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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14134: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (93): Três Antónios, três pequenas histórias... Em honra do Cessna dos TAGP e do Comandante Pombo (António J. Pereira da Costa, António Santos, António Graça de Abreu)




Guiné > s/l > s/d > Imagem do Cessna, vermelho, pilotado pelo Comandante Pombo, dos Transportes Aéreos Civis da Guiné, em que o nosso camarada Álvaro Basto fez várias viagens enre o Xitole e Bissau, nos anos da sua comissão (1972/74).


Foto: © Álvaro Basto (2007). Todos os direitos reservados.

 1. Três pequenas histórias, contadas por Antónios, em honra do teco.teco, branco e vermelho dos TAGP - Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa e do comandante Pombo (*).



(i) António José Pereira da Costa

Aqui vai uma história do Cmdt Pombo.

Creio que em Fevereiro de 1973, o (na altura) Cap. Art Otelo Saraiva de Carvalho apareceu em Mansabá com uma jornalista sueca. A coluna do Batalhão trouxera-os até Mansabá onde almoçaram e eu teria de os ir entregar ao Batalhão de Farim, onde tomariam o avião dos TAGP.

A jornalista era uma velhinha magrinha e calçada com umas sabrinas de pano e que estava interessadíssima em ver hospitais e igrejas. Não tínhamos hospital, mas a nossa enfermaria era bastante boa. A igreja era sempre improvisada quando necessário.

Apesar de tudo, as coisas correram bem e eu creio que a senhora estava satisfeita. Organizámos a coluna e recorri a um jeep emprestado pelo administrador de Mansabá dado o estado físico da senhora, mas que... não tinha travões. Talvez porque estivéssemos atrasados, um pouco antes do K3 num troço recto e de bom piso da estrada, o Cmdt Pombo surgiu à vertical da coluna e no mesmo sentido. "Fez-se à pista" e aterrou à frente da primeira viatura. Deu a volta ao avião,  recolheu os dois VIP e, sem desligar o motor, descolou de novo em direcção a Bissau.


(ii) António Santos:


Eu também tive uma experiencia aérea civil, que pelo que entendo só pode ter acontecido com o Cmdt Pombo.

Estávamos em Ago73 e,  tendo férias marcadas para Lisboa com a data de embarque na TAP a aproximar-se,  dia 22, não havendo TPT [, transporte por terra,]  para Bissau por esses dias, a solução foi adquirir bilhete pelos TAGP.

Se não falho,  a coisa custou quase metade do pré cá do rapaz,400,  e talvez 3 ou 4 notas de 100 pesos.  Enfim, o seu valor não consigo precisar mas, anda lá perto.

Ora nesse dia (época das chuvas), a coisa estava feia, chuvia e abanava como a malta sabe como era, o CESNA abanava e não era pouco, Depois de passar o Xime,  o Cmdt meteu o avião por cima do Rio Geba porque a coisa junto às palmeiras também não dava. Mais um pouco e o CESNA passava a ser submarino. A coisa próximo de Bissau estava muito melhor e foi ver o transporte picar direito ao azul do céu.

E pouco depois estávamos em Bissau,  com os pés no chão e já a pensar em Lisboa.


(iii) António Graça de Abreu



Voei uma vez no CESNAna com o comandante Pombo. Aqui vai a descrição da viagem de Bissau para Catió, com escala em Empada, no meu Diário da Guiné,em Março de 1974.

"Vim na avioneta civil, o Cessna dos TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) e só havia cinco lugares, todos ocupados.

Ainda não tinha experimentado voar nestes aviões pequeninos, mais bonitos e confortáveis do que as DOs. De manhã, no Depósito de Adidos onde se trata das viagens dentro da Guiné, ouvi falar num avião civil fretado pelo exército para transportar oficiais com destino a Empada e Catió. Agarrei-me logo. De Catió a Cufar podia fazer os dez quilómetros por estrada.

Saímos de Bissau, voámos sobre Tite e a região do Quínara, atravessámos o rio Grande de Buba direitinhos a Empada, um aquartelamento importante já no sul da Guiné. Descemos em Empada, onde saíram dois alferes e entrou o meu coronel (o páraquedista, João José Curado Leitão) que estava na povoação numa espécie de visita de inspecção.

Fiquei admirado com a forma como voam os aviões civis. Já havia constatado que não tomam aquelas precauções todas contra os mísseis terra-ar do PAIGC, ou seja voar a mais de dois mil metros ou a “rapar”, logo acima do solo, ou subir e descer em parafuso sobre as pistas de aviação. Foi a vez de experimentar pelos céus do sul da Guiné um voo quase normal, embora estivéssemos perfeitamente ao alcance dos mísseis IN, tanto mais que sobrevoámos à descarada zonas onde os guerrilheiros se movimentam à vontade.

Deve ser verdade, eles não atacam aviões civis e a avioneta, vermelha e branca é facilmente identificável cá de baixo. Se nos tivessem mandado abaixo seria um grande “ronco”, éramos quatro alferes e, de Empada para Catió, ainda um coronel, o meu chefe. Estas avionetas civis continuam a voar quase como nos bons velhos tempos e como o Cessna vinha relativamente baixo, distinguiam-se nitidamente os trilhos utilizados pela população e pelos guerrilheiros nas áreas que controlam. Semi-escondidas nas florestas, adivinhavam-se umas tantas aldeias."

2. Alguns comentários aqui deixados no nosso blogue sobre o comandante Pombo [vd. também o blogue dos Especialistas da Baase Aérea 12 Bissau):

(i) "O Comandante Pombo foi durante os primeiros 5 ou 6 anos da Independência da Guiné, piloto e um dos responsáveis da TAGB, transportes aéreos da Guiné.Bissau" (Septuagenário, 6/1/2008).

(ii)  "Estive na Guiné em 1960/63 e o Zé Pombo foi o amigo dos bons e maus momentos, fomos mantendo contacto até 1963, intermitente e mais certo, até 1968. Ainda hoje o considero um grande amigo, mas gostaria que um dia, antes que seja demasiado tarde, me permita dizer quanto apreciei a sua amizade, o seu companheirismo. É bem fácil, no Skype ou no Facebook! Ana Bela (30/11/2013).

(iii) Sim, há notícias dele, da parte de uma filha e de um filho, no blogue dos Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74... Nome completo: José Luis Pombo Rodrigues, ten pilav reformado (...,) "Ele foi viver para o Brasil (Maricá) perto do Rio,em agosto de 2010. Estou a ver se vou lá ter com ele brevemente pois morro de saudades. Tinha sido operado no hospital da Força aérea ao fémur e fez fisioterapia e voltou a andar. Já está reformado. Esteve muitos anos no antigo Zaire em Kinshasa a trabalhar como piloto da companhia Sicotra Aviation(Avião de carga).Conhece o grande amigo dele, o general Avelar de Sousa? Estive com ele há umas semanas num almoço de confraternização da polícia. Vá dando notícias. Vou seguindo o blogue que me parece excelente!" (...) (Luís Graça, 25/2/2014)

(v) "Quero também aqui homenagear o Pilot.Pombo que foi mais de uma vez fazer evacuações a Gadamael..pilotava um pequeno Cessna..julgo eu..que tinha instrumentos de navegação nocturna e que era logicamente pago pelo serviços que fazia, mas isso não lhe retira mérito" (C. Martins, 29/4/2012),

(vi) "Era muito apreciado pelo governo de Luís Cabral. Fazia viagens num avião dos TAGB, para Dakar e Caboverde. O avião do TAGB e o comandante Pombo ainda sobreviveram a Luís Cabral (1980) e trabalhou com o governo de Nino Vieira algum tempo. (...) "Em Bissau havia um mono-motor que fazia viajens para Bubaque mas era tão velho e a manutenção era tão duvidosa, que se dizia que só com o Pombo é que aquilo funcionava. E de facto, mais tarde aquele teco-teco pregou um grande susto a uns turistas que aterraram numa bolanha de arroz, foi só o susto e parece-me que o fim do aparelho." (Antº Rosinha, 7/5/2014).

(vii) "Também gostaria de saber notícias do Sr. Comandante José Luis Pombo, pois tive o privilégio de o conhecer e de viajar com ele. Fiz duas viagens entre Bissau e Bubaque, no Arquipélago dos Bijagós, na altura da Páscoa de 1974. Lembro-me que entre Bubaque e Bissau, tivemos de viajar "rente ao mar" por razões de "segurança de voo" , e deixou-me pilotar (era uma avioneta dos TAGP com dois comandos), apenas não aterrei no Aeroporto! seria bonito .... Lembro-me também que a torre de controlo mandou-nos aterrar primeiro, para um Boeing da TAP levantar, que por acaso levava a equipa do Porto, que tinha ido jogar a Bissau na altura da Páscoa do ano de 1974. Tenho uma fotografia com ele, tirada pelo meu pai, junto ao avião, na linda pista de conchas de Bubaque. A forma como ele se fazia à pista, era única e identificava-o logo. Mando de aqui um grande abraço e cumprimentos para este ilustre comandante aviador, conhecido na altura, como "Capitão Pombo". (Luís Gonçalves Vaz, 7/5/2014).

(viii) "Folgo muito em saber que o Comandante Pombo ainda se encontra entre nós... Um dia foi fazer uma evacuação a Gadamael..já ao anoitecer..a FAP estava impedida por ordem do COM.CHEFE..só pediu que iluminássemos a pista..o que se fez com umas "rodilhas" impregnadas de petróleo em garrafas... Comandante Pombo, um "herói mítico" da Guiné, toda a gente falava dele com admiração".
(C.Martins, 9/5/2014)

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Notas do editor:

(*) 8  de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14129: O nosso livro de visitas (181): Parabéns, comandante Pombo, ex-piloto dos TAGP e dos TAGB (Maria João Pombo Rodrigues)

(**)  Último poste da série >  31 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14101: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (91): O Alfarrabista Eduardo Martinho, amigo de Mário Beja Santos, foi Furriel Miliciano do Pel Rec da CCS do BART 2861, logo camarada do nosso tertuliano Furriel Enfermeiro, Ribatejano e Fadista Armando Pires

sábado, 13 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13605: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (5): O libanês, ou melhor, a libanesa de Nova Lamego (António Santos, ex-sold trms, Pel Mort 4574/72, 1972/74)


Guiné > Região de Bagu > Nova Lamego > Pelo Mort 4574/72 > O António Santos operando [, ou posando para a fotografia com ] um Racal TR 28-B2. Foto  tirada nas traseiras do edificio do comando em Nova Lamego.

Foto: © António Santos (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Mensagem do António Santos ], grã-tabanqueiro da primeira hora, ex-sold trms, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74],

Data: 11 de Setembro de 2014 às 22:30

 Luís, Vinhal e Cardoso.

Abraços para todos.

Agradeço a partilha deste texto do Joaquim, que como todos os outros nos transporta por momentos à nossa Guiné, e por conseguinte às boas ou menos boas lembranças que todos nós transportamos.

Para acrescentar ao texto do Cardoso, se isto for possível. Eu, o que recordo mais  é do libanês que se situava em frente ao CAOP, E a mulher que era boa como o milho!

Assim que entrávamos na loja,  o Libanês tratava logo de a fazer desaparecer para a parte de trás da mesma,  Recordo que as minhas visitas poucas vezes eram de cliente, era mais de olheiro, (como no futebol). Hoje diria., mais apropriadamente,  que ia "lavar a vista".

Andei dois anos a visitar a loja e poucas vezes fui cliente, normalmente andava com os bolsos vazios, e isto porque para lá chegar passava quase e sempre pelo Jacó onde gastava o pouco que havia no comes e bebes.

Dou por terminada a minha pequena recordação do libanês, ou melhor,  da libanesa.

Despeço-me com valente alfa bravo.
ASantos
SPM 2558

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13597: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (4): os comerciantes de Nova Lamego... Era gente de confiança ? (Joaquim Cardoso, ex-sold trms, Pel Mort 4574, 1972/74)



Guné > Região de Gabu > Nova Lamgo > Pel Mort 4574 (1972/74) > Eram tapetes, de estilo oriental, com motivos exóticos (como a fauna e a flora africanas), que os militares  compravam aos comerciantes libaneses. Eles também aproveitaram a "economia de guerra" (LG).

Fotos: © Joaquim Cardoso  (2014). Todos os direitos reservados.



1. Mensagem de Joaquim Cardoso [, ex-sold trms,   Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74],, com data de 17 de agosto passado:


Olá, caro amigo Vinhal

Este simples Olá, é o cumprimento sugerido, em e-mail do nosso " Comandante "Luís Graça, em gozo de férias (?), que, apesar de simples, encerra nele toda a minha consideração, esperando, estou certo, que te encontrarás muito bem por essas praias Matosinhenses, tomando banhos de água e sol.

No dito e-mail, o Luis refere-se também ao estado da sua nova anca e, pelo que diz, está em evolução muito positiva. Ainda bem, pois certamente toda a tertúlia espera que em breve fique em condições de fazer parte de uma qualquer corrida de atletismo ou até de tríplo salto!

Comento de seguida o tema que o Luís colocou, relativo aos Libaneses na Guiné (*):

Tendo estado em Nova Lamego em 1972/74,  direi, sem ter a certeza, que nessa altura na localidade, não chegariam a meia dúzia os estabelecimentos pertencentes a Libaneses, onde se vendiam entre outras coisas, tapetes de estilo oriental, idênticos aos das fotos que junto, adquiridos esencialmente por militares para suas recordações, e tecidos para a feitura de panos com que as nativas tapavam algumas das suas "vergonhas".

Partindo do pressuposto, que essas pessoas eram refugiadas de guerra no seu País, o seu refúgio na Guiné, também em guerra, era por isso muito polémico.

Era voz corrente que, sendo os militares os maiores compradores, esses comerciantes estariam interessados na continuação do conflito por forma a manter os seus negócios, colaborando por isso com o IN. Dizia-se também que, sempre que houvesse encerramento temporário dos seus estabelecimentos, estava à vista ataque iminente!


A ser verdade, é evidente que teriam informação antecipada, por parte do nosso adversário, permitindo-lhes, assim, a possibilidade de se ausentarem do local ou tempo suficiente para uma melhor proteção.

Nessa altura, nos dois principais ataques com foguetões a Nova Lamego, em que felizmente nada de grave aconteceu, não vi, nem obtive informações que dessem firmeza à versão desses procedimentos.

Termino, deixando estes simples apontamentos à consideração, com um fortíssimo abraço a todo o pessoal.

J. Cardoso
Ex-Sold. Transmissões em Nova Lamego - Guiné , 
1972/74 

[. Foto acima, com o António Santos, também do Pel Mort  4574, à sua direita, no posto de rádio]
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Nota do editor:

domingo, 15 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13289: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (29): Monte Real, 14 de junho: As primeiras fotos: a "receção" junto ao parque de estacionamento do Palace Hotel Monte Real


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 >  Da esquerda para a direita, o Jorge Picado (Ílhavo) e o Ernestino  Caniço (Tomar) (médico em Abrantes, já foi diretor do Centro Hospitalar Médio Tejo).


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Da esquerda para a direita, o nosso editor Luís Graça, o Idálio Reis  (Cantanhede) e o Alexandre Coutinho e Lima (Lisboa). Estes dois últinos estão indissociavelmente associados a dois topónimos míticos da guerra no sul da Guiné: Gandembel e Guileje.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 >  Dois camaradas do norte, dois Eduardos, (i) o Moutinho Santos (Porto), à direita (atual régulo da Tabanca Pequena de Matosinhos); e (ii) e  o Campos (Maia) (que na véspera tinha vindo do sul, de Albufeira, foi a casa pôr a esposa que já estava cheia de saudades dos netos e que voltou a rumar ao sul, para não faltar ao nosso encontro). Em segundo plano, o Miguel Pessoa (de costas) (, membro da comissão organizadora do ecnontro)  e o António J. Pereira da Costa, ambos coronéis reformados, um da FAP, outro do exército.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > O António Santos, um rapaz de "Nova Lamego"  (que vive em Caneças, Odivelas); e, em segundo plano, o "Custóias",  o Joaquim Almeida (que veio da Maia).

As primeiras fotos: a "receção" junto ao parque de estacionamento do Palace Hotel Monte Real. Desta vez o nosso editor veio de "muletas", ainda a recuperar de uma artroplasta total da anca (da perna direita), pelo que não não pôde tirar as fotos que costuma tirar (e que  gostaria ter tirado). Essa tarefa ficou a cargo dos "fotógrafos oficiais" do Encontro, o Manuel Resende, o Jorge Canhão, o  Miguel Pessoa, o J. Casimiro Carvalho e "outros espontâneos"...

O nosso encontro de 2014 teve as 145 presenças previstas... O dia esteve magnífíico... E a oganização esteve impecável.  LG

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de junho de 2014 >  Guiné 63/74 - P13288: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (28): Monte Real, 14 de junho: votos dos ausentes Margarida Peixoto (Penafiel) e Abílio Duarte (Lisboa)

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13263: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (18): 14 mesas, de 10 lugares cada uma, com os nomes das localidades que foram sedes de batalhão ao longo da guerra... Mas cada participante (camaradas e seus acompanhantes) senta-se onde muito bem lhe aprouver...Não há lugares marcados à sombra do poilão da Tabanca Grande ...

I. A comissão organizadora teve a ideia de dar nomes às mesas. Nomes da toponímica da Guiné do nosso tempo.  O Joaquim Mexia Alves foi mais longe: "Já agora, e se for adoptada a ideia dos nomes das mesas, sugeria, para não haver susceptibilidades, que a ser feito, fossem nomes de sedes de batalhão. assim já não se mediam 'mportâncias', digo eu..."

O nosso assessor militar, José Martins, é que nos forneceu a lista de localidades (28) onde estiveram sediados Batalhões, durante toda a campanha:

Aldeia Formosa
Bafatá Bambadinca Bigene Bissalanca Bissau Bissorã Bolama Brá Buba Bula
Cadique Catió Cumbijã Cumeré
Fá Mandinga Farim
Gadamael Galomaro
Ingoré
Mansabá Mansoa
Nova Lamego
Pelundo Piche
S. Domingos
Teixeira Pinto e Tite

Se optarem por nomes de unidades do recrutamento geral, são menos (13 do exército), não incluindo o Batalhão e 3 companhias de Comandos Africanos:


1ª CCaç Indígena > CCaç 3
3ª CCaç Indígena > C. Caç 5
4ª CCaç Indígena > CCaç 6
CCaç 11 < CArt. 11
CCaç. 12 < CCaç 2590
CCaç 13 < CCaç 2591
CCaç 14 < CCaç 2592
CCaç  15 < CCaç Balanta
CCaç 16
CCaç 17
CCaç 18
CCaç 20
CCaç 21

Votos de uma óptima "campanha" de amizade e convivio.

Ab Zé Martins

II. Agrupadas por afinidades geográficas, chegámos à seguinte lista, com 14 grupos, correspondentes a outras tantas mesas (Atenção: não há lugares reservados, com exceção talvez do António Santos que leva com ele toda a família, num total de 9 pessoas; cada mesa tem 10 lugares; cada participante senta-se onde muito bem entender; dar um nome às mesas, ajuda-nos depois a facilitar o pagamento das inscrições e é também,  uma forma de homenagear algumas das principais povoações daquela terra verde e vermelha onde passámos dois anos da nossa juventude; a impressão dos  14 cartões para identificação das mesas foi uma gentileza da empresa Noprodigital, com sede em Odivelas, a que estão ligados o António Santos e respetiva família):


1. Bissau / Brá / Bissalanca / Cumeré

2. Fá Mandinga / Bambadinca

3. Bafatá / Galomaro

4. Nova Lamego / Piche

5. São Domingos / Ingoré / Bigene

6. Farim / Bissorã. 

7. Bula

8. Teixeira Pinto / Pelundo

9. Mansoa / Mansabá

10. Tite

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13235: Artistas de variedades no mato (1): Rui Mascarenhas... em Bafatá, anunciado para o dia 27/2/1973... Ou uma história com moral: voluntário na tropa nem para comer... (António Santos, ex-sold trms, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74)

1. Mensagem do António Santos, grã-tabanqueiro da primeira hora [, ex-sold trms, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74], respondendo a um  mail nosso, enviado pelo correio interno da Tabanca Grande, na sequência do poste P13233 (*):

Camaradas:  Quem se tembra de espetáculo de variedades no mato ? E com que artistas ? E em que épocas ? Podiam ser iniciativas do Programa das Forças Armadas ou o Movimento Nacional Feminino... Se sim, mandem histórias e fotos... Obrigado. Luís Graça

Data: 4 de Junho de 2014 às 16:18

Assunto: Artista no mato

Caro Luís

Espero que estejas a recuperar bem desse esqueleto.

Uma pequena estória sobre o assunto em epígrafe: no dia 27-02-1973, saí da enfermaria [, em Nova Lamego,] para dois dias de convalescença de mais uma dose de Paludismo, portanto dois dias sem escala de serviço. Ao sair da mesma fui convidado a ir numa coluna para Bafatá para assistir a um espectáculo do Rui de Mascarenhas.

Claro que não resisti e vai daí saltei para a Berliet. A viagem era para ser de ida e volta no mesmo dia, mas não foi.

Não foi porque infelizmente morreu um camarada nosso afogado no Rio Geba, e o Ten Cor de Bafatá não autorizou o espectáculo. Depois descambou tudo, tivemos que ficar para o outro dia, acabamos por dormir numa caserna de um pelotão que tinha saído para o mato, jantar, lerpámos, pequeno almoço idem, Arrancamos para o Xime que ainda era a casa da CART 3494 do Sousa de Castro e de um amigo meu que foi 1º cabo enfermeiro da a mesma e que descobri in loco.

De novo Bafatá e depois de algum barulho lá se arranjou uma ração de combate para dois, e seguimos para a tua Contubuel para recolher 2 Pelotões de Mililícias destinados à zona de Nova Lamego, onde chegamos ao fim do dia 28-02-1973... sem Rui de Mascarenhas, cansados e maltratados moralmente.

Para mim chegou, voltei a aplicar a velha máxima, voluntário na tropa nem para comer, que eu na véspera tinha esquecido.Cumprimentos,
António Santos

[foto à direita: II Encontro Nacional da
 Tabanca Grande, Pombal, 2007]

Noprodigital, Lda.
Tel.: +351 219 809 880
Fax: +351 219 809 889
www.noprodigital.pt

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Nota do editor:

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Guiné 63/74 – P13114: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (2): Respondam à nossa sondagem, inscrevam-se já e surpreendam-nos com mais um razão a acrescentar às 10 razões fundamentais por que devemos estar todos juntos, em Monte Real, no próximo dia 14 de junho...

Cartaz comemorativo do 10º aniversário do nosso blogue. Design:
Miguel Pessoa (ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)
1. Mensagem enviada à toda a Tabanca Grande, pelo correio interno:

Amigos/as e camaradas:

Iniciámos, ontem, de manhã, um sondagem, no nosso blogue, que irá decorrer até ao dia 14... Precisamos de fazer uma estimativa do nº de convivas para o nosso próximo encontro, o IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, em 14 de junho próximo, em Monte real, Leiria...

É também o encontro comemorativo dos nossos 10 anos de existência como blogue e como comunidade virtual (e real) de antigos combatentes, camaradas (e amigos) da Guiné... Dez anos são o equivalente a 5 comissões de serviço na Guiné... E a guerra, dizem, não demorou muito mais,. se aceitarmos que começou, em Tite,  a 23 de janeiro de 1963...

Eu sei que os tempos não estão fáceis, se é que alguma vez estiveram, desque nos calhou na rifa nascer neste país à beira mar plantado, no final da primeira metade do séc. XX, uns ou no início da segunda metade do séc. XX, outros. Os progenitores não se escolhem nem, com eles, a Pátria e a língua com que se balbuciam as primeiras palavras, as primeiras, as primordiais, as decisivas. Nascemos em Portugal, num tempo difícil, somos portugueses, falamos português (99 e tal por cento dos nossos grã-tabanqueiros) e temos orgulho nisso...

A Tabanca Grande é o ponto de reunião de uma geração em vias de extinção... Um, dia, o último de nós vai mesmo ter que fechar a tampa do caixão... Metaforicamente falando, claro está. O que diremos então  aos nossos filhos, netos e bisnetos ? Há 10 anos que nos preocupamos com isso, e tentamos falar com eles. Com pudor, com discrição, se calhar sem grande eificácia comunicacional... Ou talvez não: há cada vez mais filhos e netos, a perguntar por pais e avós que fizeram a guerra da Guiné, nos já longínquos anos 60/70...

Fomos melhores ou piores que outros pprtugueses de outras gerações ? A dos nossos pais, avós, bisavós... Nem piores nem melhores, simplesmenrte diferentes, com a vantagem de termos, agora com a Internet (que nasceu no início dos anos 1990), um plataforma de diálogo, comunicação, informação, partilha, interação...

Dez anos da Tabanca Grande merecem ser celebrados, mesmo com sacrifício. Já não há almoços (nem encontros) grátis, avisem-nos os econometristas que mandem neste mundo e na nossa terra. Além das 30 morteiradas, temos que pagar combustível e portagens para chegar ao centro da nossa Tabanca Grande que vai ser, mais uma vez, Montre Real.

Ocorreu-me que, mais uma vez, podíamos partilhar jipes, unimogues, berliês, GMC, mercedes, matadores, daimlers, chaimites... Não faz sentido virem dois camaradas de Faro ou de Braganca, cada um no seu carro. Em tempo de guerra, limpam-se armas e poupam-se munições... Façam o favor de comunicar ao nosso Carlos Vinhal que estão na disposição de partilhar as vossas viaturas. Eu posso dar o exemplo...

Por outro lado, eu sei que a concorrência, nestes meses de maio e junho, é feroz... Não há companhia ou batalhão da Guiné que não se reuna, nesta altura do ano, para o tão esperado e apetecido convívio anual a que já não vão comparecer os doentes e os mortos... Somos cada vez menos, nos nossos encontros, por mil e um razões, a começar pela usura do tempo...

Mas ainda há resistentes, resilientes e crentes no futuro... O António Santos, por exemplo, vem este ano mais a sua cara metade e o resto do clâ... Já o ano passado marcou presença, com pompa e circunstância, em Monte Real... Só para ele reservou uma enorme mesa redonda... É um gesto nobre e generoso, que tem de ser desde já reconhecido por todos nós.... Amigos e camaradas, tragam todos os vossos filhos e netos...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Parte da  família do António Santos (Caneças / Odivelas): na foto só aparece a Graciela, mais a filha, o genro e as netas. Três gerações!...  Este ano (2014) ele inscreveu nove pessoas!... 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.

Mas vamos ao assunto que interessa: precisamos de 50 inscrições para garantir a realização do IX Encontro Nacional das Tabanca Grande. Até agora, desde 2006, nunca falhamos por falta de quorum... Já temos 31 inscrições e queremos chegar às 100.

Não deixem para o fim a vossa inscrição.... Não façam como o Zé Portuga que deixa tudo para o fim: o IRS, o euromilhões, a felicidade, o arrependimento, o perdão, o bilhete de viagem para a vida eterna....

Rspondam, por favor à nossa sondagem (em linha, no blogue, ao canto superior da coluna do lado esquerdo...). Precisamos de fazer as nossas contas (*).  E surpreendam-nos com mais uma razão a acrescentar às 10 razões por que devemos estar todos juntos em Monte real, no dia 14 de junho próximo (*)...

Obrigado pela vossa camaradagem e amizade, obrigado pelo vossa camarigagem.

O editor, Luís Graça
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 30 de abril 2014 > Guiné 63/74 – P13074: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (1): 10 razões para estarmos todos juntos, em Monte Real, no dia de 14 de junho de 2014, sábado, das 10h às 20h…

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11966: Memórias de um passado (Joaquim Cardoso) (1): O começo foi assim

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Cardoso (ex-Soldado de TRMS do Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74), com data de 12 de Agosto de 2013:

Camaradas e Amigos
Envio este texto que considero ser a primeira parte das memórias que guardo da passagem pela vida militar, do Continente à Guiné.
A sua publicação dependerá dos meus amigos em considerar ter ou não algum interesse para a causa da Tabanca, na certeza de que, ao escrevê-lo, para me envaidecer ou a alguém influenciar, haja posto aqui mais do que vi, senti e imaginei.
Joaquim Cardoso


MEMÓRIAS DE UM PASSADO

1 - O COMEÇO FOI ASSIM: 

Antes de seguir para o Ultramar, no Continente passei pelas seguintes Unidades:
- GACA 3 em Espinho: Recruta - Outubro de 1971.
- BC 5 em Campolide: Especialidade de Transmissões - Janeiro de 1972.

Terminada a Especialidade, em Março desse ano, segui para o CIOE em Lamego onde fiquei colocado, passando a desempenhar serviço na Secretaria de Mobilização.

O tempo foi decorrendo com normalidade, até que em princípio do mês de Agosto chegou o momento esperado, mas jamais desejado.
Estando afeto ao citado serviço, ao abrir-se o correio, um dos envelopes continha um dossiê que me dizia respeito!
Tratava-se da minha mobilização para o Ultramar que, não sendo agradável, tinha a agravante de ser para a Guiné, de onde tão más notícias chegavam a respeito da guerra.

Foi um choque!
Depois de receber algum conforto dos companheiros mais próximos, cerca de três ou quatro dias depois segui para o R15 em Tomar, (U. Mobilizadora) e à chegada, deu-se um caso para mim bastante insólito.
Entreguei a guia de marcha na Secretaria e, quando esperava orientações para me juntar aos companheiros que faziam parte do Pelotão de Morteiros 4574/72, o militar que me atendeu, após consultar pastas no arquivo e trocar algumas impressões com outros militares ali em serviço, informou-me sem mais explicações, que o dito Pelotão,  de que eu iria fazer parte, já estava na Guiné há quase um mês, tendo, por esse motivo, de seguir "sozinho".

Fiquei desolado.
Perante esta situação, imaginei desde logo o que iria sentir sem a presença dos meus companheiros com quem pudesse aliviar a pressão do momento, e interrogava-me:
- Será que chegando ao destino, encontrarei alguém conhecido?
Seria bom, mas era uma incógnita.

Um dia depois de ter chegado ao RI 15 em Tomar, recolhi à minha residência paragozar os 10 dias de licença para a despedida, findos os quais segui para um Quartel na Calçada da Ajuda em Lisboa, (se a memória não me atraiçoa, era da PM), para dali seguir para o Aeroporto .
Porém, como o avião atrasou, fui de novo mais três dias para casa havendo, por esse motivo, nova despedida, desta vez de menor intensidade emocional, (a segunda nunca é como a primeira!).

Regressado ao Quartel e transportado bem cedo ao Aeroporto, num dia de sábado, 26 de Agosto de 1972, o 727 dos TAM desta vez não falhou.
Sem bater asas levantou voo, tomou a devida altura e passadas que foram algumas 3 horas, aterrou no Aeroporto de Bissau por volta do meio dia.
Sendo para mim a primeira viagem de avião, não gostei! À passagem pelos chamados "poços de ar" o avião perdia altura e causava-me desagradável sensação. Ficou-me essa ideia, que ainda hoje é meio de transporte que procuro evitar.

Começava então a pisar chão Guineense, bem diferente do que estava habituado.
Este "queimava" devido ao tórrido calor que se fazia sentir, ficando em poucos minutos encharcado com suor.
Um militar "velhinho", ao ver-me naquele estado, disse para me pôr à vontade, que ali não havia grande rigor com o modo de trajar. (Em Nova Lamego não fora bem assim, como mais tarde constatei). Esteve lá um tal "Hitler"!).

O militar o disse, e eu melhor o fiz.
De camisa bem arregaçada, sem gravata, e com a ajuda do ar, embora quente, provocado pelo movimento da viatura que me transportou ao Depósito Geral de Adidos em Brá, senti-me menos acalorado.
Após a chegada, fiz a minha apresentação, sendo-me dito que iria aguardar transporte, barco ou avião, para Nova Lamego, indicando-me de seguida o refeitório e a caserna onde comer e pernoitar.
Chegada a hora do almoço, lá fui para a fila. Nunca tinha visto um Quartel com tantos militares mas, sendo um Depósito de Adidos por onde passavam praticamente todos os militares que chegavam e partiam, era compreensível.

No interior do refeitório sentia-se um calor sufocante e o cheiro à comida era tão intenso, que quase nada comi.
Aquando da tomada da refeição, através dos orifícios na parede que permitiam o arejamento do refeitório, pude ver o que infelizmente outros já tinham visto.No exterior permaneciam ali algumas crianças, umas nuas outras seminuas, que espreitando pelos ditos orifícios, fixavam os olhitos em quem comia, à espera que lhes dessem alguma coisa para comer e, na latita que uma delas possuía, lá pus um pouco do muito fraco que me haviam servido.
Notava-se a fome daquelas crianças que não "olhavam" a cheiros ou gostos, e se nada mais houvesse, até os restos comiam!

Este e outros episódios que mais tarde presenciei nos tabancais, onde pessoas com ferimentos horríveis e ausência total de tratamento, foram suficientes para perceber até que ponto ia a miséria daquele povo!

Após o período de refeição, deambulei pelo interior do Quartel na expectativa de, como disse, encontrar alguém conhecido. No primeiro dia o resultado foi negativo. No segundo, exatamente o mesmo. Porém, ao terceiro dia "se fez luz"!

A cerca de 200 metros, passava em sentido transversal um militar que pelo seu aspeto físico e forma de movimentos, despertou-me desde logo a atenção.
Dirigi-me de imediato em sua direção e, quanto menor era o espaço que nos separava, maior era a minha convicção.
Já próximos, estavam desfeitas todas as dúvidas: Ali, na minha frente, e surpreendentemente, estava o Graça, companheiro de Pelotão na Especialidade de Transmissões no BC 5 em Lisboa!
Abraçámo-nos e pergunta-me ele:
- Para onde vais?

Respondi-lhe:
- Vou para guerra em Nova Lamego - e perguntei - já ouviste falar desse local?

Resposta pronta:
- Eu também estou em Nova Lamego! - Estou aqui em Bissau para uma consulta externa.

De seguida fez outra pergunta:
- Qual o Batalhão ou Companhia que integras?

Disse-lhe que não se tratando de uma rendição individual, desconhecia o porquê de ir sozinho para fazer parte do Pelotão de Morteiros 4574/72 e, segundo me haviam dito, já estava na Guiné há cerca de um mês.
Admirado, retorquiu que também ele pertencia a esse Pelotão, incluindo o Santos e o Vasco! (éramos todos do mesmo Pelotão e Especialidade no BC5 em Lisboa), e sendo assim, por ironia do destino, nos iríamos juntar de novo!

Confesso que na altura duvidei do que acabava de ouvir. Não por pôr em causa a honestidade do Graça, mas por considerar ser bom demais para ser verdade. Para tirar dúvidas, dirigi-me de imediato à secretaria, onde me confirmaram o que eu há pouco havia duvidado. Nesse momento, o sentimento de tristeza e melancolia que estava vivendo, se modificou, pois estava convicto que, estando junto dos meus ex-companheiros, estaria certamente entre família, o que mais tarde realmente se provou.

Passando mais de uma semana a dormir numa caserna cujo ambiente deixava muito desejar, fui avisado para que na manhã do dia seguinte, presumo que era quarta-feira(?), pelas 5 horas da manhã, estar pronto a fim de ser transportado ao cais e prosseguir a viagem de barco.
Sendo também a minha primeira viagem neste tipo de transporte, não imaginava ser transportado numa LDG (Barco de Guerra), mas como não tinha contrato de viagem aceitei sem reclamações.

Embarcadas as cerca de 40 ou 50 pessoas, a maior parte nativas, foram retiradas as amarras, e o barco começou a afastar-se do cais para seguir rio Geba acima.
À saída, imaginei ali no Cais o Velho do Restelo, maneando três vezes a cabeça descontente e, com o saber só de experiência feito, estas e outras palavras tirar do esperto peito: (Ó glória de mandar, ó vã cobiça Desta vaidade a quem chamamos Fama!).

Estaria-se a navegar talvez a meio do percurso, quando no céu se formaram escuras nuvens de enorme dimensão, dando origem pouco tempo depois, a assustadores relâmpagos e trovões e, de seguida, a uma intensa chuvada que me deixou "ensopado".
Com esta situação, também aqui me lembrou o Canto Sexto dos Lusíadas, com a descrição da Tempestade, (ressalvando naturalmente as devidas proporções), considerei ter sido aquela o meu batismo das tempestades tropicais.
Como normalmente, a seguir à tempestade chega a "Bonança", também ali se cumpriu o ditado e, passado que foi cerca de meia hora, o sol voltou a brilhar e forte como de costume, alterando rapidamente o meu estado de molhado a seco e assim se continuou a navegar.

Pouco tempo depois, alguém avisava que por questões de segurança, todas as pessoas que ocupavam as partes cimeiras do barco, se deviam deslocar para as partes mais baixas. No momento que se cumpria tal ordem, as anti-aéreas que o barco dispunha, começaram a fazer movimentos, prontas a disparar se preciso fosse, ao mesmo tempo que dois aviões Fiat faziam voos por cima do barco a baixa altitude, com ruídos ensurdecedores, e no sentido circular, visionando a envolvência nas duas margens do rio.

Surpreendido com os aparatosos movimentos, pensei que certamente se estaria a chegar ao verdadeiro "Teatro de Guerra"!
Soube depois que este cenário se repetia e justificava, sempre que barco passasse naquele local que, por ser dos mais estreitos do rio, se tornava estratégico para o IN praticar as suas ações de guerrilha, o que já tinha acontecido.
Felizmente nada de especial aconteceu e, passado o perigo, tudo voltou à normalidade.

A viagem prosseguia mas, aproximava-se do fim.
Pouco tempo depois, seriam 11horas(?)  chegou-se ao Xime, local indicado para o desembarque.
À chegada, encontravam-se ali vários militares e diversas viaturas para dar continuidade à viagem, mas desta vez por terra.
Como durante a viagem de barco não tinha sido dado qualquer alimento, pouco tempo depois da coluna iniciar a viagem, fez uma paragem no Quartel de Bambadinca, onde foi distribuída meia ração de combate que constava de: uma lata de atum, um pacotinho de leite e umas bolachas de água e sal.

Após este almoço de compreensível brevidade, a coluna fez-se de novo à estrada que não sendo nenhuma Via-Rápida, era considerada um luxo por aquelas bandas por ser asfaltada, e assim se rolava em direção ao Leste.

Atravessaram-se pequenas pontes de madeira, de segurança bastante duvidosa. Passou-se à Cidade de Bafatá e, percorridas que foram as cerca de 5 dezenas e meia de quilómetros sem sobressaltos de maior, pelas 2 horas da tarde mais ou menos, eis-me chegado finalmente ao destino, o Gabu-Sára em Nova Lamego.

À chegada estavam para me receber, (e que bem recebido fui!), os ex-companheiros: o Santos, o Graça e o Vasco.

No momento dos abraços, fui como que praxado com alguns "piu... pius", oferecendo-me mancarra, (palavra nova para mim que significava amendoim), e o Santos, que foi sempre o primeiro entre nós nos momentos de descontração, cantarolava "piriquito vai no mato que a velhice está cansada".

Foi um momento de alegria e também de bom humor, porque ao terem somente um mês de Guiné, a sua velhice era muito infantil.

Terminada a viagem, estava no local de guerra que me foi destinado.
Felizmente, durante os cerca de 21 meses de permanência, não feri nem fui ferido, simplesmente adoeci, que não sendo coisa pouca, deu para sobreviver.

Passadas que foram mais de 4 dezenas de anos sobre estas histórias, aqui as vou deixando escritas para que constem, certo não só, das naturais imprecisões que o tempo já passado lhes provoca, mas também pela reconhecida falta de conforto académico do autor para as melhor compor e contar.

"Desgastado" da viagem, é altura de fazer um interregno para descanso.
Não será certamente como o de 1383/85 porque, o assunto aqui tratado, além de ser incomparável, é de muito menor importância relativamente àquele, e assim pouco tempo bastará para recuperar forças e regressar ao mesmo local para as continuar.

Despeço-me com um grande Alfa Bravo a todos os Tertulianos e até breve.

Castelões-Penafiel.
Neste dia de domingo, aos 11 dias do mês de Agosto de 2013
Joaquim M. Cardoso
Ex-Soldado de Transmissões
NM 19453071

domingo, 16 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11712: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (17): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte V): Manuel Luís Lomba, autor do livro, "Guerra da Guiné: A batalha de Cufar Nalu" (edição, de 2012, Terras de Faria Lda, Faria, Barcelos) e outros camaradas e amigos que nos honraram com a sua presença


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > O João Marcelino (Lourinhã) e o Manuel Vaz (Póvoa de Varzim)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Da esquerda para a direita, o Tó Zé (Pereira da Costa, a Maria João e o marido, Jorge Araújo.



Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio >  O João e a Celestina Sesifredo, do Redondo... O João foi 1º Cabo no Pel Nat Caç 52, no Mato Cão, no tempo do Joaquim Mexia Alves.. Já o convidámos para integrar a nossa Tabanca Grande.


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > O Manuel Luís Lomba e o filho, Luís Manuel, que vieram de Faria, Barcelos. O Manuel Luís Lomba é autor do livro, "Guerra da Guiné: A batalha de Cufar Nalu". A edição, de 2012, é de Terras de Faria Lda, Faria, Barcelos (341 pp.)




Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio >  Diamantino Varrasquinho e a mulher Maria José,  de Ervidel, Aljustrel... "Foi 'meu' Furriel no 52 no Mato Cão", acrescenta o Joaquim Mexia Alves.


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > A família do António Santos (Caneças / Odivelas): na foto só aparece a Graciela, mais a filha, o genro e as netas. Três gerações!


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > A Margarida Peixoto (à esquerda), que veio de Penafiel (mais o Joaquim); e a Joaquina Carmelita, esposa do nosso camarada Manuel Carmelita (Vila do Conde).


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > O Ernestinmo Caniço, ao centro, comandante do Pel Rec Daimler 2208; à sua direita, o António Proença e à sua esquerda esquerda o Carlos Pinto.


 Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > O "alfero Cabral", em grande plano; em plano secundário, a filha do António Santos e o marido.


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Diz o Josema (Zé Manuel Lopes) para o Zé Manuel Cancela: "Sabes, estou cansado de fazer vinhos de cinco estrelas e não ter mercado para os escoar... Trouxe o carro cheio e levo-o meio cheio, de volta... Ficam aqui os meus contactos, para quem ainda não conhece o Pedro Milanos da Quinta Sra da Graça, da região demarcada do Douro: Quinta Senhora da Graça - S. João de Lobrigos, 5030 429 Santa Marta de Penaguião, telem. 916 651 639".

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11651: Tabanca Grande (401): Joaquim Moreira Cardoso, ex-Soldado TRMS do Pel Mort 4574 (Nova Lamego, 1972/74)

Vista aérea da tabanca de Nova Lamego

Foto: © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados.


1. No passado dia 19 de Abril de 2013, recebemos do nosso camarada e novo tertuliano Joaquim Moreira Cardoso, ex-Soldado de TRMS do Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74, esta mensagem:

Sr. Luís Graça
Porque não nos conhecemos, tomo a liberdade de o tratar desta forma para lhe solicitar o seguinte:
- Desde há pouco tempo atrás, venho pesquisando os vossos blogs da Tabanca Grande, encontrando fotos inseridas no blog, (A.Santos Gabu Sara - Guiné-Bissau 1972/74), que me são "familiares".

A foto que retrata o Posto de transmissôes por Rádio e três militares, o que se encontra a ler algo, sou eu. Como são colegas, (entre outros), que tanto prezo e jamais voltei a encontrar, "aguçou-me o apetite" de, ( se houver lugar e mo permitirem ), entrar na vossa Tabanca, tentando desta forma alguma aproximação com amigos de longa data.

Agradeço que me informe o que se torna necessário para a minha entrada. Aproveitando a oportunidade, ficaria-lhe também muito grato que este assunto fosse levado ao conhecimento do bloguista A.Santos, soldado de transmissões do Pelotão de Morteiros 4574 já acima referido, mais o humorístico complemento.

Porque a Guerra agora é outra, disparei este pacífico foguetão que tem como único objectivo, (se explodir no local pretendido), noticiar a um amigo que não vejo há mais de 40 anos, principalmente duas coisas: 
- a primeira é que ainda sou vivo e com forças para lhe dar um abraço "do tamanho do mundo"; 
- a segunda, disponibilizar os meios através dos quais me poderá contactar, sabendo algo mais acerca deste intruso que está ansioso por lhe falar.

 Esperando ter sucesso, é tudo de momento. 
Obrigado a todos, um forte abraço e até breve.
Joaquim Moreira Cardoso


2. Cabe aqui uma lamentável nota. O camarada Cardoso nunca obteve resposta à sua mensagem porque o editor de serviço a perdeu de vista.


Zona Leste > Sector L3 > Nova Lamego > Na foto, António Santos a "transmitir" e o Joaquim Cardoso, em primeiro plano, a ler

Foto: © António Santos(2006). Direitos reservados. Legenda: CV


3. Assim, e felizmente, o Cardoso insistindo, mandou-nos esta mensagem no passado dia 27 deste mês de Maio:

Caro Sr. 
Com os meus cumprimentos envio este mail para o seguinte: 
- Há tempos atrás, ao pesquisar algo relacionado com história de Portugal, encontrei muito casualmente o vosso blog tabanca grande e, ao abri-lo, deparei-me com uma agradável surpresa! Ali são expostas entre outras coisas, fotos dos meus ex-camaradas do Pelotão de Morteiros 4574 tiradas no Gabu Sara - Guiné nos anos 1972/74 nomeadamente, o Santos, o Graça e o Vasco. 
Éramos os quatro das transmissões que, por ironia do destino, não nos vemos há mais de 40 anos. 
Com esta "descoberta" ficou-me na cabeça a ideia de um dia formalizar o pedido de entrada na vossa tabanca, o que hoje concretizo, será aceite? 
Caso afirmativo anexo duas fotos, uma antiga vestido de militar e outra actual à civil.

Segue o meu nome, residência e contactos:
Joaquim Moreira Cardoso 
Ex-soldado de transmissões de Infantaria
NM 19453071 
Residente em Castelões - Penafiel 

Aguardando notícias, renovo os meus cumprimentos e subscrevo-me 
J. Cardoso.


4. Comentário do editor

Caro camarada Joaquim Cardoso
Tivesse eu a têmpera do Egas Moniz e apresentar-me-ia perante ti com uma corda ao pescoço, mas como não sou nenhum valente nem gosto de gravata, limito-me a pedir-te publicamente desculpa por ter perdido de vista a tua mensagem de 19 de Abril, logo não te ter dado resposta.

Em boa hora resolveste insistir e agora sim vais ser apresentado formalmente à tertúlia.
Podes perguntar porque não é o editor Luís Graça a responder-te, já que até te dirigiste a ele? Respondo eu, porque, como trabalho por estes lados é coisa que não falta, tentamos distribuir tarefas e algumas funções. É suposto eu responder aos camaradas que se querem juntar a nós, só que desta vez falhei.

Acho que o António Santos, um camaradão que eu tenho o prazer de conhecer pessoalmente, vai ficar contente por te juntares a ele neste Blogue e por a partir de agora poderes participar nos Convívios do Pel Mort 4574, o próximo já no dia 1 de Junho. Espero que te tenhas já inscrito. Vê aqui, é só clicares: Guiné 63/74 - P11551: Convívios (519): 9.º Almoço de confraternização do pessoal do Pel Mort 4574/72 em Almeirim no dia 1 de Junho de 2013 (António Santos)

Se quiseres contribuir com as tuas fotos e algumas das tuas memórias escritas, manda-as para a caixa de correio do editor Luís Graça e para a de um dos co-editores, eu ou Eduardo Magalhães.

Por outro lado, se tiveres necessidade de algum esclarecimento adicional não hesites em solicitá-lo.

E por falar em esclarecimento, ficas desde já a saber que na tertúlia não há nenhuma distinção entre os camaradas, que por o serem, se tratam todos por tu.

Recebe um abraço em nome da tertúlia e dos editores.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11641: Tabanca Grande (400): Almiro da Silva Gonçalves, ex-Soldado TRMS de Inf do Pel Mort 4580 (Bambadinca, 1973/74)

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11551: Convívios (519): 9.º Almoço de confraternização do pessoal do Pel Mort 4574/72 em Almeirim no dia 1 de Junho de 2013 (António Santos)




1. A pedido do nosso camarada António Santos (ex-Sold Trms do Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74), [foto à direita], aqui fica o anúncio do 9.º Almoço de Confraternização do seu Pel Mort, que este ano se vai realizar em Almeirim no próximo dia 1 de Junho de 2013.


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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11490: Convívios (518): 17º Encontro/Convívio da CCAV 8351 - “Os Tigres de Cumbijã” (Magalhães Ribeiro)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8425: Em Busca de... (164): António Alves, ex-Cozinheiro da CCAV 8452/72, que esteve em Gadamael nos anos de 1973/74, procura camaradas e quer participar em próximos convívios (António Santos)

1. Mensagem de António Santos (ex-Sold Trms do Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74), com data de 12 de Junho de 2011:

Camarada Vinhal.
Saúde para todos os teus.

Estou a escrever, para te pedir que logo que possas faças uma mensagem, pode ser Rotina, junto dos nossos camaradas das 3 Companhias, quase Batalhão da nossa Tabanca Grande com o seguinte teor:

O António Santos, (Eu, porque ele não mexe em nestas máquinas), tem um vizinho que também como nós esteve na Guiné, mais propriamente em Gadamael, na CCAV 8452, de seu nome António Alves, que foi Cozinheiro da mesma.

A finalidade deste camarada, é saber dos companheiros para apanhar o comboio dos convívios.

O telemóvel do Alves é o 960 449 497.

Com os meus e dele, agradecimentos antecipados.
Um Grande Alfa Bravo para ti.
ASantos
SPM 2558
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6111: Convívios (207): 6.º Almoço Convívio do Pel Mort 4574 em Penacova, dia 22 de Maio de 2010 (António Santos)

Vd. último poste da série de 19 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8300: Em Busca de... (163): Diamantino Prazeres Colaço procura Camaradas do BART 6522/72 - S. Domingos -, 1973/74 (Cláudia Colaço)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Guin é 63/74 - P7438: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (5): Canquelifá, a ferro e fogo, 18 de Março de 1974








Guiné > Zona Leste > Região de Nova Lamego > Canquelifá > CCAÇ 3545 (1972/74) > 18 de Março de 1974 > A paisagem desoladora da tabanca, depois do violento ataque do PAIGC com morteiros 120 e foguetões 122, durante 4 horas... 

Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


Continuação da  publicação do álbum  fotográfico de Jacinto Cristina (Sold At Inf, CCAÇ 3546, 1972/74) [, foto à esquerda]  (*).


Recorde-se o trajecto (militar) do Jacinto Cristina:  (i) Natural de Ferreira do Alentejo, hoje com 61 anos, fez a recruta no RI 14, em Viseu, e a especialidade no RI 2, Abrantes; (ii) Foi mobilizado para a Guiné, como Sold At Inf, da CCAÇ 3546; (iii) esta subunidade  pertencia ao BCAÇ 3883, mobilizado pelo RI 2; (iv) A CSS estava sediada em Piche; (v) O comandante era o Ten Cor Inf Manuel António Dantas; (vi)  O comandante da CCAÇ 3546 era o Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira; (vii) As outras companhias do BCAÇ 3883 era a CCAÇ 3544 (Buruntuma e Piche) e a CCAÇ 3545 (Canquelifá e Piche); (ix) Estas quatro subunidades partiram para a Guiné de avião,  em Março de 1972; (x) Regressaram à Metrópole, também de avião, em Junho de 1974; (xi) O Cristina esteve no destacamento de Ponte de Caium, na estrada entre Piche e Buruntuma,  cerca de 14 meses (Fevereiro de 1973 / Abril de 1974), onde foi municiador do morteiro 10,7 e padeiro.

As últimas fotos do seu álbum fotográfico são justamente estas seis, que publicamos acima... São "recuerdos", sem legenda, de Canquelifá (junto à fronteira com o Senegal) depois do ataque de violento ataque do PAIGC que arrasou completamente a tabanca (**)... O Jacinto Cristina nunca lá esteve mas comprou estas fotos a alguém do seu batalhão, que vivia do negócio da fotografia. Comprou-as e pô-las no seu álbum, para "mais tarde recordar"... Há fotos que falam por si... (***)
_____________

Notas de L.G.:

(*) Último poste da série > 18 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7303: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (4): Parabéns ao municiador (e às vezes apontador) do Morteiro 10.7, que fez 61 anos no passado dia 14...


(**) Vd. poste de 27 de Outubro de 2006
Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)


(...) Camarada, Luis Graça.


Estou há muitos anos a guardar na minha memória vários acontecimentos que se passaram na Guiné. Penso que isso acontece com todo o pessoal. Vivi à distância os acontecimentos de Guidaje e Guileje, mas a guerra passava-me pelas mãos, porque em Nova Lamego fui sempre operador de mensagens e não transmissões que de facto foi a especialidade que me despejaram em Campolide - Lisboa.

Acho que chegou o momento para contar um deles. Além de Guidaje e Guileje/Gadamael houve uma terceira ofensiva forte, levada a cabo pelo PAIGC no final da guerra, mas desta vez no Leste, no início do ano de 1974, mais precisamente no sector L4 e L6. Alvos preferenciais: BajocundaCopá, Mareué e Canquelifa, sem esquecer outros.

Copá foi extinto em 14 de Fevereiro de 1974, após violentas flagelações, Mareué idem em 11 de Março de 1974, mas o aquartelamento mais sacrificado foi o de Canquelifá, que sofreu flagelações a toda a hora. Neste caso a arma mais utilizada foi o morteiro 120, e houve abrigos que não resistiram.

A 20 de Março de 1974, entrou em cena o Batalhão de Comandos Africanos, com as três companhias que dele faziam parte integrante. Saíram de Nova Lamego em coluna composta por viaturas militares e civis e dirigiram-se para o local. A operação durou 3 dias, de 21 a 23 de Março 1974. Segundo os canhenhos militares, capturaram 3 Mort 120, 1 RPG, 2 espingardas, 367 granadas de Morteiro e deixaram 26 mortos do lado IN (do nosso lado nada dizem)...

Mas cá o rapaz, no dia 22 [de Março de 1974], como não fazia nada, e porque o condutor da ambulância era do meu pelotão e foi chamado à pista, eu fui com ele. Chegados ao local, era um vaivém de helicópteros que traziam mortos e feridos. Eu dei uma mãozinha para pegar nas macas. Retirava dos Helis e, segundo instruções do médico, ora pousava na pista (estava morto), ora colocava num Dakota que estava logo ali (estava muito ferido)... Vi pernas destroçadas por estilhaços de não sei de quê!

Isto foi só em Nova Lamego porque em Piche não soube, nem quis saber e não sei o que se passou.

Um Alfa Bravo. A. Santos (...)


(***) Ainda sobre a batalha de Canquelifá, vd. comentário de Luís Borrega ao poste de 8 de Dezembro de 2010 >Guiné 63/74 – P7405: Controvérsias (113): Os derradeiros dias do Destacamento de Copá (Fernando Henriques)


(...) Camarigos: Sou amigo do Fernando Henriques.Tenho o seu livro e li todos os acontecimentos em Copá. Tenho-o como uma pessoa honesta e amigo do seu amigo.
Para quem não sabe, o Alf Mil OE Fernando Henriques pertencia ao BCaç 3883, que foi render em Pitche o meu BCav 2922.

O F. Henriques integrou a CCaç 3545, capitaneada pelo Cap Mil Fernando Peixinho de Cristo, que foi render em Canquelifá a CCav 2748. 

O Destacamento de Copá tinha o apoio da Artilharia do Quartel de Canquelifá. Eram 3 obuses de 14 cms, que foram substituídos, por ordem de um Crâneo,  residente em Bissau, por obuses de 10,5 cms. Como é óbvio, estes obuses, não tinham o alcance dos de 14 cms.
Esta substituição fragilizou o Destacamento de Copá, assim como o próprio Quartel de Canquelifá.


Em [18 de]  Março de 1974, Canquelifá ficou a "ferro e fogo", e muito limitado no fogo de retaliação aos ataques. Tiveram que ser socorridos pelos Comandos Africanos. A força de socorro a Canquelifá integrava a 1ª, a 2ª e a 3ª CComandos Africanos, e era comandada pelo Major Raúl Folques [Op Neve Gelada, de 21 a 30 de Março de 1974].

Eram 6 Morteiros de 120 mm a despejar fogo e ainda com Canhão sem recuo, além de 300 foguetões de 122mm. A Tabanca ficou arrasada. Como já lá não estava ,vou lendo o que se escreve.

Abraço, Camarigo
Luís Borrega


Vd. também o poste do Hélder de Sousa > 11 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4811: Informações adicionais ao Poste 4800 (Hélder Sousa)

(...) Nessa época eu também já não estava na Guiné, por isso só posso 'ajudar' relatando o que a propósito está no tal livro com a história da CCAÇ 3545 [ "No Ocaso da Guerra do Ultramar", de Fernando de Sousa Henriques], Companhia essa que estava em Canquelifá, e que diz, para esse dia: "A 22 de Março, pelas 08H30, um grupo IN, estimado em mais de 200 elementos, emboscou uma coluna constituída por duas Chaimites, uma White, três Berliet e quatro Unimog, no itinerário Piche-Nova Lamego, na região de Bentem, causando às NT 6 mortos, 15 feridos graves e 3 feridos ligeiros, que se discriminam a seguir". (...)