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quarta-feira, 3 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14695: Os jogos de cabra-cega: Sinchã Jobel (A. Marques Lopes) (Parte I): Op Jigajoga, 24 de junho de 1967, o meu dia de São João


Guiné > Zona leste >  Carta de Bambadinca (1955) > 1/50 mil > Posição relativa de Sinchã Jobel, no regulado de Massomine. Bambadinca ficava a sul, e Bafatá a leste.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)


I. Por sugestão do nosso grã-tabanqueiro nº 2 (em termos de antiguidade), Sousa de Castro,  e por empenho do nosso coeditor Carlos Vinhal, resolvemos republicar alguns postes do A. Marques Lopes, e nomeadamente sobre Sinchã Jobel, uma base ("barraca") do PAIGC, em pleno coração da Guiné, na zona leste, no regulado de Mansomine, a norte de Geba. São os postes nº 35, 36, 39, 40 e 45... Mais tarde, o A. Marques Lopes escreveu um outro, o nº 763, na sequência de uma das suas viagens de "viagem de saudade". Fizemos a revisão de texto (e atualizámos o texto de acordo com a ortografia em vigor). (*)

Como muito bem lembra o Sousa de Castro, "são postes publicados há 10 anos, numa altura em que o número de tabanqueiros era diminuto, o blogue [, I Série,] era visto por poucas pessoas", pelo que, em sua opinião, "deveriam voltar a ser reeditados, não só estes como muitos outros".

Pois aqui vai a nossa resposta ao repto do Sousa de Castro, Recorde-se, entretanto,  que o A. Marques Lopes, coronel inf, DFA, na situção de reforma, foi alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967/1968)  e da CCAÇ 3 (Barro, 1968), era membro, em 2005,  da direção da delegação do norte da Associação 25 de Abril (A25A), e é em termos históricos, o nosso quarto grã-tabanqueiro mais antigo, depois de mim, do Sousa de Castro e do Humberto Reis.

Por outro lado, ele acaba de lançar o seu primeiro livro de memórias "Cabra-cega: do seminário à guerra colonial" (Lisboa, Chiado Editora, 2015),  (**) E as estórias/histórias de Sinchã Jobel não podiam deixar de lá entrar... (LG)



Guiné-Bissau > Bissau > Restaurante Colete Encarnado > 21 de Abril de 2006 > Dois homens que combateram, um contra o outro, em 1967/68: nosso camarada A. Marques Lopes e o comandante do PAIGC Lúcio Soares. (***)

Foto: © Xico Allen (2006). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


II. Os jogos de cabra-cega: Sinchã Jobel (A. Marques Lopes) (Parte I)


1. Na primeira metade de 1967, o PAIGC montou uma base de guerrilha em Sinchã Jobel (*). Sem querer, fui eu que dei com ela. O responsável militar dessa base era o comandante Lúcio Soares, que foi, depois da independência, ministro da Defesa. O responsável político era Cabral de Almada, conhecido como comandante Gazela, que foi depois vice-presidente da Assembleia Nacional Popular.
Quando estive na Guiné-Bissau, em 1998, pouco antes do golpe de Ansumane Mané, tive uma conversa muito interessante com o comandante Gazela: lembrámos muita coisa sobre Sinchã Jobel, falámos dos problemas do povo guineense, concordámos que era melhor não termos andado aos tiros uns aos outros (pediu-me desculpa por me ter mandado para o hospital, “mas teve de ser assim”...)... e demos um abraço de despedida.

O objetivo do que mando hoje é lembrar tudo aquilo que nenhum de nós pode esquecer. Para mim também pode ser a, tão vilipendiada, por alguns, catarse de mágoas e fantasmas, não tenho problemas em ter consciência daquilo que fui e daquilo que sou.

2. Operação Jigajoga. 24 de Junho de 1967:

"Situação particular:

"O IN tem-se revelado em operações realizadas no regulado de Mansomine, ataques a tabancas, a aquartelamentos e outras flagelações. Deve existir algum acampamento que lhe sirva de base para a execução de ações sobre as NT e populações que nos são fieis.

"Missão:

"Assegura a ocupação do Setor, tendo em atenção os regulados da faixa oeste e as linhas de infiltração que conduzam ao interior. Deteta, vigia ou captura elementos ou grupos suspeitos de subversão que se hajam infiltrado ou constituído no setor, impedindo que a subversão alastre. Captura ou aniquila os rebeldes que se venham a revelar, destruindo as suas instalações ou meios de vida e restabelece a autoridade e a ordem nas regiões afetadas.

"Força executante:

- 1 Gr Comb da CART 1690 reforçada 1 PEL MIL/CMIL 3 [Dest A]
- 1 PEL do EREC 1578  [Dest B]

"Desenrolar da acção:

"O PEL REC/ EREC 1578 saiu de Bafatá pelas 05h00, tendo-se-lhe reunido em Sare Geba o Gr Comb da CART 1690 e em Sare Gana o PEL MIL. Entretanto o Dest da CMIL 3 em Sare Madina efetuava a picagem do itinerário Sare Madina-Ponte Rio Gambiel.

"Em Sucuta (Madina Fali) o Dest A iniciou a progressão apeada em direção a Sinhã Jobel e o Dest B o patrulhamento do itinerário Cheuel-Ponte Rio Gambiel. Depois de atravessar a bolanha de Sucuta, o Dest A detectou pegadas bastantes recentes, deduzindo que se tratasse de una sentinela IN. Junto a Sinchã Jobel as NT foram emboscadas por um grupo IN numeroso, com mort. 82, LGF, MP e Armas Aut., tendo sofrido um ferido grave e 5 feridos ligeiros. Da reação das NT o IN sofreu 3 mortos confirmados e 3 prováveis.

"Em consequência do pequeno efetivo das NT, da manobra efetuada com pequenos grupos, do grande potencial de fogo IN e da mata bastante densa desapareceu o cmdt do Dest A,  Alferes Lopes, que havia saído de um grupo de manobra para ir a outro trazer um LGF. 

"Como o grupo já não se encontrasse no local previsto pelo Cmdt do Dest A, este viu-se sozinho e a ser alvejado pelo fogo IN pelo que se internou na mata. Pelo que em cada grupo se pensava que o cmdt estava no outro, não foi dado grande importância ao facto. Só depois de reunidos todos os grupos se verificou a falta do cmdt. O furriel, agora cmdt do grupo de combate, resolveu - porque sendo o seu efetivo reduzido, para o potencial de fogo IN, porque tendo 6 feridos, um dos quais grave e tendo ainda o LGF avariado - regressar a Sucuta para pedir reforços. 

"Em Sucuta, onde já se encontrava o Dest B ao corrente do sucedido por via rádio, foi resolvido pedir reforços ao comando do BCAÇ 1877.

"Comunicado ao comando do BCAÇ 1877, saiu imediatamente um Gr Comb / CCS constituído pelo PEL REC Inf e pelo PEL Sap. que juntamente com forças da CART 1690 efetuou uma batida na área de Sinchã Jobel até cerca das 21h30, sem resultado e sem contacto com o IN. 

As forças empenhadas na batida e o PEL EREC 1578, que estava a fazer a segurança às viaturas e o patrulhamento do itinerário Cheuel-Ponte Rio Gambiel regressaram a Geba e Bafatá cerca das 23h30.

"Pelas 09h30 do dia 25 de junho de 1967  saiu o Gr Comb CCS/BCAÇ 1877 que, juntamente com as forças da CART 1690, iriam novamente bater a zona de Sinchã Jobel. Ao chegar a Sare Geba foi-lhes comunicado que o alferes Lopes já tinha aparecido, tendo o Gr Comb CCS regressado a Bafatá.

"Resultados obtidos:

-A deteção de um grupo IN numeroso e bem armado na região;
-A morte confirmada de 3 elementos IN mortos e alguns feridos prováveis.»

3. Foi o meu dia de S. João,  em 1967. O alferes Lopes referido era eu. Fui o principal interveniente, mas não fui eu que fiz o relatório (foi feito antes de eu aparecer e enviado para Bissau logo que apareci, e eu fui dado como desaparecido em combate antes de aparecer).

O que sucedeu é que eu tive uma certa sensação de perigo (o subconsciente a funcionar?...) e deixei duas secções na clareira de Sinchã Jobel (onde havia essa aldeia, mas que estava destruída já) e avancei eu e um furriel com outra para atravessar a clareira. 

Talvez um dia, quando eu acabar de escrever a minha estória, se saiba tudo o que aconteceu. Não vale a pena referir todas as inverdades nele contidas - há gente ainda viva e culpas no cartório. Só uma: eu que estive lá e que passei lá toda a noite (e sobre isso escrevi o tecto "Na bolanha dá para pensar"...). Eu sei muito bem que não morreram nem ficaram feridos quaisquer elementos do IN!

E uma outra coisa: como podem ver pelo início do relatório ("Situação particular"), os burocratas já suspeitavam que podia haver ali uma base de guerrilha. MAS NÃO ME DISSERAM NADA! Eu e trinta mecos fomos carne para canhão!! Por alguma razão deram à operação o nome de Jigajoga: em qualquer dicionário de português, quer dizer jogo da cabra-cega, ou, em sentido figurado, ludíbrio, engano, coisa pouco firme... Foi assim que nos trataram.

Vou contando, depois, mais estórias de Sinchã Jobel.

_________________

Notas do editor:

(*) Vd, poste de 30 de maio de 2005 > Guiné 63/74 - P35: Uma estória de Sinchã Jobel ou a noite em que o Alferes Lopes dormiu na bolanha (1967)

(**) Vd. poste de 26 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14662: Agenda cultural (403): Lançamento do livro de memórias "Cabra-cega: do seminário para a guerra colonial", Biblioteca Florbela Espanca, Matosinhos, 3 de junho, 15h30: convite do nosso camarada A. Marques Lopes, cor inf DFA, reformado

(***) Vd. poste de 16 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - P761: Do Porto a Bissau (16): Encontro com o IN (A. Marques Lopes)

(..) Desta vez, este encontro não meteu tiros, como sucedeu naquele dia 24 de Junho de 1967, durante a operação Jigajoga (...). Ao invés, tivemos que nos haver, em conjunto, com os belos pratos do restaurante Colete Encarnado, em Bissau, e isto sucedeu na noite do dia 21 de Abril de 2006, já eu e o Allen estávamos sozinhos (os restantes tinham regressado a Portugal no avião da tarde).

Através do nosso grande amigo Pepito, consegui o telefone do comandante Lúcio Soares, convidei-o para jantar e ele acedeu prontamente a estar comigo e com o Allen. Não tenham dúvidas que foi um encontro emocionante para mim, estar com o chefe guerrilheiro que montou a emboscada que me fez ficar uma noite na bolanha de Sinchã Jobel (...) e que, mais tarde, me mandou nove meses para o hospital (...).

Falámos sobre isso, e mostrou ser um homem calmo e comedido. Ele tem agora 64 anos e chegámos, pois, à conclusão que andámos aos tiros um ao outro, eu com 23 anos e ele com 25, eu mandado para lá sem quaisquer objectivos pessoais, a não ser sobreviver durante a missão que me foi imposta, e ele, como me disse, com o objectivo muito assumido de lutar pela independência da sua terra.

Concordámos que foi pena as coisas se terem passado como passaram, que era melhor ter encontrado outra forma menos dolorosa de resolver o conflito imposto.(...)

terça-feira, 8 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9868: O Nosso Livro de Visitas (135): José Ferreira, ex-1.º Cabo (Bafatá e Teixeira Pinto, 1967/68)

1. Mensagem do nosso camarada José Ferreira, ex-1.º Cabo que esteve em Bafatá e Teixeira Pinto, com data de 29 de Março de 2012:

Bom dia amigo Luís Graça 
Sou um ex-combatente na Guiné do Batalhão de Cavalaria1 905 que regressou em fevereiro de 69.
Estivemos em Bafatá e Teixeira Pinto, fizemos escoltas a Bambadinca, Nova Lamego e muitas outras.

Vi o teu blog e pensei em me ajuntar a vós caso me aceiteis.
Sou de Viana do Castelo e chamo-me José Ferreira, mais conhecido por Cabo Viana.

Sem mais, um abraço
José Ferreira


2. No passado dia 3 de Maio foi enviada uma mensagem a José Ferreira nos seguintes moldes:

Caro camarada José Ferreira
A tua mensagem andou uns dias perdida numa caixa de correio do Luís Graça, onde ele vai poucas vezes. Em futuros contactos usa antes esta: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

Se quiseres juntar-te a este numeroso grupo de camaradas que fez a guerra colonial na Guiné, manda uma foto do teu tempo de Guiné e outra actual, tipo passe de preferência e faz uma pequena apresentação de ti, a saber:
Nome, Posto e especialidade militares, datas de ida e volta da Guiné, Companhia e Batalhão a que pertenceste, quartéis por onde andaste, etc. para fazermos a tua apresentação formal à tertúlia.
Se quiseres podes contar uma pequena história passada contigo e mandar outras fotos que tenhas em teu poder.

Esperamos a tua resposta.
Até lá recebe um abraço do teu camarada
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


3. Nota do editor:

Salvo melhor opinião suponho que o camarada José Ferreira está equivocado quanto à identificação do seu Batalhão e à data de regresso. O número de Batalhão de Cavalaria mais parecido com 905 é 1905.

O BCAV 1905 partiu para a Guiné em 01 FEV67 e regressou a 19NOV68.

O BCAV 1905 assumiu a responsabilidade do Sector 01-A com sede em Teixeira Pinto entre FEV e AGO67. Em SET67 rendeu em Bafatá o BCAÇ 1877. Em NOV 68 recolheu a Bissau para aguardar o regresso à Metrópole.

- Elementos recolhidos da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) - 7.º Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9820: O Nosso Livro de Visitas (134): Rogé Henriques Guerreiro, que vive em Cascais, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 4743 (Gadamael e Tite, 1972/74)

terça-feira, 13 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9603: Tabanca Grande (324): Alberto Sardinha, ex-Soldado Mecânico Desempanador Auto da CCS/BCAÇ 1877 (Teixeira Pinto e Bafatá, 1966/67)

No dia 19 de Fevereiro de 2012, recebemos esta curta mensagem do nosso novo tertuliano, camarada Alberto Sardinha, ex-Soldado Mecânico Desempanador Auto da CCS/BCAÇ 1877, Teixeira Pinto e Bafatá, 1966/67:

Fui Mecânico Desempanador Auto da CCS/BCaç 1877

Cheguei à Guiné em 1966, fiquei em Bissau no Quartel da Amura durante 9 meses, de seguida fui para Brá, perto do Aeroporto de Bissau, dali para Teixeira Pinto, dali para Bafatá.

Sou natural de Ponte de Sor e resido no Seixal

Estandarte do BCAÇ 1877 mobilizado pelo RI 15 de Tomar. Este Batalhão composto pelas Companhias operacionais 1499; 1500 e 1501, tinha como divisa "Firmes e Constantes"

Um abraço para todos os camaradas que fazem parte deste Blogue.

19/02/2012
Alberto Sardinha


2. Comentário do editor:

Caro Alberto Sardinha, desculpa começar esta conversa brincando, mas não és o primeiro da espécie no nosso Blogue, porque temos um tertuliano, dos velhinhos, chamado Belarmino Sardinha. Se quisermos continuar ainda no meio aquático encontraremos os camaradas Fernando Chapouto e Robalo Borrego.

Passemos para terra firme para te dizer que esperamos que as tuas próximas mensagens venham mais compostas. Há sempre uma história para contar, já que todos nós guardamos na nossa memória peripécias várias. Terás por aí fotos que te lembrarão situações boas e más.
Como desempanador foste muitas vezes ao mato recuperar viaturas avariadas ou atoladas? Nos quartéis improvisavam quando não havia sobressalentes à mão?
Como vez já te sugeri assuntos para desenvolveres.

Ficamos então à espera das tuas próximas notícias. Até lá recebe um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.

Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 29 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9549: Tabanca Grande (323): Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger da CART 3494/BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/74)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8000: O Nosso Livro de Visitas (109): José Oliveira, filho do nosso camarada Luís Nunes Oliveira da CCAÇ 1501/BCAÇ 1877 (Guiné, 1966/67)

1. Mensagem de José Oliveira, filho de Luís Nunes Oliveira da CCAÇ 1501/BCAÇ 1877, com data de 18 de Março de 2011:

Caro Luís Graça,
Em primeiro lugar, espero que este e-mail o vá encontrar de boa saúde.

O meu pai (Luís Nunes de Oliveira) esteve na Guiné e pertenceu à CCAÇ 1501, no entanto perdeu todos os contactos que tinha, e por razões que desconhecemos, não voltou a ser convidado para os encontros/almoços que eram organizados normalmente no mês de Junho (desconhecemos mesmo se o grupo deixou de organizar os referidos encontros).

Seguem em anexo três fotos, que envio em nome do meu pai (ele não é muito dado as estas tecnologias...), para que as mesmas sejam publicadas no Blog, na esperança que desperte a atenção de algum camarada da CCAÇ 1501.

Votos de um bom fim-de-semana.

Um abraço,
José Oliveira
zelxandre@hotmail.com


24Jul1966 > Café Universal Bissau >  Luis Oliveira e Pé Leve

Luís Oliveira Civil Rapaz de Caxarias.

Luís Oliveira e Amigos > Guiné 1966


2. Comentário de CV:

Caro José Oliveira, obrigado pelo seu contacto. Aqui estão publicadas as fotos de seu pai, que nos mandou, na esperança de que apareça algum dos seus companheiros.

Fui à Página do nosso camarada Jorge Santos e encontrei lá o contacto de Carlos Martins do BCAÇ 1877, Batalhão a que pertenceu a CCAÇ 1501, Companhia de seu pai. Ligue para o telemóvel 969 572 401, e a partir dele poderá descobrir outros camaradas.

Seja portador de um abraço nosso para o seu pai e votos de que esteja tudo bem com ele.

C.V.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7968: O Nosso Livro de Visitas (108): Luiz Figueiredo, Fur Mil TSF, Pirada, Teixeira Pinto e Bissau, 1972/74

domingo, 25 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6784: Tabanca Grande (232): Fernandino Leite, Soldado de Transmissões da CAÇ1499/BCAÇ 1877 – Pelundo, Bolama, Pirada e Piche -, 1966/67

Mais um Camarada se apresenta nesta Tabanca Grande, o Fernandino Leite (ex-Soldado de Transmissões da CAÇ1499 / BCAÇ 1877 – Pelundo, Bolama, Teixeira Pinto, Pirada e Piche -, 1966/67, que é um cliente habitual da Tabanca de Matosinhos e grande amigo pessoal do Casimiro Carvalho (CCAV 8350 - Piratas de Guileje), nesta sua primeira mensagem apenas enviou uma reportagem fotográfica do seu álbum de memórias, mas deixando a promessa de que, brevemente, voltará com a descrição da evolução operacional da sua Companhia por terras da Guiné:



Um aspecto da tabanca de Pirada


Eu no meu posto de "trabalho"

Eu, os júbis e, ao fundo, uma
dornier

Eu posando na
Sofia

Aqui posando numa
Vespa


Aqui com um pequeno júbi


Helicóptero capturado ao P.A.I.G.C.


Eu "bem acompanhado"

Um abraço,
Fernandino Leite
Sold Trms da CAÇ1499/BCAÇ 1877


2. O Fernandino Leite é o primeiro elemento, quer da CCAÇ 1499, quer do BCAÇ 1877 a dizer presente nesta nossa tertúlia, ficando a aguardar que outros seus camaradas da Unidade lhe sigam aqui o exemplo.



3. Amigo e Camarada Fernandino Leite, é da praxe que em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e demais tertulianos deste blogue, te diga aqui que é sempre com alegria que recebemos notícias de mais um Camarada-de-armas, especialmente, se o mesmo andou fardado por terras da Guiné, entre 1962 e 1974, tenha ele estado no malfadado “ar condicionado” de Bissau, ou no mais recôndito e “confortável” bura… ko de uma bolanha.
Tal como o Luís Graça já referiu inúmeras vezes, em anteriores textos colocados em postes no blogue, todos aqueles que constituíram a geração dos “Últimos Guerreiros do Império”, têm alguma coisa a contar da sua passagem da Guerra do Ultramar, que permaneça para memória futura e colectiva, deste violento e sangrento período da História de Portugal.
Foram 12 anos de manutenção de um legado histórico (cerca de 500 anos de permanência), à custa de muito sacrifício, privação de toda a ordem, dor, sangue, sofrimento, morte… que envolveu a movimentação de mais de meio milhão de portugueses em armas.
Como se não tivesse bastado, continuamos a sofrer, pelo menos psicologicamente, nos últimos 36 anos com o modo ostracista e laxista como os políticos portugueses nos tratam.
Nós que, nos nossos 21/22/23 anos, demos o nosso melhor, como podíamos e sabíamos, muitas vezes mal treinados e armados, sabe Deus como alimentados e enfiados em autênticos buracos, construídos no lodo, embebidos em pó, lama, suor, mosquitos, etc., completamente hostis e perigosíssimos, sob vários aspectos, onde, além dos combates com o IN, enfrentávamos as traiçoeiras minas e armadilhas, as doenças a apoquentar-nos (paludismos, disenterias, micoses, etc.) e as nossas naturais angústias e temores, próprios das nossas tenras idades.
Nós até nem temos pedido muito, além de respeito e dignidade, que todos nós merecemos pelo que demos a esta Pátria, queríamos, e continuamos a querer, no mínimo, que os nossos doentes, física e psicologicamente, sejam tratados condigna e adequadamente, e o tratamento e acompanhamento dos mais carenciados e abandonados pela desgraçada “sorte” da vida.
Oferecendo-te então aqui as nossas melhores boas-vindas e ficamos a aguardar que nos contes episódios da tua estadia na Guiné, que ainda recordes (dos locais, das pessoas, seus hábitos e costumes, dos combates, dos convívios, etc.) e, se tiveres mais fotografias daquele tempo, que nos as envies, para as publicarmos.Recebe pois, para já, o nosso virtual abraço colectivo de boas vindas.
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
Fotos: © Fernandino Leite (2010). Direitos reservados._____________
Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

18 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6758: Tabanca Grande (231): Eduardo Costa Dias, antropólogo, CEA / ISCTE / IUL

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4646: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (5): A família extensa, reunida em Fajonquito, em 1968

1. Quinta e última parte das memórias de infância do nosso amigo Cherno Baldé (aqui, na foto, à esquerda, o Engº Cherno Baldé, no seu gabinete de trabalho, no Ministério das Infraestruturas, Transportes e Comunicações onde exerce as funções de director do gabinete de estudos e planeamento; em Cambajú e Fajonquito, era simplesmente o Chico, menino e moço, nado e criado no meio das tropas portuguesas) (*).

As crónicas do Cherno têm tido, entre os leitores do nosso blogue, um grande sucesso, pelço seu cunho espontâneo e autêntico, bem como pela qualidade da sua escrita. Fazemos votos para que ele dê continuidade a esta série, nomeadamente com as memórias do tempo que passou em Fajonquito (de 1968 até ao final da guerra e primeiros meses da independência) (LG)


FAJONQUITO: Terra da minha adolescência
por Cherno Baldé


Em 1968, [ e não 1958, como por lapso escreve o autor ], o meu pai foi transferido para Fajonquito e com ele toda a nossa família. Todavia, o meu pai não estava satisfeito com a transferência porque ela tinha provocado a separação com o seu irmão Dembaro, cuja família não podia sair de lá naquela época de rigoroso controlo do movimento de pessoas, por parte das autoridades tradicionais fortemente empenhadas na guerra, sem um pretexto muito forte.

A nossa família, sobretudo, era muito suspeita após a fuga espectacular de Sambagaia, com quem [as autoridades tradicionais] tinham contas a ajustar. Durante mais de um ano, o meu pai esteve à procura de uma maneira de tirar de Cambajú o seu irmão mais velho ao qual tinha jurado fidelidade e assistência.

Finalmente, um ano após a nossa vinda chegou a outra metade da família com Dembaro à testa, para alívio e alegria do meu pai. Este me contaria, mais tarde, que tinha conseguido [isso], graças à ajuda e cumplicidade do Capitão da Companhia que estava colocado em Fajonquito (Cap Carvalho?) e que enviava regularmente um destacamento de 20 dos seus homens para Cambajú. Através de amigos, conseguiu falar com o capitão, explicando-lhe todo o melindre da situação. Este não deu muita importância ao caso e esperou até a altura de proceder à troca de destacamentos e disse ao meu pai para transmitir ao irmão de que devia estar preparado a qualquer momento para embarcar na coluna que traria de volta o destacamento que se encontrava em Cambajú. (**)

E foi assim que, de forma rápida e inesperada, o Dembaro e a família viajaram num camião GMC militar para Fajonquito, colocando tudo e todos perante o facto consumado e granjeando ainda o respeito devido aos amigos do Capitão da Companhia que detinha um poder enorme nas redondezas e, aparentemente, suplantava mesmo as autoridades civis.

Fajonquito, naquela altura, era enorme, devido à concentração das famílias que aqui encontraram refúgio depois dos ataques às suas aldeias ou por imposição das autoridades locais.

Em Fajonquito nasceram os meus irmãos mais novos: Barbosa, Aissatú e Cántaba; e, mais tarde, os filhos da segunda mulher do meu pai, Assiatu Embalo: Umo, Rosa, Mariama e Mamadu-Bobo.


Cherno Abdulai Baldé, Chico
Natural de Fajonquito,
Sector de Contuboel,
Região de Bafatá.

____________________

Notas de L.G.:


(*) Vd. postes anteriores:

18 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4550: Tabanca Grande (153): Cherno Baldé (n. 1960), rafeiro de Fajonquito, hoje engenheiro em Bissau...

(...) Chamo-me Cherno Abdulai Baldé, nasci por volta de 1959/60. No quartel de Fajonquito chamavam-me Chico (de Francisco) e tinha amigos soldados que, na sua maioria, eram condutores ou mecânicos-auto. Tive as minhas primeiras aulas com oficiais Portugueses, em Cambajú e Fajonquito. (...)

19 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4553: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (1): A primeira visão, aterradora, de um helicanhão

(...) Foi naquela época que, na idade de 4 ou 5 anos, aconteceu a minha primeira visão de uma máquina voadora, que terá sido, provavelmente em meados de 1964, precisamente na altura em que estávamos em Samagaia, pouco tempo antes do ataque à zona que nos obrigaria a deixar a aldeia para nos refugiarmos em Cambajú, onde o meu pai já se encontrava a trabalhar alguns anos antes. (...)

24 de Junho de 2009 > Guine 63/74 - P4567: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (2): Cambajú, uma janela para o mundo

(...) Em Cambajú, pequeno centro comercial, começou o despertar da minha infância, altura em que, saído da pequeníssima aldeia de Sintchã Samagaya, fundada por meus pais, aterrei-me numa aldeia de muito maior concentração de moranças e de gente. Cambaju estava situada mesmo na linha da fronteira com o Senegal, o que lhe emprestava um certo ar cosmopolita onde se cruzavam pessoas de várias origens e destinos e um certo movimento de vaivém de pessoas e mercadorias com as suas três ou quatro casas comerciais, algumas pequenas boutiques e o contrabando pra cá e pra lá das duas fronteiras. (...)

25 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4580: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (3): A chegada dos primeiros homens brancos a Cambajú em 1965: terror e fascínio

(...) No ano de 1965, altura em que a guerra para a independência se alastrava rapidamente e aterroriza as aldeias daquela área e obrigava a uma concentração maior da população em certos locais com algumas garantias de defesa e protecção militar, Contuboel, Saré-Bacar, Cambajú e Fajonquito constituíam as praças-fortes da área. Em Cambajú foi estacionado um destacamento de milícias que assegurava a defesa da localidade e que mais tarde foi reforçado com um destacamento de tropas portuguesas. Pela primeira vez na minha vida ainda jovem, via pessoas de uma raça diferente. Foi um choque tremendo. (...)

30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4611: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (4): O ataque dos meus primos a Cambajú e o meu pai que foi um herói

(...) Ainda hoje, a nossa mãe está convencida que este ataque foi obra dos primos do meu pai que viviam do outro lado da fronteira, não muito longe de Cambajú. Aconteceu que, no dia anterior ao ataque, o meu pai tinha recebido uma grande quantidade de mercadorias e, por coincidência, no mesmo dia tinha-se despedido uma pessoa que estava hospedada em casa para tratamento e que voltara junto dos tais primos da outra banda. Assim, nesse dia do ano de 1966, na calada da noite, pouco depois das quatro horas de madrugada, ouvimos tiros. Primeiro os disparos se fizeram ouvir a oeste para os lados do quartel, fazendo pensar que o objectivo era militar, depois se espalharam rapidamente contornando a aldeia. (...)


(**) Pode tratar-se da CCAÇ 2435, comandada pelo Cap Inf José António Rodrigues de Carvalho e, posteriormente, pelo Cap Inf Raul Afonso Reis, unidade orgânica do BCaç 2856, mobilizada em Abrantes no Regimento de Infantaria n.º 2, que assumiu a responsabilidade do subsector de Fajonquito, rendendo a CCaç 1685, em 7 de Dezembro de 1968, e vindo a ser substituída pela CCaç 2436, em 20 de Abril de 1970.

Ou então, mais provavelmente, trata-se da CCaç 1685, comandada pelo Cap Inf Alcino de Jesus Raiano, unidade orgânica do BCaç 1912, e mobilizada em Évora no RI 16: assumiu a responsabilidade do subsector de Fajonquito, rendendo a CCaç 1501, em 19 de Setembro de 1967, e vindo a ser substituída pela CCaç 2435 em 14 de Dezembro de 1968.

No entanto, o Chico diz-nos que "quando a minha familia se transferiu para Fajonquito, a companhia 1501 já estava no fim ou já tinha terminado a sua comissão mas, na memória de todos, em Fajonquito, tinham ficado gravadas estas insígnias em forma de números que perduraram no tempo. No meu caso, não sei explicar as razões, ainda era muito pequeno, mas a insígnia ficou para sempre"...

Recorde-se que CCAÇ 1501, comandada pelo Cap Inf Rui Antunes Tomaz, era uma unidade orgânica do BCAÇ 1877, mobilizada em Tomar no RI 15, tendo assumido a responsabilidade do subsector de Fajonquito e rendido a CCaç 1497, em 26 de Janeiro de 1967. Veio a ser substituída pela CCaç 1685, em 19 de Setembro de 1967.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4550: Tabanca Grande (153): Cherno Baldé (n. 1960), rafeiro de Fajonquito, hoje quadro superior em Bissau...

Guiné-Bissau > Bissau > O  Cherno Baldé, na actualidade, no seu gabinete de trabalho, no Ministério das Infraestruturas, Transportes e Comunicações onde exerce as funções de director do gabinete de estudos e planeamento. 

Fez os meus estudos universitários, primeiro, na Ucrânia (ex-União Soviética) entre 1985/90 e depois em Portugal (Pós-graduação no CEA - Centro de Estudos Africanos /ISCTE).

Ex-URSS > Ucrânia > Kiev > Cherno Baldé, estudante, em 1989...


"Minha mulher, Geralda Santos Rocha, natural de Bissau, com quem sou casado desde 1992, período que coincide com a minha passagem por Lisboa (1992/94) para frequência do curso no ISCTE" (CB).


Guiné-Bissau > região de Gabu > Fajonquito > c. 1975 > "A nossa equipa de futebol de salão no quartel de Fajonquito entre 1974-1975, podendo-se ver em pé: Mamudo, Algássimo e o professor António Tavares; sentados: Eu (Cherno) e Aruna (filho do antigo padeiro) à minha esquerda" (CB)

Fotos: © Cherno Baldé (2009). Direitos reservados (*)

1. Mensagem de Cherno Baldé, com data de 15 do corrente:


Assunto - Saudações à Tabanca Grande

Caro amigo Luis Graça,

Navegando na internet, entrei por acaso neste blogue a que chamaram de Tabanca Grande. Procurei casualmente pela CCAÇ 1501 (**) que é das poucas recordações que ainda me restavam em memória sobre o período da guerra que entre nós ficou conhecida como a guerra colonial.

A pesquisa conduziu-me para o artigo de José Martins (*) e o assunto à volta do Furriel Andrade, despoletado por Filomena da Silva Correia, minha conterrânea de Fajonquito.

Antes vou me apresentar. Chamo-me Cherno Abdulai Baldé, nasci por volta de 1959/60. No quartel de Fajonquito chamavam-me Chico (de Francisco) e tinha amigos soldados que, na sua maioria, eram condutores ou mecânicos-auto. Tive as minhas primeiras aulas com oficiais Portugueses, em Cambajú e Fajonquito.

Aproveito para enviar uma saudação ao Furriel ou Cabo "Tintim" (CCAÇ 2435?), amigo do meu pai e meu primeiro mestre.

Na verdade, quando a minha família se transferiu para Fajonquito, a companhia 1501 já estava no fim ou já tinha terminado a sua comissão mas, na memória de todos, em Fajonquito, tinham ficado gravadas estas insígnias em forma de números que perduraram no tempo. No meu caso, não sei explicar as razões, ainda era muito pequeno, mas a insígnia ficou para sempre.

Conheci fisicamente o Capitão Carvalho que, na minha memória de infância, de criança que tinha mais fome da "sopa" que cabeça, guardo uma legenda, um mito. De qualquer modo, posso afirmar que era um oficial de verdade. Era um oficial militar que nós queríamos seguir as pisadas de bravura, quando fossemos homens e certamente soldados.

Ainda crianças pequenas, já tínhamos o gosto pela pólvora, a G3 e as granadas não eram nenhum segredo e, certamente, a nossa grande sorte foi a guerra ter terminado antes. Gostaria de saber mais sobre o seu destino. Houve vozes que chegaram até nós dando-o como morto em Angola ainda durante a guerra.


Conheci muita tropa que passou por Fajonquito entre 1968/74, em especial das companhias 3549 e 4514/72. (*) O rebentamento da(s) granada(s) que vitimara o saudoso Cap Figueiredo e seus companheiros de armas [da CART 2742] (*), apanhou-me a menos de 100 metros do local, quando estávamos a brincar perto da casa dos oficiais.

De todas as companhias, em especial, lembro-me da última que tinha sido transferida de Gadamael-Porto. Os soldados dessa companhia eram bastante melhores, do ponto de vista humano e das crianças indígenas da localidade porque foram os primeiros e únicos que, de uma forma geral, não nos deram pontapés no cu, às vezes sem qualquer motivo. Ao contrário dos outros, eles nos respeitavam de verdade. Intrigado com este comportamento exemplar nunca deixei de indagar as razões de fundo. A conclusão a que cheguei, mais tarde, é que eles tinham vivido a guerra de verdade, na frente, talvez, mais quente de toda a guerra da guiné.

Dessa companhia ainda me lembro do Cabo João e do Jorge, ambos condutores. Infelizmente não me lembro da companhia (será 4514 ?).

Juntamente envio um extracto de notas de memória daqueles tempos. Espero que sejam úteis, sobretudo que possam permitir aos protagonistas daquela época a percepção de como o outro lado os via e entendia a sua presença.

Como alguém disse, nesse blogue, realmente "o mundo é pequeno e o blogue... é grande".

Até a próxima,

Cherno A. Baldé


2. Mensagem de 17 de Junho de 2009:

Caro amigo Luis Graça,

Juntamente envio algumas fotos, uma da actualidade no meu gabinete de trabalho, no Ministério das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, a segunda com a imagem da nossa equipa de futebol de salão no quartel de Fajonquito entre 1974-1975, podendo-se ver em pé: Mamudo, Algássimo e o professor António Tavares; sentados: Eu (Cherno) e Aruna (filho do antigo padeiro) à minha esquerda.

Um abraço,

Cherno Baldé

3. Mensagem de hoje:

Caro Luís,

Ontem enviei três fotos mas esqueci-me de dizer que a terceira era a imagem da minha mulher, Geralda Santos Rocha, natural de Bissau com quem sou casado desde 1992, período que coincide com a minha passagem por Lisboa (1992/94) para frequência do curso no ISCTE.

Hoje envio mais uma que é uma recordação dos tempos de estudante em Kiev, Ucrânia onde vivi e estudei entre 1996/90, após uma breve passagem por Kichinov (Moldávia) para aprendizagem da língua Russa.

Obrigado pela paciência que está a ter comigo e devo esclarecer que não estou a procura de ninguém em especial, só querendo fazer parte da Tabanca e compartilhar alguns sentimentos do passado e do presente.

Eu passei boa parte da minha infância entre a tropa que passou por Fajonquito (1968/74) e tive muitos amigos que, na verdade, logo esquecia para me concentrar nos récem-chegados.

Eu era desses raros pequenos rafeiros do quartel impossíveis de controlar e muito menos de afastar. Quando se fechavam os portões do quartel entrava, mesmo assim, por baixo do arame farpado. O dia e a noite faziam pouca diferença. Apanhava porrada de um ou outro quando deambulava pelo quartel, mas também, dava alguns trocos com emboscadas e pedradas a noite.

A língua ? Isso importava menos. Quando o meu amigo, o Dias, me perguntava "Hó Chiiico já limpaste as minhas botas?", eu respondia de imediato "Sim senhor, já limpaste" e depois ?"...

Nós nos compreendiamos muito bem e isso é que importava. Foi esta vida de cão de quartel no meio de jovens soldados endiabrados, acossados pela ansiedade do regresso a casa e o medo da morte que me moldou a vida e me preparou para enfrentar o mundo.

O fim da guerra foi para mim uma libertação mas também um choque terrível de que só tomei consciência passados os primeiros seis meses após a saída do último soldado português. Durante algum tempo ainda tudo continuou na mesma, havia a batata, o bacalhau já com muito mais arroz.

O maldito arroz era, cada dia, mais abundante nos pratos, mas o início da minha miséria começou mesmo foi quando a carne de macacos substituiu tudo o resto. Então, como bom rafeiro que era, olhei para o céu duas ou três vezes seguidas, como fazia sempre que estava em apuros, e compreendi que tinha chegado a hora da largada para outros destinos. Caminhei para casa e quando cheguei, enfrentei os meus pais olhos nos olhos e garanti-lhes que daquele dia em frente nunca mais faltaria às aulas da mesma forma que, também, não voltaria a pisar no quartel transformado em comedouro de macacos.

Espero não estar a exagerar nos desabafos e nas minhas possiveis alucinações.

Cherno A. Baldé

4. Comentário de L.G.:

Não te vou tratar por senhor dr. Cherno Baldé, por que a tua vontade é ingressares nesta Tabanca Grande, onde não há ou não deve barreiras (físicas, simbólicas, sociais, protocolares, étnicas ou culturais)... 

Tratemo-nos, pois, por tu, e vamos retomar as conversas e as brinqueiras com os tugas do teu tempo de Fajonquito (1968/74)... Também não te vou tratar por camarada porque não foste combatente, nem militar, tecnicamente falando... Em contrapartida, passaste pela mesma Escola que eu, o ISCTE, e isso reforça as nossas afinidades e cumplicidades... Estive além disso na CCAÇ 12 onde havia vários Chernos Baldé, gente do Cossé, de Badora, do Corubal...

Estás em casa, espero que sintas hoje muito mais confortável do que nesse tempo, em que matavas a fome com as sobras do quartel a troco de pequenos serviços... Como tu, houve milhares de jubis (como a gente dizia, referindo-se aos putos) que viviam literalmente nos nossos quartéis, estudaram e fizeram-se homens nos nossos quartéis...

Essa história de infância e adolescência merece ser contada...Mais, a tua história de vida, de luta, através do trabalho e do estudo, é um exemplo que nos comove a todos nós e que te deve orgulhar, a ti e à tua família...

Recebo-te, pois, de abraços abertos, meu amigo e meu irmãozinho, guineense, mesmo não tendo conhecido Fajonquito (do leste só conheci a região de Contuboel, Geba, Bafatá, Galomaro e Bambadinca, até ao Saltinho, passando por Xime, Mansambo e Xitole  e, a norte do Geba Estreito,  os regulados do Enxalé, Cuor, Joladu...).

Irei dar início, para a semana, à publicação das pequenas histórias que me mandaste. Até lá, mantenhas para ti e para a tua família. Que Deus te proteja, a ti e à nossa Guiné...L.G.
_________

Nota de L.G.:

(*) Há dias, devido a um "bug", estas fotos desapareceram do meu Álbum Picassa, e o poste teve que ser reeditado. Peço desculpa ao Cherno Baldé e aos nossos leitores por esta anomalia técnica, corrigida hoje (23/6/09).

Dear Picasa Web Albums user,

We wanted to let you know about a recent issue with your Picasa Web Albums account. As a result of a bug in our email notification system, some links and titles to unlisted albums and photos in your account may have been inadvertently sent to a limited set of other users -- those listed in your account as "Fans".

This involved unlisted photos only -- no 'sign-in-required to view' photos were involved. We fixed the issue within hours of identifying the problem.

To help remedy this bug, we have reset the unique web addresses for all albums that may have been affected. This helps ensure that these albums are inaccessible to anyone that attempts to view them using the outdated web address. If you would like to re-share these albums, please do so by clicking the "Share" button while viewing the album. Note, resetting the unique web addresses also broke image links for some affected photos in your Blogger blog -- you will need to re-post those images using Blogger. This applies to images uploaded from Wednesday evening to late Thursday night, Pacific Standard Time.

We're sorry for the trouble this may have caused. Although this issue only affected roughly 0.05% of Picasa Web Albums users, we want to assure you that we have treated this issue with the highest priority.

The Picasa Team

Some photos from the following unlisted albums may have been affected, so they have had their web addresses reset:

LuisGracaCamaradasDaGuine02 (Blogger)



(**) Vd. poste de 3 de Abril de 2009 >Guiné 63/74 - P4136: As Unidades que passaram por Fajonquito (José Martins)

(...) Companhia de Caçadores n.º 1501, comandada pelo Capitão de Infantaria Rui Antunes Tomaz, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 1877, mobilizada em Tomar no Regimento de Infantaria n.º 15, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 1497, em 26 de Janeiro de 1967, vindo a ser substituída pela CCaç 1685 em 19 de Setembro de 1967.

Companhia de Caçadores n.º 1685, comandada pelo Capitão de Infantaria Alcino de Jesus Raiano, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 1912, mobilizada em Évora no Regimento de Infantaria n.º 16, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 1501, em 19 de Setembro de 1967, vindo a ser substituída pela CCaç 2435 em 14 de Dezembro de 1968.

Companhia de Caçadores n.º 2435, comandada pelo Capitão de Infantaria José António Rodrigues de Carvalho e, posteriormente, pelo Capitão de Infantaria Raul Afonso Reis, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 2856, mobilizada em Abrantes no Regimento de Infantaria n.º 2, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 1685, em 07 de Dezembro de 1968, vindo a ser substituída pela CCaç 2436 em 20 de Abril de 1970.

Companhia de Caçadores n.º 2436, comandada pelo Capitão de Infantaria José Rui Borges da Costa, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 2856, mobilizada em Abrantes no Regimento de Infantaria n.º 2, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 2435, em 20 de Abril de 1970, vindo a ser substituída pela CArt 2742 em 13 de Agosto de 1970.

Companhia de Artilharia n.º 2742, comandada pelo Capitão de Artilharia Carlos Borges de Figueiredo e, posteriormente, pelo Alferes Miliciano de Artilharia Baltazar Gomes da Silva, unidade orgânica do Batalhão de Artilharia n.º 2920, mobilizada em Penafiel no Regimento de Artilharia Ligeira n.º 5, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 2436, em 13 de Agosto de 1970, vindo a ser substituída pela CCaç 3549 em 21 de Maio de 1972.

Companhia de Caçadores n.º 3549, comandada pelo Capitão Quadro especial de Oficiais José Eduardo Marques Patrocínio e, posteriormente, pelo Capitão Miliciano Graduado de Infantaria Manuel Mendes São Pedro, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 3884, mobilizada em Chaves no Batalhão de Caçadores n.º 10, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CArt 2742, em 27 de Maio de 1972, vindo a ser substituída pela 2.ª Companhia do BCaç 4514/72 em 15 de Junho de 1974.2.ª

Companhia do BCaç 4514/72, comandada pelo Capitão Miliciano de Infantaria Ramiro Filipe Raposo Pedreiro Martins, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 4514/72, mobilizada em Tomar no Regimento de Infantaria n.º 15, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 3549, em 15 de Junho de 1974, vindo a iniciar o deslocamento para Bissau a partir de 30 de Agoosto de 1974, tendo um pelotão efectuado a desactivação e entrega, ao PAIGC, do aquartelamento em 01 de Setembro de 1974. (...)