Mostrar mensagens com a etiqueta BCAÇ 2912. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta BCAÇ 2912. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15647: Efemérides (208): Lembrando José Botelho de CARVALHO ARAÚJO que faleceu a 14 de Outubro de 1918 a bordo do Caça-Minas NRP Augusto de Castilho afundado pelo submarino alemão U-139 (António Tavares)

Monumento a CARVALHO ARAÚJO em Vila Real
Com a devida vénia a minube


Combate entre o Navio Patrulha "Augusto Castilho" e o submarino alemão U-139 em 1918 durante a I Guerra Mundial.
Aguarela de Artur Guimarães
Museu Marítimo de Ílhavo.


1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 10 de Janeiro de 2016

Camarigos,
Ao ver esta excelente aguarela de Artur Guimarães recordei José Botelho de CARVALHO ARAÚJO que faleceu a 14 de Outubro de 1918 a bordo do Caça-Minas NRP Augusto de Castilho afundado pelo submarino alemão U-139 quando escoltava o vapor São Miguel.

O Comandante CARVALHO ARAÚJO interpôs o seu navio entre o submarino e o vapor São Miguel, no mar dos Açores, salvando os 206 passageiros que seguiam a bordo deste.
Estávamos na 1.ª Guerra Mundial iniciada a 28 de Julho de 1914 e terminada em 11 de Novembro de 1918.
A morte do Comandante CARVALHO ARAÚJO ocorreu 27 dias antes do fim da I Grande Guerra.
A Marinha Portuguesa de Guerra e a Mercante glorificou-o perpetuando o seu nome em diversas embarcações.


Características oficiais do Navio T/T CARVALHO ARAÚJO, que o BCAÇ 2912 conheceu em 24 de Abril de 1970:

Tipo... Navio misto de 2 hélices
Construtor... Cantiere Navale Trestino
Local construção... Monfalcone - Itália
Ano de construção... 1929
Ano de abate... 1973
Registo... Capitania do Porto de Lisboa, em 21 de Abril de 1930, com o número 420 F
Sinal de código... C S B U
Comprimento fora a fora... 112,82 m
Boca máxima... 15,30 m
Calado à proa... 6,69 m
Calado à popa... 6,99 m
Arqueação bruta ... 4.559,55 Toneladas
Arqueação Líquida... 2.694,45 Toneladas
Capacidade... 4.292 m3
Porte bruto ... 4.724 Toneladas.
Aparelho propulsor... Duas máquinas de triplice expansão, de 3 cilindros cada, construídas em 1929 por John G. Kincaid & Ca Lda. em Greenock - Escócia.
Quatro caldeiras, com 3 fornalhas cada, para a pressão de 14,7 K/cm2.
Potência... 4.430 CV
Velocidade máxima ... 14,0 nós
Velocidade normal ... 12,0 nós
Passageiros... Alojamentos para 10 em classe de luxo, 68 em primeira classe, 78 em segunda, 98 em terceira e 100 em cobertas, no total de 354 passageiros.
Tripulantes... 98
Armador... Empresa Insulana de Navegação - Lisboa

Com certeza que os milhares de militares que navegaram nele desde 1963 discordam dos números dos passageiros acima. Sentiram na prática o excesso de lotação.


O “EXCELENTE E VALOROSO” Batalhão de Caçadores 2912 desembarcou no cais de Pindjiguiti, Bissau, em 01 de Maio de 1970, com cerca de 500 militares.

O primeiro dia da guerra vivida em Galomaro, Cancolim, Dulombi e Saltinho, matas do Leste do TO do Comando Territorial Independente da Guiné.

António Tavares
Foz do Douro, Domingo 10 de Janeiro de 2016
____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15541: Efemérides (207): Ataque ao Cachil na Consoada de 1965 (João Sacôto, ex-Alf Mil da CCaç 617/BCAÇ 619)

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15459: O Relógio de Ponto e as Rondas nocturnas (António Tavares, ex-Fur Mil do BCAÇ 2912)

1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 23 de Novembro de 2015 lembrando o famoso relógio de ponto que controlou a vida a tanta gente:


Relógio de Ponto

Camarigos,
 "Em 20 de Novembro de 1888 William Bundy, joalheiro nova-iorquino, inventa o 1.º Relógio de ponto”, quando li esta efeméride recordei o relógio de ponto que conheci quer na tropa quer na vida civil.

Numa Unidade Militar do Norte, onde estive, cada ronda ao quartel demorava uma hora certa. Os Cabos Milicianos faziam a ronda com um relógio de ponto parecido com o da imagem.
A chuva, o frio e o nevoeiro eram o nosso inimigo nas noites de um impiedoso Inverno de 1969. O ano de um terramoto em Portugal Continental.
Certa noite encontrei uma sentinela a dormir dentro de uma guarita. Tirei-lhe a G3 e passados uns momentos acordei-o. Atrapalhado pela falta da arma esqueceu-se da contra senha.
Naquele tempo a senha e a contra senha eram importantes mas a falta da arma é que era o problema. Depois de verificar que o Homem estava bem acordado disse-lhe onde estava a arma.

Também encontrei um soldado com uma “menina” no local de vigilância à sua responsabilidade. Naquela noite a “menina” dormiu sob um tecto. Havia tantas “meninas” à volta do quartel para ganhar uns Escudos.

Nunca participei qualquer ocorrência. Qualquer delas era grave especialmente num quartel onde tinham furtado uma pistola. Em Agosto de 1971 encontrei um Alferes Miliciano, num voo da TAP, Bissau – Lisboa, e o caso da arma de imediato foi conversa.

Na manhã seguinte o Oficial de Dia verificava o registo do relógio e caso houvesse anomalias de imediato havia inquéritos oficiais. Geralmente eram ultrapassados pelas artimanhas aprendidas pelos utilizadores do relógio.

 Foto: domínio público a circular na NET

Quando o relógio de ponto avariava era “noite santa” no quartel. Eu não saía do quarto.

Nas matas do leste do CTIGuiné as rondas, dentro do quartel de Galomaro, sem relógio de ponto, por vezes, tinham por companheira uma lanterna nas noites escuras como breu. Um dos inimigos especialmente para os militares continentais.

Uma História e não Estória que um relógio, utilizado, num quartel, recorda.

Na vida civil o relógio de ponto era um dos nossos pensamentos durante a vida activa de trabalho.

Abraço
António Tavares
Foz do Douro, Domingo 22 de Novembro de 2015
____________

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15216: O nosso querido mês de férias (18): Viagem Bissau-Lisboa-Porto-Lisboa-Bissau paga a prestações porque o patacão não transbordava das algibeiras (António Tavares)

1. Ainda a propósito das nossa férias, recebemos esta mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 4 de Outubro de 2015:

Camarigos,

Ao ler o P15178, do tema “O nosso querido mês de férias”, recordo:

- Em 03Agosto1971 paguei, na Agência Correia, Bissau, CTIGuiné, o total de 6 430$80 pela viagem: BISSAU - LISBOA - PORTO - LISBOA - BISSAU.
- Voei na TAP e tive direito a um Saco de Pernoita, que ainda possuo.
- Viajei na modalidade: VIAJE AGORA PAGUE DEPOIS.
- Em três prestações paguei a importância total, que não ganhava, como explico: 4.430$80 em 03-08-71; 500$00 em 22-09-71 e finalmente 1.500$00 em 21-10-1971.

Se repararem na cópia do bilhete consta uma taxa de 110$80. O ZÉ pagante teve sempre Taxas e Selos à perna. O pagamento foi em Pesos.
- O Escudo era trocado com uma agiotagem de 10%.
- A viagem foi no dia 04 de Agosto de 1971 e regressei no dia 07 de Setembro de 1971.


Os camaradas mais atentos verificarão que acabei de pagar a totalidade das prestações depois da minha chegada de regresso ao CTIGuiné. Porque o “patacão” não transbordava das algibeiras tinha de aproveitar todas as facilidades de pagamento autorizadas.

Com um abraço,
António Tavares
Foz do Douro,
Domingo 04 de Outubro de 2015
____________

 Nota do editor

 Último poste da série de 7 de Outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15211: O nosso querido mês de férias (17): Vim a casa uma vez, em agosto de 1965, na TAP, num Super Constellation, como simples passageiro... e estava longe de imaginar que cinco anos depois estaria aos comandos de um Caravelle, como piloto da mesma, saudosa, companhia... (João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)

terça-feira, 12 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14604: Convívios (680): XXII Encontro do pessoal da CCS do BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72), dia 6 de Junho de 2015, em Mira de Aire (António Tavares)

1. O nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), em mensagem do dia 7 de Maio, pede-nos a divulgação do próximo Convívio da sua Unidade, a levar a efeito no próximo dia 6 de Junho de 2015, em Mira de Aire.



____________

Nota do editor

Último poste da série de 11 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14599: Convívios (679): XVIII Encontro do pessoal do Hospital Militar 241 de Bissau, dia 7 de Junho de 2015, em Leiria

domingo, 7 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13985: A propósito de paludismo... Foram estes alguns dos comprimidos tomados por milhares de jovens combatentes nos idos anos da Guerra Colonial (António Tavares)

1. Ainda a propósito do tema paludismo, recebemos esta mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 20 de Novembro de 2014:

Camarigos,
É costume dizer-se que “esta imagem fala por si ou que vale por mil”.
Estas têm um valor simbólico. Foram estes alguns dos comprimidos tomados por milhares de jovens nos idos anos da Guerra Colonial, no CTIGuiné de 1963 a 1974.

No meu caso em 1970/72. Na disponibilidade, o “Quinino” durante uns tempos acompanhou-me na matança do paludismo.

Das minhas lembranças começo com a imagem do CERTIFICADO INTERNACIONAL DE VACINAÇÃO OU DE REVACINAÇÃO CONTRA A FEBRE- AMARELA: 


Uma caderneta que todo o militar teve no dia da vacinação. É de notar que a vacina era dada quase no fim da recruta talvez por hipotéticas reacções negativas do organismo dos militares. Recruta dispendiosa para a Fazenda Pública e a necessidade, maior ou menor, consoante a época do ano, do “despacho” dos Homens para a guerra. Assim, uma recruta não podia ser perdida nem repetida. Seria tempo perdido para os militares. Os governantes da época pensavam nos “Prós e Contras”.

Aos meus camaradas (tratamento entre militares) do 2.º Turno/69 do Curso de Sargentos Milicianos, de Abril a Julho, no CISMI, em Tavira, recordo que a nossa “dose cavalar” foi tomada em 23 de Junho de 1969.
As dores que suportamos com a injecção, tomada na parada do quartel em fila indiana a aguardar cada um a sua vez, valeram a pena sobretudo aos Combatentes do Ultramar.

Os comprimidos:

LM de cor branca, sem invólucro, com 10 mm de diâmetro:

Havia comprimidos LM com outros diâmetros.
O célebre comprimido receitado para todas as doenças.


"Daraprim" - Trade Mark - "B.W. & CO."

O Daraprim (nome comercial da pirimetamina) é usado no combate de infecções por protozoários. É comumente usado no tratamento e prevenção da malária.


LM – Pirimetamina 25 mg

A pirimetamina está descrita em posts da Tabanca Grande.


Fanasil 0,5 g – Roche

Sulfonamida usada no tratamento de infecções da pele e na Lepra.
As sulfonamidas são um grupo de antibióticos sintéticos usados no tratamento de doenças infecciosas devidas a micro-organismos.

Seria interessante que algum camarada versado no tema completasse ou corrigisse estas linhas baseadas na memória e pesquisas que fiz num Prontuário Médico.

(Texto escrito de acordo com a antiga ortografia)

Abraço António Tavares
Foz do Douro, 20 de Novembro de 2014
____________

Nota do editor

Último poste da série de 27 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13807: A propósito de paludismo... Ou melhor, do sezonismo, que era o termo que tradicionalmente se usava entre nós, na metrópole, até finais dos anos 60 (Parte II) (Luís Graça)... Relembrando aqui o papel do Instituto de Malariologia e do prof Francisco Cambournac (1903-1994), um português do mundo, que foi diretor da OMS - África, entre 1954 e 1964

domingo, 26 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13803: A propósito de paludismo... Quando dispensava de saídas difíceis e quando até atacava na metrópole (Abel Santos / António Tavares)


1. Mensagem do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 24 de Outubro de 2014:

Amigo e camarada Carlos,
Envio-te esta pequena resenha sobre o paludismo que atacou alguns camaradas nossos no teatro operacional da Guiné, no qual também fui um dos afectados (apesar de ser consumidor da Pirimetamina), mas que até foi meu aliado nessa altura.

No longínquo ano de 1967 mês de Dezembro, estando a CART 1742, da qual eu fazia parte, posicionada em Nova Lamego no chamado quartel de baixo, no dia 14 do mês de natal de 1967 sou confrontado com uma mudança brusca de temperatura após o almoço dando baixa à enfermaria, local onde o Furriel Enfermeiro Lopes (técnico de farmácia na vida civil na cidade do Porto) me aplicou de imediato a (mezinha) injecção da ordem. Ao fim de três dias tudo tinha passado e fui dado como operacional.

Mas, como disse atrás, o paludismo foi meu aliado, já que no dia 17 o comandante da Companhia, Capitão Cohen, manda formar a tropa e escolhe metade do grupo de combate a dedo, onde o primeiro a ser escolhido fui eu, para irmos a Sinchã Jobel, na mata do Oio, conjuntamente com a CART 1690 e o Pel Mil 110, executar uma batida na região, com o fim de desalojar o IN que possuía base nesse local. Como ia dizendo, o paludismo interferiu a meu favor, manifestando a minha incapacidade através da voz do Furriel Enfermeiro Lopes.
- O Abel está com o paludismo, meu capitão
- Então que vá para a caserna. - E eu fui, pudera.

O segundo caso de paludismo aconteceu após a minha chegada a casa na primeira semana, mas tudo foi resolvido rapidamente, já que eu era portador de um contacto telefónico dos serviços de doenças tropicais e infecto-contagiosas, que na altura (1969) estava instalado em Ermesinde (Porto), que acorreram imediatamente após o telefonema, e assim ao fim de uma semana estava novamente operacional.

Espero com este relato ter contribuído para a temática sobre o paludismo.

Sem mais, um grande abraço a toda tertúlia.
Abel Santos.

Nova Lamego, Natal de 1967. Na foto, em primeiro plano: Abel Santos, Oliveira e Aníbal. De pé, atrás: O Fur Mil Enf Lopes distribuindo os célebres comprimidos preventivos do paludismo.

Foto ©: Abel Santos

************

2. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 25 de Outubro de 2014:

Camarigos,
Já escrevi que estive mal com o paludismo quer no CTIGuiné quer no Porto, em Agosto de 1971.
Sim, até na minha terra fui vítima do paludismo.
Terminei a comissão em 23 de Março de 1972. Em Abril de 1972 fui a uma consulta médica de especialidade na Direcção Geral de Saúde. Cumpri sempre a prescrição médica e respectivos exames auxiliares. Procedimento que me conduziu à erradicação da doença.
O meu Processo nos Serviços de Higiene Rural e Defesa Anti-Sezonática, situada em Gondomar, tinha o número 155/4/72.
Porquê em Gondomar? Talvez por ser à época uma zona rural.



Depois de ter lido no blogue bons textos sobre o tema e também com a finalidade de não me repetir é a imagem acima e o seu conteúdo que merece atenção.
(Texto escrito de acordo com a antiga ortografia)

Um abraço do
António Tavares
Foz do Douro,
Sábado 25 de Outubro de 2014
____________

 Nota do editor

Último poste sobre a temática do paludismo >  25 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13799: A propósito de paludismo... e da arte de bem guerrear (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72)

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13433: Memória dos lugares (272): Espectáculos em Galomaro no tempo do BCAÇ 2912 (1970/72) (António Tavares)

1. Em mensagem do dia 16 de Julho de 2014, o nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), enviou-nos esta memória de Galomaro:

Espectáculos em Galomaro – 1970/72

A maioria dos cerca de 150 jovens que formavam a CCS/BCAÇ 2912 eram muito alegres. As suas comicidades contagiavam o mais sisudo dos camaradas. O contentamento destes jovens, por vezes, fazia esquecer o teatro de operações do CTIGuiné. Seria possível? Em Galomaro (COSSÉ) não faltaram as mais diversas festas cujos actores eram prata da casa.

Tínhamos um palhaço profissional, dono de um circo, que era muito estimado pelos guinéus. Fazia parte do grupo teatral da CCS que actuava em Galomaro e no Cinema de Bafatá, sempre com casa cheia de civis e militares.

Piadas da época nunca era problema quer para ele quer para os outros comediantes. OS MANGAS DO COSSÉ (CCS/BCaç 2912) onde actuassem tinham sucesso.

No futebol de cinco também eram bons. Nos torneios de Bafatá ficavam sempre classificados nos dois primeiros lugares.

O pessoal do COSSÉ, quer OS GALOS, nossos velhinhos, da CCS/BCaç 2851, quer OS MANGAS, eram populares e estimados pelas gentes de Bafatá.
Os GALOS eram famosos no futebol.

Volta e meia recebíamos a visita de um furriel miliciano do Destacamento de Fotografia e Cinema dos Serviços de Transmissões do Exército que acarretava os instrumentos necessários para a exibição de um ou dois filmes no quartel de Galomaro.
O civil Manuel Joaquim com a sua célebre camioneta e apetrechos para projecção cinematográfica também visitava a população de Galomaro e as tropas. Estas vestiam-se à civil para pagar o preço mais barato do bilhete de entrada no recinto de exibição do filme. Os militares pagavam segundo as classes.

Algumas imagens:

Com 59 dias no CTIGuiné ainda havia folia para recordar as marchas dos Santos Populares.

No pelado de Galomaro algumas das “vedetas” em jogo treino

“OS MANGAS DO COSSÉ” em palco.

Na imagem vemos, da esquerda para a direita: Isabel, Tino Costa, Eva Maria e Fernando Correia que, em 31/03/1971, visitaram Galomaro. O CMDT do batalhão agradece a visita.

No palco improvisado vemos o Tino Costa, Eva Maria e Fernando Correia em actuação.

Na parada do quartel a maioria da plateia da CCAÇ 2699 e da CCS do BCAÇ 2912 está a viver e a gostar do espectáculo de quarta-feira 31 de Março de 1971. Espectáculo que ajudava a manter o moral das tropas.

Em 1971 a Páscoa Cristã foi no dia 11 de Abril desde logo este espectáculo esteve incluído nessa festa. No verso das medalhas recebidas fica-nos, nestas fotos, a recordação, que é o mais relevante, de alguns dos camaradas feridos e mortos em combate de Maio de 1970 a Março de 1972.
Espectáculos associados a “UMA GUINÉ MELHOR”, a PSICO do COMCHEFE do Comando Territorial Independente da Guiné, nos anos de 1963 a 1974.

(Escrito de acordo com a antiga ortografia)

António Tavares
Foz do Douro, quarta-feira 16 de Julho de 2014
____________

Nota do editor

Último poste da série de 22 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13431: Memória dos lugares (271): Candamã, 19-9-69... Subsetor de Mansambo, setor L1 (Bambadinca): por lá passaram a CART 2339, a CCAÇ 2404, a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, etc.

domingo, 11 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13128: Convívios (594): XXI Encontro do pessoal da CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72), dia 7 de Junho de 2014 em Fátima (António Tavares)

1. Conforme o solicitado em mensagem do dia 10 de Maio de 2014 pelo nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912,Galomaro, 1970/72), estamos a dar notícia do próximo Convívio do pessoal da CCS/BCAÇ 2912, a levar a efeito no próximo dia 7 de Junho de 2014 em Fátima.



____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13126: Convívios (593): XVIII Almoço do pessoal da CART 2716 (Xime, 1970/72), dia 31 de Maio na cidade do Porto (José Martins Rodrigues)

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13115: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (28): Caldas da Rainha onde frequentei o 1.º Ciclo do Curso de Sargentos Milicianos até me magoar, baixar ao HMP e regressar a casa com licença registada (António Tavares)

Estação dos combóios da Caldas da Rainha

1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 1 de Maio de 2014:

Caro Vinhal,
Junto envio três fotografias e um texto sobre a minha passagem nas Caldas da Rainha.
Abraço de amizade
António Tavares


Foz do Douro – Caldas da Rainha 

Ao ler o Post 12597 recordei a minha primeira viagem de comboio, na qualidade de soldado, com partida da estação de Porto - Campanhã.

A viagem foi atribulada com mudanças de comboio e excesso de mancebos nas carruagens mas tive de aguentar porque tinha sido alistado em 8 de Junho de 1968.

Chegados ao princípio da noite à estação da CP das Caldas da Rainha tínhamos entre outros um senhor, cego de nascença, à nossa espera. Oferecia alojamento.
O dito senhor depois de ter acertado o preço da dormida, naquela friíssima noite de 7 de Janeiro de 1969, conduziu-nos à sua habitação. Na distribuição dos quartos de casal fiquei com um conterrâneo. Ele conseguiu dormir, eu não.

Na manhã de quarta-feira 8 de Janeiro apresentei-me no Regimento de Infantaria nº 5 para a frequência do 1º Ciclo do Curso de Sargentos Milicianos. Deram-me alojamento na 4ª Companhia e o Posto de Soldado Recruta com o número 615/69. O meu primeiro número na tropa.

Desde logo apreendi que um militar da classe Praças era um número. O nome ficava à Porta de Armas. As roupas foram distribuídas ao acaso, isto é, o soldado instruendo em fila recebia dois pares de botas, um par de sapatilhas, uma farda de trabalho, etc… sem olharem às medidas de cada um. As trocas eram feitas entre os soldados mas era difícil acertarmos nas medidas.

A primeira noite passada no quartel foi aterradora para a maioria dos instruendos. Muitos choros se ouviram. Eu cansado consegui dormir menos mal. O ano de 1969 teve um Inverno rigoroso. Foi o ano do terramoto em Fevereiro.

Na manhã seguinte dada a alvorada às 6 horas e feita a higiene pessoal havia a formatura geral da Companhia junto à porta da caserna. Era tão escuro, frio e chuva, na maioria dos dias, que somente os instruendos que estavam na fila da frente tinham de ficar em boa ordem. Os restantes encostavam-se uns aos outros para protegerem-se do frio e da chuva. Esta entrava pelo pescoço, escorria pelo corpo e depositava-se dentro das botas. Os instrutores davam as ordens abrigados e assim não conseguiam ver todos os elementos do pelotão e pouco ou nada se molhavam.

Certa manhã andava o pelotão a apreender a acertar o passo sob uma chuva intensa quando um Major passou num veículo Volkswagen preto, parou, repreendeu o instrutor e mandou abrigar os instruendos. Um determinado dia na instrução aleijei-me. Levado para a enfermaria aí repousei 7 dias ao fim dos quais fui transportado numa ambulância Volkswagen para Lisboa. Fui acompanhado com outros instruendos por motivos idênticos. Do Hospital Militar Principal, à Estrela, fui parar ao Anexo, em Campolide - “Texas” - onde estive internado 6 dias. Nesta viagem os camaradas eram outros, entre os quais um militar da GNR. No dia da alta ao chegar a Santa Apolónia o último comboio com destino às Caldas da Rainha tinha acabado de partir. Telefonei para o quartel a dar conta da ocorrência. Na manhã do dia seguinte apanhei o comboio para as Caldas da Rainha. Ao apresentar-me ao Oficial de Dia, este de imediato deu-me ordem de prisão porque tinha de estar no quartel no dia anterior.

- Eu, preso? Porquê?

Tinha cometido um crime! Não compreendi porque há dias era bem comportado e colocado na 2ª classe de comportamento e naquele dia era um criminoso. Pelo quartel andei, de seca para Meca, até que os senhores me passaram uma licença. Eu disse adeus ao RI 5, que marcou a minha presença, sem qualquer punição. Recebi 2$50 - dois escudos e cinquenta centavos - de pré referente ao período em que fui hóspede do RI 5.

Os oficiais que conheci no RI 5:
- Capitão de Infantaria José Máximo Moncada Oliveira e Silva que era o Cmdt. da Companhia.
- Tenente de Infantaria Hermínio Couto Maçãs era o Chefe da Contabilidade.
- Major de Infantaria Manuel José Morgado era o Director de Instrução.
- Coronel de Infantaria Giacomino Mendes Ferrari era o Comandante do RI 5.

Como a Igreja e a Tropa eram inseparáveis tínhamos o Padre Tomás Marques Afonso com a patente de Tenente Capelão.

Assim começou a minha vida de militar que se prolongou por 38 meses, incluída uma permanência de 23 meses, nas matas do leste do Comando Territorial Independente da Guiné, em Galomaro. Passados uns meses no CISMI, em Tavira, comecei da estaca zero nova instrução e com outras aventuras e histórias.


António Tavares
Foz do Douro, 1 de Maio de 2014
____________

Nota do editor

Último poste da série de 29 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13068: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (27): Guardo Elvas e as suas gentes no meu coração (Henrique Cerqueira)

sábado, 22 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12882: O que é que a malta lia, nas horas vagas (27): Em Galomaro li "A Relíquia" e "O Primo Basílio" do Eça de Queirós, José Vilhena e outros autores, ouvi a Maria Turra e decifrei os escritos do 2.º CMDT do Batalhão (António Tavares)

1. Mensagem de António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 16 de Março de 2014:

Caro Vinhal,
Junto envio um texto para publicação caso haja interesse.
Abraço de amizade.
António Tavares


O que lia em Galomaro? 

Livros e revistas que passavam de mão em mão. Recordo “A Relíquia” e “O Primo Basílio”, de Eça de Queirós; livros de José de Vilhena, escritor humorístico preso pela PIDE em 1962, 1964 e 1966, e outros autores cujos nomes esqueci.
Livros emprestados por um Furriel e por um Alferes. Milicianos politicamente mais progressistas que eu, diria sem comparação.

Recordo que transportei um saco de lona cheio de livros para o Comandante do Batalhão de Nova Lamego. Saco igual ao que nos davam para transportar os nossos haveres. O senhor Tenente-Coronel vivia no Porto e através da sua esposa e de uma família amiga que tínhamos em comum foi feito o pedido a que anuí.
Após um ou dois dias da minha chegada a Galomaro, aterra na pista de aviação um DO com um impedido do Ten-Cor para levantar a encomenda. Nunca vi o Ten-Cor e nunca me agradeceu o ter sido seu carregador. Sei que não fui o único caso em que éramos servidores e desprezados… Enfim… Coisas habituais na maioria dos tropas de carreira. Não conheciam a palavra: Obrigado.

De todas as leituras, aquela que me gastou horas e horas foi ter de decifrar os escritos do 2.º Comandante do meu Batalhão que tinha uma letra quase incompreensível. Depois de compreendida a letra dos documentos/rascunhos, estes tinham de ser ditados ao Cabo Escriturário para os dactilografar na máquina que vemos na foto.


Confesso que não foi dos piores serviços que fiz naqueles longínquos 692 dias passados nas matas do leste do Comando Territorial Independente da Guiné. Em dias de calor tórrido estar a trabalhar debaixo de chapas de zinco escaldantes era aborrecido e cansativo, porém nada comparável com quem andava em Operações nas matas. Repito: era impossível comparações.

Também ouvia boa música que o Comandante comprava para as Messes de Oficiais e Sargentos. No fim da comissão ofereceu um disco a cada Sargento e Oficial da CCS. O meu disco é o da imagem.





Jogávamos matraquilhos, cartas, xadrez.

A rádio e a “Maria Turra” também eram escutadas. Esta umas vezes dizia a verdade, outras inflaccionava os acontecimentos com o número de mortos e feridos das NT. Águas passadas… Em 1970/72.


(TEXTO ESCRITO SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA)
António Tavares
Foz do Douro, 16 de Março de 2014
____________

Nota do editor

Último poste da série de 27 de Janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12643: O que é que a malta lia, nas horas vagas (26): A Bola, o Diário de Notícias, a Vida Mundial, Banda Desenhada... (Jorge Araújo, ex-fur mil, op esp/ ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974)

terça-feira, 4 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12792: Estórias avulsas (76): Cabritos (António Tavares)

1. Mensagem de António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 21 de Fevereiro de 2013:


Cabritos…

Ao ver esta fotografia do Gil Ramos, tirada em Galomaro na 4ª Missão Dulombi – Março 2013, recordei que certa noite anterior a uma coluna auto a Bambadinca, o Cherifo Baldé pediu-me para transportar um primo com duas cabras.
De imediato disse que sim e combinei o local onde deveria estar.
Cherifo Baldé era um guia da CCS/BCAÇ 2912, em 1970/72. Eram todos primos e irmãozinhos quando pediam algum favor!

Na manhã do dia seguinte e já dentro da povoação de Galomaro aparece o Cherifo Baldé e o familiar (?) com um rebanho de cabras, 30 a 40 cabeças.
Depois de alguma discussão, porque não era o combinado, acedi à nova situação e começaram a carregar o gado para as viaturas. Os animais assustados tresmalharam-se e fizeram tanto barulho (balidos) que no quartel ouviram.

Entre a poeira que o rebanho levantava veio um dos Comandantes saber o que se passava porquanto a coluna já devia estar em andamento. Desculpas para o sucedido não faltaram e após o carregamento total das cabras, que não foi fácil, a coluna seguiu o rumo.

Em Bambadinca, descarregadas as cabras, cada interveniente seguiu o seu destino; o nosso, o reabastecimento no Pelotão de Intendência.
Em Galomaro fui chamado aos Comandos e perguntas não faltaram mas consegui desenrascar-me de um provável castigo e daquela tramóia inicial de duas cabras para um indisciplinado rebanho caprino.

Nunca percebi qual o motivo de tanto interrogatório embora estivéssemos numa época de perguntas e mais perguntas… Simplesmente pratiquei um bom acto, transporte de pessoas e animais, conforme instruções/escritos da REP.POP. COMCHEFE GUINÉ para colaboração com a POP…
Bem pregava Frei Tomás!

Passados uns dias o dono do rebanho deu-me um cabrito preto como recompensa, digo eu, dos trabalhos/arrelias que tive com a ocorrência. Aceitei-o de bom grado mas para que queria eu um cabrito? Vendi-o por 50 Pesos aos cozinheiros que o criaram e fizeram uma festa aquando da sua matança e eu fui um dos convidados pelo que fui duplamente beneficiado com uma mentira inteligente de um indígena.

Faço notar que o cabrito, herbívoro e ruminante, tinha menos valor do que uma cabra. Esta dava leite, crias, tinha a pele mais macia e a carne mais suculenta! Os Guinéus sabiam e conheciam o valor dos animais e o que dar ou trocar neste caso. Passou a haver um cabrito e uma cabra no quartel.

O Magusto, 1º Cabo da ferrugem, teve a paciência de domesticar a sua cabra que passeava livremente dentro do quartel. Cães, gatos, macacos, periquitos, esquilos e um frango domesticado não faltavam dentro do arame farpado de Galomaro… Um mini zoo. Eu justifiquei o adágio: “quem cabritos cria e cabras não têm de algum lado lhe vêm".

Actualmente esta história real passada nas matas do leste do CTIGuiné tem o valor que tem. Valor tem um grupo de jovens que fazem parte da MISSÃO DULOMBI, uma organização sem fins lucrativos, nascida em 2010.

Gil Ramos na 1ª Viagem Humanitária que fez à Guiné quis conhecer a aldeia, Dulombi, onde seu pai combateu na CCaç.2700 do BCaç.2912.
Amanhã, sábado 22 de Fevereiro iniciar-se-á a 6ª viagem da Missão Dulombi, de ajuda humanitária à Guiné-Bissau, focada nas aldeias de Dulombi e Galomaro.

Um abraço,
António Tavares
Foz do Douro, 21 de Fevereiro de 2014





Fotos: Missão Dulombi, com a devida vénia
____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12774: Estórias avulsas (75): Quando, em 18/12/1976, na fronteira de Valença, ia eu comprar à vizinha Espanha o bacalhau p'ro Natal e os caramelos da ordem, e me exigem a famigerada Licença Militar... Dois anos depois de eu passar à disponibilidade... (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12672: Tabanca Grande (424): Carmelino Cardoso, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 2701/BCAÇ 2912, Condutor ao serviço do então Major Carlos Fabião, (QG/Bissau, 1970/72), grã-tabanqueiro n.º 644

1. Mensagem, de 27 de Janeiro de 2014, do nosso camarada e novo tertuliano Carmelino Cardoso, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 2701/BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72), que cumpriu a sua comissão de serviço no QG/Bissau como condutor do então Major Carlos Fabião:

Bom dia Luís Graça,

Só agora me é possível responder à tua satisfação e com razão, de me responderes, pois fui mais um militar que andava perdido e foi encontrado... e que tenho como me pedes muito para contar.

Vou então contar a razão porque fiquei sempre em Bissau.

Quando assentei praça no CICA 4 em Coimbra, todos nós, os 600 condutores, já sabíamos que íamos todos para o ultramar, razão pela qual um, mesmo na instrução, desertou.

Se fosse hoje eu fazia o mesmo, mas, naquela altura pensei que ele nunca mais via o sol se fosse descoberto. Puro engano porque logo a seguir veio o 25 de Abril.

Mas continuando, depois de ser incorporado na CCAÇ 2701/BCAÇ 2912, fui para a Guiné.
Éramos então 8 condutores na nossa Companhia e, já a caminho no barco Carvalho de Araújo, o nosso comandante de Companhia mandou formar a mesma para dos oito condutores tirar dois para ficarem em Bissau... Foi difícil escolhê-los porque eram todos casados.

O Comandante começa a coçar na cabeça e diz:
- Homens casados com um filho um passo em frente...

Demos todos. Mais coçou a cabeça como a querer arrancar os cabelos.
Repetiu:
- Homens casados com dois filhos um passo em frente...

Fui eu o único.
Fui então escolhido para ficar em Bissau por seis meses, mas depois de estar no quartel do Comando-Chefe, aqueles oficiais nunca me deixaram sair. Devido à minha prontidão e de ser muito prestável, eles tinham muito poder pois era dali que saíam todos os projetos para a guerra no mato..
Continuando... e ficou mais um condutor que era meio deficiente.

Quando chegámos a Bissau, e como era costume com todos os batalhões, fomos para o quartel dos Adidos, para as tendas, a fim de nos organizarmos e dali partirmos para o mato.

Entretanto o meu batalhão partiu para o mato e eu fiquei nos Adidos com as instruções de aguardar que alguém me fosse buscar. Fiquei por ali esquecido durante uns 5 dias, dormia em cima de um jipe e ia comer ao quartel mas ninguém sabia.

Ao sexto dia então lá aparece alguém a chamar pelo meu nome e fui para o QG que ficava no topo da rua de Santa Luzia. Dali fui escalado para o então Comando-Chefe que ficava na Amura, na Polícia Militar.

Bissau - Fortaleza D'Amura
Foto: Didinho.org, com a devida vénia

Estava na secretaria um capitão com apenas a 4.ª classe, a quem muito devo, que era quem dirigia a colocação de todos os condutores. Este capitão era alentejano e muito humano... muito bom para todos os militares. Enquanto for vivo nunca me esquecerei dele... e digo mais, quando me lembro dele vêm-me as lágrimas aos olhos. Eu devo-lhe muito... pois o que eu lá passei a ele lhe devo. Até me deu um louvor (uma viagem à metrópole no avião militar).

Continuando... depois de andar por ali uns seis messes, sem colocação... andava aos recados praticamente e quando algum condutor adoecia ia eu fazer o serviço, pois havia duas carrinhas para transportar os oficiais da messe para o quartel.

Em determinada altura o capitão chamou-me e disse-me com aquele tom calmante alentejano e a rir-se:
- O senhor Carmelino vai para condutor do nosso Governador, para o General Spínola.

Foi então que lhe pedi para não me escalar para tal e fui então para condutor do Sr. Major Fabião.

O meu trabalho era de todos os dias com um Volkswagen 1300 ir buscar o Major à messe e levá-lo para o quartel, tinha que fazer as compras alguns dias na semana com a esposa e tinha que lavar o carro todos os dias porque não podia andar sujo, enfim... trabalhos de um recruta.

Ao Major Carlos Fabião [foto à direita, ainda com o posto de Capitão], que Deus o tenha lá no paraíso, também devo muito...
Contei- lhe a minha precária vida de militar, com mulher e dois filhos na metrópole, e pedi se me dispensava do serviço todas as tardes e me dava autorização de conduzir um táxi, pois tinha lá tirado a carta profissional há pouco tempo.

Bom Major... aprontou-se logo... fiquei dispensado mas com a condição de cumprir a minha obrigação do dia a dia e o carro sempre limpo, tendo o cuidado de lhe entregar a chave com o carro sempre com gasolina suficiente, pois ele fazia muitas viagens para o aeroporto.

Fiquei então dispensado e conduzia o táxi das duas da tarde até à meia noite.
Eu era desarranchado, comia num restaurantezito na rua de Santa Luzia perto do QG e também dormia numa tabanca perto da porta de armas do QG. Ganhava 950 escudos por mês, mais 150 de prémio de condutor. O que me valia era o dinheiro que eu ganhava no táxi, pois só o comer na pensão era 950 escudos por mês.


Carmelino Cardoso junto ao Mercedes do COM-CHEFE, que conduziu durante algum tempo

Para finalizar, quero aqui referenciar, que enquanto for vivo, não esqueço quatro pessoas a quem eu devo muito... São elas o Capitão responsável pela distribuição das viaturas; O Sr. Major Fabião; um Alferes que estava na secretaria, que era daqui de Aveiro, cuja esposa era de Macau e tinham oito filhos que pareciam chineses. Tenho muita pena de nunca mais ter sabido nada dele nem dos filhos, pois ainda deve ser vivo. Apesar de me ter ajudado, eu também lhe fiz muitos favores porque os alferes não tinham direito a viatura mas eu também lhe levava os filhos à escola e ia buscar o comida à messe dos oficiais para todos eles. Era um jeito que eu fazia pois ficava a caminho.

Também nunca me esqueço do dono da tabanca onde eu dormia, chamava-se Manuel e tinha três mulheres... eles era de cor negra, respeitava-me muito e eu gostava dele porque era muito educado... aliás que me desculpem os meus camaradas, mas eu tenho um carinho muito especial por aquela gente da Guiné, que era uma gente muito humilde. Gente de Bissau, com quem eu falava muito quando ia às compras à praça, no pilão e até a João Landim, salvo erro era assim que se chamava esta terra que distancia uns 20 kms de Bissau, já que mais para a frente eu não ia porque tinha medo da Guerra.
De qualquer maneira, destas quatro pessoas, das que já morreram, que Deus atenda à minha súplica e as tenha no Céu, em paz e as recompense do bem que fizeram. Às que estão vivas, que devem de estar, este Alferes e os filhos, aqui vai um brande abraço de Aveiro.

Para o Manuel, dono da tabanca em Bissau, um grande abraço, gostava de visitar.

E para o governo português, que seja digno de recompensar com uma pensão vitalícia os veteranos de Guerra que deixaram mulher e filhos para ir defender aquilo que o próprio governo deu de mão beijada!
E para todos aqueles que lerem esta mensagem, um grande abraço, que que nunca esqueçam que é mais fácil ganhar uma guerra com uma psicologia do que com as armas!

Presentemente toco saxofone Alto e barítono na Mini-Banda da Silveira - Oiã - Aveiro e normalmente tocamos em festas aqui pelos arredores, como arruadas, missas e procissões, além de outros eventos. Daí a minha foto actual, também fardado.

Um abraço para vocês todos!
Carmelino Cardoso


2. Comentário do editor:

Caro camarada Carmelino,

Brilhante e completa apresentação nos fizeste tu.

Em tempos foi publicado um poste resultante de uma mensagem que nos mandaste (P12486) onde mostravas a tua revolta pelo facto de teres de deixar esposa e dois filhos para fazeres a guerra.
Se era difícil para quem era solteiro, imagino a dor e a mágoa de quem deixava uma família formada, temporariamente desorganizada, quando não para sempre.

Felizmente a sorte sorriu-te e fizeste a tua comissão em Bissau, longe do perigo e sem sobressaltos.
Nem tudo foi mau para ti.

Quanto ao reconhecimento monetário pelo nosso esforço no ultramar, caro amigo Carmelino, esquece e pede para que te tirem o menos possível daquilo que agora auferes.

Para me consolar, costumo pensar que não foram "estes" que nos mandaram para a guerra, foram os "outros".

Como parece que estás apto a mandares-nos os teus textos e fotos, já sabes que estamos ao teu dispor para os receber e publicar.

Em nome dos editores e da tertúlia, deixo-te um abraço de boas-vindas e os votos da melhor saúde para continuares a tua faceta cultural na música.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 31 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12658: Tabanca Grande (423): Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), natural da Lourinhã, a viver em Fafe, grã-tabanqueiro nº 643

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12105: Estórias avulsas (68): Do meu Álbum de Fotos sobre Galomaro 2 (José Ribeiro)


1. O nosso Camarada José Fernando dos Santos Ribeiro, ex-1º Cabo de Transmissões na CCS do BCAÇ 2912 (Galomaro-Cossé), 1970/72, enviou-nos mais algumas fotos de Galomaro:

Aspectos do 
Aquartelamento Galomaro 

Postal do meu orgulho pessoal.
Galomaro > Gen. Spínola discursando para a tropa presente.
Galomaro > Com a minha G3.
Galomaro > A malta das transmissões.
Dulombi > Operação no mato.
Cassamba > após ataque do IN.
Galomaro > Unimog destruído em emboscada.

Um abraço para todos,
José Fernando dos Santos Ribeiro
1º Cabo Trms da CCS do BCAÇ 2912

Fotos: José Fernando dos Santos Ribeiro (2013). Direitos reservados.
____________
Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em: