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segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20312: Notas de leitura (1233): “A Sociedade Civil e o Estado na Guiné-Bissau, Dinâmicas, Desafios e Perspetivas”, coordenação de Miguel Barros; Edições Corubal, 2014 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Janeiro de 2017:

Queridos amigos,
Este documento que contou com a coordenação de um dos mais promissores sociólogos guineenses, Miguel de Barros, ativista da democracia participativa, dá-nos um entendimento da fragilização do Estado, das mudanças ocorridas na sociedade civil após 1991, com o reconhecimento do multipartidarismo, fica-se com um quadro de referência de quem é quem na sociedade civil, quais as vulnerabilidades e até perversidades existentes no universo associativo, procede-se a recomendações e não se ilude que no quadro dos cenários se impõem três vias: um Estado funcional, uma sociedade civil forte e um sistema democrático viabilizado, um Estado frágil, uma sociedade civil dependente de um sistema democrático de fachada ou, mais grave ainda, um Estado disfuncional, uma sociedade civil fraca e um sistema democrático ameaçado.
Sem querermos ser patéticos, tudo se encaminha, insidiosamente, para a terceira hipótese.

Um abraço do
Mário


A sociedade civil guineense: ásperos tempos, esperanças enormes

Beja Santos

Miguel de Barros
A obra intitula-se “A Sociedade Civil e o Estado na Guiné-Bissau, Dinâmicas, Desafios e Perspetivas”, coordenação de Miguel Barros, Edições Corubal, 2014.

O autor é um dinâmico sociólogo, diretor executivo da ONG Tiniguena e autor de trabalhos relacionados com a sociedade civil, em dimensões como a segurança alimentar, a participação das mulheres na política, a juventude e as transformações sociais na Guiné-Bissau. Graças a um programa patrocinado pela União Europeia, cujo objetivo é contribuir para a consolidação da boa governação e o envolvimento dos atores não estatais, procede-se neste trabalho a um diagnóstico para identificar as organizações da sociedade civil, em particular organizações não-governamentais (sindicatos, associações de base, redes e plataformas, grupos temáticos), e procurar entender os desafios que se põem para que estes parceiros desenvolvam parcerias com todas as organizações dedicadas ao desenvolvimento da sociedade civil.

Primeiro, o ambiente de trabalho, a grave crise económica e social permanente, em que o Estado reduziu a sua intervenção em simultâneo com a perda de capacidade económica e do poder de compra das famílias. As convulsões político-militares, os golpes de Estado, a fragilidade governamental, o próprio Estado frágil acarretam crescimento negativo, empobrecimento, quebra nos indicadores de desenvolvimento humano. A sociedade civil iniciou um processo de autonomização com o definhamento do partido-Estado e o multipartidarismo, fenómenos contemporâneos do fim dos monopólios estatais e da omnipresença do Estado na esfera dos negócios.

Segundo, foi nesse contexto que cresceram as iniciativas de mobilização coletiva, brotaram as organizações não-governamentais, fenómeno a que não foi indiferente o aparecimento de fundos oriundos da Ajuda Pública ao Desenvolvimento, constelação social que revela aspetos muito positivos mas também perversos, por estarem independentes das agendas dos financiadores e dos programas.

Terceiro, importa não esquecer que a ideia da sociedade civil no contexto guineense não está forçosamente ligada nem à implantação das estruturas modernas do Estado colonial nem ao próprio colonialismo, investigadores de mérito já identificaram uma sequência cronológica desde o período pré-colonial que atesta a existência de movimentos e associações de cidadãos cujo campo de ação está da esfera do Estado. Um desses investigadores, Carlos Cardoso recorda que a sociedade civil guineense retira a sua força de várias fontes históricas, incluindo a evolução das relações e das alianças interétnicas, das estruturas sociais baseadas em classes de idade, dos sistemas de autoridade das aldeias, das formações socio-religiosas, etc. Mas o atual quadro das organizações da sociedade civil deve ser entendido pelo dado primordial da incapacidade do Estado em satisfazer as necessidades elementares das populações e de não estar presente em todo o território. Miguel de Barros enuncia o quadro jurídico-legal constituinte da sociedade civil guineense, releva os seus dilemas, paradoxos e desafios, mostra as suas debilidades, fenómenos de tendência autocrática, inexistência de recursos apropriados, excessiva burocratização do sistema de financiamento das organizações internacionais, falta de criação de atividades alternativas geradoras de rendimento, uma gama de vulnerabilidades, em suma, a que não escapam os sindicatos, as associações socioprofissionais, as organizações não-governamentais, as redes e plataformas, até as universidades e centros de pesquisa.

Quarto, nesta atmosfera, e de acordo com o diagnóstico efetuado mediante questionário e conversas presenciais com estes diferentes agentes sociais, o relatório propõe dinâmicas, rasga perspetivas. É observado na sequência dos imperativos da guerra civil, emergiu uma nova rede de solidariedade e de ajuda humanitária, estabeleceu-se um amplo movimento congregacional, e dão-se exemplos. Um deles é o Movimento da Sociedade Civil para a Democracia e Paz, albergando no seu seio um elevado número de organizações não-governamentais, sindicatos, igrejas, organizações de jovens e de mulheres; outro é a Célula das ONGs (CECRON) que surgiu no âmbito do apoio e canalização da ajuda humanitária aos deslocados da guerra. O desmantelamento do sistema económico-social pós-conflito levou a repensar o Estado e a sociedade civil. Instalou-se a UNIOGBIS, com o intuito de garantir a segurança às populações. Os partidos políticos tiveram que apresentar propostas com base de superação da fragilidade do Estado. A sociedade civil envolveu-se no campo político, proliferam plataformas, certas ONGs como AD – Ação para o Desenvolvimento ou TINIGUENA adquiriram credibilidade, mas o mesmo se pode dizer das organizações religiosas e de muitas associações comunitárias, caso dos grupos de Mandjuandades e no campo dos direitos humanos a Liga Guineense é o farol da vigilância e da denúncia.

Quinto, há que repensar o Estado e sociedade civil, esta tem vindo a caminhar de forma lenta mas positiva. A sociedade civil implica a limitação da intervenção estatal e a clarificação de áreas de intervenção. Interroga-se a insustentabilidade das ONG, e Miguel Barros defende que é preciso encontrar um novo empreendedorismo político e económico baseado no contrato social. 

“Isto quer dizer que a economia deve estar implantada numa sociedade civil mais ampla e que albergue as interações sociais baseadas em normas como a confiança, fiabilidade, capacidade para o compromisso com todos os atores sociais e um reconhecimento mútuo não violento. Para isso é fundamental a reforma do sistema político”.

Sexto, no tocante a recomendações, estratégias e cenários futuros, o documento aponta para a revisão e atualização do quadro legal que enquadra as organizações da sociedade civil, que se esclareça as formas de normalizar a contribuição do Estado para estas organizações e como estas se devem relacionar com o setor privado. Segundo o relatório, temos três cenários pela frente: o primeiro com um Estado funcional numa sociedade civil forte e um sistema democrático viabilizado, portanto um ambiente promissor para a transformação estrutural do país, das instituições públicas, da economia e da estabilidade política; um segundo caraterizado por um Estado frágil, uma sociedade civil dependente de um sistema democrático de fachada, no qual o país continuará a viver ciclos de instabilidade controlada; e por último, um Estado disfuncional, uma sociedade civil fraca e um sistema democrático ameaçado.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20298: Notas de leitura (1232): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (30) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18147: Feliz Natal 2017 e Melhor Bom Ano Novo 2018 (15): Anabela Pires, que vai voltar à Guiné-Bissau por quatro semanas, em 18 de janeiro...


Um Natal em Harmonia e um Feliz 2018, são os votos da Anabela Pires, ecologista, defensora da permacultura, e que nos manda um "cartanito" com a sua horta que dá de tudo (e que presumo que seja comunitária)...

Foto: © Anabela Pires (2017). Todos os direitos reservados [ Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem da nossa amiga e grã-tabanqueira Anabela Pires, com data de 22 do corrente




[Anabela Pires, nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; vai lá voltar em 2018; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]


Queridos familiares, amig@s, ex-colegas, vizinhos ....

Hoje é dia de começar a preparar o Natal que passarei em Alcobaça com a minha irmã e sua família. Por razões profissionais os meus filhos não poderão estar presentes mas a 28 voarei até à Dinamarca para festejar o 2º aniversário do meu neto e a passagem de ano. 

Projetos para 2018: 

(i) dia 5 de Janeiro venho por aqui para levar os meus pertences para Coimbra e fazer a mala para ir a 18 quatro semanas à Guiné-Bissau; 

(ii) a 15 de Fevereiro regresso e começarei então a fazer o caminho de volta ao Algarve ao fim de 6 anos. 

Esta é a parte que vai ser mais complicada pois já me falta muito a paciência para arrumar e desarrumar, mas tem de ser. Bem, uma nova fase vai começar. Depois de colocar de novo todos os meus pertences no apartamento do Montenegro - o que vai levar tempo .... logo se verá o que vou fazer. 

Desejo-vos um Natal muito harmonioso e se possível muito alegre e que continuem todos em grande forma em 2018.

Reencontramos-nos em 2018? Desejo que sim! Em finais de Fevereiro estarei no Algarve muito embora depois ainda tenha de vir cá acima buscar caixotes e vasos.

Mil beijos e abraços para todos,
Anabela


P.S. Terminei ontem os meus trabalhos aqui na horta, a qual ficou conforme as fotos que mando em anexo [e de que se reproduz uma, acima]. Ainda falta plantar morangueiros Diamante e mais alfaces. As ervilhas de trepar, as favas, as cenouras, os espinafres, os canónigos (ou alfaces cordeiro) ainda não nasceram! Espero que chova! Colhi as últimas pastinacas (Cherovias ou Chírivias).

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quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16754: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (106): meninos do Xime: numa foto de 1970, do José Nascimento, da CART 2520, vejo agachada a minha prima Sene Soncó, que depois viria a casar com um irmão meu que cumpriu serviço militar em Farim... Infelizmente, ambos já faleceram (José Carlos Mussá Biai, engenheiro florestal, Lisboa)


 Foto nº 1 A >  Guiné > Zona leste > Setor L1 >  Ao centro, a menina Sene Soncó



Foto nº 1 > Guiné > Zona leste > Setor L1 > Xime > CART 2520 > c. 1970 > Da esquerda paar a direita, de pé, fur Renato Monteiro, um dos picadores e o fur José Nascimento... Em baixo, "meninos do Xime", entre os quais a menina Sene Soncó, prima e cunhada do nosso amigo José Carlos Mussá Biai, que podia perfeitamente estar nesta foto, já que vivia nessa  altura no Xime...

 [O Zé Carlos é membro, da primeira hora, da nossa Tabanca Grande, vive hoje em Portugal onde se formou em engenharia florestal, trabalhando na Direção-Geral do Território (DGT), Direção de Serviços de Informação Cadastral (DSIC), Divisão de Cadastro Geométrico da Propriedade Rústica (DCG), Rua Artilharia Um, nº 107, 1099 - 052 Lisboa, tel. 21 381 96 00].


Foto (e legenda): © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > 1/10/2006 > Os "minos do Xime", na escola primária, mais de 35 anos depois...


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > 1/10/2006 >  Rua principal


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > 1/10/2006 > Grupo de antigos combatentes que estiveram ao lado das NT durante a guerra colonial...Entre eles, dois irmãos e um primo do José Carlos Mussá Biai, membro da nossa Tabanca Grande.. (*)


Fotos (e legendas): © Domingos Fonseca  / AD - Acção para o Desenvimento, Bissau (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo, natural do Xime. José Carlos Mussá Biai, com data de hoje

Olá,  Luís, viva

Mais uma vez fui surpreendida pela riqueza deste nosso Blog. (**)

Nesta fotografia tirada pelo camarada José Nascimento,  da CART 2520, vejo agachada a minha prima Sene Soncó, que depois casou com um irmão meu que cumpriu serviço militar em Farim. (***)

Ambos, infelizmente já faleceram. Sene há poucos anos e o meu irmão faleceu no dia 27 de julho de 2016, vítima de alergia a um medicamento qualquer que lhe foi receitado no hospital.


Um abraço,

Zé Carlos

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - P441: Estou emocionado (J.C. Mussá Biai)

(...) Estou emocionado!...

 (...) As fotos falam por si. Os locais por onde brinquei, onde dei alguns mergulhos... Melhor, ainda as pessoas que me viram nascer, que cuidaram de mim e com quem partilhei refeições, angústias e alegrias. Estou a referir-me aos meus irmaõs mais velhos (sim, meus irmãos de sangue) e de um primo-irmão dos quais lhe falei.

Os meus irmãos são, Fodé Biai, o primeiro a contar da direita para a esquerda e Bacar Biai, o segundo na mesma ordem e Malam Mané, o quarto, dos que estão de pé.

O Fodé e o Malam cumpriram o serviço militar em Farim e depois Bissau, sendo o Malam depois transferido para Bambadinca. O Bacar sempre esteve em Xime.

(...) O curioso de tudo isso, quem tirou as fotografias é um colega meu, o Domingos Fonseca, trabalhei junto com ele na Escola do Ensino Básico Preparatório Amizade Guiné Bissau - Suécia, em Bissau. Ele leccionava a língua portuguesa e eu matemática, antes de ele ir tirar o curso de engenheiro técnico agrário na Argélia. Estive com ele no ano 2000 em São Domingos onde ele estava como responsável de AD." (...)

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16293: Nota de leitura (857): As ONG na democratização da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Agosto de 2015:

Queridos amigos,
Não era sem tempo de procurar dar uma síntese da atividade das ONG na Guiné-Bissau, é redundante dizer que tem sido da maior importância. Basta recordar o desempenho da AD quando tinha o Pepito ao leme.
Tive o privilégio de assistir em 1991 ao aparecimento da associação dos direitos humanos que rapidamente entrou em conflito com o regime de Nino. É de lamentar que a rede internacional das ONG que ali labora não tenha um trabalho articulado com os projetos dos doadores, tudo tornaria estas inciativas para o desenvolvimento mais eficientes e compreensivas para a vida comunitária.
Entretanto, deu-me na telha andar a ver papéis da década de 1950 na Guiné, passou-me pela cabeça voltar ao romanesco como fiz com "A mulher grande", e ao mexer no relato da viagem de Craveiro Lopes à Guiné, em 1955, encontrei este preâmbulo de Sarmento Rodrigues na concessão do novo foral a Bissau, é um belíssimo texto que quero partilhar convosco.

Um abraço do
Mário


As ONG na democratização da Guiné-Bissau

Beja Santos

Na revista Africana Studia, n.º 18, primeiro semestre de 2012, encontrei um interessante artigo intitulado “A sociedade civil face ao processo de democratização e o desenvolvimento na Guiné-Bissau (1991-2011)”, da autoria de Miguel Barros. Trata-se do período que abarca o anúncio do pluripartidarismo até ao ano anterior ao golpe militar encabeçado por António Indjai.

O autor preambula com noções elementares, recordando que a democracia da sociedade civil pressupõe participação com livre expressão e pluralismo e que o regime democrático tem como mais sério obstáculo o autoritarismo. E depois traça o objetivo para o seu artigo, o de visar identificar e analisar as origens e progressos da sociedade civil guineense desde a instauração do multipartidarismo, passando pelo desafio que foi o conflito político-militar de 1998-1999. No passado, o partido-Estado (o PAIGC) controlava os trabalhadores, a juventude, as mulheres, a comunicação social, tudo em nome da unidade e segurança nacionais. Com a entrada em falência do partido-Estado, foram aparecendo e obtiveram reconhecimento outros atores sociais coletivos. Recorde-se que o desempenho da Igreja Católica face ao esvaziamento do Estado, concretamente nos anos 1980 foi o de reforçar a sua influência nos domínios cruciais da saúde e da educação. O conflito político-militar saldou-se por uma maior projeção da Igreja Católica e o seu bispo de então impôs-se como uma das grandes figuras morais na mediação do conflito. D. Camnaté Na Bsing, primeiro bispo de origem guineense, goza igualmente grande prestígio.

A liberdade sindical tornou-se uma realidade, o SINAPROF – Sindicato Nacional de Professores, e o SNTTC – Sindicato Nacional dos Transportes e Telecomunicações, por exemplo, foram decisivos nas denúncias das condições precárias de trabalho e salários na Guiné-Bissau. Para além da UNTG (que congrega 17 sindicatos filiados) existe hoje a Confederação Geral dos Sindicatos Independentes, onde estão os sindicatos mais ativos (justiça, professores, jornalistas, transportes e telecomunicações).

As ONG trouxeram uma nova abordagem para a promoção do desenvolvimento dos domínios dos serviços de base, ambiente e direitos humanos. A sua principal fragilidade passa pela dependência de apoio externo, quando ele desaparece a ONG também desaparece.

Na comunicação social, o pluralismo manifestou-se com o surgimento do jornal Expresso Bissau, depois com as rádios privadas Pindjiquiti e Bombolom, em 1995. A Guiné-Bissau conta com uma rede nacional de rádios comunitários, estão inscritas cerca de três dezenas de rádios.

O setor onde a dinâmica da vida associativa conheceu uma maior vitalidade foi o da associação de jovens e mulheres durante a década de 1990. Há um caráter instrumental destas organizações devido à filosofia dos projetos dos doadores que privilegiam o trabalho direto com os grupos sociais.

Ganharam uma grande projeção os grupos cuja finalidade é o de preservar e fortalecer o espírito de solidariedade e assistência mútua no seio da comunidade, mandjuandades. O contributo mais significativo da sociedade civil aponta para três direções: serviços de base (saúde e educação); direitos humanos e cidadania; informar, sensibilizar e consciencializar (caso do ambiente). Nos serviços base, reduziu-se o impacto da ausência do Estado nas zonas rurais mediante iniciativas que permitiram a construção de centros hospitalares e escolas geridas pela própria comunidade beneficiária. Houve o momento em que as ONG dos direitos humanos se perfilaram como o principal, defensor dos desfavorecidos e protetor contra a violência do Estado.

O grande teste posto à sociedade civil foi o conflito político-militar, criou-se o Movimento da Sociedade Civil para a Consolidação da Paz e Democracia. O período de transição pós-conflito e pós-golpe envolvendo o presidente Kumba Yalá (2003) confirmou a falta de confiança nos políticos e forças partidárias. Nesta época reafirmou-se a autoridade moral, política e social da sociedade civil, através da indigitação de uma figura independente dos partidos para o cargo de presidente da República de Transição, o empresário Henrique Rosa. São tempos de intensa participação, surgiram mais de duas dezenas de partidos políticos, hoje em grande parte volatizados. Na atualidade, assiste-se a uma estratégia destas ONG assente em compromissos com o Estado nalguns setores: um bom exemplo é a gestão das áreas protegidas, em que AD teve um papel de realce. Como conclusão dir-se-á que a inclusão dos atores não estatais é hoje encarada como um processo incontornável, Estado e sociedade estão condenados ao entendimento. Infelizmente nem toda a estratégia dos doadores contempla diretamente o apoio a estes atores.


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E um admirável texto de Sarmento Rodrigues sobre a cidade de Bissau

Ao folhear o Diário da Viagem Presidencial às Províncias Ultramarinas da Guiné e Cabo Verde, em 1955, Volume I, coordenação de Rodrigues Matias, Agência Geral do Ultramar, 1956, encontrei um texto do comandante Sarmento Rodrigues, quando governador da Guiné, em 1948, no preâmbulo do diploma legislativo em que concedeu à Câmara Municipal de Bissau novo foral:
“O alvará régio de 15 de Março de 1692 é o registo de nascimento de Bissau. Ordenara-se a construção da primeira fortaleza, ligara-se a gente à terra. E tão bem que, de então para cá, Bissau nunca mais deixou de ser a Praça.
No entanto, e apesar de em 1855 ter Comissão Municipal, e em 1859 ser vila, durante esses dois séculos ela não foi outra coisa mais do que uma Praça. Recinto fechado e muralhado, apenas com algumas casas de comerciantes, todas de barro ou taipa, aninhadas à sombra dos baluartes e cobertas por uma paliçada, depois um muro que da Balança corria até Pidjiquiti.
Vontade de crescer, todavia, não lhe faltou. E necessidade também. Em 1894, numa das muitas pazes temporárias e submissões fictícias do gentio irreverente, proclamou-se nova zona de expansão. Um polígono de 350 metros envolvendo as muralhas. Um padre abençoa, extramuros, um local para uma igreja. As habitações, aglomeradas por detrás da parede de tijolo, ameaçavam transbordar. Um povoado queria crescer.
Até que em 1913 o governador Carlos Pereira demoliu o muro asfixiante. Bissau passava agora a não conhecer outros limites além da barreira do mato impenetrável que na sua frente se levantava. E não teve mais descanso. Abrem-se ruas através dos matagais. Em 1914 é cidade e tem o primeiro plano de urbanização. Aumentam dia-a-dia os edifícios. Velez Caroço dá-lhe, em 1923, o seu primeiro foral. A cidade precisava de ser orientada na sua vida e o no seu avanço, que se não detinha. Era a primeira urbe da província.
Em 1941 fazem-na capital da Guiné. Já então possui bairros novos, muito para além das vistas da velha fortaleza abandonada. A área do plano de urbanização de 1914 e do foral de 1923 torna-se cada vez mais escassa.
Por isso em 1945 se procedeu aio estudo do seu alargamento, começando pelos levantamentos topográficos que haviam de conduzir à concessão de nova área e a um novo plano de urbanização e expansão. Desta vez é que se chegava à colina de Bandim.
Chegamos assim à situação presente. A cidade de S. José de Bissau tem hoje um apreciável conjunto de artérias e edificações. Todas elas não bastam, porém, para os seus numerosos habitantes que aumentam dia-a-dia. Possui hotéis, hospitais, estádio, praças, monumentos, uma catedral, água canalizada, luz e todas as modernas conveniências. Secaram-se os pântanos que a envolviam e empestavam. Era indispensável alargar-lhe a área e atualizar-lhe a vida. O seu desenvolvimento não poderia continuar sujeito aos velhos processos que foram excelentes para o seu tempo. O novo foral da Câmara de Bissau tinha de ser promulgado”.

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16285: Notas de leitura (856): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos: o caso do cirurgião Domingo Diaz Delgado, 1966-68, segundo o livro de H. L. Blanch (2005) - Parte III: onde se faz referência à possível operação das NT, no corredor de Sambuiá, onde terá morrido o cap inf QP José Jerónimo da Slva Cravidão, da CCAÇ 1585, em 4/6/1967 (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494, Xime-Mansambo, 1972/1974)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15722: Notas de leitura (806): Textos de Carlos Schwarz (Pepito), na Revista Sumara, publicação da responsabilidade da Fundação João Lopes, Cabo Verde (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,
O essencial sobre o ativismo e a generosa militância do Pepito já foi plasmado em depoimentos aquando do seu desaparecimento.
Pepito tinha uma conceção muito particular sobre o funcionamento e a comunicação dos museus africanos, pretendia que os diferentes projetos museológicos se inserissem numa vasta envolvente ambiental, foi assim que sonhou a edificação dos projetos museológicos para Guileje junto ao Cantanhez, e o de Cacheu inserido num parque natural, ligando a comunicação da memória como uma cidadania ativa em prol da conservação da natureza.
É esta a essência dos trabalhos à volta de Pepito publicados no n.º 1 da revista Sumara, recentemente aparecida.

Um abraço do
Mário


Pepito a falar dos museus da Guiné

Beja Santos

Saiu recentemente o n.º 1 da revista Sumara, publicação da responsabilidade da Fundação João Lopes, Cabo Verde. Explica-se que a escolha do título Sumara adveio de um termo da língua cabo-verdiana, oriundo da filosofia popular, com o significado aproximado de meditar, refletir, examinar e avaliar. Sumara terá uma periodicidade anual. Carlos Schwarz, conhecido por Pepito aparece em dois textos da revista. O professor Henrique Coutinho Gouveia, também nosso camarada da Guiné, é responsável pela nota biográfica daquele que foi a cabeça, o coração e o estômago da “Ação para o Desenvolvimento”. O professor Gouveia tece considerações sobre a conceção museológica delineada por Carlos Schwarz, que aproximava o espaço de exibição de um dado património histórico de outro que compreende parques nacionais e naturais. Pepito trabalhou entusiasticamente nas matas do Cantanhez e deu alma ao projeto museológico de Guileje, vizinho de um centro de ambiente e cultura. Pepito falava em dois museus, um sobre a guerra da independência, intitulado “Memória de Guileje”, e outro centrado no ambiente e cultura, que passaria a ser designado pouco depois por “Centro de Interpretação Ambiental e Cultural”. Mas Pepito também animou o Memorial da Escravatura, um projeto que abarcaria toda a parte histórica de Cacheu e as tabancas vizinhas.

O artigo “Museus na Guiné, uma componente do desenvolvimento”, pode ser assumido como uma das últimas e mais significativas reflexões de quem tornou a ONG Ação para o Desenvolvimento uma das mais prestigiadas da Guiné-Bissau. No seu texto, ele conecta Guileje e o ambiente e o Caminho de Escravos, localizado em Cacheu ligado ao Parque Nacional dos Tarrafos de Cacheu. E escreve: “A breve história da Guiné-Bissau, enquanto país independente, mostra a força e a energia coletiva que se desenvolve a partir daquilo que nos uniu no passado, e que sendo referências das 32 etnias que constituem o povo guineense de mais de 1,5 milhões de habitantes, são também a sua força de coesão social. A luta pela independência, o processo da escravatura e do tráfico negreiro que marcaram profundamente o povo guineense, são factos históricos em que todas as gerações se reveem e que representam um cimento aglutinador”.


Lisboa > Campus da Escola Nacional de Saúde Pública da NOVA > 6 de setembro de 2007 > Engº Agrº Carlos Schwarz da Silva (Bissau, 1949-Lisboa, 2014). Pepito, para sempre!

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

Espraia-se sobre o Cantanhez, as suas matas e a Memória de Guileje, e falando de o Caminho de Escravos refere que o memorial tinha a sua conclusão prevista para Novembro de 2015, seria nessa ocasião que teria lugar em Cacheu o Simpósio Internacional sobre a escravatura em Cacheu. E adianta: “Muito mais do que um simples museu, o Memorial pretende englobar toda a parte histórica de Cacheu, como o cemitério dos ingleses, a rua grande, o M’pernal, a Igreja de Nossa Senhora da Natividade, o porto de escravos, a fortaleza, bem como as tabancas vizinhas de Mata, Bolol e Cobiana”. Haverá uma particularidade no processo interativo do Memorial: “Será sempre o Memorial a ir ter com a comunidade e nunca a isolar-se dentro das suas paredes, devendo ser avaliado em função das dinâmicas que conseguir incutir nas comunidades locais, nas associações, nos governo local e central, nos historiadores nacionais e estrangeiros, nas instituições congéneres e nos financiadores”. Também foi pensado no elenco de atores: os grupos de mandjuandades, os homens grandes e régulos, os investigadores e historiadores, os centros negreiros da sub-região (como Gorée, Ribeira Grande, Boké e St. Jules. Ao sumariar estas iniciativas, Pepito não deixa de exaltar o sentido prático da função do museu, e volta a destacar que “Os Museus são locais vivos de transmissão de conhecimento, mas especialmente centros de produção de conhecimento, onde os jovens entram descontraidamente, até porque participaram em todas as fases da sua criação, estes museus mostrarão na prática a grande importância da componente cultural como fator mobilizador de vontades”.

Este artigo foi redigido em Bissau em Janeiro de 2014. Perdemos um ativista, um espírito superior, um humanista que tinha o associativismo na massa do sangue, e que amava profundamente a sua terra. A sua falta é irreparável.
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15708: Notas de leitura (805): “Trabalhos e Dias de Um Soldado do Império”, por Carlos de Azeredo, Livraria Civilização, 2004 (2) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15532: Ser solidário (189): Notícias de Cumura: estamos muito gratos a todos os que têm apoiado este projecto, sabendo que não há verdadeiramente um projecto 'de alguém', somos todos a remar na mesma canoa da amizade entre os povos (João Martel e Ana Maria Gala)




Vídeo (1'34'') > You Tube > João Martel

Publicado a 30/07/2015. Vídeo de apoio ao projecto "Um pé na Guiné", de voluntariado na Guiné-Bissau. Música de José Braima Galissá, título desconhecido, retirada de vídeo do canal de Carlos Narciso.


1. Mensagem dos nossos grã-tabanqueiros, João Martel, médico, e Ana Maria Gala, professora, a partir da Guiné-Bissau, onde estão a  fazer voluntariado social, na Missão da Cumura:


Data: 23 de dezembro de 2015 às 18:54
Assunto: Notícias de Cumura!


Caros Camaradas da Guiné! Saudações da terra de Amílcar!

Já com alguns meses de presença na terra quente, fazemos então um pequeno relatório para a base de como tem sido a nossa presença aqui.

É difícil expressar em poucas palavras o impacto que causa em dois "novatos" a chegada a uma terra nova e tão diferente como a Guiné-Bissau. Mas por estarmos a falar para gente que  a conhece bem, sabemos que podem subentender por detrás do texto o nosso espanto. (*)

Foi já há 3 meses, na madrugada de 12 de Setembro, que pusemos os pés no Osvaldo Vieira, sentindo o impacto da humidade quente assim que se passa a porta do avião. Tralhas e bagagens (chegou tudo inteiro!) e a recepção calorosa dos frades aqui de Cumura, que nos foram buscar. Uma viagem nocturna, cerca das 4 da manhã, por uma Bissau desconhecida e depois pela estrada de Prábis, com o seu q.b. de buracos e quebra-molas, e a boca aberta de espanto. Apesar da hora avançada, ainda várias fogueiras acesas nas palhotas ao longo do caminho, uma ou outra discoteca com música "a bombar" e os nossos olhos esbugalhados, entrando num mundo diferente.

Os primeiros dois dias foram passados a conhecer a Missão. Quem conhece Cumura,  sabe com certeza que já tem infraestruturas significativas, erigidas ao longo dos 60 anos de presença dos frades aqui. Foi sem dúvida decisivo termos embarcado nesta aventura ao lado da drª Alice Ferreira, uma veterana desta guerra já, que colabora com Cumura desde 2001. Entrar aqui "pela sua mão" foi uma vantagem enorme e permitiu-nos muito mais rapidamente sentirmo-nos em casa. A ela, a nossa homenagem (que sabemos que se junta à de Cumura e de outras terras da Guiné, num justo agradecimento pelo incansável trabalho e entrega).

Eu, João, fiquei ligado à Pediatria aqui de Cumura, a trabalhar ao lado da drª Alice, para uma mais rápida adaptação ao terreno. A Ana Maria, professora do 1º e 2º ciclo, ficou a co-coordenar esses mesmos ciclos aqui na escola de Cumura, o que significa supervisionar cerca de 30 professores(as) e cerca de 450 alunos(as)!... Tudo isto implicou uma entrada gradual, claro, e foi decisivo, sob todos os aspectos, o apoio dos frades e irmãs, que são para nós, neste momento, como família.

Em 3 meses já dezenas de peripécias e surpresas tiveram lugar e tempo para acontecer e, agora que nos sentimos já bastante "guineenses", podemos olhar para trás e sentir grande gratidão – para com Deus e com todos os que possibilitaram a nossa presença aqui, entre os quais estão, inegavelmente, os Camaradas da Guiné – em cujo poilão, orgulhosamente, habitamos.

Já tivemos a oportunidade de visitar Cacheu (numa visita de estudo com a escola – momento historicamente muito simbólico!), Nhoma, Nhacra e Buba, numa viagem que fizemos para o Sul, onde ficámos a conhecer a congregação portuguesa das irmãs Hospitaleiras, que lá residem. Outros sítios aqui mais perto também: Prábis, Bôr, Quelele, e claro, Bissau, a velha e hoje tristonha Bissau – podemos calcular um pouco a diferença que sentirá quem lá esteve há 40 anos e olha para ela hoje – pelas fotos, pelos relatos e pelo descuido que se vê hoje nas ruas da cidade, assim como pela espessa cortina de fumo, da decrépita frota automóvel, toda ela mais antiga que nós e em muito pior estado de saúde.

Além dos lugares, muito para além, as gentes, o povo guineense, bom e gentil mas que precisa de tempo para nos deixar entrar no coração (quem não precisa?). Na ligação a toda a comunidade aqui de Cumura, nas várias actividades da paróquia e dos sítios onde trabalhamos, sentimos já que uma larga família aqui nos estima e acolhe e sabemos já de antemão, quando ainda faltam 6 meses para partir (se as coisas correrem bem), que vai ser difícil deixar esta terra, que caiu verdadeiramente "no goto".




Blogue "Um pé na Guiné", de João Martel e Ana Maria, dois jovens cooperantes portugueses que estão a trabalhar no Hospital da Cumura.  Têm igualmente página no Facebook. Só não sabemos onde é que os nossos amigos foram buscar esta imagem, que não é da Guiné, pode ser do Quénia ou outro país da África Oriental, de grandes savanas e acácias, rodeadas de montanhas...   A Guiné é completamente plana, com exceção da região do Boé que tem umas colinas que chegam aos 100/200/300 metros... (Dizem, que eu nunca cheguei a lá ir...) (LG)



Há muito mais para contar mas, à falta de mais tempo para já, lembramos mais uma vez o endereço do nosso blogue (www.umpenaguine.com), onde vamos tentando reunir algumas reflexões e partilhas, ao sabor do tempo disponível e da capacidade de processar as novidades.

Aproveitamos para fazer alguns apelos:

(i) A Ana Maria tem pensado, para este 2º período de aulas na escola, que seria interessante para os alunos do 2º ciclo (10-12 anos – alguns com 15, 16 anos), ouvirem o relato na 1ª pessoa do que foi a luta de libertação na Guiné-Bissau.

Será que os Camaradas nos conseguiam indicar alguém, português ou guineense, de ambos os lados "da trincheira", que esteja cá pela zona de Bissau/Cumura ou arredores e quisesse dar o seu testemunho? Seria uma verdadeira aula viva, ou um simples momento de conversa amena, num formato a combinar. 

Uma das coisas de que enferma o modelo de ensino aqui é o ser extremamente teórico, sem se apelar ao conhecimento prático e a novas formas, mais estimulantes, de passar os conteúdos do programa. As visitas de estudo, que não tinham sido feitas antes, já deram muito bons frutos e tiveram boa recepção. Qualquer contributo que nos dessem teria grande significado para estes alunos!

(ii) Outra questão: conhecemos também pelo blogue dos Camaradas a associação "AD Bissau", que se percebe ser um dos grandes actores do esforço para o desenvolvimento aqui na Guiné. 

Apesar de estarmos relativamente perto, ainda não tivemos a oportunidade de conhecer melhor o seu trabalho. Sabemos que após a morte do Pepito as coisas também se estão ainda a reorganizar… Será que nos podiam dar o contacto de alguém que nos mostrasse um pouco o trabalho da associação?

(iii) O centro cultural "José Carlos Schwarz" em Bôr está a funcionar?

Já agora, para informar todos os nossos benfeitores, o 1º contentor com muitas das vossas ajudas generosas (em género e as que foram compradas com os vossos contributos) já está em Bissau, e o Raúl, director da cooperativa escolar de São José em Bôr, está a pôr todos os contactos a mexer para o conseguir desalfandegar. O 2º contentor já zarpou de Lisboa, ainda está a navegar por estes dias…

Estamos muito gratos a todos os que têm apoiado este projecto, sabendo que não há verdadeiramente um projecto "de alguém", somos todos a remar na mesma canoa da amizade entre os povos.

Um abraço aqui de Cumura para todos, com os votos de um Feliz Natal e umas excelentes entradas em 2016!

Aguardamos notícias vossas ;)

Ana Maria e João (**)

2. Comentário do editor LG:

Queridos amigos e grã-tabanqueiros  João e Ana!... Que bom saber de vocês!.. Obrigado pelo vosso "relatório"... Tínhamos a certeza que se iriam adaptar bem!... E parabéns pelo vosso pequeno vídeo, feito com tanto engenho, arte e amor.   Bem como pelo blogue que passa a fazer parte da nossa blogosfera.

Vão passar, pela primeira vez, presuno, o natal nos trópicos, em África, nessa terra quente e calorosa que é a Guiné-Bissau, mas onde falta tudo ou quase tudo, em termos de satisfação das necessidades humanas básicas. Os problemas são tantos, da saúde à educação, do emprego à segurança, que é uma dor de alma...  Mas eu sei que vocês têm, sobre as coisas e as pessoas, um outro olhar, humano e cristão, de fé, esperança e caridade, enquadrando-se no espírito missionário da Cumura. É bom que tenham uma visão integrada da Guiné-Bissau, ligando o passado, o presente e o futuro. É bom que sinta que os guineenses têm futuro, quando daqui a seis meses regressarem a cas.

Sobre os vossos apelos, e embora o dia não seja o mais apropriado, já que estamos em vésperas de Natal, na azáfama dos"últimos preparativos" para a noite da Consoada, vamos dar-vos, para já,  o contacto de alguns grã-tabanqueiros que vivem aí em Bissau, com destaque para o  Cherno Baldé (para vos falar dos antes e depois da independência) e o Patrício Ribeiro, também conhecido com o "pai dos tugas" (para vos pôr em contacto com AD - Acção para o Desenvolvimento). São dois seres humanos de grande estatura, que muito nos honram com a sua presença (ativa) na Tabanca Grande. Espero que eles vos possam ajudar.

Um grande xicoração para vocês, João e Ana. Oxalá / inshallah / enxalé o ano de 2016 vos traga ainda mais alegrias com as cores, os sons e os sabores da Guiné-Bissau, mas também de Portugal e do resto do mundo.

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Notas do editor:

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15026: Notas de leitura (749): "Kassumai", por David Campos, publicado pela Associação Chili com Carne, Dezembro de 2012 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Setembro de 2014:

Queridos amigos,
Um jovem sai do Montijo e aterra em chão felupe como cooperante em colaboração com a AD de Pepito.
A sua vida revoluciona-se na descoberta de coisas simples, na ascensão de grandes vínculos afetivos. Viverá seis meses na região de S. Domingos e cantará em Kassumai a nova grande família que se forjou.
Acho que a cooperação portuguesa devia distribuir um exemplar de Kassumai a todo e qualquer cooperante que partisse para África, tão intensa é esta generosidade, tão autêntica foi esta dádiva, tão festiva é toda esta experiência realçada por um desenho ingénuo, franco e leal, como leal é a amizade que ele estabeleceu com aquele chão felupe, sabe-se lá se para todo o sempre.

Um abraço do
Mário


Kassumai (em Felupe: liberdade, paz e felicidade)

Beja Santos

Chama-se David Campos, visitou a Guiné-Bissau entre Novembro de 2006 e Maio de 2007, no âmbito de um projeto de apoio à população de S. Domingos, numa parceria entre a AD – Acção para o Desenvolvimento e a Câmara Municipal do Montijo. Durante a sua estadia apaixonou-se pelas pessoas que conheceu e escreveu um diário fragmentado de vivências e contactos humanos, possui um desenho sugestivo e terno, temos aqui um potencial grande criador de BD. David Campos nasceu em Medons la Florett (França) mas veio para Portugal aos 4 anos, cresceu no Montijo. Tirou o curso de Formação Profissional de Desenho Animado e também o de Escrita para Multimédia e Audiovisuais. "Kassumai" foi publicado na coleção Lowcccost, publicado pela Associação Chili com Carne (chilicomcarne.com), imprenso em Dezembro de 2012.

Kassumai é um hino à amizade, à solidariedade que se entretece na cooperação. As dificuldades superam-se, os sorrisos valem tudo, as famílias felupes abrem as portas, há muitas privações mas sempre se encontram ovos e latas de salsichas. Existe a rádio Kassumai que até tem o espaço para música romântica. Do chão felupe a Bissau há que atravessar rios e rias, é uma odisseia a jangada de S. Vicente, que já prestava serviço no tempo da guerra, agora chama-se Saco Vaz, em memória de um combatente do PAIGC morto na luta em 20 de Abril de 1974, a jangada faz a travessia do rio Cacheu, é uma viagem que pode demorar entre dez minutos a uma hora, tudo depende das correntes do rio. As amizades vão crescendo, a curiosidade pela etnologia e etnografia não tem limites, os cooperantes interessam-se pelas escarificações, interessam-se pelos ritmos africanos, provam vinho de caju. A missão destes cooperantes é pôr a ludoteca a funcionar. David Campos não esconde a sua alegria quando aquele espaço passou a ter as paredes pintadas, quando um escuro depósito de crianças se tornou num lugar divertido e encantado. Criou-se uma sala de informática no contexto de um centro de formação rural, os cooperantes viajam, trocam experiências, em Cacheu, atónitos, percorrem a fortaleza onde se agigantam fantasmas de pedra, nossos antepassados ilustres que eram estátuas, sobretudo em Bissau, e que o PAIGC, nos primeiros tempos da independência, removeu à pressa, atirou-as para a velha fortaleza de Cacheu, com ingenuidade de que o passado não conta. Os cooperantes estão também impressionados com o isolamento e abatimento de Cacheu.

David Campos descreve a vida da ONG, vê-se que todo o seu desenho transmite o que lhe vai no coração. Diz coisas como estas: “Dou apoio às aulas de costura e tinturaria africana, no bungalow do centro de formação rural. A turma tem a volta de 30 alunos, todas mulheres entre os 16 e 50 e tais, todas do setor S. Domingos, neste espaço também damos aulas de produção de sabão e de português”. E tece o seguinte comentário: “O trabalho duro na Guiné é esmagadoramente representado por mulheres e crianças, são elas que iluminam os quiosques, as praças, os mercados e as bermas da estrada, no fundo são elas que fazem funcionar este país”. Nunca reprime a alegria da descoberta: “Primeira vez que vi um nascer do sol na Guiné foi no caminho para Varela, numa carrinha de caixa aberta. A distância entre S. Domingos e Varela é de 50 km. Estes 50 km podem variar entre duas a quatro horas. A estrada de areia que nos leva até lá é muito acidentada. Passa-se o tempo aos saltos. Cerca de seis meses antes da nossa chegada, esta estrada foi cortada pelos separatistas do Casamansa. Puseram minas e uma candonga rebentou com 30 passageiros a bordo, 14 morreram. Era impossível fazer este trajeto sem fazer um minuto de silêncio. Varela é hoje uma das tabancas mais pobres do país, em Setembro de 2006 entrou oficialmente no tráfico de emigrantes”.

As amizades aprofundam-se, os jovens de idade do David não escondem a sua repulsa pelos dirigentes e ele escreve: “Todos culpavam Nino Vieira pela pobreza do país, chamavam-lhe ditador e tirano, falavam dos carrões, jipes, das casas e dos luxos de Nino, e no estado do país. Luzes se acendiam nos olhos destes jovens quando recordavam Amílcar Cabral e todos eles diziam que se não tivesse sido assassinado se viveria muito melhor”.

É difícil não nos rendermos às alegrias de David Campos, ao retrato que faz à criançada felupe, às amizades constituídas e às saudades que restam. Kassumai é a apologia do simples, da fidelidade nas relações humanas, um credo no desenvolvimento entre pessoas estruturalmente boas. E deixamos alguns desenhos de David Campos para que os nossos confrades avaliem a intensidade da experiência vivida por alguém que não esquece o malogrado Pepito:



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Nota do editor

Último poste da série de 17 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15013: Notas de leitura (748): “Do Colonialismo como Nosso Impensado", Organização e Prefácio de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi, Gradiva Publicações, 2014 (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14271: In Memoriam (219): Faz hoje um ano que o Pepito nos deixou, demasiado cedo, sem tempo para se despedir dos muitos amigos que tinha (e continua a ter) pelo mundo... Vamos recordá-lo numa documentário que a RTP2 passou em 2011 ("Eu Sou África - Carlos Schwarz da Silva, Episódio 10")... E vamos fazer força para que o seu nome passe a ser recordado numa rua de Bissau



Lisboa > Campus da Escola Nacional de Saúde Pública da NOVA > 6 de setembro de 2007 > Engº Agrº Carlos Schwarz da Silva (Bissau, 1949-Lisboa, 2014).

Pepito, para sempre! (*)...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados.


Portugal > Alcobaça > São Martinho do Porto > Estrada do Facho > Casa do Cruzeiro  > c. 1957 > O pai, Artur Augusto Silva (1912-1983), com os filhos,  da esquerda para a direita, João, Iko e Carlos (1949-2014).  Cortesia de João Schwarz da Silva, que nos diz que a data deve ser "provavelmente 1957"... Teria então o Pepito (, nascido em Bissau, em 1949) os seus oito anos...

Foto (e legenda): © João Schwarz da Silva  (2015). Todos os direitos reservados.




São Martinho do Porto > Estrada do Facho > 7 de Agosto de 2008 > Casa do Cruzeiro, a casa de verão de Carla Schwarz da Silva, mãe do nosso saudoso amigo Carlos Schwarz (Pepito) (1949-2014)...
 Uma vista fabulosa da baía de São Martinho do Porto, a partir da janela do quarto que era, na altura, do Pepito e da Isabel Levy Ribeiro.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.


São Martinho do Porto > Estrada do Facho > Casa do Cruzeiro > 7 de Agosto de 2008 > Casa de verão de Carla Schwarz da Silva, mãe do nosso saudoso amigo Carlos Schwarz da Silva (Pepito) (Bissau, 1 de4 dezembro de 1949 - lisboa, 18 de fevereiro de 2014). Na foto, mãe e filho.

O Pepito vinha todos os anos,com a família, passar férias nesta casa de praia, em agosto. Adorava estar horas, em amena cavaqueira coma família e os amigos, á sombra dos pinheiros da casa. A casa era já secular, tendo  pertencido a um conhecido ator do teatro de revista, de Lisboa. O avô do Pepito, Samuel Schwarz, comprou-a e ofereceu à fillha, em meados dos anos 30, se não erro.  Artur Augusto Silva foi advogado em Alcobaça e em Porto de Mós no pós-guerra. O casal viveu em Alcobaça entre 1945 e 1949, antes de partirem para a Guiné (ele, em finais de 1948 e o resto da família em 1949). Foram amigos pessoais e visitas de casa do pintor Luciano Santos (Setúbal, 1911-Lisboa, 2006).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.



Lisboa > 1950  > Em primeiro plano, o Carlos, ainda bebé, mais os irmãos Henrique (Iko) e João.

Foto: © António Lopes (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.Todos os direitos reservados.


1. Morreu faz um ano, hoje... De repente, demasiado cedo,  sem se poder despedir da  vida e dos muitos amigos que tinha pelo mundo...  Tinham vindo a Lisboa para celebrar os 99 anos da mãe (a 14 de fevereiro de 2014) e fazer exames médicos... Morreu 4 dias depois...

Sentimos todos a sua falta... Vamos recordá-lo numa documentário que a RTP2 passou em 2011...

Carlos Schwarz da Silva | 09 Abr, 2011 | Episódio 10

http://www.rtp.pt/play/p663/e43062/eu-sou-africa



Ficha Técnica:

Género: Documentário
Produção: Vitrimedia;
Realização: Maria João Guardão


Sinopse:

Carlos Schwarz da Silva, guineense nascido em [Bissau], em 1949, só exerceu o nome enquanto se fazia engenheiro agrónomo em Lisboa, ao mesmo tempo que se diplomava na luta estudantil contra a ditadura. 

Na Guiné Bissau, todos o conhecem como Pepito, lutador incansável contra as más práticas de Estado, mas sobretudo contra a fome, pela cidadania e pelo desenvolvimento. Fundador do pioneiro DEPA (Departamento de Experimentação e Pesquisa Agrícola) e da ONG Ação para o Desenvolvimento (AD), deputado, neto de polacos que sobreviveram ao Gueto de Varsóvia, filho de um jurista nacionalista preso pela PIDE, pai de 3 filhos, avô de 2 netos, Pepito é, nas palavras dos anciãos balantas, um “homem grande”. 

"Eu Sou África” é uma série documental de 10 episódios, dois por cada um dos PALOP: Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Cada um dos filmes desta série retrata a vida e a obra de uma africana ou africano implicado na história e no desenvolvimento social, político e cultural do país onde nasceu. “Eu Sou África” revela dez heróis desconhecidos do grande público e desfaz os lugares comuns depreciativos da realidade dos PALOP. Na diversidade das suas experiências e reflexões, o que estes dez africanos dão a ver é a emergência de uma nova África de língua portuguesa – um lugar em que a esperança tem toda a razão de ser.

(Fonte: RTP, com a devida vénia)

2. Comentário de L.G. (**):

O Pepito (1949-2014) foi, em 2011,  uma das vinte personalidades escolhidas pela realizadora do programa "Eu Sou África", Maria João Guardão, para ilustrar a ideia de que a África, a África dorida e sofrida de ontem e de hoje, é um continente de esperança e de futuro.

O programa, em dez episódios, passou na RTP2, e na RTP África. Em  9/4/2011, a realizadora do programa, Maria João Guardão, mandou-nos uma sinopse do vídeo do episódio nº 10, com uma simpática  mensagem  dirigia ao nosso blogue no dia em que o filme passou na RTP2:

 (.,..) Sou realizadora de uma série documental - Eu Sou África - , cujo último episódio se mostra hoje [, sábado,] na RTP2, 19h. Sucede que este último episódio se fez com e à volta de Carlos Schwarz da Silva, Pepito, e dos seus. E sucede ainda que a primeira vez que li a historia da vida dele foi no auto-retrato publicado na sua Tabanca [, vd. A sombra do pau torto, por Carlos Schwarz] (...)

Um ano depois da sua morte sabemos que há gente que o amava e admirava que está a fazer esforços para perpetuar o seu nome numa rua de Bissau. Foi a boa notícia que há dias nos deu a Catarina Schwarz:

(...) A minha avó em tempos e em tom de desabafo, disse que gostaria de ver o nome do meu pai numa rua de Bissau. Nós começamos a tratar desse assunto junto à Câmara Municipal de Bissau e ao que parece a Associação de Moradores de Quelelé [, bairro onde a AD tem a sua sede e fica a casa de família] teve a mesma ideia e intenção. Vamos muito provavelmente unir esforços para que isso aconteça. (...)

Vamos também juntar os nossos pauzinhos e dar força a esta iniciativa. A Guiné e a África precisam de exemplos de vida como a deste  homem com quem tivemos o  privilégio de conviver e que contava, na nossa Tabanca Grande, com bastantes amigos, gente que o estimava e admirava(**)

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Notas do editor

(*) Vd. poste de 18 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12738: In Memoriam (178): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori! (Luís Graça)

(**) Último poste da série > 15 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14262: In memoriam (218): morreu um "homem grande", o nosso camarada Amadú Bailo Jaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), que fez parte do Batalhão de Comandos Africanos e da CCAÇ 21, um combatente valoroso e um homem de valores (Virgínio Briote)

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13828: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (36): Vídeo de homenagem ao Pepito (1949-2014)


Vídeo (2' 29''). Alojado no You Tube > ADBissau. Publicado  em  2/4/2014. Produção da TV Klele. No curto vídeo da TV Klele (que ele tanto acarinhava e apoiava) passam algumas imagens recentes da sua vida e das iniciativas que liderou no âmbito da AD de que foi cofundador e diretor executivo: Simpósio Internacional de Guiledje,  Assembleia Geral da ONG,. Festival da Escravatura (Quilambola), 2º Acampamento das EVA [Escolas de Verificação Ambiental].


1. Homenagem da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento ao seu mítico cofundador e líder, o carismático eng agr Carlos Augusto Schwarz da Silva (1/12/1949-18/2/2014). mais conhecido por Pepito, e nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, além de amigo pessoal.

Passaram-se oito meses depois da sua morte, em Lisboa, por doença súbita, e  a saudade continua a ser imensa. Ele morreu, fisicamente, mas a força do seu exemplo e a sua pedagogia do desenvolvimento sustentado, integrado e participado continuarão a inspirar os seus amigos e antigos colaboradores. Não era apenas um homem de ação, mas também de ideias, memórias e afetos. Daqueles  fazem falta ao mundo. E, seguramente, à Guiné-Bissau. sua terra,  que ele amava apaixonadamente, apesar de todos sobressaltos, contrariedades, ameaças, riscos e desencantos. (LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de março de 2014 >  Guiné 63/74 - P12904: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (35): Grande e sentida homenagem ao Pepito (1949-2014), no bairro do Quelelé, em Bissau, onde fica a sede da ONDG e a casa de família

Guiné 63/74 - P13827: Ser solidário (171): SOS, Ébola!... Vídeo de informação e sensibilização, em crioulo, acabado de lançar, em Bissau, pelos nossos amigos da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento



Vídeo (3' 33''): Campanha de Comunicação e Prevenção da Doença por Vírus Ébola. Publicado a 17/10/2014. Alojado enm You Tube >  ADBissau. Produção da TV Klele. (Em crioulo. Contem imagens que podem ferir a suscetibilidade de alguns leitores).

1. Os nossos amigos da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento lançaram  uma Campanha de Comunicação e Prevenção da Doença por Vírus Ébola  no dia 22 de setembro em Bissau. Esta campanha durará um ano até agosto de 2015. Este recente vídeo, da sua autoria, faz parte dessa campanha, devendo passar, além da Internet, nas televisões comunitárias, como a TV Quelelé
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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de outubro de 2014 > Guiné 53/74 - P13785: Ser solidário (170): SOS, Ébola!... Cooperação Portugal- Guiné-Bissau... Hospital Militar de Bissau vai ter equipas de saúde portuguesas na prevenção e combate a eventuais casos de doença por vírus ébola

sábado, 27 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13655: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (36): Campanha de prevenção da Doença por Vírus Ébola





Campanha de Comunicação e Prevenção da Ébola



Ebola

Imagem e texto reproduzidos, com a devida vénia, do sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento, a ONGD de que o nosso saudoso amigo Pepito (1949-2014) foi cofundador, líder e diretor executivo (*)..

[Mais informações sobre a Doença por Vírus Ébola, disponíveis no sitio da Direção-Geral de Saúde, Ministério da Saúde, Portugal.]


O objetivo da campanha é suscitar, por parte da população das áreas em que a nossa ONG intervém, um comportamento adequado de prevenção da provável epidemia da ébola no nosso país. O objetivo vai por isso para além da simples comunicação entendida como a difusão de informações. A campanha terá quatro componentes intimamente integradas:
1. Comunicação social, através das 32 rádios e 4 TV membros da Rede Nacional das Rádios e Televisões Comunitárias da Guiné-Bissau (RENARC) coordenada pela AD; o boletim informativo “Pepito” do Bairro de Quelélé; site Web e facebook da AD, peças de teatro pela Cooperativa Cultural “Os Fidalgos” e música coordenada pelo Estúdio Bissom com sede em Quelélé

2. Comunicação de grupo, em direção às estruturas beneficiárias e parceiras da AD em áreas rurais e urbanas em Bissau e nas Regiões de Cacheu e Cubucaré: 25 Escolas de Verificação Ambiental; 5 Centros de Saúde e 15 Unidades de Saúde de Base; 2 Escolas de Formação Profissional; 3 jardins-escola e 127 associações e agrupamentos. Através destas estruturas, a AD possui uma capacidade de mobilização das comunidades que entende pôe à disposição da prevenção da ébola

3. Comunicação interpessoal, através da qual as pessoas conscientizadas e tendo adotado um comportamento adequado através das duas primeiras componentes, partilham os conhecimentos e atitudes adquiridos aos seus familiares, amigos, colegas, vizinhos e outros membros das suas respetivas Deste modo criam-se efeitos multiplicadores significativos ao longo da cadeia de impacto que se vai construir

4. Limpeza e desinfeção da água nos locais de trabalho e de encontro dos membros das estruturas acima referidas assim como das suas áreas geográficas respetivas.

Fonte: Sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau, 27 de setembro de 2014
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Notas do editor
(*) Último poste da série > 5 de agosto de  2014 > Guiné 63/74 - P13465: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (35): Pepito (1949-2014): rei morto, rei (de)posto ?...
(**) Portugal, Ministério da Saúde, Direcção Geral de Saúde > Doença por vírus Ébola(...) Um surto de Doença por Vírus Ébola decorre na Costa Ocidental de África desde fevereiro de 2014.
A  infeção resulta do contacto direto com líquidos orgânicos de doentes (tais como sangue, urina, fezes, sémen). A transmissão da doença por via sexual pode ocorrer até 3 meses depois da recuperação clínica.

Uma vez que o período de incubação pode durar até 3 semanas é provável que novos casos venham ainda a ser identificados.

O risco para os países europeus é considerado baixo. No entanto, impõem-se medidas de prevenção que se detalham nos documentos abaixo publicados. (..:)