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sábado, 28 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16998: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (5): O I Congresso do PAIGC em fevereiro de 1964, em Cassacá, a sul de Cacine, e a importância social da saúde e da instrução literária, analisada na base central do Morés em março de 1964 - Parte II







O nosso colaborador assíduo do blogue, Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Especiais da CART 3494. Xime e Mansambo, 1971/74): tem já mais de 110 referência no nosso blogue; ainda está no ativo, é professor universitário, doutorado em ciências do desporto. Este texto, a publicar em duas partes, foi submetido ao blogue em 4 de janeiro de 2017]



O I CONGRESSO DO PAIGC EM FEVEREIRO DE 1964 NO SUL E A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA SAÚDE E DA INSTRUÇÃO LITERÁRIA, ANALISADA NA BASE CENTRAL (MORÉS) EM MARÇO DE 1964


II (e última) Parte


Um mês após a conclusão do I Congresso de Cassacá, na Frente Sul, os responsáveis da Frente Norte, Ambrósio Djassi [nome de guerra de Osvaldo Vieira; 1938-1974] e Chico Té [nome de guerra de Francisco Mendes; 1939-1978] tomaram a iniciativa de convocar uma reunião para o dia 21 de março de 1964, sábado, a realizar na Base Central [Morés] entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários [políticos] com o objectivo de estudar e discutir as novas fases do desenvolvimento da luta, e ao mesmo tempo para pôr todos os camaradas ao corrente das resoluções aprovadas na reunião de Cassacá.

No final da reunião do Morés foi elaborado o respectivo relatório, que foi remetido ao Secretário-Geral, e por este recebido em 4 de abril de 1964, onde se fez referência aos temas tratados, ao conteúdo de cada intervenção e ao nome de todos os responsáveis que nela tomaram parte, num total de cinquenta e seis elementos.

Eis os dez pontos da Ordem do Dia [dos Trabalhos]:



1. - Mudança de Táctica

2. - Criação de novas bases
3. - Recrutamento e treinos
4. - Política
5. - Disciplina Militar
6. - Alimentação
7. - Saúde
8. - Instrução literária
9. - Segurança e controle
10. - Ligação.



Como ponto extra foi abordado o “ataque ao Enxalé” e analisada a sua necessidade.

Considerando a extensão do documento, constituído por doze páginas A4 manuscritas, iremos abordar neste texto somente os pontos 7 e 8, relacionados com os assuntos sociais – saúde e educação –, aliás em conformidade com o exposto na introdução.

Esta opção é justificada pelo facto de termos vindo a tratar o tema da saúde utilizando as memórias e experiências vividas por médicos cubanos no apoio à guerrilha, cujos relatos são posteriores a este evento (dois anos; com início em junho de 1966).

Já reproduzimos ao altop deste poste a folha de rosto, ou 1.ª página, onde consta o que acima foi referido.


Ponto 7 - SAÚDE


{Ambrósio] Djassi
– Tudo o que já fizemos e pensamos fazer é devido ao estado normal da nossa saúde. Passo a palavra ao nosso camarada Simão Mendes [enfermeiro] para nos apresentar o relatório elaborado em colaboração com os outros camaradas da saúde.


Simão Mendes
– Digo aos camaradas que vou relatar 10 pontos principais conforme o relatório que fizemos:

1 – Medicamentos: - os medicamentos passarão a ser requisitados trimestralmente, requisitando só os medicamentos de maior consumo na Guiné, dando uma regalia aos guerrilheiros como ao povo. Requisitar materiais de pequena cirurgia o mais breve possível.

2 – Doentes para a fronteira: - mandar urgente para a fronteira todos os feridos ocasionados por ferimento de balas uma vez que não há já recursos locais para a sua extracção. Formar um grupo de transporte de doentes ou feridos graves para a fronteira. Esse grupo será nomeado pelo responsável pela Zona Norte.





3 – Preparação de Ajudantes de enfermagem para outras bases: - serão escolhidas meninas e rapazes para receberem noções de socorros urgentes e de enfermagem.

4 – Escala de Serviço e sua conveniência: - far-se-á uma escala de serviço nomeando cada enfermeiro para a sua responsabilidade diária.

5 – Ginástica, sua necessidade e inconveniência: - a ginástica continuará a ser feita como dantes, isto é, todos os dias principalmente para os recém-chegados.

6 – Visitas guiadas às bases: - deslocação quinzenalmente às bases; nesta visita o enfermeiro escolhido procurará colaborar com o povo estudando assim as doenças de 1.ª instância. Serão construídas duas barracas para consultas.

7 – Noções ligeiras de primeiros socorros aos guerrilheiros: - fazendo parte da guerrilha é lícito que todos os guerrilheiros tenham noções de primeiros socorros. Oferecemos a nossa boa vontade neste momento.

8 – Higiene e sua conveniência: - fazendo parte da saúde, para evitar certas doenças, devem todos os guerrilheiros seguir os princípios da higiene do vestuário e limpeza de barracas.

9 – Escala de serviço e sua conveniência: - far-se-á uma escala de serviço, nomeando cada enfermeiro para a sua responsabilidade diária. (Este ponto é igual ao 4).

10 – Colaboração mútua em tudo que diga respeito ao nosso movimento com o povo e guerrilhas: - colaborar com a nossa população explicando a todos as inconveniências que o abuso excessivo dos medicamentos pode ocasionar. Paciência absoluta, dando ao povo explicações do emprego de medicamentos.




Resolução:


Todos os camaradas estiveram de acordo com as proposições dos camaradas da saúde e resolveram criar forças para garantir a execução do que está acima indicado.



Ponto 8 - INSTRUÇÃO LITERÁRIA



Djassi
– Depois de tudo devemos começar a pensar na instrução dos guerrilheiros e do povo. Hoje podemos dispor de alguns livros apanhados e que já empregamos para o mesmo fim. Os camaradas que vieram de Bissau vão ser distribuídos nas bases para começarem a instrução literária.

Chico Té
– Devemos fazer esforços para pôr isso em prática o mais breve possível apesar de poucos meios do que nos dispomos actualmente.


Luís Gomes – Neste ponto posso dizer que é muito importante para a nossa vida e o desenvolvimento da nossa terra. A instrução não é só para crianças mas sim também para adultos.






Resolução:


Todos os camaradas estiveram de acordo neste ponto, e os camaradas que vieram de Bissau vão ser distribuídos nas bases a fim de começar com a instrução literária. Devido à falta de material escolar solicitamos aos dirigentes superiores do Partido o envio de algum material neste campo.


Citação:
(1964), "Relatório da reunião entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários da Base Central", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40112 (2016-12-28)


Fonte (,com a devida vénia...):

Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 04613.065.157
Título: Relatório da reunião entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários da Base Central.
Assunto: Relatório da reunião entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários da Base Central, assinado por Chico Té (Francisco Mendes) e Ambrósio Djassi (Osvaldo Vieira). Ordem do dia: mudança de táctica, criação de novas bases, recrutamento e treinos, política, disciplina militar, alimentação, saúde, instrução literária, segurança e controlo e ligação. Ataque de Enxalé.
Data: Sábado, 21 de Março de 1964.
Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos Responsáveis da Zona Sul e Leste).
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral.
Tipo Documental: Documentos


Em função do exposto, e em jeito de conclusão, podemos dizer que a organização do PAIGC, passados quinze meses do início da sua luta armada, ainda era excessivamente precária, onde os adjectivos: instável, delicada, insegura, débil e pobre, enquanto sinónimos, completam o seu quadro mais global.

Mas poderia ser diferente para melhor? Não creio… pois tudo na vida é processo e projecto.

Obrigado pela atenção.
Um forte abraço de amizade e votos de boa saúde.
Jorge Araújo.
4jan2017.

_______________________

Nota do editor:

Último poste da série 26  de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16991: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (4): O I Congresso do PAIGC em fevereiro de 1964, em Cassacá, a sul de Cacine, e a importância social da saúde e da instrução literária, analisada na base central do Morés em março de 1964 - Parte I

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16991: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (4): O I Congresso do PAIGC em fevereiro de 1964, em Cassacá, a sul de Cacine, e a importância social da saúde e da instrução literária, analisada na base central do Morés em março de 1964 - Parte I


Guiné > Região de Tombali > Carta de Cacine (1960) > Escala 1/59 mil > Posição relativa de Cassacá, a 15 km a sul de Cacine, região também como conhecida como Quitafine.

 Fonte: Infogravura: Blogue Luís GRaça & Camaradas da Guiné (2017)


Capa do livro de memórias de Luís Cabral [1931-2009]: Crónica da Libertação.  Lisboa, Edições ‘O Jornal’. Publicações Projornal, 1984. 464 pp. O autor foi uma testemunha privilegiada deste congresso, o 1º e único a que assistiu Amílcar Cabral.  Sobre o local em que se realizou (a 15 km a sul de de Cacine, e não na ilha do Como...), vd. poste de Carlos Silva, de 3/4/2009  (*)



[O nosso colaborador assíduo do blogue, Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Especiais da CART 3494. Xime e Mansambo, 1971/74): tem já mais de 110 referência no nosso blogue; ainda está no ativo, é professor universitário, doutorado em ciências do desporto. Este texto, a publicar em duas partes, foi submetido ao blogue em 4 de janeiro de 2017]


O I CONGRESSO DO PAIGC EM FEVEREIRO DE 1964 NO SUL E A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA SAÚDE E DA INSTRUÇÃO LITERÁRIA, ANALISADA NA BASE CENTRAL (MORÉS) EM MARÇO DE 1964 

1. INTRODUÇÃO

Concluído o tradicional ciclo festivo anual, onde as dimensões tempo e espaço são reservadas, maioritariamente, para os núcleos familiar e sociais mais próximos, primeiro o Natal e depois a despedida do ano velho, alargado a outros pares por razões diferentes, retomamos quase sempre as rotinas anteriores, ainda que se reformulem expectativas e se acrescentem outras, em resultado de novos desejos e objectivos, na maioria das vezes influenciados pelo imemorial ditado popular «ano novo, vida nova».

Dito isto, e nesta oportunidade, ainda venho a  tempo de vos desejar  um Melhor Ano de 2017.

Quanto à temática prospectiva das minhas narrativas, que espero e desejo dar continuidade neste espaço plural, elas continuarão a cruzar os territórios de cada um dos lados do combate, relevando as diferentes acções e o sentido de cada uma delas, visando alargar a sua dimensão historiográfica como um contributo para memória futura.

Assim, como causa/efeito para a elaboração do presente trabalho de investigação histórica está o estudo sociodemográfico relacionado com o bigrupo do cmdt Mário Mendes (1943-1972) [apresentado no P16865], a que se adiciona os comentários do meu/nosso camarada Pereira da Costa [P16891], em particular quando se refere à baixa preparação literária dos guerrilheiros, considerada como realidade inquestionável.

Porque cada comentário, independentemente da sua pertinência ou assertividade, nos permite abrir uma ou mais “janelas” de novas abordagens, o presente texto é disso consequência e/ou exemplo concreto.

Uma vez que só a partir de 1966 foram elaboradas pelo organismo de Inspecção e Coordenação do Conselho de Guerra as listas das FARP referentes à constituição dos bigrupos existentes em cada Frente, onde em muitas delas nada consta sobre a variável «formação escolar» de cada individuo, procurámos indagar sobre o que pensavam, naquela época, os principais dirigentes do PAIGC sobre esta problemática.

Para o efeito utilizámos uma vez mais, como fonte de informação privilegiada, a Casa Comum, Fundação Mário Soares, que agradecemos, reforçada com consultas ao vasto espólio do nosso blogue, com especial destaque e a devida vénia aos trabalhos de recensão - «Notas de Leitura» - do camarada Beja Santos.

Neste contexto e como cronologia de partida, recuámos ao ano de 1964, em particular aos fundamentos que levaram à realização do I Congresso do PAIGC, organizado numa área próxima da tabanca de Cassacá, situada a cerca de quinze quilómetros a sul de Cacine (*), e que serão resumidos no ponto seguinte.


2. I CONGRESSO DO PAIGC – CASSACÁ [FRENTE SUL] 
 DE 13 A 17 DE FEVEREIRO DE 1964

O tema sobre a realização do I Congresso do PAIGC, organizado entre 13 e 17 de fevereiro de 1964, por proposta de Luís Cabral (1931-2009), em Cassacá, base situada a quinze quilómetros a sul de Cacine e a trinta da fronteira com a Guiné-Conacri, foi já abordado nos P4122 (Luís Graça) e P4137 (Carlos Silva) (*).

Ainda assim, voltamos a ele com uma dupla intenção.  Por um lado, recuperando o processo histórico mais global, e por outro adicionando-lhe outros elementos particulares incluídos na organização e na vida interna do PAIGC, nomeadamente nas bases criadas no interior do território, como instrumentos de mobilização e motivação para prosseguirem a luta.

É de relevar que os antecedentes do Congresso, a visita de Luís Cabral à zona de Quitafine e tabanca de Cassacá em finais de 1963 [quiçá na perspectiva de “ano novo, vida nova”], as informações recolhidas em todos os contactos estabelecidos com os combatentes e aquelas que lhe chegavam das frentes, levaram a que o irmão [Amílcar Cabral; 1924-1973] aceitasse, como necessária, a realização de uma reunião geral dos quadros responsáveis pelo Partido, no sentido de se poder discutir e aprofundar esta questão, de maneira a tirar dela todas as lições para o futuro, numa altura que estava concluído o primeiro ano da luta armada.

Os fundamentos que estão na base deste projecto de intenções, bem como o desenvolvimento de cada uma das diferentes acções previstas para antes, durante e depois deste I Congresso podem (devem) ser consultadas no livro de memórias de Luís Cabral: “Crónica da Libertação”, (1984), Lisboa, Edições ‘O Jornal’. Publicações Projornal. [Vd. imagem da capa, em cima. ]

Por isso, é da mais elementar justiça referir aqui o importante trabalho de recensão realizado pelo camarada Beja Santos sobre esta obra que, em função do seu valor e extensão, teve de ser dividido em cinco partes: – P7216; P7223; P7232; P7241 e P7259.

Com a devida vénia, aproprio-me, neste contexto histórico, de uma passagem da sua autoria [P7232] onde refere: 

“Em finais de 1963, Luís Cabral faz a primeira visita ao Quitafine, a partir de Sangonhá, depois partiram para a base de Cassacá, onde foi recebido por Manuel Saturnino [da Costa; n-1945-]. Em Cacine estava instalado o primeiro quartel das tropas portuguesas, a que se seguiu Gadamael. Segundo Luís Cabral, as tropas portuguesas estavam confinadas a Cacine. 

As viagens eram morosas e dolorosas, entre a estrada de Boké e a fronteira. Depois vem uma frase enigmática: o Amílcar e o Aristides [Pereira; 1923-2011] foram as únicas pessoas com quem falei sobre os graves problemas que existiam nalgumas zonas do Sul do país. Este facto trazia-nos dados completamente novos sobre a luta, e provou a fragilidade das imensas conquistas obtidas, postas em causa unicamente por falta de informações precisas e controladas sobre a situação real nas diferentes zonas do país. 

A experiência acabava de mostrar que os jovens responsáveis da guerrilha eram capazes de esconder ao Secretário-Geral informações de importância capital, quando elas pudessem pôr em causa outros responsáveis. O que se estava a passar era que um conjunto de chefes de guerrilha exercia um poder despótico sobre as populações, chegando a cometer crimes inanarráveis. Independentemente de serem jovens, é incompreensível como tais crimes sistemáticos eram escondidos dos quadros políticos. Como se verá no Congresso de Cassacá, estes criminosos (cuja relação nunca vai aparecer talhada em qualquer documento) serão sumariamente executados, no termo desta reunião”.


2.1. FOTOGALERIA DO I CONGRESSO DO PAIGC - 1964


Fotos a seguir reproduzidas, com a devida vénia, do portal Casa Comum, desenvolvido em boa hora pela  Fundação Mário Soares , e donde constam, entre dezenas de outros, dois preciosos arquivos, o Arquivo  Amilcar Cabral e o Arquivo Mário Pintio de Andrade, que são duas fontes valiosíssima para o conhecimento da guerra colonial, em particular  na Guiné, e que devem ser devidamente divulgados pelos antigos combatentes de ambos os lados.



Amílcar Cabral veio de base de Boké, na Guiné-Conacri, no barco a motor que se vê ao fundo. Em março de 1973, o PAIGC havia capturado, no porto de Cafine, dois barcos comerciais, o “Mirandela” e o “Arouca”- Depois de rebatizados, passam a servir no transporte de homens e material. O barco que se vê seria um destes dois que foram aprisonados. Passou a ser chamado "Unidade". Sabemos, pela descrição detalhada feita por Luís Cabral (e é a única de que infelizmente dispomos, unilateral, e aparentemente credível),  que a Amílcar e a sua comitiva vieram de Boké, de noite, desembarcando, com a maré alta, na ilha de Canefaque. Seguiram até Cassabetche, a pé, e aqui foram transportados de canoa, com escolta. A viagem até Cassacá foi feita a pé, utilizando  troço da estrada que seguia junto à fronteira...

O congresso realizou-se nas proximidades de Cassacá, num local bem protegido pela floresta. A aldeia de Cassacá, a 15 km a sul de Cacine, a 30 km, a oeste da fronteira com a Guiné-Conacri,  tinha sido destruída pela aviação portuguesa, mas fora reconstruída. O PAIGC considerava já Quitafine como "área libertada". As tropas portuguesas estavam confinadas a Cacine,  mas havia já a norte  um pequeno destacamento em Gadamael Porto. (Recorde-se que estamos  em plena batalha.do Como, Op Tridente.).

Tirando Manuel Saturnino Costa, então com 19 anos, já não deverá haver mais dirigentes e comandantes do PAIGC, vivos, que tenham estado em Cassacá, em fevereiro de 1964. A versão, publicada, de Luís Cabral será, assim,  aquela que "ficará para a História"... 

  [ Fonte: adapt de Luís Cabral [1931-2009]: Crónica da Libertação.  Lisboa, Edições ‘O Jornal’, 1984, pp. 162 e ss.] (*)


Pasta: 05359.000.020
Título: Amílcar Cabral e outros companheiros a caminho do I Congresso do PAIGC
Assunto: Amílcar Cabral e Armando Ramos, entre outros, a bordo de uma canoa, a caminho do I Congresso do PAIGC, em Cassacá.
Autor: Luís Cabral
Inscrições: A caminho de Cassacá 
Data: 1964
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral

Citação: Luís Cabral (1964), "Amílcar Cabral e outros companheiros a caminho do I Congresso do PAIGC", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43297 (2017-1-3)


Pasta: 05224.000.047
Título: Amílcar Cabral e grupo de dirigentes do PAIGC a caminho do Congresso de Cassacá
Assunto: Amílcar Cabral, Quecuta Mané, Armando Ramos, entre outros, a caminho do I Congresso do PAIGC, em Cassacá, na Frente Sul.
Data: Quinta, 13 de Fevereiro de 1964 - Segunda, 17 de Fevereiro de 1964

Observações: O Congresso de Cassacá (que decorreu em simultâneo com a Batalha de Como) reuniu os principais dirigentes políticos e militares do PAIGC e delegados vindos de todas as regiões do país. Entre as principais decisões do Congresso figuram a reestruturação do partido no plano político, o reforço da mobilização e organização das massas populares, e a reorganização da luta armada (criação de comandos inter-regionais, do Conselho de Guerra, e das FARP - englobando a guerrilha, as milícias e o exército popular).

Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias

Citação: (1964-1964), "Amílcar Cabral e grupo de dirigentes do PAIGC a caminho do I Congresso de Cassacá", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43071 (2017-1-3)


Pasta: 05360.000.030T
Ttulo: Amílcar Cabral e outros responsáveis do PAIGC no I Congresso do partido em Cassacá, na Frente Sul
Assunto: Amílcar Cabral e outros responsáveis do PAIGC, entre os quais Domingos Ramos, durante o I Congresso do partido em Cassacá, na Frente Sul.
Data: Quinta, 13 de Fevereiro de 1964 - Segunda, 17 de Fevereiro de 1964
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias

Citação: (1964-1964), "Amílcar Cabral e outros responsáveis do PAIGC no I Congresso do partido em Cassacá, na Frente Sul", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43300 (2017-1-3


Pasta: 07223.002.043
Título: I Congresso do PAIGC em Cassacá
Assunto: I Congresso do PAIGC em Cassacá [região libertada do sul da Guiné-Bissau]. Amílcar Cabral (na mesa), comandantes (sentados em redor da mesa), milicianas (de pé) e população.
Data: Fevereiro de 1964
Fundo: Arquivo Mário Pinto de Andrade
Tipo Documental: Fotografias

Citação: (1964), "I Congresso do PAIGC em Cassacá", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_85095 (2017-1-3)


Pasta: 05224.000.046
Título: Abdulai Barry, Arafam Mané, Amílcar Cabral, Domingos Ramos e Lai Sek no I Congresso do PAIGC, em Cassacá.
Assunto: Abdulai Barry, Arafam Mané, Amílcar Cabral, Domingos Ramos e Lai Sek, durante o I Congresso do PAIGC, em Cassacá, na Frente Sul.
Data: Quinta, 13 de Fevereiro de 1964 – Segunda, 17 de Fevereiro de 1964.

Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral.
Tipo Documental: Fotografias.

Citação: (1964-1964), "Abdulai Barry, Arafam Mané, Amílcar Cabral, Domingos Ramos e Lai Sek no I Congresso do PAIGC, em Cassacá", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43444 (2017-1-3)

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16437: Memória dos lugares (343): A CART 494, que eu tive a honra de comandar, foi a primeira unidade de quadrícula em Gadamael (de 17/12/63 a 28/5/65) e em Ganturé (de 21/2/64 a 28/5/65)... Fomos também nós quem construiu o primeiro aquartelamento de Ganjola, para onde fomos destacados, de 17/9 a 15/12/63 (Coutinho e Lima, cor art ref)



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CART 494 (de 17/12/1963 a 28/5/1965) > A equipa de futebol... Em 21/2/1964, o 3º Gr Com instalou-se em Ganturé em 21/2/1964.


Guiné > Região de Tombali > Setor de Catió > Ganjola  > CART 494 (de 17/9/1963 a 15/12/1963) >  O primeiro aquartelamento


Fotos (e legendas): © Alexandre Coutinho e Lima  (2013). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do nosso camarada [Alexandre] Coutinho e Lima, cor art ref, ex-cap art cmdt da CART 494, Gadamael e Ganturé, 1963/65; adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné, 1968/70;  e ex-major art, cmdt  do COP 5, Guileje, 1972/73), 



Data: 29 de agosto de 2016 às 19:20
Assunto: P 7186 - 28 OUT 2010 - Memória dos lugares (105): Gadamael e as suas unidades de quadrícula


Caro Luis

Antes de mais um grande abraço, pois há bastante tempo que não temos tido contacto.

Aproveitando este magnífico tempo, aqui no Norte, tenho navegado no nosso blogue. revendo alguns aspectos relativos a Guileje e Gadamael. Hoje "esbarrei" no poste  P7186 do já longínquo ano de 2010.(*)

Nele é referido, com alguma incerteza, que a CART 1659 (67/68), poderá ter sido a 1ª. Companhia de quadrícula em Gadamael. Ora isso não corresponde à verdade. Com efeito, a primeira Companhia, naquela localidade, foi a CART 494, que eu tive a honra de comandar.

A Companhia chegou a Bissau em 22 de julho de 1963 e desde 17 de setembro até 15 de dezembro de 1963  esteve a passar umas "férias" em Ganjola (Norte de Catió, onde estava a sede do BCAÇ 356). O PAIGC ficou "tão contente", com a nossa chegada, que nos proporcionou, no próprio dia da chegada uma sessão de fogo de artifício diurno, que começou pelas 16h30; como certamente
pensaram que nós não tínhamos ficado totalmente satisfeitos, repetiram com uma sessão nocturna, por volta da 22g30.

A CART 494 foi a primeira tropa em Ganjola, onde construíu o primeiro aquartelamento, partindo do nada.

Transportada em 2 batelões (um motor) civis da Casa Gouveia (CUF) e no navio motor BOR da Armada, a Companhia fez a viagem de Ganjola para Gadamel, nos dias 15 e 16 de dezembro de 1963, tendo desembarcado em Gadamael Porto em 17.

Em 21 de fevereiro de 1964 o 3ª Grupo de Combate da Companhia ocupou a localidade de
Ganturé,  ficando assim a Companhia responsável pelos dois aquartelamentos, os quais construiu, de raiz.

Em Gadamael, construiu também a pista de aviação,apenas com pá e picareta e algumas cargas de trotil para desfazer os inúmeros morros de baga baga.

A CART 494 foi rendida em Gadamael / Ganturé, em 28 de maio de 1965, pela CCAÇ 798.(**)

No historial das Unidades que estiveram em Gadamel, falta preencher o período de 65 a 67.

Um abraço amigo,

Coutinho e Lima

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7186: Memória dos lugares (105): Gadamael e as suas unidades de quadrícula (Luís Graça / Daniel Matos)


(**) Último poste da série > 10 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16376: Memória dos lugares (342): Galomaro e as suas lavadeiras (António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912)

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15168: O nosso querido mês de férias (8): Ganhei o "Prémio Governador da Guiné", embarquei em 31/10/1964 num Dakota Skymaster ("se cais, morres"), tive uma viagem atribulada... Do outro pessoal da CCAÇ 412 apenas um alferes veio de férias, no entanto, três alferes tiveram as esposas em Bafatá (Alcídio Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412, 1963/65)

1. Texto do Alcídio Marinho [ex-fur mil inf, CCAÇ 412, (Bafatá, 1963/65); vive no Porto]:

A minha vinda de férias à metrópole teve uma estória curiosa.

Até meio do ano 1964, creio que ninguém era autorizado a vir de férias à Metropole, quem queria gozar férias e tinha direito, ia para Bissau.

Ora, como o 3.º pelotão da CCAÇ 412 fora  destacado para o Enxalé, de 28/Out/1963 a 25/1/1964, então comecei a montar armadilhas todos os dias,por carolice e necessidade, e como não tinha curso, fui agraciado com um louvor pelo Comandante da Companhia Capitão Braga (de alcunha o lambreta pois com os  lábios fazia um barulho que se assemelhava a uma lambreta) [de seu nome completo, Manuel Joaquim Gonçalves Braga, cap inf].

Quando já estava em Cantacunda (de junho/1964 a fevereiro/1965), perto de Fajonquito, durante o mês de outubro, tivemos conhecimento que o sr. Brigadeiro Schulz [, um ano depois promovido a genereal,] , havia constituído um prémio, o  "Prémio Governador da Guiné", para agraciar os combatentes que se notabilizasse na efectivação de baixas ao inimigo ou outros feitos em combate.

Qual foi o meu espanto, quando recebi a informação do sr. Capitão que me havia sido atribuído o referido prémio e que podia ir gozar um mês de férias onde desejasse.
Assim marquei a minha vinda a casa.
Como já não se passava na estrada, Bafatá - Banjara - Mansabá - Mansoa - Bissau, tive que ir para Bissau de barco. À época os barcos iam até ao Capé e Contuboel. Tomei o barco em Bafatá e rumei a Bissau, no dia 30/Out/1964. 


C54 Skymaster, da Força Aérea dos EUA.  Desenvolvido  pela Douglas Aircraft Company, teve o seu primeiro voo em 1938, Produziram-se cerca de 1200 unidades entre 1942 e 1947. Deixou de estar operacional em 1975.  [A nossa FAP recebeu 17 aviões, C-5r4 e EDC Skymaster entre 1947 e 1974, segundo informação de António Luís, um dos editores da página Pássaro de Ferro . Crónica da Aviação, onde também colaboração o nosso grã-tabanqueiro José Matos]

Foto: Cortesia de Wikipedia.


Embarquei em 31/10/1964, em Bissalanca, num avião da Força Aérea (Dakota-Skymaster ou "se cais morres"), rumo ao Sal-Cabo Verde, com passagem pelo aeroporto militar dos Gambos-Canáras mas quando chegámos a Lisboa, estava uma tempestade enormíssima, pois que todos os
aeroportos da Península Ibérica estavam encerrados. Quando estava a amanhecer, olhamos pelas janelas e só víamos mar e depois depois uma ilha, era a ilha do Sal, outra vez.

No avião vinha, no meio, um motor de um F-86 e um paraquedista de maca acompanhado de uma enfermeira e outros militares.

Desembarcámos e fomos comer às instalações da CCaç 413 que havia ido connosco para
a Guiné-Mansoa, tendo a meio da comissão sido deslocada para o Sal-Cabo Verde.

Aí comemos lagosta a todas as refeições, eles já enjoavam a lagosta. Éramos todos conhecidos pois como nós também pertenciam Ao BC 10-Chaves e os sargentos éramos todos do mesmo curso-1961.
O Aeroporto do Sal, era só uma pista e no final da mesma havia a torre de controle.

Na tarde desse dia, tornamos a embarcar e quando arrancámos para levantar, ouvimos um estrondo da rebentação de um pneu e só paramos a cerca de 5 ou 6 metros da torre.

Como não havia pneu suplente ficamos três dias no Sal até chegar um pneu, no avião da TAP. No dia 3 de Novembro, reembarcámos para Lisboa onde chegamos no dia 4.

Passei essas Férias em Amarante, Chaves, Verin-Espanha, (onde tinha uma namorada espanhola) e Porto. Passados os trinta dias apresentei-me nos Adidos-Lisboa, mas não havia alojamento, fui instalar-me numa Pensão na Rua Rodrigo da Fonseca, a aguardar passagem aérea para Bissau, o que veio a suceder só no dia 6 de dezembro. Chegado a Bissau apanhei um barco civil, para Bafatá, seguindo de novo até Cantacunda.

Nas Canárias comprei um relógio por 500 escudos e uma máquina fotográfica Konica também por 500 escudos.

Do outro pessoal da CCAÇ 412 apenas um alferes veio de férias, no entanto, três alferes tiveram as esposas em Bafatá

Alcidio Marinho
22 de setembro de 2015 às 13:18
______________

Nota do editor:

Ultimo poste da série > 27 de setembro de 2015 >Guiné 63/74 - P15165: O nosso querido mês de férias (7): Entre 15 de Fevereiro e 21 de Março de 1971, a ilusão de estar longe da guerra (Carlos Vinhal)

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13967: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (90): Finalmente uma foto do BOR (António Bastos / Manuel Amante / Rui Santos / João Silva)


Foto nº 1


Foto nº 2


Fotos: © António Bastos (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Mensagem do n osso camarada António Bastos:

Data: 1 de dezembro de 2014 às 14:57

Assunto: Será o Bor?

Companheiro Luís, boa tarde.

Luís,  têm-se falado muito no BOR, eu não me lembro de ouvir esse nome dos colegas da marinha que passavam pelo Cacheu em 1964.

Mas como tinha esta foto [, foto nº 1,] ,  enviada por um colega que infelizmente já se foi, lembrei-me de a mandar, assim como esta outra, de uma embaecação   [, foto nº 2,] que ainda ninguém se lembrou de falar: era o Pecixe,  fazia o transporte de civis do Cacheu para S. Domingos e tinha como tripulação o grumete fogueiro,  motorista nº 8838,  de nome José País (, ainda vivo,  mora em Mem Martins,) e o cabo Candeias, que nunca mais soube dele.

Este barco também era da marinha, e foi um barco de pesca [, tal como o "Bubaque"], bom isso deixo para os colegas da marinha para falarem sobre o mesmo.

Companheiro Luís,  é tudo,  um abraço e até breve.

António Paulo [Bastos],
ex 1º cabo do Pelotão Caçadores 953,
1964 Cacheu , Farim, Canjambari, Jumbembem, 1966


2. Mail enviado ao Rui Santos, com conheciumento ao Torcato Mendonça, Ismael Augusto e Manuel Amante:

Meu caro e veteraníssimo Rui:

Será que este ferryboat que fazia a carreira de Bolama, é o mesmo (o BOR) onde tu e a tua "bajuda" fizeram a tal viagem dramártica de Bolama a Bissau, no princípio [ou final ?] da tua comissão ?

 O Bastos é um rapaz de 1964/66... que andou pela região de Cacheu e Farim, "periquito", quando comparado contigo que és de 1963/65...

Fico a aguardar os teus doutos esclarecimentos... Aproveito para mandar estas fotos (a outra é de uma outra embarcação usada no Cacheu) à malta que se lembra do BOR...porque andou nela (caso do Torcato Mendonça, do Ismael Augusto e do "nosso" embaixador Manuel Amante).

Um muito obrigado ao Bastos. Esta nossa partilha de informação e conhecimento só é possível porque o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (**).

Um alfabravo. Luis


3. Resposta pronta, de Manuel Amante,
 a partir de Roma [, onde é embaixador do seu país, Cabo Verde]:

Data: 1 de dezembro de 2014 às 16:52

Assunto: Será o Bor?

Luis, a primeira foto, a mais pequena [, foto nº 1,]  é mesmo o "Bor".

Já passei horas a ver se apanhava uma foto desta embarcação.  Percorri vários sites,  inclusivé do Arquivo Histórico Ultramarino e outros,  em vão. 

Sabendo do estaleiro de construção ou da data de chegada a Bissau,  talvez se pudesse saber de outros pormenores e características deste ferryboat que era pau para toda obra nos rios da Guiné.

Abrcs.
Manuel

4. Comentário de Rui Silva (*), com data de 1 do corrente, 18h37:

Amigo Luis, de certeza que era o Bor, foi em Fevereiro de 1965, dias antes do nascimento de nossa filha, o Bor nessa altura ja navegava de "bengalas" e "boias nos braços", enferrujado, velho combatente mas navegando à superficie dos canais e rios limitrofes de Bolama e Bissau.
Abraço
Rui Santos
[ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65]


5. Comentário de João Silva, ex-fur mil, CCAÇ 12, 1973. Xime (*):

Uma achega, a Bor pifou de vez e passou em 1973, em meados de junho, a deslocar-se atrelada a um rebocador. Numa das viagens que fiz, Xime-Bambadinca, por deferência do comandante do rebocador, foi bem mais confortável e com direito a bebida a bordo do rebocador. Curiosamente nunca fiz a viagem inversa de barco.

João Silva, CCaç 12, 1973
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 13 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13729: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (88): Revivendo, 48 anos anos depois, a tragédia de Jumbembem, a morte do cap mil inf Rui Romero, da CCAÇ 1565, em 10/7/1966 (Ana Romero / Artur Conceição)

(**) Vd. poste de 29 de novembro de 2014 >Guiné 63/74 - P13959: (Ex)citações (255); A minha aventura (e da minha mulher, grávida) a bordo da BOR, numa viagem atribulada entre Bolama e Bissau (Rui Santos, ex-alf mil inf, 4ª CCAÇ,  Bedanda, 1963/65)

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13333: (Ex)citações (234): Comentários ao poste do António Medina sobre os acontecimentos de 1964 em Jolmete: Vasco Pires, António Graça de Abreu, Manuel Carvalho, Joaquim Luís Fernandes, Júlio Abreu, Manuel Luís Lomba, António Rosinha e António Medina



Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70 > As NT e a população.

Foto: © Manuel Carvalho (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem;:LG]

Publicamos, seguindo uma ordem cronológica, os comentários suscitados até à data pelo poste P13326 (*). Sobre os acontecimentos de há 50 anos em  Jolmente (ou Djolmete), evocados pelo nosso camarada da diáspora António Medina (que vive nos EUA), não encontrei até agora nenhuma referência no Arquivo Amílcar Cabral, disponível para consulta pública no portal Casa Comum. O que não quer dizer absolutamente nada.. Em muitos casos o arquivo tem muitas lacunas e é decionante...(LG)


1. Vasco Pires  [ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; membro da Tabanca Grande, a viver na diáspora, Brasil]

"War is hell,"

"You cannot qualify war in harsher terms than I will. War is cruelty, and you cannot refine it; and those who brought war into our country deserve all the curses and maledictions a people can pour out. I know I had no hand in making this war, and I know I will make more sacrifices to-day than any of you to secure peace."

General William Tecumseh Sherman

Parabéns Camarada, por conseguires exorcizar os teus "fantasmas".

PS - Esclarecimento:  Fiz a citação Major - General Sherman, por se tratar de um militar da terra de adoção do Camarada Medina.

Citei-o também, por ser o autor da célebre frase "War is hell", repetida até hoje à exaustão.

Transcrevi a frase seguinte, por ter sido feita, por um militar considerado intransigente, num momento de decisão particularmente difícil - a evacuação e incêndio de Atlanta.

Quanto a juízos de valor,nada tenho contra quem os faz, contudo, eu, tento não os fazer. (...)


2. Manuel Carvalho [ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70]

Caros camaradas: Cerca de quatro anos depois, em  junho de 68 a minha companhia, a CCAÇ  2366, chegou a Jolmete e aí permanecemos cerca de um ano. O Blog tem fotos minhas desse mesmo barracão que era o edifício com mais qualidade que existia em Jolmete.(**)

A pouca população que havia tinha sido recuperada no mato.O Régulo atual de Jolmete julgo que é o Cajan Seidi. Por acaso não te lembras do nome desse Régulo?



Diz o António Medina: "Não se trata de nenhuma minha criatividade ou ficção, mas sim a descrição verdadeira de factos sucedidos, contados a mim na altura por quem foi testemunha e participante de uma acção bastante degradante e vergonhosa."

Portanto o António Medina não assistiu aos "fuzilamentos", ouviu contar.

Não digo que não possam ter acontecido, todas as guerras são sujas, tudo é possível, até o assassínio de três majores e um alferes, mais dois guias, gente do meu CAOP 1, em 1970, militares desarmados que iam em negociações de paz, exactamente na estrada do Pelundo para o Jolmete.

Estive sete meses em Teixeira Pinto, em 1972/73, estive no Jolmete em 1972, jamais ouvi esta história. Eu sei que já haviam passado oito anos, mas "fuzilamentos" deste tipo costumam deixar lastro na memória das gentes.

Gostava que estes "fuzilamentos" fossem confirmados por mais pessoas que se possam pronunciar com verdade, com factos, não de ouvir contar. (...)

4. Joaquim Luís Fernandes [ex-alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974]

Caros Camaradas e Amigos: Eu sou um sentimentalão! E se calhar muito ingénuo.

Ao ler esta narrativa sentia uns arrepios e um desgosto profundo e interrogava-me: Como terá sido possível tão medonho ato por parte de um corpo do exército português, formado e enquadrado por valores éticos, que condenariam em absoluto tal procedimento? Ou havia nesse tempo outra doutrina que eu desconheço?

E porque duvidar da verosimilhança da descrição do camarada António Medina?...

Tudo isto mexe comigo. Porque vivi aí os meus primeiros medos e pisei esse chão incerto e instável, sou remetido para as questões que tantas vezes coloquei a mim próprio: Porquê a antipatia que via espelhada nos rostos dos manjacos e a sua desconfiança e má vontade?

Teria a ver com a memória desses factos, ou eram memórias bem mais antigas, do tempo de Teixeira Pinto ou ainda mais antigas do tempo dos escravos do Cacheu?

Em 1973, em Teixeira Pinto, coabitávamos em paz aparente com a população local, (velhos, mulheres alguns jovens adolescentes e crianças) mas sentia que éramos "personas non gratas". Toleravam-nos enquanto os servíamos. Diziam-me os meu soldados: "Eles fazem de nós seus criados".

Também ainda não consegui encaixar bem, toda a tramóia dos assassinatos dos três majores, do alferes e dos acompanhantes, em 1970. Apesar de tudo o que li, ficaram-me vários hiatos sem explicação. Agora fico com mais esta dúvida: Será que um acontecimento não tem nada a ver com o outro? A minha intuição diz-me que sim. Pelo menos o local escolhido foi o mesmo. Porquê?... Esta história tem muito por contar! (...)

5. Júlio da Costa Abreu [ex-1º cabo radiomontador do BCAÇ 506 (Bafatá) e ex-1º cabo comando, chefe da 2.ª equipa do grupo de comandos "Centuriões" (Brá, 1964/66); a viver na Holanda }


Ser ou não ser, eis a  questão...  Ter ou não ter razão... E de quem foi a culpa de terem fuzilado em Bambadinca depois do 25 de Abril tantos soldados Comandos, como por exemplo o Jamanca e muitos outros? Ou será que depois de eles terem confiado nos novos donos da Guiné, foi a paga que lhes deram? Isso também é  motivo para serem assassinados? E a guerra realmente nunca foi limpa mas isso é normal. (...)

 6.  Manuel Luís Lomba [ ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66]

'Terei sido contemporâneo destas circunstâncias.Chegámos a Bissau (BCav 705) em 26/7/64 e a minha subunidade (CCav 703) foi de intervenção para Bula em Agosto, fez o seu baptismo de fogo em Naga e durante 20 dias reforçou a atividade operacional o BCaç 507, comandado pelo então t-coronel Hélio Felgas - que alinhava no mato.

Sem pretender sindicar a memória do camarada António Medina, acho algo de estranho. Aquele comandante exortava-nos à implacabilidade em relação à gente que nos recebesse à bala ou granada, mas incitava-nos ao cuidado de poupar populações. Enfatizava o dilema das mesmas - colocados entre a tropa e os "terroristas". Havia bastantes presos, junto à casa da guarda que recebiam o rancho geral e não me apercebi de maus tratos. Isto dois meses após esses eventuais factos. Cercar tabancas e fazer capturas foi o nosso dia a dia de cada dia operacional. Aconteceram atos lamentáveis? Com certeza. Mas o fuzilamento dos capturados diferido dois meses suscita melhores provas. Luís Cabral não refere esse evento no seu livro Crónica da Libertação. E aquele foi o tempo da prisão de importantes paigcistas, como Rafael Barbosa, Fernando Fortes, sem esquecer os que vieram a conspirar e assassinar Amílcar Cabral que não foram eliminados. (...)

7. Antº Rosinha [ex-fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93]

Todos os crimes e fuzilamentos e atrocidades cometidos pelos tugas estão adaptados ao discurso anticolonial conveniente às autoridades revolucionárias que tomaram conta do poder em toda a África.

Isto desde o início da guerra em 1961, sempre se acreditou em tudo o que vinha de Argel, Moscovo e Brazaville e Conacry.

Desde os números arredondados tipo os 50 mártires do Pidjiquiti até aos milhares de turras da UPA lançados ao mar, pelos luxuosos PV2 da FAP, tudo está "provado" e "comprovado".

Só falta descobrir o segredo das valas comuns e da contagem dos respectivos cadáveres.(...)

8. António Medina [ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; vive nos EUA]

Acabo de tomar conhecimento de comentários feitos por alguns camaradas, mostrando certa relutância em aceitar a narrativa dos factos acontecidos na área de Jolmete. Cada um tem o direito de aceitar ou discordar e até pedir provas mais concretas desde que estejam disponíveis.

Segundo a teoria aplicada pelo Comandante do Batalhão de Bula , ver comentário do camarada Manuel Lomba porque assim reza o seu segundo parágrafo:

” AQUELE COMANDANTE EXORTAVA À IMPLACABILIDADE EM RELAÇÃO ÀS GENTES QUE NOS RECEBESSEM À BALA OU GRANADA MAS INCITAVA-NOS AO CUIDADO DE POUPAR POPULAÇÕES “.

Ora, o que foi feito em Jolmete ?

Pouparam, sim, a vida das mulheres e crianças. Mas sem condescendência, como vingança exterminaram os homens da tabanca, considerando o facto que talvez fossem coniventes com os autores da tal emboscada ou assim evitar o perigo de virem a pegar em armas. Foi uma acção bastante secreta como é óbvio. 

SE ENQUADRA OU NÃO NA TEORIA OPERACIONAL DAQUELE COMANDANTE?

Sabemos que casos semelhantes aconteceram não só na Guiné mas também em Angola e Moçambique, em grupos ou a nível individual.

O camarada Manuel Carvalho se refere ter estado em Jolmete em 1968, quatro anos depois, assim como que a pouca população que havia em Jolmete tinha sido recuperada no mato. isto vai ou não ao encontro do que escrevi, da fuga da população que restou e se refugiou no mato?

Estava eu em Bissau como empregado do BNU quando em 1970 se deu o caso dos três majores, um alferes e outros na estrada de Jolmete. Não obstante fossem militares e em guerra, o caso consternou os civis da cidade de Bissau. Teria sido vingança do PAIGC sobre a tropa colonial? (...) (***)
_____________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 24 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13326: De Lisboa a Bissau, passando por Lamego: CART 527 (1963/65) (António Medina) - Parte II: Foi há 50 anos, a 24 de junho de 1964, sofremos uma emboscada no regresso ao quartel, que teria depois trágicas consequências para a população de Jolmete: como represália, cerca de 20 homens, incluindo o régulo e o neto, serão condenados à morte e executados pelas NT, dois meses depois

(**) Vd, poste de 24 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10191: Memória dos lugares (189): Jolmete, quotidiano da tabanca e aquartelamento (Manuel Carvalho)

(***) Último poste da série > 20 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13167: (Ex)citações (233): Venho manifestar o meu apoio ao camarada Veríssimo Ferreira pelo repto que faz ao camarada Manuel Vitorino (Manuel Luís Lomba)

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12764: Convívios (564): Comemoração dos 50 anos de incorporação militar nos COM e CSM, CISMI, Tavira, setembro de 1964: Quartel da Atalaia, 20/9/2014, às 11h (Rogério Freire, ex-Alf Mil, CART 1525, Bissorã, 1966/67)


Página da comissão organizadora, para efeitos de informação e inscrição




1. Mensagem, de 19 do corrente, do nosso camarada Rogério Freire [ex-Alf Mil da CART 1525,Bissorã, 1966/67; fundador e editor principal do sítio sobre a CART 1525 - Os Falcões]



Assunto: Vamos comemorar os 50 anos do assentar praça no CISMI !!!


Caro amigo Luís Graça,

Está a decorrer uma iniciativa para tentar reunir em Tavira, nas instalações do CISMI, no próximo dia 20 de Setembro, os mancebos que assentaram praça nos cursos de COM e CSM naquela unidade há 50 anos.

Há já um site preparado para dar informações e aceitar inscrições:

http://www.cismi-setembro-1964.pt

e um e-mail
geral@cismi-setembro-1964.pt

Porque tenho a certeza que muitos dos Tabanqueiros passaram pelo CISMI entre Setembro e Dezembro de 1964, lembrei-me de pedir a tua cooperação em ajudar-nos a divulgar este evento no nosso blogue.

Agradeço-te desde já a disponibilidade para o efeito bem como uma visita ao site.

Um abraço cordial do

Rogério Freire
(CART 1525 – Os Falcões)


Tavira >  CISMI > 1964 > "Garboso desfile pelas ruas de Tavira" [, neste caso, pela ponte romana; ao fundo, ao centro, o edifício da Câmara Municipal e Tavira]... Foto do sítio da comissão organizadora do evento. Reproduzida aqui com a devida vénia... (LG)


2. Comissão organizadora e contactos:


Com a devida vénia reproduz-se do sítio, o seguinte:


A ideia de realizar uma confraternização para comemorar os 50 anos do nosso "assentar praça" partiu do Adrião Mateus

O Adrião transmitiu-a ao Tenente António Carlos Fernandes Gomes, Comandante da 3ª Companhia de CSM, hoje Ten Cor aposentado e a alguns dos seus camaradas da CART 1525 (Guiné, Bissorã, 1966/67) e que passaram pelo CISMI, a saber:

Armando Benfeito da Costa;
António Jesus Picado Magalhães:
Joaquim Fernandes Pombo:
Rogério Marques Freire.

A ideia foi acolhida com carinho e está agora a ser posta em prática.

A confraternização só se poderá realizar e vir a ser um êxito se, ao tomares conhecimento desta iniciativa, te comunicares connosco, te inscreveres, mandares fotos e outros contibutos e ... muito importante passares a palavra a outros camaradas.

O e-mail para te comunicares connosco é o geral@cismi-setembro-1964.pt

Se preferires o contacto telefónico liga para o Adrião Mateus
telem  919755073  / telef 239717698

AGUARDAMOS O TEU CONTACTO



Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 100 >  Interior do quartel da Atalaia (, hoje RI 1) (1)


Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 091 > Interior do quartel da Atalaia (, hoje RI 1) (2)



Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 108 > Igreja de São Francisco, ao lado do quartel da Atalaia, onde os instruendos podiam assistir à missa celebrada pelo capelão militar, aos domingos e dias santos... (Releio no "guia do instruendo", de 1968).



Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 063 > A velha ponte romana sobre o Rio Girão, numa manhã de sábado, e maré vazia...


Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 254 > O encanto dos recantos da cidade... Dizia-se, no nosso tempo, que tinha 29 igrejas, capelas e ermidas...



Tavira, 1 de fevereiro de 2014 >  Foto nº 074 > O velho coreto, ainda lá está, no Jiardim Público de Tavira, tendo à esquerda  o velho mercado (que hoje é zona de lojas de artesanato e restauração).



Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº  298 > Um aspeto do Jardim Público de Tavira, entre a Praça de República e o antigo mercado... por onde se passeavam as "morenas" e os senhores instruendos, no nosso tempo... Onde se vê o meu carro, é a Rua do Cais, segundo leio no mapa do Google...  E á esquerda, o rio Girão


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados


3. Comentário de L.G.:


Rogério, são gloriosos sobreviventes, essa malta de 1964!... Meio século, é obra! Parabéns aos bravos "falcões" que estão a organizar este evento.

Tens o nosso (que também é teu) blogue à tua inteira disposição para divulgar esta e outras iniciativas... Para mais, Tavira é um sítio que me é caro, também passei por lá, 4 anos depois de ti, no último trimestre de 1968, antes de ser mobilizado para a Guiné...

Acabei de visitar o sítio que me indicas e, como prometido, fiz-te um poste à maneira, no seguimento e em complemento do teu pedido... Acrescentei inclusive mais algumas fotos de Tavira, que eu tirei por ocasião de um fim de semana que lá passei, há três semanas atrás.

Estás também à vontade para (re)publicar, no nosso, coisas do blogue dos "falcões"... Devíamos falar mais da tua CART 1525 e da valente rapazida de Bissorã do teu tempo...

Um alfabravo. Luis

PS - Rogério, temos vindo a publicar uma série sobre o "Guia do Instruendo", documento, de 21 pp., que era distribuído no meu tempo (1968). Vê aqui. Provavelmente ainda não existia em 1964, no vosso tempo.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12349: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (9): Em setembro de 1964, a situação estava feia na antiga Zona 7 do PAIGC, segundo carta do 'Nino' Vieira [Marga]: (i) falta de homens, material, medicamentos e alimentos; (ii) 1 guerrilheiro deserta e apresenta-se em Bambadinca; (iii) as NT desembarcam no Rio Corubal, na Ponta Luís Dias, e avançam até ao Poindom e à Ponta do Inglês, provocando baixas entre a população e a guerrilha; (iv) 300 fulas da zona leste recebem instrução militar em Bissau, mas... (v) o moral da guerrilha parece ser... alto, estando disposta a ocupar militarmente o Saltinho e o Xitole (o que, como sabemos, nunca virá a acontecer até ao fim da guerra)



[Foto à esquerda: Amílcar Cabral, de costas, comn 'Nino' Vieira. Data: c. 1963/73.  Cortesia de Casa Comum / Arquivo Amílcar Cabral]


1. Transcrição de uma carta, assinada por Marga ['Nino' Vieira, comandante da Zona Sul], de 4 folhas, não numeradas, com data provável de setembro de 1964, e para destinatário desconhecido.

Sinopse: Em setembro de 1964, a situação estava feia na antiga Zona 7 do PAIGC: (i) falta de homens, material, medicamentos e alimentos;  (ii) 1 guerrilheiro deserta e apresenta-se em Bambadinca; (iii) as NT desembarcam no Rio Corubal, na Ponta Luís Dias e avançam até ao Poindom e à Ponta do Inglês, provocando 6 mortos, vários feridos e perda de material; (iv) há a notícia de que 300 fulas da zona leste recebem instrução militar em Bissau, (v) mas o moral da guerrilha é alto, sendo disposta a ocupar militarmente o Saltinho e o Xitolle (sic) - o que, como sabemos, nunca chegou a acontecer, "manu militari", antes de acabar a guerra... (LG)

Guiné > Zona Leste > Croquis do Sector L1 (Bambadinca),  que coincidia em parte com a antiga Zona 7 do PAIGC (margem direita do Rio Corubal) > 1969/71 (vd. Sinais e legendas).

Infografia: Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné (2013)


Acontecimentos na antiga Z[ona] 7.

O camarada Barry  [Bari] disse-me que não tem guerrilheiros suficiente[s]. A situação está sendo agravada cada vez mais não só por falta dos guerrilheiros como também pela fome. Todos os guerrilheiros que tinha,  estão espalhados, só pela [devido à] fome.

Disse ainda que há cerca de 300 fulas que [se] foram preparar militarmente em Bissau. Há algumas espingardas abandonadas. [H]ouve também [1] guerrilheiro que fugiu da base e foi apresentar-se em Bambadinca.

O Bary [Bari]  disse que todos os camaradas podiam seguir para os pontos indicados, mas estão com falta de homens e de alimentação. Garantiu que com alimentação e mais um pouco número [sic] [mais uns tantos] homens, eles podem ocupar todos os pontos indicados. Saltinho e Xitole vai [vão] ser ocupado[s] por nós, mas outros pontos é que achou ainda impossível.

No dia 3/9/64, as tropas desembarcaram em Gã Dias [Ponta Luís Dias] onde demoraram [permaneceram] 1 dia. Mataram 5 pessoas e [fizeram] 4 feridos. Em Gã Carnês [Garnes] [Ponta do Inglês], 1 guerrilheiro [foi] morto, de nome Mamadi [Mamadu] Sambú. Levaram desse 1 caixa de pistola, 1 carregador e uma granada. Em Poindó e Gã Carnês [Garnes] [Ponta do Inglês] encontraram [-se] com as n/ [nossas] forças e estes [estas] os fizeram voltar [recuar], depois de terem sofrido algumas baixas.

Esse grupo era chefiado por Felipe Nangassé que disse que perderam nesse ataque 1 gorionova [Metralhadora Pesada Goryounov 7,62 mm M-943], 1 metralhadora ligeira “Tcheca”, 1 carrebina [sic] [carabina], 1 mauser e 1 pistola automática.

As tropas, de pois de terem desembarcado em Gã Dia[s], conseguiram infiltra[-se] para Gã Carnês [Garnes] e Poindó [Poindom]. O grupo era composto somente por 7 homens, por isso não podiam aguentá-los.

Pediram também fardas e basookas [sic] [LGFog], se possível, que é para segurança dos rios. Estamos com falta de munições de P.M. [Pistola Metralhadora], ou seja, 7,62, granadas e todas as outras espécies de munições. E também minas anti-tanque [anti-carro] e anti-pessoais.

Espero que nos envie alguns botes de borracha, se possível.

Mais nada, Marga

[PS - ] Falta de medicamentos e enfermeiros. O povo morre por falta da alimentação. População inflamada. Falta de munições tais como granadas, balas de 7,.62 P. M. [Pistola Metralhadora], 7,92 Mauser, 7,62 carabina, minas e seus detonadores.

Transcrição, revisão, fixação de texto: L.G. (*)


Original: Para ampliar clicar aqui: Casa Comum

Fonte:

(s.d.), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_39094 (2013-11-26)

Instituição:
Fundação Mário Soares
Pasta: 04613.065.046
Assunto: Relata os acontecimentos na antiga Zona 7, referindo nomeadamente a falta de guerrilheiros e a situação de fome.
Remetente: Marga (Nino Vieira)
Destinatário: Não identificado.
Data: s.d.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos Responsáveis da Zona Sul)
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Correspondência

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12250: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (6): Carta de Marga ('Nino' Vieira) a Aristides Pereira, presumivelmente de meados de 1964, em que refere um desembarque das NT em Gampará, que terá provocado a morte de "22 pessoas do povo e umas vintenas de vacas" (sic)

1. Transcrição de mais um documento do Arquivo Amílcar Cabral (*), disponível no portal Casa Comum (projeto ligado à constituição de uma "comunidade de arquivos de língua portuguesa", liderado e desenvolvido pela Fundação Mário Soares).

Trata-se  de um manuscrito, de 5 páginas, não numeradas, sob a forma de carta, entregue por mão própria, assinada por Marga (pseudónimo de 'Nino' Vieira, comandante da Frente Sul,  mais  conhecido, no seio da sua tropa,  por Caby, ou Kabi, seu verdadeiro nome de guerra) (**) em que comunica a Aristides Pereira  (no exterior, em Conacri, com o cargo de secretário-geral adjunto do PAGC) que:

(i) chegou ao chão dos Nalús [, ou seja, o Cantanhez,  região de Tombali],  depois de concluída uma  missão nas outras zonas; (ii) dá conta do desaparecimento do comandante Honório Vaz na Zona 7;  (ii) relata sumariamente  as consequências do ataque  das tropas portuguesas  desembarcadas em Gampará, dias antes de ele chegar à região de Quínara; (iv) fala de queixas do povo contra Malam Sanhá (, comissário político que tinha feito, antes da guerra, trabalho de mobilização de pessoal na região de Fulacunda, sob as ordens diretas de Amílcar Cabral); (v) manda lista de camaradas que têm cometido crimes (sic) contra a população na região  de Quinara (, já antes o problema da violência perpretada contra elementos da população por combatentes do PAIGC, se tinha levantado, no Congresso de Cassacá, realizado de 13 a 17/2/1964, no setor de Quitafine) ; e ainda (vi) refere  ataque das tropas portuguesas à base central [, presume-se. no Cantanhez

Repare-se ainda no trecho da carta em que, depopis da denúncia do Malam Sanhá e de outros camaradas sobre os quais recaem graves acusações, o 'Nino'  manifesta ao Aristides  o seu interesse em falar direta e pessoalmente, sem qualquer intermediário,  "com o Secretário Geral [Amílcar Cabral], a fim de  [expor-lhe] uns certos problemas respeitantes à n[ossa] luta". Não podia ser mais explícito: "Tenho certos assuntos que pretendo pôr ao Secretário face a face". O mesmo é dizer que secretário só há um...

A carta não tem data, mas pertence ao lote da correspondência dos responsáveis da zona sul, relativa aos anos de 1963/64 (algumas  são ainda de 1962, quando já havia ações de sabotagem e escaramuças com as autoridades portuguesas, por exemplo, o ataque, gorado,  á esquadra de polícia de Catió, em que o próprio 'Nino' participa!).

Entretanto, cotejando-a  com outra, de 29/8/1964, [, também dirigida ao Aristides Pereira, escrita com a mesma  letra (perfeitamenet legível, e num português relativamente desenvolto, acima da média da literacia de outros comandantes) e em que Marga (i) se queixa da falta de professores, tendo só um professor, o Areolino,  para tantas alunos, (ii) agradece o relógio que lhe enviaram, e (iii)  requisita  sabão "asepso" (sic), ] não temos dúvidas de que se trata de correspondência datada dessa altura (agosto/setembro de 1964)...


Revisão e fixação de texto: L.G. (*)
____________________

2. De Marga [Nino Vieira,  comandante da frente sul, então com 25 anos, foto à esquerda, disponibilizada por Virgínio Briote (**)] para Aristides Pereira [, secretário geral adjunto do PAIGC, desde 1964,  a viver em Conacri, e então com 40 anos]

Camarada Aristides:

A vossa saúde em companhia dos n[ossos] camaradas, são os meus maiores desejos. Nós bastante bons graças ao Devino [Divino] e ao povo.

Comunico-vos que vim [acabei] de chegar no dia 7 ao [chão dos] Nalus, depois de ter conduzido a missão, que fui confiado a cumprir nas outras zonas. Claro que fiz uma boa viagem, donde contactei face a face com os camaradas e o povo, explicando-lhes a razão que levou o Secretariado a tomar estas decisões, a fim de melhorar a nossa condição de luta no interior.

Passei por diversas bases e tabancas do povo. Demorei um mês para concluir toda essa volta. Não tenho encontrado nenhum obstáculo durante a minha viagem, nem tão pouco tenho visto reservazinhas [sic] da parte dos camaradas. Depois de ter contactado com o povo, manifestaram bastante os seus apoios quanto à luta e à decisão que foi tomada ultimamente para unificação das zonas.

Temos colocado responsáveis dos sectores e de bases em todos os pontos indicados.

O camarada Honório Vaz não se encontra na Z[ona] 7 e ninguém sabe do paradeiro deste. Alguns dizem que está na zona e os outros dizem que foi para o Senegal.

Dias antes de [eu] chegar a Gampará, as tropas portuguesas desembarcaram aí, onde destruíram todos os bens do povo. Mataram 22 pessoas do povo  e umas vintenas de vacas.

Junto [h]ouve pessoas do povo que têm participado queixas contra o Malam Sanhá e outros. Junto segue a lista dos camaradas que têm cometido crimes contra a população na área de Quínara. Junto queria contactar com o Secretário Geral [Amílcar Cabral], a fim de expô-lo [expor-lhe] uns certos problemas respeotantes à n[ossa] luta. Tenho certos assuntos que pretendo pôr ao Secretário face a face.

Da minha ida a Cubisseco, aproveitei de [para] trazer para a base central a camarada Carlota da Silva, afim de auxiliar o Areolino Cruz nas instruções [aulas de alfabetização], porque ele sozinho não pode. Trouxe-a comigo depois de ter trocado com ela algumas impressões, na apresentação do João Tomaz e Guerra. Ela já se encontra na base e deve começar a dar instruções [aulas], dentro destes dias.

O Sadjá Bambé disse para dizer ao Luís [Cabral] de mandar-lhe o seu relógio se já estiver pronto. Agradeço mandar-nos oferecer fardas, porque as que os camaradas tinham, foram destruídas pelos portugueses.

No dia 20 deu-se um grande ataque nos arredores da base. As tropas inimigas avançaram até à base central e destruiram aí [sic]. Tinham com eles um guia que conhece muito bem o caminho.

Agradeço ainda de mandar-me oferecer sabão assép[tico], se possível. As mercadorias ainda não atravessaram a fronteira mas vou fazer tudo com que isso atravesse [sic].

Podem confiar [a]o portador desta [carta] de trazer aqueles materiais para defesa dos rios.

Portanto termino. Desejando-vos a todos um bom sucesso nos vos[sos] afazeres. Marga [Nino Vieira]


Fonte
(s.d.), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_39133 (2013-11-3)

Para ampliar o documento clicar aqui:

Casa Comum

Instituição: Fundação Mário Soares

Pasta: 04613.065.047Assunto: Comunica que chegou a Nalús depois de concluída a missão nas outras zonas. Desaparecimento de Honório Vaz. Ataque das tropas portuguesas em Gampará. Queixas do povo contra Malam Sanhá; lista de camaradas que têm cometido crimes contra a população na área de Quinara. Ataque das tropas portuguesas à base.

Remetente: Marga (Nino Vieira)

Destinatário: Aristides Pereira

Data: s.d.

Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos Responsáveis da Zona Sul

Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral

Tipo Documental: Correspondencia

Direitos: A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 31 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12229: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (5): Relatório de 22/12/1966, assinado por Brandão Mané, sobre a situação militar na região Xitole-Bafatá, reportando importantes perdas em homens e material

(**) Sobre o 'Nino' Vieira,  vd. aqui poste de 9 de março de 2009 >  Guiné 63/74 - P4001: Nuvens negras sobre Bissau (19): 'Nino' Vieira (1939-2009): tão bom combatente como mau político (Virgínio Briote)