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sábado, 21 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9382: Blogoterapia (197): Recordações da CCS/BCAÇ 1911 (Mafalda e Armando Ramos)

CCS do BCAÇ 1911 - Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71


1. Mensagem da nossa amiga Mafalda Ramos, filha do nosso camarada Armando Ramos, ex-1.º Cabo TRMS da CCS/BCAÇ 1911 (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71), com data de 19 de Janeiro de 2012:

Sr. Carlos Vinhal,
Muito obrigada pelo carinho*.

Muitos Parabéns por terem criado um blogue de tremenda importância social! Tal deve ser constantemente reconhecido, deve ser premiado e quiçá ser objecto de estudo académico. Tudo farei por divulgar o vosso projecto!

Tenho duas fotografias que gostaria que colocasse. Uma delas é a foto colectiva da CCS do Batalhão mas tem riscos que nós, crianças fizemos...(é pena mas é o que tenho e que guardei religiosamente). Não disponho para já de informações para identificar os camaradas, o meu pai não está comigo mas mal esteja junto, pedir-lhe-ei para identificar os camaradas e se a foto já estiver online no blogue vou colocando anotações à medida da memoria do pai.

Em anexo envio,
Alguma coisa diga,
Agradeço
Um abraço!
Armando e Mafalda Ramos


2. Mensagem/resposta enviada à nossa amiga Mafalda:

Cara amiga Mafalda
Muito obrigado pelas suas palavras que vão direitas ao verdadeiro fundador do Blogue, o Prof Luís Graça. A ele se deve esta grande obra e sucesso da internete, com mais de 3.000.000 de visitas.
[...]
Claro que vou publicar as fotos que mandou embora tenham muito má qualidade. Ainda dei um toque à individual do seu pai, mas pouco consegui.
Se tiver por aí mais vá mandando. Se o seu pai quiser relembrar alguma coisa, ou a Mafalda saiba e nos queira contar, por favor mande para nós publicarmos. Veja se o seu pai se sente bem ao falar da Guiné, caso contrário não o force.

Depois aviso do que publicar.
Dê um enorme abraço ao meu camarada Ramos e receba as minhas saudações e admiração.
Carlos Vinhal
Co-Editor


3. Nova mensagem da Mafalda ainda de 19 de Janeiro:

Carlos,
O seu abraço já foi hoje entregue, pois li ao telefone o seu email!

Fiz-lhe uma ou outra pergunta e não sei bem se ele se sente à vontade, demonstra felicidade por ter feito isto...
Quando estiver com o pai consigo ver melhor, e alguma informação que consiga vou dando.

Além destas duas fotos tenho uma outra mas também do meu pai, e daí desnecessária para o grupo.
[...]
Obrigada mais uma vez!

Eu gostava de saber duas informações que pode saber:

1 - em tempos vi uma reportagem sobre as dedicatórias de rádio que foram feitas aos combatentes. Uma senhora passados anos, recuperou, e deslocou-se aos ex-combatentes levando um leitor de cassete pondo a própria a ouvir a dedicatória que lhe fora dirigida na época. Um trabalho excepcional. Sabe algo sobre isto?

2 - Sei que a minha mãe foi "Madrinha de guerra" do meu pai. O que era de facto uma madrinha de guerra? existem publicações sobre este tema?

Muito obrigada!
Mafalda Ramos


4. Finalmente, foi enviada esta mensagem à Mafalda:

Cara amiga Mafalda
De novo em contacto
Madrinhas de guerras eram meninas ou senhoras que se disponibilizavam a trocar correspondência com militares na guerra. A maioria até eram desconhecidas deles, vindo o conhecimento das revistas femininas da época onde os militares punham anúncios a pedir madrinhas. Outras vezes eram vizinhas ou amigas descomprometidas. Muitas vezes acabava em casamento.

Neste link vai abrir uns quantos postes sobre madrinhas de guerra, quando chegar ao fim da página, encontra no lado direito a opção "Mensagens antigas". Clica e aparecerão mais postes. Vai repetindo a operação até dizer que não há mais mensagens.

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/madrinhas%20de%20guerra

Tem ainda alguns postes dedicados às nossas mulheres:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/as%20nossas%20mulheres

e às nossas mães:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/as%20nossas%20m%C3%A3es

Quanto à reportagem das mensagens de Natal de que me fala, lembro-me de ver isso, mas onde e quando, não sei dizer.
Encontrei isto na net:

http://videos.sapo.pt/l4oZyJWpvYSp0CJzUc2C

Já agora, a título informativo, o BCAÇ 1911 de seu pai tem ainda um espólio muito "pobre" no nosso Blogue. O pouco que há e as suas publicações vão ficar alojadas neste endereço do nosso blogue:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/BCA%C3%87%201911

Esperando ter sido útil
Renovados abraços do amigo ao dispor
Carlos Vinhal
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9359: O Nosso Livro de Visitas (121): Mafalda Ramos, filha do nosso camarada Armando Ramos do BCAÇ 1911

Vd. último poste da série de 8 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9332: Blogoterapia (196): Lembras-te? (Juvenal Amado)

domingo, 15 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9359: O Nosso Livro de Visitas (121): Mafalda Ramos, filha do nosso camarada Armando Ramos do BCAÇ 1911

Nesta foto: Fernandino Vigário; Barbosa (Póvoa); Francisco (Miranda do Corvo) e Armando Ramos (Torres Novas)


1. Comentário deixado no Poste Guiné 63/74 - P9186: Tabanca Grande (309):

Viva! É com muita alegria que consegui chegar a vós.

Sou filha do Armando Ramos, de Torres Novas, 1º Cabo de Transmissões do Batalhão de Caçadores 1911 (1967-1969) que está na fotografia que gentilmente partilharam ...  O meu pai era de facto um "borrachinho". E  um misto de emoções me invadiram: o stress pós traumático, o que nós filhos sofremos por consequência do que Heróis como os senhores passaram numa guerra que nos cabe a todos arrumar nos nossos corações e reencontrar a paz necessária.

Grata por este meio que ajudará e muito a sarar estas feridas comuns... ESTAMOS JUNTOS!

Mafalda Ramos, telefone 93 506 7764 e 91 873 3318 e email: mafaldasays@gmail.com.

Em breve, em conjunto com o pai Armando, iremos colocar aqui uma fotografia do Batalhão [, o BCAÇ 1911,Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete, 1967/69, ], fotos  individuais (que religiosamente guardei...) e a história contada pela 1ª pessoa - o meu pai, cuja partilha é tão necessária já que foi apenas comigo,  aos 12 anos, que o pai contou muito do que passou...

Hoje felizmente o meu pai faz uma vida normal com saúde (dentro das limitações normais) e hoje dei uma GRANDE alegria ao meu pai GRAÇAS A VÓS!

BEM HAJAM E ESTAREI MAIS ATENTA AGORA A ESTE NOSSO ESPAÇO.

BOM ANO DE 2012, CAMARADAS!


2. Comentário de CV:

Cara amiga Mafalda:

Muito obrigado pelo comentário deixado no Poste onde foi publicada a foto do nosso camarada Vigário, onde está o seu pai.

Costumamos dizer que o Mundo é Pequeno e o nosso Blogue Grande. O seu pai, e nosso camarada Armando Ramos, que agora nos descobriu, com a sua ajuda poderá contribuir para o espólio o nosso Blogue, mandando-nos as suas fotos e memórias para as publicarmos. Até porque temos poucas referências ao BCAÇ 1911 e ao seu pessoal.

Pelo que pudemos ler, a Mafalda foi um esteio para o seu pai na qualidade de confidente/ouvinte e acompanhante da sua recuperação psicológica. Por isto receba a nossa estima e consideração. Bem haja.

Ficamos assim à espera das vossas próximas mensagens, enviando, em nome dos editores e da tertúlia, um grande abraço para o camarada Ramos e outro para si.

Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9328: O Nosso Livro de Visitas (120): Anabela Pires, em vias de ir para Iemberém, no Cantanhez, trabalhar como voluntário na AD - Acção para o Desenvolvimento, procura cartas da região de Tombali e elogia o nosso blogue

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9321: As minhas memórias (Fernandino Vigário) (1): Um Alferes Capelão que queria ensinar o Pai-Nosso ao Vigário

1. Mensagem do nosso camarada Fernandino Vigário* (ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 1911, Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete, 1967/69), com data de 2 de Janeiro de 2012:

Caro amigo Carlos Vinhal , uma boa noite.
Recebi hoje teu E-mail que fala das dúvidas do Carlos Pinheiro e sobre esse assunto eu já disse o que sei.

Aproveito para enviar uma história passada comigo e um Alferes Capelão que, creio, estava no QG, não sei o seu nome nem o conhecia. Entre missas e funerais eu conheci vários, havia um que, se não estou em erro, com o posto de Tenente,  corpo franzino mas espírito de oficial militar, não dava grande confiança aos soldados.

Vai também duas fotos, uma sou eu no jipe, a outra sou eu mais três amigos e vizinhos que estavam no QG. O outro elemento não faço a mínima ideia quem seja.

Um forte abraço
Fernandino Vigário



AS MINHAS MEMÓRIAS - 1

Um Alferes Capelão que queria ensinar o Pai-Nosso ao Vigário

Caro amigo Carlos Vinhal.
Olá amigos e camaradas.
Estou de volta, e às voltas com a minha memória: como não tenho nada escrito vou tentar reconstituir uma história passada comigo e um alferes Capelão. Hesitei se a devo contar ou não, mas resolvi contar nem que seja para ficar em arquivo.

Eu, Fernandino Vigário,  ex-Soldado Condutor,  estava em Bissau no quartel conhecido por "600". Já no fim da comissão, numa manhã de Domingo (não me recorda a data, mas deve ter sido num dos primeiros meses de 1969), fui escalado para transportar um Alferes Capelão,  ainda bastante jovem a três ou quatro destacamentos limítrofes de Bissau, Safim e outros, onde estavam destacados Pelotões de Companhias do meu Batalhão 1911.

Transportar um Capelão,  para ir celebrar a Eucaristia aos ditos destacamentos, foi serviço que eu fiz várias vezes, e nem sempre foi o mesmo. O que aconteceu nesse Domingo com um bastante jovem, devia ter a minha idade ou pouco mais, que eu não o conhecia, nem nunca soube o nome porque só fiz um único serviço com ele.

Neste Domingo de manhã, depois de darmos os bons dias e trocarmos algumas palavras de circunstância, iniciámos a viagem que nos iria levar aos ditos destacamentos. O Capelão.  além de jovem era simpático e extrovertido, falava pelos cotovelos, e para espanto meu, ainda na estrada de Sª. Luzia ao cruzarmos com uma mulher ainda jovem, cabo-verdiana, por sinal bem jeitosa, atira a seguinte frase:
- Ena pá! Que gaja boa. Uff, que brasa!

Percorridas mais umas dezenas de metros, e de novo ao avistar outra mulher cabo-verdiana,  repete os comentários. Eu,  perante este cenário e vindo de um Padre, olhei-o de soslaio, meio petrificado e a pensar no que é que viria a seguir. Seria aquilo verdade?

Como eu falava pouco, na verdade sou um pouco introvertido e reservado, havia também a hierarquia, alferes e soldado,  a separar-nos, o Capelão resolve puxar por mim.
- Então, condutor, não dizes nada, o gato comeu-te a língua... pra começar diz-me lá o teu nome?
- Fernandino Vigário, meu Capelão, mas todos me tratam por Vigário.
- Vigário? Oh pá, mas és Vigário ou és vigarista?

Hesitei um pouco, mas logo respondi:
- Meu Capelão, eu sou Vigário de nome, mas sei que há por aí uns Vigários com obras feitas. Olhe, alguns até vieram parar a Bissau.
- Pois é, condutor, para quem falava pouco já estás a falar de mais, eu vou ter que te ensinar o Pai-Nosso.

Tive que me fazer um pouco palonço, não senti a rigidez militar e respondi:
- Meu Capelão, não é necessário! Eu na minha parvónia aprendi a Doutrina toda, foi o meu pai que me ensinou. Até fiz a comunhão solene!
- O teu pai ensinou-te a Doutrina mas foi às avessas, agora quem te vai ensinar sou eu.
- Meu Capelão, peço desculpa se o ofendi, mas não vejo onde o tenha feito, e longe de mim ofender quem quer que seja.
-Bem condutor, aceito as tuas desculpas e não se fala mais nisso, afinal hoje é Domingo, é o dia do Senhor, e de ouvir a Santa missa.

PS - Sou católico praticante, e nada me move contra a igreja e os Padres, antes pelo contrário, porque sempre os respeitei e ao contar esta história não pretendo denegrir nem esta, nem os padres, e estou convicto que aquele jovem Capelão tenha dado um bom padre, para mim aqueles comentários sobre mulheres eram fruto da sua juventude.

Um forte abraço para toda a Tabanca.


Malta amiga, maiatos, num Café de Bissau > A partir da esquerda: 1.º Cabo Op Cripto/QG Domingos,  Sousa da CCAÇ 1743, (?), 1.º Cabo Escriturário/QG e eu Fernandino Vigário
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9229: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (40): Comprei um computador pequeno e lentamente fui aprendendo a navegar na Net (Fernandino Vigário)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9186: Tabanca Grande (309): Fernandino Vigário, ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 1911 (Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete, 1967/69)

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo Fernandino Vigário (ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 1911, Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete, 1967/69), dirigida ao Blogue através do nosso camarada Albino Silva:

Olá amigos, e camaradas!
Hoje decidi-me apresentar à Tabanca Grande, uma vez que só agora a descobri, e assim :

Sou o Fernandino Vigário, casado, tenho três filhos, sou reformado mas ocupado pois tenho uma loja de mobiliário “Móveis Ascenção”, natural e residente em Nogueira da Maia, Distrito do Porto.

Só muito recentemente, há três ou quatro meses, tive conhecimento da existência da Tabanca Grande na internet, através do meu amigo, vizinho e parente afastado Fernandino Leite. Fui convidado por este a ir à Tabanca Pequena a Matosinhos, não me foi possível aceitar o convite mas hei-de arranjar uma vaga para o fazer futuramente, embora saiba que não se trata da mesma Tabanca, já que uma é Grande e outra é Pequena, e sei que a Tabanca Grande já foi visitada por mais de 3 milhões de visitas.

Assentei praça no CICA 1 - Porto, primeiro turno de 1966, tirei Especialidade de Condutor Auto Rodas no Regimento de Infantaria 6 - Senhora da Hora - Matosinhos, onde me mantive até Janeiro de 1967, altura em que fui mobilizado para o Ultramar.

Apresentei-me em Tomar no RI 15 onde fiz parte do BCaç 1911. Pelo meio passei por Santa Margarida, Cavalaria 4, onde fiz instrução de condução naquela zona de altitude.

O Batalhão de Caçadores 1911 embarcou em Lisboa no dia 26 de Abril de 1967 com chegada a Bissau a 1 de Maio, e desembarcámos no dia 2. Ficámos instalados em Brá com a missão de reserva do Comando Chefe durante cerca de três meses.

Em Agosto partimos rumo a Teixeira Pinto numa (LDG)? (aqui tenho dúvidas que tipo de barco era), a viagem correu sem consequências, uma vez chegados, e após ter desembarcado, a primeira visão que me chamou atenção foram 5 ou 6 viaturas destruídas por rebentamento de minas. Eu era Soldado Condutor e pertencia à CCS. Esta que ficou em Teixeira Pinto, enquanto que a CCaç 1681 foi para a zona do Bachile e Cacheu, a CCaç 1682 para Có e Pelundo, e a CCaç 1683 foi para Jolmete.

Quando o Comando do Batalhão teve conhecimento no Quartel-General que ia seguir para o sector de Teixeira Pinto, foi-lhe prestada a seguinte informação: o Sector de Teixeira Pinto não é um sector de “Roncos”, é um Sector difícil e de importância capital, e se conseguirem evitar que o inimigo penetre e domine o sector será os maior ronco que possam fazer.

Em Maio 1968, concretamente no dia 7, o Batalhão foi rendido pelo Batalhão de Caçadores 2845, com a firme convicção de um dever cumprido, com honra e orgulho de não ter deixado que o inimigo penetrasse ou dominasse aquele T’chon Manjaco, e por termos deixado todo um itinerário aberto apesar de dificil.

Teixeira Pinto era um sector difícil para todos, e em particular para os condutores devido ao perigo e rebentamento de minas, a CCS tinha a missão de abastecer vários destacamentos, entre eles, Có, Jolmete, Pelundo, Caió, Bassarel e outros: portanto os Condutores, Sapadores, Pelotão de Reconhecimento e outros, estavam sempre alinhar nas escoltas, e colunas.

A minha guerra foi feita a conduzir um Unimog, fiz várias colunas de transporte de géneros a Jolmete e a Có, com passagem pelo Pelundo e outros locais que não me recordo os nomes excepto o “barril, “as colunas eram feitas em itinerários difíceis e perigosos, o inimigo colocava minas, armadilhas, fazia emboscadas em vários locais, só com o apoio da Força Aérea e das Panhards que seguiam nas colunas era possível às nossas forças resistir aos seus ataques, e chegar ao destino, o que não impediu de sofrermos várias baixas.

Eu como Soldado Condutor era dos últimos a saber que ia haver coluna, a informação chegava como um segredo, mas havia fuga de informação, o inimigo sabia sempre o nosso trajecto e aparecia para nos emboscar, e colocar minas anticarro principalmente nas colunas para Có.

Recordo com alguma dificuldade como era Jolmete, porque pouco tempo lá permanecia. Descarregados os géneros, era o regresso a Teixeira Pinto, tenho uma vaga ideia de uns abrigos subterrâneos e era aí que os soldados dormiam, peço desculpa se estiver enganado, já lá vão quarenta e quatro anos, foram os últimos meses de 67 e os primeiros de 68. Vem isto a propósito de imagens que vi na internet de Jolmete que não reconheci, estas eram bem melhores do que aquilo que eu vi, deve ter sido obra e um bom trabalho do BCaç 2845.

Fui dezenas de vezes à Ponte Alferes Nunes, a conduzir o Unimog levar camaradas, os meus anjos da guarda faziam o percurso a pé a picarem a estrada na detecção de minas, eu não desviava os olhos da estrada para ver se o piso tinha sido movido, seguia sempre os mesmos trilhos rodados mas nunca passei para o lado de lá da ponte, esta estava destruída e as viaturas não passavam.

Com a minha viatura percorri todo o sector de Teixeira Pinto, excepto Bachile e Cacheu, e a sua zona, foram centenas de quilómetros a conduzir apenas com meia dúzia de soldados em idas ao Pelundo, Ponte Alferes Nunes, Caió, Bassarel, e outras povoações de que não recordo os nomes, foram dezenas as viagens que fiz felizmente sem consequências graves.

Nestes últimos meses fiz várias visitas ao site dos camaradas, e fiquei sensibilizado, li vários depoimentos a elogiarem o alferes que tiveram no seu Pelotão, o Capitão amigo como Comandante de Companhia. Gostava e teria todo o prazer em fazer aqui o mesmo, mas não posso: o capitão da CCS do BCaç 1911, que por razões óbvias vou omitir o seu nome, era um indivíduo que não respeitava ninguém, principalmente os soldados, a malta dizia em tom de brincadeira: o capitão está apanhado pelo clima. Pessoalmente tinha medo dele, como tinha das minas, fugia dele como o diabo da cruz, por isso raramente tinha contactos com ele, nos poucos que tinha, ele só berrava, APANHAS UMA PORRRRAAAADA PAH. Não sabia dizer mais nada. Um capitão que se prezasse devia saber incutir respeito nos seus subordinados e não medo, foi uma triste figura que passou pela minha vida. Deu-me gozo e aos meus camaradas da CCS em o ver com as calças na mão em Teixeira Pinto num levantamento de rancho de uma Companhia de Comandos. Ou pára-quedistas? Não me recordo bem ao certo. Que estavam ali de passagem para operações na mata de Jol. Com estes ele meteu a viola no saco, nem dizia o que sabia, nem sabia o que dizia, só gaguejava, e toda a malta a rir às escondidas do espectáculo.

Nos dias de hoje, quarenta e três anos depois, nos meus sonhos de fantasmas de guerra ainda ouço aquela voz: APANHAS UMA PORRRRAAAADA PAH.

Nas minhas visitas ao site tenho procurado notícias do meu Batalhão “1911” e não encontrei nada, com pena minha, porque gostava de ler histórias dos meus antigos camaradas. Há sempre algo para contar, por isso faço aqui um convite, escrevam como sabem, a mais ninguém é obrigado, eu tenho a quarta classe, e escrevi como sei.

Fernandino Vigário

Da esquerda para a direita: Teixeira de (Ribeirão); Jaime, Escriturário (Porto); Fernandino Vigário; e Fernando Correia (Arcos de Valdevez)

Brá > Fernandino Vigário e Fernandino Leite

Fernandino Vigário; Barbosa (Póvoa); Francisco (Miranda do Corvo) e Ramos (Torres Novas)

Um forte Abraço para todos os camaradas.
Fernandino Vigário,
Ex-Soldado Condutor da
CCS/BCaç 1911
Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete


2. Comentário de CV:

Caro Fernandino, bem vindo à Tabanca Grande.
A tua entrada na tertúlia foi apadrinhada pelo nosso camarada Albino Silva pelo que não podias ter tido melhor apresentador. Ele é um dos nossos poetas, já com uma obra apreciável no nosso Blogue.

De ti, se não pudermos ter poemas, pelo menos esperamos pela tua prosa e por mais algumas fotos para publicarmos.

Na verdade tens razão quando dizes que não encontras registos do teu Batalhão. Por que és o primeiro representante do BCAÇ 1911 no nosso Blogue, ficas com a responsabilidade de contar a história da tua Unidade, tanto quanto te for possível e souberes.

Para que te possamos contactar directamente, precisamos que nos forneças o teu endereço de e-mail se o tiveres.

Passo a terminar, deixando-te um abraço em nome da tertúlia e dos editores.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9072: Tabanca Grande (308): Carlos Luís Martins Rios, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857 (Mansoa e Bissorã, 1965/66)

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1103: Breve historial do BCAÇ 1911 e do BCAÇ 1912 (A. Santos)

Oportuno texto (didático) do A. Santos, fazendo a distinção entre os BCAÇ 1911 e 1912 (1):

Luís e Camaradas:

Vamos lá arrumar a casa em relação ao BCAÇ 1911.

Este Batalhão foi mobilizado pelo RI 15, Tomar, e chegou a Bissau em e de Maio de 1967. O CMDT foi o Ten-Cor Álvaro Romão Duarte, as suas companhias operacionais foram as CCAÇ 1681, 1682 e 1683, cujos CMDTS foram por ordem os Capitães de Inf Manuel Francisco da Silva e Renato Vieira de Sousa e o Cap Mil Cav José Manuel Pontífice Maricoto Monteiro.
Divisa: Coragem e Humanidade.

De início este Batalhão ficou em Bissau até 17 de Agosto de 1967, às ordens do Com-Chefe, para reforço temporário de outros Batalhões. Nesta data seguiu para o Sector O1-A, com sede em Teixeira Pinto, e subsectores em Cacheu, Có, Jolmete.

Em 24 de Junho de 1968 regressou ao sector de Bissau, e subsectores de Brá, Nhacra e Quinhámel onde rendeu o BCAÇ 2834, ficando de novo às ordens do Com-Chefe. A 13 de Maio de 1969 foi rendido pelo BCAÇ 2884, tendo embarcado de regresso à Metrópole em 16 de Maio de 1969.

Quanto ao BCAÇ 1912:

Este Batalhão foi mobilizado pelo RI 16, Évora, e chegou a Bissau em 14 de Abril de 1967, sendo seu CMDT o Ten-Cor Artur Pereira Rodrigues. As suas companhias operacionais foram as CCAÇ 1684, 1685 e 1686, comandadas respectivamente pelos Capitães de Inf Antonio Feliciano Mota da Camâra Soares Tavares, Alcino de Jesus Raiano e José de Matos Correia Barradas (este último miliciano).

Divisa: Valentes e Destemidos.

Em 19 de Abril de 1967, seguiu para o Sector O3-A, com sede em Mansoa e subsectores de Jugudul e Cutia. Em 01 de Julho de 1967 ainda o de Enxalé, então retirado à área do BCAÇ 1888.

A CCAÇ 1684 esteve em Bissau às ordens do Com-Chefe, deslocando-se sucessivamente para Ingoré, S. Domingos, Susana. Em 2 de Abril de 1969 substituiu a CCAÇ 2315 em Mansoa. Foi rendida pela CCAÇ 2589 e regressou a Bissau para embarque.

A CCAÇ 1685 seguiu para Fá-Mandinga, ficando como unidade de intervenção e reserva do Com-Chefe, como reforço de diversos Batalhões na Zona Leste. Em 19 de Setembro de 1967 rendeu a CCAÇ 1501, assumindo o subsector de Fajonquito. Regressou a Mansoa para o seu Batalhão em 1 de Agosto de 1968. Foi rendida pela CCAÇ 2587 e regressou a Bissau para embarque.

A CCAÇ 1686 seguiu para Mansoa, teve pessoal destacado em Cutia, Ponte do Rio Braia, Jugudul, Uaque e Bindoro. Em 14 de Maio de 1969 foi rendida pela CCAÇ 2587 e regressou a Bissau para embarque.

Este Batalhão embarcou de regresso no dia 16 de maio de 1969.


UM ALFA BRAVO

António Santos

Ex-Sold Trms Pel Mort 4574 /72
(Nova Lamego, 1972/74)
___________

Nota de L.G.

(1) Vd. post de 15 de Setembro e 2006 > Guiné 63/74 - P1074: O Paulo Raposo, o Padre Mário e o Batalhão de Caçadores 1912, Mansoa (Aires Ferreira, CCAÇ 1686)