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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10978: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (1): A chegada


1. A nossa amiga Anabela Pires [, foto à esquerda,] (*)  chegou no dia 17, do corrente, a Auroville, no sul da Índia, onde vai viver nos próximos seis meses, até ao início do nosso verão.  Mandou-nos duas mensagens, ontem, que reproduzimos:

(i) Comentário do poste P10930

 (...) Muito obrigada aos grã-tabanqueiros pelas mensagens enviadas. Já estou em Auroville desde 5ª feira (dia 17). [. Vd a fotogaleria do sítio de Auroville]. Isto aqui também é "mato" mas um "mato" com mais recursos e mais organizado. Estou e estarei em fase de adaptação com algumas limitações - o meu mau inglês, o facto de não me poder deslocar sozinha depois do pôr do sol por ser perigoso (esta é a pior de todas e difícil de vir a ser ultrapassada) e a tentativa que estou a fazer de me deslocar de bicicleta - falta de treino para fazer vários quilómetros pois Auroville é bem maior do que eu imaginava. Um abraço grande (...)

(ii) Mensagem pessoal:

(...) Luís, com toda a justiça tens a minha autorização (*) Não me esqueci da minha promessa e tenho um post-it neste PC a dizer "ver Diário da Guiné" mas como estou sempre a adiar ..... OK! Confio que farás a devida triagem mas lamento dar-te a ti esse trabalho. Passou um ano depois que cheguei à Guiné, é justo que não esperes mais. Agora comecei a escrever a minha experiência por aqui e .... bem, como já não quero andar stressada , o mais natural era ir adiando esse trabalho. Um grande abraço para ti e para a Alice. Até breve, Anabela

(*) Resposta da Anabela ao meu mail do dia anterior, que dizia o seguinte:

(...) Minha malandra: primeiro, parabéns, por teres chegado "sã e salva"... Espero que seja mais uma experiência enriquecedora para ti. Segundo, foste-te embora sem me dares "autorização" para publicar no blogue o teu diário de Iemberém, expurgado naturalmente de referências mais intimistas ou pessoais...O que importa são as tuas impressões dos lugares e das gentes... Autorizas-me a que faça uma "edição" do teu diário, só com a parte da tua "leitura sociológica"?  Seria interessante para todo nós e para futuros viajantes... Prometo que faço uma boa "triagem"...Diz-me da tua justiça... Beijinhos meus e da Alice.   (...)

2. Vamos começar hoje a publicar excertos do Diário de Iemberém, da Anabela Pires, chegada a Iemberém, no Cantanhez,  há justamente um ano atrás, a 18 de janeiro de 2012, para trabalhar como voluntária no projeto de ecoturismo da AD - Acção para o Desenvolvimento.

Vamos utilizar dois tipos de parênteses para indicar eventuais alterações ao texto original: (i) parênteses curvos, seguidos de três pontos (...) para assinalar eventuais cortes feitos pelo editor (por ex., referências muito pessoais a terceiros) ; e os (ii)  parênteses retos  [ ] para indicar texto ocasionalmente inserido pelo editor  (subtítulos, links, informações adicionais, etc.). O ficheiro, em formato doc, que temos à nossa disposição,  tem 30 páginas, e vai de 18 de janeiro a 25 de março de 2012. 

3. Diário de Iemberém, por Anabela Pires

18 de Janeiro de 2012  [Chegada a Bissau e Iemberém]

Cheguei ontem a Iemberém (sector de Bedanda ou Cubacuré, região de Tombali, Guiné-Bissau).

[ Foto à esquerda: um avião da TAP, no Aeroporto Internacional de Bissau, 29 de fevereiro de 2008, foto de L.G. ]




São já 7 horas e 8 minutos, os galos já cantam, o dia começa a clarear mas ainda não vejo nada dentro de casa, sem luz. Acordei há já uma hora e é com a lanterna a energia solar, que a Catarina me trouxe da Índia, que ando dum lado para o outro. De vez em quando jogo instintivamente a mão aos interruptores da luz! 

Finalmente embarquei em Lisboa no dia 13, sexta-feira, às 21.30 e cheguei a Bissau às 2 da manhã do dia 14. O voo saiu com atraso de Lisboa pois o avião vinha completamente cheio. Para minha admiração metade do avião era ocupado por não guineenses! Desde um grupo de 30 brasileiros(as) que foram para Gabu fazer 20 dias de voluntariado no hospital, a freiras e padres italianos, havia um pouco de gente de diversas partes do mundo.

À minha espera estava o Gibi, colaborador da AD (Acção para o Desenvolvimento, ONG guineense para onde vim como voluntária) e o Domingos, motorista da AD.

O aeroporto de Bissau tem um aspecto apresentável. Recordo-me de a Dulce me ter contado que uma amiga dela, que aqui veio há uns anos, lhe ter referido que os funcionários escreviam em cima de caixas vazias. Portanto, algumas coisas vão mudando na Guiné-Bissau.

Fui instalada no Centro de Formação de Hotelaria que a AD tem no Bairro de Quelélé, nos arredores de Bissau.

Apesar de já ter visto imagens do Bairro de Quelélé na televisão e no site da AD, não imaginava o que encontrei. O Bairro fica entre o aeroporto (a 8 km da cidade) e a cidade e é um bairro bem popular em que a maioria das casas são as tradicionais palhotas. As ruas são mal definidas e todas em terra batida. A minha chegada a este bairro às 3 da manhã contribuiu para alguma perplexidade! Não o imaginava como é de facto e muito mais me espantou o facto dos mais importantes dirigentes da AD nele viverem. A AD tem todas as suas instalações no Bairro Quelélé e quem a dirige vive também no bairro. Há, portanto, uma grande fusão entre a AD e o Bairro Quelélé.

(Continua)
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Nota do editor:

(*) Vd. alguns postes anteriores da (ou referentes à)  Anabela Pires:

12 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10930: Os nossos seres, saberes e lazeres (50): A caminho de Auroville, a "cidade do amanhecer", no sul da Índia... Mas se pudesse escolher, era já para Iemberém que eu queria voar (Anabela Pires)

(...) Vou voar de hoje a oito dias na companhia aérea dos Emirados Árabes - Lisboa- Dubai - Chennai. Dia 16 ficarei a dormir em Chennai e dia 17 irei então para Auroville num táxi da sua companhia de táxis. Chegarei no mesmo dia em que o ano passado cheguei a Iemberém. E se pudesse escolher era para Iemberém que voaria também este ano. 

 Penso passar a 1ª quinzena a conhecer Auroville e a integrar-me. Depois ou opto por uma participação ativa, ajudando onde for preciso - penso que vou privilegiar as quintas para continuar a aprender a cultivar - ou opto por um projeto de voluntariado. Tudo vai depender dos projetos de voluntariado que houver. Tenho como limitação a língua mas pelo menos espero regressar a falar inglês mais fluentemente. Penso regressar/chegar a Portugal dia 3 de Julho. (...)

5 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9998: Em busca de... (191): Pessoal da 26ª CCmds, camaradas do João Gertrudes Luz, natural de Faro, sold cond comando (Brá e Teixeira Pinto, 1970/71), tragicamente desaparecido em 2007 (Anabela Pires, de regresso à Pátria)

(...) Recorde-se que a Anabela Pires esteve em Iemberém, na Região de Tambali, desde janeiro de 2012, como voluntária da AD, a trabalhar no projeto do ecoturismo do Cantanhez. Na sequência do golpe de estado de 12 de abril, acabou por ir para São Domingos e depois Dacar, no Senegal, por razões de segurança... Esteve lá mais de um mês, na casa de um amiga casada com um diplomata... Regressou há uma semana e picos a Portugal, na esperança de voltar à Guiné, em 2013, depois das "prometidas" (pelos golpistas!) novas eleições presidenciais...

Entretanto, ela tinha-me falado deste seu amigo, o João Gertrudes Luz, nosso camarada, tragicamente desaparecido em 2007, e da "dívida" que ela ainda tinha para com ele... Simbolicamente, com a publicação deste poste, fica saldada essa "dívida" em aberto, embora infelizmente tenhamos poucas notícias, no nosso blogue, da 26ª CCmds... Mas contamos, desde já, com os resultados das boas diligências dos nossos leitores, tabanqueiros e não tabanqueiros... Por certo que teremos resposta ao pedido da Anabela. (...)


21 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9931: Ser solidário (127): Anabela Pires, voluntária da AD, de regresso a casa, depois das suas (des)venturas em Iemberém e em Dakar

(...) Sinto que preciso de fazer o "luto" da minha experiência interrompida na Guiné e por isso não tenho, para já, o meu coração muito aberto a um trabalho como voluntária noutra ONG. Como há muitos anos que desejo aprender a cultivar estou à procura de uma quinta, de preferência de agricultura biológica, que me queira receber em troca de trabalho. Estou a procurar no WWOOF. Pode ser em Portugal ou noutro país desde que a viagem para o mesmo não seja muito cara. Tenho especial interesse em aprender a cultivar legumes e eventualmente árvores de frutos. Gostaria de começar o mais tardar em Outubro uma vez que, pelo menos em Portugal, é o início do ano agrícola. O ideal seria encontrar uma família portuguesa, daquelas que deixou a vida da cidade para ir para o campo. Se a família tiver uma componente de turismo rural tanto melhor pois aí também posso dar "uma mão". Gostaria de ir viver para o campo e ter uma actividade física. (...)


16 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9753: O Nosso Livro de Visitas (132): Não se preocupem se não der notícias - só estamos sem eletricidade porque o gasóleo acabou! (Anabela Pires, Iemberém, Cantanhez)

(,,,) Acabou-se o gasóleo que sustenta as nossas 4 horas de luz por dia e a água no depósito! Portanto, estamos novamente sem luz e sem água nas torneiras (aqui em casa tenho 2 no WC o que é muito bom). Isto significa que é mais difícil recarregar a bateria do computador. A minha amiga francesa que mora a 3 km e tem painel solar leva-me o PC e põe-o a carregar mas tudo isto demora mais tempo e posso estar por isso mais "ausente".

Como alternativa posso comprar uns litros de gasolina e pedir à Satu que ligue o gerador do restaurante para carregar os aparelhos. Mas o dinheiro também se acabou - está em Bissau à espera de transporte para cá chegar. Não sei quando vem o carro, era para ter vindo na 6ª feira, mas com os problemas em Bissau ..... aguardamos. Bem, esta do dinheiro é um bocadinho brincadeira pois a Satu certamente me emprestará dinheiro se eu precisar! (,,,)


12 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9346: Tabanca Grande (317): Anabela Pires, voluntária no projeto Ecoturismo do Cantanhez, nossa tabanqueira nº 536, aqui saudada pelo Hélder Sousa

(...) Esta notícia que o JERO [, José Eduardo Oliveira, amigo da irmã da Anabela, que vive em Alcobaça, ] nos enviou, com todos os ingredientes que a compõem, bem assim como as achegas que vieram dos comentários, tem várias coisas que são notáveis.

A primeira é, obviamente, a decisão de Anabela Pires em ocupar a sua reforma em algo que lhe é útil (também) mas em que dirige os seus conhecimentos, saberes e força de vontade em algo que enriquece quem toma esse tipo de atitudes e que é o de 'ajudar os outros'. Provavelmente o seu nascimento em África pode ter contribuído para o 'apelo' mas acho que o 'contágio' com a Guiné explica-se através do que foi referido sobre os contactos e os conhecimentos. (...)


7 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9328: O Nosso Livro de Visitas (120): Anabela Pires, em vias de ir para Iemberém, no Cantanhez, trabalhar como voluntário na AD - Acção para o Desenvolvimento, procura cartas da região de Tombali e elogia o nosso blogue

(...) Olá, Luís! Desculpe antes demais o tratamento informal mas visitando frequentemente o blogue Luís Graça e camaradas da Guiné, conhecendo a Alice e estando a pensar partir para a Guiné-Bissau em Janeiro [de 2012], onde vou trabalhar com a AD [- Acção para o Desenvolvimento], quase me sinto como membro da Tabanca Grande.

Realmente o Mundo é Pequeno mas a vossa Tabanca... é Grande! Certamente a Alice já lhe contou como fui ter ao blogue e como descobri que o seu fundador é casado com a Alice Carneiro! Bom, tudo começou por eu andar à procura de cartas/mapas da Guiné-Bissau. Situar-me geograficamente é sempre um ponto de partida.  (...)


7 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9325: Ser solidário (119): Anabela Pires: A caminho de Iemberém como voluntária da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento (JERO)

(...) Conheci a Anabela Pires, em Coimbra, no dia do falecimento de sua Mãe.Já lá vão um bom par de meses. A conversa foi de circunstância e a minha presença na cerimónia religiosa, no dia do funeral, deveu-se à minha relação fraterna com a sua irmã Margarida Pires, professora em Alcobaça e camarada de boas causas (Defesa de Património Cultural e outras).

No último Verão soube pela Margarida que a sua irmã Anabela queria fazer serviço voluntário na Guiné. Falei-lhe do nosso Pepito (nickname do Engenheiro Agrícola Carlos Schwarz da Silva), que vive e trabalha em Bissau desde 1975, sendo um dos fundadores da AD - Acção para o Desenvolvimento.  O mundo é pequeno e a Anabela Pires tinha sido colega e amiga da Alice Carneiro, mulher do nosso Editor Luís Graça. (...)





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sábado, 12 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10930: Os nossos seres, saberes e lazeres (50): A caminho de Auroville, a "cidade do amanhecer", no sul da Índia... Mas se pudesse escolher, era já para Iemberém que eu queria voar (Anabela Pires)


1. Mensagem de 8 do corrente, da nossa amiga, grã-tabanqueira,  nº 536, Anabela Pires [, foto à direita, em  Catesse, Cantanhez, Guiné-Bissau, janeiro de 2012,]:

Assunto: A caminho de Auroville, na Índia

Olá, família, amigos, amigas, ex-colegas e ex-vizinhos!

Como sabem,  passei os últimos tempos entre Alcobaça e Coimbra e fiz uma mini-horta em casa de uns amigos da minha irmã (mando umas fotos para verem!). [vd. uma das fotos, abaixo,

Durante este tempo procurei também, em vão, quintas com horta biológica e condições mínimas de habitabilidade (que está frioooo!) para aprender mais e oportunidades internacionais de voluntariado. Em Portugal tudo parece tão difícil!

Assim, acabei por decidir ir para Auroville, na Índia (quem tiver curiosidade pode ir a www.auroville.org ou (informação mais ligeira) a www.en.wikipedia.org/wiki/Auroville .

Vou voar de hoje a oito dias na companhia aérea dos Emirados Árabes - Lisboa- Dubai - Chennai. Dia 16 ficarei a dormir em Chennai e dia 17 irei então para Auroville num táxi da sua companhia de táxis. Chegarei no mesmo dia em que o ano passado cheguei a Iemberém. E se pudesse escolher era para Iemberém que voaria também este ano.

Penso passar a 1ª quinzena a conhecer Auroville e a integrar-me. Depois ou opto por uma participação ativa, ajudando onde for preciso - penso que vou privilegiar as quintas para continuar a aprender a cultivar - ou opto por um projeto de voluntariado. Tudo vai depender dos projetos de voluntariado que houver. Tenho como limitação a língua mas pelo menos espero regressar a falar inglês mais fluentemente.

Penso regressar/chegar a Portugal dia 3 de Julho.

Não sei se irei ou não escrever um Diário como fiz na Guiné mas se o fizer gostava de saber quem tem curiosidade, tempo, disponibilidade e o quer ler. Posso enviar notícias curtas ou longas ou nem enviar nenhumas. A opção é vossa, é só dizerem o que preferem.

Não terei acesso diário à Internet e por isso peço o favor de não me encaminharem e-mails que não sejam de carácter pessoal.

Sobre Portugal só quero saber das boas notícias [...]. Bom, desejo a todos muita saúde e muito humor para aguentarem isto por cá.

Um enorme abraço,
Anabela




Página de rosto do sítio Auroville.org. "Auroville, também conhecida como 'A Cidade do Amanhecer', é uma povoação internacional perto de Pondicherry, no sul da Índia, construída com o propósito de realizar a unidade humana na diversidade. Conta atualmente com cerca de 2 mil pessoas, um terço das quais indianas e as demais originárias de 35 países do mundo todo, inclusive do Brasil. Foi fundada dentro dos princípios da ioga integral, desenvolvida por Sri Aurobindo" (Fonte: Wikipedia > Auroville).


2. Comentário de L.G.:

Tenho pena que os teus projetos de desenvolvimento pessoal e comunitário no campo da agricultura biológica não se tenham podido concretizar aqui, nesta tua segunda terra... É verdade, às vezes, em Portugal tudo parece tão difícil!...E mais pena ainda de o teu regresso a Iemberém não se poder concretizar tão cedo...

Prossigamos, então,  a busca da utopia,  mesmo que o lugar perfeito não exista, nunca tenha existido, nem nunca venha a existir. Do grego antigo, οὐ (não) + τόπος (lugar), não-lugar.

Dito isto, bons ventos te levem até à Índia eterna e misteriosa, e melhores monções ainda te tragam até ao Puto, em julho próximo. És uma verdadeira tuga e cidadã do mundo. Tenho a certeza que vais sentir-te bem, aprendendo, ensinando, ajudando e cooperando que é  o teu modo de ser e estar na vida. Para nós, manda notícias breves e tranquilizadores. No final, podes fazer o balanço para o Tabancal. Se houver notícias desta ponta da Europa, fica descansada que a gente mandas-ta, em correio expresso, se forem mesmo maravilhosas. Um Alfa Bravo dos teus vizinhos de poilão, grã-tabanqueiros, que cá ficam a tomar conta das moranças da nossa utopia.

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10572: Os nossos seres, saberes e lazeres (49): Mário Beja Santos, passa à situação de aposentado a partir de 31 de Outubro

terça-feira, 5 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P9998: Em busca de... (191): Pessoal da 26ª CCmds, camaradas do João Gertrudes Luz, natural de Faro, sold cond comando (Brá e Teixeira Pinto, 1970/71), tragicamente desaparecido em 2007 (Anabela Pires, de regresso à Pátria)










Lourinhã > Casal Frade > Biofrade > 2 de junho de 2012 > Duas imagens da visita a uma das maiores empresas agrícolas, portuguesas, em modo biológico. Cicerone, o nosso amigo e conterrâneo Henrique Gomes (na primeira foto de cima, em primeiro plano, com o seu garrano, a esposa - de costas -, a Alice e a Anabela Pires)...


O Henrique Gomes é pai-fundador e líder desta exploração familiar (30 hectares, sendo 1 de estufa; vinte e tal trabalhadores permanentes), que tem, além disso,  uma vertente educacional, proporcionando visitas de estudo e estágios... 


O Henrique Gomes, que formou todos os seus cinco filhos, é também um veterano da guerra colonial (esteve em Moçambique, entre 1963/65, na "acção psicossocial"), um cidadão ativo, um líder associativo e um cristão empenhado que dá o exemplo pela palavra e pela ação... Tanto ele como a família (, incluindo o filho António Gomes, engenheiro agrónomo, dirigente da Louricoop, e um dos sócios da Biofgrade), estão ligados à Fundação João XXIII - Casa do Oeste, que tem uma série de projetos à Guiné-Bissau (dos que falaremos oportunamente, noutro poste). E aos 70 anos, o patrão Henrique ainda trabalha de sol a sol, o mesmo é dizer que trabalha por dois... É esta valorosa gente da nossa geração, bem como os seus filhos, que estão a mudar Portugal...


Ele e a esposa são um casal encantador e hospitaleiro. Afável e bem disposto, o Henrique é um excelente conversador, dando gosto ouvi-lo contar histórias, como a da origem do Casal Frade e da família Gomes...


Fotos (e legendas): © Luis Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. .



1. A  Anabela Pires, nossa recente grã-tabanqueira, esteve  este fim de semana,na Lourinhã, comigo e com a  Alice (é amiga dela e antiga colega de  trabalho, no Ministério da Agricultura). Fomos-lhes apresentar-lhe uma família de amigos nossos, que têm um exploração de agricultura biológica, um caso de sucesso no oeste (e em Portugal), a Biofrade



Criada em 1991, como empresa familiar, a Biofrade  é  vários títulos pioneira e exemplar. Desde 1998, só produz e comercializa produtos de agricultura biológica, em 30 hectares (sendo um de estufa), para além dos muitos produtores em modo biológico, nacionais e estrangeiros com quem trabalha em parceria... 


A Anabela, que tem estado em Alcobaça, na casa da irmã, ainda esteve para trazer com ela o nosso amigo comum, o JERO. Foi pena ele não estar disponível este sábado: seguramente que ficaria encantado, como eu fiquei, de ouvir contar ao meu amigo Henrique Gomes a história do Casal Frade, fundado por dois franciscanos, a seguir - pelas minhas contas - à extinção das ordens religiosas, em 1834. Fica para a próxima (a visita do JERO e a história dos dois frades que falavam com os lobos, sendo um deles o antepassado mais ilustre da família Gomes). 


Aproveitámos as sugestões da semana gastronómica lourinhanense do polvo, para almoçar à beira mar, no restaurante Foz, na Praia da Areia Branca, com o mar e as Berlengas à vista. Falámos o tempo todo da Guiné, da AD, do Pepito, do projeto do ecoturismo, de Iemberém, do Cantanhez, dos daris (chimpanzés), das cobras, da pesca (a Anabela é uma grande pescadora de linha, andou no Rio Cacine e afluentes, de canoa, a pescar!), da Cadi, da Alicinha, da Anabelinha (também já lá tem uma afilhada, a cujo parto assistiu!), da desgraça atual da Guiné, dos fulas, dos nalus, dos balantas, dos felupes, de São Domingos, da miséria de Dacar e do Senegal (, país de pedintes e crava-turistas!)... e do sonho de voltar a Iemberém em 2013,  se os novos senhores de Bissau...deixarem!


Recorde-se que a Anabela Pires esteve em Iemberém, na Região de Tambali,  desde janeiro de 2012, como voluntária  da AD, a trabalhar no projeto do ecoturismo do Cantanhez. Na  sequência do golpe de estado de 12 de abril, acabou por ir para São Domingos e depois Dacar, no  Senegal, por razões de segurança... Esteve lá mais de um mês, na casa de um amiga casada com um diplomata...  Regressou há uma semana e picos a Portugal, na esperança de voltar à  Guiné, em 2013, depois das "prometidas" (pelos golpistas!) novas eleições presidenciais... 


Entretanto, ela tinha-me falado deste seu amigo, o João  Gertrudes Luz, nosso camarada, tragicamente desaparecido em 2007, e da "dívida" que ela ainda tinha para com ele... Simbolicamente, com a publicação deste poste, fica saldada essa "dívida" em aberto, embora infelizmente tenhamos poucas notícias, no nosso blogue, da 26ª CCmds... Mas contamos, desde já, com os resultados das boas diligências dos nossos leitores, tabanqueiros e não tabanqueiros... Por certo que teremos resposta ao pedido da Anabela.


Um xicoração, Anabela, meu e da Alice. (LG )




 2. Mensagem da Anabela Pires, com data de ontem:

  Data: 4 de Junho de 2012 11:18

Assunto: João Gertrudes Luz, ex-combatente na Guiné

 Luís, olá!

Junto envio a foto do meu falecido amigo João Gertrudes Luz, natural  de Bordeira, Faro.  Foi militar na Guiné em 1970/1971, na 26ª Companhia [de Comandos], era condutor
auto, comando, esteve em Brá e em Teixeira Pinto, hoje Canchungo. 


Era casado com a minha saudosa colega Saudade Canteiro Luz e faleceram  ambos em 6 de Agosto de 2007 num trágico acidente de viação. Deixaram  dois filhos, o Cristovão José e o João Paulo e já têm uma netinha que  faz amanhã [, 5 de junho,]  3 anos e que se chama Carolina Saudade. Seria a luz dos  seus olhos se eles estivessem ainda entre nós. 

O João falava-me muito do seu grande desejo de voltar à Guiné. Assim,  quando eu fui para lá,  levei comigo uma foto do João que os filhos me  emprestaram e gostaria de ter ido a Cachungo para aí o recordar. Infelizmente não foi possível. 

Gostaria muito de saber se na Tabanca Grande alguém foi camarada de  armas do João e o que se recordam dele. Era muito divertido e por isso  quem com ele esteve na Guiné deve ter boas recordações. No fundo procuro uma forma de lhe prestar uma singela homenagem e de lhe dizer que de alguma forma ele voltou à Guiné.

Obrigada

Anabela Pires

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Nota do editor:

Último poste desta série > 31 de maio de 2012 >Guiné 63/74 - P9969: Em busca de... (190): Contactos de pessoal da CCAV 1662 (Manuel Fonseca)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9931: Ser solidário (127): Anabela Pires, voluntária da AD, de regresso a casa, depois das suas (des)venturas em Iemberém e em Dakar

1. Mensagem que nos chega de Dakar, Senegal, onde está em trânsito, vinda de Iemberém, a nossa amiga Anabela Pires [, foto à esquerda, em janeiro de 2012, em Catesse, no Cantanhez; foto: cortesia da AD - Acção para o Desenvolvimento]:


Data: 21 de Maio de 2012 11:53
Assunto: De regresso a Portugal
Para: Família, amigos, amigas, ex-colegas e ex-vizinhos:



Tendo em conta a forma como as organizações internacionais, inclusive a ONU, resolveram o problema na Guiné-Bissau, penso que eventualmente poderei pensar em regressar à Guiné em 2013, após a realização de  eleições legislativas e presidenciais.

Assim, está na hora de regressar a Portugal e de procurar novos projetos. Irei na próxima 6ª feira para Lisboa, de onde seguirei de imediato para Alcobaça e depois dos anos da minha irmã irei para Coimbra. Lá para Julho/Agosto devo ir até ao Algarve e em Setembro Alcobaça/Coimbra. 

Sinto que preciso de fazer o "luto" da minha experiência interrompida na Guiné e por isso não tenho, para já, o meu coração muito aberto a  um trabalho como voluntária noutra ONG. 

Como há muitos anos que desejo aprender a cultivar estou à procura de uma quinta, de preferência de agricultura biológica, que me queira  receber em troca de trabalho. Estou a procurar no WWOOF. Pode ser em Portugal ou noutro país desde que a viagem para o mesmo não seja muito cara. Tenho especial interesse em aprender a cultivar legumes e eventualmente árvores de frutos. Gostaria de começar o mais tardar em  Outubro uma vez que, pelo menos em Portugal, é o início do ano agrícola. O ideal seria encontrar uma família portuguesa, daquelas que deixou a vida da cidade para ir para o campo. Se a família tiver uma componente de turismo rural tanto melhor pois aí também posso dar "uma mão". Gostaria de ir viver para o campo e ter uma actividade física.

Desde que vim da Guiné já comecei a ter dores na coluna por passar muitas mais horas ao computador. Se tiver engenho e arte ainda vos escreverei uma "crónica" sobre as  minhas aventuras e desventuras em Dakar.

Um abraço para todos e até breve,
Anabela

2. Comentário de L.G.:

Por razões de segurança, a Anabela Pires - desde janeiro de 2012, a viver e a trabalhar como voluntária da AD em Iemberém, no sul da Guiné-Bissau - foi temporariamente "deslocada" para o país vizinho, o Senegal, uns dias depois do golpe de estado de 12 de abril. Num dos mails que nos mandou, a 5 de maio, ela contava-nos as "venturas e desventuras de uma turista à força em Dakar" (sic), dava-nos conta das suas já muitas saudades da Guiné e das suas gentes e, por fim, concluía, com alguma amargura, mas também com uma réstea de esperança e sobretudo sem nunca perder o seu bom humor (e a sua cana de pesca): 


"(...) E nesta mágoa e impotência que pode uma alminha fazer? Bom, vou à pesca, mas o que me apetecia mesmo era voltar e já para a Guiné-Bissau. Se os meus colegas da AD e a população em geral lá podem estar, quer gostem ou não, por que é que eu não posso? Só não volto porque não quero poder ser mais uma preocupação para o Pepito, mas se ele me disser 'vem', eu vou. Não sei em que poderei ser útil nas atuais circunstancias, mas se houver alguma coisa em que possa ajudar… eu volto. Sinto que não tenho medo e todos os que lá estão, com medo ou sem ele, estão, até porque a maioria nem tem para onde ir." (...)


Infelizmente, a aventura guineense da Anabela fica por aqui este ano. Mas,  sabendo como ela é determinada e corajosa, voltaremos a ter notícias dela em breve, e daqui talvez a um ano, de novo na Guiné-Bissau, conforme é seu desejo. 


O exemplo desta mulher (, nossa amiga e recente membro da nossa Tabanca Grande) é inspirador e eu quero saudá-la, agora que volta a casa, com alguns sonhos desfeitos. Recebe, Anabela, um xicoração tão largo como o Rio Cacine destes teus amigos grã-tabanqueiros. Obrigado pela tua atitude positiva e pelo teu amor à Guiné e ao seu povo que, mais do que nunca, precisa de ser acarinhado e apoiado por todos os seus amigos em todo o mundo.


Não te esqueças, por outro lado, que tens para aí umas crónicas prometidas sobre a tua estadia em Iemberém (que foi, apesar de tudo, uma grata experiência para ti). Os amigos e os camaradas da Guiné agradecem-te o teu gesto solidário, e querem aprender com a tua sabedoria. Bom regresso a casa, o mesmo é dizer, à pátria, à mátria e à fátria... 
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Nota do editor:



Último poste da série > 4 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9855: Ser solidário (126): Da mesma maneira que muitos dos ex-combatentes sentem aquela pulsão de regressar, eu também a sinto (Tiago Teixeira)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9753: O Nosso Livro de Visitas (132): Não se preocupem se não der notícias - só estamos sem eletricidade porque o gasóleo acabou! (Anabela Pires, Iemberém, Cantanhez)

1. Mensagem da nossa amiga Anabela Pires [, foto à direita]::

De: Anabela Pires &
anasgp@gmail.com>

Data: 16 de Abril de 2012 08:14

Assunto: Não se preocupem se não der notícias - só estamos sem eletricidade porque o gasóleo acabou!

Para: Família, amigos(as), ex-colegas, ex-vizinhos:


Olá, a todos! É só para dizer que se receberem menos notícias minhas não estranhem nem se ponham a imaginar coisas ruins!

Acabou-se o gasóleo que sustenta as nossas 4 horas de luz por dia e a água no depósito! Portanto, estamos novamente sem luz e sem água nas torneiras (aqui em casa tenho 2 no WC o que é muito bom). Isto significa que é mais difícil recarregar a bateria do computador. A minha amiga francesa que mora a 3 km e tem painel solar leva-me o PC e põe-o a carregar mas tudo isto demora mais tempo e posso estar por isso mais "ausente".


Como alternativa posso comprar uns litros de gasolina e pedir à Satu que ligue o gerador do restaurante para carregar os aparelhos. Mas o dinheiro também se acabou - está em Bissau à espera de transporte para cá chegar. Não sei quando vem o carro, era para ter vindo na 6ª feira, mas com os problemas em Bissau ..... aguardamos. Bem, esta do dinheiro é um bocadinho brincadeira pois a Satu certamente me emprestará dinheiro se eu precisar!

Eu estou bem. Ontem fui nadar na Ria (aqui chamada Rio) ladeada pelos mangais! Abençoados sapatos de windsurf que a Leninha me deu para ir aos lingueirões na Ria de Faro! Sem eles não poderia andar aqui nesta ria que tem o fundo todo de lodo. A água estava tão quente que nem deu para refrescar! Era preciso nadar mais para o meio para apanhar água fresca mas a corrente tinha alguma força e não podia arriscar muito. A piada é que os 2 jovens que estavam comigo, quando iam mais para o meio queixavam-se da água fria! Não há dúvida, tudo depende daquilo a que os nossos corpos estão habituados.

Bem, já disse umas larachas (isto escreve-se assim?) e agora vou deixar-vos.

Beijos e abraços para todos


Anabela

2. Comentário do editor:

A nossa tabanqueira Anabela  (uma "mulher de armas", no dizer do seu amigo JERO) já nos tinha dito que estava bem, que em Iemberém, a seis horas de carro de Bissau, estava tudo "supercalmo". Há coisa de uma semana atrás, estive a ler, por alto uma cópia do diário que ele está a escrever desde que chegou a Iemberém, e mandei-lhe a seguinte mensagem, a 10 do corrente:  "Parabéns pelo sucesso da tua adaptação em terras da Guiné e de Tombali. Já dei uma vista de olhos pelo teu diário. Belíssimos apontamentos, grande capacidade de observação, notável sendibilidade sociocultural... Talento literário não te falta... Vamos ter livro... Não queres mandar alguns excertos para o blogue, eventualmente expurgados de referências mais pessoais ou íntimas ?... Há malta, muita malta, que conhece a região, do tempo da guerra e da paz... e que tem colaborado com a AD... Podia abrir uma série para ti... Pensa nisso.  Boa continuação, muita saúde. Um Alfa Bravo (ABraço). Luis".

PS - No sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento, ver aqui uma reportagem do primeiro dia de trabalho da Anabela, em janeiro passado, na tabanca de Catesse.
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Nota do editor:

28 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9673: O Nosso Livro de Visitas (131) ): Antonio Vaz, 75 anos, lisboeta, ex-cap mil, CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69: A Tabanca Grande é um fenómeno sem paralelo, que me deixa abismado e surpreendido

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9346: Tabanca Grande (317): Anabela Pires, voluntária no projeto Ecoturismo do Cantanhez, nossa tabanqueira nº 536, aqui saudada pelo Hélder Sousa

1. A Anabela Pires [, foto à direita],   mais uma amiga da Guiné-Bissau,  aceitou o nosso convite para integrar a nossa Tabanca Grande, como se depreende do comentário que deixou no poste P9325 (*):


Caros camarigas:


Obrigada, do fundo do coração, pelos vossos votos, pelas vossas cartas/mapas, pelo livro do Jero, que estou a ler.


Ainda nada fiz, só estou para embarcar, com sorte na próxima 6ª feira, dia 13 [de janeiro de 2012, a caminho de Bissau e depois Iemberém, Cantanhez, Região de Tombali].


Quando estava no aeroporto para embarcar, no dia 6, o que não sucedeu, recebi de uma amiga um livro de Paulo Freire, 4ª edição de 1984, intitulado Cartas à Guiné-Bissau (**). Na contracapa li "....o verdadeiro sentido da ajuda, aquela em cuja prática os que nela se envolvem se ajudam mutuamente, crescendo juntos no esforço comum de conhecer a realidade que buscam transformar. Assim, o ato (a ajuda) não se distorce em dominação do que ajuda sobre o que é ajudado."


Terei esta frase sempre presente e a minha ajuda não será, neste sentido, fácil, uma vez que vou trabalhar no projecto ecocantanhez, [da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento]. Há que ter, em primeiro lugar, presente a realidade, os intereses da população mas também a noção de qualidade dos "clientes", provavelmente provindos de culturas bem diferentes. Haja "engenho e arte"!


Bem, ao fazer este comentário, acabei por aceitar, muito antes do que tinha previsto, o honroso convite para me associar à Tabanca Grande! (***)


Um abraço para todos(as),


Anabela Pires


2. Elogio da nova tabanqueira [, nº 536,]   feita pelo colaborador permanente deste blogue, Hélder Sousa [, foto à direita,], em comentário ao poste P9325 (*):


Caros amigos:

Esta notícia que o JERO [, José Eduardo Oliveira, ] nos enviou, com todos os ingredientes que a compõem, bem assim como as achegas que vieram dos comentários, tem várias coisas que são notáveis.

A primeira é, obviamente, a decisão de Anabela Pires em ocupar a sua reforma em algo que lhe é útil (também) mas em que dirige os seus conhecimentos, saberes e força de vontade em algo que enriquece quem toma esse tipo de atitudes e que é o de 'ajudar os outros'. Provavelmente o seu nascimento em África pode ter contribuído para o 'apelo' mas acho que o 'contágio' com a Guiné explica-se através do que foi referido sobre os contactos e os conhecimentos.

Depois, serve também para sabermos como os problemas burocráticos, as necessidades de 'afirmação' de pequenos peões se acabam por agigantar e complicar o que pode ser simples. Nem toda a gente tem a paciência necessária para enfrentar essas contrariedades, o que, felizmente, não é o caso de Anabela Pires.

Saltando por cima de mais algum outro pormenor sublinho agora o comentário que a Anabela faz em que toca exactamente no ponto essencial do que deve ser (ou não) uma atitude correcta em termos de cooperação. É isso mesmo!

Já tinha lido num relatório de actividades da AD alguma posição crítica à forma como algumas 'cooperações' foram feitas e como disso nada resultou e às vezes 'antes pelo contrário' e a chave do sucesso é sempre o que a Anabela acabou por citar. Igualmente o mesmo tipo de conclusão já me tinha sido feito chegar pela a minha amiga Marta [Ceitil] aquando dos seus relatos como cooperante onde se apercebeu perfeitamente dessa situação de troca de conhecimento e de reciprocidade de ganhos.

Do meu ponto de vista a Anabela está no caminho certo, vai ter sucesso na sua actuação e vamos ter conhecimento de várias situações relatadas ao vivo e actuais.

Boa viagem e bom trabalho.

Quanto ao JERO, o mesmo de sempre. Grande sensibilidade, bom 'olho' para os bons valores e sempre aquela disponibilidade desinteressada que o caracterizam.

Abraço. Hélder S.
_______________

Notas dos editores:


(*) Vd, poste de 7 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9325: Ser solidário (119): Anabela Pires: A caminho de Iemberém como voluntária da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento (JERO)

(**) FREIRE, Paulo  [1921-1997] - Cartas à Guiné-Bissau. Registros de uma experiência em processo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

Sinopse: Escrito e compilado em 1976 e 1977, este livro é o registro do primeiro ano de trabalho de Paulo Freire na construção de um modelo de alfabetização de adultos em Guiné-Bissau, então recém-independente. Através da correspondência trocada entre o educador e a Comissão Coordenadora dos trabalhos de alfabetização em Bissau, o espírito de colaboração e de transformação da realidade que norteia o pensamento de Paulo Freire nos incentiva a olhar para a África, histórica e socialmente tão próxima de nós. [Fonte: Editora Paz e Terra].

Ficha técnica:
Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro 
2011
5ª edição
264 páginas
Formato: 13,5 x 20,8 cm
ISBN: 9788577531899
Brochura
R$ 39,90

(***) Último poste da série > 3 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9307: Tabanca Grande (316): Vasco da Gama foi operado ao coração, mas está já em casa em convalescença

sábado, 7 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9328: O Nosso Livro de Visitas (120): Anabela Pires, em vias de ir para Iemberém, no Cantanhez, trabalhar como voluntário na AD - Acção para o Desenvolvimento, procura cartas da região de Tombali e elogia o nosso blogue




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez >2010 >  Vídeo 4' 41'' > 

"Pedro Mesquita, cineasta português, e a sua equipa têm estado a recolher imagens para um filme cujo título provisório é Os Donos do Chão. Imagens muito bonitas e que nos prendem do princípio ao fim. 

"Hoje apresentamos o primeiro vídeo com imagem de Pedro Mesquita e Edição - Micael Espinha/Roughcut, com a realização e imagem - Pedro Mesquita; Argumento - José Marques; Produção - Pedro Mesquita, José Marques, Catarina Schwarz, Joana Roque de Pinho; Música - João Bernardo; Apoios : AD, IUCN, IBAP". 

Fonte: Vídeo e legenda: Cortesia de AD - Acção para o Desenvolvimento (2012). 
Vd. YouTube > ADBissau



1. Mensagem de Anabela Pires (*), com data de 19/9/2011

Olá, Luís!

Desculpe antes demais o tratamento informal mas visitando frequentemente o blogue Luís Graça e camaradas da Guiné, conhecendo a Alice e estando a pensar partir para a Guiné-Bissau em Janeiro [de 2012], onde vou trabalhar com a AD [- Acção para o Desenvolvimento], quase me sinto como membro da Tabanca Grande. 

Realmente o Mundo é Pequeno mas a vossa Tabanca... é Grande! Certamente a Alice já lhe contou como fui ter ao blogue e como descobri que o seu fundador é casado com a Alice Carneiro! Bom, tudo começou por eu andar à procura de cartas/mapas da Guiné-Bissau. Situar-me geograficamente é sempre um ponto de partida. 

Descobri as antigas cartas militares e depois fui descobrindo no blogue muitas matérias interessantes para quem não conhecendo o país vai para lá. Entretanto descobri que o José Eduardo Oliveira (JERO) é amigo da minha irmã [, Margarida Pires,] que vive em Alcobaça. Já conheci o Pepito e a Isabel e estou encantada por ir trabalhar com eles. Espero ter capacidade de adaptação e poder retribuir tudo o que vou aprender.

Irei para Iemberém [, Cantanhez], se Deus quiser, dia 6 de Janeiro. Se a Alice quiser mandar alguma coisa para a Alicinha pois que me diga. Falarei com ela pelo telefone.

Tentei adquirir as cartas contactando várias instituições mas só consegui comprar a Carta da Província da Guiné, Ministério do Ultramar, Junta de Investigações do Ultramar, Centro de Geografia do Ultramar, 1961, 1:500.000, na Biblioteca Nacional.

Gostaria muito de levar também comigo: 

(i) Carta de Bedanda, Norte-C-28, XXI-2-c (Província da Guiné), Ministério do Ultramar, Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar, 1956, 1:25.000; 

(ii) Carta de Cacine, Norte-C-28, XXI-2-b (Província da Guiné), Ministério do Ultramar, Junta de Investigações do Ultramar, 1960, 1:25.000;

(iii) Carta de Guileje, Norte-C-28, XXII-1-c (Província da Guiné), Ministério do Ultramar, Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar, 1956, 1:25.000; 

(iv)Carta de Cacoca, Norte-C-28, XXII-1-a (Província da Guiné), Ministério do Ultramar, Junta de Investigações do Ultramar, 1960, 1:25.000;

(v) caso exista, a Carta de Cassumba, que deve ser a Norte-C-28, XXI-2-a.

À excepção da 5, já vi todas no vosso blogue e gostaria de saber se mas podem vender ou ceder. Penso levá-las impressas mas a Biblioteca Nacional mandou-me em CD e agora vou a qualquer sítio para imprimir. Quero pô-las no meu futuro gabinete ou no meu quarto ou lá onde for!

Não tenho o e-mail da Alice e por isso tomei a liberdade de lhe escrever directamente. Parabéns pelo Blogue e por conseguir gerir as diferentes sensibilidades dos seus membros. Tornei-me numa visitante frequente e se em Iemberém a ligação à Internet o permitir penso continuar.

Desde já muito obrigada pelo tempo dispensado para ler o meu e-mail e pela resposta que me possa dar.

Um abraço para toda a família
Anabela Pires

2. Comentário de L.G.: 

Anabela: Terei muito gosto em enviar-lhe as cinco cartas que nos pede (no formato original, em suporte digital...) [e todas as demais da região de Tombali]. 

Agradeço-lhe as simpatiquíssimas referências que faz ao nosso blogue, que já vai a caminho dos  8 anos de existência, com alguns altos e baixos... Fica desde já convidada a integrar a nossa Tabanca Grande, sentando-se debaixo do nosso secular, frondoso, mágico, generoso, fraterno poilão (**)... 

A Alice entrará depois em contacto consigo (***). 

Um beijinho. Luís Graça

 ________________


Notas do editor


(*) Vd, poste de 7 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9325: Ser solidário (119): Anabela Pires: A caminho de Iemberém como voluntária da “AD” (JERO)


(**) Último poste da série > 14 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9199: O Nosso Livro de Visitas (119): João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, ex-Alf Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)


(***) A Anabela Pires, nascida em Moçambique,  reformou-se recentemente da administração pública. Era técnica superiora,  com formação em serviço social e sociologia, nos serviços regionais no Ministério da Agricultura.  As suas competências e experiência serão seguramente úteis para a equipa da AD, responsável no Cantanhez pelo projeto do ecoturismo. 


E a propósito do Cantanhez, vejam e ouçam as belíssimas imagens do Pedro Mesquita bem  como a sublime música do João Bernardo no vídeo que apresentamos acima, com a devida vénia aos nossos amigos da AD. Parabéns ao realizador Pedro Mesquista e sua equipa. Queremos ver em breve o documentário Os Donos do Chão...

Guiné 63/74 - P9325: Ser solidário (119): Anabela Pires: A caminho de Iemberém como voluntária da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento (JERO)



1. O nosso Camarada José Eduardo Oliveira - JERO -, (ex-Fur Mil da CCAÇ 675, Binta, 1964/66), enviou-nos a seguinte mensagem: 


A CAMINHO DE IEMBERÉM COMO VOLUNTÁRIA DA “AD”

Camaradas,


Remeto-vos mais um texto que, nos tempos que correm, julgo ser um  grande exemplo de generosidade e amor pelo próximo. Uma senhora, que  poucos meses depois da reforma, resolve ir fazer voluntariado para a  Guiné, para a zona da Mata do Cantanhez.

Família, amigos(as), ex-colegas, ex-vizinhos:
 
Chegou o dia da partida. Hoje às 21.30 embarco para a Guiné-Bissau. No Domingo bem cedo,às 6 da manhã, farei a viagem para o Sul, para Iemberém, onde ficarei a residir nos próximos 6 meses. Vou contente, esperançosa, de muito aprender e, quem sabe, ensinar também.
 
Obrigada a todos os que partilharam comigo estes meses de preparação desta viagem, àqueles que me ajudaram de uma ou outra forma, àqueles que nos últimos dias me têm contactado para um último adeus.
 
Parece que vou para o fim do mundo mas não é assim. São só 3300 Kms de distância, 4 horas de voo e até dá para lá ir de carro. A alguns, os(as) mais atrevidos(as), eu espero um dia receber em Iemberém.
 
Aqui fica para cada um de vós um grande abraço e um até breve.
 
Anabela Pires
(6.Janeiro.2011)


Fotografia: © João Graça (2009). Direitos reservados.

Voluntariado na Guiné 

Conheci a Anabela Pires, em Coimbra, no dia do falecimento de sua Mãe.Já lá vão um bom par de meses. A conversa foi de circunstância e a minha presença na cerimónia religiosa ,no dia do funeral, deveu-se à minha relação fraterna com a sua irmã Margarida Pires, professora em Alcobaça e camarada de boas causas (Defesa de Património Cultural e outras). 

No último Verão soube pela Margarida que a sua irmã Anabela queria fazer serviço voluntário na Guiné. Falei-lhe do nosso Pepito (nickname do Engenheiro Agrícola Carlos Schwarz da Silva), que vive e trabalha em Bissau desde 1975, sendo um dos fundadores da AD - Acção para o Desenvolvimento. 

O mundo é pequeno e a Anabela Pires tinha sido colega e amiga da Alice Carneiro, mulher do nosso Editor Luís Graça. 

Poucos dias depois estava a falar com as pessoas certas e em poucos meses “arrumou” a sua vida para cumprir esse seu velho de sonho de fazer voluntariado em África. 

Esteve em minha casa na passada 4ª. feira, dia 4, a despedir-se e, obviamente a fazer-me perguntas sobre a “nossa” Guiné. Respondi-lhe gostosamente e tentei atenuar alguns dos seus receios em relação “a cobras e lagartos”. E ofereci-lhe um exemplar do meu livro “Golpes de Mão’s” com uma dedicatória em que lhe chamava “Mulher Grande”. 


Pedi-lhe para escrever alguma coisa para o nosso blogue. Agradeceu o convite mas disse-me que era cedo. Escreveria “quando tivesse feito alguma coisa de bom na Guiné”.
Recebi hoje o e.mail que reproduzi no início deste texto. E respondi como segue.

«Olá Anabela




Relendo o texto fixei-me de novo na parte do e.mail da Anabela em que diz:

«A alguns, os(as) mais atrevidos(as), eu espero um dia receber em Iemberém.»

Sinceramente passei ,a partir deste momento, a ser candidato a uma viagem à Guiné.
O futuro o dirá.

Em ano de crise percorrer 3.300 kms…não é (quase) nada!

E por uma boa causa…valerá sempre a pena.

JERO
Fur Mil da CCAÇ 675 
___________ 
Nota de M.R.: 

Vd. Também o último poste desta série em: 




Obrigado em meu nome e ,julgo poder dizê-lo, em nome de todos que passaram pela Guiné fazendo a guerra mas recordando, essencialmente, a paz..

Que tudo corra bem e parabéns aos Guineenses por terem junto deles a partir de hoje uma Mulher da sua raça. Uma Mulher (de) Grande (coragem).

Até breve.

Com todo o afecto (com “c”) aceite um apertado abraço do JERO».