Mostrar mensagens com a etiqueta BCAÇ 2930. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta BCAÇ 2930. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12082: Os nossos médicos (71): Guiões, brasões e crachás das unidades em que prestou serviço o alf mil méd Amaral Bernardo: BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e BART 2924 (Tite, 1970/72)














Guiões, brasões e crachás das unidades (batalhões) e subunidades (companhias) por onde passou o alf mil médico Amaral Bernardo, nosso prezado camarada da Tabanca Grande, que esteve no TO da Guiné nos anos de 1970/72.


1. Este material já nos tinha sido enviado por email de 30 de março de 2011. Por lapso, só agora descobrimos o seu paradeiro: estava numa das nossas caixas de correio, pouco usadas... Pedimos desculpa ao autor e aos leitores.

O Amaral Bernardo esteve ao serviço de dois batalhões: BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e BART 2924 (Tite, 1970/72), como de resto se infere dos louvores que lhe foram atribuídos:









Fotos: © Amaral Bernardo (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]

sábado, 25 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10299: O Nosso Livro de Visitas (145): V. Lucia B. Melo, filha de António Melo, camarada da diáspora, ex-1.º Cabo Rec Inf, CCS/BCAÇ 2930 Catió, e QG, Bissau, 1972/74

1. Mensagem da filha do nosso camarada António Melo, que presumimos viva em Espanha, tal como o pai:

De: V Lucia B. Melo <vbentodemelo@gmail.com>
Data 12 de agosto de 2012 13:32
Assunto: Filha de ex-1º Cabo Rec Inf António Melo, CCS/BCAÇ 2930, Catió, e QG, Bissau, 1972/74)



Buenas

Me dirijo con gran alegria a los compañeros de mi Padre.

Soy hija de António Melo y me dirijo ud. por que me siento orgullosa de mi Padre que como vosotros fue un luchador y de mi Madre que le seguio los pasos.

Me seguire comunicando ud. para mandar pequenos poemas, pequenãs frases que describo a todos vosotros.

Un gran abrazo de

V. Lucia B. Melo



CORAZON DE GUERRERO
[autor:  Carlos Torrejon Cuenca]

Todos te reprochan
tu lucha es difícil
tu lucha es imposible...
no podrás triunfar, vas a caer...

Pero tú ya has visto la muerte
el infierno, y la oscuridad de tu alma
tus oídos están sordos para palabras cobardes
tu alma te impide retroceder.

La razón poco o nada significa, verdad?
en ti arde el fuego del guerrero
es tu naturaleza desafiarte
llegar hasta el borde del abismo
ver el infierno, a sus demonios
y enfrentarlos...
La lucha imposible
la lucha por lo olvidado
o por aquello, que no trae mas recompensa
que no haber hecho nada...

Esa es tu forma de Fe
esa es tu forma de creer en Dios
así sabes que Dios es quien
decide sobre tu alma y sobre tu sendero.

Tus ojos no ven peligro, ven desafío
al borde de los secretos del poder...
Y por eso tu lucha siempre será digna
como la verdad...
SIEMPRE HAS LUCHADO HASTA EL FINAL...

Tu fuerza como el sol brilla
tu alma como la luna, el infinito refleja
Que Dios te abraze
Nai elwë vayurva le
Que encuentres la luz en la oscuridad
lucha... y cuando encuentres al final
la paz... siéntate al borde del mar de las memorias 
y sueña... pero esta vez, vive tu sueño
ahí estarás... tu sueño será tu realidad
encontrarás... al final el lugar que Dios te prometió.


2. Comentário de CV:

Cara amiga Lúcia:
Muito obrigado pelo seu contacto e pelas palavras tão sentidas que dirige a seu pai e a nós seus camaradas, ex-combatentes da guerra colonial.

Nós queríamos publicar no nosso blogue o poema que nos mandou, mas como respeitamos a propriedade intelectual, queremos que nos diga, caso não o tenha escrito, o nome do autor para constar do post. 

Esta mensagem segue para conhecimento de seu pai para o caso de ter dificuldade em entender português, ele a possa ajudar.

Receba os nossos cumprimentos
Carlos Vinhal

PS - Identificámos o autor do poema, que é boliviano, e localizámos um fórum  onde ele, Carlos A. Torrejon Cuenca, escreve o seguinte, com data de 9 de junho de 2007: 

"Hey hola... bueno solo queria pedirles q porfabor pongan quienes son los autores de los poemas q usan y eso lo digo porque el autor del poema q aqui citan "corazon de guerrero" soy yo... Carlos A. Torrejon Cuenca... no estoy en contra de q lo usen... si ayuda a inspirar a gente... me siento feliz... pero porfabor pongan de quien es... sucede q en otra parte del internet lo usaron para dedicarselo q Pinochet... y bueno eso si q no me gusto... asi q quiero evitar ese tipo de cosas porfabor...
gracias :)".
_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 17 de agosto de 2012 >  Guiné 63/74 - P10273: O Nosso Livro de Visitas (144): Nasce Biblioteca Pública em Bissau, graças ao trabalho da ONGD 'Afectos com Letras' (António Bernardo, CCS/BART 2920, Bafatá, 1970/72)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10222: O Mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (59): Catió, a emigração em Espanha e o nosso Blogue unem dois camaradas (António Melo / Manuel Pinheiro)

1. Mensagem do nosso camarada António Melo* (ex-1.º Cabo Rec Inf, BCAÇ 2930, Catió e QG, Bissau, 1972/74), com data de 1 de Agosto de 2012:

Hoje estando eu sentado diante do meu ordenador lembrei-me de contar-te uma história bonita que se passou com dois loucos ex-combatentes da Guiné que se conheceram através do blogue e por haverem estado os dois em Catió.

Por certo no mesmo batalhão mas em datas diferentes, esses dois loucos são o Manuel Dias Pinheiro ex-1.º Cabo Radiotelegrafista e o António Melo ex-1.º Cabo Rec Inf, como te deves recordar, foste tu quem nos puseste em contacto depois do pedido do Manuel, do meu email e eu com muito gosto lhe respondi.

Daí em diante temos trocado varia correspondência, eu ao ler o que me contava convidei-o a fazer parte do nosso blogue, ele se me escapou, te garanto que é bom rapaz mas se me escapa com muita habilidade, mas te asseguro que este terá que fazer parte do nosso blogue. Depois de vária correspondência trocada já acertamos que iremos a um almoço do blogue para nos conhecermos pessoalmente visto que neste momento estamos bem longe um do outro, eu em França e ele em Espanha e não nos é muito fácil encontrarmos porque nos separa mil e duzentos quilómetros mas como te digo este vai cair.

Carlos à parte te mandarei um extracto de um email que ele me mandou para que tu com a tua paciência e amabilidade componhas este email porque te digo não tenho impressora para poder compor.

Carlos agora também quero através deste blogue pôr em apertos o Manuel e convidá-lo a juntar-se a esta família que é o blogue e como agora o convite é publico quero ver se esse louco da colina dá o nega ao meu convite.

Gracias
Manuel




2. Primeira mensagem do nosso camarada Manuel Dias Pinheiro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, enviada ao nosso tertuliano António Melo:

Um amigo que nunca mentiu

Se me recordo da viagem para Catió!!!

Te conto uma história muito grande e assim não estás aborrecido tu e eu.

Assentei praça no RI8 em Braga no dia 28 de Julho de 1969. Aí fiz a instrução e no dia 28 de Setembro do mesmo ano fui para o Porto para o Regimento de Transmissões na Arca d'Água, aí estive fazendo a especialidade de radiotelegrafista até ao dia 22/2/1970. Passei ao Regimento de Transmissões, fui promovido a 1.º Cabo e aí fiz um estágio muito bom, onde fazia de Cabo Dia e algum Cabo de Reforço. Como já tinha muito tempo pensava que já não ia à guerra, mas a notícia chegou no dia 25/6/1970, o 1.º Cabo Radiotelegrafista NM 114485/69 vai para a Guiné. Embarquei no Uíge no dia 18/07/1970 e chegou o periquito à Guiné no dia 24/07/1970. Como ia em rendição individual fui no porão da mercadoria, bom depões de dois dias de viagem chegou o pior o enjoo mas tudo passou.

Chegando a Bissau lá fomos para o Quartel General a que o Agrupamento de Transmissões estava adido, só mais tarde já no ano 1973 tinha as suas instalações próprias. Chegando a Bissau me dão uma folha para preencher na qual havia uma pergunta, se tinha algum familiar na Guiné, como tinha um primo, diz o Manuel: tenho um primo! Então havia um colega que estava esperando transporte para Catió, esse já não foi para Catió e foi o Manuel, tendo o outro ido para Piche. Quando chegou o dia de ir para Catió lá fui por mar, deram-me então uma ração de combate mas não água. Ia com os marinheiros e mais embarcações de civis, esses senhores marinheiros bebendo as suas cervejas e comendo a sua boa comida e o pobre do Manuel olhando para eles que nem sequer perguntaram se queria água ou comida.

Lá fomos, a água entrava por um lado e saía pelo outro e eu dizendo: estou "feito", aonde vim parar. Seguindo com a viagem, chegámos já à tardinha. Pararam os motores quando entrámos nas bolanhas, agarraram as metralhadoras e eu como parvo olhando para eles e pensando: isto é guerra! Mas lá chegámos na paz de Cristo. O transporte esperando e lá cheguei a Catió. Perguntei pelo meu culpado primo que de imediato me deu um grande abraço, chorando. Fomos beber umas bazucas, depois de ter passado tanta sede até já tinha vontade de beber. Deu-se a casualidade que a minha tia tinha mandado uma caixa com umas garrafinhas de vinho, uns salpicões e outras coisas. Dizia a minha Tia que tinha uma alma muito grande, e assim foi, o destino é grande e nunca fujas a ele.

À minha Maria só menti uma vez, foi quando lhe disse que casava com ela, e até essa mentira foi mentira porque casei com ela quando vim de ferias em julho de 1971. Casámos e volvi a cumprir o meu dever para com a pátria. Por coincidência hoje faço 41 anos de casado e cinco de noivos, uma vida. Como se aguenta?

Quanto às fotos não te preocupes que destas tenho muitas e mais fortes, assim prepara-te mas na condição de não fazeres coisas mal feitas.

********************

3. Segunda mensagem de Manuel Pinheiro a António Melo:

Baseando-me na tua publicação no blog de Luís Graça decidi juntar a parte dois que é a mais triste.

Depois de chegar a Catió e encontrar-me com o meu primo António Rodrigues do Bat 2865 e tomarmos umas bazucas, dirigi-me à minha residência temporária que era o Posto de Rádio dos Telegrafistas do Agrupamento de Transmissões. Depois da apresentação feita, com os meus camaradas que eram: o Soldado Tino de Tomar, o 1.º Cabo Pinto Costa que era do Porto e eu o ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, nesse dia não fiz serviço mas no seguinte comecei alinhar com os meus turnos correspondentes. Todos tiveram a sorte de regressar, assim começou o primeiro, o Tino depois o Costa, e como sempre uns regressam e outros vão e assim foi chegou o ex-Furriel Nelson Batalha, o Soldado João e o Soldado Miranda que era casado e tinha uma filha e, passado pouco tempo chegou o Soldado Neto que era de Almada.

Vão passando os dias e de pronto chegam as más noticias, em Dezembro chega um telegrama para o Soldado Miranda, com a triste noticia que havia falecido a filha, me recordo perfeitamente era o seu turno e quando abriu o telegrama começou chorando e eu também, mas como era guerra o que fiz foi agarrar a chave de Morse e como um valente transmitindo. Os dias foram passando e vais olvidando mais!

Com o tempo as coisas vão a pior porque em Janeiro chega um telegrama para mim, quando o abri partiu-se-me o coração, dizia que havia morto a minha Mãe. Já éramos dois mas como se diz não há dois sem três. O que virá depois? E assim foi, chegou o dia 14/04/1971 em que sofremos um grande ataque, no qual ficou ferido o ex-Furriel Batalha, o Neto e o João foram evacuados para Bissau nessa mesma noite. Ficamos os dois pobres, o Miranda e eu, foram tempos de muita amargura e tristeza, como éramos só os dois tocou-me chefiar o Posto de Rádio. Fazíamos turnos de 4 em 4 horas até que uns meses mais tarde chegaram dois soldados Alentejanos sem nenhuma ideia.

Como o tempo foi passando chegou também um Furriel e já estávamos todos. Entretanto em Junho fui a Bissau por motivo da morte da minha falecida Mãe e marquei as minhas queridas e desejadas férias porque tinha a minha bajuda em Portugal, desejosa da minha chegada. Assim foram os tristes dias da Guiné. Quando regressei de férias já fiquei em Bissau, era outra vida, quando comíamos as travessas de ostras e as bazucas dava gosto, tirando os maus momentos, deixam saudades esses tempos e esses aninhos que tínhamos.

Vou enviar uma foto do Posto de Rádio de Catió.

Catió - Posto de Rádio, 20 de Maio de 1971

Um grande abraço até breve
O amigo
Manuel Gomes


4. Notas do editor:

- Tentei manter a redacção o mais próximo possível com o original, emendando apenas alguns erros de português, próprios de quem há tantos anos faz vida fora de Portugal. As nossas homenagens a estes bravos camaradas que lutaram a vida inteira, primeiro na guerra e depois na paz.

- Como ambos estão ligados à nossa vizinha Espanha, como emigrantes, aplicam alguns termos que tentei manter desde que se compreenda o sentido das frases. Alguns tive que substituir.

- Removi algumas expressões mais "violentas" em vernáculo e adjectivos dirigidos a pessoas e instituições porque o autor não escreveu este texto para ser tornado público e podia não os ter escrito nesta condição.

- Caro Manuel Pinheiro, seguindo a sugestão do camarada António Melo, fica feito publicamente o convite para te juntares a nós, integrando esta Tabanca Grande. Manda uma foto do teu tempo de militar e outra actual, tipo passe de preferência, e serás apresentado como membro desta caserna virtual.
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10095: Os nossos seres, saberes e lazeres (46): Não trocaria por nada aquele tempo de comissão na Guiné (António Melo)

Vd. último poste da série de 25 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10072: O Mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (58): O reencontro, 38 anos depois, de dois camaradas da Ponte Caium, o Cristina e o Pinto, 3º Gr Comb, CCAÇ 3546, Piche, 1972/74 (Cristina Silva, Funchal)

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Guiné 63/74 – P9711: Tabanca Grande (328): António Augusto Vieira de Melo, ex-1.º Cabo Rec Inf do BCAÇ 2930, Catió e Quartel General, Bissau (1972/74)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano, António Augusto Vieira de Melo, ex-1.º Cabo Rec Inf, BCAÇ 2930, Catió e QG, Bissau, (1972/74), com data de 1 de Abril de 2012:

Camarada Luís
Venho pedir com humildade que me aceitem para fazer parte do vosso blogue pois ando há cerca de dois anos a lê-lo e nunca tive coragem para me alistar neste batalhão.

Hoje, depois de ler o comunicado do dia 1 de abril fiz um comentário ao mesmo. Tinha quase a certeza de que era mentira mas mesmo assim fi-lo. Agora que fui descoberto pelos amigos, que estou a mercê de ser tiroteado ou de um golpe de mão, dou a cara, e que façam justiça, mas por favor peço que me poupem a vida. Já que na Guiné nada me aconteceu e andando pelo mundo me tenho defendido razoavelmente, não queria morrer nas mãos amigas. 

Camarada Luís, não cumpro com todos os requisitos para poder ingressar no blogue porque de momento não tenho scaner para poder mandar as fotos, mas prometo que no mais breve espaço de tempo cumprirei a dívida e para que não haja dúvidas a meu respeito aqui vai a minha identificação e alguns pormenores das minhas férias na Guiné.

Sou António Augusto Vieira de Melo, ex-1.º Cabo Rec Inf
Pertenci ao BCAÇ 2930 e estive em Catió.
Fui de rendição individual substituir o 1.º Cabo Coelho que foi apanhado num golpe de mão na pista de Catió.
Fui para a Guiné em 26 de fevereiro de 1972 e regressei a 16 de março de 1974.

Como disse antes, fui para Catió e quando o Batalhão regressou à metrópole fiquei em Brá nos Adidos, sendo posteriormente colocado no Quartel General. na 1.ª Repartição - Secção de colocação de oficiais, onde estava o Major Mota Freitas e o Alferes Moutinho de quem guardo muitas e boas recordações e de quem não mais voltei a saber nada. Também estavam lá o Primeiro Sargento Martins, o Furriel Freitas, o Cabo Castanheira (desenhador) e um fascina, o Soldado Montoia, bom amigo também.

Camarada, contarei mais coisas porque a minha vida na Guiné foi fértil. Posso adiantar que estava ao mesmo tempo que eu na Guiné o meu irmão Jaime, que é mais velho do que eu um ano. Dele falarei noutra oportunidade assim como da minha mulher que mandei ir para lá quando fui colocado no QG, tinha ela apenas 17 anitos. Enviarei fotos como prova, pois vivíamos ao lado do Bar Arganilense, em frente ao edifício do Sindicato.

Camarada como te disse antes, a minha vida na Guiné foi muito fértil e haverá tempo para contar-te. Por hoje vou cumprir com parte do que tenho que pagar que é uma pequena historia.

No ano de 1972, pelo Natal, estando eu colocado no QG, o Chefe de Repartição era o Major Mota Freitas que estava incumbido de preparar a festa de natal para os oficiais e familiares.
Ao chegar à Repartição chamou ao 1.º Cabo desenhador Castanheira e pediu-lhe para fazer de Pai Natal para os filhos dos oficiais, ao que este respondeu que não. De seguida chamou o soldado fascina Montoia e recebeu a mesma resposta. Quando chegou a minha vez respondi afirmativamente. Seguidamente chamou o Castanheira e o Montoia e ordenou que naquela tarde estariam os dois de castigo de serviço na repartição os dois castigados. Eu pensei para comigo que daquela me tinha livrado.

Perguntei ao Major Mota Freitas se podia levar a minha mulher comigo uma vez que ela estava em Bissau. Ele sabia, mas eu por diferença de estatuto nunca havia tido essa conversa com ele. Respondeu que sim, que levasse a minha mulher e que fosse vestido à civil que ele logo me arranjaria uma farda, mas de Pai Natal. Verdade se diga que a minha mulher e o Alferes Moutinho me mascararam muito bem, estava irreconhecível. Gostei da experiência e foi para mim um gosto pois passei uma tarde linda, diferente e irrepetível. A dada altura dirigiu-se a mim o Chefe do Estado Maior, Cor Henrique Gonçalves Vaz, com muita cordialidade e educação, estando eu vestido de Pai Natal, me perguntou quem era eu, e eu fazendo que não havia percebido a pergunta, lhe respondi que era o Pai Natal. Ele sorriu e disse-me:
- Não essa a resposta que eu quero, quem és tu na vida militar?

Então com a mesma educação com que se havia dirigido a mim, mas sem qualquer vénia militar lhe respondi correctamente quem era, o que ele me agradeceu. Fez-me mais algumas perguntas e desejou-me um Feliz Natal.

Depois foi a saída para junto da piscina e a entrega das prendas aos filhos dos oficiais, que correu como eu pude. Era a primeira vez que estava diante de um microfone mas como se diz na tropa, desenrasquei-me.

Terminada a entrega de prendas foi a vez de ir para a mesa, mas como eu como estava à civil, quero dizer, mascarado de novo, ninguém me conhecia a não ser o Major Mota Freitas e o Alferes Moutinho que muito me apoiou para eu me integrar no convívio. Comemos alguma coisa sem restrições, mas quando vi que era a hora apropriada, retirei-me pela calada com a minha mulher.

É esta a minha historia.


2. Comentário de CV:

Caro camarada António Melo, sê bem-vindo à Tabanca Grande. Recebe desde já um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.

Começaste a narrar as tuas memórias com uma história passada em Bissau e num tempo que noutras circunstâncias seria de paz, a quadra natalícia. No papel de Pai Natal fizeste feliz algumas crianças que até certo ponto viviam a tensão de uma guerra, porque Bissau ficava quase à porta do conflito que se fazia sentir naquela província. Outras terás, como por exemplo os encontros programados ou ocasionais com os teus conterrâneos que, vindos da metrópole, passavam por Bissau a caminho do mato ou o contrário.

Pelas minhas contas deves ter estado cerca de 10 meses em Catió, espaço de tempo em que terás vivido algumas situações que poderás contar neste Blogue.

Quando tiveres digitalizador manda as tuas fotos para publicarmos, algumas das quais poderão servir para ilustrar as tuas histórias.

Termino desejando para ti e para os teus uma boa Páscoa com saúde e em família.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9694: Tabanca Grande (327): José Carlos Santos Pimentel, ex-Soldado de Transmissões da CCAÇ 2401/BCAÇ 2851 (Guiné, 1968/70)

sábado, 2 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8032: Os nossos médicos (25): Dois louvores militares atribuídos ao ex-Alf Mil Med Amaral Bernardo (CCS / BCAÇ 2930, e CCAÇ 6, 1970/72)












Cópia de dois louvores atribuídos ao Alf Mil Médico Amaral Bernardo, pela sua actuação como homem, médico e militar. no TO da Guiné: um do Brigadeiro Comandante Militar; outro do comandante do BART 2924, pelas "excepcionais qualidades reveladas durante cerca de um ano em que serviço na CCAÇ 6" [, em Bedanda].









Guiné > Região de Tombali > CCAÇ 6 > Bedanda  > 1971 >   Fotos do Álbum de Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Med, CCS / BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72)...  A última é mais recente, e foi tirada na sua casa de campo: mostra a espada que lhe foi oferecida, à despedida,  pelo pessoal da CCAÇ 6.

Fotos: © Amaral Bernardo (2011). Todos os direitos reservado



1. No seguimento do poste P7825, de 20 de Fevereiro último (*), o nosso camarada Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico, pretendendo pôr um "ponto final" na troca de mensagens com o Cor Art Ref António Carlos Morais da  Silva, solicita-me que publique, para conhecimento dos seus camaradas da Tabanca Grande, os dois louvores que lhe foram dados pelos seus superiores hierárquicos e que muito o honram.


E  acrescenta:: (...) "Nesta fase da minha vida, quase 70, intensamente vividos (penso que nenhum médico, na guerra da Guiné, passou o que eu passei- desculpa a imodéstia) só quero paz. Sou um homem realizado - até na guerra - e de consciência tranquila"... Tem depois uma palavra de apreço pelo editor e pelo nosso blogue: "Luís, agradeço-te a maneira com conduziste este delicado assunto. Sai enaltecido este espaço que comandas e principalmente tu"... E manifesta também a vontade de se encontrar com a malta de Bedanda,  bem como com os camaradas da Tabanca de Matosinhos: "Se vieres à Tabanca de Matosinhos ou ao Porto, liga-me. Diz ao homem do blogue  aqui do norte,  que me contacte. Queria ir encontra-me com a malta de Bedanda".


Da minha parte, terei muito gosto em revê-lo e dar-lhe um Alfa Bravo numa próxima oportunidade, no Porto, no seu Porto.
__________________

Nota do editor:


20 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7825: Os nossos médicos (24): Convite ao Cor Art Ref Morais da Silva para "partir mantenha", quando vier ao Porto (Amaral Bernardo)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7796: Os nossos médicos (21): É falso que a CCAÇ 2796 tenha sido evacuada de Gadamael para Bissau, por recomendação médica (Morais da Silva, ex-Cap Art)



Guiné > Região de Tombali > Gadamael - Porto > s/d> Aquartelamento, com o espaldão, em primeiro plano, o obus 14 (e não a peça de artilharia 11,4), cujo espladão está em construção. Ao fundo, a tabanca (reordenamento feito pelo exército).


Foto: Autor desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Gentileza de:
 © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007). Direitos reservados (Editada por L.G.).


1. Mensagem do Cor Art Ref António Carlos Morais da Silva, que foi comandante da CCAÇ 2796 (Bissau, Gadamael e Quinhamel, 1970/72):

 Data: 10 de Fevereiro de 2011 23:16
Assunto: P7756 - Desmentido
Caro Dr Luís Graça:

Desculpará que o volte a incomodar mas peço-lhe o favor de publicar o meu desmentido formal ao que está escrito no P7756 de 10 de Fevereiro de 2011  e que transcrevo:

 "( ...) Fiz também Guileje com o famosíssimo Cap Parracho que cumprimento também, e Gadamael com o Cap Silva, das Operações Especiais, a quem tive que passar a certidão de óbito por morte em combate, e que recordo com muita saudade (Gadamael era o pior buraco do sul; a companhia que então lá estava teve que ser evacuada para Bissau por minha recomendação)." (*)


Esta afirmação é de Amaral Bernardo, então médico pertencente à CCS/BCaç 2930, de Catió.

A informação de que a Companhia de Gadamael (CCaç 2796) foi evacuada para Bissau por sua recomendação é FALSA e IMPERDOÁVEL.

Este médico deve ter andado distraído durante 11 meses (desde 24 de Janeiro de 1971 quando faleceu em combate o Capitão Assunção Silva, comandante da CCaç 2796, até Dezembro de 1971 quando Amaral Bernardo diz ter sido rendido e seguido para Bissau).


Não sei se havia um ou dois médicos no sector do BCaç 2930 e por isso queira Deus que o autor da falsidade não seja o médico que em 8 de Maio de 1971, estando ocasionalmente em Cacine, se recusou a embarcar num sintex para socorrer 4 militares gravemente feridos em resultado de uma flagelação no fim do dia (que também provocou mais 2 mortos militares) e que, desde então, nunca mais permiti que pusesse os pés em Gadamael.

A CCaç 2796 não foi para Bissau,  como falsamente afirma Amaral Bernardo.

Permaneceu em Gadamael até Fevereiro de 1972 (esteve pois 14 meses em Gadamael e não foi evacuada para Bissau) sob o meu comando, que assumi em imediatamente após a morte de Assunção Silva e mantive, a meu pedido, até ao fim da comissão em Outubro de 1972.

Morais da Silva (coronel, ex-capitão comandante da CCaç 2796).

P.S. É com muita dor que, após 41 anos, sou obrigado a recordar e trazer à tona do meu íntimo uma das piores noites que tive em combate. Perdi soldados, desesperei com os feridos graves e dói-me ter que voltar a recordar a cobardia do médico que não foi capaz de cumprir a sua missão onde era absolutamente necessário.

Repito o que já deixei claro. Não sei se era Amaral Bernardo o médico que estava em Cacine em 8 de Maio de 1971.
 Os meus cumprimentos

António Carlos Morais da Silva 

Amadora
www.moraissilva.com

2. Comentário de L.G.:

Devido à delicadeza do assunto, e por estar em causa a honra e o bom nome de dois camaradas nossos, pedi de imediato ao Amaral Bernardo para confirmar ou desmentir o teor da mensagem do antigo comandante da CCAÇ 2796. As alegações do médico, que trabalha no Porto,  irão ser publicadas a seguir a este poste ou ainda hoje, até ao fim do dia.  

Só agora recebi o texto definitivo do Amaral Bernardo, bem como uma série de fotos do seu tempo de Guiné,  razão por que também só hoje se divulga o desmentido do Morais  da Silva que, recorde-se, foi , no CTIG, Instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael.

Como escreveu o Morais da Silva no nosso blogue, “avancei no fim de Janeiro de 1971 para o comando da CCaç 2796,  em Gadamael,  quando da morte em combate do seu comandante, meu camarada de curso e amigo Capitão de Infantaria Assunção Silva. Fiquei, a meu pedido, no comando desta companhia até ao final da comissão em Outubro de 72”  (Poste P6690).
_______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7756: (Ex)citações (129): Os nossos médicos Mário Bravo e Amaral Bernardo saúdam a entrada, na Tabanca Grande, do José Figueiral (... e o regresso à família de Bedanda)

Neste poste cita-se um outro mais antigio, onde vem a afirmação Amaral Bernardo agora contestada pelo M;orais Siilva:

9 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1471: O tenente miliciano capelão Mário Oliveira, Catió. BCAÇ 2930 (Amaral Bernardo)



(...) O Mário de Oliveira que está com o Mário Bravo não tem nada a ver com o Padre Mário de Oliveira da Lixa. É o capelão da CCS do BCAÇ 2930, sediada em Catió, sede do batalhão, a que ambos pertencemos: (i) embarque no Carvalho de Araujo, que ardeu no caminho; (ii) chegada a Bissau em 4 de Dezembro de 1970; (iii) e regresso em 14 de Outubro de 1972.

O Mário de Oliveira é meu afilhado de casamento!... O Mário Bravo foi-me render a Bedanda (onde estive 13 meses com o capitão Ayala Botto, que cumprimento).

Fiz também Guileje com o famosíssimo Cap Parracho que cumprimento também, e Gadamael com o Cap Silva, das Operações Especiais, a quem tive que passar a certidão de óbito por morte em combate, e que recordo com muita saudade (Gadamael era o pior buraco do sul; a companhia que então lá estava teve que ser evacuada para Bissau por minha recomendação). Só voltei a ver o Mário Bravo há dias, aqui no hospital onde trabalho e lhe dei um abraço e o endereço do blogue. (...)

Último poste desta série >  2 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6817: Os nossos médicos (20): O atentado contra o Cap Mil Med José Joaquim Magalhães de Oliveira, de que eu fui testemunha (Augusto Inácio Ferreira, 1º Cabo Op Cripto CCAV 2482, Fulacunda, 1969/70)

 Recorde-se igualmente que a CCAÇ 2796 foi mobilizada pelo RI 1, era independente, partiu para a Guiné em 31/10/1970 e regressou à Metrópole em 5/10/1972... Esteve em Bissau, Gadamael e Quinhamel. Comandantes: Cap Inf Fernando Assunção Silva (morto em combate); e Cap Art António Carlos Morais da Silva.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7756: (Ex)citações (129): Os nossos médicos Mário Bravo e Amaral Bernardo saúdam a entrada, na Tabanca Grande, do José Figueiral (... e o regresso à família de Bedanda)



Guiné > Região de Tombali > CCAÇ 6 &gt > Carnaval, 1971 (?) > "Da esquerda para a direita, Alf Mil Figueiral, Médico Amaral Bernardo (que me coseu o nariz e também é de Viseu), Cap Ayala Botto, não me lembro do nome do seguinte, Alf Mil Rocha (Artilharia) e Alf Mil Silva"...


Foto (e legenda): © José Figueiral (2011). Todos os direitos reservados.







Guiné > Região de Tombali > CCAÇ 6 > s/d > Regresso do Cap Ayala Botto, de férias: é o primeiro, sentado à direita; o Alf Mil Médico Amaral Bernardo está de de pé junto ao Seco, em traje tradicional; do lado esquerdo está o Alf Mil José Figueiral;  falta identificar o alferes que está no meio, sentado...


Foto: © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados.








Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72> O Alf Mil Médico, Mário Bravo, à direita; e o Tenente Miliciano Capelão Mário Oliveira, CCS/BCAÇ 2930 (Catió, 1970-1972).

Foto: © Mário Bravo (2007). Todos os direitos reservados





1. Mensagem (8 de Fevereiro, 23h15) do Mário Bravo, ex-Alf Mil Médico, que passou por Bedanda, pela CCAÇ 6, entre Dezembro de 1971 e Março de 1972 (,ficando o resto da comissão no HM 241, em Bissau), em resposta a uma anterior mensagem do seu e nosso camarada José Figueiral (Amigo Mário Bravo, já me apresentei na Tabanca Grande,que podes consultar.Tenho mais fotos em que apareces,mas ficam para a próxima vez. Um abraço. Figueiral)


Meu Amigo Figueiral:

É sempre com muita emoção que recebo notícias daqueles que sofreram comigo as agruras da vida difícil dessas paragens de Bedanda.

Mas acho que temos obrigação de transmitir às próximas gerações o que nos inundava a alma.

Temos "boas recordações e laços de amizade " que perduram e faço votos que continuarão a durar.

Manda fotos. Já recebeste notícias do Amaral ? Boa noite e vou dormir.


Cumprimenta


Mário Bravo

2.  Comentário de Amaral Bernardo (ex-Alf Mil Med, CCS do BCAÇ 2930, Catió, 1970/72,  e  CCAÇ 6, Bendanda, 1971) ao poste  P7745


É com alegria e, porque não, com emoção que te contacto, Figueiral!... Afinal vivi integrado numa família a que ambos pertencíamos durante "muito tempo". Foram 11 meses... 


Embora frequentasse algumas "estâncias de turismo" da região (Gadamael, Guilege e,  no 1º mes da comissão, Cacine), foi a CCAÇ6 (AUT VINCERE AUT MORI, lembras-te?) (*),  em Bedanda, que foi a minha Companhia. 


Da fotografia, que também tenho, encontro-me com o PUM!PUM!BAlDÉ  que atirava supositórios de 50kg - o Rocha -, com o Mário Bravo que me substituiu e com o Mário de Oliveira (ex-padre) (**).


Essa foto é de um Carnaval que deu muito que falar nos mentideros  da ALTA SOCIEDADE local. E,de facto, ainda hoje acho que estávamos muito in


Por agora ...basta.


Aguardo contacto, por aqui ou...967070758 / 915676614 / 917745306(93)


Abraço rijo. Fico à espera para "partir mantanha".


Amaral Bernardo

PS - De 1997 até 2004 andei na Guiné a fazer pos-graduação a médicos locais (concurso do Banco Mundial ganho pelo ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, do Porto).


____________


Notas de L.G.:


Último poste da série > 7 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7738: (Ex)citações (128): Coisas mais importantes da vida do que a questão do sexo dos anjos (José Brás)


(*) Vencer ou morrer (em latim)


(**) 29 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1471: O tenente miliciano capelão Mário Oliveira, Catió. BCAÇ 2930 (Amaral Bernardo)


(...) O Mário de Oliveira que está com o Mário Bravo  não tem nada a ver com o Padre Mário de Oliveira da Lixa. É o capelão da CCS do BCAÇ 2930, sediada em Catió, sede do batalhão, a que ambos pertencemos: (i) embarque no Carvalho de Araujo, que ardeu no caminho; (ii) chegada a Bissau em 4 de Dezembro de 1970; (iii) e regresso em 14 de Outubro de 1972.

O Mário de Oliveira é meu afilhado de casamento!... O Mário Bravo foi-me render a Bedanda (onde estive 13 meses com o capitão Ayala Botto, que cumprimento). Fiz também Guileje com o famosíssimo Cap Parracho que cumprimento também, e Gadamael com o Cap Silva, das Operações Especiais, a quem tive que passar a certidão de óbito por morte em combate, e que recordo com muita saudade (Gadamael era o pior buraco do sul; a companhia que então lá estava teve que ser evacuada para Bissau por minha recomendação). Só voltei a ver o Mário Bravo há dias, aqui no hospital onde trabalho e lhe dei um abraço e o endereço do blogue. (...)



segunda-feira, 11 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1836: Caso Picão: quando a justiça não chega, nem sequer tarde (Luís Martins Silva / Amaral Bernardo)


Cópia do ofício do Chefe de Gabinete do Secretário da Defesa Nacional e dos Antigos Combatentes, com data de 17 de Fevereiro de 2005, acusando a recepção da exposição do Luís Martins Silva sobre o triste caso do Picão (entretanto falecido há duas semanas) (1).

Espero, como escrevi há dias, que isto possa desencadear uma série de efeitos em cadeia, ao darmos um murro na burocracia (sem rosto), no cinismo (triunfante) e na indiferença (criminosa). Há tempos comentámos aqui um caso semelhante, o de um camarada que morreu, como um cão, na sua barraca, na Nazaré, e que tinha por alcunha o Zé da Desordem... Para ele, o Jorge Cabral escreveu um pungente Poema de Natal (2).

Mensagem do Luís Martins Silva, que nos chega através do nosso amigo e camarada Amaral Bernardo , ex-Alf Mil Médico da CCS / BCAÇ 2930 (Catió, 197o/72):

Assunto - Caso Picão


Caro Doutor:

Escreve-lhe o Silva, ex-furriel da CCS do BCAÇ 2930, que enviou a mensagem sobre o caso do Picão, para conhecimento do pessoal que foi ao nosso Encontro.

De facto até ao momento não consegui que a viúva me enviasse quaisquer documentos em sua posse, sobre o processo do falecido Picão. Apenas me disse, um destes dias, que falou para o Centro de Saúde Militar, em Benfica, com alguém (penso que com o sargento Pinho), que foi muito simpatico, etc., etc., mas que não adiantou nada sobre o assunto.

E, tanto quanto sei, quando despoletei o assunto em 2005, junto do gabinete do então Ministro da Defesa, Paulo Portas, do qual recebi uma carta, que junto lhe envio em anexo, tudo indica que o Picão teria a pensão deferida desde há 3 anos. Desconheço, porém, o motivo para não lhe pagarem nada, apenas sei pela viúva, que o processo (pelos vistos já deferido) teria transitado para o Centro de Saúde Militar, onde se encontra retido.

Por agora não sei dizer mais nada, continuo à espera da resposta da viúva, que me parece ser tambem uma pessoa muito doente e com algum desiquilíbrio. Logo que tenha informações lhas enviarei.

Com os melhores cumprimentos

Luís Silva


PS - Em anexo junto lhe envio cópia da carta que, em 2005, me foi enviada pelo chefe de gabinete do Ministro da Defesa, Paulo Portas.

________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 8 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1823: Camaradas que já nos deixaram (2): O Picão, da CCS do BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72), que morreu há dias na miséria (Amaral Bernardo)

(2) Vd. post de 3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1398: Poema de Natal: Só agora, camarada, te mataram (Jorge Cabral)

Natal

Só agora, Camarada, te mataram
Abandonado e só no teu Abrigo.
Finalmente, os pesadelos cessaram.
Não tens mais Inimigo!
A Paz foi sempre Guerra,
Porque jamais esqueceste,
Nem nunca regressaste à tua terra,
Pois foi ainda lá, que tu morreste.
Que te matou, Irmão?
Uma mina? Um tiro? Uma granada?
Ou foi a Solidão,
Que transformou a vida em emboscada?

Nunca te conheci, oh! Meu Amigo,
Apenas li a notícia no Jornal,
Mas hoje estarás comigo,
Na ceia de Natal.

Lisboa, 25/12/06

Jorge Cabral

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1489: Tabanca Grande (5): Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico, Catió, BCAÇ 2930

Guiné > Região e Tobali > Catió > CCS do BCAÇ 2930 (1970/72) > O Alf Mil Médico Amaral Bernardo.



Porto > 2007 > Amaral Bernardo, Professor Catedrático Convidado no ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar; responsável do Departamento de Ensino Pré Graduado do HGSA - Hospital Geral de Santo António, Porto.

Fotos: © Amaral Bernardo (2007). Direitos reservados.

Luís:

Com este e-mail e estas fotografias formalizo a minha entrada para a família da guerra da Guiné que faz deste Blogue (propositadamente com maiúscula) o seu ponto de encontro para partilha de vivências que, de outro modo, teriam que continuar a ser ruminadas e recalcadas na solidão da nossa angústia - as boas e as péssimas.

Foi pela mão do Paulo Salgado, meu amigo, que diariamente, quase desde o princípio, aqui venho - com atenção e muita emoção, como já disse. E desde o princípio me senti sempre em família.

Aceito, pois, o teu convite e prometo cumprir as regras e partilhar... mesmo as minhas críticas frontais e abertas (se as houver).

Neste momento não posso fugir ao lugar comum de te felicitar por esta iniciativa cujos resultados estão à vista. Mesmo quande se discorda ocasinalmente.

Cumprimento também todos os que já fazem parte desta família.

Abraço

Amaral Bernardo

(CCS / BCAÇ 2930, Catió, 197o/72)

2. Comentário de L.G.:

Reiterando o que já te disse, em privado, estás triplamente em casa, neste nosso blogue: és um camarada da Guiné e um homem da saúde, além de professor, formador de médicos e outros profissionais de saúde. São três características que temos em comum: se lhe juntarmos o facto de termos um amigo em comum que se chama Paulo Salgado, já são quatro. Se te disser que tenho uma costela nortenha pela via do casamento (a minha mulher é do Marco de Canaveses e tenho numerosa e fantástica família no Porto), então já são demasiadas coincidências... Mas tu estás, por mérito próprio, nesta grande família que são os amigos e camaradas da Guiné... Ficamos honrados com o teu pedido (formal) de adesão à tertúlia. Já reparaste que é gente do melhor, amiga do seu amigo, camarada do seu camarada... Terás de arranjar algum tempo para nos contares as tuas estórias de médico no martirizado sul da Guiné... LG

_________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

30 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1474: O capelão Mário Oliveira, de Catió, que ia a Bedanda (Mário Bravo)

29 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1471: O tenente miliciano capelão Mário Oliveira, Catió. BCAÇ 2930 (Amaral Bernardo)

12 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1363: Questões politicamente (in)correctas (13): Combatentes e desertores não cabem no mesmo saco (Amaral Bernardo)

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1471: O tenente miliciano capelão Mário Oliveira, Catió. BCAÇ 2930 (Amaral Bernardo)



Guiné > Região de Tombali > CCAÇ 6 > Regresso do Cap Ayala Botto, de férias: é o primeiro, sentado à direita; o Alf Mil Médico Amaral Bernardo está de de pé junto ao Seco, em traje tradicional.



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > A saída do obus 14, de noite.
Fotos: © Amaral Bernardo (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do Amaral Bernardo (José Maria Ferreira do Amaral Bernardo, Professor Catedrático Convidado no ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Responsável do Departamento de Ensino Pré Graduado do HGSA - Hospital Geral de Santo António, Porto; ex-alf mil médico, BCAÇ 2930, Catió, 197o/72) (1)


Luís:

Só um esclareciment: O Mário de Oliveira que está com o Mario Bravo (2) não tem nada a ver com o Padre Mário de Oliveira da Lixa. É o capelão da CCS do BCAÇ 2930, sediada em Catió, sede do batalhão, a que ambos pertencemos:

(i) embarque no Carvalho de Araujo, que ardeu no caminho,

(ii) chegada a Bissau em 4 de Dezembro de 1970;

(iii) e regresso em 14 de Outubro de 1972.


O Mário de Oliveira é meu afilhado de casamento! (3).
O Mario Bravo foi-me render a Bedanda (onde estive 13 meses com o capitão Ayala Botto, que cumprimento). Fiz também Guileje com o famosíssimo Cap Parracho que cumprimento também, e Gadamael com o Cap Silva, das Operações Especiais, a quem tive que passar a certidão de óbito por morte em combate, e que recordo com muita saudade (Gadamael era o pior buraco do sul; a companhia que então lá estava teve que ser evacuada para Bissau por minha recomendação).

Só voltei a ver o Mário Bravo há dias, aqui no hospital onde trabalho e lhe dei um abraço e o endereço do blogue.

Vou parar aqui...

Abraço

Amaral Bernardo


P.S. - Os obuses de Guileje são 11.4 e os famosíssimos de Bedanda 14: eram 3. Inconfundíveis (4)

2. Comentário de L.G.: O Prof Amaral Bernardo telefonou-me hoje de manhã, a dizer-me que me ia mandar este mail e estas duas fotos. Aproveitei para o convidar, formalmente, a fazer parte do nosso blogue. Sei que é um velho amigo do Paulo Salgado e um apaixonado pela Guiné e pelo seu povo. Há mais de uma década que faz cooperação na área da saúde. Não precisaria de nenhum destes pergaminhos para ser cooptado para a nossa tertúlia. Bastava o facto de ter sido nosso camarada de armas e ter passado por sítios míticos do sul da Guiné, aqui constantemente evocados. O Amaral Bernardo está em casa, entre amigos e camaradas.
Quanto ao esclarecimento sobre a identidade do tenente miliciano capelão Mário Oliveira, fica tudo esclarecido. Eu tinha ontem enviado um mail, à nossa tertúlia, em tom de brincadeira, nestes termos:
Amigos & camaradas: Vejam se descobrem este sósia do verdadeiro Padre Mário de Oliveira, nosso querido tertuliano... Espero que o Mário Bravo, que é ortopedista, não tenha trocado os pés pelas mãos...
Naturalmente que, tal como as Marias, há mais Mários na terra. O Mário Oliveira, que em tempos foi sacerdote e capelão militar, em Catió, no BCAÇ 2930, será também bem vindo, se se quiser juntar a nós... com a benção do padrinho.
Com três médicos (Vitor Junqueira, Mário Bravo e Amaral Bernardo) e dois capelões militares (os Mário Oliveira), já não haveria guerra que nos metesse medo... (LG)
_______________


Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 12 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1363: Questões politicamente (in)correctas (13): Combatentes e desertores não cabem no mesmo saco (Amaral Bernardo)

(2) Vd. post de 28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1469: Bedanda, manga de saudade ou uma dupla sinistra, o padre e o médico (Mário Bravo, CCAÇ 6)

(3) Também recebi mais dois emails, confirmando a identidade do ex-capelão:

Carlos Ayala Botto: Caro amigo, se não estou em erro, a foto que me enviou é do capelão do Batalhão de Catió, cujo nome não me recordo. Um abraço. Carlos Ayala Botto

Rui Santos: É mesmo o Tenente Miliciano Capelão Mário Oliveira, do BCAÇ 2930, Catió, 1970-1972. Pelos vistos, dois capelães com o mesmo nome! Rui Santos.

(4) O nosso especialista em artilharia, o coronel na reforma, Nuno Rubim, diz que o 11.4 é uma peça (de artilharia) e o 14 é que é o obus... Eu confesso que não consigo distingui-los... Sobre a artilharia em Bedanda e Guileje, vd. posts anteriores:

18 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1443: Contributo para a história da construção do aquartelamento de Guileje (José Barros Rocha, CART 2410, Os Dráculas, 1969/70)

15 de Janeiro de 2007 >Guiné 6/74 - P1434: Artilharia em Guileje: a peça 11.4 e o obus 14 (Nuno Rubim)

6 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1407: Tertúlia: apresenta-se o Coronel de Cavalaria Carlos Ayala Botto, ajudante de campo do General Spínola

8 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1159: Álbum fotográfico (Hugo Moura Ferreira) (2): Bedanda, ontem (CCAÇ 6, 1970) e hoje

6 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1155: Álbum fotográfico (Hugo Moura Ferreira) (1): Bedanda, CCAÇ 6, 1970: O Obus 14 contra o foguete Katiusha

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1363: Questões politicamente (in)correctas (13): Combatentes e desertores não cabem no mesmo saco (Amaral Bernardo)

1. Mensagem enviada pelo nosso camarada Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico do BCAÇ 2930, com data de 15 de Novembro de 2006:

Luís Graça (permita-me que o trate assim):

Sou ex-Alf Mil Médico na Guiné, Dezembro de 1970/Outubro de 1972, Catió, Cacine, Guileje, Gadamael, Bedanda (11 meses), Tite e Jabadá, Bolama (20 dias para descacimbar).

Sigo com atenção ... e emoção, diariamente, este bolgue.

Hoje de manhã ao abrir o correio, foi o choque e a dúvida. A minha pergunta é: neste blogue os desertores (o termo é vosso) são considerados ex-combatentes por quem esteve na guerra? Este não é um local de ex-combatentes ? (1)

Respeito todas as opções e todas as pessoas. Mas penso que os grupos são distintos e não têm lugar no mesmo saco. Penso ainda que não deveria ser um lugar de branqueamento de posturas. Perdoe, mas é a minha opinão. E vale só isso.

Um abraço
amaral bernardo

P.S. - Claro que o Medeiros Ferreira não tem culpa nenhuma disto. Fez uma opção que eu respeito, repito.

2. Comentário do editor do blogue:

Meu caro Professor Doutor Amaral Bernardo: Não tenho o prazer de o conhecer pessoalmente, mas já descobri que temos várias coisas em comum, nomeadamente, o facto de sermos professores universitários, estarmos ligados à saúde e termos sido combatentes na Guiné, sensivelmente na mesma altura, você, entre 1970/72, e eu entre 1969/71...

O nome do Medeiros Ferreira apareceu no nosso blogue, evocado pelo Raul Albino, seu camarada da CCAÇ 2402. O Raul seguiu para a Guiné, o Medeiros Ferreira desertou na véspera do embarque (2)... O termo não é do Raul Albino, foi usado por mim em nota de pé de página... Objectiva e legalmente, a figura é a do desertor, sem qualquer juízo político, ideológico, moral ou ético.

O Raul Albino, que por razões de preparação logística seguiu em primeiro lugar para a Guiné duas ou três semanas antes, constatou apenas que à chegada da CCAÇ 2402 a Bissau, havia duas baixas de vulto no quadro de oficiais (sic): o Beja Santos e o Medeiros Ferreira (que hoje são, ambos, figuras públicas, sendo o primeiro membro da nossa tertúlia e colaborador activo do nosso blogue, tal como o Raul Albino).

Não há, por parte do Raul Albino ou do editor do blogue, nada que indicie ou sugira a condenação ou a glorificação da figura do desertor... Este blogue é de amigos e camaradas da Guiné... As regras de inclusão e de exclusão não estão definidas de uma vez por todas... Estamos abertos, por exemplo, a acolher, na nossa tertúlia, os homens e as mulheres que nos combateram, até 1974, sob a bandeira do PAIGC... Sem dúvida, que este é um blogue sobretudo dos ex-combatentes da guerra da Guiné, mas interessam-nos também os pontos de vista, as experiências, os testemunhos, de todos aqueles que directa ou indirectamente trilharam os caminhos da guerra e da paz...

Eu sei que a palavra desertor ainda hoje tem uma certa carga emocional para muitos de nós que fomos mobilizados para o ultramar... Eu sei que esta pode ser mais uma questão fracturante no nosso blogue, mas não devemos ter medo de a evocar e de a discutir...

Dito isto, registo, sem mais comentários, a opinião do Amaral Bernardo e aproveito o ensejo para o convidar a participar, mais regular e activamente, no nosso blogue. Espero, no minímo, que continue a seguir-nos diariamente, com a mesma atenção e emoção com que o tem feito até aqui.

Saudações do L.G.
__________

Notas de L.G.:

(1) José Maria Ferreira do Amaral Bernardo é Professor Catedrático Convidado no ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Responsável do Departamento de Ensino Pré Graduado do HGSA - Hospital Geral de Santo António, Porto.

(2) Vd. post de 15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira