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terça-feira, 5 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4283: Recortes de imprensa (19): O pesadelo das minas (Nelson Herbert)

Guiné-Bissau > "Uma foto relativamente recente .. Foto minha, de explosivos e minas recolhidos, e pronto para a destruição !" (Nelson Herbert)...

Estes engenhos serão do tempo da guerra civil de 1998/99, que opôs as forças de Nino Veira, apoiadas por tropas dos vizinhos Senegal e Guiné-Conacri, às tropas revoltosas da Junta Militar, do brigadeiro Ansumane Mané... Uma guerra civil cruel, feroz e prolongada que ainda está muito viva na memória do povo da Guiné-Bissau...

No que diz respeito ao período da guerra colonial / luta de libertação, não sabemos ao certo quantas minas e armadilhas e outros engenhos explosivos (bombas da aviação e da marinha, granadas de artilharia, etc.) ficaram no terreno... Tanto nossas como do PAIGC e que continuam a matar...

César de Carvalho, responsável do CAAMI - Centro de Centro de Acção Anti-Minas, estrutura criada pelo governo guineense em 1999 para coordenar e gerir todo o processo de desminagem, a era esperado que Guiné-Bissau ficasse livre de minas até a 2006... Segundo dados da CAAMI, as minas já provocaram mais de meia centena de mortos no país e mais de 250 feridos (Fonte: Notícia da Lusa, de 18 de Outubro de 2005).


O nosso amigo Nelson Herbert, jornalista guineense de A Voz da América (VOA), membro da nossa Tabanca Grande, autorizou-nos a publicar este artigo da sua autoria...
Dele recebemos o seguinte e-mail: A primeira parte de uma reportagem, sobre os campos de minas, por mim feita no fim do conflito de 1998/99 na Guine Bissau.. A segunda parte versava os "resíduos do mesmo campos, no sul e norte do pais.. estas datadas da Guerra colonial..e da guerrilha independentista do Casamance... Esta entretanto a custar localizar estes dois últimos...

Um abraço, Nelson


Guiné-Bissau: Campos de minas antipessoais e antitanques identificados nos arredores da capital (*)

por Nelson Herbert (VOA)

São, ao todo, quatro os campos de minas antipessoais e antitanques identificados no perímetro que circunda a capital guineense Bissau. Áreas que ladeiam bairros residenciais e pequenas lavras satélites à cidade, capital guineense.

A história destes campos de minas não requer um exercício profundo da memória, para a situar em termos de temporalidade. Pois datam do conflito militar que assolou a Guiné-Bissau entre 1998/1999.

Como parte da estratégia de defesa adoptada pelas então forças do presidente Nino Vieira, era necessário defender a franja da cidade de Bissau, que resistia ao isolamento imposto pela rebelião militar do general Ansumane Mané.

E mais no seu auge, o conflito foi responsável pela fuga de cerca de um terço da população de Bissau em busca de refúgio mais a interior do país, desbravando assim zonas residenciais estratégicas à penetração inimiga.

São os casos dos bairros de Brá, Quelele, Estrada de Bor, Ajuda, Antula, Enterramento, e mais a sul da capital, o Bairro Plaque 1, áreas minadas pelas forças governamentais afectas a Nino Vieira e por militares do Senegal e da Guiné Conacri.

No campo de minas de Bor, seguindo os regulamentos, os sapadores tinham decidido, momentos antes da chegada da nossa reportagem ao local, suspender temporariamente os trabalhos da desminagem. Em causa a ausência, justificada por doença, do paramédico do grupo. Mas mesmo assim o dia não deixou de ser aproveitado, para o Day After...

Munidos de machetes, a equipa de sapadores aventura-se escassos metros adentro da mata, recolhe ramos de árvores ressequidos que são utilizados para a feitura das convencionais estacas de sinalização característicos dos campos de minas.

A viagem até o Bairro de Bor, localizado num dos extremos de acesso a capital Bissau, dura um pouco mais de meia hora, entre estradas esburacadas e a azáfama dos mercadores que disputam, com as viaturas , as vias de acesso à localidade.

A zona tinha sido inicialmente, e com o fim do conflito militar, alvo de uma primeira acção de desminagem a cargo da Humaid, a mais antiga Organização Não governamental a operar no sector.

Mas receios da possibilidade de existência de minas não detectadas na primeira fase da desminagem, sugeriram à Humaid, dirigido por John Blaken, um ex-embaixador dos Estados Unidos, na Guiné-Bissau, a jogar pelo seguro e a regressar à zona para uma segunda escrutinização sobretudo dos terrenos que ladeiam a picada que dá a acesso à localidade.

A picada é, por sinal, a mesma que nos conduz ao bairro do Enterramento, o segundo campo de minas visitado é um dos quatro que circundam bairros residenciais da periferia de Bissau.

Na zona são ainda visíveis os sinais dos combates e dos meios bélicos e militares envolvidos nos confrontos que opuseram unidades das forças senegalesas aos rebeldes da Junta Militar. Invólucros de munições, projécteis intactos de armas pesadas recolhidos pelos sapadores, restos de minas antipessoais de origem distinta para além do que ainda resta das trincheiras militares escavadas na terra avermelhada.

Um elemento da população revela que um dos filhos perdeu uma perna na explosão de uma mina no campo e relembra que o bairro teria sido palco de alguns dos mais intensos confrontos militares do sangrento conflito.

Durante os trabalhos da abertura da picada as máquinas chegaram a detectar duas activas minas antitanques - conclui aquele popular.

Mas é entretanto por altura da época da lavoura que o perigo se destapa. Das imprudentes queimadas lançadas pela população para a abertura de clareiras à prática da agricultura de subsistência, resulta quase sempre a necessidade da evacuação da área devido às explosões de projécteis de artilharia abandonados no terreno.

Bacar Djau, um jovem de pouco mais de 25 anos de idade, assume, a embora corriqueira, mas difícil missão de nos conduzir pelo interior adentro do perímetro florestal minado e que ladeia a picada que dá acesso ao Bairro de Enterramento.

Mas antes é necessário a familiarização com as normas e as sinalizações do campo, sobretudo as estacas indiciando perigo à vista.

Era chegado o momento de um acerto de passo com o perigo... uma espécie de aventura nossa por um dos muitos campos de minas herdados do conflito militar na Guine Bissau.

As estimativas iniciais das forças de manutenção de paz da Comunidade Económica dos Países da África Ocidental, a Ecomog, enviadas para a Guiné Bissau em 1999 no quadro dos acordos de paz, de Abuja, Nigéria, chegaram a prever entre 15 a 20 mil o número de minas implantadas na periferia de Bissau.

Contas entretanto que a Humaid hoje contraria, situando em cerca de 4 mil o número aproximado de tais engenhos explosivos implantados durante o conflito.

John Blaken, um ex embaixador dos Estados Unidos na Guiné-Bissau e que assume a administração da Humaid, revela que, não obstante a existência de outros campos de minas, sobretudo no interior do país, estes do tempo da guerra pela independência do país, decidiu-se priorizar as áreas circundantes de Bissau, pelo perigo iminente que representam.

“Bem, foi dada prioridade a Bissau porque é onde se tem registado acidentes. Com excepção no norte, na fronteira com a Casamance, não tem havido incidentes no interior do país. Isto porque identificamos e marcamos os campos no sul e as pessoas conhecem-nas e tratam de se manter longe deles” - precisa aquele antigo diplomata à nossa reportagem.

Num mapa detalhado dos campos de minas já identificados em todo o território guineense, Blaken garante que, numa segunda etapa, a ONG tenciona estender as suas acções de desminagem às zonas rurais do interior, nomeadamente aos campos de minas no sul do país, que circundam o perímetro dos antigos aquartelamentos do éxercito colonial português.


“Existem 17 locais identificados no interior do país, como campos de minas do tempo da guerra pela libertação. São sobretudo campos junto aos antigos quartéis portugueses. Existem alguns locais no norte, mas este mapa não inclui as minas implantadas durante o conflito do Casamance... não temos esses campos de minas identificados” - frisa John Blaken.

Os números atestam os factos. De Janeiro de 2000 a Maio de 2005, a Humaid desactivou apenas na periferia de Bissau, mais de duas mil e quinhentas minas antipessoais, 55 minas antitanques, 144 minas submarinas, cerca de 14 mil projécteis não deflagrados com calibre superior a 12.7 milímetros e aproximadamente 30 mil munições de calibre inferior a 12.7 milímetros numa extensão de terreno calculado em 537 mil 990 metros quadrados. Terrenos que pouco a pouco estão sendo reocupados pelas populações na construção de palhotas e abertura de lavras.
“Se não tivesse tido a garantia do pessoal da Humaid, não construiria a minha casa aqui” - confirma este popular à nossa reportagem.

John Blaken, empenhado na desminagem na Guiné-Bissau confirma que à medida que a desminagem dos terrenos vai sendo concluídas, as populações reocupam as terras para a construção de habitações e a abertura de novas lavras. “Uma experiência, gratificante”, conclui este antigo diplomata americano. (**)


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Notas de MR:

(*) Originalmente publicado na News VOA.com, com data de 12 de Setembro de 2005

terça-feira, 3 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3973: Nuvens negras sobre Bissau (11): Em Novembro de 2000, no golpe de Ansumane Mané, eu também estava lá... (Albano Costa)


Guiné-Bissau > Bissau > Novembro de 2000 > Tensão em Bissau com mais uma tentativa de golpe de Estado, liderada por Ansumane Mané (1940-2000). Albano Costa, o filho Hugo Costa e os camaradas que estavam, com eles, na Guiné, em 'turismo de saudade', foram apanhados pelos acontecimentos, mas não alteraram os seus planos.

Fotos: © Albano Costa (2009). Direitos reservados

A história (recente e passada) da Guiné-Bissau tem sido marcada pela violência política. Recorde-se que em 14 de Novembro de 1980, o presidente Luís Cabral é derrubado pelo 1.º golpe de Estado da jovem República, liderado por Nino Vieira, seu primeiro ministro e antigo camarada de armas.
Em 1984 é aprovada uma nova Constituição mas só em 1991 passa a haver um sistema multipartidário. Com o novo regime, as primeiras eleições têm em 1994. Nino Vieira, concorrendo contra Kumba Yalá, é eleito Presidente da República à 2.ª volta, tomando posse em 29 de Setembro de 1994.

Em 1998, a Guiné-Bissau mergulha numa sangrenta guerra civil. O golpe que derruba Nino Vieira é precedido por uma rebelião militar em 7 de Junho de 1998, causada pela destituição do general Ansumane Mané como Chefe do Estado Maior das Forças Armadas.

Mané destitui Nino Vieira em 7 de Maio de 1999 (que se vê obrigado a refugiar-se na Embaixada Portuguesa em Bissau, de onde só saiu em Junho para Portugal).

Em 13 de Maio de 1999, o presidente do Parlamento, Malam Bacai Sanhá, ocupou interinamente a presidência, ficando Ansumane Mané à frente da Junta Militar.

Em Janeiro de 2000, o líder do Partido da Renovação Social (PRS), Kumba Yalá é eleito presidente e tem pela frente a difícil tarefa de reconstruir um país, devastado pela guerra civil. Em Novembro de 2000, o general Mané, que reivindicava o comando supremo das Forças Armadas, protagoniza mais uma frustrada tentativa de golpe. É assassinado a 30 desse mês. Há novas tentativas de golpe de Estado em Dezembro de 2001 e em Maio de 2002.

Em Novembro de 2002, Yalá dissolve o Parlamento. A pedido das Nações Unidas, são convocadas eleições para Outubro de 2003, mas, em 14 de Setembro desse ano, um novo golpe depõe Yalá. A Junta Militar nomeia Henrique Rosa como presidente interino.

As eleições legislativas de 28 de Março de 2004 foram ganhas pelo o PAIGC: Carlos Gomes Júnior é nomeado primeiro-ministro. Em Outubro daquele ano, devido à falta de pagamento de salários dos capacetes azuis guineenses em serviço na Libéria causou um motim no qual morreu o chefe de Estado-Maior, general Correia Seabra.

Em Maio de 2005, Nino Vieira e Kumba Yalá regressam ao país. Nino ganha a segunda a volta das eleições, contra Bacai Sanhá, o candidato oficial do PAIGC.

Em agosto de 2008, Nino Vieira nomeou Carlos Correia como primeiro-ministro, após dissolver o Parlamento e convocar eleições legislativas para novembro.

Poucos dias antes, os serviços de segurança militar prendem o almirante José Américo Bubo Na Tchuto, acusado de preparar um golpe de Estado. Em 16 de novembro de 2008, o PAIGC obteve a maioria absoluta nas eleições legislativas.

Após outra tentativa de golpe militar, em 23 de novembro, o presidente 'Nino' Vieira nomeou Carlos Gomes Júnior, líder do PAIGC como primeiro-ministro, em 26 de Dezembro.

Em 2 de Março de 2009 Vieira é assassinado por militares leais ao Chefe do Estado-Maior do Exército, general Tagme Na Waie, de etnia balanta, morto no dia anterior num atentado à bomba.


1. Mensagem de Albano Costa (Guifões, Matosinhos)

Eu estava na Guiné, em 2000, quando se deu um golpe de estado na Guiné-Bissau (*).

Queria deixar uma palavra de conforto para os familiares e amigos dos nossos colegas portugueses que estão hoje na Guiné-Bissau em missão de solidariedade e turismo de saudade.

Devem estar descansados, porque os guineenses são um povo que sabe destrinçar as coisas, ao contrário do que muitas vezes se pensa deles, isto quero dizer pela experiência que tive, os estrangeiros e principalmente nós portugueses somos sempre muito bem aceites, eles vão ter o cuidado de informar que nada lhes vai acontecer e que vão poder continuar o seu percurso normal por terra da «nossa» Guiné-Bissau.

Aos familiares e amigos podem ficar descansados que tudo vai seguir o seu percurso normal com um pequeno senão, que é uma pequena tensão, o que é normal, e quando regressarem, ficam logo com saudades de lá voltar.

Também queria deixar aqui um abraço de esperança ao povo da Guiné-Bissau, para que ultrapassem mais este percalço no seu país, e que há sempre vida para além da morte.

Um abraço de amizade e conforto para todos,
Albano Costa
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Nota de L.G.

(*) Vd. último poste da série Nuvens negras sobre Bissau > 3 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3968: Nuvens negras sobre Bissau (10): Voluntários da missão humanitária 2009 a distribuir água pelos militares nas ruas da capital

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2538: Guineenses da diáspora (2): António Rocha, economista, casado com Juvelina Cabral, irmã de Amílcar Cabral

Guiné-Bissau > Bissau > 1998 > "Almoço no Clube de Caça da Anura, em 1998. Eu sou o segundo do lado direito, no primeiro plano. O segundo do lado esquerdo, no primeiro plano, é o Rocha, economista, casado com a Juvelina Cabral (irmã do Amílcar Cabral), que moravam na altura em Bissau (estão actualmente em Angola).

"Mesmo de frente, o homem de bigodes é o comandante do navio mercante que trouxe os portugueses quando se deu o golpe de Ansumane Mané (1); ao seu lado direito está o gestor da GUIPOR (empresa detentora da exploração do Porto de Bissau, na altura em mãos de portugueses)" (2).

Foto e legenda: © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.


1. Mensagem do António Rocha, enviada ao A. Marques Lopes, com conhecimento ao editor do blogue:


Assunto - Guiné da minha saudade, Guiné da minha tristeza

Caro A. Marques Lopes:

Eu sou o Rocha, o economista casado com a Juvelina Cabral e que agora reside e trabalha em Angola e que, num dia de 1998, creio que pouco tempo antes da guerra civil da Guiné (1), teve o prazer de o conhecer, curiosamente na companhia daquele que seria o nosso Comandante salvador.

Creio que já há cerca de dois anos quando fazia uma pesquisa relacionada com a família Cabral, descobri, num dos primeiros sites da lista de resultados, a vossa tertúlia Luís Graça & Camaradas da Guiné, que no excerto de apresentação fazia referência a mim e à minha mulher.

Claro que fui imediatamente ao sítio do blogue e lá descobri o seu artigo com a fotografia no Clube de Caça de Anura (publicado em 7 de Agosto de 2005)(2), e resolvi escrever o texto seguinte, o qual enviei para o e-mail do Professor Doutor Luís Graça.

Curiosamente hoje, quando estava a reorganizar o Outlook (que há muito tinha deixado de usar) descobri que o tal e-mail ainda estava no arquivo de "a enviar".

Então revisitei o Blogue e entendi reenviar o texto mas, agora, também para si uma vez que lá descobri o seu endereço.

Já agora também lhe digo (porque vi que é de ou mora em Matosinhos ou Porto) que sou nascido e criado no Porto e durante muitos anos trabalhei em Matosinhos e em Leça, na Petrogal.

O texto que na altura julguei ter enviado foi o seguinte:

"Luís Graça e amigos,

Não poderei considerar-me do vosso grupo, no sentido em que não fui combatente nem na Guiné, nem na guerra colonial.

Consegui escapar, com muita artimanha e também por real incapacidade física (visual). Fui, sim, um combatente contra a guerra colonial, nas trincheiras da oposição anti-fascista, nos débeis períodos eleitorais e nas manifestações da universidade.

Respeito muito quem foi forçado a entrar nessa triste guerra, mas também respeito quem, na altura, se sentia na obrigação e com vontade de defender a pátria e o "glorioso império" português.

Mas entendo ter algo a ver com o vosso grupo porque amo e choro, todos os dias, a minha querida Guiné. A Guiné para onde quis dar o meu contributo voluntariamente em 1985 e me mantive até 2000 (com ano e meio de interregno causado pela guerra), a Guiné onde encontrei a mulher da minha vida, a Guiné que eu vi nascer para a democracia, a Guiné pátria do ídolo da minha juventude - Amílcar Cabral -, mas também a Guiné onde deixei amigos vivos e muitos mortos, a Guiné da minha tristeza diária, a Guiné que tarda em encontrar o caminho e que tanto me faz sofrer.

Eu sou o Rocha, o tal economista que o Coronel A. Marques Lopes refere no Blogue Nove Fora Nada, aquando da sua visita à Guiné em 1998 e que está na fotografia do Clube da Anura (2).

De facto ainda me encontro em Angola, juntamente com a Juvelina, minha mulher, e o nosso neto/filho João Carlos, há quase 7 anos!

Mas, não há um único santo dia que a primeira coisa que faça, não seja ler as notícias sobre a Guiné. Sou um viciado amante da Guiné que há muito só me tem dado motivos para chorar, para me revoltar.

Por isso não serei a melhor companhia para vocês que, passados tantos anos conseguem ver as coisas doutra maneira, que conseguem encontrar sempre algo de positivo ou até de belo nas vossas andanças por aquelas terras.

Isso é muto bonito e encorajo-vos a continuarem a recordar esses tempos tão significativos das vossas vidas, com a serenidade de quem consegue, hoje, ver no antigo adversário um amigo.

Eu só quis intervir para vos dizer que aprecio o vosso blogue, a vossa amizade e solidariedade e, sobretudo, o vosso contributo para o esclarecimento desta época, talvez a mais importante da nossa história contemporânea.
Por mim, despeço-me com amizade, até um dia em que possa intervir com mais serenidade e com o distanciamento e lucidez que vocês conseguem.

Até lá serei vosso atento leitor.

Desejo a todos muitas felicidades e muita saúde e que esta tertúlia se prolongue por muitos e bons anos.

António Rocha - O tuga-guineeense."


Creio que, apesar de decorridos 2 anos, nada teria a mudar deste texto. Continuo a ter os mesmos sentimentos pela Guiné e a sofrer da mesma maneira porque, infelizmente, as coisas não melhoraram, antes pelo contrário...

Só gostaria que um de vós me fizesse o favor de me informar se o endereço da v/ tertúlia é o mesmo pois constato (no que acedi, http://blogueforanada.blogspot.com/) que não foram acrescentadas mensagens recentes (3).

De qualquer modo desejo a todos muita saúde e até um dia.

Grande abraço

António Rocha

2. Comentário do editor L.G.:

António (e Juvelina):
É bom saber de vocês... Gostei muito de ler a tua mensagem que esteve dois anos à espera de ser enviada (permite-me que te trate por tu, por que isso simplifica muita coisa). É de um grande tuga e de um grande guineense.... Lamento muito que tenhas sido obrigado a sair da tua Guiné, e que haja tanta amargura e tanta saudade no teu coração... Fico feliz por saber que te faz bem ler o nosso blogue e que aprecias muitas das coisas que por cá publicamos... Formamos uma Tabanca Grande onde tu e a tua Juveliana seguramente que cabem... Aparece mais vezes, sempre que quiseres e puderes. Se for a Angola, gostaria de te conhecer pessoalmente. Um abraço solidário.

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Notas de LG:

(1) O brigadeiro Ansumane Mané liderou, em Junho de 1998, um levantamento militar, a partir do quartel de Mansoa, e que levaram a uma sangrenta guerra civil. Na altura, cerca de 3 mil estrangeiros, incluindo portugueses, tiveram que fugir do país. Ao fim de onze meses, a rebelião acabaria por levar ao afastamento do então Presidente Nino Vieira, e colocar no poder uma Junta Militar liderada pelo brigadeiro.
Ansumane Mané será entretanto morto, alegadamente em combate, nos finais de Novembro de 2000, no decurso de uma também alegada tentativa de golpe de Estado contra o Presidente Kumba Ialá, entretanto eleito.
(2) Vd. poste de 7 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLV: Bissalanca, Bambadinca, Anura... ou três fotos com legenda (1) (A. Marques Lopes)

(3) Desde Junho de 2006, estamos na 2ª série do blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné. E formamos uma tertúlia ou Tabanca Grande onde cabem todos os amigos da Guiné e do seu povo... Reservamos, naturalmente, a palavra camarada para os ex-combantentes, portugueses, independentemente da sua posição (político-ideológica) face à guerra colonial / guerra do ultramar...

sábado, 6 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2159: PAIGC - Quem foi quem (3): Nino Vieira (n. 1939)

Dos editores do blogue> Série em construção, PAIGC - Quem foi quem ... (1). Contributos de todos os amigos e camaradas serão bem vindos, tendo em vista actualizar, completar, aprofundar ou esclarecer estas notas biográficas. (Os editores LG/CV/VB)

Nino Vieira (n. 1939)

Um guerrilheiro e uma lenda viva.


João Bernardo Vieira, Nino Vieira, Nino ou Kabi Nafantchammma como também era chamado, foi uma personalidade que nos acompanhou ao longo dos anos que durou a guerra.

Uns só ouviram falar dele, outros, principalmente os que estiveram no sul do território, sentiram na pele as acções em que directa ou indirectamente esteve envolvido.

Nino nasceu em Bissau, em 27 de Abril de 1939.
Electricista de formação, filiou-se no PAIGC em 1960 e no mesmo ano partiu para a China, integrado no primeiro grupo de militantes do PAIGC que frequentou a Academia Militar de Pequim.

De volta à Guiné, foi encarregado de organizar a estrutura militar da guerrilha no Sul do território.

E teve logo que provar na prática o que tinha aprendido. Nos inícios de 1964, durante a Operação Tridente, forças do BCAV 490, fuzileiros, paraquedistas e comandos, comandadas pelo Tenente-Coronel Fernando Cavaleiro reocuparam (enquanto lá permaneceram...)a ilha de Como (ou Komo), numa acção que durou cerca de 70 dias e que custou às NT 9 mortos, 47 feridos e um T6 abatido.

Com 25 anos apenas, Nino já era o Comandante Militar da zona sul, que abrangia a região de Catió até à fronteira com a Guiné-Conacri. Aliás, foi quase sempre no Sul que actuou durante a luta, transformando esta zona, que abrangia o Cantanhez e o Quitafine, num dos mais duros, senão o mais duro, de todos os teatros de operações em que as forças portuguesas estiveram empenhadas e do qual ainda restam nomes míticos de Guileje, que ele veio a ocupar em 1973, Gadamael, Gandembel, Cacine, Catió, Cufar, Cadique, Bedanda e tantos outros.

Além da indesmentível coragem, Nino teve também pelo seu lado a sorte que faz os heróis sobreviverem, e foi essa sorte que lhe permitiu escapar por várias vezes a emboscadas montadas pelas forças portuguesas, sendo o caso mais conhecido o da Operação Jove, em que uma força de páras capturou o capitão cubano Pedro Peralta.

Embora se tenha dedicado principalmente à actividade operacional, como comandante de unidades de guerrilheiros, Nino Vieira ocupou os mais altos cargos na estrutura do PAIGC, sendo membro eleito do bureau político do seu Comité Central desde 1964, vice-presidente do Conselho de Guerra presidido por Amílcar Cabral em 1965, acumulando com o comando da Frente Sul, e ainda comandante militar de todo o território a partir de 1970.

Foi eleito deputado em 1973 e, posteriormente, Presidente da Assembleia Nacional Popular, que proclamou no Boé a República da Guiné-Bissau, em 24 de Setembro de 1973.
Luís Cabral nomeou-o 1º Ministro do Governo da Guiné-Bissau em 28 de Setembro de 1978.
Em 1980, com as condições económicas deterioradas e o crescente descontentamento da população, Nino Vieira liderou um golpe militar que levou à destituição do Presidente da República, Luís Cabral.

As consequências do golpe tiveram profundas repercussões na vida do PAIGC. O PAIGC de Cabo Verde resolveu separar-se e a união dos povos guineense e cabo-verdiano, tão acarinhada por Amílcar Cabral, foi interrompida.
Na sequência do pronunciamento militar, suspensa a Constituição da República da Guiné-Bissau, tomou posse o Conselho Militar da Revolução chefiado por Nino Vieira.

Em 1984 foi aprovada uma nova Constituição e só em 1991 terminou a proibição dos partidos políticos.
Com o novo regime, as primeiras eleições tiveram lugar em 1994. Nino Vieira, concorrendo contra Kumba Yalá, foi eleito Presidente da República à 2ª volta, tomando posse em 29 de Setembro de 1994.

Quatro anos depois, ainda conseguiu suster um golpe que visava a sua destituição. Mas não por muito tempo. A propósito de um nunca esclarecido fornecimento de armas para a guerrilha de Casemance, em Junho de 1998 travou-se uma violenta guerra civil entre partidários de Ansumane Mané e forças fieis a Nino. Mané destituiu-o em 7 de Maio de 1999, e Nino Vieira foi obrigado a refugiar-se na Embaixada Portuguesa em Bissau, de onde só saiu em Junho para Portugal.

Em 7 de Abril de 2005, regressou a Bissau anunciando a sua candidatura às presidenciais de Junho de 2005.
Depois de várias controvérsias, a sua candidatura foi aceite. Concorreu contra o seu antigo Partido, o PAIGC, que apresentou Malan Sanhá como candidato. Depois de ter ficado atrás de Malan na 1ª volta, Nino ganhou à 2ª, principalmente devido a apoios de outros candidatos, nomeadamente de Kumba Yalá.

Fonte: Universidade de Coimbra > Centro de Documentação 25 de Abril
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Nota dos editores:

(1) Vd. posts anteriores:

Guiné 63/74 - P2142: PAIGC - Quem foi quem (1): Amílcar Cabral (1924-1973)

Guiné 63/74 - P2143: PAIGC - Quem foi quem (2): Abílio Duarte (1931-1996)