Mostrar mensagens com a etiqueta 1947. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta 1947. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17421: Historiografia da presença portuguesa em África (78): Erros, gralhas e imprecisões na notícia sobre a visita do Subsecretário de Estado das Colónias à Guiné em 1947 (Armando Tavares da Silva)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Fonte: Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, vol II - Número Especial, [Comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné], 1947, 542 pp. [Disponível "on line" aqui]


[O Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, "órgão de Informação e Cultura da Colónia", foi criado em 21 de julho de 1945. pelo então governador Sarmento Rodrigues, 

O Centro de Estudos da Guiné Portuguesa publicou durante 28 anos, entre 1946 e 1973, 110 números normais do Boletim e um número especial [, este, em outubro de 1947].

Esta publicação periódica é de excecional interesse para o conhecimento  científico da presença histórica portuguesa na Guiné-Bissau, e portanto para a história do país antes da independência. Não tem paralelo em outras publicações nos outros territórios ultramarinos portugueses. 

Esta colecção de obras foi digitalizada e incorporada na Memória de África Digital com autorização do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) da Guiné-Bissau, entidade que sucede ao Centro de Estudos da Guiné Portuguesa e, portanto, a actual detentora dos direitos sobre esta publicação. lê-se no portal das Memórias de África e do Oriente .

"O Portal das Memórias de África e do Oriente é um projecto da Fundação Portugal-África desenvolvido e mantido pela Universidade de Aveiro e pelo Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento desde 1997. É um instrumento fundamental e pioneiro na tentativa de potenciar a memória histórica dos laços que unem Portugal e a Lusofonia, sendo deste modo uma ponte com o nosso passado comum na construção de um identidade colectiva aos povos de todos esses países."



I. Mensagem do nosso amigo e grã-tabanqueiro Armando Tavares da Silva, autor de “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)” (Porto: Caminhos Romanos, 2016, 972 pp.)


Caro Luís Graça,


Alguns comentários – já com algum atraso – ao Post 17377 de 19 de Maio (*):


1. O primeiro é que é preciso cuidado com o que aparece escrito nos jornais, pois é vulgar encontrar-se erros, gralhas e imprecisões.

2. A última campanha de Canhabaque é de 1935-36, aparentemente motivada por os indígenas se recusarem à limpeza e abertura de estradas. Possivelmente foi escusada e resultado de falta de tacto e diplomacia…

3. Porto Gole estaria perto do ponto que Diogo Gomes atingiria em 1456 quando percorreu a parte navegável do Geba; daí para a frente os bancos de areia presentes na baixa-mar terão impedido a passagem aos navios. No Geba,  Diogo Gomes observou bem o que era o macaréu!

4. Quanto aos “91 anos de penetração portuguesa” estamos em presença de outra gralha monumental! Em vez de 91 deveria estar escrito 491!

5. A ponte visitada por Sá Carneiro a 7 de Fevereiro, segundo a notícia, foi a “grande ponte do Corubal”,  construída em 1937.

Uma outra ponte em cimento armado sobre o rio Mansoa fora inaugurada em Maio de 1923, pelo governador Vellez Caroço, ponte esta que tomaria o seu nome. 


Nos planos deste governador esteve a construção de uma ponte sobre o Corubal, o que foi abandonado para que as verbas disponíveis permitissem terminar a construção da ponte sobre o Mansoa, e por estar a findar a época seca. 

Em Junho de 1947 seriam iniciados trabalhos para substituir a antiga ponte Vellez Caroço, inutilizada nos seus pilares e tabuleiro. A ponte do Saltinho no Corubal, projectada para permitir a ligação do Norte com o Sul da colónia durante 7 meses no ano, foi iniciada em fins do mesmo ano de 1947.

6. Sobre queda de pontes, lembremo-nos do que sucedeu em 2001 em Entre-os-Rios!

7. A condecoração dos “grandes chefes, companheiros de Teixeira Pinto” terá ocorrido na véspera, 6 de Fevereiro, no Gabú (e não em Bambadinca). Foram condecorados com a medalha de prata de Dedicação e Mérito os régulos Madiu Embaló, Saliu Embaló, Demba Só e Malam Embaló. Dois cipaios foram também condecorados: Uri Jaló e Babá Galé.

Seguem em anexos 3 imagens relativas à recepção dispensada ao subsecretário de estado das colónias por chefes fulas, e a condecoração de um deles.

Anexo ainda uma carta da Guiné (de Teixeira da Mota) com o itinerário percorrido pelo governante, com indicação das obras na altura existente no território e, a sublinhado, as que ele iniciou ou as que estavam em construção.[A publicar, com maior detalhe,  no próximo poste da série.]

Como estará tudo nesta altura?


PS - A fonte desta documentação é o número especial de Outubro de 1947 do "Boletim Cultural da Guiné Portuguesa" (BCGP).

As imagens foram tiradas de uma cópia pessoal do BCGP e digitalizadas por mim. Não as utilizei no meu livro.



A foto [nº 2] com os cavaleiros fulas está na p.359; a foto [nº 1] em que um régulo é condecorado está na p. 358; a foto [nº 3] em que o subsecretário de estado é levado em triunfo está na p.361. 
A carta da Guiné do Teixeira da Mota está entre as ps. 454 e 455.

O artigo do Boletim é do cmdte Avelino Teixeira da Mota (na altura 2ºtenente), dedicado colaborador de Sarmento Rodrigues. Já faleceu, e tanto quanto pude apurar, sem descendência. Tinha, pelo menos, um irmão, mas não creio que, não sendo descendente, tenha direitos sobre os trabalhos do irmão. Assim como não creio que o actual INEP disponha de idênticos direitos. Os guineenses devem simplesmente ter "tomado conta" das instalações e espólio. O Boletim terminara.

Penso que seria bonito publicar estes elementos como uma homenagem ao Teixeira da Mota. Os seus trabalhos são capitais no que respeita à Guiné.




____________


Nota do editor:

Vd. poste de 19 de maio de 2017 >  Guiné 61/74 - P17377: Historiografia da presença portuguesa em África (76): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte V: De regresso, de Bafatá a Bissau, sexta-feira. 7 de fevereiro, com passagem por Fá (Mandinga), Bambadinca, Xitole e Porto Gole

Último poste da série > 1 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17419: Historiografia da presença portuguesa em África (77): "Guiné, Alvorada do Império", 1952, um álbum de glórias do Governador Raimundo Serrão (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17318: Historiografia da presença portuguesa em África (75): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte IV: No chão fula, Bafatá e Gabu, 6 de fevereiro de 1947...


Guiné > Bafatá > 1958 > Equipa do SCB [Sporting Clube de Bafatá], onde não há um "negro da Guiné"...  Em 6/2/1947, na sua sede,  foi servido um "porto de honra" ao ilustre representante do governo de Salazar, a que "assistiu toda a população branca" (, segundo a notícia da agência "Lusitânia", que a seguir se reproduz...).

Era filial do Sporting Clube de Portugal que, nesta época (1946/49),  era o patrão do futebol português e, de resto,m conotado com as elites... Foi  a época de ouro dos "cinco violinos" (Jesus Correia, Vasques, Albano, Peyroteo e José Travassos).

Foto (e legenda): © Leopoldo Correia (2013) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]











Recorte do Diário de Lisboa, nº 8692 , ano: 26, edição de sábado, 8 de fevereiro de 1947 (Director: Joaquim Manso)


(Cortesia do portal Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivos > Diário de Lisboa / Ruella Ramos >  Pasta: 05780.044.11043


Citação:

(1947), "Diário de Lisboa", nº 8692, Ano 26, Sábado, 8 de Fevereiro de 1947, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_22334 (2017-5-4)



1. Depois do Cacheu e do Oio, prosseguia, em 6 de fevereiro de 1947, a visita, à Guiné, do subsecretário de Estado das Colónias, engº Sá Carneiro, sendo então governador-geral   Manuel Sarmento Rodrigues.

Já aqui sublinhámos a importância política de que se revestia esta demorada visita, de quase um mês, quer para o governo de Salazar, na conjuntura do pós-guerra e no início do movimento de descolonização, quer para o governador geral Sarmento Rodrigues, um prestigiado oficial da marinha, considerado com um "conservador liberal", com "ligações à Maçonaria" e que apoiava o Estado Novo... Transmontano de Freixo Espada à Cinta, era considerado um  homem "à esquerda" do regime, com afinidades político-ideológicas com Marcelo Caetano, o então ministro das Colónias . Foi governador geral da Guiné entre 1945 e 1949 e será o preferido de Salazar para o lugar de Ministro das Colónias, em 1950, e depois do Ultramar, em 1951.


Manuel Sarmento Rodrigues (cortesia da revista da Revista Militar)

Em diversos postes publicados ao longo da existência de 13 anos deste blogue, temos chamado a atenção dos nossos leitores para o trabalho que Sarmento Rodrigues desenvolveu na modernização de Bissau e outras cidades, e na organização do território,sem esquecer a criação do Centro de Estudos da Guiné, com a excecional colaboração de Avelino Teixeira da Mota, então 2º tenente da marinha,  responsável pelo "Boletim Cultural da Guiné Portuguesa" (que irá dedicar um nº especial, em outubro de 1947, a esta efeméride, o V Centenário).

O engº Rui Sá Carneiro tinha chegado ao território no dia 27 de janeiro de 1947, justamente com a missão de, em representação do governo central, encerrar as comemorações do descobrimento da Guiné, em 1446.

Fonte: Wikipedia
2. Da leitura da notícia da agência "Lusitânia", publicada no "Diário de Lisboa", na sua edição  de 8/2/1947  (pp. 1 e 11), constata-se: 

(i) a tendência para o reforço da aliança das autoridades portugueses as da colónia com o grupo étnico semi-feudal fula;

(ii) a valorização do "chão fula", em especial da região do Gabu, "habitada pelas raças mais civilizadas da colónia" (sic), no dizer do administrador da circunscrição, Luís Correia Garcia;

(iii) a visita protocolar à tabanca do "grande chefe fula" Madiu Embaló";

 (iv) a existência de cavalos, ainda na época, montados pelos régulos fulas e mandingas;

(v) o esforço das autoridades coloniais para combater e erradicar doenças tropicais como a doença do sono;

(vi) o peso relativo da comunidade sírio-libanesa no leste da Guiné;

(vii) a existência de um  campo de aviação no Gabu (e não, ainda, Nova Lamego...) e a inauguração  da nova capela;

(viii) o progresso de Bafatá e o prestígio do clube desportivo local, o Sporting Clube de Bafatá. em cuja sede foi servido um "porto de honra" ao ilustre representante da metrópole, a que "assistiu toda a população branca"...

e, por fim e não menos significativa, (ix) a importância que os seres humanos atribuem às "encenações do poder", em todos os sítios e épocas, tanto os súbditos como os governantes.... A colónia da Guiné, em 19947,  não escapava à regra da ciência política...(LG).
______________



19 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17155: Historiografia da presença portuguesa em África (72): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte I: A consagração do governador geral, o comandante Sarmento Rodrigues, como homem reformador e empreendedor (Reportagem de Norberto Lopes, "Diário de Lisboa", 27/1/1947)

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17287: Historiografia da presença portuguesa em África (74): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte III: Por Cacheu, São Domingos e Farim, a 2, 3 e 4 de fevereiro de 1947... No tempo que ainda era politicamente correto falar-se em colónias, raças, população indígena, colonos europeu... e felupes que "nasceram e querem morrer portugueses", setenta anos depois do "desastre de Bolor"














Recorte do Diário de Lisboa, nº 8688, ano: 26,  edição de terça-feira, 4 de fevereiro de 1947 (Director: Joaquim Manso)

(Cortesia do portal Casa Comum >  Fundação Mário Soares > Pasta: 05780.044.11039

Citação:

(1947), "Diário de Lisboa", nº 8688, Ano 26, Terça, 4 de Fevereiro de 1947, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_22318 (2017-4-25)















Recorte do Diário de Lisboa, nº 8689, ano: 26,  edição de quarta-feira, 5 de fevereiro de 1947 (Director: Joaquim Manso)

(Cortesia do portal Casa Comum >  Fundação Mário Soares > Pasta: 05780.044.11040 >  


Citação:
(1947), "Diário de Lisboa", nº 8689, Ano 26, Quarta, 5 de Fevereiro de 1947, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_22322 (2017-4-25)

_________________


domingo, 9 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17224: Historiografia da presença portuguesa em África (73): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte II: Prosseguem as inaugurações, em 29 e 30 de janeiro... Nessa época havia uma linha área, a Linha Imperial, entre Lisboa e Lourenço Marques....








Recorte da 1ª págima do Diário de Lisboa, nº 8683, ano 26, quarta-feira, 29 de janeiro de 1947, diretor: Joaquim Manso (Fonte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivos > Diário de Lisboa / Rua Ramos > Pasta 05780.044.11034(  (com a devida vénia...)





Recortes da edição do "Diário de Lisboa, nº 8685, ano 26, sábado, 1 de fevereiro de 1947, diretor: Joaquim Manso (Fonte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivos > Diário de Lisboa / Ruella Ramos >  Pasta: 05780.044.11036 (com a devida vénia...) .


1. Em 29 e 30 de janeiro de 1947, prosseguia a visita, à Guiné, do subsecretário de Estado das Colónias, engº  Sá Nogueira, sendo então governador-geral o futuro ministro das Colónias  (1950) e depois do Ultramar (em 1951) Manuel Sarmento Rodrigues. (Repare-se: só em 1950, os territórios ultramarinos têm um "ministro", até então eram representados por uma obscura subsecretaria de Estado...).

 Sublinhámos  em poste anterior a importância política de que se revestia esta  demorada visita, de  quae um mês, quer  para o governo de Salazar, na conjuntura do pós-guerra e no início do movimento de descolonização, como para o governador geral Sarmento Rodrigues, um prestigiado oficial da marinha, considerado com um "conservador liberal", com "ligações à Maçonaria" e que apoiava o Estado Novo... 

Natural de Freixo Espada à Cinta, era conotado como sendo um homem "à esquerda" do regime, com afinidades com o Marcelo Caetano, o então ministro das Colónias . Foi governadorgeral da Guioné entre 1945 e 1949. Será o preferido de Salazar para o lugar de Ministro das Colónias, em 1950, e depois do Ultramar, em 1951.  [Foto à direita, cortesia da Revista Militar].

É reconhecido o trabalho que Sarmento Rodrigues desenvolveu na modernização de Bissau e outras cidades, e na ganização do território. Destaque, no seu tempo,  para os estudos relacionados com a Guiné e a África Ocidental, ao criar, com a colaboração de Avelino Teixeira da Mota, o Centro de Estudos da Guiné. 

 O engº Sá Nogueira tinha chegado no dia 27. Dois depois,  fazia uma série de inaugurações, com destaque para o abastecimento de água a Bissau e para o bairro de Santa Luzia. O representante do governo da Metrópole e a sua comitiva visitava de manhá as obras do Museu,do Palácio do Governador e moradias dos funcionários "que transformarão radicalmente a fisionomia da cidade, dando-lhe o aspeto de um centro urbano moderno", lê-se na primeira página do "Diário de Lisboa" desse dia, segundo despacho da agência noticiosa Lusitânia... A residência do delegado do ministério público também foi objeto de visita, sendo considerada "a última palavra da nova arquitetura colonial" (sic).

Não faltaram os vivas e as aclamações dos "indígenas de diversas tribos, que tocaram o hino nacional em instrumentos gentílicos", bem como dos "colonos"... Houve ainda visita aos depósitos de construção do Alto Crim, bem como às obras do porto do Pigiguiti (sic) (era assim que o topónimo era grafado: hoje há variantes para todos os gostos!).

A 30, foi feita uma visita ao Asilo de Bor, uma obra de assistência às crianças abandondas, dirigida pelas irmãs franciscanas missionárias. E foi inaugurado o posto administrativo de Prábis. Na edição do "Diário de Lisboa", de 1 de fevereiro de 1947, dava-se também a notícia, do regresso a Lisboa, no "avião da Linha de África" (sic), do correspondente do jornal, o dr. Norberto Lopes. À chegada,o jornalista manifestou a sua "agradável impressão tanto pelo que viu na Guiné" (sic), como pela "regularidade e excelente funcionamento da carreira aérea entre Lisboa Lourenço Marques". O avião era um Douglas C-47, CS-TDD,  o 1º Dakota da TAP, pilotado pelo comandante Rodrigues Mano, e trazia 7 passageiros.



TAP - "Uniforme da linha imperial" (1946-1953). Era feito de caqui leve e fresco, Era usado exclusivamente nas linhas áreas para África. A inspiração eram as expedições e safarias em terras de África. (Foto e legenda: cortesia de Jornal TAP, edição nº 119, abril de 2015 > "Hangar da história: 70 anos de moda".)


Recorde-se que o  pretexto desta  visita ao territíório da "colónia", a primeira de um membro do governo de Salazar, foi o encerramento das comemorações do descobrimento da Guiné, em 1946 (uma data, de resto, polémica, para os historiadores, a da pretensa chegada de Nuno Tristão ao território). A iniciativa das comemorações locais foi do comandante Sarmento Rodrigues, tendo por trás  equipe dinâmica, criativa e entusíástica que se abalançou à tarefa hercúlea de conhecer, desenvolver e modernizar a Guiné, reforçando  a presença portuguesa no território, num conjuntura geopolítica, a do pós-guerra,   que se inicia o processo de descolonização.   Destaque, nessa equia, para o então 2º tenente da marinha, Avelino Teixeira da Mota, responsável pelo "Boletim Cultural da Guiné" Portuguesa" (que irá dedicar um nº especial, em outubro de 1947, a esta efeméride, o V Centenário).

domingo, 19 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17155: Historiografia da presença portuguesa em África (72): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte I: A consagração do governador geral, o comandante Sarmento Rodrigues, como homem reformador e empreendedor (Reportagem de Norberto Lopes, "Diário de Lisboa", 27/1/1947)


Guiné > Bissau > Julho de 1971 > Praça do Império: o monumento ao "esforço da raça"


Guiné > Bissau > julho de 1971 > O palácio do Governador (Gabinete de Urbanização Colonial / Arquitetos João António Aguiar e José Manuel Galardo Zilhão, 1945)

Fotos: © Benjamim Durães (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemntar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


















Recorte do Diário de Lisboa (diretor: Joaquim Manso), nº 8681, segunda feira, 27 de janeiro de 1947, pp. 1 e 2 .

Cortesia de portal Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivos > Diário de Lisboa  / Ruella Ramos > Pasta: 05780.044.11032

Citação:
(1947), "Diário de Lisboa", nº 8681, Ano 26, Segunda, 27 de Janeiro de 1947, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_22267 (2017-3-18)


1. Foi uma longa visita à Guiné, a do subsecretário de Estado das Colónias (sic), o engº Rui de Sá Carneiro, de 27 de janeiro de 1947 (chegada a Bissau, no navio "Guiné") a  24 de  fevereiro desse ano.

Era então governador-geral Manuel Sarmento Rodrigues (1945-1949) [, foto à esquerda, cortesia da Revista Militar]. A importância política desta visita era tanto para o governo de Salazar, na conjuntura do pós-guerra e no início do movimento de descolonização, como para o governador geral Sarmento Rodrigues, um prestigiado oficial da marinha, considerado com um "conservador liberal", com "ligações à Maçonaria" e que apoiava o Estado Novo... Tinha fama de se situar "à esquerda" do regime, com afinidades com o Marcelo Caetano, que é então o ministro das Colónias. Será o preferido de Salazar para o lugar de Ministro das Colónias, em 1950, e depois do Ultramar, em 1951 até 1949...


(...) "Membro de uma tendência conservadora liberal e maçónica que apoiou o Estado Novo, foi considerado um homem de 'esquerda' dentro do regime, que o levou a ser proposto por Marcelo Caetano para o cargo de Governador da Guiné, que exerceu entre 1945 e 1949. Aqui desenvolveu extenso trabalho na organização do território, e paralelamente impulsionou os estudos relacionados com a Guiné e a África Ocidental, criando, a colaboração de Avelino Teixeira da Mota, o Centro de Estudos da Guiné.(...)

É nessa altura que o palácio do governador, "a nova residência", segundo o enviado especial do "Diário de Lisboa", o Norberto Lopes, fica pronto, a escassos meses da visita. O edifício, que remonta aos anos 30, conheceu muitas vicissitudes e contrariedades. O projeto definitivo foi (re)desenhado em 1945 (, já que havia uma pré-existência), pelo Gabinete de Urbanização Colonial (GUC), pelos arquitetos João António Aguiar e e João Manuel Galhardo Zilhão. (O GUC tinha sido criado em finais de 1944, em Lisboa, dependente do Ministério das Colónias, cuja titular era então Marcelo Caetano.)

O palácio vai ficar pronto em 1946, por ocasião do 5º centenário do desembarque de Nuno Tristão no território, graças a um nova intervenção da brigada de Paulo Cunha. E fazia parte de um vasto conjunto de obras públicas, indelevelmente associado ao mandato do governador Sarmento Rodrigues (1945-1949) (**), o homem que é também um hábil político.

(…) “Manuel Maria Sarmento Rodrigues, oficial da Marinha portuguesa, é destacado por Marcelo Caetano para governador da Guiné, antes ainda do final da Segunda Guerra, num tempo muito próximo à formação do GUC. Durante o seu governo, a província conhece uma época de desenvolvimento, servindo de 'campo de ensaio' aos 'novos rumos da política colonial portuguesa.'(…). Este período progressista tem a sua expressão mais emblemática na revogação do 'Diploma dos Assimilados'  que valerá a Sarmento Rodrigues ser visto como tendo responsabilidades na formação de uma 'nova escola de política ultramarina' "(…). (***)

Nesta visita do engº Rui Sá Carneiro, integram-se jornalistas, um dos quais é o Norberto Lopes (1900-1989), jornalista e escritor, enviado especial do "Diário de Lisboa" que vai fazer m conjunto notável de reportagens sobre a Guiné, reportagens essas que merecem ser conhecidas dos nossos leitores: são cerca 15. Virá a  diretor do "Diário de Lisboa" entre 1956 e 1967.  Recorde-se que o "Diário de Lisboa", vespertino, publicou-se entre 1921 e 1989, e durante o Estado Novo foi sendo conotado como um jornal de referência, da "oposição democrática", O último diretor foi Ruella Ramos. 

O pretexto da visita também foi o encerramento as comemorações do descobrimento da Guiné, em 1946 (uma data, de resto, polémica, para os historiadores, a da pretensa chegada de Nuno Tristão ao território). A iniciativa era do comandante Sarmento Rodrigues,  que pôde contar com o entusiasmo e a criatividade de uma  equipe dinâmica, apostada em  conhecer, desenvolver e modernizar a Guiné, e afirmar a presença portuguesa no território, na nova conjuntura geopolítica do pós-guerra  em que os impérios coloniais se começam a desmoronar. Destaque para Avelino Teixeira da Mota, então 2º tenente, responsável pelo "Boletim Cultural da Guiné" Portuguesa" (que irá dedicar um nº especial, em outubro de 1947, a esta efeméride, o V Centenário).

Na metrópole também houve, em maio de 1946, a celebração do V Centenário do Descobrimento da Guiné. A organização da efeméride coube à Sociedade de Geografia de Lisboa, por decisão do próprio ministro das Colónias. (****).
_______________

Notas do editor:


(**) Vd. poste de 25 de abril de 2014 >  Guiné 63/74 - P13042: Manuscrito(s) (Luís Graça (26): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte III): Sarmento Rodrigues, o seu palácio e a sua praça do império (fotos de Benjamim Durães, julho de 1971)

(***)  Milheiro, Ana Vaz, e Dias, Eduardo Costa - A Arquitectura em Bissau e os Gabinetes de Urbanização colonial (1944-1974). usjt - arq urb , nº 2, 2009 (2º semestre), pp.80-114 [Disponível aqui em pdf ]

(****) Vd. Maria Isabel da Conceição João - Memória e Império; Comemorações em Portugal (1880-1960) - I Volume. Dissertação de doutoramento em História, Lisboa: Universidade Aberta, 1999 (Disponível aqui em pdf: https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/2466/4/TD_Isabel%20João.pdf )