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domingo, 15 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3896: Do purgatório de Bissum / Nagal ao infermo de Cafal Balanta / Cafine (Manuel Maia, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4610, 1972/74)

1. Mensagem de Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine (1972/74):


Assunto - Do purgatório de Bissum Nagal ao infermo de Cafal Balanta / Cafine



Para alguém ligado à história [ como eu], a preocupação com as fontes deverá ser de primordial importância...

Não foi exactamente assim que se passou comigo relativamente à informação que passo a debitar, dado que estou a confiar demasiado na memória, que obviamente não é de elefante...

De qualquer forma, não estarei muito longe da realidade se apontar estes dados:

13 Junho 72

Embarque em avião das Forças Armadas para Bissau. De imediato rumamos ao CUMERÉ onde tiraríamos o chamado IAO que deveria ser um período de aclimatação e aprendizagem sobre a temática de guerra ,mas não foi conseguido (creio que para a esmagadora maioria dos formandos a nível de todos todos batalhões)... E porquê? Quem ministrava o ensino já não queria arriscar – milicianos - e a generalidade dos indivíduos do quadro nada percebia do assun ...

Finais de Junho 72

Chegada a BISSUM/NAGA para o necessário período de sobreposição com quem estava de partida.

Dezembro 72

Partida dos 1º e 3º grupos para CAFAL BALANTA ( CANTANHEZ) onde ficaríamos adstritos até à chegada do resto da companhia.


15 de Março 73

Chegada do resto da companhia ao Cantanhez (CAFINE) com a consequente mudança dias depois (2 semanas?) dos grupos já referenciados por forma a ter a companhia de novo toda junta.

Convirá referir que a distância quilométrica entre as duas localidades não ultrapassava os dois quilómetros( passávamos o dia de um lado para o outro, ora na função de reordenamentos na segunda localidade, ou tão somente para gastar o tempo...

A estrada era uma recta enorme com apenas uma ligeira curva. Mesmo assim, o IN colocou uma mina anticarro que vitimou um soldado de Cafal e feriu gravemente outro.

Obviamente que o objectivo do engenho fora destinado para uma situação de mais vitimas ( quatro vezes ao dia uma Berliet com vinte ou trinta militares fazia aquele trajecto de manhã e de tarde levando pessoal dos grupos 1º e 3º para o trabalho de feitura de habitações para a população em CAFINE) durante as tais duas ou três semanas que mediaram entre a chegada do resto da malta e a necessária reunificação...

15 de Junho 73

Partida dos 2º e 4º grupos para COBUMBA.

25 de Setembro 73

Chegada ao Dugal e seus destacamentos de FATIM e CHUGUÉ.


5 de Julho 74

Chegada ao Cumeré.

13 de Julho 74

Embarque para Lisboa.

Se me fosse perguntado em termos religiosos como classificaria as várias localidades por onde passei naquele périplo de vinte e cinco meses, ao reportar-me a BISSUM, poderia, usando a expressão "saudade apesar de tudo..." , apelidá-la de purgatório, atendendo a que os cerca de seis meses ali passados, apesar de isolados de tudo, não foram aquilo que se pintava em Bissau, (quando chegamos bviamente inquirimos "meio mundo" sobre o local para onde íamos e a resposta, invariavelmente, apontava para um sítio onde o verbo "embrulhar" se conjugava com inusitada repetição...)

Não foi isso que aconteceu...

De forma perspicaz, o capitão da unidade que nos antecedeu, atribuía aos muitos e contínuos êxitos obtidos fora de portas - pelo grupo de milícia nova em que a apreensão de armamento IN acontecia com bastante frequência - um comando de pessoal branco em operação provavelmente conjunta...

Ora o timoneiro da minha companhia como homem inteligente, utilizando a badalada expressão futebolística de que em equipa que vence não se mexe, deu continuidade à fórmula ganhadora, e continuou a somar pontos para um campeonato em que foi guindado aos lugares cimeiros em termos de operacionalidade...

A juntar a isto, o próprio nome do líder, Terrível, ( daí a designação da companhia...), serviria para obrigar o HOMEM GRANDE a pensar na solução para o sul usando a lógica do raciocínio: "Se ele pacifica uma zona complicada como BISSUM/NAGA, será o homem indicado para me resolver a questão lá em baixo..."

Se bem pensou, "mal o fez", diria eu ...

É que mercê desse raciocínio algo simplista obrigou-me a conhecer o inferno, que
posso, sem quaisquer sombras de dúvidas, localizar como sediado no eixo CAFAL BALANTA-CAFINE (infelizmente não vos posso fornecer as coordenadas...) .

Dentro de dias tentarei, (se para isso tiver o engenho e a arte...) enviar-vos algumas fotografias das casas/covas de CAFAL onde não nos faltava o envio aéreo por parte do PAIGC de metal quente sob a forma de RPG, canhoada, ou simples bala de Kalash, em substituição dos frescos de pára-quedas que o homem do monóculo prometera...

Acabaria por conhecer o céu quando em Setembro de 73, mercê do excelente serviço de reordenamentos e porque não dizê-lo, do qualificado trabalho operacional, o madeirense (não, não é esse em que estão a pensar...) Bettencourt Rodrigues (o homem que fazia as vezes de Spínola...) num rasgo de inteligência e de justiça decidiu conceder-nos o céu, (é certo que sem as virgens como propicia Alá...) para que pudéssemos enfim saborear as coisas boas da vida ...

Até lá, um abraço a toda a malta.

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Apresentação de Manuel Maia ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3886: Tabanca Grande (118): Manuel Maia, ex-Fur Mil, o poeta épico da 2ª Companhia do BCAÇ 4610/72 , o Camões do Cantanhez

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

1. Mensagem de Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, com data de 10 de Fevereiro de 2009:

Foi com enorme satisfação que recebi o teu mail dando-me conta da necessidade de voltar a escrever para luisgraçaecamaradasdaguine@gmail.com o que acabei de fazer mas... quase instantâneamente foi-me devolvida à guiza do que acontecia sempre...

Nesta conformidade vou aproveitrar esta via para fornecer os dados que me foram solicitados.

Fui Furriel Miliciano da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 que rumou depois do necessário IAO do CUMERÉ, para BISSUM/NAGA.
Aí nos mantivemos uns sete a oito meses para sermos apanhados na famosa operação do Cantanhez que implicou a ida de dois Grupos de Combate, (entre os quais o meu...) para CAFAL - BALANTA ficando adstritos à Companhia residente (que ali se encontrava apenas há dias...) vivendo em condições infrahumanas em buracos escavados no solo sem a possibilidade de protecção de "tecto" pois o homem do monóculo não autorizava senão panos de tenda e folhas de palmeira.

Esta parceria com Cafal durou uns três a quatro meses até à chegada do resto da minha Companhia que foi destacada para CAFINE (distando cerca de 2km dali...)

Então, já reunidos, passamos a viver em tendas de campanha até termos concluída a feitura dos reordenamentos consubstanciada em largas dezenas de habitações para a população. Só então procedemos à construção de mais algumas para serventia da companhia...

Foi um trabalho insano, mas que nos deu plena satisfação e que permitiu, estou certo, - a juntar ao episódio da captura algo fortuita de Rafael Barbosa, líder guinéu do PAIGC (em rota de colisão com os dirigentes caboverdeanos...) - a saída precoce da região, a título de prémio, creio bem...

Foram nove ou dez meses ali passados, naquela zona minguada de tudo menos de mosquitos e balas...

Dali fomos descansar para um local perto de Nhacra chamado DUGAL que dispunha de dois destacamentos, CHUGUÉ e FATIM onde aguardei até aos últimos quinze dias (de novo fomos para o Cumeré) antes do embarque final para Lisboa.

Sou licenciado em História e pretendo, se acaso me for facultado, óbviamente, enviar para a "tabanca" a história da minha Companhia em sextilhas (tenho-a também em prosa...) onde são respeitados os cânones desta vertente poética.

Relativamente ao envio das duas fotografias não me é possível fazê-lo
ainda, porquanto sendo debutante nesta tecnologia, terei ainda de colher informações que me levem ao cumprimentro do desiderato.

Um abraço.

2. Mas ainda no mesmo dia, o nosso novo camarada enviava as fotos da praxe.

Caro Vinhal

Graças ao meu filho foi possível enviar-te as fotografias.

Como temi que para o blog luisgraçaecamaradasdaguine@gmail, pudesse ser de novo devolvido tomei a liberdade de enviar para ti esperançado que seja possível fazeres o favor de as colocar no seu devido lugar.

Um abraço e o pedido de desculpas por usar o teu mail.


3. Comentário de CV

Caro camarada Manuel Maia, este poste é só para formalizar a tua apresentação à Tertúlia, porque já tens trabalho publicado no Blogue.

O texto que nos enviaste com o teu desejo de aderires à Tabanca Grande, é importante ser conhecido, para que te conheçamos melhor.

Justifico o meu destempo, dizendo que tinha um determinado alinhamento para apresentar dos diversos camaradas que tinha em espera, tendo o Luís entretanto publicado o teu trabalho do poste 3886(*).

Quanto ao utilizares o meu endereço, fizeste muito bem, porque ele está destinado aos assuntos do Blogue. Aliás se enviares as tuas mensagens para os dois endereços, mais certeza terás de que serão entregues. Tinhas um erro no endereço do Luís, (graça em vez de graca), não fosse teres recorrido a mim ainda não tinhas conseguido contactar o nosso Blogue.

Está tudo bem e isso é que é importante. Esperamos agora a tua colaboração na feitura da História da tua Unidade.

Deixo-te um abraço em nome da tertúlia.
__________

Nota de CV:

Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3886: Tabanca Grande (118): Manuel Maia, ex-Fur Mil, o poeta épico da 2ª Companhia do BCAÇ 4610/72 , o Camões do Cantanhez

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3886: Tabanca Grande (118): Manuel Maia, ex-Fur Mil, o poeta épico da 2ª Companhia do BCAÇ 4610/72 , o Camões do Cantanhez


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66) > Os Lassas na abertura da estrada Cufar/Cobumba. Em Novembro/Dezembro de 1972, a 2ª Companhia do BCAÇ 4610/72, de que o Manuel Maia, novo membro da nossa Tabanca Grande, era Fur Mil At, integra as forças de Spínola que vão tentar reconquistar e ocupar o coração do mítico Cantanhez: Cobumba, Chugué, Caboxanque, Cadique, Cafal, Cafine, Jemberém...

Foto: ©
Mário Fitas (2008). Direitos reservados.

1. O Manuel Oliveira Maia fez há dias uma primeira tentativa para entrar em contacto connosco e ser admitido na nossa Tabanca Grande. Não mandou fotos, por que ainda anda às voltas com estas novas tecnologias... É o que deduzimos, de resto, da leitura do seu blogue, MAMOM, aberto em Janeiro passado e contendo já vários postes sob o título "Evocação da Guiné". Diz ele, em jeito de apresentação:

"Tenho 58 anos, sou licenciado em História pela FLUP [Faculdade de Letras da Universidade do Porto] e só agora estou a começar a 'gatinhar' nas novas tecnologias. Por isso mesmo não consigo ainda dominar esta máquina que me tem baralhado. Com o tempo chego lá".

Pois é, Manuel, isso com o tempo (e a teimosia) a coisa vai. Tudo se aprende, haja força de vontade.
Entretanto, recebemos hoje um segunda mensagem do Manuel Maia, que diz o seguinte:

"Português dos quatro costados, apreciador de ditados populares, decidi tomar a nuvem por Juno e utilizar o conhecidíssimo 'quem cala consente', daí o atrevimento de escrever, de forma faseada, aquilo que tinha solicitado há dias e que dá o título a este mail, esperançado em que alguém da companhia possa lê-lo. Desde já o meu muito obrigado".

Pois é, Manuel, a gente não cala mas consente. Isto quer dizer que estás mais do que autorizado, tens luz verde para entrar na nossa Tabanca Grande e sentar-te à sombra do poilão. Com tempo e vagar, mandas-nos algunas fotos e conta-nos por onde andaste, com a tua 2ª Companhia do BCAÇ 4610/72 (já percebi: Bissum, na região de Bula, Cafine, Cafal Balanta., na região do Cantanhez / Cacine..).

E, olha, parabéns, pela arte e engenho de narrar, com humor, os feitos gloriosos dos Terríveis que ousaram penetrar no Santo dos Santos, que era, para o PAIGC, o Cantanhez. Furriel Maia, estás aprovado com 20 valores. São trinta e três sextilhas, ou seja, estrofes de seis versos de dez sílabas métricas. Não os revi todos, mas batem certo: são mesmo decassílabos... Ou não fosses tu um homem de letras, e quiçá um émulo de Camões.... O Camões do Cantanhez!

Fico a aguardar o resto do poema épico, agora a entrar - espero bem - no mítico Cantanhez, lá por alturas de Novembro/Dezembro de 1972, quando o velho Spínola decidiu reconquistar e ocupar essas míticas terras de Tombali, numa prova de força contra o PAIGC: Cobumba, Chugué, Caboxanque, Cadique, Cafal, Cafine, Jemberém... Vou ver depois como chamar a esse novo Cancioneiro... (LG)


2. Assunto - HISTÓRIA EM SEXTILHAS DA 2ª CCAÇ BCAÇ 4610/72


2ª CCAÇ BCAÇ 4610/72, OS TERRÍVEIS


1. Da mais remota aldeia ou simples terra
chegaram aprendizes para a guerra,
à Eborina urbe alentejana.
Três meses lá passados chegou dia
do voo p´ra Guiné que ninguém queria,
p´ra trás ficava o Templo de Diana...


2. Corria o ano dois após setenta,
manhã dia antonino,calorenta,
em terra há corações despadaçados.
No voo baptismal p´ra maioria,
vai tropa dos Terríveis,que escondia,
seus medos peito adentro,bem fechados.


3. Pousada a nave,agreste é a paisagem...
em camiões Berliet se faz viagem
até ao Cumeré, p´ro I.A.O.
Em cada face há rios de suor
vincando esgares e rictos de estupor,
nas rugas desenhadas pelo pó...


4. No Cumeré surgiu nova instrução
com muitos pius saudando a comissão
que ora começavam, coitaditos...
De fardas novas, pele esbranquiçada,
são alvo da chacota e gargalhada
dos velhos que gozavam periquitos...


5. Desajustado,bronco e petulante,
republicano guarda é o comandante
do nosso batalhão de Bissorá.
Destino de Bissum foi libertário
livrando-nos do velho salafrário
a Bula, a administração nos ligará.


6. Bissum passou a ser morada nova
e os nervos aos Terríveis pôs à prova
daí as muitas noites mal dormidas.
Enquanto em casa a música (a) descansa,
no mato ,atirador faz segurança
travando assim as turras investidas...

(a) Pessoal que não ia ao mato


7. A sobreposição foi conseguida,
serena,com quem estava de partida,
de volta p´ra Lisboa, por Bissau.
Pintada fôra a manta com mil perigos
de ataques incessantes inimigos,
buraco...afinal nem era mau...


8. E desse tempo há coisas que ficaram,
partidas/praxe com que nos brindaram,
algumas bem gozadas,vejam bem...
Na messe à noite,em plena cavaqueira
connosco, bem bebido, em brincadeira,
alferes velho,ali,conta vantagem...


9. No mato, embrulhara manga deis...
(recorda pelo menos vinte e seis...)
nalguns sentira mesmo uns sustozitos...
Mostrava o seu galão,com arrogância
ao turra a quem cheirava, inda à distância,
julgando impressionar os periquitos...


10. Aterra no seu braço um vil mosquito
sem respeitar velhice, algo esquisito,
com tanto sangue pira,ali à mão...
A frase foi marcante pois lembrava
que a sua comissão se acabava
e a nossa, acabaria um dia,ou não...


11. Tainadas e petiscos, noite afora,
para empurrar o copo,sem demora
dos piras, p´ra cerveja ,sai a massa...
caçadas p´la velhice, são galinhas
do mato,algo enfezadas, mas durinhas...
que mais não são que abutres p´ra desgraça...


12. O tempo foi passando,devagar,
mais lento que a vontade militar,
até surgir primeiro fogachal...
falhada e curta fôra flagelação
que teve p´ros Terríveis o condão
de ensinamento p´ro perigo real...


13. Primeiro ataque há medo e confusão
que geram caricata situação,
no ar pairavam sustos, grande é o drama...
às quatro morteiradas do inimigo
Terríveis, responderam...do abrigo,
a tiro de espingarda e dilagrama...


14. As balas tracejantes da milícia,
p´ra quem ataque é óptima notícia,
à noite dão um ar de foguetório...
na messe, alto betão protege audazes,
Almeida e Maia,acalmam seus rapazes
formando o grupo frente ao refeitório...


15. Ao pânico de início seguiu logo,
a calma a analisar poder de fogo,
co´a ajuda da milícia sabedora.
Saído da tabanca,Eusébio(b) berra:
- Pára essa merda toda, acaba os guerra
mi misti poupa bala,cá põe fora!!!

(b) milícia


16. Do simples dilagrama, à morteirada,
angústia e raiva ali é despejada,
travado apenas foi grupo terceiro.
Enquanto no quartel,há confusão,
Almeida e Maia formam pelotão
havia que impor ordem no terreiro...


17. Às vezes,lembro aqueles fins de tarde,
a lavadeira ali,fazendo alarde,
dos dotes que lhe deu a natureza...
Bajuda prometida de milícia,
rasgado tem sorriso de malícia,
a torneada Quinta, uma beleza...


18. Coragem mostra ter milícia nova,
por actos de bravura que renova,
a cada compromisso para acção.
Nas notas p´ra Bissau, branca é chefia,
Inchunfla é comandado com mestria,
de cada vez que faz golpe de mão...


19. Milícia velha um dia, por ciúme,
da nova, p´ra quem ronco era costume,
fogueira quis fazer em pleno mato...
a ideia era atrair a turra gente
tomar as suas armas facilmente,
ganhar direito à fama, ao estrelato...


20. Coluna estava imóvel, faz bocado...
de trás, parti, semblante carregado,
à cata do porquê dessa inacção...
- Nós tem que ter fogueira furriel!
Faz frio, manga dele aqi nos pele...
pessoal pá,não guenta a situação
...


21. Está a andar para o quartel,directamente!
Vais lá fazer um fogo que te aquente...
disse eu a Armando, o guia da secção.
- Pessoal tem de ir nos sítio dos bandido
se não vais lá, furriel, ficas fodido,
Armando...pá, faz queixa ao capitão...


22. Cantina foi o ponto de paragem
para aquecer gargantas da friagem
daquela madrugada quase ronco...
Suborno fôra a via que eu usara
travando,com cerveja,a sanha ignara
do pessoal de Armando,guia bronco...


23. Com Marcelino Mata, a lenda viva,
operação fizemos, punitiva,
às tropas inimigas do sector.
Sucesso retumbamte o resultado
do chefe militar, idolatrado,
que olhava os p´rigos, sempre sem temor...


24. Do mato após dois dias regressados,
sofridos, fartos já dos enlatados,
comida,banho e cama são anseios...
Jantar nos negam dando por razão
abono de combate com ração,
sabendo não haver ali mais meios...


25. Do peixe da bolanha e arroz/cimento
que havia alimentado o regimento,
notada foi a ausência do Caseiro.
Já fartos do menú que este dispensa,
Almeida e Maia encontram na despensa
o dito, a comer frango com casqueiro...


26. Com delicado pé, quarenta e cinco,
derruba Almeida a porta chapa/zinco,
com Maia,no apoio,do seu lado.
À guiza de castigo,fica então
contestatário Maia com missão
de vaguemestre,um mês, tendo agradado...


27. Deu frango, em quartos, com batata assada,
ração completamente inusitada,
e vacas extra em compra inolvidável...
A cada copo o preço era espremido,
cigarro tinha acção de lenitivo,
Rebenta Minas(c) fôra inigualável...

(c) Rodrigues


28. Rodrigues, ganadeiro,cá de fora,
que acolitava o Zé (d), a toda a hora,
manteve-se em funções por minha opção.
Provada foi justeza da medida
pois compra à populaça é conseguida
mercê dos seus recursos d´ocasião...

(d) Caseiro


29. P´la vaca são pedidos quatro contos,
cigarro e copo ali ganham descontos,
p´ra reduzir o preço ao animal.
- Mil e quinhentos peso é pouco, pouco...
dou mil,cigarro e copo,não sou louco,
está magra e foi roubada,por sinal...


30. Nos mapas expedidos p´ra Bissau,
Terrivel,capitão daquela nau,
seu nome apunha aos actos mais ousados,
daí governadora rapidez
de olhar o salvador do Cantanhez
em si e seu punhado de soldados...


31. Consolidada a imagem em Bissau,
João Terrível, tido um homem mau
´statuto VIP, granjeou de vez.
Monocular figura,quase mito,
ao empurrá-lo a sul teria o fito,
d´impor a paz na mata Cantanhez...


32. Cafal-Balanta asila meio cento,
garante-lhes espaço/sofrimento,
lugar junto à bolanha, em cova nua.
Dois dias p´ra aramar são preenchidos,
cansados dormirão,enfim,vestidos,
sem tecto,em colchão de ar,a olhar a lua...


33. Indescritível sensação de horror
com noites sem dormir, tal o temor,
desprotegido espaço nos calhara.
A urgência em aramar era ambição,
que todos partilhavam, pois então,
o medo já estampava cada cara...

Manuel Oliveira Maia

[Fixação/revisão do texto/edição: L.G.]

___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3882: Tabanca Grande (117): Gumerzindo Caetano da Silva, ex-Soldado Condutor da CART 3331 (Cuntima, 1970/72), que nos lê na Alemanha

(**) Há muitas referências a Cafal no romance do Mário Fitas, já publicado em 'episódios': vd. poste de 28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2593: Pami Na Dondo, a Guerrilheira , de Mário Vicente (11) - Parte X: O preço da liberdade (Fim)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3848: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (2): Eu, a NI e o Miguel em Biambe, para um almoço de batatas fritas (Henrique Cerqueira)

1. Mensagem de Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil do 4.º GCOMB/3.ªComp/BCAÇ 4610/72 e CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74, com data de Fevereiro de 2009:

Cá vai mais uma história da minha NI (mulher) de GUERRA(*).

Como contei na história anterior, a minha NI resolveu acompanhar-me em mais uma pequena (?) aventura em terras da Guiné. É que resolvemos visitar os meus antigos camaradas e amigos do BIAMBE.

Lembro que fui para a Guiné integrado no BCAÇ 4610/72, mobilizado no RI 16 - Évora e, na 3.ª Companhia que viria a ser colocada em Biambe, a qual viria a ser baptizada com o nome TÁ NO PAPO. A sede de Batalhão (CCS) ficou em Bissorã. E foi assim que acabei por bater com os costados na CCAÇ 13 que estava adstrita ao meu Batalhão.

Sendo assim e após este intróito, passemos à história da NI & C.ª.


Um almoço de Batatas fritas em Biambe

Como nós sabíamos que a malta do Biambe há muito não sabia o que era comer batatas, resolvemos que ir levar-lhas, porque o maior desejo do pessoal era mesmo comer umas batatinhas fritas já que, como a tertúlia sabe, na Guiné era só bianda e esparguete (ainda hoje odeio o referido esparguete). Assim, combinámos via rádio o dia da visita e o meio de lá chegarmos em segurança. Esta visita já foi feita após o fim das hostilidades, mas ainda havia muitas minas espalhadas pelas picadas, assim como já havia alguma insurreição entre gente civil relacionada com aquelas euforias pós-revolucionarias do género de nos irem chamando de Colonialistas, etc… Bom é então que se marca um Domingo e a malta do Biambe nos veio buscar a Bissorã a mim, à NI e ao meu filho Miguel.

Após a almoçarada e a respectiva socialização da NI e do Miguel com todos os meus antigos camaradas, a malta teve de nos levar de novo a Bissorã e desta vez todos regressámos bem atestadinhos de álcool fermentado. Embora eu nem por isso, até porque fui sempre muito bem comportadinho. Bem, vezes não são vezes.

Junto algumas fotos desse dia, lamentavelmente tenho muito poucas fotos, porque após a almoçarada (batatas fritas com… batatas fritas) e muita cervejinha e uns Dimples de seguida, retiraram a firmeza das mãos e a minha Chinão (máquina fotográfica) caiu e avariou. Sobraram algumas fotos, das quais anexo estas.

Regressados a Bissorã, tivemos que passar pela porta do Comando… Aí o Nunes (ex-Furriel) resolve insultar o Comando e demais gente. Claro que o rapaz estava mal disposto. Ele hoje até é professor em Coimbra, mas naquele dia deu-lhe para a má disposição. Levo o rapaz ao Bar da CCAÇ 13 para o acalmar e beber umas águas para arrotar.

E pronto, lá fiz merda outra vez. Não é que por causa do Nunes, das batatas, da cerveja e até do filho da pi…pi..pi… do Comandante. Quase que acabava na cadeia... eu sei lá que mais. E isto tudo à frente da NI do Miguel.

E porquê? Perguntam vocês.

Quando levo o Nunes ao Bar, está lá um Furriel natural da Guiné que como estava a ver que, com o fim da guerra, certas mordomias a que estava habituado iriam acabar, deu em deitar para fora o seu racismo, querendo até dar a entender que estava do outro lado. Foi então que ao ver o meu camarada Nunes naquele estado e talvez por alguma boca deste, o dito racista dá um estaladão ao meu amigo.

De certeza que o Nunes nem sentiu (por protecção das batatas e...), mas cá o rapaz sentiu e bem fundo. Disse-lhe:
- Ó camarada, estás a bater num camarada teu e ainda por cima ele está mal disposto!!!! O racista disse que me fazia o mesmo. Que chatice… o Henrique passou um dia memorável com a NI e o Miguel, junto dos seus camaradas do Biambe a comerem batatas fritas e todos felizes, porque a merda da Guerra tinha acabado e ao fim do dia aparece entre mim e meu camarada um dos piores inimigos daqueles dois anos de martírio que é um anormal racista armado em pessoa.

E pronto... ficou o caldo entornado ou seja a cabeça do racista bateu contra uma cadeira, que me apareceu nas mãos, e a partir daí foi uma batalha campal à porta do bar e bem perto do comando. Ainda hoje não sei como a cadeira se agarrou às mãos e até nem sei como a cadeira, que era boa, ficou inteira. Ainda hoje tenho pena dela.

A NI que tinha ficado na conversa com uma senhora libanesa ali perto, olhou e viu o seu Henrique e mais gente, todos entretidos a gastar energias e achando que já era de mais, foi tentar tirar cá o rapaz do meio da confusão. Só que a partir daí a situação piorou, porque entra na história mais um elemento perverso, que é o Comandante do Batalhão, na altura, penso que interino.

Eu sinceramente não podia mesmo com esse senhor, aliás ninguém gostava dele, só que tinham medo de lhe dizer (compreende-se não é?). Era mesmo uma figurinha desprezível. Veio envolver-se na contenda, tomando partido do racista. Levaram-nos para o Comando onde comecei a ser interrogado pelo dito Comandante, mas sempre sem hipótese de grande defesa, estando sempre a ser acusado de ser o mau da fita. Em boa verdade, eu era mal visto pelos donos da guerra, como sabem aquela história do Natal ainda estava muito fresca e por acaso o racista tinha sido beneficiado nesse ano de Natal. Os tais privilégios que faziam dele um senhor, até superior aos seus irmãos da Guiné.
De certeza que muitos de vós conheceram destes meninos.

No entanto a NI na rua vai passando pela angústia de saber o que irá acontecer ao gajo maluco com que se casou e embarcou naquela aventura. Entretanto eu estava metido num ninho de ratos a receber ameaças de prisão, despromoção, etc. Só que havia um anjo lá dentro que era o Sargento Ajudante, de quem lamentavelmente não sei o nome. Só sei que era do Norte e nós lhe chamávamos o pai de nós todos. Era o homem mais humano que algum dia conheci. Este homem disse-me durante um certo intervalo do interrogatório:
– Ó meu caralho, o que é que eu posso fazer por ti? Agora fizeste mesmo merda. Eu sei que até tens razão, mas estás na tropa.

O que é certo é que uma vez mais o tempo passou, não fui castigado, regressei à Metrópole integrado na minha antiga Companhia e enfim, TÁ NO PAPO

Estranho ainda hoje, porque não sei o que foi feito da minha Caderneta Militar. Será que um Anjo a levou para o Lixo Celeste?

Tudo isto foi fazendo parte da minha vivência com a NI e do fortalecimento da nossa vida de casal e pais, mas que arriscámos, ai isso arriscámos. Foi bom, éramos tão fortes… está bem... também um pouco irresponsáveis, mas que diabo, não houve coragem suficiente para ter dado o salto antes de ir para aquela treta da Guerra.

Atenção malta, porque nunca deixei de cumprir com a minha obrigação de militar, mas mesmo só por obrigação. Tivemos uma óptima relação com as populações, daí a possibilidade de algum fornecimento de frescos que os populares nos levavam a casa, permitindo pelo menos que o meu Miguel fosse comendo alguns legumes e fruta da época, e peixinho da Bolanha.
Mas isso será uma outra história da NI

Vou terminar esta história e afirmo que não pretendo atingir ninguém, porque acho que os factos só tiveram valor na época. Que vi muito racista a espezinhar irmãos da mesma raça, isso eu vi e a esses desprezo ainda hoje

Carlos, este texto está a ser escrito numa tarde chuvosa e provoca uma agradável nostalgia por nos sentirmos protegidos e livres dos tormentos que nos roubaram, pelo menos, dois anos da nossa juventude e a muitos outros toda a sua vida. Por isso é muito bom, mesmo muito bom, termos este meio de expressão através da escrita mais ao menos pública.

Um abraço a toda a Tertúlia
Henrique Cerqueira

NI e Nuno Miguel confraternizam com tropas do Biambe

O operacional Nuno Miguel no intervalo da Operação ao Biambe

Forças intervenientes na Operação ao Biambe

A família de Henrique Cerqueira, durante a Operação ao Biambe

Fotos: © Henrique Cerqueira (2009). Direitos reservados
Edição e legendas de CV

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Notas de CV:

(*) Vd. poste da série de 23 de Janeiro de 2009 > 23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3779: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (5): Ni, uma combatente em Bissorã (1973/74) (Henrique Cerqueira)

terça-feira, 3 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2913: A guerra estava militarmente perdida? (13): O meu ponto de vista (Henrique Cerqueira)

Escreveu Mário Beja Santos, em 31 de Março deste ano, em ( P2706) Notas de leitura (5) sobre " Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros", do Cor M. Amaro Bernardo:
(...) A reunião de Spínola com Senghor, em 1972, em que o governador da Guiné propõe uma autonomia a dez anos, tem que ser encarada como uma proposta que seria liminarmente rejeitada, isto quando o PAIGC já tinha conseguido acantonar as forças armadas portuguesas nos quartéis, reduzindo-lhes drasticamente o espaço de manobra. Acresce que o autor refere os acontecimentos de 1973 e 1974, quando a Força Aérea perdeu capacidade de actuação com a chegada dos mísseis terra-ar e o PAIGC passou a ter a total iniciativa entre o Norte e o Leste, em todo o espaço fronteiriço com a Guiné-Conakry. Ou seja, o PAIGC ganhara uma capacidade ofensiva indiscutível, as nossas forças podiam ir esporadicamente às suas bases e acampamentos, havia mortes e feridos, mas logo tudo ficava na mesma. A partir de 1973, a solução militar estava irremediavelmente perdida. (...)


Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra, respondeu o António Graça de Abreu

A partir desta nota têm surgido, quase todos os dias, os mais variados comentários, uns manifestando acordo, outros negando a opinião do Beja Santos.
Uma boa polémica, saudável e correcta, em que a unanimidade parece surgir quando o António Graça de Abreu diz que estávamos realmente fartos da guerra.

vb


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A Guerra Estava Militarmente Perdida?




Mensagem de 28 de Maio, do Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil do BCAÇ 4610/72

3.ª Companhia, Biambe

4.º Gr Comb, CCAÇ 13, Bissorã



Olá Amigos e Camaradas da Guiné

Hoje resolvi escrever alguma coisa na tentativa de opinar sobre o assunto posto muito inteligentemente à disposição para que possamos dizer alguma coisa sobre o dito.

Eu fui Furriel Miliciano em Bissorã entre 1972 e 1974 e, por mero acaso, até tive o privilégio de ser o primeiro graduado a ter o primeiro contacto com as tropas do PAIGC no ponto de encontro entre Bissorã e Olossato, durante uma picagem para colunas de reabastecimento para o Olossato. Isto claro está no após 25 de Abril e que, salvo erro, foi em finais de Maio ou por aí.
Bom no entanto o assunto é no que se refere "À Guerra Perdida".

No meu entender a guerra ser perdida militarmente, seria muitíssimo improvável. Até porque para os Senhores da Guerra (Donos de grandes empresas que alimentavam toda a logística e outros) não iriam permitir que tal acontecesse, pois que tinham toda a segurança, tanto militar como política, assegurada por baixíssimo preço, pois que até nem os mortos enviavam para as suas terras de origem, o que aliás se veio a verificar ainda hoje, tal como tem sido provado por inúmeros documentos tanto escritos como visuais (Tvs, rádios, Simpósios e muitos outros).

Há, no entanto, um facto muito importante a referir nesta minha singela opinião e que os "Famigerados Senhores da Guerra" desprezaram: é que a grande maioria dos militares estava na guerra obrigado e como tal por mais Nacionalismo que existisse em nós, o desinteresse pela guerra era mais que latente e cada vês era maior a resistência a essa Guerra pela parte dos Portugueses na ex-Metrópole e não só: é que eu tive a oportunidade de, quando tive o primeiro encontro com os guerrilheiros do PAIGC, falar com um dos comandantes desse dia, que por sinal falava o Português corrente (tinha tirado o curso de Regente Agriculta em Santarém), e o mesmo me disse na altura que todos estavam fartos de guerra e a mesma só continuaria se Portugal assim o quisesse.

Lamento não me lembrar nem de nomes nem de datas precisas. Mas com certeza se alguém da CCAÇ13 ou da CCS do Bat 4610/72 ler estas linhas poderá confirmar ou até rectificar alguma imprecisão minha, pois que eu, desse dia, só tenho documentado com algumas fotos que pouco provam em termos de datas e acontecimento.

Quero ainda e uma vez mais deixar aqui escrito o seguinte: nós os Furriéis, Cabos e Soldados assim como a maioria dos Alferes, não tínhamos de certeza absoluta nenhuma noção se a guerra estava a ser perdida ou não, pois que a informação que nos era transmitida era sempre tão precária que a única motivação que todos tínhamos era o contar dos dias para nos virmos embora para casa e venha o mais pintado dizer o contrário que eu "acredito".

Para concluir, continuo ainda hoje a achar que nem perdíamos a Guerra nem a ganharíamos, só que felizmente os ditos senhores "DONOS DA GUERRA" desprezaram a capacidade dos OPRIMIDOS e aí sim começaram a perder a Guerra o que veio a acontecer com o dia mais maravilhoso da minha vida que foi o 25 de Abril.

Acho que, de certo modo, descrevi um pouco o meu parecer em relação ao tema, claro que será muito discutível a minha opinião, mas reparem É TÃO BOM ESTAR AQUI A DIZER O QUE SE PENSA. É ou não???
E o pior que me pode acontecer é o ser "criticado", o que me dará ainda maior prazer visto que as "Porradas e Ameaças"já nada valem não é "Senhores da Guerra?"

Um grande abraço a todos os tertulianos e em especial para aqueles que levantaram este tema para a discussão.

Henrique Cerqueira

Nota: A minha referência aos "Senhores da Guerra"não tem absolutamente nada de crítico em relação aos militares profissionais ou de carreira que na época faziam parte das nossas Forças Armadas. Vejo-me obrigado a fazer esta nota porque, embora eu nunca tenha tido o espírito militar, sempre respeitei todos os que fizeram dessa vida a sua vida profissional desde que os mesmos me respeitassem como Homem e como militar de obrigação, o que na generalidade veio a acontecer.
Fica assim uma nota de Respeito para todos os ex e actuais Militares Profissionais.

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Notas:

1. adaptação dos textos da responsabilidade de vb.

2. artigos relacionados em

31 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2907: A guerra estava militarmente perdida? (12): Vítor Junqueira.


28 de Maio > Guiné 63/74 - P2893: A guerra estava militarmente perdida? (10): Que arma era aquela? Órgãos de Estaline? (Paulo Santiago)


27 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2890: A guerra estava militarmente perdida? (9): Esclarecimentos sobre estradas e pistas asfaltadas (Antero Santos, 1972/74)


25 de Maio > Guiné 63/74 - P2883: A guerra estava militarmente perdida ? (8): Polémica: Colapso militar ou colapso político? (Beja Santos)


22 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2872: A guerra estava militarmente perdida ? (5): Uma boa polémica: Beja Santos e Graça de Abreu


15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)


13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)


30 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)


17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2767: A guerra estava militarmente perdida ? (1): Sobre este tema o António Graça de Abreu pode falar de cátedra (Vitor Junqueira)


3. Apresentação do Henrique Cerqueira em 18 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2549: Blogoterapia (42): 34 anos depois (Henrique Cerqueira)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2549: Blogoterapia (42): 34 anos depois (Henrique Cerqueira)


Henrique Cerqueira
Ex-Fur Mil
BCAÇ 4610/72/3.ª Companhia no Biambe
4.º Grupo de Combate da CCAÇ 13
1972/74


1. Em 29 de Janeiro de 2008, o Henrique Cerqueira mandou esta mensagem para o nosso Blogue

Camarada Luís:
Envio um pequeno trabalho... No entanto agradeço que verifiques bem se deve ser publicado ou não. A decisão que tomares eu estarei de acordo.

Aproveito para te desejar a ti e restantes camaradas que irão estar em Guileje, no Simpósio, muitas felicidades para o mesmo. Tenho imensa pena de não poder ir, mas há valores mais baixos que se levantam. Desculpa lá isto foi um trocadilho mal conseguido.

O que se passa, é que para mim é economicamente inviável fazer uma viajem dessas neste momento, mas penso a médio prazo ir à Guiné, mais propriamente a Bissorã, pois estive lá com a minha mulher e filho e pensamos voltar lá um dia. Nessa altura poderei vir a precisar dos vossos conhecimentos em termos de contactos.

Um abraço
Henrique Cerqueira

2. As Precisões e Imprecisões, 34 anos Depois

Olá camaradas tertulianos.

Cá estou eu, o Ex-Fur Mil Henrique Cerqueira, para escrever alguma coisa sobre o assunto em título.

Se calhar vou arranjar alguma polémica, espero que não. É que sou mesmo leitor assíduo do nosso Blogue e de outros idênticos e venho a ficar um pouco pasmado com tanta precisão em certas narrativas referentes às nossas vidas passadas na famigerada guerra da Guiné.

É espectacular a quantidade de conhecimentos que tenho adquirido nestes últimos tempos. Nunca soube tanto sobre a nossa guerra de estimação como sei hoje em dia e depois que me tornei membro desta maravilhosa tertúlia.

Atenção que na minha singela opinião acho que é mesmo bom que antigos camaradas tenham uma memória tão fresca que chegam a ponto de narrarem horas, dia, mês, etc.

Eu, das duas uma, ou estou mesmo xéxé ou então andei na Guiné só como carne para canhão RPG, Minas, e outros artefactos já que canhão pelo vistos só os nossos, os tais de 10,5 ou 10,6 e 14 cm, afinal que interessa, nenhum deles valia mais do que o seu valor em ferro, aço, chapa, eu sei lá.

O que sei, isso sim, era que a maioria da malta andava lá e não tinha nem uma ínfima parte da informação que hoje em dia vejo aqui descrita no nosso Blogue e, como tal, é mais que natural que passados todos estes anos, muitos de nós só somos precisos nos momentos que mais nos marcaram, daí eu pensar que é mesmo muito necessário que haja alguma condescendência nos juízos que fazemos em relação a certas narrativas.

Pelo menos para mim e desde que descobri este Blogue, o mais importante tem sido a oportunidade de expulsar alguns fantasmas e até ser um pouco mais realista em relação a essa época, pois que aqui estamos a falar com gente que bateu lá com os costados e não estamos a contar balelas, que às vezes até se compreendem.

Lembro, por exemplo, que alguma malta até ostenta com algum orgulho as marcas físicas conseguidas na guerra, a outros até lhes faz algum jeito em termos de reformas e sei lá mais algumas benesses após 25 de Abril, mas tudo bem, cada qual é como cada qual.

Agora eu pergunto. Quantos de nós não ficamos aliviados quando a bala ou estilhaço acertava no camarada do lado e não em nós???

E agora vocês perguntam, mas o que é que o cu tem a ver com as calças?
Tem e muito. É que tenho lido ultimamente uma simples palavra que é fugiu e reporto-me em especial ao que aconteceu em Guileje.

Eu não estava lá, mas íamos tendo algumas notícias, pelo jornal da caserna, claro está, pois que os nossos altíssimos superiores nada nos diziam ou explicavam, tanto nesse assunto como noutros, porque quer queiramos ou não reconhecer, os furriéis e até parte dos alferes, serviam simplesmente para fazer o trabalho desagradável junto dos soldados e pouco mais e, quando o trabalho era bem feito ou alguém se destacava por este ou aquele acto, os louros eram quase sempre para o Comando do Batalhão.

Já se sabe que haverá gente que está em total desacordo comigo, no entanto foi isto que senti na pele.

Por exemplo, sempre que participei em operações ou patrulhamentos, nunca assisti a uma reunião de planeamento das mesmas (se calhar também não as faziam por falta de conhecimentos).

É mais ao menos por isto que me baseio na falta que havia de funcionamento nos meios militares e, já agora, se calhar foi por isso que eu e outros nunca fomos incentivados a ter o tal espírito militar e de soldado que um ex-capitão meu me acusa num certo artigo de direito de resposta.

Voltando às supostas fugas. Eu penso que até para se fugir é preciso ter muita coragem e até muita responsabilidade. Como sabemos, o Sr. Comandante de Guileje bem sentiu as consequências e desgraçadamente está ainda a sentir. Eu penso que a palavra fugir, neste caso, devia ser banida, senão veja-se o exemplo que nos foi dado com a descolonização, que foi a fuga mais desastrosa de que há memória, com todas as implicações que ainda hoje sentimos.

Eu não tive a coragem suficiente para fugir à guerra, pois já nesse tempo e na Metrópole, a PIDE ao constatar que eu fazia parte de um grupo de amigos mais ao menos revolucionários, dos quais alguns fugiram para França, se encarregou através da Câmara Municipal do Porto, avisar que os Pais dos que fugissem seriam despejados das casas camarárias. Além disso eu era casado e já tinha um filho, como tal foi-me assim proporcionado ser um valente militar em defesa da Pátria.

Se a maioria de nós meter o dedinho na carola verá que andou a tentar tudo por tudo para não ir à Guerra do Ultramar, só que não conseguiu.

Camaradas, que estão em desacordo comigo, quero que saibam que respeito em pleno o vosso desacordo, não somos todos iguais (felizmente).

Não estou aqui armado em inteligente, só estou a expressar a minha opinião neste nosso famoso Blogue, já que na altura nós não tínhamos opinião, não é ?

Bom, eu acho mesmo que esta escrita já está longa demais, mas as imagens fervilham no meu cérebro e francamente é muito difícil expor tudo que se pensa por escrito até porque há as pontuações, as vírgulas e outras que tais, que na falta ou em excesso desvirtuam a ideia.

É por essas e por outras que tenho receio da escrita e da má interpretação que possa suscitar em mentes menos abertas a certos temas.

No entanto esse é mais um dos medos que tenho de enfrentar e como tal faço aqui o pedido do costume:
- Luís Graça, se achares que esta escrita não tem interesse ou é susceptível de criar excesso de polémica para os Bloguistas, não te inibas de o não transcrever. Aceito de pleno acordo que o blogue não deve ser local de desavenças, mas sim o sítio certo para expormos parte das nossas vidas passadas em comum, que foi na guerra.

Aproveito ainda para reafirmar uma vez mais que, apesar dos pesares, sinto-me orgulhoso de ter feito parte de todas as companhias em que cumpri com a minha obrigação e que não tenho absolutamente nenhum rancor ou recalcamento de qualquer camarada de armas tanto na Guiné como cá em Portugal.

Espero ainda que estes 34 anos vividos após o final dessas guerras estpidas nos tenham amadurecido o suficiente para podermos ensinar melhor os nossos filhos, mais agora, os nossos netos.

Ah, já me esquecia. Aprendi na época, com os Comandos e Rangers, a seguinte frase: Um Comando Nunca Foge, Recua é para Tomar Balanço.

Um grande abraço para toda a tertúlia e não sejam mauzinhos comigo depois de lerem este escrito.

Henrique Cerqueira
_________________

Notas dos editores:

(1) Vd. último post da série Blogoterapia de 17 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2545: Blogoteria (41): Guileje, Gadamael, Mata do Cantanhez... e a memória das gentes (José Teixeira)

(2) Vd. último post de Henrique Cerqueira de 22 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2471: Glória às nossas enfermeiras pára-quedistas e aos malucos das máquinas voadoras (Henrique Cerqueira, Bissorã e Biambe, 1972/74)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2471: Glória às nossas enfermeiras pára-quedistas e aos malucos das máquinas voadoras (Henrique Cerqueira, Bissorã e Biambe, 1972/74)

1. Mensagem, de 14 do corrente, do Henrique Cerqueira (1)


Olá, camarada Luís e restantes Tertulianos.

Hoje resolvi escrever alguma coisa para o nosso Blogue e a motivação foi despoletada pelo facto de ver publicado um artigo no blog referente às DO - Dornier 27 (2).

Sim, senhor, é necessário lembrar todos os nossos camaradas pilotos e restantes equipas que tantas vezes nos trouxeram um raio de esperança quando estávamos envolvidos em situações de aflição e daí eu recordar uma situação que se passou comigo.

Pois como já disse anteriormente, eu terminei a comissão na CAÇ 13 em 1974, mas quando fui para a Guiné fui colocado em Biambi que era a 3ª Companhia do BCAÇ 4610/72.E então passados dois meses mais ao menos e no cumprimento da minha obrigação, fiz parte de um dos muitos patrulhamentos em missão no mato. É então que após o atravessamento de uma famosa bolanha (Insentaque) fomos surpreendidos por uma emboscada do inimigo e aí tivemos dois feridos graves nos milícias e um furriel, de seu nome Fonseca, natural do Porto.

Até aqui tudo normal para a situação que se vivia na altura, pese embora o facto de ainda sermos muito Periquitos e ser o nosso primeiro embrulhanço. A consequência de toda a nossa inexperiência foi que em poucos segundos gastámos tudo que eram munições e ficámos todos como baratas tontas, tanto pela falta das ditas munições, como não sabíamos mesmo o que fazer com os feridos. Penso que estarão mesmo a ver a cena.

Bom, lá conseguimos entrar em contacto com o aquartelamento e pedir apoio aéreo, assim como evacuação para os feridos. Após algum tempo lá apareceu o LOBO MAU, ou seja o Héli Canhão, e logo de seguida outro Heli para o transporte de feridos.

É aqui que me lembro de ver em pleno mato a sair do Heli uma enfermeira de camuflado e camisola branca bem justa ao corpo. Foi como saísse um anjo para nos ajudar, teve um efeito tão grande de tranquilidade que nunca mais me esqueci desse dia e por mais estranho que possa parecer é a imagem dos Helis e da enfermeira naquele caos que se tinha instalado que ainda hoje guardo do meu primeiro contacto com a verdadeira guerra.

Mais tarde e por motivos diversos viajei em Helicóptero e em DO, e por incrível essas viagens foram duas tentativas falhadas de me transportarem do Biambi para Bissorã, mas isso será outra estória.

Fui ainda informado mais tarde que uma dessas gloriosas enfermeiras foi morta por ter sido apanhada por uma hélice duma DO. Não sei se foi verdade ou não, mas não duvido que todos esses pilotos como pessoal de enfermagem e especialistas da Força Aérea Portuguesa eram mesmo uns Grandes e Gloriosos Malucos, de quem guardo muita gratidão. Não tenho fotos deles mas tenho grandes imagens no meu coração desses bravos camaradas da Guiné.

Quero ainda recordar aqui o Alferes Barros, nunca mais soube nada dele. Era um homem do norte mas parece que vivia em Cascais. De igual modo o Furriel Fonseca, o tal ferido que é do Porto, mas muito em especial o meu fiel amigo e carregador Guineense INHATNA BIOFA que me acompanhou até ao final da comissão na CCAÇ 13.

Bom, isto foi uma estória com o intuito de lembrar em especial todos os Pilotos e pessoal das Força Aérea Portuguesa.

Aproveito para esclarecer aqui que nenhum oficial superior ou outro nunca conseguiu me incutir o espírito militar, pois, como a maioria de todos nós, fomos obrigados a ir para a guerra. Só que isso não significa que, mesmo contrariados, nós os milicianos e restantes obrigados não tenhamos cumprido com a nossa missão que se quiserem até lhe podem chamar de Patriota. E daí existir hoje este meio maravilhoso que nos permite até de ter saudades, sejam elas de factos ou de pessoas. É que foram tês anos das nossas vidas vividas em comum e que irão estar sempre presentes até ao dia do juízo final.

Malta da tertúlia, desculpem lá mas se não agradar a estória têm sempre o rolete do rato para acelerar para a próxima.

Um abração a todos os camaradas Tertulianos
Henrique Cerqueira

Ex-Fur Mil Bat 4610/72 Biambi
e CCAÇ 13 Bissorã até Julho de 1974

PS - Mais uma vez peço ao camarada Luís Graça que, se por qualquer motivo não achar interesse na publicação desta estória ou necessitar de alguma correcção em termos de formato ou escrita, está completamente à vontade. Lembro ainda que não tenho precisão de datas e até de nomes pois que andei muitos anos sem falar neste assuntos e muitas datas e nomes já foram...
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Notas dos editores:
(1) Vd. posts anteriores:

26 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2219: Tabanca Grande (37): Apresenta-se Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil (BCAÇ 4610/72 e CCAÇ 13, 1972/74)

17 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2356: O meu Natal no mato (2): Bissorã, 1973: O Milagre (Henrique Cerqueira, CCAÇ 13)

21 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2368: Direito de resposta (1): Do Ex-Capitão Carlos Matos de Oliveira, ao Ex-Fur Henrique Cerqueira, da CCAÇ 13 (Bissorã, 1972/74)
(2) Vd. poste de 14 de Janeiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2437: Estórias de Guileje (1): Num teco-teco, com o marado do Tenente Aparício, voando sobre um ninho de cucos (João Tunes)

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2219: Tabanca Grande (37): Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil (BCAÇ 4610/72 e CCAÇ 13, 1972/74)

Henrique Jorge Cerqueira da Silva
Ex-Fur Mil
BCAÇ 4610 e CCAÇ 13
Guiné 1972/74


1. Em 24 de Outubro de 2007, o nosso novo camarada dirigia-se a nós com poucas esperanças de ser lido, mas enganou-se como se prova.

Amigos:
Nem sei como começar ou seja começo pela apresentação:
Henrique Jorge Cerqueira da Silva, com 57 anitos de idade, ex-Furriel Miliciano incorporado no Batalhão 4610/72 que esteve na região de Bissorã.

Posteriormente e em regime de voluntariado fui transferido para a CCAÇ 13. Aí permaneci até Julho de 1974.

Estive também colocado no Biambe (1) e fiz a formação das CCAÇs em Bolama.

Tenho como todos, várias situações marcantes, tanto de grande tristeza como até de algumas alegrias. No entanto e para já não partilho, pois que até nem sei como vai resultar este e-mail, é que isto da net ainda é um pouco recente para mim.

Bom, vou então enviar esta cena na esperança que em breve possa falar um pouco mais sobre os nossos gloriosos anos de juventude.

Um abração para todos que eventualmente me leiam, mas se não for lido, o abraço é na mesma enviado com muito sentimento de companheirismo.

Henrique Cerqueira
Ex-Fur Mil
Foz do Douro


2. Em 25 de Outubro de 2007 o co-Editor CV respondia:

Caro Henrique:
Estou a receber-te em nome dos tertulianos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Caro vizinho, bem-vindo à Tabanca Grande. Estávamos à espera de reforços para a CCAÇ 13, porque só cá tínhamos o camarada Carlos Fortunato, velhinho (1969/71), comparado contigo, periquito de 1972.

Já sabes que queremos que envies as tuas fotos da praxe (a velhinha, dos tempos de novo, quando combatias na Guiné e a actual, menos novo, mas em plena forma, espero), para virem a figurar na nossa fotogaleria.

Podes visitar a nossa página em http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial_tertulia.html. Lá poderás consultar os nossos 11 mandamentos, pelos quais nos regemos. Poderás ver, ainda, fotos históricas das nossas campanhas por terras da Guiné, depoimentos, etc.

Claro que vais contribuir para o nosso património com as tuas histórias (estórias), quer sérias quer humoradas, de preferência ilustradas com as fotos que terás por aí e que julgavas que já ninguém iria ver.

Cá dentro impera a camaradagem que faz com que, independentemente do posto que tivemos e do que somos hoje, nos tratemos por tu.

Temos um laço que nos une que é a Guiné, hoje Guiné-Bissau, país soberano que respeitamos assim como às suas gentes. A estes nossos irmãos desejamos um futuro melhor do que o passado e até do que o presente que não têm sido muito promissores.

Ficamos à espera do teu primeiro trabalho e das tuas fotos (em formato JPEG) que deverás enviar para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com.

Recebe um abraço da malta
Carlos Vinhal

OBS:- Ao elaborar a postagem, verifiquei que a foto actual tinha sido enviada. As minhas desculpas ao Henrique pelo lapso.
_______________

Nota do co-editor CV:

(1) Vd. posts anteriores:

de 1 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2020: Memórias dos Lugares (1): de Elvas a Bissorã e de Lamego a Biambe, com CART 730 (Parte I) (João Parreira)

de 8 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2037: Memórias dos Lugares (2): de Elvas a Bissorã e de Lamego a Biambe, com a CART 730 (Parte II) (João Parreira)

domingo, 21 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1451: Tabanca Grande: Vítor Cordeiro, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72 (Bissum, 1972/74) - Muitas estórias, muitas saudades dessa terra que aprendi a amar




O Vitor Cordeiro, em 1973, em Dugal (furriel miliciano da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4610, 1973/74)) e hoje (professor aposentado e jornalista, residente em Ourém).

Guiné > Região do Oio > Bula > Bissum > 1972 > Vista aérea
Fotos: Vitor Cordeiro (2007). Direitos reservados

1. Mensagem do Vitor Cordeiro, solicitando a sua entrada na nossa tertúlia:

Amigo Luis Graça

Antes de mais, os meus parabéns por este magnífico trabalho.

Sou assíduo leitor (desde que o descobri) dos relatos, histórias, comentários, vivências que nele vão sendo inseridos... e quantas vezes com as lágrimas nos olhos... relembrando com nostalgia os tempos em que, jovem, fui calcorreando os adustos e poeirentos caminhos da Guiné, dia a dia, mês a mês, até perfazer dois anos (e mais qualquer coisa), e assim cumprir o destino que até lá me levou para servir a nação (como então se dizia) na qualidade de combatente das forças armadas.

De lá para cá, tudo quanto à Guiné diga respeito me passou a interessar, e durante muitos anos fui rememorando sozinho a minha passagem por aquela terra que aprendi a amar. Os momentos difíceis (as patrulhas de reconhecimento no mato, os ataques, a fome, o cansaço, a dor, a saudade...) e os momentos bons (as jantaradas no Solar dos Dez, no Pelicano, as bebedeiras na Cervejaria Império, no Café Ronda, no Café Bento - a 5ª Rep -, as escapadelas ao Chez Toi, ao Pilão...), todos eles foram fazendo parte das minhas recordações que, ano após ano, mais se acentuavam e me torturavam na impotência de os poder partilhar com quantos comigo conviveram nestes momentos e com os quais se enraizou uma amizade cimentada pelo sofrimento, pela distância e pela saudade.

No entanto, em 2004, pondo mãos à obra e com a ajuda das novas tecnologias, consegui encontrar quarenta e cinco camaradas da mesma companhia. Com eles e respectivas famílias, o primeiro encontro, em Fátima, constituiu um dos melhores momentos da minha vida, e depois deste mais dois se realizaram. No último (em Aveiro), consegui que comparecesse um faxina da companhia, o Armando Sanhá, à altura com quatorze anos, e que a todos deliciou com a sua presença.

Amigo Luis Graça. Seria um prazer enorme pertencer à vossa tertúlia. Para o caso de assim o entenderes (custa-me o tratamento por tu, mas são as regras...), passo à minha apresentação, tomando a liberdade de enviar três fotos: uma de um dos lugares da Guiné onde esteve a minha Companhia; uma minha do tempo em que era um jovem combatente; e outra, recente.

Nome: Vitor Manuel Maia Cordeiro
Profissão: Professor (na situação de aposentado)
Outras actividades: Director de um semanário local; Director Pedagógico de uma Escola de Ensino Especial.

Situação militar: Furriel Miliciano - Atirador de Infantaria
Mobilizado para a Guiné com partida (de avião) a 18 de Junho de 1972. Regresso (também de avião) a 13 de Julho de 1974.
Pertenci à 2ª CCAÇ do BCAÇ 4610 à qual demos o nome de Os Terríveis (só porque o seu comandante se chamava João Terrível)
Locais por onde passámos:

Cumeré (para tirar a IAO)
Bissum (Região do Oio e junto ao rio Armada)
Cafal Balanta, Cafine e Cobumba (Zona do Tombali, na Mata do Cantanhês e junto ao rio Cumbijã)
Dugal (entre Nhacra e Mansoa e já na fase final da comissão).
Histórias: muitas...

Com um abraço para o Luis Graça e para todos os tertulianos, fico a aguardar notícias.
Vitor Cordeiro


2. Comentário de L.G.:
Vitor: Já me tinhas enviado um mail anterior, este será portanto uma 2ª via... Não o consigo localizar de momento (tenho duas caixas de correio), mas tu não estavas esquecido... Como deves imaginar, o tráfego já é muito... E todas as semanas aparecem novos camaradas.

Fico muito contente por apareceres: és bem vindo!... Cumpriste as regras, vou apresentar-te ao pessoal e dar-te a nossa lista de endereços (amanhã ou depois)... A partir de agora, aparece, com os teus escritos, as tuas estórias, sempre que te apetecer... A caserna é tua, é nossa... Talvez lá mais para a frente nos possamos encontrar aí para os teus lados... Talvez no Pombal... Já fizemos um primeiro encontro em Outubro passado...

Um abraço.
Luís

quinta-feira, 3 de novembro de 2005

Guiné 63/74 - P249: Unidades com sítios da Net (1) (Jorge Santos)

Três sugestões do Jorge Santos para quem gostar de surfar na Net (isto já tem mais de três meses, as nossas desculpas ao nosso tertuliano Jorge, ex-fuzileiro em Moçambique, autor da página A Guerra Colonial, e que desde o verão passado tem andado em viagem pela Eurolândia):


(i) COMPANHIA DE CAÇADORES 1496 (BCAÇ 1876)

Guiné > Pirada (1966/1967)



Página de Diamantino Pereira Monteiro (Alferes Miliciano), que pode ser consultada em:

http://guinecolonial.home.sapo.pt/

Destaque para as bem humoradas "pequenas histórias com homens... à margem da guerra colonial" (um conjunto de crónicas ou croniquetas sobre o dia dia das NT), incluindo um delicioso glossário. Fico a saber que em 1966 ao aerograma se chamava bate-estradas. No nosso tempo (1969/71), e na nossa região (Bambadinca), era conhecido como o corta-capim. Também há uma xecelente documentação fotográfica sobre a guerra e o pós-guerra... Parabéns ao Diamantino! L.G.


(ii) COMPANHIA DE CAVALARIA 3378

Guiné > Olossato (1971/1973)

Página de José Fernando Tomé (Furriel Miliciano),
que pode ser consultada em:

http://kimbas.no.sapo.pt/

E-mail:

oskimbas@netcabo.pt




(iii) 2ª COMPANHIA DO BATALHÃO DE CAÇADORES 4610

Guiné > Cafine/Cobumba/Dufal (1972/1974)


Página de Fernando Teixeira (Furriel Miliciano), que pode ser consultada em:

http://osterriveis.no.sapo.pt/

E-mail: osterriveis@sapo.pt