferi na parada… Regressado de uma guerra, repugnava-me ter aceite, no passado,  o dever absurdo de jurar “obedecer cegamente aos meus chefes”. Afinal, eles poderiam ser todos cegos, conduzindo todo um povo, também de cegos,  à beira de um precipício… 

Tivera um pesadelo nessa noite. Voltaria a tê-lo quatro anos depois...

(Continua)


© Luís Graça (2021)

Nota do autor: Neste conto, os nomes são fictícios, mas os factos são verdadeiros. Acontece que este país é demasiado pequeno.

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Nota do editor:


Último poste da série >  27 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21585: A galeria dos meus heróis (40): O meu amigo Doc - II (e última) parte (Luís Graça)

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22488: Fotos à procura de... uma legenda (155): Boinas... há muitas: a propósito das "boinas vermelhas" do grupo de comandos "Diabólicos", Brá, setembro de 1965 (Virgínio Briote / Carlos Vinhal / Fernando de Sousa Ribeiro / Luís Graça)


Guiné > Bissau > Brá > Setembro de 1965 > Grupo Comandos Diabólicos > "Foto de finais de Set 65, tirada em Brá, quando começaram os "ensaios" com as boinas vermelhas... Da esquerda para a direita: Marcelino da Mata, Azevedo, Virgínio Briote , Black e Valente"...



Guiné > Bissau > Brá > Setembro de 1965 > Grupo Comandos Diabólicos, completo, em frente à camarata do Grupo. Ao centro, na 1ª fila, o 6º a contar da esquera, o comandante do grupo, alf mil 'comando' Virgínio Briote. Na ponta direita, de pé, o srgt mil 'comando' Mário Valente. Na 2ª fila, de pé, na extrema direita, o 1º cabo 'comando' Marcelino da Mata.


Fotos (e legendas): © Virgínio Briote (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Comentários à primeira foto de cima (*):

(i) Fernando Ribeiro:

1. No mato ninguém morre em versão John Wayne, porque o John Wayne nunca morria nos filmes. Ele era sempre o "herói" da fita e um "herói" nunca morre.

Quanto à fotografia em que se veem cinco militares, pode ler-se na legenda, a dada altura: «Foto de finais de Set 65, tirada em Brá, quando começaram os "ensaios" com as boinas vermelhas...» 

Aqui permito-me discordar. Boinas vermelhas nos Comandos, já em 1965?! Eu julgava que elas só tivessem sido usadas depois do 25 de Abril... As boinas parecem vermelhas porque a imagem está toda ela avermelhada! Os pigmentos azuis e verdes da fotografia original desapareceram com o passar dos anos, e quase só ficaram os pigmentos vermelhos. 

As boinas deles deviam ser castanhas, como as de toda a gente, e os uniformes deviam ser de caqui, e não amarelos fosforescentes como parecem ser. As cores da imagem não correspondem às cores originais, nem pouco mais ou menos. Estão completamente alteradas. O tempo não perdoa.

25 de agosto de 2021 às 18:13


(ii) Carlos Vinhal:

Quero subscrever as palavras escritas pelo camarada de armas Fernando Ribeiro. As boinas vermelhas dos Comandos começaram a ser utilizadas só em 1974 e as verdes dos Operações Especiais em 1982. O resto é fantasia.

Dá-me a ideia que as boinas da foto foram coloridas à posteriori.

Boina militar em Portugal:

A primeira unidade militar a usar boina em Portugal foram as tropas paraquedistas da Força Aérea em 1955.

O Exército só adotou a boina (para as suas unidades de Caçadores Especiais) em 1960. São ou foram usadas as seguintes boinas:

  • Boina verde escuro (verde caçador-paraquedista) - Tropas Paraquedistas
  • Boina azul - Polícia Aérea;
  • Boina castanha - inicialmente apenas Caçadores Especiais, depois boina genérica do Exército Português;
  • Boina negra - tropas da Arma de Cavalaria (com excepção dos militares qualificados como Paraquedistas ou Comandos), incluindo a Polícia do Exército;
  • Boina vermelho vivo - Comandos a partir de 1974;
  • Boina verde-claro (verde musgo) - Operações Especiais a partir de 1982;
  • Boina azul ferrete - Fuzileiros Navais
  • Boina negra com uma faixa verde - Regimento de Infantaria da Guarda Nacional Republicana
  • Boina verde escuro - Comandos Territoriais de Infantaria da Guarda Nacional Republicana
  • Boina bege - Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro da Guarda Nacional Republicana
  • Boina camuflada (fora de uso) - 3ª Companhia de Comandos (Guiné) e Força de Flechas da PIDE/DGS,
  • Boina amarela (fora de uso) - Grupos Especiais de Moçambique
  • Boina vermelho grená (fora de uso) - Grupos Especiais Paraquedistas de Moçambique
  • Boina branca (fora de uso) - Formações Aéreas Voluntárias

25 de agosto de 2021 às 20:29 

(iii) Gil [Virgínio Briote]:

Caros Camaradas:

Esta foto de Setembro de 1965 foi tirada em Brá. A farda era caqui amarela clara e a boina que usámos, exclusivamente para a foto, era de cor vermelha. Julgo que algum Camarada terá encomendado essas boinas em Lisboa. Tenho a foto original, em papel.

Estávamos no início da formação dos Cmds da Guiné, na que, mais tarde, veio a ser chamada a "fase de grupos". Estes gozavam de grande independência, quase sempre actuaram isolados, com apoio e recolha de Grs Comb das zonas de actuação. Só muito raramente, talvez duas ou três vezes os Grs actuaram em conjunto. Esta filosofia veio a alterar-se com a chegada das CCmds formadas em Lamego.

A boina vermelha, que ouvi dizer cá que não é vermelha mas magenta, só foi autorizada muito mais tarde.

Em 1964/65 estava-se na fase da formação de identidade, que incluia a cor da boina, mas não só.

Um abraço e obrigado pelo vosso interesse.

V Briote
ex-alf mil da CCav 489/ BCav 490 (Jan/Mai) e CCmds do CTIG (Jun 1965 /Set 1966)

25 de agosto de 2021 às 22:04

(iv) Tabanca Grande Luís Graça:

Fernando: Intuitiva e apropriada a tua observação. De facto, nas lendas e narrativas do Faroeste da nossa infância e adolescência, os heróis eram todos brancos e nunca podiam morrer. Hollywood alimentou (e matou) o nosso imaginário. O mundo está dividido entre fortes e fracos, heróis e vilões, índios e cobóis... E o melhor índio só podia dia ser... o morto.

Ainda cheguei, já no tempo do Spínola, a ouvir essa, em Contuboel e em Bambadinca, da parte dos meus soldados fulas: "Um balanta a menos era um turra a menos"... Como se sabe, o racismo nem tem cor nem bandeira, nomeadamente nas "guerras civis" (como também o eram as "guerras coloniais" em que, por "azar do destino",  nos calhou, sem termos feito mal a ninguém...).

26 de agosto de 2021 às 08:36

(v) Tabanca Grande Luís Graça:

Afinal, boinas há (ou havia) muitos... Como havia bonés, chapéus e barretes, de todos os feitios, grandes e pequenos...

Eu aceito plenamente a explicação do Gil (, leia-se: Vb, ou Virgínio Briote). Ele é a honestidade intelectual em pessoa e, como nosso autor e nosso coeditor jubilado, o blogue deve-lhe muito).

Não tenho dúvidas, pois, que as boinas da foto fossem vermelhas, mesmo que a foto tenha sido "retocada" para efeitos de melhoria da sua resolução... Nessa altura, na decadência do Estado Novo, já se podia dizer "vermelho". Mas no auge do regime de Salazar, nos anos 30/40, a palavra era proibida. Oficialmente, o "vermelho" não fazia parte do espectro das cores do arco íris... Até a tinta, nas repartições públicas, era azul ou "carmezim".

26 de agosto de 2021 às 10:24 
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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 19 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22468: Fotos à procura de... uma legenda (147): A imagem da capa do livro de Pedro Marquês da Silva, "Os números da guerra de África" (Guerra e Paz Editores, 2021)

Guiné 61/74 - P22487: Consultório militar do José Martins (72): Quem ainda não recebeu o cartão de antigo combatente, por favor contacte o Balcão Único da Defesa... Mais de 200 mil já receberam.

1. Comentário, do José Martins (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), e nosso colaborador permanente, ao poste P22484 (*)


O que vou escrever NÃO SÃO CERTEZAS, mas tão só O MEU ENTENDER.

Tanto quanto sei, pelo que diz a Comunicação Social, a lista para envio do cartão, cuja emissão e envio foi atribuída à Casa da Moeda, para o que recebeu a listagem de quem recebe o Suplemento Especial de Pensão, pago em Outubro em conjunto com a pensão/reforma daquele mês.

Foi à volta da Lei n.º 9/2002, de 11 de Fevereiro, muitos combatentes iniciaram o processo que iria “valorizar” a pensão que iriam auferir, apesar de na maioria dos casos só se verificar anos mais tarde.

Nos meus arquivos, e agora é importante para este texto, tenho:

a) Certidão passada pelo Arquivo Geral do Exército (Chelas), e datado de 08/02/2001, em que atesta não só o tempo de serviço, mas o acréscimo no tempo de serviço, numa lei de 1937;

b) Recibo do Ministério da Defesa Nacional, datado de 14/06/2002, em que atestam terem recebido um requerimento para contagem do tempo do serviço militar para efeitos da Lei 9/2002, que como sabemos atribui as verbas do complemento de pensão, de acordo com o tempo de serviço prestados em zonas de risco;

c) Em 04/06/2003 requeri, à Segurança Social, em documento específico;

d) Em 07/06/2001, data em que requeri a reforma, voltei a apresentar a documentação do tempo de serviço militar.

Aqui cabe dizer que, na maioria dos casos, o tempo de serviço militar, para o caso de contagem de tempo para a reforma, não tinha relevância, pelo que muitas vezes os serviços da Segurança Social não os valorizavam.

Muitos combatentes, já que o valor inicialmente atribuído era bastante irrisório, e ainda foi diminuído mais tarde, não valorizaram esse montante, pelo que, agora, não estão nas listagens de antigos combatentes reformados.

Entretanto, por razões diversas, há combatentes que alteraram a sua morada e não actualizaram a morada junto das entidades responsáveis, pelo que têm a morada desactualizada. 

SUGESTÃO:

Tendo em atenção que combatentes são uns milhares, e os funcionários a tratar deste assunto são poucos e sujeitos a responder sempre à mesma pergunta, sugiro entrem em contacto com o Balcão Único da Defesa, solicitando que informem se o nome do interessado está na listagem. 

Normalmente, isto via telefone (foi o meu caso), solicitaram o número de Cartão de Cidadão / Bilhete de Identidade (há muita gente com BI vitalício) e conformaram o nome e a residência. (**)

BALCÃO ÚNICO DA DEFESA

Email: ddn@defesa.pt

Telefone: 213 804 200 | Fax 213 027 221

Morada postal:

Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional
Apartado 364
1495-998 Lisboa

________

Atendimento Presencial:

Av. Infante Santo, n.º 49; 1399-056 Lisboa

Horário de Atendimento:

Segunda-Feira a Sexta-Feira das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 16h00

Pode haver demora, por razões obvias, na resposta ou dificuldade de ligação, mas vale sempre a pena tentar saber o que se passa.

26 de agosto de 2021 às 01:16
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22484: Consultório militar do José Martins (70): Museus e Monumentos Nacionais com acesso gratuito mediante a apresentação do Cartão do Combatente ou de Viúva(o) de Antigo Combatente

(**) Último poste da série > 26 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22486: Consultório militar do José Martins (71): Lugares de Memória e Saudade - Talhões da Liga dos Combatentes da área do Núcleo de Loures

Guiné 61/74 - P22486: Consultório militar do José Martins (71): Lugares de Memória e Saudade - Talhões da Liga dos Combatentes da área do Núcleo de Loures


Mais um trabalho para o nosso Consultório Militar do nosso camarada de armas José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), hoje sobre os "Lugares de Memória e Saudade", os Talhões da Liga dos Combatentes.


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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22484: Consultório militar do José Martins (70): Museus e Monumentos Nacionais com acesso gratuito mediante a apresentação do Cartão do Combatente ou de Viúva(o) de Antigo Combatente

Guiné 61/74 - P22485: In Memoriam (405): António Manuel Lapa Carinhas (c. 1947 - 2021), Alf Mil do Batalhão de Intendência. Passou por Bambadinca e Farim, entre 1969 e 1971 (Eduardo Estrela / Carlos Silva).


Foto nº 1 


Foto nº 2A


Foto nº 2

Foto nº 3 


Foto nº 4


Foto nº 5




Foto nº 6

Guiné > Batalhão de Intendência > O alf mil 
António Manuel Lapa Carinhas (Bambadinca e Farim, 1968/70)


Foto (e legenda): © Carlos Silva (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Eduardo Estrela, com data de 16/06/2021 à(s) 18:00 (e também comentário ao poste P22287) (*):

Boa tarde Luís!

Na visita que hoje fiz ao blog e, vendo coisas publicadas há algum tempo, deparei com uma lista que o Humberto Reis em determinada altura lá colocou e que se referia a companheiros que estavam em Bambadinca no tempo da vossa estada (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12) na zona.

Na mesma, está mencionado o António Manuel Lapa Carinhas, que foi Alf Mil do Pelotão da Intendência. Mais tarde ele foi para Farim e tratava de se preocupar com a alimentação da malta do meu sector.

Fomos colegas na actividade seguradora e ele foi Director da zona do Alentejo, da Companhia onde trabalhámos.

Deixou-nos há cerca de 3 semanas. Era um bom homem.
Um abraço para ti com desejos de muita saúde e outras coisas boas.
Eduardo Estrela

16/06/2021 à(s) 18:00:


2. Resposta imediata do nosso editor LG, com conhecimento a camaradas contemporâneos de Bambadinca, membros da nossa Tabanca Grande:

Eduardo: Tens razão... Aqui está a lista de contactos do pessoal de Bambadinca;

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2007/02/guin-6374-p1544-lista-do-pessoal-de.html

Lamento a sua morte... Tens alguma foto dele? E mais dados sobre o seu currículo militar? Podemos fazer um "In Memoriam"...

Não me lembro dele, confesso. O Destacamento de Intendência ficava junto ao porto fluvial de Bambadinca. Vou perguntar à malta do meu tempo de Bambadinca. Para estar nesta de lista, o Carinhas deve ter ido a um ou mais convívios do pessoal de Bambadinca, nomeadamente do BCAÇ 2852 (1968/70)...

De qualquer modo, os nossos camaradas da Guiné que morrem, não podem ficar na "vala comum do esquecimento"... Como é timbre do nosso blogue.

Mantenhas. Luís.


3. O Humberto Reis respondeu, em 16/06/2021, 18:32


Oi,  Luís

Tenho uma vaga, mas muito longínqua, imagem dele. Vivia lá em baixo no cais (fluvial de Bambadinca), onde estava instalado o Pelotão de Intendência. Vinha cá acima (, à sede do comando e CCS / BCAÇ 2852) poucas vezes. Não sei adiantar mais nada sobre ele.

Um abraço, Humberto


4. Mensagem do editor LG, endereçada ao Carlos Silva, às 19:09 de 16-06-2021,

O António Manuel Lapa Carinhas, ex-alferes mil da Intendência, morreu há 3 semanas. Foi o Eduardo Estrela, da CCAÇ 14, que mo comunicou, infelizmente ele não tem nenhuma fotografia e também pouco mais sabe do seu tempo de militar. Sabemos que esteve em Bambadinca, no meu/ nosso tempo (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12), e depois foi para Farim.

Diz o Eduardo: "Cheguei a coincidir com ele em presenças nos convívios do BCAÇ 2879, nomeadamente no de Abrantes. Talvez o Carlos Silva saiba mais alguma coisa ou tenha fotografias."

Carlos, tens algum dele? Alguma foto ou história do teu tempo de Farim?

Abraço, Mantenhas. Luís


5. Nova mensagem do Eduardo Estrela, com data 17/06/2021, 22:34

Boa noite, Luís!

O Carlos Silva disse-me que o Fur Mil do tempo do Carinhas em Farim se chamava Guerra e que reside ou residia em Oleiros, pois as cartas que lhe manda a propósito dos convívios vêm devolvidas.

Sugeriu um contacto com os Bombeiros de Oleiros a fim de se saber se o Guerra terá mudado de residência. Para isso era bom haver um camarada que possa pessoalmente contactar os bombeiros, pois o Guerra poderá eventualmente ter fotos e/ou histórias do António Carinhas.

Um abraço, Eduardo Estrela


6. Comentário de LG:

No passado, domingo, 8/08/2021, 20:54, o Carlos Silva, mandou-me as fotos, sem legendas, que hoje se publicam, e com a lacónica informação:

"Aqui vão as fotos do Alferes Carinhas do qual o Estrela te falou sobre o seu falecimento".

Pelo pouco que encontrei na Net com referência ao Carinhas, ele devia natural do Alentejo, e julgo estar sepultado em Vila Viçosa. Faltam referências no nosso blogue a este nosso camarada que passou por Bambadinca e Farim, entre 1969 e 1971. Presumo, pois, que tenha nascido em 1947, como a maior parte de nós. Ou pode até ser mais velho que nós, um ou dois anos.

Aguardo que apareçam testemunhos sobre ele.  Pode ser que o fur mil Guerra, de Oleiros, nos leia e nos contacte. Ou alguém mais do seu tempo do Batalhão de Intendência, ou que se reconheça nas fotos de grupo que publicamos acima.

Fica aqui o nosso pesar, endereçado à família,  pela sua morte. LG
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Notas do editor:

(**) Último poste da série > 21 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22474: In Memoriam (404): Gen Cav Carlos Manuel de Azeredo Pinto Melo e Leme (1930-2021), falecido na cidade do Porto no passado dia 19 de Agosto de 2021... Entra para a Tabanca Grande, a título póstumo, sob o lugar nº 848

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22484: Consultório militar do José Martins (70): Museus e Monumentos Nacionais com acesso gratuito mediante a apresentação do Cartão do Combatente ou de Viúva(o) de Antigo Combatente


Mais uma preciosa informação do nosso incansável camarada José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), agora sobre os Museus e Monumentos Nacionais com acesso gratuito mediante a apresentação do Cartão do Combatente ou de Viúva(o) de Antigo Combatente.


MUSEUS E MONUMENTOS NACIONAIS

Todos sabemos que, a Lei n.º 56/2020 de 20 de Agosto, da Assembleia da República, que entrou em vigor, vai fazer um ano no próximo dia 1 de Setembro, prevê:

Artigo 18.º
Gratuitidade da entrada nos museus e monumentos nacionais.
Durante o ano de 2020, o Governo adota as medidas necessárias a assegurar a gratuitidade da entrada nos museus e monumentos nacionais para todos os antigos combatentes e para a viúva ou viúvo de antigo combatente, detentores dos cartões referidos nos artigos 4.º e 7.º do presente Estatuto.


Só que, entenda-se, os monumentos visitáveis, mesmo que sejam considerados Monumentos Nacionais, são aqueles que se encontram, directamente, sob a tutela da Direcção Geral do Património Cultural.

Não basta pois, determinado monumento ter a designação de “Nacional”, mas estar afecto à gestão de uma entidade local ou particular, para ser abrangido pela lei que estamos a referir.

No sentido de, quer para conhecimento pessoal quer para partilhar com outros combatentes, tomei a liberdade de solicitar a DGPC (
Direção-Geral do Património Cultural), que respondeu a minha solicitação:

"Exmo. Senhor José Marcelino Martins,

No seguimento da questão que coloca sobre os museus e monumentos relativamente aos quais existe protocolo para entrada gratuita, cumpre informar o seguinte:

1. Nos termos do art.º 18 Lei n.º 46/2020, de 20 de agosto a entrada é gratuita para os antigos combatentes e sua viúva ou viúvo;

2. A Direção-Geral do Património Cultural, naturalmente, deu cumprimento a esta norma e disponibiliza o bilhete designado “ANTIGO COMBATENTE”, Antigo combatente do ultramar e respetiva(o) viúva(o) que pode ser adquirido em qualquer dos equipamentos culturais tutelados por esta direção. Segue lista infra.

3. Importa, no entanto, ter presente que a entrada é gratuita em qualquer dos equipamentos constantes na lista, contudo no caso de existirem exposições temporárias pagas, estas estão excecionadas da referida gratuitidade, apenas a entrada e as exposições permanentes estão abrangidas pela gratuitidade nos museus, monumentos e palácios.

De um modo geral o bilhete das exposições temporárias é de €5 e encontra-se circunscrita a um espeço reservado dentro do referido equipamento, não impedindo a visita no equipamento cultural em causa.

Segue a lista de equipamentos culturais tutelados por esta Direção-Geral:

01 - Alcobaça, Mosteiro de Alcobaça
02 - Batalha, Mosteiro da Batalha (Mosteiro de Santa Maria da Vitória)
03 - Coimbra, Condeixa-a-Velha,  Museu Monográfico de Conímbriga – M Nacional
04 - Coimbra, Museu Nacional de Machado de Castro
05 - Évora, Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo
06 - Lisboa, Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves
07 - Lisboa, Mosteiro dos Jerónimos
08 - Lisboa, Museu de Arte Popular
09 - Lisboa, Museu Nacional da Música
10 - Lisboa, Museu Nacional de Arqueologia
11 - Lisboa, Museu de Arte Antiga
12 - Lisboa, Museu Nacional de Arte Contemporânea
13 - Lisboa, Museu Nacional de Etnologia
14 - Lisboa, Museu Nacional do Azulejo
15 - Lisboa, Museu Nacional do Teatro e da Dança
16 - Lisboa, Museu Nacional do Traje
17 - Lisboa, Museu Nacional dos Coches
18 - Lisboa, Palácio Nacional da Ajuda
19 - Lisboa, Panteão Nacional
20 - Lisboa, Torre de Belém
21 - Mafra, Palácio Nacional de Mafra
22 - Peniche, Museu Nacional da Resistência e da Liberdade
23 - Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis e Casa Museu Fernando de Castro
24 - Tomar, Convento de Cristo
25 - Viseu, Museu Nacional Grão Vasco

Com os melhores cumprimentos"

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Fica assim partilhada a lista de Monumentos visitáveis gratuitamente, de acordo com o Estatuto do Antigo Combatente.
Cabe agora, a todos e a cada um dos Combatentes, pugnar junto das autarquias em que reside, que as Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, tornem os monumentos e museus dependentes dessas entidades, que se tornem acessíveis aos portadores do "Cartão de Combatente" ou "Cartão de Viúva (o) de Combatente", assim como entidades particulares que, normalmente, aceitam visitas aos seus acervos de família e com interesse histórico e/ou cultural.

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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22389: Consultório militar do José Martins (69): Ainda o Estatuto do Antigo Combatente